Nicolaítas – Obras e Doutrina

Introdução: Leitura Bíblica: (Apocalipse 2.6, 14,15.)

Não é de hoje que a Igreja tem sofrido e lutado constantemente contra as heresias. Já no primeiro século, os próprios apóstolos, ainda vivos, tiveram que combater e refutar falsos ensinos que entraram na Igreja para minar a fé cristã.

No primeiro século, a igreja foi bombardeada por falsos apóstolos, judaizantes, e gnósticos. Entre estes, havia um grupo de pessoas conhecidas como “nicolaítas”, que nos dias de João estavam infiltrados na Igreja de Pérgamo e resistidos em Éfeso.

Estes apresentavam seus falsos ensinos como doutrinas, entretanto por trás disso, haviam perigosas heresias. Os nicolaítas estavam divorciados da verdade e viviam por seus próprios caminhos.

Esse estudo tem por objetivo explanar a origem dessa seita, seu desenvolvimento, sua extensão e consequências para a igreja do primeiro século. Depois iremos ver como os “Nicolaítas” ainda hoje estão dentro da Igreja, enganando os servos de Deus e prejudicando a fé dos santos.

Origem dos Nicolaítas:

1. O apóstolo João ao escrever o livro do Apocalipse, registrou a existência de um grupo de pessoas que praticavam as Obras dos nicolaítas, e que também ensinavam sua falsa doutrina. Cabe aqui, fazer uma pergunta pertinente: quem eram os nicolaítas?

2. Eram um grupo de pessoas que estavam dentro das igrejas vivendo e ensinando uma vida de libertinagem. Eles atuavam em Éfeso e em Pérgamo. Antônio Gilberto diz: “Eram seguidores de um certo Nicolau, que visava implantar dentro da Igreja uma lei da sucessão apostólica.”

3. A tradição da Igreja conta que surgiu com Nicolau, um dos sete primeiros diáconos da Igreja. Não temos como provar que ele foi o fundador dessa seita. Quanto a isto ainda hoje há bastante especulações, muitos teólogos apoiam essa interpretação, já outros negam-na por completo.

4. De acordo com Steven J. Lawson: “A tradição conta que Nicolau foi um dos primeiros líderes da Igreja. Mas apostatando, começou a ensinar que o crente pode viver como quiser. Seu objetivo: achar um meio termo entre a vida cristã e os costumes da sociedade greco-romana.”

5. Sobre isso escreveu Adejarlan Ramos: “Já Nicolau, segundo os patriarcas da Igreja, teria negado a fé cristã e fundado uma seita herética conhecida como os nicolaítas, “um grupo de pessoas que eram provavelmente dadas à idolatria e à imoralidade” (…) Se os Pais da Igreja estão corretos, Nicolau de Antioquia era, com todo respeito, um “vira-casaca” religioso. Muitos escritores dos cinco primeiros séculos o acusam de ser o responsável pelo movimento herético e moralmente nocivo que surgiu na Antiga Ásia Menor (hoje Turquia) em meados do primeiro século.”

Mais adiante ele faz a seguinte reflexão: “Nicolau deixou o paganismo e converteu-se ao judaísmo (At 6.5). Depois, abandonou o judaísmo e converteu-se ao cristianismo. Mais tarde, afastou-se do cristianismo e tornou-se herético (caso se possa confirmar a acusação que há contra ele. Mudou três vezes de credo. Entrou na Igreja militante e dela se retirou.”

6. Quem era Nicolau? De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe: “Esse nome que significa “conquistador do povo,” só é mencionado em Atos 6.5. Ele era um dos sete homens (às vezes considerados os primeiros “diáconos.”), escolhidos para cuidar do” ministério cotidiano” e “servir às mesas” At 6.1,2) quando essa tarefa se tornou cansativa demais para os apóstolos.

Sua terra natal era Antioquia e ele era, originalmente um gentio convertido ao judaísmo porque é chamado de “prosélito de Antioquia.” O Dicionário Wycliffe destaca ainda que: “Epifânio (aprox. 315-403 d.C), bispo de Salamina, afirmou que mais tarde Nicolau se sentiu descontente ou enfadado, e fundou a seita herética dos nicolaítas (Ap 2.6,15). Mas essa informação parece ser extremamente duvidosa. Clemente de Alexandria (aprox 150-220 d.C) defendeu o caráter de Nicolau. Como os outros seis diáconos, Nicolau evidentemente preenchia as qualificações estabelecidas pelos apóstolos (…).”

7. Para chegarmos a um ponto mais preciso, vamos ficar com as palavras de Swete que diz: “Como um todo parece melhor aceitar a suposição de que um partido levando esse nome existia na Ásia quando o Apocalipse foi escrito, quer devesse sua origem a Nicolau de Antioquia, que não é impossível […] ou a algum outro falso mestre com esse nome.”

A Doutrina e as Obras dos Nicolaítas:

1. É certo que os Nicolaítas deram trabalho à igreja de Cristo. Eles tinham sua própria doutrina e praticavam obras carnais. Nesse tópico vamos entender o que eles ensinavam.

2. Os Nicolaítas viviam uma vida de libertinagem desenfreada. Sobre isso comentou Steven J. Lawson: “O que são as obras dos Nicolaítas? Eram mestres itinerantes que ensinavam a Antinomia – uma perigosa heresia que encorajava à libertinagem. Ensinavam que o Cristão podia viver de maneira que bem entendesse, pois a graça cobre todas as coisas. Não há consequências para o pecado.”

Mais adiante em seu livro ele diz: “Pregavam uma liberdade destrutiva muito similar à doutrina de Balaão. Os frascos eram diferentes, o veneno, porém, o mesmo […]. Eles pervertiam a graça de Deus. Com seu antinomianismo ensinavam que nenhuma lei moral de Jesus está vinculada ao Cristão atual.”

3. É interessante observar que o que eram obras em Éfeso se tornou doutrina em Pérgamo.

4. Ao logo da História da Igreja, muitos patriarcas falaram sobre eles, por exemplo: Inácio (aprox. 110 d.C) fala sobre eles como “amantes do prazer” e “dados a discursos caluniosos.”

1- Irineu (aprox. 180 d.C) disse: “Eles vivem uma vida de desenfreada indulgência.” Já Clemente de Alexandria os qualifica como auto -indulgentes.

2- Tertuliano (aprox. 200 d.C) diz que eles comiam das coisas sacrificadas aos ídolos, e menciona a fornicação que cometem.

3- Hipólito (aprox 200 d.C) escreve: “João os reprovou no Apocalipse como fornicadores e comedores de coisas oferecidas aos ídolos.”

4- Eles eram acusados de Antinomianismo, ou seja, eram contra a lei.

5. De acordo com Claudionor de Andrade: “Agressivos e insolentes, eram mestres na arte da dedução teológica. Eles falavam o que os crentes queriam ouvir, e não o que necessitavam escutar. (…)

Influenciados pelo gnosticismo, os Nicolaítas ensinavam que o importante era o espírito, pois a carne para nada servia. Então, que esta fosse exposta ao pecado e que no pecado se consumisse.

Eles não viam o corpo como o templo do Espírito Santo, mas como algo que precisava ser destruído através de uma exposição fatal ao pecado. Eis porque eles entregavam-se às torpezas e não se acanhavam em participar dos festivais pagãos, onde o sexo e culto faziam parte da mesma liturgia.”

Claudionor ainda diz: “Vendendo-se e deixando-se comprar, os nicolaítas mercadejavam as coisas santas e sempre auferiram gordos dividendos com variações mercadológicas da fé incauta e desavisada.

Profetizavam e tinham visões sob encomenda. E na imensa feira do misticismo, expunham suas teologias. Tanto no varejo quanto no atacado. Inventavam curas e forjavam milagres, adoentando as igrejas com imitações ridículas e ordinárias do poder de Deus.

O Nicolaísmo Moderno:

1. Os nicolaítas com o tempo desapareceram nominalmente, porém ressurge nos tempos modernos com uma nova roupagem. Ele está mais forte do que nunca e ganha espaço e oportunidade em muitas igrejas.

2. Os Nicolaítas se infiltram nas igrejas. Eles agem disfarçadamente, atuando, ministrando e ensinando. Corrompendo a verdadeira fé. Fundando igrejas e atraindo para si desonra e condenação.

3. Severino Pedro cita o Sr. A. E. Bloomfield que disse: “Os movimentos das igrejas, visando poder político e prestígio social mediante uniões, federações e alianças mundanas são “doutrinas e obras” dos nicolaítas. Trata-se do esforço de restaurar por métodos humanos aquilo que se perdeu (o primeiro amor).”

4. Os nicolaítas modernos são descompromissados com a verdade. Vendem o Evangelho e alugam-se por dinheiro. Em muitas igrejas há curandeirismo no lugar das curas, uso de amuletos, sal grosso, água ungida de Israel, rosa ungida, lencinho ungido, sabonete ungido, exorcismos em vez de libertações. Pouco se fala na volta de Jesus, santidade e amar ao próximo.

Cantores do mundo gospel cobram altos cachês para cantarem músicas antropocêntricas que em nada glorificam a Deus. Pastores cada dia mais, promovendo o Ecumenismo, tolerando o pecado e preocupados em construir seus próprios impérios eclesiásticos.

Chegam ao ponto de tirar das suas ovelhas até a última moeda. Enquanto seus fiéis pagam numerosas ofertas por campanhas “supostamente” miraculosas, seus pastores, bispos e apóstolos enriquecem às custas do povo de Deus.

5. Outro exemplo de que a Igreja tem tolerado o nicolaísmo é através da libertinagem. Steven J. Lawson escreveu: “Muitas igrejas e denominações já consentem na ordenação de homossexuais. Aliás, até fundam igrejas para estes. Outras aprovam o divórcio e outras uniões sem o devido respaldo Bíblico.”

Claudionor de Andrade diz: “À semelhança do filho de Peor, os nicolaítas pós-modernos utilizam a teologia a fim de prosperar suas bolsas. Desfocando a visão do Reino de Deus, focam a visagem de seus impérios e feudos. (…) No púlpito, fazem-se deuses e como deuses exigem uma adoração própria à divindade. Mentem e por suas mentiras recebem generosas somas.”

6. Devemos aprender que a igreja de Éfeso abominava as obras dos nicolaítas. Jesus elogiou-na por nesse aspecto. Diz o texto Bíblico: “Tens contudo a teu favor que odeias as obras dos Nicolaítas, as quais eu também odeio.” (Ap 2.6).

Aqui aparece a palavra grega MISEO que significar odiar e detestar abertamente. É interessante enfatizar que Jesus nunca foi tolerante com o erro. Onde a verdade está, não há espaço para as heresias. Jesus não se agrada das obras dos Nicolaítas porque são carnais e nocivas ao corpo de Cristo. Ao vencedor Jesus diz: “dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.”

7. Já a Igreja de Pérgamo, tolerava os que sustentavam a doutrina (o ensino) dos Nicolaítas. Para essa igreja, Jesus diz: “Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.” (Ap. 2.15,16).

Conclusão: A igreja de Cristão não pode tolerar o erro no meio do povo de Deus. Devemos fazer como a igreja de Éfeso, ou seja, não só combatê-los como também refrear tais obras, caso contrário seremos cúmplices do pecado e da libertinagem. Podemos concluir que toda heresia se introduz na Igreja disfarçada de doutrina, então precisamos conhecer mais as escrituras, para que a verdade sempre venha prevalecer em nosso meio.

Antinomianismo

A palavra antinomianismo vem de duas palavras gregas, anti, que significa “contra”, e nomos, que significa “lei”. Sendo assim, antinomianismo significa “contra a lei.” Teologicamente, o antinomianismo é a crença de que não há leis morais que Deus espera que os cristãos obedeçam.

O antinomianismo leva um ensinamento bíblico a uma conclusão antibíblica. O ensinamento bíblico é o de que os cristãos não são obrigados a observarem a lei do Antigo Testamento como um meio de salvação.

Quando Jesus Cristo morreu na cruz, Ele cumpriu a Lei do Antigo Testamento (Romanos 10:4, Gálatas 3:23-25, Efésios 2:15). A conclusão antibíblica é a de que não há nenhuma lei moral que Deus espera que os cristãos obedeçam.

O apóstolo Paulo tratou da questão do antinomianismo em Romanos 6:1-2: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?”

O ataque mais frequente sobre a doutrina da salvação pela graça é que ela encoraja o pecado. As pessoas podem se perguntar: “Se sou salvo pela graça e todos os meus pecados são perdoados, por que não pecar o quanto quiser?” Esse pensamento não é o resultado de uma verdadeira conversão porque a verdadeira conversão produz um maior, não menor, desejo de obedecer.

O desejo de Deus – e o nosso desejo quando somos regenerados por Seu Espírito – é que nos esforcemos a não pecar. Como gratidão por Sua graça e perdão, queremos agradá-Lo. Deus nos deu o Seu dom infinitamente misericordioso através da salvação em Jesus (João 3:16; Romanos 5:8). Nossa resposta é consagrar nossa vida a Ele como uma forma de amor, adoração e gratidão pelo que Ele fez por nós (Romanos 12:1-2). O antinomianismo é antibíblico por aplicar de forma errada o significado do favor gracioso de Deus.

A segunda razão por que o antinomianismo é antibíblico é que existe uma lei moral que Deus espera que obedeçamos. Primeiro João 5:3 nos diz: “Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos.”

O que é essa lei que Deus espera que obedeçamos? É a lei de Cristo – “Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mateus 22:37-40).

A lei de Cristo não é uma extensa lista de códigos legais. É uma lei de amor. Se amarmos a Deus com todo nosso coração, alma, mente e força, não faremos nada que o desagrade. Se amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, não faremos nada para prejudicá-los. A obediência à lei de Cristo não é um requisito para ganhar ou manter a salvação. A lei de Cristo é o que Deus espera de um cristão.

O antinomismo é contrário a tudo o que a Bíblia ensina. Deus espera que vivamos uma vida de moralidade, amor e integridade. Jesus Cristo nos libertou dos comandos pesados da Lei do Antigo Testamento, mas isso não é uma licença para pecar e sim um pacto de graça.

Devemos lutar para vencer o pecado e cultivar a justiça, dependendo do Espírito Santo para nos ajudar. O fato de que somos graciosamente livres das exigências da Lei do Antigo Testamento deve resultar em nós vivendo em obediência à lei de Cristo. Primeiro João 2:3-6 declara: “E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.”