Livro de Tiago – Análise Detalhada

O Livro de Tiago – Aspecto Central – Breve Contextualização

A fé sem obras não pode ser chamada de fé. A fé sem obras é morta, e a fé morta é pior do que nenhuma fé. A fé deve operar, ela deve produzir; ela deve ser visível. A fé verbal não é suficiente. A fé meramente mental é insuficiente.

A fé deve existir, mas deve ser muito mais. Ela deve inspirar a ação. Nesta epístola aos crentes judeus, Tiago integra a verdadeira fé à toda experiência prática diária, enfatizando que a fé verdadeira deve se manifestar em obras que a evidenciem.

A fé resiste às dificuldades. As dificuldades vêm e vão, mas a fé forte as enfrentará e desenvolverá a perseverança. (Para detalhamento da questão da Perseverança e a relação desta com a questão do remanescente é aconselhável que se verifique o Resumo contido em “Documento Auxiliar – Eu te guardarei da hora da Provação”).

A fé percebe as tentações. Ela não nos permitirá concordar com a nossa luxúria e cair em pecado. A fé obedece a Palavra. Ela não irá simplesmente ouvir e não fazer. A fé genuína produz servos praticantes da Palavra. (Para detalhamento da questão da fé é aconselhável que se busque e se estude acerca do entendimento da Palavra EMUNAH através dos Diagramas (Imagem) na parte gráfica do site).

Para Tiago, a fé e o favoritismo, a fé e a acepção de pessoas não podem coexistir. A fé, conforme abordado por Tiago, não tem preferências, preconceitos e muito menos faz pré-julgamentos.

A fé é mais do que simples palavras, é mais do que sabedoria; ela é demonstrada pela obediência e responde prontamente aos mandamentos do Senhor e confia nas Promessas de Deus.

A fé controla a língua. Esta pequena, mas imensamente poderosa parte do corpo que deve ser mantida sob rígido controle. A fé genuína tem o poder de fazer isto.

A fé age sabiamente. Ela nos habilita a decidir pela Sabedoria Celestial, evitando a suposta “sabedoria” terrena.

A fé produz separação entre o mundo e a submissão a Deus. A fé nos habilita a resistor ao diabo e, humildemente nos aproximarmos de Deus.

Finalmente, a fé espera pacientemente pela Vinda do Senhor. Nos problemas, nas dificuldades, nas provações, ela resiste firme reprimindo toda e qualquer insubmissão e murmuração.

O Autor de Tiago

Quatro homens tem o nome de Tiago no Novo Testamento. São eles:

  1. Tiago, o pai de Judas (não o Iscariotes), é mencionado duas vezes (Lc 6:16 e At 1:13) como o pai de um dos doze discípulos, mas é, a não ser por este fato, completamente desconhecido.
  2. Tiago, filho de Alfeu (Mt 10:3, Mc 3:18, Lc 6:15), em outro lugar chamado de Tiago, o menor (Mc 15:40), era um dos doze discípulos. À parte de ser listado entre os doze discípulos, este Tiago é pouco mencionado e, duvida-se que ele seja a figura de autoridade que estaria por detrás desta epístola. Houve algumas tentativas de identificação deste Tiago com o irmão do Senhor (Gl 1:19), mas este ponto de vista é difícil de concordar com os relatos do evangelho.
  3. Tiago, o filho de Zebedeu e irmão de João (Mt 4:21, Mt 10:2, Mt 17:1, Mc 3:17, Mc 10:35, Mc 13:3, Lc 9:54), era um dos discípulos íntimos do Senhor Jesus, mas o seu martírio em 44 d.C. (At 12:2) torna improvável que ele tenha escrito esta epístola.
  4. Tiago, o irmão do Senhor (Mt 13:35, Mc 6:3, Gl 1:19), era um dos “pilares” da Igreja de Jerusalém (At 12:17, At 15:13-21, At 21:18, Gl 2:9,12). A tradição indica esta importante figura como sendo o autor da epístola, e isto se encaixa melhor nas evidências da Escritura.

Observações Relevantes:

  1. O caráter judaico desta epístola com sua especial ênfase na Lei, juntamente com a evidente influência do Sermão do Monte (Mt 4:11-12 e Mt 5:12, por exemplo), complementam o que sabemos sobre Tiago, “o Justo”, nas Escrituras e na antiga tradição.
  2. O entendimento mais natural dos relatos do evangelho é que Tiago era meio-irmão de Jesus, sendo filho de José e Maria, após o nascimento de Jesus (Mt 1:24-25)
  3. Ele, aparentemente, não aceitava as reinvindicações de Jesus até que o Senhor apareceu a ele após a Sua ressurreição (ICo 15:7).
  4. Ele e seus irmãos estavam entre os crentes que aguardavam a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 1:14).
  5. Pouco depois ele se tornou um líder reconhecido pela Igreja de Jerusalém (At 12:17 e Gl 2:9,12), sendo inclusive uma figura central no Concílio de Jerusalém em At 15.
  6. Até mesmo após a terceira viagem missionária de Paulo, Tiago continuou a observar a Lei Mosaica como testemunho a outros judeus (At 21:18-25).
  7. A antiga tradição enfatiza a sua devoção e seu papel de levar outros ao conhecimento do Senhor Jesus Cristo com o Messias.
  8. Ele sofreu uma violenta morte de martírio pouco depois da queda de Jerusalém.
  9. O crescente reconhecimento de que esta epístola teria sido escrita pelo irmão do Senhor levou à sua aceitação como um livro canônico.

O Tempo de Tiago

A epístola de Tiago é dirigida “às doze tribos da Dispersão” (1.1) e fica muito nítido nos versículos 1:19 e 2:1,7, que esta saudação esteja dirigida aos cristãos hebreus que estavam fora da Palestina.

É importante salientar, no entanto, que isto pode expressar a consciência de Tiago acerca das Promessas de Deus aos Patriarcas, notadamente no conhecimento da verdade sobre “As Duas Casas de Israel – Judá e Efraim”. Para detalhamento deste ponto verificar os Resumos sobre “As Duas Casas de Israel” constantes da seção “Apocalipse e os Eventos do Tempo do Fim”.

Observe ainda, que o local de reunião mencionado em Tg 2:2 é chamado no texto grego de sinagoga. Além disto toda a epístola reflete o pensamento e expressão judaicas (Ex: 2:19-21, 4:11-12 e 5:4,12), além do fato de não haver referências à escravidão ou idolatria, sendo isto algo que se ajusta à uma leitura originalmente judaica.

Segundo Josefo, Tiago foi martirizado em 62 d.C.. Aqueles que o aceitam como sendo o escritor desta epístola tem sugerido uma data para a redação desta carta entre 45 d.C. e o final de sua vida.

Entretanto vários elementos e fatores indicam que esta epístola possa ter sido o escrito mais antigo do Novo Testamento (Cerca de 46-49 d.C.), porque:

  1. Não há qualquer menção de cristão gentios ou de seu relacionamento com judeus gentios, como seria adequado esperar de uma epístola, especialmente se escrita mais tarde.
  2. Além das referências à Pessoa de Cristo, não há praticamente nenhuma teologia distinta em Tiago, sugerindo uma data anterior, quando o Cristianismo era visto em termos de um Judaísmo Messiânico.
  3. As alusões aos ensinamentos de Cristo possuem pouquíssima concordância verbal com os evangelhos sinóticos que, provavelmente, ela os tenha precedido.
  4. Tiago utiliza a palavra sinagoga, além de Igreja e indica uma organização simples de presbíteros e de mestres (Tg 3:1 e Tg 5:14), o que foi padronizado depois da antiga sinagoga.
  5. Tiago não menciona questões relacionadas ao Concílio de Jerusalém de Atos 15 (49 d.C.).

O Contexto Histórico-Cultural

O ambiente cultural de Tiago moldou as questões que ele precisou abordar perto do fim da vida. Mais de um século antes dessa época, o general romano Pompeu havia excluído o território da Judéia e deixado muitos camponeses judeus sem terras.

Os impostos exorbitantes de Herodes, o Grande, provavelmente privar dos o Grande, provavelmente privaram mais agricultores humildes de seu trabalho. No século 01 dc. muitos agricultores trabalhavam como arrendatários em grandes propriedades feudais (como em outras partes do império); outros, tendo perdido as próprias terras, tornaram-se trabalhadores nos mercados, só encontrando trabalho esporadicamente (havia mais trabalho na estação da colheita).

O ressentimento contra os proprietários aristocráticos era grande em muitas partes do império, mas deixar de lhes pagar os bens prometidos estava longe de ser uma opção. Alguns proprietários de terras, aliás, contavam com o próprio esquadrão de assassinos contratados para lidar com os arrendatários que não cooperassem.

A situação era menos extrema nas cidades, mas mesmo ali as divisões eram óbvias (p. ex., a aristocracia na Cidade Alta de Jerusalém em contraste com os pobres que viviam na direcão do vento que passava pelo esgoto da cidade). Quando os sacerdotes aristocráticos começaram a reter o salário do dízimo destinado aos sacerdotes mais pobres, sua única fonte de sustento, as tensões econômicas se acirraram.

Em Roma, a escassez de grãos frequentemente levava a revoltas populares. As tensões sociais e econômicas na Palestina costumavam ser contidas por mais tempo, mas uma hora ou outra culminavam em violência. A aristocracia de Jerusalém, buscando a paz com Roma por meio de políticas práticas, tornou-se objeto do ódio dos ZELOTES e de outros grupos de resistência, para os quais era Deus, e só Ele, quem deveria governar a região.

As várias eclosões de violência acabaram culminando na revolta de 66 d.C., à qual se seguiu o massacre dos sacerdotes e da guarnição romana no monte do templo. Os aristocratas e os proletários patriotas entraram em conflito dentro da cidade, enquanto esta era sitiada pelo exército romano; e em 70 d.C., Jerusalém caiu e o templo foi destruído. O último bastião de resistência, em Massada, foi arrasado em 73 d.c.

Os Destinatários e os temas centrais desta Carta

Tiago se dirige sobretudo aos judeus convertidos ao cristianismo (e provavelmente a quaisquer outros judeus que estivessem dispostos a ouví-lo) envolvidos nas tensões sociais que acabaram gerando a guerra de 66-70 d.C.

Tiago trata do orgulho dos ricos (1.9-11; 2.1-9; 4.13-17), da perseguição que eles praticam contra os pobres (2.6,7; 5.6) e do seu hábito de reter o salário dos trabalhadores (5.4-6).

Tiago também se dirige àqueles que são tentados a retaliar com atos (2.11; 4.2) ou palavras violentas (1.19,20,26; 3.1-12; 4.11,12; 5.9). Em resposta a isso, ele conclama os leitores à sabedoria (1.5; 3.14-18), à fé (1.6-8; 2.14-26) e à perseverança paciente (1.9-11; 5.7-11).

Uma vez entendidas no contexto da situação, as exortações da carta, supostamente “desconexas”, encaixam-se em um todo coeso e essencial para o argumento principal de Tiago

Análise Sintética de Tiago

Tiago é o Livro de Provérbios do Novo Testamento, porque é escrito no estilo moralista conciso da literatura de sabedoria. Fica evidente que Tiago estava profundamente influenciado pelo Antigo Testamento (principalmente pela literatura de sabedoria) e pelo Sermão do Monte.

Mas a pregação inflamada contra a iniqüidade e injustiça social concede a ele o título de Amós do Novo Testamento. Por causa dos muitos assuntos dessa epís- tola, é difícil fazer o seu esboço; sugestões têm sido apresentadas desde nenhuma ligação entre os vários tópicos até um esquema unificado.

O esboço unificado sugerido seria:

  1. O teste da fé (1.1-18);
  2. As características da fé (1.19–5.6);
  3. O triunfo da fé (5.7-20).

O teste da fé (1.1-18)

A primeira parte desta epístola desenvolve as qualidades da fé genuína em relação às provações e tentações. Após uma saudação de um versículo aos cristãos hebreus geograficamente dispersos (1.1), Tiago, rapidamente, introduz o primeiro assunto: os testes exteriores da fé (1.2-12).

Essas provações são para produzir uma perseverança madura e um sentido de dependência de Deus, a quem o crente deve se voltar para obter sabedoria e capacitação.

As tentações interiores (1.13-18) não vêm daquele que nos dá “toda boa dádiva” (1.17). Esses apelos do mal devem ser abandonados logo no início ou podem resultar em conseqüências desastrosas.

As características da fé (1.19-5.6)

A resposta justa ao teste exige que a pessoa seja “pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (1.19), e isto resume o restante da epistola. A prontidão em ouvir envolve uma resposta obediente à Palavra de Deus (1.19-27). O verdadeiro ouvir significa mais do que escutar, a Palavra deve ser recebida e aplicada.

Após formular esse principio (1.21-22). Tiago o desenvolve com uma ilustração (1.23-25) e uma aplicação (1.26-27). A fé genuína deve produzir uma mudança na atitude de parcialidade do rico para um amor pelos pobres, assim como pelos ricos (2.1-13).

A verdadeira fé deve também resultar em ações (2.14-26). Em Rm 4, Paulo usa o exemplo de Abraão para mostrar que a justificação é pela fé, não por obras. Mas Tiago diz que Abraão foi justificado pelas obras (2.21).

Apesar da aparente contradição, Rm 04 e Tg 02 são, de fato, dois lados de uma mesma moeda. No contexto, Paulo está escrevendo sobre justificação perante Deus, enquanto Tiago escreve sobre a evidência da justificação perante os hornens.

A fé que não produz mudança não é uma fé salvadora. Indo das obras para palavras, Tiago mostra como a fé viva controla a lingua “tardio para falar. (1.19). A lingua é pequena, mas tem o poder de fazer grande bem ou igualmente grande mal.

Somente o poder de Deus aplicado por uma fé ativa pode domar a língua (3.1-12). Assim como há usos justos e perversos da lingua, também há manifestações demo- níacas e divinas de sabedoria (3.13-18).

Tiago contrasta sete características da sabedoria humana com sete qualidades da sabedoria divina. Os fortes apelos mundanos (4.1-12) e da riqueza (4.13-5.6) criam conflitos que são maléficos ao crescimento da fé.

O sistema do mundo está em confronto com Deus, e a busca dos seus prazeres produz cobiça, inveja, contenda e arrogancia (4.1-6). A única alternativa do crente é a submissão com um espírito arrependido e humilde. Isso produzirá uma atitude transformada também em relação aos outros (4.7-12).

Esse espírito de submissão e humildade deve ser aplicado a qualquer tentativa de termos lucro (4.13-17), especialmente porque a riqueza pode levar ao orgulho, injustiça e egoísmo (5.1-6).

O triunfo da fé (5.7-20)

Tiago encoraja seus leitores a perseverarem pacientemente nos sofrimentos da vida presente em vista da expectativa futura da vinda do Senhor (5.712). Eles podem ser oprimidos pelos ricos ou por outras circunstâncias, mas, como ensina o exemplo de Jó, os crentes podem ter a certeza de que Deus tem um propósito gracioso no tra- tamento com eles.

Tiago conclui sua epístola com algumas palavras práticas de oração e restauração (5.13-20). As orações dos justos (p. ex., presbíteros nas igrejas locais) são eficazes para a cura e restauração dos crentes. Quando o pecado não é tratado, ele contribui para doenças e até mesmo morte.

Análise Detalhada

Introdução

O Autor

As cartas no primeiro século geralmente iniciavam com o nome do autor, seguido pelo nome do receptor e uma fórmula de saudação na mesma ordem que aparecem nesta carta. O autor identificou-se simplesmente como Tiago. Provavelmente, nenhuma outra explicação era necessária para os cristãos daquela época. Eles logo compreendiam tratar-se de Tiago de Jerusalém, o reconhecido líder da Igreja, assim como explicado anteriormente.

As Credenciais do Autor

Com um verdadeiro espírito cristão, Tiago apresentou-se aos seus leitores, não como o líder da Igreja, mas como servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo. O termo servo (doulos) é literalmente um servo cativo ou escravo. Este termo (escravo) pode ser entendido em seu sentido literal ou figurado, voluntário ou invonluntário, portanto em sentido qualificado de sujeição ou de subserviência.

Em Filipenses a expressão tendo assumido a “forma de servo”, significa aparecer em forma desprezível e humilde. O termo escravo era entendido quando usado em relação ao homem. No entanto, quando esse termo era usado em relação a Deus, os leitores judeus compreendiam tratar-se de um adorador.’

A palavra grega doulos (escravo, servo) refere-se a uma posição de obediência completa, humildade absoluta e lealdade inabalável.

  1. A obediência era a tarefa
  2. A humildade, a posição
  3. A lealdade, o relacionamento que um senhor esperava de um escravo…

Não há maior atributo para o crente, que ser conhecido como servo de Jesus, obediente, humilde e leal.

Às vezes trata-se de maneira negativa o fato de Cristo ter sido mencionado somente três vezes nesta epístola (1.1; 2.1; 5.8). Pode-se supor que a razão não era um desinteresse por parte de Tiago, mas sim que os leitores cristãos conheciam o fundamento da sua mensagem. Em todo caso, há uma vidente declaração da suprema lealdade cristã na frase de abertura do apóstolo. Servo de Deus era uma frase comum do Antigo Testamento. Tiago acrescenta a ela a dimensão distintamente neotestamentária um adorador do Senhor Jesus Cristo. O autor desta carta é um homem que serve a Deus e aceita a divindade de Jesus.

Os Receptores

A carta é endereçada às doze tribos (Casa de Israel + Casa de Judá) que andam dispersas. Em termos judaicos as doze tribos significavam Israel como um todo. Da maneira como Tiago usou o termo, ele referia-se aos cristãos judeus. Parece provável que embora Tiago tivesse como foco da sua atenção os judeus convertidos, estas palavras incluiam todo Israel espiritual, i.e., os cristãos em toda parte.

Assim como mencionado no estudo sobre as Duas Casas de Israel, esta menção é indicativa da consciência que Tiago tinha das promessas feitas aos Patriarcas, notadamente a Abraão, de que “em ti serão benditas TODAS as famílias da terra”. Este ponto é extremamente significativo.

O fato de terem sido transformados em um povo especial, não os isentava de serem um povo que vivenciava aflições, muito pelo contrário (Tg 1.1).

As doze tribos referem-se aqui aos judeus cristãos (2.1; 5.7,8) que possivelmente se converteram no Pentecostes e foram dispersos depois do martírio de Estêvão (At 8.1; 11.19). Por força ou por escolha, os judeus estavam vivendo por toda parte do Império Romano.

Eles são crentes, mas são perseguidos. Eles são cidadãos dos céus, mas vivem dispersos na terra. Eles são crentes, mas tiveram seus bens saqueados. Eles são crentes, mas são pobres e, muitos deles, estão sendo oprimidos pelos ricos (5.1-6). Eles são crentes, mas ficam enfermos (5.14). Eles são crentes, mas sofrem (5.13). Vida cristã não é uma redoma de vidro, uma estufa espiritual, uma colônia de férias, antes, é um campo de batalha. Não somos poupados dos problemas, mas nos problemas.

A Saudação

Saúde (chairein; lit., regozijar-se) era a saudação comum nas cartas do primeiro século, como foi o caso de Cláudio Lísias a Félix (At 23.26). Essa forma de saudação é usada somente mais uma vez no Novo Testamento, na carta de Tiago após a assembléia de Jerusalém (At 15.23). Esse fato serve como prova de que Tiago (irmão de Jesus) escreveu esta epístola que leva o seu nome.

Por outro lado, há um nítido contraste entre o significado ampliado desta palavra e o contexto vivenciado pelo público a ela dirigido. Isto parece já introduzir o tema a ser tratado por Tiago, na mesma medida que dá a tônica pela qual ele viria a abordá-lo. Isto já denota uma carta de cunho espiritual mais elevado, na mesma medida em que vai tratar da expressão prática da vida cristã, indicando uma consciência que sinaliza o desenvolvimento da Mente de Cristo pela leitura e discernimento destas realidades.

χαιρω chairoç; verbo primário;

1) regozijar-se, estar contente

2) ficar extremamente alegre

3) estar bem, ter sucesso

4) em cumprimentos, saudação!

Capítulo 01

A atitude cristã em relação às provas, 1.2-4

Meus irmãos (v. 2) era uma expressão que os cristãos primitivos lembravam do seu contexto judaico. Neste caso, irmãos incluiria os cristãos judeus e os cristãos gentios. A palavra que fecha o versículo 1, “saúde” (regozijar-se), é retomada no versículo 2, por meio da palavra gozo, o que reafirma o que foi dito anteriormente.

É como se Tiago estivesse dizendo: “Desejo a vocês gozo; e vocês devem considerar puro gozo todas as dificuldades que podem lhes sobrevir”. Tentações (peirasmoi) é uma palavra que tem um sentido duplo de provações exteriores e tentações interiores. Neste contexto, a melhor tradução é “provações”, testes, provas.

Não podemos escolher ter ou não ter provações; provavelmente Deus não podia deixar que escolhêssemos quanto ao que é bom para nós! Não cabe a nós decidir se vamos ter ou não provações; apenas podemos escolher qual será a nossa atitude em relação a elas.

Aqui recebemos o conselho de Deus: “Quando as provações e tentações se acumulam em suas vidas, meus irmãos, não as vejam como intrusas, mas recebam-nas como amigas!” (Phillips).

No entanto, as dificuldades não devem surgir por iniciativa nossa. Não é quando infligimos sofrimento a nós mesmos, mas quando “caímos” nas dificuldades, é que podemos considerar que foram colocadas em nosso caminho por Deus e devem ser vistas como uma fonte de alegria em vez de tristeza.’

Estar alegre no meio da aflição é uma tarefa difícil! Mas este é o conselho de Deus aqui, e o Tiago se apressa em explicar a razão (Rm 5.3-5; I Pe 1.6-7). O “sangue, suor e lágrimas” da vida cristã têm um propósito. Eles são um dos meios para o nosso crescimento rumo à semelhança com Deus.

O atleta pode encontrar gozo no rigor do seu treinamento enquanto mantiver em mente a sua meta de vencer a corrida. O cristão pode encontrar gozo, até mesmo nas provações, quando percebe que essas provações são um meio para tornar-se mais semelhante a Cristo.

Ele pode, em certos momentos, estar tão próximo de Deus que pode considerar a provação um grande gozo. Nesse conselho, Tiago está ecoando o ensinamento do nosso Senhor (Mt 5.11-12).

Ter grande gozo parece não harmonizar com várias tentações. Se as provações são múltiplas, a graça triunfante de Deus é ainda mais abundante. A atitude cristã deve ser mais do que mera tolerância; ela deve ser triunfante.

Se obstinadamente enrijecermos nossos queixos, rangermos os dentes e agüentarmos com um espírito decaído, ainda não alcançamos a atitude que a Palavra de Deus requer de nós aqui.

Nossos fardos podem ser pesados, mas não devemos permitir que toda nossa energia e esforços sejam despendidos em suportar o que precisamos suportar. Se nossas dificuldades não nos fazem bem, elas nos fazem mal.

Enquanto levamos nossos fardos de maneira corajosa, podemos experimentar o gozo do Senhor: gozo apesar de todos esses fardos; uma felicidade profunda à medida que percebemos que os fardos não podem nos subjugar; uma clara percepção de comunhão com Cristo à medida que Ele carrega a parte mais pesada do nosso fardo; gozo real no fato de que por meio dessas provações gozamos da “comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.10) e estamos sendo moldados à sua semelhança.

A Realidade Espiritual da Palavra da palavra FÉ

  1. EMUNAH FÉ
  2. EMUNAH = AMÉM + AMAM
  3. AMÉM = EMN É UM ACRÓSTICO
  • E – EL – DEUS
  • M – MELECH – REI
  • N – NEEMAN – FIEL
  1. AMAM TRAZ A COMPOSIÇÃO DE TRÊS ELEMENTOS
  • FIRMEZA
  • FIDELIDADE
  • TREINO/PRÁTICA

Obs: Verificar a Seção “Mapas, Diagramas, Calendários e Tabelas Bíblicas” na subseção “Imagem” para verificar os textos bíblicos que dão sustentação ao significado aqui mencionado da extensão do significado da palavra fé e, obviamente, de suas implicações quando a utilizamos na plena acepção da Palavra.

A Provação da Fé confirmada e a produção da Perseverança

Perseverança – Citações Bíblicas e seus Significados

Definição:

Perseverança significa ter força e paciência para não desistir. A pessoa que persevera enfrenta dificuldades, desafios e tempos de espera sem desanimar, para alcançar seu objetivo. A perseverança é uma parte muito importante da vida cristã, porque nos ajuda a manter os olhos no alvo: Jesus.

Diante das dificuldades podemos fazer duas coisas: desistir ou continuar a perseguir nosso objetivo. Quem continua tem perseverança. A perseverança é uma combinação de firmeza, paciência e esperança. A pessoa que persevera se mantém firme no seu propósito, tem paciência para esperar o tempo que for preciso para alcançar o objetivo e tem esperança que vai chegar lá, mesmo diante de obstáculos.

Perseverança – Amadurecimento – Frutificação

“Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam.  Este é o sentido da parábola: a semente é a palavra de Deus. A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos. A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer. A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança.” Lc 8:10-15

Obs: Atenção à relação entre o amadurecimento, as chuvas Serôdias e o processo de transformação tipificado pelas árvores (Is 55:13).

Perseverança – Perseguição – Salvação da Alma

“Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? E que sinal haverá de quando estas coisas estiverem para se cumprir? Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas, mas o fim não será logo. Então, lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino, contra reino; haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu. Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto vos acontecerá para que deis testemunho. Assentai, pois, em vosso coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder; porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem. E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma.” Lc 21:7-19

Obs: Atenção às citações equivalentes em Mt 10:16-33 e Mq 7:1-7

Perseverança – Experiência – Esperança:

“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” Rm 5:3-5.

Obs: Veja a relação disto com o trabalhar de Deus em Seu povo no deserto – Rm 15:1-6 e I Co 10:1-13

Perseverança – Vigilância – Batalha Espiritual

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.” Ef 6:13-18

Obs: Relação direta com a Vida de Batalha Espiritual vivenciada na Terra Prometida (contra os povos cananeus) e a Oração Intercessória característica da Vida Cristã que conhece o Terceiro Aspecto da Cruz – Dn 9:4-19

Perseverança – Dignidade – Conhecimento do Senhor

“Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.” Cl 1:9-12

Obs: Envolve a Conquista da Terra (Nm 14:8); Envolve uma Vida relacional que crucifica a carne e retira do trono o ego (Jo 15 e Os 14) e uma consciência espiritual da realidade do Homem Corporativo (citações a Cristo Jesus)

Perseverança – Sofrimento – Perseguição

“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis… Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança e as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, – que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” II Tm 3:1, 10-12

Obs: Envolve firmeza de Propósito, Fé (EMUNAH) e disposição para sofrer pelo Evangelho. (I Pe 1:3-9, I Pe 4:1-2, I Pe 4:12-19, I Pe 5:5-10, Gl 4:19, Cl 1:24)

Perseverança – Confiança – Alcançar a Promessa

“Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável. Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará;  todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” Hb 10:32-39

Obs: Relação com a formação de Cristo em nós por meio das dores de parto para nascer Benjamim (Filho da Minha Confiança) – Gl 4:19 e Gn 35:16-21.

Perseverança – Perfeição – Integridade

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” Tg 1:2-4

Perseverança – Provação – Coroa da Vida

“Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.” Tg 1:12

Perseverança – Amor – Entrada no Reino

“Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Pe 1:3-11

Perseverança – Testemunho – Foco nos Interesses do Senhor

“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas.” Ap 1:9-15

Obs: Verifique a questão posicional em relação a Cristo e a evolução de uma vida egocêntrica para uma vida Cristocêntrica –Lc 8:43-48 (1) e Lc 7:36-38 (2).

Perseverança – Proteção – Coroa da Vida

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome” Ap 3:10-12

Perseverança – Fidelidade – Entrega Total

“Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos.” Ap 13:1-10

Perseverança – Fidelidade – Oposição ao Sistema

“Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham.” Ap 14:9-13

A Perseverança e o Remanescente

Citações Bíblicas e seus Significados

Definição e Breve Relato Histórico:

Quando olhamos os livros da Bíblia em suas narrativas, sempre vemos a misericórdia de Deus estendida às nações, aos povos e às famílias nelas existentes.

Não obstante os pecados dos homens, suas rebeliões, idolatrias e afronta à santidade e à autoridade de Deus, vemos a boa mão divina conservando um pequeno povo e os livrando do juízo das conseqüências do pecado.

São chamados remanescentes dos povos e das nações, os que ousam acreditar e serem fiéis a Deus mesmo ante uma multidão de contrários continuarem a se rebelar contra a Palavra do Deus Altíssimo.

O que significa a palavra remanescente? Que remanesce, que sobeja, que resta. Resto, sobra, sobejo, o que fica de um todo depois de retirada uma parte. Restante.

Podemos destacar vários remanescentes que o Amado Deus conservou em vida e livres de total destruição, a fim de mostrar que a sua misericórdia e seu amor nunca se apartaram dos homens:

  1. Noé e família foram salvos do primeiro juízo que a terra passou.
  2. Abraão e sua família foram salvos da idolatria e do pecado, da morte e da condenação de Ur dos caldeus.
  3. Também o sobrinho de Abraão Ló e sua família foram livres do juízo que se abateu sobre as cidades de Sodoma e Gomorra.
  4. Dos que saíram do Egito somente Josué e Calebe com suas famílias escaparam de morrer no deserto, foram livres por causa da obediência a Deus.
  5. Somente Raabe foi salva da destruição que ocorreu em Jericó, porque ousou crer em Deus, teve esperança no Todo Poderoso, se arrependeu de seus pecados e buscou a salvação de sua família.  Josué 2:9-11
  6. O profeta Elias se sentiu só e abandonado, pensando que todo o povo de Israel estava desviado dos caminhos de Deus em idolatria. Contudo, Deus o confortou dizendo-lhe que tinha observado em Israel sete mil que não tinham se dobrado a Baal, o deus que o rei Acabe adorava. I Reis 19:14-18.
  7. No primeiro exílio, quando Israel foi levado para Assíria em 722 a.C. um pequeno grupo do povo foi livre da destruição e da escravidão de Senaqueribe.  II Cr 30:6
  8. No segundo exílio, quando Judá foi levado para Babilônia em 586 a. C. um outro pequeno grupo  foi livre de ser totalmente aniquilado por Nabucodonosor. Ezequiel 6:6-9
  9. Da Babilônia, depois de setenta anos de escravidão, uma pequena parte do povo retorna a Israel para reedificar o templo e a cidade de Jerusalém que estavam destruídos.  Esdras 9:13-15
  10. Depois da invasão de Jerusalém pelo imperador romano Tito, no ano 70 d.C. Israel é disperso pelas nações. E no século 20 acontece à maior tragédia ao povo de Israel, quando Adolfo Hitler dizima mais de 6.000 milhões de judeus. Com esse acontecimento  judeus do mundo inteiro que viviam espalhados, retornam à Jerusalém e fundam o Estado de Israel em 1948. Um remanescente retorna a sua terra depois da segunda guerra que assolou o mundo.

Há uma promessa de Deus, que um remanescente de Israel seria preservado para salvação nos últimos dias pela graça maravilhosa de Deus.

“Isaías exclama com relação a Israel: “Embora o número dos israelitas seja como a areia do mar, apenas o remanescente será salvo. Pois o Senhor executará na terra a sua sentença, rápida e definitivamente.

Como anteriormente disse Isaías: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendentes, já estaríamos como Sodoma, e semelhantes à Gomorra”.

Romanos 9:27-29 “Assim, hoje também há um remanescente escolhido pela graça. E, se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça.” Romanos 11:5,6

Observamos pelo menos três características no comportamento daqueles que Deus separa como remanescentes de um povo:

  1. Arrependimento de pecados e confissão de culpas. “Depois de tudo o que nos aconteceu por causa de nossas más obras e por causa de nossa grande culpa, apesar de que, ó Deus, tu nos puniste menos do que os nossos pecados mereciam e ainda nos deste um remanescente como este, como podemos voltar a quebrar os teus mandamentos e a realizar casamentos mistos com esses povos de práticas repugnantes?” Esdras 9:13-14
  2. Permanece em obediência a Palavra. “O dragão irou-se contra a mulher e saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus.” Apocalipse 12:17
  3. Apresentam conduta cristã exemplar de santidade. “Contudo, haverá alguns sobreviventes; filhos e filhas que serão retirados dela. Eles virão a vocês, e, quando vocês virem à conduta e as ações deles, vocês se sentirão consolados com relação à desgraça que eu trouxe sobre Jerusalém. Vocês se sentirão consolados quando virem à conduta e as ações deles, pois saberão que não agi sem motivo em tudo quanto fiz ali, palavra do Soberano Senhor”. Ezequiel 14:22,23

Algumas igrejas cristãs julgam-se remanescentes do Senhor, nesses últimos dias, mas entendemos que os remanescentes de nossa geração não se reduzem a determinados grupos ou seguimentos religiosos, mas são aqueles que com seus corações sinceros, comprometidos com Deus, obedecem ao seu santo mandamento e se preservam dos males e pecados que assolam no mundo.

”Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor.” Hebreus 12:14

Deus não conhece placas denominacionais, mas, procura corações sinceros, verdadeiros adoradores que o sirvam e o adorem em espírito e em verdade.

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. João 4:23,24

O Número 300 (Trezentos) e o Remanescente – Significados

Remanescente – Andar com Deus

“Enoque viveu sessenta e cinco anos e gerou a Metusalém. Andou Enoque com Deus; e, depois que gerou a Metusalém, viveu trezentos anos; e teve filhos e filhas. Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos. Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si.” Gn 5:21-24

Remanescente – Livramento do Juízo

Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra. Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento; de cinqüenta, a largura; e a altura, de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro. Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá. Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos.” Gn 6:13-18

Remanescente – Libertação do Medo

“Então, Jerubaal, que é Gideão, se levantou de madrugada, e todo o povo que com ele estava, e se acamparam junto à fonte de Harode, de maneira que o arraial dos midianitas lhe ficava para o norte, no vale, defronte do outeiro de Moré. Disse o SENHOR a Gideão: É demais o povo que está contigo, para eu entregar os midianitas nas suas mãos; Israel poderia se gloriar contra mim, dizendo: A minha própria mão me livrou. Apregoa, pois, aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for tímido e medroso, volte e retire-se da região montanhosa de Gileade. Então, voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram. Disse mais o SENHOR a Gideão: Ainda há povo demais; faze-os descer às águas, e ali tos provarei; aquele de quem eu te disser: este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de quem eu te disser: este não irá contigo, esse não irá. Fez Gideão descer os homens às águas. Então, o SENHOR lhe disse: Todo que lamber a água com a língua, como faz o cão, esse porás à parte, como também a todo aquele que se abaixar de joelhos a beber. Foi o número dos que lamberam, levando a mão à boca, trezentos homens; e todo o restante do povo se abaixou de joelhos a beber a água. Então, disse o SENHOR a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água eu vos livrarei, e entregarei os midianitas nas tuas mãos; pelo que a outra gente toda que se retire, cada um para o seu lugar. Tomou o povo provisões nas mãos e as trombetas. Gideão enviou todos os homens de Israel cada um à sua tenda, porém os trezentos homens reteve consigo. “ Jz 7:1-8

Remanescente – Entrega Total

“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela. Mas Jesus disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.” Mc 14:3-9

Obs: Cada uma destas passagens citadas relativamente ao Remanescente está devidamente detalhada no Resumo aa porção da Escritura correspondente.

Retornando à Carta de Tiago

A prova da nossa fé (v. 3) fortalece nossa paciência. Jesus disse: “É na vossa paciência que ganhareis a vossa alma” (Lc 21.19). Tiago não nos dá este conselho com base na sua autoridade pessoal. Sabendo que significa: “Descubram por conta própria”. O tempo do verbo sugere uma ação progressiva e contínua — descobrindo continuamente. O apóstolo diz, na verdade: “Procurem ser alegres e perseverantes e vejam se não é a melhor maneira de lidar com as suas provações”.

E por que deveríamos continuar provando? Tasker responde: “Para que os cristãos sejam perfeitos e completos, avançando até alcançar a vida equilibrada de santidade perfeita e íntegra”. Essa é a vontade de Deus para o cristão.

A exortação aponta para uma santidade representando o alvo mais elevado da maturidade cristã. Mas essa maturidade não deve estar dissociada do cumprimento do mandamento do nosso Senhor e da sua provisão para alcançar esse elevado nível de santidade. A palavra perfeitos é a mesma que Jesus usou quando instruiu seus seguidores: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48).

Atenção ao significado das palavras abaixo mencionadas:

Perfeitos: τελειος teleios

1) levado a seu fim, finalizado

2) que não carece de nada necessário para estar completo

3) perfeito

4) aquilo que é perfeito

4a) integridade e virtude humana consumados

4b) de homens

4b1) adulto, maturo, maior idade

A idéia de perfeição conforme mencionada em Tiago se estabelece como um correto relacionamento com Deus expresso na obediência individual e na vida sem mácula.

Íntegros: ολοκληρος holokleros

1) completo em todas as suas partes, em nenhuma parte deficiente ou enfermo, inteiro, íntegro

1a) de um corpo sem mancha ou defeito, seja de um sacerdote ou de uma vítima

1b) livre de pecado, sem culpa

1c) completo em todos os aspectos, consumado

Em Tiago 1.2-6, encontramos alguns dos frutos que crescem quando procuramos desenvolver “Gozo no Meio da Provação”:

1) Paciência (v. 3);

2) Oração — pedir a Deus (v. 5);

3) Fé (v. 6).

No pensamento final do versículo 4, encontramos a palavra “faltar”, ou “em nada deficientes”. Essa mesma palavra aparece novamente no versículo 5. E há mais uma conexão.

Tiago acabou de dar aos seus companheiros cristãos uma tarefa excessivamente difícil: “Prezados irmãos, acaso a vida de vocês está sendo cheia de dificuldades e tentações? Então estejam felizes” (1.2.).

Bede interpreta a conexão entre esses versículos como a pergunta natural do crente: “Como posso entender a provação desse ponto de vista? Necessita-se de uma sabedoria mais elevada”. Tiago conhece a resposta para essa pergunta: E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus (v. 5).

Tiago, falando sobre as provações da vida cristã, ensina-nos quatro verdades fundamentais:

  1. Em primeiro lugar, as provações são compatíveis com a fé cristã (Tg 1.2). Por que os crentes sofrem? Por que um crente passa privações? Por que sofre prejuízos? Por que fica doente em cima de uma cama? Por que são injustiçados? Deus nos adverte a esperar as provações. A vida cristã não é um mar de rosas. Jesus advertiu: “No mundo … tereis tribulações…” (Jo 16.33). O apóstolo Paulo disse:

“… por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino ‘de Deus” (At 14.22). Ainda, Paulo disse: “… todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (IITm 3.12). O grande patriarca Jó disse: “… o homem nasce para a tribulação, como as faíscas voam para cima” (Jó 5.7).

Somos um povo na dispersão, enfrentamos muitas provações. Somos peregrinos neste mundo. Nossa Pátria permanente não é aqui. Nosso lar permanente não é aqui. Nossa Pátria está no céu. As provações que enfrentamos aqui, rumo à cidade cujo arquiteto e fundador é Deus, porém, visam a nossa maturidade espiritual .

‘As provações procedem em determinado grau, de nossa humanidade. Pertencemos à raça humana sofremos doenças, acidentes, desapontamentos. Muitas vezes, nosso sofrimento é resultado de nossas escolhas erradas. As provações procedem de nossa vida cristã. Muitas tribulações, nós as enfrentamos exatamente por sermos cristãos, pois Satanás, o mundo e a própria carne lutam contra nós. Porém, as provações visam trazer glória ao nome de Deus. João registra a cura de um homem cego de nascença. Ele nasceu cego para que nele fosse manifestada a glória de Deus (Jo 9.3).

  1. Em segundo lugar, as provações são variadas (1.2). A palavra várias vem do grego poikilos. Esta palavra significa de diversas cores, multicolorido. As provações são policromáticas. Existem provações rosa claro, como esmalte de noiva; provações rosa choque; provações cinza; provações tenebrosas. Deus tece todas essas provações e faz um lindo mosaico. Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Para cada cor de provação, existe a graça suficiente de Deus para sustentar-nos.

A graça de Deus é multiforme (poikilos) (I Pe 4.10). Há provas fáceis e provas difíceis. Há provas que são maiores que nossas forças. Há provas que enfrentamos sozinhos, como Jesus no Getsêmani. Deus sabe o que está fazendo em nossa vida. Ele é como um escultor. Ele está esculpindo em nós a beleza de Jesus (Rm 8.29; II Co 3.18).

  1. Em terceiro lugar, as provações são passageiras (1.2). As provações não duram a vida inteira. Ninguém agüenta uma vida inteira de provas. Ninguém agüenta uma viagem inteira de turbulência. Depois da noite, vem a manhã. Depois do choro, vem a alegria. Depois da tempestade, vem a bonança. Não vamos ficar estacionados na arena das provações.
  2. Em quarto lugar, as provações são pedagógicas (1.3,4). Nas provações da vida, nossa fé é testada para mostrar a sua genuinidade. Quando Deus chamou a Abraão para viver pela fé, ele o testou com o fim de aumentar a sua fé. Deus sempre nos prova para produzir o melhor em nós; Satanás nos tenta para fazer o pior em nós. As provas da fé provam que, de fato, nascemos de novo.

As provações de nossa fé trabalham por nós, e não contra nós, visto que produzem perseverança. Deus está no controle de nossa vida. Tudo tem um propósito. Diz o apóstolo Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus…” (Rm 8.28). Paulo diz ainda que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória (II Co 4.17). Em Efésios 2.8-10, Paulo diz que Deus trabalha por nós, em nós e através de nós. Ele trabalhou em Abraão, José, Moisés antes de trabalhar através deles. E assim que Deus faz com você ainda hoje.

A perseverança visa nos levar à maturidade. Paulo diz em Romanos 5.3-5 que as tribulações são pedagógicas, levam-nos à maturidade. A palavra hupomone significa paciência com as circunstâncias, ou seja, coragem e perseverança em face do sofrimento e das dificuldades.

Os crentes imaturos são sempre impacientes. A impaciência pode acarretar graves conseqüências: Abraão coabitou com Agar, Moisés matou o egípcio, Sansão contou seu segredo para Dalila e Pedro quase matou Malco. Maturidade não se alcança apenas lendo um livro, é preciso passar pelas provas!

As provações visam a glória de Deus. Jesus disse que o cego de nascença nasceu cego para que nele se manifestasse a glória de Deus. De Lázaro, Jesus disse: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus…” (Jo 11.4). Depois de provado por Deus e restaurado por Ele, Jó disse: “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.5).

Qual deve ser a atitude com que vamos enfrentar as provações da vida? Tiago responde: “… tende por motivo de grande gozo…”. Em vez de murmurar, de reclamar, de ficar amargo, de enfiar-se em uma caverna, devemos nos alegrar intensamente. Essa alegria é confiança segura na soberania de Deus, de que Ele está no controle, de que Ele sabe o que está fazendo e sabe para onde está nos levando.

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações” Tiago 1:2. Veja que interessante a expressão “várias provações”.

  1. Várias – ποικιλος – poikilos

1) várias cores, multicor

2) de vários tipos, multiforme

Citações Bíblicas relacionada a palavra “Várias” e a Multiforme Sabedoria de Deus:

  1. Relação da Multiforme Sabedoria de Deus e o Processo transformador DE Deus em Jó:

“Então, respondeu Zofar, o naamatita: Porventura, não se dará resposta a esse palavrório? Acaso, tem razão o tagarela? Será o caso de as tuas parolas fazerem calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe? Pois dizes: A minha doutrina é pura, e sou limpo aos teus olhos. Oh! Falasse Deus, e abrisse os seus lábios contra ti, e te revelasse os segredos da sabedoria, da verdadeira sabedoria, que é multiforme! Sabe, portanto, que Deus permite seja esquecida parte da tua iniquidade. Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber? A sua medida é mais longa do que a terra e mais larga do que o mar.
Se ele passa, prende a alguém e chama a juízo, quem o poderá impedir?
Porque ele conhece os homens vãos e, sem esforço, vê a iniquidade. Mas o homem estúpido se tornará sábio, quando a cria de um asno montês nascer homem. Se dispuseres o coração e estenderes as mãos para Deus; se lançares para longe a iniquidade da tua mão e não permitires habitar na tua tenda a injustiça, então, levantarás o rosto sem mácula, estarás seguro e não temerás. Pois te esquecerás dos teus sofrimentos e deles só terás lembrança como de águas que passaram. A tua vida será mais clara que o meio-dia; ainda que lhe haja trevas, serão como a manhã. Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança; olharás em derredor e dormirás tranquilo. Deitar-te-ás, e ninguém te espantará; e muitos procurarão obter o teu favor. Mas os olhos dos perversos desfalecerão, o seu refúgio perecerá; sua esperança será o render do espírito.” Jó 11:1-20

  1. Relaçao da Multiforme Sabedoria de Deus e o discernimento de Paulo do Mistério de Cristo

“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,
o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito,
a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho;
do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder. A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele. Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória. Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,
para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor,
a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.
(Observe a citação da palavra PLENITUDE em conexão com ser íntegro e completo, expressões utilizadas por Tiago no início de sua carta). Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” Efésios 3:1-21

  1. A relação da Multiforme Graça de Deus na Operação dos Dons como expressão de uma Realidade Viva do Corpo de Cristo

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações. Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados. Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo (Observe a citação dos sofrimentos em conexão, mais uma vez, com a questão da manifestação da Multiforme Graça de Deus); pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador? Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem.” I Pedro 4:7-19

  1. Provações ou Tentações

Na verdade a palavra no original seria Tentações (peirasmoi). Esta é uma palavra que tem um sentido duplo de provações exteriores e tentações interiores. Neste contexto, a melhor tradução é “provações”, testes, provas. Embora, mais à frente, a questão das tentações vai ser abordada, pois a amplitude do significado da palavra assim o requer.

Por este motivo é que são abordadas ambas citações nos versículos subsequentes. De um lado Deus nos permite passar por provas através de situações de cunho “exterior” (porque Ele já conhece nosso interior) para que possamos responder em fidelidade a Seu Amor e para que possamos conhecer o que está de fato em nosso coração, o que é de fato, central em nossa vida.

De outro, o inimigo de Deus nos tentando nos fazer cair através da exacerbação de desejos interiores que extrapolem os limites estabelecidos por Deus nas esferas do FAZER, GOZAR E POSSUIR. Para detalhamento deste tema verifique o Resumo sobre “A Cruz – A Vida que nasce da Morte” na seção das tentações e a vida cristã.

A Natureza da Sabedoria (1.5)

Sabedoria: Grego, significado (maior ou menor, material ou espiritual).

Substantivo de Sophos, sábio. Sabedoria, habilidade, tato, experiência em alguma área. Em o Novo Testamento, a palavra se refere à sabedoria:

  1. Habilidade nas questões da vida, sabedoria prática, administração sábia e sensata, como exibida na formação dos melhores planos e na escolha dos melhores meios, incluindo a ideia de juízo sensato e bom senso (Lc 21.15; At 6.3; 7.10; CI 1.28; 3.16; 4.5).
  2. Em um sentido mais amplo, sabedoria, conhecimento profundo, percepção natural e moral, aprendizado, instrução, ciência, indicando cultivo da mente e entendimento esclarecido.

(A) De modo geral (Mt 12.42; Lc 11.31; At 7.22). Indicando investigação e exame, instrução e um conhecimento de coisas ocultas, e linguagem enigmática e simbólica (Cl 2.23; Ap 13.18; 17.9).

(B) Especificamente, sobre o conhecimento, o estudo e a filosofia, correntes entre os gregos e romanos na era apostólica; pretendia afastar a mente dos homens da verdade divina, e se mostrava em contraste com a simplicidade do evangelho (I Co 1.17,19-22; 2.1,4-6,13; 3.19; II Co 1.12).

(C) Com respeito a coisas divinas, sabedoria, conhecimento, discernimento, profundo entendimento, representados em todas as passagens como um dom divino, e incluindo a ideia de aplicação prática (Mt 13.54; Mc 6.2; At 6.10). Sophia representa a sabedoria divina, a capacidade de regular o relacionamento da pessoa com Deus (Lc 2.40; I Co 1.30; 2.6,7; 12.8; Ef 1.17; Cl 1.9; Tg 1.5; 3.13,15,17;II Pe 3.15).

  1. A Sabedoria de Deus significa a sabedoria divina, incluindo as noções de habilidade infinita, discernimento, conhecimento, pureza (Rm 11.33; I Co 1.21,24; Ef 1.8; 3.10; CI 2.3; Ap 5.12; 7.12). Sobre a sabedoria divina, revelada e manifestada em Cristo e no seu evangelho (Mt 11.19; Lc 7.35; 11.49).

Deriv.: philosophos (5386), filósofo.

Sin.: synesis (4907), a capacidade de raciocinar, inteligência, entendimento; sõphrosynē (4997), sensatez; phronēsis (5428), prudência, discernimento moral.

Que tipo de sabedoria Tiago exorta seus irmãos em Cristo a pedir? É mais do que conhecimento e vai além de qualquer realização humana natural. Robertson escreve: “Em Tiago, a sabedoria é o uso correto das oportunidades no viver santo. É viver como Cristo viveu, de acordo com a vontade de Deus”.

Dom de Deus (1.5)

A evidência certamente aponta para a idéia de que esta sabedoria da qual Tiago escreve é o melhor dom (presente) que Deus tem para dar ao seu povo. Na verdade, trata-se dEle próprio por intermédio do seu Espírito Santo. Jesus concluiu: “E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? […] se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lc 11.11, 13).

A sabedoria por todas as decisões futuras da vida cristã não é dada em um único momento, mas Aquele que é a Fonte de todas as escolhas cristãs sábias é prometido como um dom de Deus para aqueles que pedem pela sua presença.

Jesus disse o seguinte acerca do Espírito Santo prometido: “Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16.13). Se faltar ao homem aquilo (sabedoria) que precisa para viver a vida cristã, ele deve pedir a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada (v. 5). Quando Tiago falou da generosidade divina, pode ter lembrado das palavras do nosso Senhor: “porque ele dá o Espírito sem limitações” (Jo 3.34).

Um Dom Recebido pela Fé (1.6a)

A palavra fé neste contexto não denota “constância na fé cristã”, como no verso 03, mas significa CONFIANÇA NA ORAÇÃO. Indica a fé do pedinte, sua crença e confiança de que Deus irá ouvir sua oração e atende-la, ou em Sua Sabedoria Superior, negá-la.

Se alguém sente falta de poder para enfrentar suas provações com gozo, precisa pedi-la a Deus. Peça-a, porém, com fé. Para que o nosso pedido seja concretizado, precisamos ser absolutamente sinceros. Será que realmente queremos o tipo de ajuda que Deus escolhe dar-nos ou secretamente esperamos encontrar um caminho mais fácil?

Temos fé suficiente na sabedoria e no amor de Deus para permitir que nos transforme em pessoas semelhantes a Ele, por meio do dom da sua própria vida? Esse dom, semelhantemente a todo dom espiritual de Deus, vem pela fé:

“É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). Com fé “implica oração […] que pede por sabedoria […] e que por meio dela o que pede se torna o cristão completo que deve ser”.’

O Dom de uma Alma Unificada (1.6b-8)

Ânimo Dobre: διψυχος dipsuchos

1) mente dupla, alma dupla, mente dividida, “com a alma dividida entre a fé e o mundo.

1a) vacilante, incerto, duvidoso

1b) de interesse dividido

A palavra refere-se a pessoa “vacilante em todas as suas atividades e conduta”.

É importante observar a Estação de Pi-Hairote na caminhada do povo de Deus pelo Deserto. Ela pode nos demonstrar muito deste processo de vacilação, de dúvida, de inconstância. Para verificação consulte o “Resumo sobre as 42 Estações no Deserto” que está contido na Seção Estudos Bíblicos Estruturantes.

O coração dividido não é caminho para triunfar na provação. Se estivermos com o coração dividido, vamos receber somente a metade — ou menos! Seremos como a onda do mar (v. 6), que em um momento apressa-se em direção à praia da fé e esperança e no momento seguinte volta-se para o oceano da descrença.

Em nosso comportamento em relação a Deus não deve haver inconstância, em que queremos que parcialmente as coisas ocorram do nosso jeito e parcialmente do jeito de Deus. Esta instabilidade é a marca de um homem de coração dobre (v. 8; gr., dipsychos, lit., dupla alma), um homem de afeições divididas e uma vontade não subjugada, desejando segurar os dois mundos.’

É essa inconstância que não permite que uma pessoa encontre o gozo em suas provações e é essa mesma disposição que vai bloqueá-la de receber a ajuda que precisa de Deus. Uma pessoa deve crer de toda sua alma que há ajuda em Deus. Com base nessa fé resoluta é que uma pessoa pode esperar o dom que está procurando — ser-lhe-á dada (v. 5). E o dom é a singeleza de coração que procuramos manifestar no pedido:

Um coração conformado, submisso, meigo,

O trono do meu grande Redentor,

Onde somente Cristo fala,

Onde Jesus reina soberano. (Charles Wesley)

As Verdadeiras Riquezas, vs 9-11

Os versículos 9-11 não apresentam uma conexão direta com os versículos 5-8, mas estão relacionados com o tema dos versículos 2-4. Entre as provações que o cristão do primeiro século enfrentava constavam as privações da pobreza, junto com a exploração pelos ricos e poderosos.

O irmão de condição humilde (v. 9) é um cristão infligido pela pobreza, um dos “meus irmãos” (v. 2) e não apenas um pobre qualquer. O rico (v. 11) parece o homem que confia em suas riquezas e não é, portanto, um verdadeiro seguidor de Cristo.

Veja abaixo a inversão de realidades tipificadas através das expressões imputadas a um (homem de “condição humilde”, mas cheio de “dignidade” e o homem “rico”, porém “insignificante”).

“Condição Humilde”: ταπεινος tapeinos

1) que não se levanta muito do chão (denota uma condição de humildade espiritual)

2) metáfora.

2a) como uma condição, humilde, de grau baixo

2b) abatido pela tristeza, rebaixado, deprimido

2c) humilde de espírito, humilde

2d) num mau sentido, que se comporta de forma humilhante, que se submete à servidão

Dignidade: υψος hupsos

1) altura

1a) de dimensão

1b) de lugar, céu

1c) metáf. posição, alto posto

Rico: πλουσιος plousios

1) rico, abundante em recursos materiais

2) metáf. abundante, abundantemente suprido

2a) abundante (rico) nas virtudes cristãs e posses eternas

Insignificância: ταπεινωσις tapeinosis

1) humildade, condição humilde

2) metáf.

2a) humilhação espiritual, que conduz alguém a perceber e lamentar sua insignificância e culpa (moral)

Logo, a questão quanto ao homem de “condição humilde” em contraposição ao homem “rico” guarda muito maior relação no tocante ao SER do que ao TER. A questão envolvida é a oposição entre uma vida dependente, carente, submissa em oposição a uma vida prepotente, arrogante, autônoma.

A questão de cunho financeiro, de posses, de poderio econômico é meramente o pano de fundo da questão focal de onde está a nossa dependência. E de qual a nossa relação com as coisas e com Deus, especialmente na questão de onde ou EM QUEM depositamos nossa confiança e esperança, bem como de que maneira isto assume contornos de auto-suficiência em nós. Isto parece óbvio neste texto, mas ganha contornos sutis em muitas de nossas atitudes no dia a dia nas pequenas coisas, em nossas escolhas e posturas.

Origem da Verdadeira Alegria (1.9-10a)

O irmão cristão (v. 9) pode regozijar-se mesmo debaixo da opressão da pobreza. Ele não tem prazer nas suas privações, mas possui a fonte da verdadeira alegria que eleva o seu espírito acima das limitações materiais. A exaltação é o que a comunhão com Cristo faz pelo sentimento de dignidade de uma pessoa diante de Deus. Quando um homem sabe que pertence a Cristo e aprendeu a valorizar os valores espirituais da vida, não precisa de muitas vantagens materiais para ser um homem satisfeito e alegre (Fp 4.10-13).

O Fracasso da Segurança Falsa (1.10b-11)

Semelhantemente, o único motivo da verdadeira alegria para o rico (v. 10) é que ele experimentará abatimento. Essa humilhação é a reorientação de valores que o rico experimenta quando ele segue a Cristo. O rico que se torna um discípulo logo aprende o que seu Mestre ensinou: “A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo, mais do que as vestes” (Lc 12.15, 23).

Tiago ilustra a segurança a curto prazo de todos os recursos materiais e meramente humanos com uma figura bíblica familiar (Is 40.6-8; I Pe 1.24). A flor da erva provavelmente refere-se às esplendorosas flores silvestres da Palestina que cresciam nas pastagens (cf. “lírios do campo”, Mt 6.28).

O sol com ardor (v. 11) era uma figura conhecida para todos que habitaram na Palestina. O vento leste quente do deserto da Síria podia transformar os pastos verdes em pastos secos em um único dia. A formosa aparência do seu aspecto perece é graficamente traduzido da seguinte maneira: “A flor murcha, suas pétalas caem e o que era encantador aos olhos, perde-se para sempre”.

Tiago deixa seu ponto claro: assim se murchará também o rico. A expressão em seus caminhos implica que se refere ao rico impiedoso que confia em suas riquezas. As palavras podem referir-se às jornadas de um comerciante rico e suas atividades desassossegadas em acumular riquezas.

Sabe-se que Paulo extraía suas metáforas das ocupações humanas — construção, agricultura, disputas atléticas e lutas. Tiago, por outro lado, semelhantemente a Jesus, prefere cenas da natureza: “onda do mar” (1.6), “flor do campo” (1.10), “curso da natureza” (3.6), “toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves” (3.7), “fonte” (3.11), “a figueira” (3.12), “o precioso fruto da terra” (5.7) e “o céu deu chuva” (5.18).

Entendendo a Prova e a Tentação, 1.12-18

A palavra tentação (v. 12) tem dois significados gerais. Um desses significados refere-se a aflições, perseguições ou provações diante de circunstâncias providenciais. É nesse sentido que Tiago usa a palavra mais no início desse capítulo e no versículo 12.

Temeroso com a possibilidade de que seus leitores pudessem achar que a tentação interior tivesse o mesmo significado das provações exteriores, Tiago discute nos versículos 13-18 o significado mais, amplo do termo como um convite para o pecado.

Recompensa pela Perseverança (1.12)

O versículo 12 não está intimamente relacionado com o versículo 11, mas continua a discussão acerca das provações vista nos versículos 2-4. Tiago afirma nesse ponto que o homem que enfrenta provações com coragem e gozo é um homem bem-aventurado (feliz, cf. 5.11).

Apalavra nos lembra das Bem-aventuranças (Mt 5.10-12) e é encontrada freqüentemente no Antigo Testamento (SI 1.1-3) bem como em I Pedro 3.14; 4.14. A coroa era usada pelos judeus para representar a felicidade suprema. Aqui a coroa da vida pode referir-se a alguma passagem específica do Antigo Testamento, por exemplo, a tradução da Septuaginta de Zacarias 6.14: “A coroa será dada àqueles que perseverarem”. Sofre a tentação (“persevera na provação”, NVI; “suporta, com perseverança, a provação”) deve ser entendido como enfrentando as provações de acordo com a recomendação dos versículos 2-4.

Quando for provado traz consigo o significado de “depois de ter sido aprovado” (Rm 14.18; 16.10; II Tm 2.15). O alvo final do cristão é a vida eterna. É uma qualidade de vida que começa aqui e agora, mas o clímax encontra-se além do túmulo. Esse alvo é aqui chamado de a coroa da vida, um símbolo que é expresso da seguinte maneira em Mateus 25.21: “Bem está, servo bom e fiel”.

Observe que o apóstolo Paulo utiliza esta expressão “coroa” (no caso a da justiça), no contexto de II Timóteo. Embora sejam coroas com significados distintos, devemos atentar que ao final da carta a Timóteo ele diz: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” II Timóteo 4:8

Ora, somente “amam a Sua Vinda” aqueles que NÃO TEM O CORAÇÃO DIVIDIDO, tema abordado no início desta carta. Isto reafirma a questão da coroa da vida associado a questão focal de um coração não dividido, mas TODO DO SENHOR!!

A Tentação não Vem de Deus (1.13)

As dificuldades da escolha moral trazem a “coroa da vida” quando as enfrentamos com perseverança, mas elas também podem suscitar perguntas na mente. Quando isso ocorre, passamos da área das provações para o campo da tentação. Tiago tem em mente um homem que busca uma desculpa pelos seus fracassos em ser perseverante. Esse homem diz: “Essa tentação é pesada demais para mim; a culpa é de Deus”.

O autor deixa claro que nenhum homem que sente um impulso de pecar deve dizer: De Deus sou tentado (v. 13). Deus permite as provações para tornar-nos fortes, mas Ele nunca nos incita a fazer o mal. Deus é um Deus santo; seu plano de redenção foi planejado para destruir o pecado. Por causa da sua natureza, Deus não pode ser tentado pelo mal; incitar uma das suas criaturas a pecar seria uma violação do seu propósito ao enviar o seu único Filho. Deus permite a possibilidade do mal nas suas formas atraentes no mundo moral, mas Ele não quer que caiamos em tentação.

Interessante observar o significado da palavra “tentado”. Ela significa ser experimentado, indicando um intento que age sobre nosso ser interior. A idéia é de algo que estaria a nos “perfurar”. Isto é impressionante, pois dá a dimensão da vida adâmica em nosso ser interior desejando responder às incitações externas sim, os maus desejos levados ao consentimento da mente podem trazer sérios riscos à carreira cristã.

Evidentemente o Senhor não poderia ser tentado, embora o diabo se empenhou em fazê-lo. Por isto Ele disse: “Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim;” João 14:30

A Tentação Vem de Dentro (1.14)

Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados.

Tiago diz que cada um é atraído e engodado pela sua própria COBIÇA, ou em outras palavras, CONCUPISCÊNCIA. Para detalhamento deste tema é aconselhável verificar o estudo sobre “A Vida Cristã e as Tentações” na seção de Estudos Bíblicos Estruturantes, subseção  “A Cruz, a Vida que nasce da Morte”.

A fonte da tentação está dentro da pessoa. Por sua própria cobiça , ganância, ou desejo interno é realizada e seduzido . Este desejo interior, esta COBIÇA leva a pessoa (exelkomenos) como um peixe é retirado de seu esconderijo, e depois induzida (deleazomenos , vb. deleazō “, colocando isca para pegar um peixe com isca ou caça com armadilhas”) para o morte. Aliás este é o significado desta expressão: COBIÇA. Assim, a mesma pessoa constrói e iscas sua própria armadilha.

No entanto, na maioria dos casos no Novo Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui, quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de um desejo errado. Tasker escreve: “Este versículo, na verdade, confirma a doutrina do pecado original. Tiago certamente teria concordado com a declaração de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21).

Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt 5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações lascivas”.” Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles são carnais.

A Tragédia do Desejo Consumado (1.15)

No versículo 14, concupiscência provavelmente refere-se a qualquer atração para o mal. A linguagem, no entanto, é mais comumente associada à indução ao pecado sexual. Tiago usa essa figura no versículo 15 para traçar o curso do mal, iniciando com um pensamento errado, que resulta em um ato pecaminoso e termina com o julgamento de Deus.

Um pensamento errado dá à luz quando lhe damos o consentimento da vontade. Segue-se então o ato em si. Sendo consumado não se refere tanto ao ato completado do pecado, mas sim ao acúmulo de atos maus que constitui uma vida pecaminosa.

O versículo 16 é com freqüência tratado como uma transição do pensamento dos versículos 13-14 para os versículos 17-18. A mudança é brusca: Não erreis. Não vagueiam tanto no seu pensamento a ponto de acreditar que qualquer provação ou tentação, com um propósito mal, vem de Deus. Deus somente dá o que é bom — e Ele é a Fonte de todas as coisas boas.

Deus nos fez o tipo de pessoas que somos e quando a criação estava completa Ele viu que tudo “era muito bom” (Gn 1.31). Moffatt traduz a primeira parte do versículo 17 da seguinte maneira: “Tudo que recebemos é bom e todos os nossos dons são perfeitos”.

Pai das luzes (v. 17) indubitavelmente tem um duplo sentido. Este termo se refere a Deus como o Criador das luzes do universo físico — sol, lua e estrelas. Mas Ele também é o Pai de toda nossa iluminação espiritual e de todas as bênçãos.

Tiago contrasta aqui as mudanças de hora em hora no sol e lua com o caráter imutável de Deus. As luzes nos céus podem mudar de hora em hora e lançar sombras onde previamente haviam lançado luz. Mas no caráter de Deus “não há variação, nem sombra de mudança”.

Ele é imutável. Segue-se como conseqüência certa do caráter imutável de Deus de que em seu tratar conosco “não há a menor variação ou sombra de inconsistência” (Phillips).

Significado da palavra Sombra: αποσκιασμα aposkiasma

  1. Sombra projetada por um objeto sobre o outro, uma sombra

Raiz da Palavra: απο apo – partícula primária; preposição

1) de separação

1a) de separação local, depois de verbos de movimento de um lugar i.e. de partir, de fugir

1b) de separação de uma parte do todo

1b1) quando de um todo alguma parte é tomada

1c) de qualquer tipo de separação de uma coisa de outra pelo qual a união ou comunhão dos dois é destruída

1d) de um estado de separação. Distância

1d1) física, de distância de lugar

1d2) tempo, de distância de tempo

2) de origem

2a) do lugar de onde algo está, vem, acontece, é tomado

2b) de origem de uma causa

Derivação da Palavra: σκια skia

1) sombra

1a) sombra causada pela intercepção da luz

1b) imagem projetada por um objeto e representando a forma daquele objeto

1c) rascunho, esboço, sombreamento

Juntando estas informações, o que podemos depreender é que há um contraponto entre a imutabilidade de Deus (e de Seus atos decorrentes desta mesma imutabilidade) e a variação ou inconstância da natureza humana sujeita a tantos interesses, interesses estes que não estão verdadeiramente focados e alinhados com o que deveria ser o único propósito existencial do homem: o ser Um com Deus.

O coração dividido, as concupiscências interiores, os muitos desejos fora de Deus, só evidenciam a necessidade de um processo de transformação em nós que demandam um tratamento de Deus para que a plenitude de Cristo seja, de fato, formada em nós. Afinal, Ele se coloca no lugar daquilo que Ele leva a morte em nossas vidas.

Mais até do que isto, fica evidente que o Senhor Jesus Cristo sendo a “expressão exata do Seu Ser” (Ser de Deus Pai), Ele é a perfeita expressão de Sua Imagem (Hb 1:1-3). Isto fala de UNIÃO, de COMPARTILHAMENTO DE VIDA. Isto traduzido no viver de Jesus foi verbalizado pelo Senhor da seguinte forma: “A minha comida consiste em fazer a Vontade de Meu Pai” e “quem vê a Mim vê o Pai”.

Isto nos dá uma dimensão de como a expressão prática da negação de todas as concupiscências que nos habitam, quando feitas em Amor e por Amor a Cristo, são não somente práticas como também manifestam uma vida de união, um desejo de comunhão, de intimidade. Nada que O fira, pode ser consentido em nós.

A Glória do Plano de Deus (1.18)

Quando o autor menciona nos, a quem ele se refere: aos leitores em geral ou aos cristãos? Os comentaristas têm pontos de vista divergentes. A verdade é significativa em qualquer um dos casos.

Se entendermos nos como que significando homens criados à imagem de Deus, o significado é claro. Deus nos fez da maneira que somos — segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade, provas, perplexidades e problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos ser semelhantes a Ele — como primícias das suas criaturas.

Não se sabe ao certo se Tiago está se referindo ao novo nascimento dos cristãos por meio do EVANGELHO (cf. 1.21; IPe 1.23) ou à criação inicial da humanidade por meio da palavra de Deus (Gn 1.26).

Os termos “palavra da verdade” e “primeiros frutos” talvez favoreçam a primeira hipótese (o começo da nova criação). Seja como for, o sentido aqui é claro: a idéia de Deus gerar é contrastada com a ideia de o desejo dar à luz (1.15); Neste sentido o versículo ilustra a GRAÇA de Deus para com as todas as pessoas.

Em sentido reverso, tudo parece indicar que estes desejos “fora de Deus”, entranhados na natureza humana carnal e desobediente, desejosa de satisfazer tantos desejos pulverizados em troca de satisfação e deleite, seriam como “sombras” interiores que o Pai das Luzes quer dissipar em nós.

Ou seja, em Cristo a Sombra é de NÃO VARIAÇÃO, pois é a própria expressão de União do Pai e do Filho. Já em nós é a LUZ DA VOLATILIDADE, DO ENGANO PECAMINOSO, DA VIDA INDEPENDENTE, à qual a Bíblia chama claramente de MORTE.

A utilização do termo “primícias” de suas criaturas é bastante significativa. Isto porque guarda relação com o calendário agrícola de Israel, com os eventos do tempo do fim, e especialmente, os eventos da volta do Senhor Jesus para se UNIR à Sua Noiva. Além disto, basta que se verifique as características que qualificam estes aos quais Deus considera PRIMÍCIAS (Ap 14:1-5).

Obedientes à Verdade Divina, 1.19-27

No versículo 18, Tiago havia mencionado a “palavra da verdade” por meio da qual os homens são nascidos em Deus. Visto que esta Palavra divina nos trouxe para Deus, devemos continuar sendo guiados por ela à medida que vivemos para Ele.

Um espírito aberto e receptivo para a Palavra de Deus e para a orientação do seu Espírito Santo sempre é o caminho para fazermos progresso nas coisas de Deus. Um espírito rebelde, combativo e queixoso não opera a justiça de Deus (v. 20). Essa receptividade contínua em relação à verdade de Deus é o elo que liga as exortações dos versículos 19-27.

Abandone a Pressa no Falar (1.19)

Em primeiro lugar, o homem de Deus deve ser pronto para ouvir (1.19). O termo “pronto”, no grego, é tãxys, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não podemos esperar.

É preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar, certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre nós.

As pessoas procuram os divãs dos psicanalistas porque sentem necessidade de falar. Não conseguimos armazenar no peito as pressões e decepções sem abrir o coração com alguém. Falar é uma necessidade básica, e ouvir é uma responsabilidade vital para aqueles que desejam construir relacionamentos saudáveis e maduros.

Dale Carnegie diz que aprender a ouvir as pessoas é uma das maneiras mais eficazes de se fazer amigos. Todos gostam e precisam falar de si mesmos. Temos de ouvir com os ouvidos, com os olhos e com o coração. Precisamos disponibilizar tempo e atenção para os outros. As pessoas são mais importantes que as coisas. Devemos adorar a Deus, amar as pessoas e usar as coisas. Essa é a regra de ouro na comunicação interpessoal.

Hoje, estamos substituindo relacionamentos por coisas. Os pais já não têm mais tempo para os filhos. Eles estão muito ocupados e não podem mais ajudar os filhos nos deveres da escola, nem ouvir o que os filhos têm a dizer sobre suas fantasias de criança ou suas angústias da adolescência. Os filhos parecem não ter com os pais o mesmo crédito que têm os amigos, o trabalho, o telefone.

O diálogo está morrendo entre marido e mulher. Os casamentos estão acabando, o índice de divórcio está crescendo espantosamente, porque os cônjuges estão correndo atrás do urgente e deixando o que é importante de lado; estão valorizando coisas e não relacionamentos; estão substituindo pessoas por coisas.

Em segundo lugar, ele deve ser tardio para falar (1.19). Precisamos estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos. A palavra “tardio”, no grego, é brádys. Essa palavra dá a idéia de uma pessoa que tem dificuldades intelectuais para compreender logo de início o que lhe foi dito; e necessita, portanto, de tempo para reflexão.

O que Tiago quer dizer é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. E preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? E oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem?

Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as conseqüências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: “A morte e a vida estão no poder da língua…” (Pv 18.21). As palavras podem dar vida ou matar.

Por isso, Davi orava a Deus e pedia: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!” (SI 141.3). Sócrates dizia que precisamos sempre passar nossas palavras por três peneiras: é verdade?; é com a pessoa certa?; é oportuno?

Em terceiro lugar, ele deve ser tardio para irar-se (1.19). Novamente encontramos o termo brádys. Tiago está dizendo que a ira deve ser tratada com reflexos lentos. A maior demonstração de força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e pecaminosa. E obra da carne, e não opera a justiça de Deus.

A justiça de Deus significa conduta certa, i.e., fazer o que Deus quer (cf. Mt 6.33). Robertson esboça a verdade do versículo 19 da seguinte forma:

1) Ouvir brilhante (v. 19a);

2) Silêncio eloqüente (v. 19b);

3) Ira insensível (v. 19c-).”

Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na igreja e na sociedade. Alguém que não tem domínio próprio fere e machuca quem está ao seu redor. Por outro lado, o congelamento da ira é um mal terrível. Há muitos que ficam como um vulcão em efervescência. Estão em aparente calma, mas as lavas incandescentes lhes queimam por dentro. A mágoa produz grandes transtornos. Onde ela prevalece, reina a doença, e Satanás acaba levando vantagem (II Co 2.11).

O crente verdadeiro tem suas ações religiosas dirigidas pela Palavra (Tg 1.26,27)

A religião pura e verdadeira vai muito além de doutrinas e ritos. Envolve prática, ação.

Hoje há um grande abismo entre o que professamos e o que vivemos; entre o que dizemos e o que fazemos; entre a nossa profissão de fé e a nossa prática de vida; entre o cristianismo teórico e o cristianismo prático. Esse distanciamento entre verdades inseparáveis, essa falta de consistência e coerência, dá à luz uma religião esquizofrênica e farisaica.

Tiago, homem de mente lógica e de espírito prático, toca, sem subterfúgios, o ponto nevrálgico do problema e aponta o sério risco de se viver uma religião descomprometida, mística, etérea, teórica, descontextualizada, sem praticidade e sem pertinência histórica.

Tiago diz que não basta o ritual bonito, a liturgia pomposa, a exterioridade irretocável. É preciso celebrar a liturgia da vida. Para tanto, ele coloca o prumo de Deus em nós e questiona-nos: somos verdadeiros religiosos ou não? Como saber se somos? Aqui Tiago menciona dois aspectos negativos e um positivo.

Em primeiro lugar, ele tem controle da sua língua (1.26). Tiago alerta para o perigo de um temperamento doente e explosivo e de uma língua solta (1.19,26). Jesus disse que a pessoa que nutre raiva, cujo sentimento desemboca em ofensa ao próximo, é passível do fogo do inferno (Mt 5.22). Jesus disse: “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt 12.36,37).

Tiago compara a língua com um cavalo fogoso sem freios, com um navio sem leme que pode espatifar-se nas rochas, com uma fagulha que incendeia uma floresta, com uma fonte contaminada, com uma árvore que produz frutos venenosos, com um mundo de iniqüidade ou com uma fera indomável.

Jesus disse que é a língua que revela o coração (Mt 12.34-35). Uma língua controlada significa um corpo controlado (3.1), mas uma língua desgovernada provoca grandes tragédias. A maledicência é o pecado que Deus mais abomina (Pv 6.19).

A palavra irrefletida, a conversa torpe, a mentira leviana, as acusações maldosas, as orquestrações urdidas na calada da noite para destruir a dignidade das pessoas são provas incontestáveis do grande poder destruidor da língua.

Se a língua é peçonhenta, má, afiada, ferina, suja e descaridosa, a religião então é oca, vazia, nula. Não podemos glorificar a Deus com a nossa língua e, ao mesmo tempo, destruir a vida de nosso próximo com ela. A língua não pode ser uma fonte amarga e doce ao mesmo tempo; um canal de vida e também um instrumento de morte.

A Bíblia diz que a boca fala daquilo que o coração está cheio. A língua funciona como aferidora do coração. Ela é como uma radiografia que revela o que está em nosso interior. Não há coração puro se a língua é impura. Não há língua santa se o coração é um poço de sujeira. Não há cristianismo verdadeiro sem santidade da língua. Se o coração estiver certo, a língua mostrará isso.

Em segundo lugar, ele tem vida santa (Tg 1.27b). A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus. E guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconseqüentes. Esses desbastam os valores de Deus, corroem os absolutos da Palavra e instauram o relativismo, o conformismo, o imediatismo e o hedonismo que levam ao comprometimento com o pecado.

Ser religioso autêntico é inconformar-se com os conformismos do mundo, para conformar-se com os inconformismos de Deus. A religião que agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente. Ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no maligno.

Abandone a Ira (1.20)

Significado no Grego da Palavra Ira – propriamente um desejo (como estendendo as mãos para algo, ou excitação da mente), i.e., (por analogia), uma violenta paixão (ira, ou abominação justificável); (consequentemente) relacionada a punição:— ira, indignação, vingança, furor.

Substantivo de cobiçar, desejar. O caráter, a disposição, o temperamento nativos da mente; impulso, ímpeto. Consequentemente, em o Novo Testamento: paixão, i.e., qualquer comoção violenta da mente; indignação, ira, fúria, especialmente incluindo o desejo de vingança, punição. Possíveis interpretações do significado desta palavra:

  1. De modo geral (Mc 3.5; Rm 12.19; Ef 4.31; Cl 3.8;I1 Tm 2.8; Tg 1.19,20). A respeito de Deus, indicando total abominação ao pecado e aversão àqueles que vivem no pecado (Rm 9.22; Hb 3.11; 4.3).
  2. Como metonímia: ira, incluindo a ideia de punição, por exemplo, como a penalidade da lei (Rm 4.15; 13.4,5). Também sobre a ira punitiva de Deus, o julgamento Divino a ser infligido sobre os impios (Mt 3.7; Lc 3.7; 21.23; Jo 3.36; Rm 2.8; 3.5; 5.9; 9.22; Ef 5.6; CI 3.6.; I Ts 1.10).
  3. Derivações:
    1. Orgidzõ (3710), causar ira, provocar; irado, aquele que se ira facilmente.
    2. Sin.: thymos (2372), ira.
    3. Também aganaktēsis (24), indignação;
    4. Eritheia (2052), luta entre partidários.

A ira quase sempre machuca tanto o nosso próximo como a nós mesmos. A ira carnal sempre machuca. Portanto, todo o homem deve ser tardio […] para se irar (v. 19). Ele deve abandonar a ira que não opera a justiça de Deus (v. 20).

Abandone todo o Mal (1.21)

Pelo que dá a entender que há uma ligação com o texto anterior. Tiago acabou de falar da ira e de sua relação com a vontade de Deus. Sua mente agora se move agora para o contexto mais amplo da vontade de Deus e o mal do homem.

Toda imundícia e acúmulo de malícia não transmite uma verdade clara para o leitor de hoje. Phillips traduz esse texto da seguinte maneira: “Livrando-se, portanto, de toda impureza e de todo tipo de mal”. A NASB traduz: “Colocando de lado toda imundícia e toda impiedade”.

Rejeitando (apothemenoi) está no tempo aoristo e sugere uma clara quebra com tudo que é contrário à vontade de Deus. Robertson compara o significado deste texto com a figura de Paulo de despojar-se do “velho homem” de pecado e revestir-se do “novo homem” de justiça (Ef 4.2; Cl 3.8).

Ele comenta: “Certamente o mal aumenta se não for checado e arrancado pela raiz”.” Acúmulo de malícia (kakia, maldade) não deve ser entendido como “mais do que necessário”. A maldade “por ínfima que seja já é excesso”.

O despojar de todo o mal é a condição para a recepção subseqüente da palavra […] enxertada (melhor, “implantada”, NVI). Moffatt apresenta a figura da semente e do solo. Ele interpreta: “Prepare um solo de modéstia humilde para com a Palavra que lança suas raízes no interior com poder para salvar a sua alma”.

Knowling observa que “‘a palavra’ descrita dessa forma é raramente distinguível do Cristo que habita em nós”. Essa é a palavra a qual pode salvar a vossa alma.

“Ela traz uma salvação presente aqui e agora (Jo 5.34); é uma nova vida de pureza. Ela ajuda na salvação progressiva do homem completo na sua batalha com o pecado e no crescimento na graça (II Tm 3.15). Ela leva à salvação final no céu com Cristo em Deus (I Pe 1.9). O evangelho é o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16)”.

A expressão “ACOLHEI com mansidão a Palavra em vós IMPLANTADA” pode ser melhor compreendida verificando o significado das expressões assinaladas em letra maiúscula, a saber:

Acolhei: δεχομαι dechomai

1) Levar consigo

1a) Segurar, pegar

2) Pegar, receber

2a) Usado para um lugar que recebe alguém

2b) Receber ou conceder acesso a, um visitante, não recusar relação ou amizade

2b1) Receber com hospitalidade

2b2) Receber na família de alguém para criá-lo ou educá-lo

2c) De coisas oferecidas pelo falar, ensinar, instruir

2c1) Receber favoravelmente, dar ouvidos a, abraçar, tornar próprio de alguém, aprovar, não rejeitar

2d) Receber i.e. tomar sobre si mesmo, sustentar, carregar, suportar

3) Receber, obter

3a) Aprender

Implantada – εμφυτος emphutos

  1. Congênito, implantado pela natureza, implantado pela instrução de outros
  2. Verbo primário, provavelmente originalmente, “soprar” ou inchar, i.e., encher; v
    1. Gerar, dar à luz, produzir
    2. Ser nascido, brotar, desenvolver
    3. Brotar, germinar

Aja de Acordo com a Palavra (1.22-25)

Tiago ecoa esse ensinamento na forma imperativa’: E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos (v. 22).

O homem que ouve a verdade, mas não a aceita, e molda sua vida de acordo com essa verdade, é semelhante a um homem que olha para sua imagem no espelho (v. 23), mas não presta atenção naquilo que vê.

O propósito do espelho é mostrar-nos o que somos para revelar-nos qualquer mancha de sujeira que precisa ser limpa ou sinais de doenças que precisam ser curadas.

No versículo 25, Tiago continua descrevendo a figura de um espelho, mas sua imagem não pode transmitir toda a verdade. Um espelho reflete somente o rosto que está diante dele, mas a Palavra de Deus nos mostra tanto o que é a nossa natureza humana quanto o que é o ideal divino para nós.

A palavra no versículo 22 é no versículo 25 chamada de a lei perfeita da liberdade. A lei de Deus para o homem não é reforçada pela compulsão externa, mas é livremente aceita como o desejo e alvo daqueles que são guiados por ela.

Somos assegurados que aquele que atenta bem […] e nisso persevera […] será bem-aventurado. À medida que continuamos a nos concentrar na “glória do Senhor” revelada em sua Palavra, Paulo declara que “somos transformados de glória em glória” (II Co 3.18).

A menção utilizada aqui relacionada ao homem que se contempla no espelho faz alusão à Bacia de Bronze do Tabernáculo. Para melhor entendimento da realidade espiritual à qual Tiago se refere deve-se compreender esta importante mobília do Tabernáculo. Para tanto é aconselhável consultar o Resumo do Tabernáculo contido na seção dos Estudos Bíblicos Estruturantes.

Seria ainda de excelente proveito analisar as verdades contidas no Mar de Fundição comparativamente à Bacia de Bronze. Ao fazermos isto veremos a seriedade deste tema à luz da Palavra, notadamente no avanço da Obra do Senhor EM NÓS, pela desconstrução da Vida egocêntrica.

Paralelamente, podemos verificar a questão da manifestação da Vida da Palavra em nós implantada, através dos princípios espirituais contidos nas regras alimentares relacionadas em Levítico 11, especialmente a questão do ruminar a Palavra, no sentido da apropriação interior das Verdades correspondentes a ela. Para tanto verificar o Resumo de Levítico – Capítulo 11 – Animais Limpos e Imundos.

“Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua APARÊNCIA.” Tiago 1:23,24

Interessante esta expressão: APARÊNCIA. Isto porque este mundo é um mundo de aparências, de exterioridades. No entanto, esta palavra aplicada ao contexto da Bacia de Bronze fala de como, pela Palavra, o homem viu-se a si mesmo, interiormente; não meramente aquilo que ele busca projetar de si mesmo a outros, nem mesmo o que outros enxergam nele, que muitas vezes não representa realmente aquilo que ele é.

Religião —Falsa e Verdadeira (1.26,27)

Nos versículos 22-25, temos observado as obrigações do cristão para realizar toda a vontade de Deus. Aqui temos uma aplicação particular. O versículo 26 volta ao tema do controle da fala introduzido no versículo 19 e discutido mais detalhadamente em 3.1-18.

A frase Se alguém entre vós cuida ser religioso (v. 26) pode dar uma impressão errada. O grego dokei significa “de acordo com a sua avaliação”. Não é ao hipócrita, mas ao auto-iludido que Tiago está escrevendo; a próxima cláusula engana o seu coração, deixa isso claro.

A palavra religioso (threskos) refere-se à religião nas suas formas e cerimônias exteriores.

Religioso: θρησκος threskos

1) que teme ou adora a Deus

2) que treme

2a) trêmulo, temível

O autor está preocupado com aqueles cuja religião consiste de rituais, mas carece de santidade. Cartas Vivas apresenta uma paráfrase impressionante: “Se alguém diz que é cristão, mas não controla a sua língua afiada, está apenas enganado-se a si mesmo e a sua religião não vale nada”.

No versículo 26, o problema está na língua descontrolada. No versículo 27, o problema está na indiferença à necessidade humana e “o contágio da lenta mácula do mundo”.

Tiago não está dando aqui uma completa definição da religião cristã. O que ele discute não é o todo, mas sim as duas partes indispensáveis da religião pura e imaculada (v. 27). A preocupação com os órfãos, as viúvas no aspecto relacional como manifestação de uma vida anti-egocêntrica, e a preocupação de cunho pessoal quanto a não se deixar contaminar pelo mundo.

Enganar o próprio coração é estar equivocado quanto a centralidade da vida. É mesmo um auto-engano. Não bastasse isto, Tiago utiliza a expressão “religião vã”, ou seja, desprovida de verdade, força, inútil, sem propósito. Aponta para a vacuidade de algo des-significado.

Portanto, não devemos ser negligentes, ou descuidados. Ao contrário, a operosidade da fé, seja no âmbito relacional, seja na conduta íntima do coração, certamente deverá ser um atestado desta nova Vida que nos habita, pelo Espírito Santo que Deus outorgou aos que Nele cressem. Glória ao Único que é Digno!! Aleluia!!!

Capítulo 02

Análise sob a Perspectiva do Contexto Histórico-Cultural

Não fazer Acepção de Pessoas – Sem favoritismo aos ricos

Na Judéia, bem como na maior parte do império, os ricos vinham oprimindo os pobres (2.6,7). Mas a tentaçao de fazer com que os ricos, fossem eles convertidos ou visitantes, se sentissem à vontade na igreja, em detrimento dos pobres, era imoral (2.4).

A ideia de imparcialidade aplicava-se, em geral, especialmente às situações jurídicas; como, no entanto, a SINAGOGA era não só casa de oração, mas também fazia as vezes de tribunal comunitário, a imagem jurídica se aplica naturalmente às reuniões na sinagoga.

A sabedoria judaica enfatizava explicitamente que aqueles que respeitam a Deus não devem fazer “discriminação” das pessoas (no original grego, “aceitar a face de (das)” pessoas).

O termo “Senhor da Glória” (o sentido é de “glorioso Senhor” (NTLH]) costumava ser aplicado a Deus (p. ex., em I Enoque; cf. SI 24.7,8).

Os moralistas e os satíricos zombavam do respeito especial com que os ricos eram tratados, respeito que muitas vezes consistia em diminuir a si mesmo para granjear ajuda financeira ou outro tipo de ajuda. Ilustrações como a do versículo podiam ser hipotéticas, o que se encaixa no estilo do argumento de Tiago.

Os senadores romanos usavam um anel de ouro; alguns deles buscavam apoio popular em troca de favores que prestavam a vários grupos da sociedade. O uso do anel não se limitava aos senadores; no leste do Mediterrâneo, o anel de ouro também era sinal de grande riqueza e status. As roupas também distinguiam os ricos dos pobres. Muitos camponeses tinham apenas uma túnica, a qual, portanto, muitas vezes estava suja.

As leis romanas eram explicitamente favoráveis aos ricos. As pessoas de baixa classe social – as quais, acreditava-se, agiam motivadas por interesses econômicos pessoais – não podiam fazer acusações contra pessoas de classe social mais elevada.

As leis prescreviam penas mais severas para as pessoas de classe baixa. A Lei bíblica, a maioria das leis judaicas e os filósofos gregos sempre rejeitaram esse tipo de distinção entre as pessoas e a consideravam imoral.

Em tempos normais, o público urbano respeitava os ricos em virtude dos atos destes como benfeitores públicos, embora muitos revolucionários vissem a aristocracia de Jerusalém como inimigos que estavam do lado de Roma.

O Antigo Testamento proibia a parcialidade baseada no nível econômico das pessoas (Lv 19.15) e conclamava os juízes do povo de Deus a julgar de maneira imparcial, como fazia o próprio Deus.

Quanto a Deus ouvir o clamor dos pobres, que também eram os mais propensos a ser judicialmente oprimidos, cf. passagens como Deuteronômio 15.9. Certa vertente da tradição judaica enfatiza o fato de que os pobres, forçados a depender tão-somente de Deus, eram particularmente devotos.

Os mestres judeus faziam distinção entre pecados mais pesados” e pecados “mais leves”, mas acreditavam que Deus exige obediência até mesmo aos “menores” mandamentos (Deuteronômio 76.1.1) e recompensa os obedientes com a Vida Eterna, mas pune os transgressores com a condenação.

A perspectiva de que a violação voluntária mesmo do menor mandamento equivalia a rejeitar a Lei inteira era uma das mais reiteradas entre os mestres judeus (p. ex., R. Meir no Talmude babilônico Bekhoror 30a). (Não era incomum que os autores antigos, embora afirmassem os princípios de forma severa e explícita, na prática demonstrassem mais misericórdia para com os transgressores da comunidade.)

Os ESTOICOS tradicionais (em contraste com Os EPICUREUS) iam ainda mais longe e declaravam que todos os pecados são iguais (p. ex., EPÍTETO, Discursos 2.21.1-7), perspectiva estoica muito conhecida inclusive entre os não estoicos (p. ex., CICERO, Dos fins 4.27.74-75; Plínio, Epistolas 8.2.3; Diógenes Laércio 7.1.120).

Alguns autores judeus concordavam: rejeitar mesmo o menor mandamento equivalia a rejeitar o maior, porque tanto em um caso como no outro a pessoa estava rejeitando a Lei de Deus (4MACABEUS – Glossário)).

O sentido aqui é que rejeitar a lei da imparcialidade econômica em Levítico 19.15, ou o princípio geral do amor por trás dela (Lv 19.18), equivalia a rejeitar toda a autoridade de Deus (Tg 2.8). Os mestres judeus usavam o verbo “tropeçar” como metáfora para o pecado. 2.11.

A tradição judaica às vezes comparava a opressão dos pobres ao assassinato (cf. também 5.6). É bem possível, no entanto, que Tiago esteja aludindo aqui aos revolucionários que, apesar de religiosamente conservadores (religiosos demais para cometer adultério), não tinham escrúpulos em derramar o sangue dos aristocratas judeus.

Na época em que a carta de Tiago foi escrita, esses “homicidas” vinham matando aristocratas a facadas no templo (veja comentário de At 21.20-22). 2.12. Era comum entre os antigos resumir o comportamento humano em palavras e atos, como nesta passagem.

Valores e Procedimentos Cristãos

Tiago 2.1-13

Nesta seção, Tiago retorna a um tratamento mais abrangente da sua preocupação, expressada em 1.9-11, no que diz respeito à atitude cristã apropriada em relação às riquezas.

Sua advertência está claramente em concordância com a própria ênfase de Jesus no sentido de não podermos ao mesmo tempo ser servos de Deus e servos do dinheiro (cf. Mt 6.24).

A advertência de Tiago também é sustentada por Paulo: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (I Tm 6.10). O problema é tão antigo quanto o homem, mas a admoestação de Tiago também é tão relevante hoje.

Uma Falsa Medida dos Homens, 2.1-4

A preocupação específica de Tiago é que uma congregação cristã não deve cortejar o favor dos ricos por causa da sua riqueza. Tiago nos adverte para não sermos parciais com pessoas da classe mais abastada quando vêm à nossa congregação, nem dar-lhes um tratamento preferencial nos nossos esforços para ganhá-los. Se o fizermos, não estamos seguindo os ensinamentos de Jesus.

O Mandamento (2.1)

O versículo 01 deveria ser lido como um mandamento para estar em concordância com a natureza imperativa da epístola.’ Mas Tiago começa sua palavra de repreensão onde toda repreensão eficaz deve começar — ele identifica-se com aqueles que repreende.

Ele escreve aos meus irmãos (v. 1) e “meus amados irmãos” (v. 5). Como um sábio líder de igreja, Tiago pede aos seus leitores que avaliem a conduta deles em relação à sua lealdade cristã suprema — a fé de nosso Senhor Jesus Cristo.

A expressão não tenhais a fé é uma referência à fé que eles cultivavam e à forma em que deveriam fazê-lo. Tiago estava escrevendo a homens e mulheres cristãos. Eles estavam bem cientes do significado da fé cristã.

Acepção de pessoas significa parcialidade; a exortação é: “Não mostrem nenhum tipo de preconceito e de parcialidade”.

A Ilustração (2.2-4)

Talvez Tiago tivesse observado este tipo de tratamento preferencial na igreja de Jerusalém ou em alguma congregação vizinha que havia visitado. O ajuntamento (v. 2; gr., synagogue) seria o lugar onde os cristãos — provavelmente um grupo misto de convertidos judeus e gentios — se reuniam para adorar.

É o mesmo termo usado para as sinagogas judaicas. Esta era uma palavra e uma forma de adoração que a Igreja Primitiva tomou emprestadas diretamente dos seus ancestrais hebreus. Deveria ser mencionado, no entanto, que esse é o único texto no Novo Testamento em que uma congregação cristã é chamada de “sinagoga”.

Presumimos que o homem com anel de ouro e o pobre eram visitantes e não membros regulares. Há divergência de opinião se esses eram visitantes cristãos ou não-cristãos. Isso, no entanto, não muda a verdade espiritual do texto. A atitude mostrada aos homens era errada em ambos os casos.

E se o homem bem vestido era o tipo de pessoa descrito nos versículos 6,7, mesmo sendo membro, sua mudança de religião não havia transformado seu interior. O ato não cristão imediatamente julgaria o valor do homem pela aparência do seu traje.

Anéis de Ouro:

O anel de ouro indicava que esse homem era do Senado ou um nobre romano. Durante os primeiros anos do império, somente homens nessa posição tinham o direito de usar esse tipo de anel.

Era comum usar anéis no mundo antigo, ou como um anel de elar, ou como uma jóia para enfeite. Algumas vezes a pessoa usava mais de um anel, e o seu status social poderia ser percebido pela qualidade de seu anel.

Vestimentas de Luxo:

A toga normal do romano era branca, como o roupão dos judeus; e esta vestimenta era usada freqüentemente por candidatos a um ofício político, porém NESTE CASO, eles usavam um branco mais brilhante que era produzido por meio de impregná-lo de um pó calcário.

A toga branca tinha de estar limpa, e quando isto era negligenciado os romanos a chamavam de sórdida, e aqueles que a usavam eram chamados de SORDIDATI.

Alguns roupões eram feitos de prata, que brilharia à luz do sol, conforme se dizia então (At 12:21). A palavra neste contexto pode referir-se às roupas elegantes e de luxo, ou pode denotar roupas novas e limpas, sem referência ao preço.

Pobre “andrajoso”: ρυπαρος rhuparos

1) estar sujo, tornar-se imundo

2) metáf. ser manchado com iniqüidade

“Estrado” dos meus pés: υποποδιον hupopodion

1) escabelo

1a) tornar algúem um escabelo sob os pés, sujeitar, submeter ao poder de alguém

1b) metáf. tirado da prática dos conquistadores de colocar seus pés sobre pescoço de seus inimigos conquistados

Atentardes (v. 3) deveria ser entendido como prestar atenção especial ao homem de aparência próspera. As cadeiras da sinagoga, ou outros assentos, eram geralmente guardados para os anciãos e escribas. Um lugar de honra nesses assentos seria oferecido a uma pessoa de posição. Pessoas de uma posição inferior ficavam em pé ou sentavam no chão. Abaixo do meu estrado pode ser entendido “aos meus pés” (RSV).

Porventura não fizeste distinção dentro de vós mesmos? (v. 4) tem duas interpretações possíveis. Alguns entendem que este texto faz distinções entre membros e, dessa forma, está dividindo a igreja.

O NT Amplificado traduz da seguinte forma: “fazendo discriminação entre vós mesmos”. Outros interpretam a frase como sendo simplesmente um pensamento paralelo à última parte do versículo. A NEB traduz esse versículo da seguinte maneira: “Vocês estão percebendo que estão sendo incoerentes e julgam de acordo com padrões falsos?”.

Juízes de maus pensamentos é melhor traduzido por: “juízes com pensamentos maus”, i.e., tendo pensamentos com motivações erradas. Esses juízes estavam usando padrões errados. Que tipo de pensamentos maus esses cristãos mal-orientados estavam tendo?

1) Que a vestimenta fina era a marca de homens finos e que roupa comum significava caráter comum.

2) Que a riqueza é um marco do valor das pessoas.

3) Que a posição financeira fazia diferença na aceitação na igreja.

4) Que “sistemas de castas” sociais e econômicas são aceitáveis para Cristo e apropriadas para sua Igreja.

“Perversos” pensamentos: πονηρος poneros

1) cheio de labores, aborrecimentos, fadigas

1a) pressionado e atormentado pelos labores

1b) que traz trabalho árduo, aborrecimentos, perigos: de um tempo cheio de perigo à fidelidade e à fé cristã; que causa dor e problema

2) mau, de natureza ou condição má

2a) num sentido físico: doença ou cegueira

2b) num sentido ético: mau, ruim, iníquo

A Verdadeira medida dos Homens, 2.5-7

Deus Escolhe os Pobres (2.5,6a)

Ouvi (v. 5) é um imperativo que significa: “Espere um minuto; preste atenção”. Esse termo é comparável ao uso de Jesus de “na verdade, na verdade” (cf. Jo 3.5). Tiago aqui reprova seus companheiros cristãos, mas é a repreensão amorosa aos meus amados irmãos. Ele é sensível aos maus tratos dados aos pobres e às ações muitas vezes insensíveis e desumanas dos ricos (cf. 5.1-6).

Mas ele não defende os pobres por causa da sua pobreza, nem ataca os ricos por causa da sua riqueza. Em vez disso, sua defesa e ataque são baseados em outros fatos. Admitidamente, ele reconhece esses fatos como geralmente verdadeiros nas respectivas classes.

O argumento de Tiago é que vós desonrastes (v. 6) aqueles que Deus escolheu (v. 5). “Não é que Deus limitou sua escolha aos pobres, mas de acordo com a história, eles foram a sua primeira escolha (veja Lc 1.52; I Co 1.26)”.

A escolha de Deus também não foi arbitrária. É simplesmente um fato que o pobre e o oprimido são mais responsivos ao evangelho do que os ricos que dependem do poder do seu dinheiro. Em todo caso, Tiago deixa claro que os pobres de quem ele fala são aqueles que são ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam.

A Pobre Escolha dos Ricos (2.6b,7)

Favorecer os ricos e desprezar os pobres simplesmente não faz sentido para os cristãos. João Calvino comentou que é estranho honrar nossos algozes e ao mesmo tempo ferir nossos amigos! Provavelmente Tiago estava se referindo a judeus ricos. Na Palestina, ele havia visto os ricos saduceus oprimirem a Igreja (At 4.1-4). Ele também podia estar familiarizado com as experiências de Paulo nas cidades gentias.

As três acusações específicas são dirigidas contra os ricos, das quais a igreja procurava obter favor. Opressão e julgamentos no tribunal são as primeiras duas acusações; blasfêmia é a terceira.

Em todas elas, Tiago apela ao conhecimento e conveniência do leitor. “Não são os ricos que oprimem vocês e pessoalmente [lit., eles próprios] os arrastam para os tribunais? Não são eles que blasfemam o bom nome que sobre vocês foi invocado?” .

A Lei está sempre Certa, 2.8-13

A Lei Real (2.8)

Nesse parágrafo (vv. 8-13) Tiago nos leva de volta, como sempre deve ocorrer quando avaliamos o caráter da nossa conduta, à regra básica para o cristão — Amarás o teu próximo como a ti mesmo (v. 8). Sempre “faremos bem” se fizermos aquilo que gostaríamos que os outros fizessem a nós se as condições fossem desfavoráveis.

Essa lei, que orienta a conduta cristã, está conforme a Escritura. Ela foi extraída do Antigo Testamento (Lv 19.18) e reafirmada nos ensinamentos de Jesus (Mt 22.39). Ela é a lei real porque é a palavra do nosso Senhor. Ela é a lei real porque se a guardarmos em ato e em verdade, não podemos quebrar nenhuma das leis de Deus que regem nossos relacionamentos com nosso próximo. Guardar essa lei é guardar toda a lei.

A Parcialidade é Pecado (2.9-11)

O autor está se aproximando da conclusão do seu argumento: se os cristãos observarem a lei do amor estarão agradando a Deus, mas quando mostrarem parcialidade estarão cometendo pecado.

Nos versículos 9-11, ele antecipa uma objeção possível. “Por que fazer um alarde tão grande quanto ao respeito às pessoas? É apenas uma ofensa isolada e certamente não deve ser levada tão a sério”. Tiago refuta essa objeção ao ressaltar que a quebra de qualquer parte da lei é quebrar toda a lei.

Qualquer pecado quebra a lei de Deus (2.10). O que Tiago quer dizer quando afirma que se o homem tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos (v. 10)? Ele certamente não quer dizer que quebrar um mandamento é tão ruim em suas conseqüências quanto quebrar todos os dez.

Ele também não quer dizer que as conseqüências de uma falha pequena são tão sérias quanto os resultados de um pecado flagrante.

Alguns dos estóicos mais extremos declaravam que o roubo de um centavo era tão sério quanto matar os pais. Mas Tiago era um cristão e não um estóico.

Jesus ensinou que um homem deve amar a Deus de todo o coração. Qualquer pecado é uma evidência de que o meu amor por Deus é algo menos do que completo. Um pecado é, portanto, tão mal quanto outro no sentido de quebrar minha comunhão com Deus.

Se este pecado não é perdoado e a comunhão não é restaurada, a pessoa acaba rompendo sua união vital com Deus. Nesse sentido, um homem é culpado de todos: guardar todos os outros mandamentos não tem valor alguma em satisfazer a Deus, se rejeito a sua vontade para a minha vida em algum ponto.

Nesse sentido um homem é “culpado de todos ao violar toda a lei, embora não viole a lei no seu todo, porque [ele] transgride o amor, que é o cumprimento da lei”. Uma pessoa não pode cometer o pecado de voluntariamente desprezar a personalidade humana e ser agradável a Deus, da mesma forma que não pode violar um outro mandamento e continuar mantendo o favor de Deus.

A parcialidade é uma questão séria (2.11). No versículo 9, Tiago disse que se mostrarmos parcialidade somos redargüidos (condenados) pela lei como transgressores. Ele agora procura mostrar a seriedade dessa transgressão.

O mesmo Deus que disse: “Não adulterarás”, ordenou “Não matarás” — e esse tipo de destruição da individualidade é assassinato (cf. Mt 5.21-22). Ficar irado contra um homem é algo devastador; quem despreza uma pessoa, aos olhos de Deus, está cometendo assassinato. Uma pessoa pode ser destruída por uma atitude errada tanto quanto por um golpe físico.

A Vida à Luz do Julgamento de Deus (2.12,13)

Não podemos agradar a Deus nessa vida se a nossa conduta viola a lei real. Quando enfrentarmos o Dia do Julgamento, a mesma lei estará em vigor. Por isso, Tiago exorta: Assim falai e assim procedei; como devendo ser julgados pela lei da liberdade (v. 12).

O cristão não está debaixo da lei de Moisés. Desde que Cristo veio, estamos debaixo da lei da liberdade (v. 12). Somos libertos dos detalhes triviais da antiga lei, mas seremos julgados pela lei de Cristo — “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. […] Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37, 39). Essa lei é mais rigorosa e, ao mesmo tempo, mais branda do que a lei mosaica.

Será um julgamento mais profundo do que o julgamento do homem, porque não será contido por preceitos particulares ou mesmo pela ação exterior, qualquer que seja o caso, mas penetrará na motivação interior.

Por outro lado, ela varrerá todo questionamento ansioso quanto ao cumprimento exato de cada preceito em particular. Se o verdadeiro espírito do amor a Deus e ao homem está em você, isso é aceito como o real cumprimento da lei”.

O lado rigoroso do julgamento do Novo Testamento é claramente mencionado: Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não teve misericórdia (v. 13). Jesus confirma essa posição em Mateus 6:15: “Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”. Mas, mesmo nesse caso, Deus continua sendo um Deus de misericórdia e a misericórdia triunfa sobre o juízo (v. 13).

À luz dessas verdades, só nos resta orar: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau” (Sl 139.23,24).

Não permita que eu peque, sendo parcial para com os ricos ou desprezando os pobres, mesmo que para isso eu use nomes mais agradáveis. Ensina-me a julgar minha conduta à luz da tua Palavra. Ajuda-me a não ser guiado pelos meus medos ou pelos preconceitos dos dias em que vivo. Guia-me pelos caminhos que devo trilhar; então poderei chegar diante de Ti sem medo. Em nome de Jesus, eu oro. Amém.

Tiago 2.14-26

Quando a fé não expressa a fé, 2.14-17

Confissão Inútil (2.14)

Como em 2.1, Tiago suaviza sua exortação ao identificar-se com seus leitores. Ele escreve aos meus irmãos (v. 14). A fé que Tiago rejeita não é reconhecida por ele como fé verdadeira. Ela é uma confissão ou declaração, mas não uma realidade. Que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? Phillips apresenta o sentido correto da segunda pergunta: “Porventura esse tipo de fé poderia salvar a alma de alguém?”.

Uma Parábola (2.15-17)

Os versículos 15-16 têm sido descritos como uma “pequena parábola” com a aplicação dada no versículo 17. João usa um argumento similar: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (I Jo 3.17, ARA).

A intolerância de Tiago com a fé sem prática aparece de forma aguda na seguinte paráfrase: “Se vocês tiverem um amigo que está necessitado de alimento e vestuário, e lhe disserem: ‘Bem, adeus, e que Deus o abençoe; aqueça-se e coma bem’, e depois não lhe derem roupas ou alimentos, que bem faz isso?”.

A expressão “ide em paz” é judaica, significando “tchau” e, era usada como um tratamento para mendigos; também pode ser ouvida hoje nas ruas de Jerusalém, e tem o mesmo efeito. Indica o final do encontro.

Clarke comenta: “Ao falar isso para eles, sem lhes dar nada, o proveito deles será igual à sua fé professada. Sem essas obras, que são os frutos genuínos da verdadeira fé, qual será o seu proveito no dia em que Deus virá sentar e julgar a sua alma?”.’

Essa fé é morta (v. 17) — interiormente morta, bem como exteriormente inoperante. Ela não é apenas infrutífera, mas não tem uma vitalidade própria capaz de produzir frutos de justiça. Essa fé é morta em si mesma, ou seja, não há obras que a acompanham.

Objeção Respondida, 2.18-19

Nesse ponto, Tiago introduz a visão de um oponente imaginário que rejeita a idéia de que a fé possa existir sem obras. Mas dirá alguém (v. 18) implica que um argumento bem conhecido está sendo apresentado. Tiago não argumenta a favor da proeminência das obras sobre a fé; ele apenas insiste em que a fé cristã não é válida se não for acompanhada de obras de justiça.

O apóstolo diz: “Eu reivindico fé bem como obras!”. Para aquele que diz que fé e obras podem existir independentemente Tiago apenas pode responder: “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (NVI).

No versículo 19, Tiago cita corretamente a crença num Deus único e verdadeiro como o princípio central da fé mantido pelo seu oponente. Isso era básico para a fé judaica conforme é mostrado por um dos seus escritores: “Aquele que prolonga a expressão da palavra Um (Dt 6.4) verá seus dias prolongados”. Mas, crer em Deus também é o fundamento da fé cristã (cf. I Co 8.6; Ef 4.6).

Algumas versões colocam a primeira parte do versículo 19 em forma de pergunta: Tu crês que há um só Deus?. Tiago responde: Fazes bem (v. 19). Até aqui, tudo bem — mas isso não é suficiente: também os demônios (daimonia) crêem e estremecem.

Apenas fé — no sentido de reconhecer Deus sem responder a Ele em ação obediente — é uma religião que mesmo os demônios professam (cf. Mt 8.29; Mc 1.24). Mas essa fé não é uma fé salvadora; eles apenas estremecem (“tremem”, NVI). “A fé que eles têm é mostrada pelo seu terror, uma emoção de interesse próprio, mas isso não os salva”?

João Wesley comenta acerca daqueles que têm uma fé tão limitada: “Isso prova somente que vocês têm a mesma fé dos demônios […] eles […] tremem com a expectativa terrível do tormento eterno. Essa fé certamente não pode justificá-los nem salvá-los”.

Provas da História Hebraica, 2.20-26

Tiago agora volta-se para as provas que deveriam ter o maior peso para os seus leitores — evidências das Escrituras, que eles aceitavam como autorizadas. Nos dois exemplos, as pessoas do Antigo Testamento foram levadas a agir de acordo com a sua fé em Deus, em vez de meros sentimentos de bondade humana natural.

Introduzindo a Evidência (2.20)

A expressão: queres tu saber? (v. 20, lit., você gostaria de saber?), introduz esse novo rumo na argumentação. A pergunta parece inferir uma relutância que beira a perversidade no homem questionado. O sentido correto seria: “Você realmente quer uma prova irrefutável?”.

Ó homem vão significa “insensato” (NVI) ou “de cabeça vazia”. Trench diz que esse tipo de homem “é alguém em quem a sabedoria superior não encontrou espaço, mas que está inchado com uma vaidade vã do seu próprio discernimento”. Tiago repete aqui sua premissa básica de que a fé sem as obras é morta (“inútil”, NVI; lit., sem obras, inativa). Essa fé sem vida não produz nada de importante.

O Argumento de Abraão (2.21-24)

O versículo 21 fala de Abraão como sendo justificado pelas obras. Isso parece estar em contradição direta com Paulo, que escreveu: “Creu Abraão [tinha fé] em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3; cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo recorrem à verdade em Gênesis 15.6 para suportar seus argumentos. A reconciliação pode ser encontrada nos eventos específicos na vida de Abraão à qual Paulo e Tiago se referem; também no sentido em que usaram o termo justificado (v. 21).

Paulo refere-se à fé do patriarca Abraão no tempo em que Deus prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6). A sua fé era uma fé que aceitava a promessa de Deus sem ter provas concretas. Tiago, por outro lado, referiu-se à fé do patriarca quando ofereceu sobre o altar o seu filho (Gn 22.1-19).

“Tiago não está falando da imputação original de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova infalível […] de que a fé que resultou nessa imputação era uma fé real. Ela se expressava em uma obediência tão completa a Deus que 30 anos mais tarde Abraão estava pronto, em submissão à vontade divina, para oferecer o seu filho Isaque. O termo justificado nesse versículo significa na verdade ‘revelado para ser justificado'”.

A interação inseparável entre a fé cristã e a ação é deixada clara em uma tradução mais recente do versículo 22: “Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (NVI). Se aceitarmos a evidência de Tiago, devemos aceitar sua conclusão: “Vocês vêem, portanto, que um homem é salvo pelo que ele faz, tanto como pelo que ele crê”.

A expressão Abraão, o nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada para apoiar o argumento de que os receptores dessa epístola eram judeus ou pelo menos de origem judaica. Mas o conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” — gentios e judeus — era um conceito cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G13.7-9).

Em apoio à realidade da justiça de Abraão, Tiago ressalta que ele foi chamado o amigo de Deus (v. 23). Em II Crônicas 20.7, Abraão é chamado de “amigo [de Deus], para sempre”; e em Isaías 41.8, Deus chama Israel de “semente de Abraão, meu amigo”.

Essa expressão “amigo de Deus” parece significar “que Deus não escondeu de Abraão o que propôs fazer (veja Gn 17.17) e seu Resumo correspondente). Abraão foi privilegiado em ver alguma coisa do grande plano que Deus estava realizando na história. Ele exultou em ver o dia do Messias (veja Jo 8.56)”.

A evidência de Raabe (2.25)

Tiago escolheu Raabe, a meretriz (v. 25) para seguir o exemplo de Abraão, o fiel, em sua exposição de provas do Antigo Testamento, de que a fé não funciona sem obras. Nesse caso, recebe o apoio do autor aos Hebreus (cf. Hb 11.17-19, 31). Tiago parece enfatizar que o princípio que ele tem defendido é universal e que não há espaço para exceções. Ele cita Raabe, que era “gentia, mulher e prostituta”.

Em Hebreus, o autor ressalta que a ação de Raabe era “por fé”. Tiago não nega isso, mas insiste que ela foi justificada pelas obras, no sentido de que suas ações eram uma prova da sua fé. “Ela cria em Deus e evidenciou a sua fé pelo transtorno que enfrentou ao receber os espiões e auxiliá-los a escapar, arriscando a sua própria vida. Certamente, essa não era uma fé comum!”.

O Resumo Conclusivo (2.26)

Semelhantemente a um advogado diante do júri ou um debatedor diante de um auditório, Tiago apresenta um resumo do argumento que desenvolveu nos versículos 14 a 25. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé está morta sem obediência” (v. 26, Weymouth).

A palavra “espírito”, sopro, fôlego refere-se ao princípio vital pelo qual o corpo é animado. Logo, a expressão significa que uma fé morta é como um cadáver, e consequentemente, não pode salvar (Mussner).

Quando corpo e espírito estão separados, ocorre decadência e morte. Similarmente, quando a fé e suas “obras de obediência” estão separados, a fé morre. Moffatt observa a relação próxima entre a verdade aqui declarada e o princípio que Tiago estabelece em 4.17: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”.

Análise sob a Perspectiva dos Aspectos Históricos-Culturais

O fato de que Deus é uno era a confissão básica do judaísmo, recitada diariamente no Shemá (Dt 6.4 e passagens relacionadas). Assim, com a palavra “fé” Tiago está se referindo ao monoteísmo. Era nesse sentido que grande parte do judaísmo usa- va o termo (emunah).

Tiago, portanto, está dizendo: “Vocês reconhecem a doutrina correta básica – e daí? Isso em si mesmo não significa nada”. O fato de que os DEMÔNIOS reconhecem o nome de Deus e tremem diante dele era amplamente admitido, inclusive pelos PAPIROS mágicos (que se especializavam no que, do ponto de vista bíblico, seria uma demonologia ilícita; cf. também I Enoque).

O mestres judeus concordariam com Tiago que o fato de Deus ser uno precisa ser declarado com coração genuíno. Esse fato afinal, conota que Deus é o objeto supremo afeição humana (Dt 6.4,5).

Tiago associa Gênesis 15.6 à oferta de Isaque (Gn 22), como na tradição judaica. A oferta de Isaque foi o ponto culminante da fé de Abraão em Deus, não só de acordo com a tradição judaica, mas segundo a própria NARRATIVA de Gênesis. (Deus fez uma aliança com os descendentes de Abraão porque o amou e lhe fez uma promessa – Dt 7.7-9 -, promessa que Abraão aceitou pela fé e, portanto, obedeceu.

Deus aceitou essa fé obediente – Gn 26.4,5. Essa perspectiva não era exatamente igual à de que Deus partiu o mar Vermelho graças aos méritos dos patriarcas; ela tampouco equivale, no entanto, à ideia moderna de que a “fé” é uma oração feita “de uma vez por todas”, que não envolve compromisso de vida e que é eficaz mesmo que seja rapidamente esquecida.

Abraão foi “justificado” na Aqedah, a oferta de Isaque, no sentido de que Deus mais uma vez reconheceu (Gn 22.12) a fé anterior do patriarca, fé que agora havia sido submetida ao teste supremo.

O Antigo Testamento afirma que Abraão era “amigo de Deus” (II Cr 20.7; Is 41.8), expressão pela qual autores judeus posteriores tinham grande apreço. A fé inicial de Abraão, demonstrada em Gênesis 12 e 15, era incompleta (cf. Gn 16), mas foi amadurecendo ao longo dos anos como parte de um relacionamento vivo com Deus. 2.25.

Assim como o exemplo de Abraão, o exemplo de Raabe não seria polêmico para os leitores judeus de Tiago. Como Abraão, Raabe era conhecida pela sua hospitalidade. Mas, ao salvar os espiões, ela também salvou a si mesma (Js 2.1-21; 6.22-25).

A maioria dos antigos, incluindo os judeus, aceitava a cooperação necessária entre o corpo e o espírito ou alma. Todos os que acreditavam no espírito ou alma concordavam que, quando o espírito parte, a pessoa morre.

Capítulo 03

Mestres (didaskalos); Grego. Um instrutor (na forma genitiva ou especial), doutor, mestre. Substantivo de didaskö, ensinar. Instrutor, mestre (Rm 2.20; Hb 5.12). Referindo-se, dessa forma, aos doutores e mestres da lei dentre os judeus (Mt 9.11; 10.24,25; Lc 2.46; 6.40; Jo 3.10); por isso, equivalente ao título de Rabi (Jo 1.38; 20.16). Referindo-se a João Batista (Lc 3.12); a Jesus (Mt 8.19; 12.38; 17.24; Mc 5.35; 14.14; Jo 11.28); ao apóstolo Paulo (I Tm 2.7); e a outros mestres cristãos (I Co 12.28-29). Derivações: heterodidaskaleõ, ensinar outra doutrina; kalodidaskalos, um bom mestre ou pessoa que ensina coisas boas; nomodidaskalos, um expositor ou mestre da lei dos judeus; pseudodidaskalos, um falso mestre.

Contexto Histórico-Cultural

3.1. Os mestres judeus também advertiam contra ensinar erros e reconheciam que os mestres receberiam juízo severo por desviar os outros. Certos indivíduos que desejavam ser mestres de sabedoria estavam ensinando o tipo de sabedoria adotada pelos revolucionários judeus – o tipo de “sabedoria” que levava à violência (3.13-18).

3.2. O fato de que todo mundo peca era doutrina judaica comum. Também era lugar comum no judaísmo o fato de que a língua humana é um dos instrumentos mais notórios de pecado e malefícios ideia que remonta a Provérbios, p. ex., Pv 11.9; 12.18; 18.21).

3.3,4. Controlar o cavalo com freio e o navio com leme eram imagens recorrentes no antigo Mediterrâneo, que seriam entendidas por todos, exceto pelos camponeses mais analfabetos (os quais também não entenderiam muitas das outras alusões se ouvissem uma leitura de Tiago).

Os textos judaicos frequentemente apresentavam a sabedoria, a razão e Deus no papel de capitães ideais, mas o sentido do que Tiago está dizendo aqui não é o que precisa nos controlar ou ter poder sobre nós; ele simplesmente está destacando o poder que um pequeno instrumento pode ter (v. 5).

3.5,6. Outros autores também comparavam a disseminação de boatos à ignição de um fogo que acabava incendiando uma floresta. A imagem aqui é a da língua que incita o corpo todo à violência. A língua arrogante que planeja o mal (Sl 52.1-4) e a língua como fogo pernicioso (SI 39.1-3; 120.2-4; Pv 16.27; 26.21) são imagens antigas.

O fato de que o fogo é deflagrado pelo “inferno” sugere para onde essa língua leva, ao mesmo tempo em que dá a dimensão de por quem ela pode estar sendo inflamada (Vide exemplo de Pedro em Mt 16:23). Os retratos judaicos da GEENA, assim como as imagens de Jesus para o destino dos perdidos, costumavam incluir chamas.

3.7,8. As pessoas, feitas à imagem de Deus (v. 9), haviam sido incumbidas de dominar todas as criaturas (Gn 1.26). Mas embora as criaturas pudessem ser dominadas, como Deus ordenou (Gn 1.28; 9.2), a língua era semelhante à cobra mais mortífera, repleta de veneno tóxico (SI 140.3; cf. 58.1-6; 10Ha 13.29 nos MANUSCRITOS DO MAR MORTO e outros textos judaicos). Os filósofos também ponderam, aqui e ali, a respeito do domínio da humanidade sobre os animais

3.9,10. Alguns outros autores judeus também afirmavam que é incoerente bendizer a Deus, mas amaldiçoar os outros, já que as pessoas foram feitas à imagem de Deus. Ainda afirmavam, com mais frequência, que um ato feito a outro ser humano era como se tivesse sido feito ao próprio Deus, porque humanos foram feitos à imagem dele.

Seria difícil que os leitores de Tiago não entendessem o que ele está dizendo. Os versículos aqui deixam claro a que tipo de fala perversa o autor se refere em 3.1-12: a fala hostil, o que se coaduna com a situação geral que a carta aborda.

Maldizer os inimigos mortais, seja com RETÓRICA inflamada, seja de outras maneiras, era atitude incompatível com a adoração a Deus, por mais que a prática houvesse se tornado parte da tradição patriótica judaica (desde a era dos macabeus).

3.11,12. Tiago oferece mais dois exemplos de incoerência impossível. Figos, azeitonas e uvas eram os três produtos agrícolas mais comuns nas colinas da Judeia. Junto com o trigo e a cevada, constituíam as culturas mais comuns da região mediterrânea. Que todos os seres geram seres da mesma espécie era fato da observação comum e havia se tornado proverbial nos círculos greco-romanos (cf. também Gn 1.11,12,21,24,25).

Observe aqui que, diferentemente de Mt 7:15-20, as árvores aqui mencionadas são representativas do povo de Deus. Já em Mateus há uma nítida menção de uma completa inadequação entre o que a árvore é, e do que aquilo que dela se espera como fruto.

3.13-18 A sabedoria pacífica em comparação com a sabedoria demoníaca O paradigma da retaliação violenta, à qual conclamavam os ZELOTES e outros revolucionários judeus, apresentava-se como posição religiosa e sábia.

Tiago insta os pobres a que, em vez disso, esperem em Deus (5.7. 11). O fato de que Tiago foi mais sábio do que os defensores da revolucão foi provado no resultado da revolta dos judeus, de 66 a 70 d.C. A Judeia foi devastada, Jerusalém foi destruída e os sobreviventes da cidade foram escravizados.

3.13. Os que desejavam ensinar outros no papel de mestres sábios (3.1) precisavam demonstrar a própria sabedoria com mansidão: essa é a antítese dos defensores da revolução, cujas idéias vinham crescendo em popularidade pela pobreza e pela opressão local.

3.14. O termo traduzido por “inveja” é o mesmo termo para “zelo”, adotado pelos zelotes. Estes, viam-se como sucessores de Fineias (Nm 25:11, Sl 106:30-31) e dos MACABEUS e buscavam libertar a Palestina judaica do jugo romano pela força bélica.

O “sentimento faccioso” (ARC; “sentimento ambicioso”) também estava ligado à desarmonia e era causa notória de guerras.

3.15,16. “Do alto” era às vezes sinônimo “Deus” na tradição judaica. Ao contrário da sabedoria celestial, a sabedoria da violência (3.14) era completamente terrena, humana e demoníaca (cf., em sentido semelhante Mt 16,22,23).

Os MANUSCRITOS DO MAR MORTO afirmavam que os pecados são inspirados espírito do erro (1QS 3.25,26; 4.9) ou espíritos de Belial (CD 12.2). No judaísmo popular, acreditava-se que as pessoas eram continuamente cercadas por hordas de DEMÔNIOS. As palavras de Tiago sugerem uma ação mais indireta dos demônios, que consistiria em incitar valores contrários a Deus no sistema mundano.

3.17. A sabedoria “que vem do alto”, i.e., de Deus (1.17; 3.15), é pura; não está mis- turada com nenhuma outra coisa (no caso, com a sabedoria demoníaca, ou humana – 3.14-16). Ela é, assim, “sem hipocrisia”.

Muitos textos de sabedoria judaicos referiam-se à sabedoria divina como vinda “do alto”. A sabedoria genuína de Deus é não violenta, em vez de inclinada aos ataques: “pacífica”, “moderada”, “tratável”, “cheia de misericórdia” (cf. 2.13); além disso, ela “não vacila”, ou, em melhor tradução, é “imparcial” ou “sem parcialidade”.

Na Judeia, essa sabedoria não é a dos que são como os ZELOTES; tampouco é a dos que apoiam a aristocracia.

3.18. A imagem das virtudes como sementes e frutos é bastante comum (p. ex., 18; Is 32.17), mas o sentido do que Tiago está dizendo, no contexto, é o seguinte: a verdadeira sabedoria é a sabedoria da paz, não a da violência. Embora muitos mestres fariseus louvassem a paz, muitos populistas vinham defendendo a violência. A mensagem de Tiago era, portanto, contracultural em muitos aspectos.

O Falar do Cristão

Essa seção é completa em si mesma e trata do problema prático do cristão e seu uso da língua. Embora esses versículos sejam completos, eles também estão relacionados ao restante da epistola.

A abordagem ampla de Tiago acerca do comportamento cristão inclui o tema relacionado à fala. O autor volta a abordar de maneira mais detalhada uma das idéias apresentadas em 1.19: “Todo o homem seja E…] tardio para falar”. A transição do tema de 2.14-26 ocorre de maneira natural; Tiago está preocupado com as palavras bem como com as obras do cristão.

A. A Responsabilidade dos Mestres – 3.1,2

O sentido do versículo 1 está claramente expresso por Moffatt: “Meus irmãos, não insistam em tornar-se mestres; lembrem-se: nós mestres seremos julgados com mais rigor”. Aparentemente a ânsia entre os primeiros cristãos de assumir o papel de mestres (professores) motivou Tiago a escrever essa seção da sua carta.

Para uma melhor compreensão dessa passagem, Lenski argumenta que “deveríamos lembrar que nas primeiras igrejas qualquer membro podia falar nas reuniões. O texto de I Coríntios 14.26-34 é instrutivo: qualquer irmão pode contribuir com alguma palavra.

No entanto, Paulo coloca restrições: essa contribuição deve ocorrer apenas com o propósito da edificação; ela deve ocorrer com a devida ordem; somente dois ou três devem falar e as mulheres devem manter o silêncio. Tiago apresenta as mesmas idéias”.

Mais uma vez, Tiago identifica-se com os seus leitores: Meus irmãos. Essas admoestações não têm a intenção de proibir qualquer cristão de fazer o que for possível para orientar outras pessoas na vida e conduta cristã. Elas visam lembrar-nos das nossas responsabilidades em vez de impedir-nos das nossas obrigações.

A advertência é dirigida às pessoas teimosas e àqueles que estão procurando fama (cf. Mt 23.8-10). Tiago está dizendo: Não sejam ansiosos por dirigir a vida dos outros, porque essa tarefa requer uma grande responsabilidade. Presume-se que o mestre tenha um conhecimento maior; essa luz adicional requer vida mais intensa. Se falharmos, receberemos mais duro juízo porque temos menos desculpas para errar.

O apóstolo nos lembra que todos tropeçamos em muitas coisas (v. 2). Uma tradução mais correta seria: “Todos nós cometemos erros”. Todos nós podemos tropeçar (cf. I Co 10.12); todos nós temos grandes chances de cometer equívocos e somos propensos a errar; por isso, corremos sérios riscos ao assumir voluntariamente o papel de guia. Wesley comenta: “Não coloque mais sobre as suas costas do que Deus confiou a vocês, visto que é tão difícil não ofender ao falar muito”.

B. O Correto uso da Língua, 3.2-5

Tiago começou sua discussão do falar cristão em conexão com as responsabilidades dos mestres. Aqui, com a frase “se alguém”, ele estende a aplicação para todos os cristãos.

Um Princípio Orientador (3.2b)

Tiago usa o artifício da repetição de palavras para aumentar a ênfase. “Tropeçamos” em 2a é seguido de tropeça em 2b. Ele diz que se alguém não tropeça em palavra se não cometemos erro no falar — podemos ser considerados homens perfeitos.

Aquele que controla suas palavras pode refrear (guiar ou controlar) toda a sua conduta. Isso provavelmente não é um termo literal porque um homem poderia manter sua fala sob controle e mesmo assim pecar de outra forma.

Tiago está usando um tipo de provérbio uma generalização para enfatizar o lugar-chave da fala na vida cristã. Ela é comparável à afirmação de Jesus: “Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.37).

O que Tiago quer dizer com varão […] perfeito? O adjetivo perfeito (teleios) normalmente refere-se ao propósito ou função do substantivo modificado. Nesse contexto, poderia significar: “aqueles que alcançam plenamente o seu elevado chamado”.

O cristão que é cristão no seu falar está agradando plenamente a Deus. Ele é varão […] perfeito, no sentido que Jesus ordenou aos seus discípulos a usar um falar franco e direto (Mt 5.37) e então acrescentou: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48).

À luz dessa verdade um cristão apenas pode se unir à oração do Salmista: “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, rocha minha e libertador meu!” (SI 19.14).

Algumas Ilustrações (3.3-5a)

A palavra “refrear” (v. 2) levou Tiago a usar a ilustração do freio nas bocas dos cavalos (v. 3). A língua é um pequeno membro (v. 5), mas ele nos lembra que o tamanho do instrumento não é a verdadeira medida da significância das nossas palavras. Três figuras marcantes são usadas para chamar a atenção do leitor para essa verdade. As primeiras duas ilustram os valores positivos do falar controlado.

  1. O freio nas bocas dos cavalos (v. 3) é uma coisa pequena, mas ao usar o freio, literalmente ao controlar a língua do cavalo, guiamos o animal e atingimos os nossos propósitos.
  2. O leme (v. 4) é bem pequeno em comparação com o navio, mas ao controlar o leme, o piloto guia o navio de maneira segura.

Nas duas ilustrações, o autor mostra que algumas coisas muito pequenas podem produzir resultados bastante significativos. O mesmo ocorre com a nossa fala: “É isto que acontece com a língua: mesmo pequena, ela se gaba de grandes coisas!” (NTLH).

Embora os efeitos do falar estejam, com freqüência, fora de proporção em relação ao tamanho da língua, esses efeitos podem ser salutares e construtivos. A chave é o controle, e esse controle é nosso dever cristão.

As Tragédias ocasionadas pela Língua, 3.5,6

A terceira figura de Tiago que contrasta a magnitude da causa e a extensão dos efeitos também introduz a idéia dos resultados trágicos do falar incontrolado: Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo (vv. 5-6).

Tiago agora descreve a língua perversa. Easton traduz: “Neste mundo de injustiça, a língua é colocada entre os nossos membros”. Esse fogo destrói com o seu calor e contamina todo o corpo (v. 6) com sua fumaça.

O incêndio inflamado por uma língua descontrolada é causado pelo Diabo; é inflamada pelo inferno. O curso da natureza é interpretado da seguinte forma: “O curso normal dos afazeres humanos é inflamado tornando-se destrutivo para a humanidade — por línguas perversas”.

Devemos nos lembrar que o profeta Daniel ao descrever o anticristo menciona que ele é um mstre em fazer “intrigas” (Dn 11:21).

“Você e eu não existimos meramente como entidades separadas. Cada um de nós não é como uma casa separada da outra […] Tiago nos vê como casas que estão reunidas em uma grande cidade.

Um fogo que acende uma casa, logo se espalhará e se tornará um grande incêndio destrutivo”! O sentido do versículo todo é bastante claro na Bíblia Viva: “E a língua é uma chama de fogo. Está cheia de maldade e envenena todos os membros do corpo.’ E é o próprio inferno que ateia fogo à língua, que pode transformar toda a nossa vida numa chama ardente de destruição e desastre”.

A Língua Indomável, 3.7,8

A figura do fogo enfurecido e fora de controle sugere uma nova comparação. A palavra porque (v. 7) indica uma explanação adicional dos resultados trágicos da fala descontrolada. Feras selvagens de todo tipo têm sido domadas e submetidas a servir o homem, mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear (v. 8).

A referência à domesticação de animais selvagens parece uma alusão “ao domínio dado originalmente ao homem sobre as criaturas inferiores, que não foi perdido, como infelizmente aconteceu com o controle da língua”.

No versículo 7, o autor novamente mostra o seu prazer pela repetição e aliteração: toda natureza (physis) de bestas-feras foi domada pela natureza humana. A língua teimosa está cheia de peçonha mortal (cf. Sl 58.4; 140.1-3).

Alguns intérpretes entendem que esse texto quer dizer que uma pessoa não pode controlar a língua de outra. No entanto, todo contexto parece mostrar claramente que Tiago está falando de autocontrole. Nenhum homem pode domar sua própria língua porque sua motivação para o mal vem de impulsos poderosos não por escolha própria — a língua é incendiada pelo inferno.

Purifique o Coração para então Domar a Língua

Nos versículos 3-8, Tiago escreveu a respeito da língua e a natureza humana do homem caído. No versículo 9, uma nova dimensão é introduzida enquanto o apóstolo discute o falar dos crentes — Meus irmãos (v. 10). “A língua é a expressão dos pensamentos do homem e a revelação se ele está dominado pela vontade própria ou pela obediência à vontade de Deus? A língua dobre é tão incongruente no cristão quanto uma fonte de onde manam água doce e água amarga (v. 11) ou como uma figueira (v. 12) que produz azeitonas.

Uma contradição moral (3.9,10) .

Lenski escreve o seguinte acerca da expressão Com ela bendizemos a Deus (v. 9): “Os leitores, sem dúvida, continuavam seguindo o costume judaico de acrescentar ‘Bendito seja Ele!’ sempre que mencionavam o nome de Deus”.

Essa era uma expressão apropriada de reverência para cada cristão primitivo. No entanto, o que estava acontecendo entre eles? Esquecendo o segundo grande mandamento do nosso Senhor (Mt 22.36-39), e provocados pela ira, eles estavam amaldiçoando os seus irmãos, que foram feitos à semelhança de Deus, i.e., feitos à imagem de Deus (cf. Gn 1.26,27).

O Novo Testamento ensina que mesmo uma maldição murmurada ou qualquer disposição irada contra o próximo é uma contradição da nossa fé cristã (cf. Mt 5.22). Não convém que isto se faça assim (v. 10) entre os cristãos, porque essas atitudes e atos são contrários a Deus.

Uma Condição Anti-Natural (3.11,12)

Essa contradição na conduta cristã é tão anti-natural quanto imoral. A palavra Porventura (v. 11, meti) espera um claro “não” como resposta. O sentido é: “Você certamente não espera isso, espera?”. Ninguém que visita fontes salgadas, como as que podem ser encontradas próximo ao Mar Morto, esperaria encontrar água salgada e água doce vindo da mesma fonte. E se isso ocorresse, a água salgada estragaria a doce; a má estragaria a boa.

O pomar e a vinha ensinam a mesma verdade. “Conhece-se o fruto pela árvore”. Jesus lembrou aos seus ouvintes que não se colhem “uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos” (Mt 7.16). Tiago faz eco a essa verdade quando pergunta: pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? (v. 12).

Um Remédio Divino

Quando Tiago declara: “Meus irmãos, não convém que isto se faça assim” (v. 10), ele sabe que há uma solução para essa condição não natural e confusão moral. Essa solução é encontrada na “sabedoria que vem do alto” (v. 17); ela é encontrada na libertação da inconstância que ocorre quando o homem pede “com fé, não duvidando” (1.58).

Tiago está falando a verdade quando diz que nenhum homem pode domar sua própria língua — mas Deus pode domá-la! Jesus perguntou: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mt 12.34-35).

Em outro texto, o conselho do nosso Senhor é claro: “Limpa primeiro o interior […] para que também o exterior fique limpo” (Mt 23.26). Quando a vida interior está limpa e controlada pelo Espírito Santo, o falar do cristão pode ser disciplinado de tal maneira que agrade a Deus. A língua, apesar de teimosa e rebelde, está enjaulada na boca e Deus pode dar graça para fechar a jaula quando precisar ser fechada!

A Sabedoria Lá do Alto

Vs 13. “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.

Vs 14. “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.”

Vs 15. “Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca.”

Vs 16. “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins.”

Vs 17. “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.”  Tiago mostra aos seus ouvintes e leitores que:

A sabedoria que vem do alto está atrelada ao bom trato, a mansidão e é visível em sua aplicação (v.13); as boas obras são indispensáveis na vida cristã principalmente na vida dos que ensinam, isto é, nosso testemunho. Ele deixa claro que:

Há uma distinção entre Conhecimento e Sabedoria;

  1. Conhecimento é o ato ou efeito de abstrair a ideia ou noção de alguma coisa;
  2. Sabedoria por sua vez, consiste em saber o que fazer com qualquer conhecimento, como utilizá-lo de forma prudente, moderada e útil.

Para Tiago o sábio é aquele que tem fé, é submisso a Deus e ensinado por Ele. É possível alguém conhecer muita coisa e ter pouca sabedoria. É necessário que um mestre possua as duas coisas.

Há, entretanto, uma sabedoria falsa ou espúria, simulada, que produz inveja e rivalidades. Tiago deixa claro que tal espécie de sabedoria não é dom divino, mas é mundana. Paulo a chama de loucura. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? I Corintios 1:20.

Limitar-se a tal sabedoria sem relação com Deus é demoníaco (v.15). A questão é: Como podemos discernir a sabedoria em termos práticos? Quais os sinais que Tiago apresenta com relação a isto? O que precisamos fazer e buscar para nos tornarmos mais sábios de acordo com a vontade de Deus? Respondendo a estas perguntas Tiago mostra-nos que quem possui sabedoria do alto:

I-Consegue distinguir entre a Sabedoria de Deus e a sabedoria do Mundo (vs.13-15)

 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. 

Tiago fala de dois tipos de sabedoria assim como o Salmo primeiro ensina que existem dois caminhos para o ser humano; o caminho do ímpio e do justo. No caso da sabedoria existem; a sabedoria que vem do alto, que é celeste, que é de Deus em contraste a uma sabedoria que brota do ego, que é terrena e que não se relaciona com Deus.

A questão levantada inicialmente é: Como podemos discernir a sabedoria em termos práticos? Tiago concede-nos alguns indícios de ambas: A falsa sabedoria:

1) Não tem Deus como base; Ele diz que ela é: Terrena: originada na própria pessoa, oriunda do ego humano. Animal: Algo não espiritual, ou seja, carnal. Diabólica: Por causa dos resultados claros, ele afirma que a origem dela é o próprio diabo.

2) A sabedoria mundana vive quase que sempre em disputa com o próximo; Não existe nela mansidão, somente autossuficiência e auto proclamação, por isto a pergunta é levantada: Quem dentre vós é sábio e entendido? 

3) A sabedoria deste mundo produz sentimentos de amarga inveja; isto é; um forte desejo de promover a própria opinião, ignorando a opinião alheia.

4) A sabedoria deste mundo é quase que sempre facciosa; Ela é tão mundana, tão animal e diabólica que cega os que tais a praticam! Ela é partidária, preconceituosa, ela divide e busca somente seus interesses.

5) A sabedoria terrena é maliciosa, maledicente e destruidora;

Por isto é importante discernimos a sabedoria mundana da celeste! E buscarmos em Deus sabedoria para não ficarmos cegos no nosso próprio entendimento. Salomão o homem mais sábio que já existiu disse: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento” Provérbios 3:5. Quais os sinais que Tiago apresenta com relação a sabedoria do alto?

II- A Sabedoria que vem do Alto semeia a Boa Semente que produz Justiça, Retidão e Paz.

Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz. 

Assim sendo: A sabedoria verdadeira pode conhecer-se pela mansidão do espírito e do temperamento. Tiago apresenta os elementos básicos dela:

a)Ela é pura; Cheia de sinceridade e comprometida com os princípios estabelecidos por Deus.

b)É Pacífica; Comprometida com a paz em todos os sentidos.

c)É Moderada; Trata-se de um espírito conciliador, inimigo de contendas, equilibrado.

d)É Tratável; Indica um espírito aberto ao aprendizado, maleável, aceitando até ser corrigido e exortado.

e)É Cheia de Misericórdia e de bons frutos; Permeada de humildade, simplicidade e frutos diversos.

f)É Sem parcialidade e sem hipocrisia; Intenções interiores sinceras e busca constante da coerência.

O que precisamos buscar para nos tornarmos mais sábios de acordo com a vontade de Deus? A SABEDORIA DO ALTO:

III- É fruto de um Relacionamento Profundo e Sincero com Deus

É Deus quem capacita seus filhos com sabedoria a fim de que eles vivam em sabedoria. Tiago no primeiro capitulo diz: Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois, aquele que dúvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. (Tiago 1:5-6) 

Ela é fruto da fé que temos em Deus; Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.  Hebreus 11:6. Todos nós precisamos de conhecimento, entretanto;

  1. Todo nosso conhecimento precisa ser “permeado” pela “sabedoria que vem do alto”.
  2. A atitude de acumular conhecimento e não colocar em prática é prova de estultícia.
  3. Um coração que adquiriu a sabedoria mostrará (revelará) às pessoas essa sabedoria, com uma atitude de mansidão, ou seja, de humildade.”

Neste ponto é bastante interessante notar o livro de Provérbios nas Escrituras que tratam deste tema de forma bastante ampla: sabedoria e inteligência. A simples leitura de alguns versos correspondentes já nos dão muita luz sobre esta questão e a importância da Palavra de Deus neste contexto.

Relação da Sabedoria com o Temor do Senhor:

“Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel. Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso. Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios. O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe. Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço.” Provérbios 1:1-9

O Senhor é Quem dá a Sabedoria, a Inteligência e o Entendimento:

“Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos. Então, entenderás justiça, juízo e equidade, todas as boas veredas. Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será agradável à tua alma. O bom siso te guardará, e a inteligência te conservará;” Provérbios 2:1-11

Confiar no Senhor de todo o Coração e não “estribar” no próprio Entendimento:

“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal; será isto saúde para o teu corpo e refrigério, para os teus ossos.”
Provérbios 3:5-8

Desejar a Sabedoria e o Entendimento é melhor do que qualquer coisa:

“Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento;
porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que pérolas, e tudo o que podes desejar não é comparável a ela.”
Provérbios 3:13-15

A Verdadeira Sabedoria vem Dele e é Segurança e Paz para quem a guarda:

“O Senhor com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus.
Pelo seu conhecimento os abismos se rompem, e as nuvens destilam orvalho.
Filho meu, não se apartem estas coisas dos teus olhos; guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso; porque serão vida para a tua alma e adorno ao teu pescoço. Então, andarás seguro no teu caminho, e não tropeçará o teu pé.
Quando te deitares, não temerás; deitar-te-ás, e o teu sono será suave. Não temas o pavor repentino, nem a arremetida dos perversos, quando vier.
Porque o Senhor será a tua segurança e guardará os teus pés de serem presos.”
Provérbios 3:19-26

O Princípio da Sabedoria é adquirir Sabedoria, estimá-la, guardá-la, desejá-la:

“…então, ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive; adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes. Não desampares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá. O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento. Estima-a, e ela te exaltará; se a abraçares, ela te honrará; dará à tua cabeça um diadema de graça e uma coroa de glória te entregará. Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras, e se te multiplicarão os anos de vida. No caminho da sabedoria, te ensinei e pelas veredas da retidão te fiz andar. Em andando por elas, não se embaraçarão os teus passos; se correres, não tropeçarás. Retém a instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida.” Provérbios 4:4-13

A Sabedoria pressupõe fugir da Mulher Adúltera: Sentido literal e espiritual (Idolatria)

“Filho meu, atende a minha sabedoria; à minha inteligência inclina os ouvidos
para que conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento;
porque os lábios da mulher adúltera destilam favos de mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite; mas o fim dela é amargoso como o absinto, agudo, como a espada de dois gumes. Os seus pés descem à morte; os seus passos conduzem-na ao inferno. Ela não pondera a vereda da vida; anda errante nos seus caminhos e não o sabe.”
Provérbios 5:1-6

Guardar os Mandamentos e conservá-los no Coração nos guardam da Mulher Adúltera (Literal e Espiritual)

“Filho meu, guarda as minhas palavras e conserva dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos dedos, escreve-os na tábua do teu coração.
Dize à Sabedoria: Tu és minha irmã; e ao Entendimento chama teu parente;
para te guardarem da mulher alheia, da estranha que lisonjeia com palavras.”
Provérbios 7:1-5

A Excelência da Sabedoria

“Não clama, porventura, a Sabedoria, e o Entendimento não faz ouvir a sua voz? No cimo das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das veredas ela se coloca; junto às portas, à entrada da cidade, à entrada das portas está gritando:”

Observe que ambas, Sabedoria e Entendimento, estão com letra maiúscula. Já se inicia um processo de correlacioná-las com o Senhor (embora os textos anteriores já o indicassem evidentemente); processo este que, mais à frente, se intensifica com a Personificação da Sabedoria e do Entendimento.


“A vós outros, ó homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens.
Entendei, ó simples, a prudência; e vós, néscios, entendei a sabedoria. Ouvi, pois falarei coisas excelentes; os meus lábios proferirão coisas retas. Porque a minha boca proclamará a verdade; os meus lábios abominam a impiedade.”

Esta porção é bastante interessante porque ela correlaciona opostos que nos devem fazer meditar em seus significados:

  • Simples – Prudência Parece claro que os simples devem adquirir prudência, ou seja, não devem simplesmente ser ingênuos, mas cautelosos. Não implica em desconfiança, mas uma sábia cautela.
  • Néscios – Sabedoria Os néscios são aqueles que são desprovidos de conhecimento, de discernimento; estúpidos, ignorantes. Isto guarda relação com a soberba, arrogância, presunção. Em Pv 1:32 nos é dito que os néscios são mortos por causa de seu desvio”. Isto revela insensatez, falta de senso, de direção.
  • Verdade – Impiedade A impiedade é uma poderosa arma para destruição de outros e de si mesmo. O que anda na verdade anda seguro. O que pratica a impiedade, em algum momento, sofrerá o dano daquilo que praticou.

“São justas todas as palavras da minha boca; não há nelas nenhuma coisa torta, nem perversa. Todas são retas para quem as entende e justas, para os que acham o conhecimento. Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que joias, e de tudo o que se deseja nada se pode comparar com ela.”

Veja que são mencionados materiais de grande valor numa correspondência interessante:

  • Prata – Ensino
  • Conhecimento – Ouro
  • Sabedoria – Jóias

A Prata

Isto torna-se especialmente interessante porque a prata na Palavra está associada a Redenção. Veja o que o apóstolo Paulo disse em I Co 2:1-16:

“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória; mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.” I Coríntios 2:1-16

Veja que Paulo contrasta a sabedoria humana com a celestial. E no desenvolvimento do texto deixa claro que a Sabedoria que ele expõe depende de revelação. E que, com o tal, depende de uma ação de Deus, pelo Espírito. E que a Sabedoria de Deus está para além da compreensão humana. Logo, fica claro que a Sabedoria com S maiúsculo é dependente de crer, é dependente de um relacionamento com o Espírito Santo de Deus. Logo, nenhum ensino de real valor pode ser retirado deste contexto.

O Ouro

O Ouro na Bíblia está associado a Natureza e a Glória de Deus. São diversos os exemplos que temos disto na Palavra, mas dentro do contexto que estamos considerando de correlaciona-la com o Conhecimento seria interessante verificar duas passagens:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.” I Pedro 1:3-9

Isto fala da salvação da alma, do processo de santificação que pressupõe a formação do caráter de Cristo impresso naqueles que Ele regenerou. Isto é especialmente importante, porque na Bíblia a palavra “CONHECER” não significa conhecimento cognitivo, mas INTIMIDADE, RELACIONAMENTO.

“Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.
Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos;
mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins.”
Isaías 11:1-5

Este texto foi destacado porque nele vemos na verdade o Candelabro. O Senhor Jesus é o Tronco Principal. Dele saem ramificações, de duas a duas:

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Ou seja, temos a seguinte ordem de apresentação destas Verdades:

  1. O Espírito do Senhor
  2. O Espírito de Sabedoria e Entendimento
  3. O Espírito de Conselho e Fortaleza
  4. O Espírito de Conhecimento e Temor do Senhor

As Jóias – As Pedras Preciosas

As Jóias estão associadas ao Processo de transformação que se processa em nós pelo Espírito Santo (Pedras Preciosas). Há inúmeros exemplos disto na Escritura, mas vamos tão somente citar duas passagens bíblicas que nops parecem são características do que isto representa:

“Hoje, pois, cheguei à fonte e disse comigo: ó Senhor, Deus de meu senhor Abraão, se me levas a bom termo a jornada em que sigo, eis-me agora junto à fonte de água; a moça que sair para tirar água, a quem eu disser: dá-me um pouco de água do teu cântaro, e ela me responder: Bebe, e também tirarei água para os teus camelos, seja essa a mulher que o Senhor designou para o filho de meu senhor. Considerava ainda eu assim, no meu íntimo, quando saiu Rebeca trazendo o seu cântaro ao ombro, desceu à fonte e tirou água. E eu lhe disse: peço-te que me dês de beber. Ela se apressou e, baixando o cântaro do ombro, disse: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos. Bebi, e ela deu de beber aos camelos. Daí lhe perguntei: de quem és filha? Ela respondeu: Filha de Betuel, filho de Naor e Milca. Então, lhe pus o pendente no nariz e as pulseiras nas mãos. E, prostrando-me, adorei ao Senhor e bendisse ao Senhor, Deus do meu senhor Abraão, que me havia conduzido por um caminho direito, a fim de tomar para o filho do meu senhor uma filha do seu parente. Agora, pois, se haveis de usar de benevolência e de verdade para com o meu senhor, fazei-mo saber; se não, declarai-mo, para que eu vá, ou para a direita ou para a esquerda. Então, responderam Labão e Betuel: Isto procede do Senhor, nada temos a dizer fora da sua verdade. Eis Rebeca na tua presença; toma-a e vai-te; seja ela a mulher do filho do teu senhor, segundo a palavra do Senhor. Tendo ouvido o servo de Abraão tais palavras, prostrou-se em terra diante do Senhor; e tirou joias de ouro e de prata e vestidos e os deu a Rebeca; também deu ricos presentes a seu irmão e a sua mãe. Depois, comeram, e beberam, ele e os homens que estavam com ele, e passaram a noite. De madrugada, quando se levantaram, disse o servo: Permiti que eu volte ao meu senhor. Mas o irmão e a mãe da moça disseram: Fique ela ainda conosco alguns dias, pelo menos dez; e depois irá. Ele, porém, lhes disse: Não me detenhais, pois o Senhor me tem levado a bom termo na jornada; permiti que eu volte ao meu senhor. Disseram: Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca e lhe perguntaram: Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei. Então, despediram a Rebeca, sua irmã, e a sua ama, e ao servo de Abraão, e a seus homens. Abençoaram a Rebeca e lhe disseram: És nossa irmã; sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos. Então, se levantou Rebeca com suas moças e, montando os camelos, seguiram o homem. O servo tomou a Rebeca e partiu. Ora, Isaque vinha de caminho de Beer-Laai-Roi, porque habitava na terra do Neguebe. Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os olhos, viu, e eis que vinham camelos. Também Rebeca levantou os olhos, e, vendo a Isaque, apeou do camelo, e perguntou ao servo: Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? É o meu senhor, respondeu. Então, tomou ela o véu e se cobriu. O servo contou a Isaque todas as coisas que havia feito. Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe.” Gênesis 24:42-67

“Dali partiu contra os moradores de Debir; e era, dantes, o nome de Debir Quiriate-Sefer. Disse Calebe: A quem derrotar Quiriate-Sefer e a tomar, darei minha filha Acsa por mulher. Tomou-a, pois, Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe, mais novo do que ele; e Calebe lhe deu sua filha Acsa por mulher.
Esta, quando se foi a ele, insistiu com ele para que pedisse um campo ao pai dela; e ela apeou do jumento; então, Calebe lhe perguntou: Que desejas?
Respondeu ela: Dá-me um presente; deste-me terra seca, dá-me também fontes de água. Então, Calebe lhe deu as fontes superiores e as fontes inferiores.”
Juízes 1:11-15

A Rebeca foram acrescentadas pulseiras e pendentes. O nome Acsa significa tornozeleira. Ambos os textos tratam de um casamento. Logo, o que temos aqui é a manifestação da Obra do Espírito Santo, através da revelação progressiva nas Escrituras, demonstrando o trabalhar de Deus para encontrar e formar esposa para o Seu Filho.

No primeiro caso, a Rebeca foram acrescentadas jóias. Acsa se transformou nelas, uma vez que seu nome assim o indica. Só que Acsa, comparativamente a Rebeca desceu, porque uma tornozeleira está mais abaixo do que um pendente. Isto fala da descontrução da vida egocêntrica e de seu aspecto mais evidente: a busca de glória pessoal.

Obs: Para detalhamento destes temas consulte os Resumos de Gênesis – Capítulo 24 e Juízes – Capítulo 01.

“Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de conhecimentos e de conselhos. O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza.”

Observe isto em conexão com os textos anteriores. Entendimento, Prudência, Conselho, Fortaleza..
“Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça.
Por meu intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da terra. Eu amo os que me amam; os que me procuram me acham.”

Veja a questão de intimidade sendo revelada de forma mais evidente nesta porção.

“Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça. Melhor é o meu fruto do que o ouro, do que o ouro refinado; e o meu rendimento, melhor do que a prata escolhida.”

“Ando pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo, para dotar de bens os que me amam e lhes encher os tesouros.”

Estes “tesouros” estão melhor identificados e descritos nas Câmaras dos Tesouros no Templo de Salomão. Para melhor entendimento deste ponto é aconselhável consultar o Resumo do Templo de Salomão – Câmaras dos Tesouros”.

A Personificação da Sabedoria – O Filho

“O Senhor me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas.
Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra.”
“Antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci.
Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo.”

O “Eu nasci” tem haver com o fato de a Imagem do Pai ter sido revelada no Filho que é a expressão exata do Seu Ser (Hb 1:1-3 e Cl 1:15-20). Isto tem implicações profundas, notadamente na questão de UNIDADE. O detalhado estudo e entendimento das palavras SOMBRA e IMAGEM vão nos esclarecer muito sobre esta questão.

“Quando ele preparava os céus, aí estava eu; quando traçava o horizonte sobre a face do abismo; quando firmava as nuvens de cima; quando estabelecia as fontes do abismo; quando fixava ao mar o seu limite, para que as águas não traspassassem os seus limites; quando compunha os fundamentos da terra;
então, eu estava com ele e era seu arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo;”

“regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens. Agora, pois, filhos, ouvi-me, porque felizes serão os que guardarem os meus caminhos. Ouvi o ensino, sede sábios e não o rejeiteis.”

“Feliz o homem que me dá ouvidos, velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada. Porque o que me acha acha a vida e alcança favor do Senhor. Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem amam a morte.” Provérbios 8:1-36

Em resumo: a Sabedoria é uma Pessoa. Afinal, Ele é o nosso TUDO!!!

As Sete Colunas da Sabedoria

“A Sabedoria edificou a sua casa, lavrou as suas sete colunas.” Provérbios 9:1

Mas afinal, quais são as sete colunas da Sabedoria? E onde (ou em Quem) podemos encontrá-las?

“A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.” Tiago 3:17

  1. Pura
  2. Pacífica
  3. Indulgente
  4. Tratável
  5. Plena de Misericórdia e de Bons Frutos
  6. Imparcial
  7. Sem Fingimento.

As Sete Colunas da Sabedoria evidenciadas no Senhor Jesus Cristo

Coluna 01: A Pureza e a Santidade do Senhor

Este é o grande atributo moral de DEUS. A palavra hebraica para “santo” é qadosh, que significa cortar, separar. Poderíamos dizer que a expressão “santo” refere-se àquilo que é “separado, retirado do uso comum”. Neste sentido, todas as coisas que foram que foram usadas para um uso exclusivo são consideradas santas. Ex: as vestes sacerdotais eram santas (Ex 28:12), o lugar específico para a preparação do sacrifício era santo (Ex29:31), os vasos usados no templo eram santos (I Rs 8:4), enfim tudo o que era usado de um modo específico para DEUS era considerado santo.

Todavia este mesmo raciocínio não pode ser dito de DEUS. DEUS é separado de uma forma diferente. Ele é separado de toda forma possível de existência criada, porque está além e sobre cada uma delas, e também por causa de Sua natureza majestosa.

Ele é separado dos anjos, dos homens e, especialmente dos pecadores ( neste último caso é uma separação moral ). Portanto, Santidade não tem simplesmente a conotação de qualidade moral ou ética.

A Natureza da Santidade

A Santidade Majestosa de DEUS

No seu sentido original, DEUS é Santo porque Ele é totalmente distinto e separado de Suas criaturas, além de ser exaltado sobre elas por causa de Sua infinita Majestade. Ninguém pode ser santo como Ele porque ninguém pode ser separado, além e acima das criaturas. Olhando deste prisma, a Sua Santidade é, portanto um atributo incomunicável.

A Santidade de DEUS está vinculada ao fato de Ele ser todo glorioso, infinitamente distante de nós na maneira em que Ele é: na nobreza e na perfeição de Sua natureza e na grandeza de todos Seus atributos. A Santidade é praticamente um atributo que qualifica tudo o que DEUS é; Majestoso e Glorioso na Sua Santidade (Is 57:15).

Esta Santidade é proclamada pelos seres celestiais diversas vezes nas Escrituras (Is 6:3 ; Ap 4:8). Nenhum dos atributos de DEUS é cantado tão solene e majestosamente como este!!

É este aspecto da Santidade de DEUS que causa no homem o senso de pequenez, de que não é nada diante da majestade de DEUS. Nenhum outro ser é santo como o Senhor. É a Glória peculiar da Sua natureza. DEUS não é somente Santo, Ele é Santidade.

A Santidade Moral de DEUS

Num sentido derivado, podemos dizer que existe um santidade moral em DEUS, que O faz estabelecer leis santas para Suas criaturas. Suas leis que nos são dadas refletem quem Ele é moralmente; absolutamente isento de deficiência ética.

A idéia fundamental de Santidade moral de DEUS é também de separação, mas neste caso de separação do mal moral, do pecado ( Jó 34:10 ; Hc 1:13 ). DEUS é livre de qualquer contaminação moral. Na verdade isto vai mais além pois , o pecado é, em última instância, uma afronta ao Seu Ser intrinsecamente Santo. Daí que a Santidade de DEUS é também observada na maneira que Ele exige santidade dos homens, feitos à Sua imagem e semelhança.

A Importância da Santidade Divina

Nenhum outro atributo é repetido pelas Escrituras três vezes, afirmando o que DEUS é. Nunca é dito que DEUS é “Justiça, Justiça, Justiça”, ou que Ele seja “Amor, Amor, Amor”. No entanto as Escrituras afirmam repetidas vezes que DEUUS é “Santo, Santo, Santo” e “que a terra está cheia da Sua Glória”. Portanto é o único atributo enfatizado de forma especial.

Isto não significa que a Santidade seja um atributo mais importante que os demais, mas que vários de Seus atributos morais são qualificados e realçados por Sua Santidade. É uma questão de ênfase! Além disto a importância da Santidade reside no fato de que ela qualifica todos os outros atributos. Em outras palavras o Amor de DEUS é Santo, Sua Justiça é Santa, Sua Misericórdia é Santa e etc…

A importância de Sua Santidade está no fato de DEUS usá-la para garantir a veracidade de Sua Palavra. Este atributo parece ser o mais caro para DEUS. Quando vai fazer qualquer juramento, DEUS não tendo ninguém mais alto por quem jurar, jura por Sua Santidade (Sl 89:34-36). A garantia da força de Seu juramento está na Sua Santidade (Am 4:2).

Veja portanto o quanto isto é significativo. Não somente em Suas doces promessas Ele faz juramento com base na Sua Santidade, mas também na expressão dos Seus juízos. DEUS não falha nos Seus juízos porque Ele é absolutamente Santo e empenha a Sua Palavra com juramento fiado em Sua Santidade.

A Sua Santidade é a garantia do cumprimento de Sua promessa. Todos os cristãos devem confiar na Palavra de DEUS porque Ele é Santo, Ele não pode mentir. A Sua Santidade é a garantia de Sua Fidelidade. Isto é ALTAMENTE SIGNIFICATIVO!!!

O Padrão da Santidade Divina

Não podemos definir o padrão de Santidade em DEUS como definimos a santidade nos seres humanos ou a dos seres celestiais. Isto quer dizer que não podemos conformar DEUS à Sua lei moral. A lei não existe para Ele. Na verdade a lei é uma expresão de Sua Santidade. Ele não pode ser medido pela lei que criou para os seres humanos, para seres finitos, e que estão sujeitos ao Seu Governo moral.

Não existe um padrão de Santidade moral de DEUS fora Dele mesmo, afinal a naturez de DEUS é o padrão de Santidade. As Escrituras Sagradas são o único registro da revelação de DEUS que nos revela algo de Sua natureza moral, pois as Suas leis revelam quem Ele moralmente é. As Escrituras refletem a mente de DEUS, isto é, o que Ele pensa e como Ele que os seres humanos pensem e ajam.

Não existe Santidade à parte de DEUS. A Sua natureza é o padrão aferidor de Santidade. A noção perfeita do que é certo e do que é errado advém do nosso conhecimento da natureza de DEUS. Em resumo, se quisermos saber o que Santidade significa é só olharmos para DEUS. E esta noção de Sua Santidade só é mostrada no Livro Santo, que é a Revelação de DEUS.

Manifestações da Santidade de DEUS

Nas Sua Obras

DEUS fez todas as coisas boas, inclusive o homem. DEUS fez todos os seres racionais santos: os anjos foram criados originalmente santos, mas eles não guardaram o seu estado original (Jd 6); DEUS fez o homem santo, isto é, num estado de plena retidão, mas ele se meteu em muitas astúcias (Ec 7:29).

As Suas criaturas racionais deveriam refletir quem o Criador é, pela natureza com que foram criadas, mas elas pecaram contra o Criador. O pecado delas não é decorrente de um defeito de “fabricação”, mas fruto de suas escolhas voluntárias em oposição às leis Santas de DEUS. E como o Amor pressupõe a liberdade da escolha, DEUS deu às suas criaturas a oportunidade de que elas pudessem escolherem-No. Sem sombra de dúvidas, DEUS é Santo em todas as Suas Obras!!

Nas Suas Leis

A Santidade de DEUS pode ser vista no reflexo de Sua Natureza que é a Sua Lei. Paulo diz que a Lei de DEUS é santa (Rm 7:12) e Davi diz que ela é puríssima (Sl 19:8). Estas duas palavras refletem o caráter do Santo Legislador. Todos os estatutos de DEUS são santos e revelam Sua Natureza (Dt 4:8 ; Sl 19:10). DEUS revela Sua Santidade nas duas expressões da Lei:

Lei Moral – Esta Lei é a mais clara e melhor demonstração do caráter santo de DEUS. Ela proíbe o pecado em todas as suas manifestações, seja nas mais grosseiras seja nas mais refinadas, exatamente porque é uma Lei santa, descrita através de vários adjetivos: perfeita, boa, justa, pura e etc… (Rm 7:12 ; Sl 19:8-9)

Os mandamentos de DEUS são frequentemente chamados de juízos porque eles julgam o que é bom e o que é mau. A finalidade da Lei santa não é simplesmente mostrar que os homens são pecadores, mas também levá-los para mais perto da Santidade de DEUS. Todavia, por causa da natureza pecaminosa do homem, a Lei, ao invés de aperfeiçoá-lo, cria nele um senso de desespero, pela impotência que o pecado lhe causou.

É importante observar que a Santidade majestosa de DEUS pode ser vista na primeira tábua, enquanto a Santidade ética pode ser vista na segunda. Contudo, é necessário observar que esta Lei moral não se revela somente nos Dez Mandamentos do Antigo Testamento, mas também nas páginas do Novo Testamento.

Cristo, no Sermão do Monte, interpreta e espiritualiza os Dez Mandamentos. Essa Lei que atravessa toda a Escritura é a mais alta expressão revelada de Sua Santidade, pois expressa exatamente o que Ele é!!

Lei Cerimonial – Sua Santidade é também revelada na Lei Cerimonial, quando Ele ordena os sacrifícios pelos pecados, mostrando Sua indignação contra eles através da exigência do derramamento de sangue.

Os julgamentos de DEUS são derivados de Sua Santidade. A morte dos cordeiros apontava para a natureza santa e pura de um DEUS cheio de ira. É bom ter em mente que a ira e o julgamento são correlatos da Santidade.

C – Na Redenção

O desprazer de DEUS com relação ao pecado tem sua maior manifestação e evidência através da morte de Jesus na cruz. Aqui Sua Santidade se torna absolutamente clara!!

“Nem todos os cálices de julgamento que tem sido ou serão derramados sobre o mundo ímpio, nem a flamejante fornalha da consciência do pecador, nem a irreversível sentença pronunciada contra os demônios rebeldes, nem os gemidos das criaturas condenadas, dão tal demonstração do ódio de DEUS contra o pecado como Sua ira que foi derramada sobre Seu Filho”.

O grito agonizante de Jesus na cruz – “DEUS meu, DEUS meu, porque me desamparaste…?” demonstra isto claramente. Não há forma de punir o pecado sem punir o homem. DEUS não está debaixo da necessidade de punir o pecador pessoalmente. Jesus, sendo enviado ao mundo, foi a única maneira de DEUS punir o pecado, punindo o representante, para redimir o pecador. E ninguém senão Ele mesmo poderia satisfazer a Santidade de DEUS para que pudesse morrer em favor de outros, ressuscitando de entre os mortos e justificando por imputação os que viessema crer Nele. Isto asim o é porque que se um pecador de “dignasse” a morrer por outro ele não faria redenção a favor daquele por quem ele teria morrido, pois sendo ele mesmo um pecador, ficaria retido na morte, haja visto que “o salário do pecado é a morte…”

Gálatas 3:13 mostra que Jesus foi amaldiçoado de DEUS por causa de nossos pecados e Isaías 53:10 mostra que DEUS moeu o homem de dores para satisfazer a justiça que Sua Santidade exigia. Por esta razão devemos primeiro ver a satisfação da Justiça de DEUS (sobre Cristo) para depois vermos a manifestação de Sua Misericórdia (quanto a nós).

Para que o pecador fosse perdoado, Outro teve que tomar o lugar dele, pagando o preço que a Santidade de DEUS exige no trato com o pecado, afinal “sem derramamento de sangue não há remissão de pecados..”(Hb 9:22).

Temos de ter absoluta clareza quanto a idéia de um DEUS Amoroso, mas que nunca deixou de ser Justo. Estas duas “facetas” de DEUS não se excluem. Ao contrário, elas se tornam evidentes no sacrifício de Jesus Cristo; sendo a única forma de as duas coisas serem mostradas ao mesmo tempo.

Manifestações da Santidade de DEUS

Em DEUS a Santidade é uma qualidade esencial; nos homens é uma qualidade adquirida e derivada; a Santidade é uma necessidade em DEUS. Se DEUS não for Santo, Ele não pode continuar sendo o que é; mas ela não é necessária nas criaturas. Esta pode continuar sendo o que é sem que possua santidade.

DEUS criou o homem santo e, no entanto, ele deixou de ser santo. A Santidade é uma qualidade separável nos homens. Se a santidade nos homens fosse imutável Adão não teria pecado.

DEUS é Santo por excelência porque a Santidade está vinculada a outros atributos Seus que Lhe são essenciais. DEUS não muda, é absolutamente verdadeiro; é puríssimo em Seu Amor e etc… A Santidade em DEUS é infinita.

A santidade no homem é finita porque é derivada. Quando a redenção for concluída plenamente ele permanecerá santo por uma obra da Graça nele efetuada, não porque terá adquirido a capacidade divina. Ele continuará a ser finito, mesmo depois da redenção final. Portanto finitas também serão suas qualificações adquiridas.

Corolário da Santidade de DEUS

A – A Santidade de DEUS determinará o Conceito de Evangelização

A Santidade de DEUS exige que o pecador seja punido, porque a Justiça de DEUS tem de ser satisfeita. Contudo na evangelização anunciamos que o pecador por quem Cristo morreu já tem as suas culpas pagas por Ele na cruz. A Santidade de DEUS exige que o pecador seja punido pessoal ou representativamente. A Santidade de DEUS é que exigiu a morte de Jesus na cruz e é o Amor Santo de DEUS que fez com que Cristo se oferecesse no lugar de pecadores. O pecador teve seus débitos saldados pelo “fiador” do Novo Pacto. E é por isto que Paulo pregava a Cristo “e este crucificado…”. Em outras palavras, a Santidade de DEUS exige que o anúncio da Boa-Nova seja feita nos termos dos pecados que foram pagos por Jesus Cristo em nosso favor. Se a mensagem não contiver este conteúdo ela não é Boa-Nova, nem vem do DEUS Santo.

B – A Santidade de DEUS determinará o Conceito de Adoração

É a Santidade de DEUS que regula e conduz a nossa adoração. Porque as pessoas perderam o verdadeiro conceito da natureza de DEUS é que perderam também o modo correto de se adorar a DEUS. As pessoas se aproximam de DEUS sem o senso de Sua Santidade nem se preocupam com a santidade própria. A sua vida ética não importa nem o DEUS Santo das Escrituras. Todavia, as Escrituras dizem que devemos “ nos aproximar Dele, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e lavado o corpo em àgua pura…” (Hb 10:22).

DEUS é Santo e Majestoso. Não podemos nos aproximar Dele sem o senso da devida reverência. O DEUS do Antigo Testamento é o mesmo do Novo. Portanto, a nossa aproximação Dele deve ser sempre em santo temor.

“Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a Graça, pela qual sirvamos a DEUS de modo agradável, com reverência e santo temor; porque nosso DEUS é fogo consumidor.”(Hb 12:28-29).

A falta de temor a DEUS “é que, em grande medida, explica o baixo padrão moral, a mundanidade e a carnalidade, a loucura do prazer e a perversão ética, que caracterizam os nossos tempos.” A falta de temor a DEUS tem produzido uma adoração sem qualquer senso de reverência ao Adorado.

A Presença da Grandeza, da Majestade e da Santidade de DEUS deveria tornar-nos cheios de reverente temor diante Dele. Culto envolve diretamente esssa presença. Portanto, Sua Presença deveria ter como resposta o reverente temor. Davi disse: “Arrepia-me a carne com temor de Ti”(Sl 119:120). É asim que deveríamos nos portar e nos sentir diante Dele na hora da adoração. Mas quando o adorador “assume uma atitude de familiaridade, quando ele fala a DEUS como se fosse um seu igual, sem qualquer senso de admiração e reverência em sua voz e palavras, nas suas comunicações com DEUS, ele se torna profano e blasfemo”.

Se em nossa adoração o senso de admiração e o de reverência pelo Senhor não estão presentes, não existe uma verdadeira adoração. Estes são elementos essenciais a ela. Mas quando eles estão presentes, então podemos desfrutar o senso da gostosa e majestosa presença daquele a quem adoramos.

Portanto conheça-se a si mesmo conhecendo quem o DEUS verdadeiro é. Quando descobrirmos a profundidade da Santidade Divina, então poderemos exercitar uma verdadeira adoração!!

C – A Santidade de DEUS tornará Você Humilde

Se corretamente entendida a Santidade de DEUS vai promover a humildade em você, não o orgulho. Lembre-se do exemplo de Pedro, registrado em Lucas 5. Depois de haver tentado pescar inultilmente a noite toda, Pedro recebeu a ordem de Jesus Cristo de lançar as redes. Pedro duvidou, a princípio, de que iria dar certo, mas acabou dizendo: “Sobre a Tua Palavra lançarei as redes…”(v.5). Qual não foi a surpresa quando ele tentou içar as redes: elas estavam cheias a ponto de se romperem (v.6). Quando Pedro percebeu diante de Quem ele realmente estava, teve um senso de humildade e pequenez. Ele sentiu-se impuro diante da Santidade do Redentor. Ele acabou prostrando-se diante dos pés de Jesus e Lhe disse: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador…”. O reconhecimento da Santidade do Senhor causou em Pedro o senso de diminuição do seu “eu”. Somente quando contemplou o Santo de DEUS naquele momento é que Pedro sentiu seu próprio tamanho. Isaías teve o mesmo sentimento quando teve a visão da santidade de DEUS e esta é a consciência que todos os seres humanos vêm a possuir quando confrontados com a Santidade Divina.

Quanto mais consciência temos da Santidade de DEUS, mais reconhecidos de nossos pecados nos tornamos. Porque temos perdido a noção da Santidade de DEUS, também temos perdido a humildade. É por isto que há tantas pessoas presunçosas e cheias de si mesmas no meio do povo chamado “crente”: elas não sabem quão pequenas e imundas são porque não sabem quão Santo é o DEUS em quem professam crer.

Ilustrações da Santidade de DEUS

A – Moisés e a Santidade de DEUS

Há dois textos no Livro de Números mostrando que a NÃO consideração da Santidade Divina é um grande prejuízo para os homens: Nm 20:1-13 ; Nm 27:12-14. São passagens que mostram a ira de Moisés contra o povo por causa da sua reclamação de falta de alimento e àgua no deserto. O povo está acampado em Cades ( em hebraico Kadesh = santo ). Ali, então, DEUS manda que, diante do povo, Moisés fale à rocha a fim de que a àgua brote dela (v.7). Moisés reuniu o povo, tomou a vara como o Senhor ordenara, mas aconteceu que ele acabou fazendo bem diferente da ordem dada pelo Senhor. Ao invés de falar a rocha, irado, ele feriu a rocha duas vezes com sua vara (v.11). A àgua saiu abundantemente da rocha, mas o castigo veio sobre Moisés e Arão, que não puderam entrar na Terra Prometida (v.12).

É muito curioso que depois da desobediência, DEUS diz a Moisés: “Visto que não crestes em Mim, para me SANTIFICARDES, diante dos filhos de Israel…” (v.12). Bater na rocha foi um ato de desobediência, uma falha por não seguir as instruções de DEUS. Esta falha foi considerada por DEUS como INCREDULIDADE. Todavia, além de incredulidade, o que Moisés fez foi um ato de irreverência para com a Palavra de DEUS. Uma irreverência gerou uma incredulidade. A resposta apropriada à Santidade de DEUS é a reverência para com Ele, e o resultado do temor é a obediência. Contudo, a ira de Moisés para com o povo havia sobrepujado o seu temor e a sua reverência para com DEUS, ao invés de o seu temor para com DEUS ter vencido a sua ira para com o povo no deserto.

B – Uzá e a Santidade de DEUS

A Arca da Aliança havia sido capturada pelos filisteus e, por algum tempo, ela foi guardada como um troféu, pois era a maior peça da “religiosidade” judaica, visto que a vara de Arão e um exemplar do maná estavam ali guardados, e era o símbolo da Presença de Yaweh no meio de Seu povo.

Após derrotar os filisteus (II Sm 5:19-25), Davi trouxe a Arca de volta para Jerusalém. Essa Arca Santíssima ficava escondida no Lugar Santíssimo. Segundo as instruções de DEUS, a Arca só poderia ser transportada pelos varais colocados nas argolas (Ex 25:10-22). Se alguém olhasse para a Arca ( quanto mais tocar nela!!) morreria (Nm 4:1-20).

Na viagem de volta para Jerusalém, puseram a Arca em um carro de bois e, no meio do caminho, os bois tropeçaram, e Uzá, um dos filhos de Aminadabe que guiavam o carro, colocou a mão na Arca com medo que ela caísse (v.6). Então a Santidade de DEUS foi vista quando de Sua ira contra Uzá, pelo fato de ele ter tocado a Arca e isto ter sido considerado um ato de irreverência (v.6). Então o Senhor o feriu e ele morreu ali. Ele não poderia ter tocado a Arca Santo do Senhor Santo. Mesmo que isto pareça estranho aos nossos olhos, essa Santidade foi vindicada por DEUS que exige reverência com as coisas que são santificadas. Ao invés de transportá-la segundo prescrevia a Lei (Nm 4:1-20), eles violaram a Lei, e issso foi considerado um pecado contra a Santidade de DEUS.

A primeira reação de Davi foi de desapontamento diante da atitude de DEUS com Uzá. Na opinião de Davi, DEUS não poderia ter feito o que fez com Uzá. Afinal de contas, Uzá estava tentando ajudar para que a Arca não caísse. Davi havia se esquecido da Lei Santa de DEUS e de quão irado DEUS fica quando a Sua Santidade é violada. A esta altura, Davi ainda não sabia quão Santo era DEUS. Foi preciso DEUS se manifestar em ira para que Davi entendesse a respeito desta matéria que poucos de nós entendemos ainda hoje!!

Este exemplo de Uzá é apenas uma manifestação bem pequena do grande universo da Santidade Divina. Essse é o atributo mais precioso para DEUS porque todos os outros são aferidos por ele. Portanto é de grande importância que a Igreja contemporânea dê a devida atenção a esta matéria, a fim de que não sejamos encontrados em falta diante de DEUS.

C – Isaías e a Santidade de DEUS

O texto de Isaís 6:1-10 talvez seja o mais significativo e ilustrativo da Santidade de DEUS. Isaías viu seres celestiais proclamando em alta voz a tríplice Santidade de DEUS, em um ambiente extremamente cheio de majestade e glória, o que causou no profeta uma forte reação, acompanhada de um grande senso de pecado.

A revelação da Santidade Majestosa o leva ao reconhecimento da Santidade moral de DEUS. A cena que Isaías viu não somente o fez contemplar a grandiosidade da realeza de DEUS, mas também a perfeição de Seu caráter moral. Esta é a conclusão a que Isaías chega quando os serafins, numa atitude de reverente conduta, dizem: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos…”.

O texto no versículo 2 diz que os serafins possuíam seis asas e que com duas delas cobriam o rosto. Esta atitude dos serafins é uma indicação de que a Santidade Majestosa de DEUS não permitia que mesmo as santas criaturas celestiais, que cantavam “Santo, Santo, Santo..”, pudessem contemplá-Lo. Ora, se os seres celestiais não podiam contemplar a Santidade Majestosa de DEUS imagine o pecador!! Isaías não somente reconheceu a sua pequenez diante da Santidade Majestosa de DEUS, mas também o seu pecado diante de Sua Santidade Moral.

O nosso senso de depravação é determinado pelo nosso senso da Santidade de DEUS. Somente quando nos concientizamos da realidade de DEUS é que temos consciência de quem somos.

Conclusão

Quanto maior o senso da Santidade de DEUS, mais senso de pecado e, portanto, mais aceitos seremos na Sua Presença; quanto maior o senso da Santidade de DEUS, mais santos seremos em nossos procedimentos.

Porque DEUS é Santo, devemos nortear nossa vida de acordo com os preceitos Dele. DEUS não exige que sejamos oniscientes, onipotentes, eternos e etc…, mas Ele ordena na Sua Palavra que sejamos “santos como Ele é…”(I Pe 1:16).

Em outras palavras, DEUS quer que sejamos pessoas diferentes, distintas das pessoas do mundo, pela maneira de nos portarmos. Não haveremos de glorificar a DEUS tanto por admirá-Lo, apreciá-Lo, por reconhecer Suas perfeições, como por obedecer a Sua Palavra, andando em caminhos de retidão.

Quando tivermos forte consciência da Santidade de DEUS, estaremos possuidos de um verdadeiro temor e nos protegeremos das tentações do pecado. Quando tivermos uma forte consciência da Santidade de DEUS, teremos um forte desejo por santidade a fim de nos parecermos com Ele. Então a imagem de DEUS será a cada dia renovada dentro de nós (II Co 3:18)!!

Entretanto vivemos em um tempo em que a noção de paradigma moral está se perdendo no meio de uma sociedade que, eticamente, se desmorona. Isto acontece, em grande medida, por causa do pluralismo pós-modernista que diz que não há um padrão fixo ou uma verdade objetiva. Tudo em questões éticas e morais é relativizado e subjetivado em nossos dias. Ou seja, a verdade seria então uma questão de opinião pessoal, sem que haja um paradigma fixo e eterno.

Para os verdadeiros cristãos, DEUS é o padrão da Verdade Absoluta e Indiscutível. Aliás, DEUS não tolera a relativização da Verdade. Somente DEUS através de Sua Palavra é o aferidor daquilo que é santo (I Pe 1:15-16)!!

Alguns Versículos Referenciais:

“Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim;” João 14:30

O inimigo de Deus não encontrava base de atuação, nem correspondência alguma no Ser interior do Senhor. Ele é totalmente Santo, Santo, Santo!!!

“Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.” II Coríntios 11:3

Embora o texto se aplique a nós, ele nos descortina a essência da pureza: SIMPLICIDADE, ÚNICO FOCO. Nós nos tornamos iguais àquilo que amamos! No Senhor isto assume proporções inimagináveis afinal Ele e o Pai SÃO UM!!!

“Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” I Coríntios 6:15-19

A consagração do Senhor ao Pai era e é evidência de Seu Amor. O Amor é focal e se entrega totalmente. O Amor pressupõe União Plena!!!

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.” I João 3:1-3

Talvez por este motivo Jesus disse no Sermão do Monte que “os limpos de coração verão a Deus”. Embora seja uma promessa, talvez fosse mais adequado pensar em uma profecia de cumprimento “auto-determinado”. Como negar a estes que só vêem a Jesus, que são focais Nele, que tem seus corações sintetizados Nele, aquilo que estes já experimentam ainda que não plenamente: a visão de Cristo! “Então eles, levantando os olhos, a ninguém viram senão Jesus” (Mt 17:8). Mas, a estes, mais do que a quaisquer outros, a Palavra diz: “Então conhecereis como sois conhecidos”.

“Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros. Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” Hebreus 13:4,5

O Amor pressupõe simplicidade, pureza, foco total. Nada, nem coisa, nem ninguém pode concorrer com o verdadeiro Amor. E o Amor se manifestou; Nele. Deus é Amor!! Quem entende isto percebe que nenhuma outra árvore do jardim, por mais linda e desejável que possa parecer, se compara a Ele!!! A ÁRVORE DA VIDA!!

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,
atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura.”
Hebreus 12:14-16

“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.” Tito 1:15,16

Pureza não é ingenuidade. Aliás, Sabedoria pressupõe prudência, mas aliada a simplicidade.

“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.” I Timóteo 1:5

Coração Puro. Que maravilha! Mas para o homem que ainda não nasceu de novo é anti-natural! A Pureza vem Dele! Pelo Espírito!!!

Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos. E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.”
Marcos 7:18-23

As consequências da queda são muito mais profundas do que imaginamos. Estudá-las é essencial para o entendimento da natureza humana. Por este motivo Jesus disse em Jo 2:24-25: “…mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana”.

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” Filipenses 4:8

Esta é uma das esferas humanas a serem santificadas, purificadas: os pensamentos. Em Jesus Cristo os pensamentos são perfeitos, santos e puros. Ninguém se compara a Ele.

“Não és tu desde a eternidade, ó Senhor, meu Deus, ó meu Santo? Não morreremos. Ó Senhor, para executar juízo, puseste aquele povo; tu, ó Rocha, o fundaste para servir de disciplina. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” Habacuque 1:12,13

A pureza não é omissa. O “não podes ver o mal” tem mais haver com “não desejarias que houvesse mal a ser visto” dada a dor a que Teu Espírito fica submetido. Será que temos a dimensão da dor a que sente o Senhor, Seu Espírito, ao ver todas as iniquidades que se cometem na terra. Chega a ser inimaginável!

“Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente.” Salmos 24:3,4

“Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que te comprazes na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste.
Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.”
Salmos 51:5-10

“Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos.
Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos. Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver
aprendido os teus retos juízos. Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais. De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.” Salmos 119:5-9

O Senhor Jesus é a própria Palavra encarnada. “O meu alimento é fazer a Tua Vontade”. “Quem me vê a Mim vê o Pai!! “Eu e o Pai somos Um “. “Pai, glorifica a Teu Filho, para que o Teu Filho Te glorifique a Ti”.

Coluna 02: Pacífica

A Bíblia menciona a questão da paz, no contexto do Novo Testamento, em alguns contextos. Vamos analisar pelo menos três destes contextos e vamos buscar o entendimento ao sentido segundo o qual foram mencionados. São eles:

  1. “Justificados, pois, mediante a fé, temos PAZ COM DEUS por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” Romanos 5:1,2

Esta menção refere-se à paz COM Deus que é fruto da justificação pela fé que recebemos a partir do momento em que cremos no Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas.

  1. “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a PAZ DE DEUS, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” Filipenses 4:6,7

Esta menção refere-se à paz que decorre de nossa confiança no Senhor em meio as lutas, adversidades, provações e dificuldades. É um antídoto contra a incredulidade, contra a inquietação, contra a ansiedade. A promessa é de que neste momentos podemos e devemos orar ao Senhor, com súplicas e ações de graças, então a PAZ DE DEUS guardará nossos corações e mentes em Cristo.

  1. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois, seguimos as COISAS DA PAZ e também as da edificação de uns para com os outros.” Romanos 14:17-19

Neste contexto, o que temos é uma menção a que não houvesse divisões por causa de questões ligadas ao entendimento de aspectos ligados ao comer. Na verdade, o “pano de fundo” relaciona-se a questão do julgamento e o que ele, de fato, significa na Palavra de Deus (Podemos abordar este tema mais à frente). É interessante notar, entretanto que esta questão sucede a menção à pureza, senão veja:

“Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura. Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu. Não seja, pois, vituperado o vosso bem. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros. Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado.” Romanos 14:13-23

Aqui, a questão da paz está relacionada à edificação, ao não julgamento (pelo conceito do mundo) que pode trazer divisão, contenda, ira e discórdia. Quando estudamos e analisamos na Palavra, descobrimos que o julgamento do cristão não é aquele que está direcionado ao próximo e que tenha viés, via de regra, condenatório.

Não, o julgamento do cristão é acerca de si mesmo e, em função deste auto-julgamento e então de uma conduta irrepreensível, seu comportamento santo, por si só, julga os que estão à sua volta. Ou seja, ele mesmo não julga a ninguém, porém seu comportamento sim.

“Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão? E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei. Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” Romanos 2:25-29

Na verdade, o que a Palavra de fato nos diz é que, não só não devemos julgar (segundo o conceito do mundo), mas que não só devemos ter conduta irrepreensível, mas devemos nos abster em favor da vida de outros. Ou seja, há situações que o “me abster” pode trazer benefício a meu irmão, então devo procurar não o meu interesse, mas o de meus irmãos.

Isto é algo seríssimo. E isto está amplamente evidenciado na Vida de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. E é uma questão tão séria que devemos considerá-la de forma mais acurada, especialmente quando queremos entender a raiz da pacificidade a que, possivelmente o texto de Tiago se refere.

Para tanto vamos analisar um episódio ocorrido com dois dos discípulos de Jesus:

“E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém
e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois]. [Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.”
Lucas 9:51-56

“Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de expelir demônios. Eis os doze que designou: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer: filhos do trovão;” Marcos 3:13-17

“Subiu Judá, e o Senhor lhe entregou nas mãos os cananeus e os ferezeus; e feriram deles, em Bezeque, dez mil homens. Em Bezeque, encontraram Adoni-Bezeque e pelejaram contra ele; e feriram aos cananeus e aos ferezeus. Adoni-Bezeque, porém, fugiu; mas o perseguiram e, prendendo-o, lhe cortaram os polegares das mãos e dos pés. Então, disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, a quem haviam sido cortados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o levaram a Jerusalém, e morreu ali.” Juízes 1:4-7

Estes textos estão dentro de um contexto muito maior, mas por questões de simplificação, vamos analisar somente aquilo que se relaciona ao tema aqui estudado.

O nome Adoni-Bezeque significa “senhor do relâmpago, ou senhor do trovão”. Veja o que ele fazia aos setenta reis mencionados no texto: “a quem haviam sido cortados os polegares das mãos e dos pés”.

Ocorre que, Tiago e João, são chamados “filhos do trovão”. Ou seja, eles são a reprodução fiel deste Adoni-Bezeque. Não é de se admirar que eles vendo a reação dos samaritanos a Jesus (impedindo-O de atravessar por Samaria) quisessem mandar fogo do céu para os consumir (Lc 9:54).

Ora, isto nada mais é, na tipologia, do que uma menção à natureza humana caída que simplesmente deseja o poder, deseja fazer prevalecer a sua vontade, a despeito do preço envolvido para isto. Isto é o eu, caído, pervertido e cruel.

Observe que a questão é até mais profunda. Adoni-Bezeque cortava os polegares da mão e dos pés direito de seus “adversários”. Isto implica em tirar a identidade, o equilíbrio e desconstruir (neste sentido) parte dos locais onde o óleo da unção era passado na cerimônia de consagração dos sacerdotes (Lv 8:24).

O Senhor entendendo a seriedade do que Tiago e João (possivelmente fazendo a ligação com o texto de Juízes) disseram disse-lhes: “Vocês não sabem de que espírito sois…”. Logo, nesta perspectiva, é que devemos entender o caráter PACÍFICO da Sabedoria, muito mais do que os demais aspectos da PAZ acima mencionados.

O pacífico, neste sentido, tem haver em produzir mudanças em nosso comportamento sabiamente, em entender que cada indivíduo tem seu tempo e seu modo de entender e reagir ao agir de Deus. Tem haver com não querer impor a “nossa” vontade à força, mas pacientemente aguardar até que o coração seja alcançado, esperar para que a transformação de mente possa gerar um genuíno arrependimento que se reflita nas ações daí decorrentes. Isto é salvar a alma humana, o restante seria destruí-la.

Veja que o agir de Deus transformou João no apóstolo do Amor. Basta que se perceba suas amáveis palavras em suas cartas: “Meus filhinhos…!!!”

Coluna 03: Indulgente

Indulgente (Strong):

    1. Aparente, apropriado, conveniente
    2. Eqüitativo, íntegro, suave, gentil

Indulgente (Aurélio):

  1. Aquele que tem disposição para desculpar ou perdoar; clemente, tolerante.
  2. Aquele que se mostra favoravelmente disposto na apreciação de trabalhos ou atos de outrem.

Significado de Indulgência

Indulgência é a característica de quem é indulgente, ou seja, que tem facilidade em perdoar os erros cometidos por outros indivíduos.

A indulgência é relacionada com a clemência, tolerância e perdão, pois todas essas qualidades derivam a partir do ato de absolver alguém de um castigo ou uma punição.

Etimologicamente, o termo indulgência se originou a partir do latim indulgentia, que significa “bondade”, “para ser gentil” ou “perdão de uma pena”.

Na vida de Jesus é a expressão evidente desta característica de Ser, em especial no tocante ao exercício da indulgência. Para tanto vamos somente citar algumas dentre as passagens em que Ele exerceu o perdão de forma tão profunda e significativa.

“Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras. De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.]”
João 8:1-11

“Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,
porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”
Lucas 15:11-32

“Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados.” Lucas 7:36-48

A Tendência Humana de não Perdoar

O não perdoar não deixa de ser uma forma de o ofendido “punir” o próximo que lhe causou o dano. Se de um lado há uma grande dor pelo dano sofrido, de outro há um desejo consciente ou inconsciente de punição. Quando a pessoa é não perdoadora, o conflito resultante gera tensão. A tensão, por sua vez, pode gerar graves doenças. Sim, a amargura, o ressentimento e o rancor de modo algum são inofensivos. Tais emoções cáusticas são como a ferrugem que lentamente corrói o interior lentamente.

O que é ainda mais importante, nossa recusa de perdoar quando há base para misericórdia também pode prejudicar-nos em sentido espiritual. Aos olhos de Deus, talvez nos tornemos semelhantes ao escravo da ilustração de Jesus.

O amo havia perdoado uma enorme dívida do escravo. Todavia, quando um co-escravo implorou para que ele lhe perdoasse uma dívida relativamente insignificante, ele foi duro e não perdoou.

Jesus deixou claro que se nós similarmente não estivermos dispostos a perdoar, Deus se recusará a perdoar nossos pecados. (Mateus 18:21-35)

Aprendendo a Perdoar

O genuíno perdão provém do coração. Envolve perdoar o erro do ofensor e desistir de qualquer desejo de vingança. Assim, a justiça final e a possível punição são deixadas nas mãos de Jeová. — Romanos 12:19.

Deve-se notar, contudo, que visto que “o coração é mais traiçoeiro do que qualquer outra coisa e desesperadamente corrupto”, ele nem sempre está propenso a perdoar, mesmo quando devia. (Jeremias 17:9)

O próprio Jesus disse: “Do coração vêm raciocínios iníquos, assassínios, adultérios, fornicações, ladroagens, falsos testemunhos, blasfêmias.” — Mateus 15:19.

Felizmente, o coração pode ser treinado a fazer o que é correto. Contudo, o treinamento de que necessitamos precisa proceder duma fonte mais elevada. Não podemos fazê-lo sozinhos. (Jeremias 10:23)

Um divinamente inspirado salmista reconheceu isso e orou pedindo a orientação de Deus. Ele implorou a Deus em oração: “Ensina-me os teus regulamentos. Faze-me entender o caminho das tuas próprias ordens.” — Salmo 119:26, 27.

De acordo com outro salmo, o Rei Davi do antigo Israel chegou a “entender o caminho” de Deus. Ele vivenciou isso e aprendeu uma lição. Assim, podia dizer: “Deus é misericordioso e clemente, vagaroso em irar-se e abundante em benevolência. Assim como o pai é misericordioso para com os seus filhos, o Senhor tem sido misericordioso para com os que o temem.” — Salmo 103:8, 13.

Precisamos aprender assim como Davi. Estudar, junto com oração, o exemplo perfeito de perdão de Deus e o de seu Filho. Assim, poderemos aprender a perdoar de coração.

Na Bíblia, o arrependimento genuíno envolve mudar sinceramente de atitude, lamentar de coração quaisquer erros cometidos. Quando apropriado e possível, o arrependimento é acompanhado do esforço de compensar a vítima do pecado. (Lucas 19:7-10; II Coríntios 7:11)

Ao avaliar a possibilidade de perdão, a vítima de um grave pecado talvez queira considerar outra pergunta: Devo permanecer por demais perturbado emocionalmente, sentindo-me intensamente magoado e irado, até que o assunto seja totalmente resolvido?

Considere um exemplo. O Rei Davi ficou muitíssimo magoado quando seu general, Joabe, matou Abner e Amasa, “dois homens mais justos e melhores do que [Joabe]”. (I Reis 2:32) Davi expressou sua indignação verbalmente, e sem dúvida a Jeová em oração.

Com o tempo, porém, a intensidade dos sentimentos de Davi provavelmente amainou. O ressentimento não o dominou até o fim dos seus dias. Davi até continuou a trabalhar com Joabe, mas não perdoou esse assassino impenitente. Davi cuidou de que no fim a justiça fosse feita. — II Samuel 3:28-39; I Reis 2:5, 6.

Talvez leve algum tempo e esforço até que os afetados ou magoados pelos pecados graves de outros superem sua ira inicial. O processo de cura pode ser muito facilitado quando o ofensor reconhece seu erro e se arrepende. Contudo, uma vítima inocente do pecado deve poder achar consolo e alívio no seu conhecimento sobre a justiça e a sabedoria de Deus, e na congregação cristã, independentemente do proceder do transgressor.

Reconheça também que, ao perdoar um pecador, isso não significa que você está tolerando o pecado. Para o cristão, perdão significa deixar confiantemente o assunto nas mãos de Deus. Ele é o justo Juiz de todo o Universo, e ele executará a justiça no momento certo.

Os Benefícios do Perdão Concedido

O salmista Davi cantou: “Porque tu, ó Senhor, és bom e estás pronto a perdoar; e é abundante a benevolência para com todos os que te invocam.” (Salmo 86:5). Somos como o Senhor, “prontos a perdoar”?

Primeiro, perdoar a outros promove boas relações. A Bíblia exorta aos cristãos: “Tornai-vos benignos uns para com os outros, ternamente compassivos, perdoando-vos liberalmente uns aos outros, assim como também Deus vos perdoou liberalmente por Cristo.” — Efésios 4:32.

Segundo, o perdão resulta em paz. Não se trata apenas de paz com nossos semelhantes, mas paz interior também. — Romanos 14:19; Colossenses 3:13-15.

Terceiro, perdoar outros nos ajuda a lembrar que nós mesmos necessitamos de perdão. Sim, “pois todos pecaram e não atingem a glória de Deus”. — Romanos 3:23.

Por fim, perdoar outros abre o caminho para que os nossos pecados sejam perdoados por Deus. Jesus disse: “Se perdoardes aos homens as suas falhas, também o vosso Pai celestial vos perdoará.” — Mateus 6:14.

Imagine as muitas coisas em que Jesus deve ter pensado na tarde em que morreu. Ele estava preocupado com seus discípulos, com a pregação, e especialmente com sua integridade ao Pai. Todavia, mesmo enquanto sofria intensamente na cruz onde foi torturado, sobre o que falou? Entre suas últimas palavras ele disse: “Pai, perdoa-lhes.” (Lucas 23:34)

Coluna 04: Tratável

Tratável: ευπειθης eupeithes

  1. Disposto a ceder, facilmente persuadido, complacente.

Tratável: Acessível, Cordial, Afável, Benigno, Ajudador, Disponível, Atento, Dócil, Complacente, Sensível, Responsivo, Disposto, Cooperador.

Opostos de Tratável: Distante, Frio, Inacessível, Indiferente, Insensível, Egocêntrico.

Distorções de Tratável: Servil, Influenciável, Néscio, Simplório.

A palavra grega eupeithes significa “facilmente persuadido”; o contrário de obstinado. Essa sabedoria é aberta à razão. E ser uma pessoa comunicável, de fácil acesso.

Jesus era assim: as crianças, os rejeitados, os leprosos, os doentes, as mulheres, os publicanos, as prostitutas, os doutores tinham livre acesso a Ele. A Bíblia, entretanto, fala de Nabal, um homem duro no trato, com quem ninguém podia se comunicar (l Sm 25.3,17).

Creio que há pelo menos duas vertentes relacionadas a esta característica da Sabedoria. De um lado o homem tratável é apto a ceder, a reconsiderar, não é uma pessoa obstinada, uma pessoa de difícil trato e com quem se tem dificuldade de comunicação. Não é uma pessoa irredutível e que quer fazer sempre prevalecer sua opinião, sua vontade, seu entendimento. Antes é uma pessoa acessível, uma pessoa humilde, uma pessoa aberta a rever suas posições, uma pessoa apta a aprender e reaprender.

De outro lado, há a característica relacionada a ser sensível, responsiva, disposta, atenta, dócil e complacente. Isto configura uma pessoa que está atenta aos demais e não fica enclausurada em si mesma. Jesus de forma impressionante manifestou esta característica no relacionamento com todas as pessoas inclusive na Hora das horas de Seu ministério terreno.

“Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram-lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a quem caberá — para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os soldados.
E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.”
João 19:23-27

Jesus, neste episódio, não só manifestava que a relação de familiariedade em Cristo é superveniente a relação co-sanguínea, como deixou claro que os verdadeiros relacionamentos de cunho espiritual-familiar se processam aos pés da cruz.

Talvez ali estivessem uma mulher-mãe que precisava de um filho e de um discípulo-filho que carecia de uma mãe. Embora não houvesse parentesco co-sanguíneo, Jesus demonstrou por Suas Palavras a sensibilidade de Quem conhecia os Seus e ainda que sofrendo na cruz, se preocupava com eles.

“Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.
Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles.
E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?”
Lucas 24:13-32

Por evidente, que o ser “tratável” da parte de Jesus não significou rever uma posição por uma incorreção de Seu entendimento, mas de fazê-lo tendo em vista a necessidade dos discípulos-ouvintes.

Ou seja, o “ser tratável” implica de um lado em não ser obstinado, irredutível e inflexível; mas, de outro, significa ter a sensibilidade suficiente para “andar a segunda milha” quando a situação assim o exige, não necessariamente para um benefício pessoal, mas para a edificação de outros.

Ser tratável significa não ser influenciável, nem ser passível de ceder à opinião dos “mais fortes”, dos mais “contundentes”, mas ceder a um entendimento ou a uma determinada posição pelo “ouvir e discernir a voz do Senhor”. Especialmente quando isto traz edificação não só para nós mesmos mas, principalmente para o próximo e para os interesses do Senhor.

A Sabedoria do Alto nunca vai no sentido egocêntrico para auto-satisfação de quem busca glória pessoal, mas vai de encontro do próximo, em obediência às palavras do Senhor transmitidas pelo apóstolo Paulo: “Mais bem aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35).

Coluna 05: Plena de Misericórdia e de Bons Frutos

Misericórdia (Strong): ελεος eleos

1) Misericórdia: bondade e boa vontade ao miserável e ao aflito, associada ao desejo de ajudá-los

1a) De pessoa para pessoa: exercitar a virtude da misericórdia, mostrar-se misericordioso

1b) De Deus para os homens: em geral, providência; a misericórdia e clemência de Deus em prover e oferecer aos homens salvação em Cristo

1c) A misericórdia de Cristo, pela qual, em seu retorno para julgamento, Ele abençoará os verdadeiros cristãos com a vida eterna

Significado de Misericórdia:

Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). “Ter compaixão do coração”, significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.

A palavra Misericórdia tem origem latina, e é formada pela junção de miserere “ter compaixão”, e cordis “coração”. “Ter compaixão de coração”, significa ter a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente; aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém; ser solidário com as pessoas.

Portanto, a Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. Esse sentimento de ser misericordioso é atribuído a Deus nas diferentes religiões, incluindo o Cristianismo, o judaísmo e também no Islamismo.

Antigo Testamento

No Antigo Testamento as palavras que falam de Misericórdia são:

  1. Hesed
  2. Rahªmim.
  1. Hesed, que significa favor não merecido, afabilidade, benevolência e denota graça divina e Misericórdia. O termo em hebraico “hesed”, também indica uma profunda atitude de «bondade». Quando esta disposição se estabelece entre duas pessoas, estas passam a ser, não apenas benévolas uma para com a outra, mas também reciprocamente fiéis por força de um compromisso interior.

Hesed, expressa um presente imerecido e inesperado de graça divina que vai além de todas as expectativas e categorias humanas.  A Misericórdia é, sem dúvida, a qualidade predominante de Deus para com o ser humano (Ex 34, 6, Sl 86, 15).

Com o povo de Israel, Deus é compassivo, paciente e tolerante, ao ponto em que todo o bem que acontece com o ser humano é o resultado de Misericórdia de Deus, que se estende a todos e dura para sempre (Sl 136).

 Quando no Antigo Testamento o vocábulo hesed é referido ao Senhor, acontece sempre em relação com a aliança que Deus fez com Israel. Esta aliança foi da parte de Deus um dom e uma graça para Israel.

Contudo, uma vez que Deus, em coerência com a Aliança estabelecida, tinha-se comprometido a respeitá-la, hesed adquiria, em certo sentido, um conteúdo legal. O compromisso “jurídico” da parte de Deus, deixava de obrigar quando Israel infringia a aliança e não respeitava as condições da mesma.

E era precisamente então que hesed, deixando de ser uma obrigação jurídica, revelava o seu aspecto mais profundo: tornava-se manifesto aquilo que fora ao princípio, ou seja, amor que doa, amor mais potente do que a traição, graça mais forte do que o pecado.

  1. Rahªmim o matiz do seu significado é um pouco diverso do significado de hesed. Enquanto hesed acentua as características da fidelidade para consigo mesmo e da “responsabilidade pelo próprio amor”; rahªmim denota o amor da mãe (rehem= seio materno). Do vínculo mais profundo e originário da unidade que liga a mãe ao filho, brota uma particular relação com ele, um amor particular. Deste amor pode-se dizer que é totalmente gratuito, não fruto de merecimento, e que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma exigência do coração. Sobre este fundo psicológico, rahªmim dá origem a uma gama de sentimentos, entre os quais a bondade, a ternura, a paciência e a compreensão, florescem como prontidão para perdoar.

 Convém contextualizar o termo hesed à família de palavras em hebraico que remete a três raízes: hânan, râham e hâsad. Os significados destes três termos no Antigo Testamento convergem para a tradução como “Misericórdia”, mas devido a riqueza e complexidade semântica aparecem, dependendo do contexto e tradução como bondade, benignidade, solidariedade, graça, lealdade…

Assim, começando pelo livro do Êxodo: “O Senhor, o Senhor, o Deus compassivo e clemente, paciente, misericordioso e fiel, que conserva a Misericórdia até a milésima geração…” (Ex 34, 6-7a).

Passando por Oséias, pelo capítulo 16 de Ezequiel, o Cântico dos Cânticos (Is 54, 5-10 e Is 62, 4-5) “Tua terra será chamada desposada. Assim teu criador te desposará, assim encontrará em ti sua alegria”.

Misericórdia que encontra na amorosa mãe uma imagem – como no capítulo 11 do livro de Oséias: “Israel era ainda criança, e já eu o amava”; ou no capítulo 49 de Isaías: ”O Senhor chamou-me desde o meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, Ele pronunciou o meu nome”; Is 49, 15: Mesmo que uma mãe se esqueça do seu filho, nunca me esquecerei de ti. Is 66: “Sereis carregados no colo e acariciados no regaço”.

Na Misericórdia do Senhor para com os seus, manifestam-se todos os matizes do amor: Deus é para eles Pai (Is 63,16), dado que Israel é seu filho primogênito (Ex 4, 22); ele é também o esposo daquela a quem o Profeta anuncia um nome novo: “bem amada” (ruhama), porque será usada Misericórdia para com ela (Os 2,3).

Mesmo quando o Senhor, exasperado pela infidelidade do seu povo, decide acabar com ele, são ainda a compaixão e o amor generoso para com os seus que o levam a superar a sua indignação (Os 11,7-9).

E então, torna-se fácil compreender a razão pela qual os salmistas, ao quererem cantar ao Senhor os mais sublimes louvores, entoarão hinos ao Deus do amor, da compaixão, da Misericórdia e da fidelidade (Sl 103).

De tudo isso se deduz que a Misericórdia, além de fazer parte de Deus, é algo que caracteriza a vida de todo o povo de Israel e de cada um dos seus filhos e filhas: é o conteúdo da intimidade com o seu Senhor, o conteúdo do seu diálogo com Ele. Precisamente sob este aspecto, a Misericórdia é apresentada em cada um dos Livros do Antigo Testamento com uma grande riqueza de expressões.

Deste modo, a Misericórdia se contrapõe, em certo sentido, à justiça divina; e revela-se em muitos casos, não só mais potente, mas também mais profunda do que ela.

Já no Antigo Testamento se ensina que, embora a justiça no homem seja autêntica virtude e em Deus signifique a perfeição transcendente, contudo o amor é “maior” do que a mesma justiça; e é maior no sentido de que, relativamente a ela, é primário e fundamental.

A Misericórdia motiva a oração e fundamenta a confiança do povo de Israel. Adia o castigo, mitiga-o e até mesmo o suspende, e triunfa libertando o necessitado. A Misericórdia é o arco extremo que abrange todas as etapas históricas e estabelece a última: porque a Misericórdia de Deus torna a conversão possível e a transformação do homem real.

Novo Testamento

O termo Misericórdia no Novo Testamento é identificado com o substantivo grego “eleos”. Também é definido com o verbo grego “eleao”. Tanto o substantivo como o verbo significam o sentimento que é experimentado no infortúnio que aflige a outra pessoa e a ação que decorre desse sentimento.

Portanto, a Misericórdia de Deus no Novo Testamento se revela como um amor compassivo que vai onde há sofrimento e cura todo tipo de males, mas também revela que é um Deus que perdoa, reconcilia e regenera o homem.

Jesus dá mostras constantes dessa Misericórdia em sentimento e em obras: à multidão (Mc 6,34) aos doentes (Mt 14,4), à viúva (Lc 7,13). Também revela o perfil do Pai como sendo um Deus rico em Misericórdia (Lc 15,20).

 O verbo “eleein”, no sentido de ter compaixão, ajuda compassiva, piedade, aparece nos sinópticos nas histórias sobre eventos que destacam a irrupção da Misericórdia divina em desgraças humanas (Mc 5,19, 10,47,48: Mt 20,30,31 e Lc 18,38,39).

Existe o termo em consonância com a “yess” hebraica (bondade), no Antigo Testamento, que é o comportamento que Deus exige que uma pessoa observe com outra (Lc 10, 25-37). Em Mateus 5,7; 18, 33, o verbo ”eleeo”, expressa a Misericórdia que uma pessoa deve sentir em relação a outra.

 Os evangelhos falam sobre a vida de Jesus, uma vida desenvolvida sob o signo da Misericórdia de Deus que intervém na história da humanidade. A vida de Jesus é a cumprimento da promessa e da salvação (Mt 1,22), no contexto de uma história de Compaixão de Deus pela humanidade (Lc 1,50-78).

Jesus anuncia Misericórdia por onde anda, pois Ele é a Misericórdia de Deus que se faz presente no meio do seu povo.  Isso é a grande verdade que os evangelhos anunciam. Em Marcos e Lucas, essa Misericórdia é expressada pelo anúncio do reinado de Deus que faz Jesus (Mc 1,1,14).

Esta enunciação realizada com sinais que restabelecem a dignidade das pessoas e eles mostram que Jesus veio para “Anunciar as boas novas aos pobres e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-21).

 Jesus não só cura os doentes (Mc 2,17; Lc 5:21), também restaura dignidade dos que são excluídos, por não cumprir com o Parâmetros morais ou religiosos, em seu tempo, e oferece reconciliação aos necessitados de perdão e compreensão.

Isto é demonstrado pela sua atitude cheia de indulgência e favor dos pecadores, que acham nele um “amigo” (Lc 5,34), que não tem dúvidas sobre seu coração, apesar das dúvidas de muitos, chegando até mesmo sentar-se em sua mesa (Lc 5,27-32; 7,36-50; 15,1-2; 19,1-10).

 Por outro lado, Jesus procura com suas palavras comunicar claramente o significado da Misericórdia de Deus, especialmente através de parábolas que as pessoas entendem. As chamadas parábolas da Misericórdia (Lc 15,3-20) diz Jesus para justificar sua compaixão e condescendência com publicanos e pecadores (Lc 15,1-2).

As duas primeiras, a da ovelha perdida e o do Dracma que perdeu (15,3-10), são analogias da alegria que causa a conversão no céu, mesmo que seja apenas um pecador. Para Jesus, aqueles que não merecem Misericórdia, de acordo com os fariseus, são comparáveis à ovelha ou ao dracma perdido e encontrado.

A terceira mostra como um Filho pródigo e libertino está, ansiosamente, aguardado pelo seu próprio pai, que aguarda seu retorno e que, quando visto de longe, o reconhece, enche seu coração de compaixão e corre para abraçá-lo (Lc 15, 11-32).

É a imagem mais vívida do amor ilimitado do Pai celestial.  Jesus revela que Deus não mantém a ira contra ele pecador, mas espera pacientemente por sua volta para casa com os braços abertos. Esta imagem ocupa o centro da mensagem de Jesus sobre Deus. Para Jesus, Deus é Pai, porque apenas o amor de pai ou mãe podem explicar o amor incondicional e gratuito de Deus.

 O apóstolo Paulo apresenta Jesus Cristo como rosto da Misericórdia divina: Cristo, tendo feito tudo semelhante aos irmãos e tendo experimentado em sua própria carne a dureza do sofrimento humanos (Hb 2,17-18), é “Imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação” (Cl 1,15; cf II Cr 4: 4), o Filho o unigênito do Pai, o “reflexo de sua glória, expressão do seu ser” (Hb 1,3).

Assim como na pregação dos Profetas, a Misericórdia significa a especial força do amor, que prevalece sobre o pecado e sobre a infidelidade do povo eleito. Também hoje o homem é chamado a viver a Misericórdia de Deus quando está distante do caminho de Deus, longe do Pai, e, portanto, vive uma vida distorcida de dos valores cristãos, é nesse momento que mais precisa dos cuidados do Pai amoroso e misericordioso que espera com os braços abertos para que o homem volte para a casa paterna junto de Deus.

 A Misericórdia divina é a qualidade quase predominante de Deus com relação ao homem; inclui os aspectos de compaixão, ternura, clemência, piedade, paciência, tolerância. A rigor, todo benefício de Deus ao homem tem carácter de Misericórdia, pois não se baseia em direitos ou méritos humanos, mas na própria essência de Deus.

Bons Frutos:

“E dize-lhe: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do Senhor.
Ele mesmo edificará o templo do Senhor e será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios.”
Zacarias 6:12,13

“Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.
Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos;
mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins. O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco.
Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.
Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada.”
Isaías 11:1-10

“Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino.
Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel.
Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galileia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.”
Mateus 2:19-23

Estes três textos demonstram a Grandeza dos Frutos do Senhor, provenientes de Sua Vida. A palavra Nazareno no hebraico é “Natzar”, que significa Renovo. Logo, ao mencionar o Renovo no Antigo Testamento o que Deus fazia era nos dar indicação de que Seu Filho seria aquele que, intitulado como Nazareno no Novo Testamento, viria para dar vida aos homens por meio de Sua entrega voluntária na cruz do Calvário.

Os homens frequentemente são comparados a árvores na Bíblia. Interessante notar que o propósito de Deus não muda. Assim como Ele desejava que o homem comesse da Árvore da Vida, agora Ele nos dá Seu Filho para que recebamos esta Vida por meio do “tronco da raiz de Jessé, de onde sairá um REBENTO, e das suas raízes, um RENOVO”. Então, agora entendemos a fala de Jó em Jó 14:7-9:

“Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova.” Jó 14:7-9

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado;
permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.
Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.”
João 15:1-17

Coluna 06: Imparcial

Imparcial (Grego): αδιακριτος adiakritos

1) indistinto, ininteligível

2) sem dúvida, ambigüidade ou incerteza

Derivado de διακρινω diakrino

1) separar, fazer distinção, discriminar, preferir

2) aprender por meio da habilidade de ver diferenças, tentar, decidir

2a) determinar, julgar, decidir um disputa

3) fugir de alguém, desertar

4) separar-se em um espírito hostil, opor-se, lutar com disputa, contender

5) estar em divergência consigo mesmo, hesitar, duvidar

O termo traduzido sem parcialidade (adiakritos) não ocorre em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Ele significa “sem ambigüidade” (Moffatt), “sem incerteza” (NVI), “franco” (NEB), “imparcial” (ARA).

Em nosso relacionamento com os outros precisamos ser sinceros, sem uma alusão de desonestidade e sem o encobrimento de fatos. Paralelamente, o termo indica que não devemos ser parciais, nem agir de forma que façamos acepção de pessoas.

Em resumo, o termo IMPARCIAL nos ensina que a Sabedoria é:

  1. Sincera, verdadeira, não encobre os fatos e nem os trata com desonestidade.
  2. Não é ambígua, nem se estabelece na incerteza, mas na convicção da Verdade.
  3. É não parcial, não exerce preferências e nem faz acepção de pessoas.

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.” 1 Pedro 1:17-21

“Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;
pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas.”
Colossenses 3:22-25

“E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus e que para com ele não há acepção de pessoas.” Efésios 6:9

“Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor. Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.” Atos 10:30-35

“Na verdade, Deus não procede maliciosamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo. Quem lhe entregou o governo da terra? Quem lhe confiou o universo?
Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó.
Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos ao som das minhas palavras. Acaso, governaria o que aborrecesse o direito? E quererás tu condenar aquele que é justo e poderoso? Dir-se-á a um rei: Oh! Vil? Ou aos príncipes: Oh! Perversos? Quanto menos àquele que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima ao rico mais do que ao pobre; porque todos são obra de suas mãos.”
Jó 34:12-19

“Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz.
Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno; que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes. Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.”
Deuteronômio 10:16-19

Coluna 07: Sem Fingimento

Sem Fingimento: ανυποκριτος anupokritos

1) não fingido, franco, sincero

Derivado de υποκρινομαι hupokrinomai

1) tomar a opinião de outro como referência ao que alguém decidiu para si mesmo

1a) replicar, responder

2) dar resposta (falar) sobre o palco

2a) personificar algo, representar um personagem

3) simular, fingir, pretender

Hipocrisia (Dicionário Aurélio):

Característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação.

Ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade.

A verdadeira sabedoria é sem hipocrisia . Não é uma pose, uma máscara que tem por finalidade fazer a que outros pensem que se é algo diferente do que realmente é.

Não é um mestre do disfarce e estratégia. É uma pessoa cristalina, transparente, verdadeira, sincera que o torna facilmente acessível; no sentido positivo da palavra “humana”.

Relação do Fingimento com a Hipocrisia, Legalismo e a busca de Glória Pessoal

“Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.
Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo.
Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando! [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo!]
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!”
Mateus 23:1-15

Relação do Fingimento e a Hipocrisia com as “Segundas Intenções”

“E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra. Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar?
Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.”
Marcos 12:13-17

O Fingimento e a Hipocrisia – Relação a falta de integridade dos Fariseus

“Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados.” Lucas 12:1-3

Obs: Os fariseus são não íntegros, no sentido de que são fragmentários. Aquilo que são do lado de dentro, não o são do lado de fora. Em certos casos isto pode assumir, na natureza humana, ares de esquizofrenia; em outros, quando intencionalmente manifestados, são mera expressão de pessoas não confiáveis, destituídas de verdade em sua essência.

A relação antagônica entre o Amor e o Fingimento e a Hipocrisia

“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor;” Romanos 12:9-11

A correlação entre três elementos fundamentais: Amor/Pureza, Boa Consciência e Fé sem hipocrisia.

“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé. Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.”
I Timóteo 1:1-7

O Fingimento e a Hipocrisia deliberada

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência,” 1 Timóteo 4:1,2

O Fingimento e a Hipocrisia e a relação com o Velho Homem – A necessidade do Despojamento

“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.”
I Pedro 2:1-5

Retornando aos versículos em Tiago:

Vs 18. “Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.” Tiago 3:13-18

Fruto(Strong): καρπος karpos

1) fruta

1a) fruto das árvores, das vinhas; colheitas

1b) fruto do ventre, da força geratriz de alguém, i.e., sua progênie, sua posteridade

2) aquele que se origina ou vem de algo, efeito, resultado

2a) trabalho, ação, obra

2b) vantagem, proveito, utilidade

2c) louvores, que são apresentados a Deus como oferta de agradecimento

2d) recolher frutos (i.e., uma safra colhida) para a vida eterna (como num celeiro) é usado figuradamente daqueles que pelo seu “esforço” têm almas preparadas almas para obterem a vida eterna

Derivado de :αρπαζω harpazo

de um derivado de G138; TDNT – 1:472,80; v

1) pegar, levar pela força, arrebatar

2) agarrar, reivindicar para si mesmo ansiosamente

3) arrebatar

Justiça (Strong): δικαιοσυνη dikaiosune

1) num sentido amplo: estado daquele que é como deve ser, justiça, condição aceitável para Deus

1a) doutrina que trata do modo pelo qual o homem pode alcançar um estado aprovado por Deus

1b) integridade; virtude; pureza de vida; justiça; pensamento, sentimento e ação corretos

2) num sentido restrito, justiça ou virtude que dá a cada um o que lhe é devido

Derivado de δικαιος dikaios

1) justo, que observa as leis divinas

1a) num sentido amplo, reto, justo, virtuoso, que guarda os mandamentos de Deus

1a1) daqueles que se consideram justos, que se orgulham de serem justos, que se orgulham de suas virtudes, seja reais ou imaginárias

1a2) inocente, irrepreensível, sem culpa

1a3) usado para aquele cujo o modo de pensar, sentir e agir é inteiramente conforme a vontade de Deus, e quem por esta razão não necessita de reticação no coração ou na vida

1a3a) na verdade, apenas Cristo

1a4) aprovado ou aceitado por Deus

1b) num sentido mais restrito, dar a cada um o que merece e isto em um sentido judicial; emitir um juízo justo em relação aos outros, seja expresso em palavras ou mostrado pelo modo de tratar com eles.

O Fruto de Justiça e a relação com a Disciplina

“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,
olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus (FOCO), o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.”
Hebreus 12:1-11

O Fruto da Justiça como resultante da Disciplina, Perseverança e Constância

“Irmãos, cumpre-nos dar sempre graças a Deus no tocante a vós outros, como é justo, pois a vossa fé cresce sobremaneira, e o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando, a tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais, sinal evidente do reto juízo de Deus, para que sejais considerados dignos do reino de Deus, pelo qual, com efeito, estais sofrendo; se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho). Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé, a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.” II Tessalonicenses 1:3-12

O Fruto de Justiça e o processo da necessária transformação interior para a entrada no Reino

“Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”
II Pedro 1:3-11

O Fruto de Justiça e o ser Sincero e Inculpável para o Dia de Cristo

“Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo. Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus. Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.”Filipenses 1:3-18

Obs: Veja que neste contexto havia muitos que serviam a si mesmos e não a Cristo. Pregavam “por inveja e porfia” , pregavam “por discórdias, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias”, conforme as palavras de Paulo.

O Fruto de Justiça como manifestação exterior da Vida

“Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Mateus 7:13-21

As Vestimentas como manifestação dos Atos de Justiça que expressam a Vida

“Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos. Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus.” Apocalipse 19:7-9

Obs: Veja a mutualidade relacional que está envolvida na questão deste ataviamento: À esposa “lhe foi dado vestir-se” (O Agir do Senhor nela); porém, no mesmo texto diz, “cuja esposa a si mesma se ataviou”(a resposta dela ao agir do Senhor).

“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” Efésios 2:10

Capítulo 04

A nota de abertura do capítulo 04 está em forte contraste com o fechamento do capítulo 03. No capítulo 03 Tiago fala da paz da Sabedoria Divina; aqui ele trata do problema do conflito carnal.

“Guerras exteriores vêm de guerras interiores”. Aqui está a verdade que Tiago procura deixar claro para os seus leitores. Ele estava tratando de um problema que ocorria no círculo de crentes. Ele continua se dirigindo aos “meus irmãos” (1.2; 2.1; 3.1, 10; 4.11).

Esses eram cristãos professos, mas eles NÃO estavam dando um bom exemplo como seguidores de Cristo. Na sua comunhão, havia inveja e sentimento faccioso (3.14). Em um apelo à consciência, Tiago pergunta: Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? (v. 1). Não são elas guerras travadas em seu próprio espírito?

Essas guerras são uma projeção da guerra instalada em nosso próprio peito. Carregamos uma guerra dentro de nós. Desejamos o nosso próprio prazer à custa dos outros (4.2). Em vez de lutar, Tiago diz que devemos orar (4.2,3).

Warren Wiersbe, comentando este texto, diz que Tiago fala sobre três tipos de guerras que enfrentamos: contra as pessoas, contra nós mesmos e contra Deus.

  1. Em guerra contra as pessoas (Tg 4.1,11,12)

O Salmo 133.1 diz: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” Certamente, os irmãos deveriam viver unidos, em harmonia, mas muitas vezes eles vivem em guerra.

  • Os pastores de Ló entraram em contenda com os pastores de Abraão.
  • Absalão conspirou contra o seu pai Davi.
  • Os próprios discípulos geraram tensões entre si, perguntando para Jesus quem era o maior entre eles.
  • Às vezes, os membros da igreja de Corinto entravam em contendas e levavam essas guerras para os tribunais do mundo (ICo 6.1-8).
  • Na igreja da Galácia, os crentes estavam se mordendo e se devorando (Gl 5.15).
  • Paulo escreveu aos crentes de Efeso, exortando-os a preservarem a unidade no vínculo da paz (Ef 4.3).
  • Na igreja de Filipos, duas mulheres, líderes da igreja, estavam em desacordo (Fp 4.1-3).
  • Tiago já havia denunciado a guerra de classes (2.1-9). Os ricos recebiam toda a atenção e os pobres eram ignorados.
  • Tiago também denunciou a guerra entre patrões e empregados (5.1-6), quando os ricos estavam retendo com fraude os salários dos ceifeiros.
  • Tiago denuncia ainda a guerra dentro da igreja (1.19,20). Os crentes estavam ferindo uns aos outros com a língua e com um temperamento descontrolado.
  • Finalmente, Tiago denuncia uma guerra pessoal (4.11,12). Os crentes estavam vivendo em constante clima de hostilidade. Os crentes estavam falando mal uns dos outros e julgando uns aos outros. Nós precisamos examinar primeiro a nossa própria vida e depois ajudar os outros (Mt 7.1-5). Não somos chamados para ser juizes. Deus é o nosso juiz.

O mundo vê essas guerras dentro das denominações, dentro das igrejas, dentro das famílias e isso é uma pedra de tropeço para a evangelização. Este é um dos motivos pelos quais Jesus orou pela unidade (Jo 17.21).

Como podemos estar em guerra uns contra os outros se pertencemos à mesma família, se confiamos no mesmo Salvador, se somos habitados pelo mesmo Espírito? A resposta de Tiago é que temos uma guerra dentro de nós.

Tiago aborda aqui três coisas:

  1. Primeiro, um fato: há guerra entre os irmãos. Essa guerra representa o contínuo estado de hostilidade e antagonismo.
  2. Segundo, uma causa: os prazeres que militam na nossa carne. Tiago diz que os nossos desejos são como um campo armado pronto para guerrear.
  3. Terceiro, uma prática: a cobiça.
  4. Em guerra contra nós mesmos (Tg 4.1 b-3)

A fonte de todas essas guerras está dentro do nosso próprio coração (4.1; 3.14,16). A essência do pecado é o egoísmo.

  1. Eva caiu porque quis ser igual a Deus.
  2. Abraão mentiu porque queria se proteger (Gn 12.10-20).
  3. Acã causou derrota a Israel porque egoisticamente tomou o que era proibido.
  4. Somos como Tiago e João, queremos lugar especial no trono.

Desejos egoístas são coisas perigosas. Eles levam a ações erradas (4.2). E eles levam a orações erradas (4.3). Tiago agora se move do relacionamento errado com outros irmãos para um relacionamento errado com Deus.

Quando as nossas orações são erradas, toda a nossa vida está errada. Nossas orações não são respondidas quando há guerras entre os irmãos e paixões dentro do coração.

Quando temos guerra com os irmãos, temos a comunhão interrompida com Deus. A oração seria a solução (4.2b), mas na prática, a oração não funciona (4.3a) porque ela está motivada pela mesma razão que provoca as contendas (4.3b).

“Não cobiçarás” é o décimo e último mandamento da lei. Por meio dele tomamos conhecimento da malignidade do nosso pecado (Rm 7.7). Ele descobre não nossos atos, mas nossos desejos e intenções. Ele tira uma radiografia do nosso interior.

Quebramos toda a lei quando quebramos esse mandamento. Desejo egoísta e oração egoísta conduzem à guerra. Se há guerra do lado de dentro, haverá guerra do lado de fora.

O nosso coração é o laboratório onde as guerras são criadas, a estufa onde elas germinam e crescem, o campo onde elas dão o seu fruto maldito. Observe esta dramática descrição:

Esta é uma lista de “armas e estratégias usadas nas lutas e disputas da igreja”. E quase tão verdadeira que chega a ser cômica! Essas armas aproximam-se, em muito, às mencionadas por Tiago.

  1. Mísseis – atacam os membros da igreja à distância.
  2. Táticas de guerrilha — armam emboscadas contra alguém que esteja desavisado.
  3. Franco atiradores – são os críticos com boa pontaria.
  4. Terrorismo – ninguém fica imune de ser atingido.
  5. Minas – seu uso assegura que outros falharão em seus esforços de servir a Deus.
  6. Espionagem — uso de amizades para se obter informações potencialmente danosas sobre outras pessoas.
  7. Propaganda – uso da intriga para difundir informações prejudiciais sobre outros.
  8. Guerra fria – “coloca em gelo” um oponente, ao se evitar ou se recusar a manter diálogo com a pessoa.
  9. Ataque nuclear – mantém o usuário desejoso de sacrificar a igreja se os alvos do seu grupo não forem atingidos.

Tiago nos mostra a localização exata das usinas de fabricação de todas estas armas: o problema está em nós mesmos.

Em guerra Deus (Tg 4.4-10)

A raiz de toda a guerra é rebelião contra Deus. Mas como um crente pode estar em guerra contra Deus? Cultivando amizade com os inimigos de Deus. Tiago cita três inimigos com quem não podemos ter amizade, se desejamos viver em paz com Deus. Tiago fala de tentações que estão fora de nós (o mundo e o diabo) e tentações que estão dentro de nós (a carne).

Em primeiro lugar, Tiago fala do mundo (4.4). A palavra kosmos foi empregada em um sentido ético, para indicar uma sociedade corrupta, ou o princípio do mal que opera sobre os homens. O mundo aqui é a sociedade humana com seus valores, princípios e filosofia vivendo à parte de Deus.

Esse sistema que rege o mundo é anti-Deus. Se o mundo valoriza a riqueza, começamos a valorizar a riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio, começamos a valorizar o prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores do mundo.

Um crente pode tornar-se amigo do mundo gradativamente:

  1. Primeiro, sendo amigo do mundo (4.4).
  2. Segundo, sendo contaminado pelo mundo (1.27).
  3. Terceiro, amando o mundo (I Jo 2.15-17).
  4. Quarto, conformando-se com o mundo (Rm 12.2).

O resultado é ser condenado com o mundo (lCo 11.32). Assim, seremos salvos como que por meio do fogo (lCo 3.11-15). Amizade com o mundo é uma espécie de adultério espiritual.

O crente está casado com Cristo (Rm 7.4) e deve ser fiel a Ele (Is 54.5; Jr 3.1-5; Ez 23; Os 1-2; lCo 11.2). O mundo é inimigo de Deus e ser amigo do mundo é constituir-se em inimigo de Deus.

Não dá para ser amigo do mundo e de Deus ao mesmo tempo. Temos que tomar cuidado com as pequenas coisas. O mundo envolve as pessoas pouco a pouco. Ninguém se torna um viciado em álcool do dia para a noite. Ninguém se lança de cabeça nas aventuras loucas das drogas no primeiro trago ou na primeira picada. Ninguém começa uma vida licenciosa num primeiro flerte. A sedução do mundo é como uma fenda numa barragem, começa pequena, mas pode conduzir a um grande desastre.

Em segundo lugar, Tiago fala da carne (4.1,5). A carne é a nossa velha natureza. A carne não é o corpo. O corpo não é pecaminoso. Warren Wiersbe diz que o Espírito pode usar o corpo para glorificar a Deus ou a carne pode usar o corpo para servir o pecado.

Na conversão recebemos uma nova natureza, mas não perdemos a velha. Ela precisa ser crucificada. Essas duas naturezas estão em conflito (G1 5.17). E isso que Tiago diz no versículo 01.

Há paixões carnais que buscam nos colocar em guerra contra Deus. Devemos fugir dessas paixões (lCo 6.18; II Tm 2.22). Fugir não é um gesto desprezível. José do Egito fugiu da mulher de Potifar. A única maneira de vencer as tentações da carne é fugindo, fugindo do lugar, das circunstâncias, das pessoas.

Obs: Para detalhamento desta Verdade consultar na Seção de Vídeos do Site o estudo “Homem de Deus, foge destas coisas” em que são apresentadas as coisas das quais o Homem de Deus deve fugir, segundo a Palavra de Deus.

Viver na carne significa entristecer o Espírito Santo que vive em nós (Ef 4.30). O Espírito de Deus habita em nós e anseia por nós com zelo (4.5), ele não nos divide com ninguém. Estamos casados com Cristo.

Em terceiro lugar, Tiago fala do diabo (4.6,7). O pecado predileto do diabo é a vaidade, o orgulho. Ele tenta as pessoas nessa área (4.6,7). Ele tentou Eva e tenta os novos crentes (l Tm 3.6). Deus quer que dependamos dele enquanto o diabo quer que dependamos de nós. O diabo gosta de encher a nossa bola.

O grande problema da igreja hoje é que temos muitas celebridades e poucos servos. Há tanta vaidade humana que não sobra espaço para a glória de Deus.

Como podemos vencer esses três inimigos? Tiago nos informa que Deus está incansavelmente do nosso lado (4.6). Ele sempre nos dá graça suficiente para vencer. Mas a graça de Deus não nos isenta de responsabilidade.

Nos versículos 7-10 há vários mandamentos para obedecer. A graça não nos isenta da obediência. Quanto mais graça, mais obediência.

Tiago menciona quatro atitudes, que podem nos dar vitória:

  1. Submissão a Deus,
  2. Resistência ao diabo,
  3. Comunhão com Deus
  4. Humildade diante de Deus.

Em primeiro lugar, devemos nos submeter a Deus (4.7). Essa palavra é um termo militar que significa fique no seu próprio posto, ponha-se no seu lugar. Quando um soldado quer se colocar no lugar do general ele tem grandes problemas. Renda-se incondicionalmente.

Ponha todas as áreas da sua vida sob a autoridade de Deus. Por isso um crente rebelde não pode viver consigo nem com os outros. Davi pecou contra Deus, adulterando, mentindo, matando Urias e escondendo o seu pecado. Mas quando ele se humilhou, se submeteu e confessou, encontrou paz novamente com Deus.

Em segundo lugar, devemos resistir ao diabo (4.7). O diabo não é para ser temido, mas resistido. Somente quem se submete a Deus pode resistir ao diabo. A Bíblia nos ensina a não dar lugar ao diabo (Ef 4.27).

Em terceiro lugar, devemos manter-nos perto de Deus (4.8). Quanto mais perto de Deus ficamos, mais parecidos com Jesus nós nos tornamos. Comunhão com Deus é uma pista de mão dupla. Quando nos chegamos a Deus, ele se chega a nós. Não podemos ter comunhão com Deus e com o pecado ao mesmo tempo (4.8b). Comunhão com Deus implica em purificação (4.8b).

Finalmente, devemos nos humilhar diante de Deus (4.9,10). Temos a tendência de tratar o nosso pecado de forma muito leve e condescendente. Tiago exorta-nos a enfrentar seriamente o nosso pecado (4.9).

A porta da exaltação é a humilhação diante de Deus (4. 10). Deus não despreza o coração quebrantado (SI 51.17). Deus olha para o homem que é humilde de coração e treme diante da Sua Palavra (Is 66.2). Quando estamos em paz com Deus, temos paz uns com os outros e então, uma fonte de paz começa a jorrar de dentro de nós!

“Sujeitai-vos, portanto a Deus; mas resisti ao diabo…” Tg 4:7 – Breve Explicação

Ao longo do Livro de Juízes nós vamos ver que através daqueles Juízes, DEUS demonstra algo relacionado a Batalha Espiritual com respeito a vida interior. É um estudo muito interessante.

  1. Otniel tipifica um conflito espiritual com o mundo (MUNDANISMO)
  2. Eúde tipifica o nosso conflito com a carne (CARNALIDADE)
  3. Jabim tipifica o conflito com as nossas cobiças e paixões (PAIXÕES E COBIÇAS)
  4. Gideão, na época dos midianitas tipifica aquilo que embora lícito nos “saqueia” Cristo e também a questão do medo como potencial impeditivo do trabalhar de Deus em nós.
  5. Sansão tipifica o nosso conflito com o nosso próprio eu. (EU).

Obs: Para maior detalhamento destas questões em detalhes consulte o “Resumo sobre o Livro de Juízes – As Batalhas Espirituais”.

Assim poderemos ver como este combate se processa na esfera espiritual. E veja que o mero discernimento não nos garante vitória, mas em contrapartida, na medida em que tivermos clareza que as nossas vidas não estão em acordo com os princípios da Palavra de DEUS e que não estamos andando verdadeiramente com Ele nesta ou naquela esfera de nossas vidas, então nós poderemos ter certeza de que estaremos abrindo BRECHAS para a operação das hostes espirituais do mal e que nós estaremos então propensos a servir de alimento para estas mesmas hostes da maldade. E não somente isto, certamente teremos a Batalha Espiritual intensificada e, até mesmo, poderemos dar lugar ao diabo. Veja quão sério é este assunto.

Se voltarmos a expressão-chave citada em Tiago veremos que ela tem o seu correspondente no tocante ao texto lido em Juízes.

  1. Vs12 do Cap02 de Juízes – “Deixaram o Senhor, DEUS de seus pais…”
  2. Vs14 do Cap02 de Juízes – “…e não puderam mais resistir a eles.”
  3. Vs 07 do Cap04 de Tiago – “Sujeitai-vos pois a DEUS e resisti ao diabo e ele fugirá de vós…”

Veja que o não sujeitar-se a DEUS envolve o deixar ao Senhor. Como conseqüência vem a derrota diante dos inimigos. Porque? Por causa dos princípios até então colocados.

Na medida da obstinação daqueles corações, de sua desobediência, do não andar em comunhão e intimidade com o Senhor, eles experimentaram derrota. A visão da derrota pelo “lado de fora” era mera manifestação de uma derrota, anterior, acontecida pelo “lado de dentro”.

É por isto que, tipologicamente falando, os judeus aguardavam um Messias que fosse um libertador político. Mas DEUS, em Cristo, estava provendo um libertador espiritual com vistas ao estabelecimento de um Reino, mais interior, que obviamente tinha o seu correspondente no aspecto exterior visível.

E foi a isto que Jesus se referiu quando disse que o Reino de DEUS não viria com exterior aparência, porque “o Reino de DEUS está dentro de vós…”(Lc 17:21). Assim vemos a resultante da vitória de DEUS, no aspecto subjetivo quanto a nós, no que concerne a Batalha Espiritual.

Ou seja, muito antes de ser uma vitória contra o Seu inimigo é um vitória obtida por Ele em nós, da qual somos participantes por meio da resposta que damos em nossas atitudes e da qual nos tornamos participantes, na mesma medida em que permitimos que Cristo seja TUDO EM NÓS.

Aqui então encontramos uma outra questão que parte do povo de DEUS não tem se apercebido como princípio da Palavra de DEUS. Em grande medida, a opressão que o povo de DEUS sofria na época de Jesus, estando sob a dominação dos Romanos, era fruto de um afastamento espiritual do Seu Senhor, do Seu Senhorio.

Portanto antes que venha a libertação política deve haver a libertação espiritual. Mas então qual é o erro nos dias atuais? É a falsa compreensão de que a participação dos filhos de DEUS na política deste mundo poderia então fazer mudar este estado de coisas, quem sabe até mesmo fazendo com que o Reino de DEUS seja manifestado sobre esta terra.

Impossível se processar desta forma. Porque, fazendo assim, se estaria invertendo a forma de DEUS estabelecer o Seu Reino. Nunca parte do exterior para o interior, mas sempre se dá da forma oposta. Não que devamos ficar impassíveis às injustiças desta presente era, mas é que devemos, num processo de íntima comunhão e obediência a Sua voz, “andar nas obras que Ele de antemão preparou para que andássemos nelas”. E tão somente nelas.

Paralelamente a isto, é interessante ver o apóstolo Paulo dizendo que aquele que foi chamado por Cristo sendo escravo é liberto do Senhor, mas aquele que foi chamado sendo livre é escravo de Cristo. Veja a íntima correlação entre o Reino de DEUS, a Batalha Espiritual e a medida de Consagração de nossas vidas a Ele.

A Palavra de DEUS diz claramente que este mundo experimentará o Senhor Jesus governando politicamente. Ele vai descer no Monte das Oliveiras, Ele vai julgar o anticristo. Ele vai reinar aqui nesta terra por mil anos. Ele há de destronar o anticristo, Ele há de reinar e as nações andarão mediante a Sua Luz. É isto o que a Palavra de DEUS nos diz. Ele se manifestará como um governante político, mas MUITO ANTES DISTO, Ele é o Cabeça Espiritual.

A infidelidade gera a quebra de comunhão. No contexto de Juízes, eles deixaram o Senhor, se desviaram. Quebra de submissão. Sujeitai-vos a DEUS. Porque eles deixaram aquela posição de estar debaixo do encabeçamento de DEUS, haja visto que Israel muito antes de ser uma nação política era uma nação Teocrática, era uma nação governada pelo próprio DEUS.

Foi DEUS quem deu as leis ao povo, foi DEUS quem os guiou pelo deserto, foi DEUS quem afastou deles seus inimigos e os deu vitória. Eles eram governados pelo próprio Senhor. Eles eram uma nação Teocrática.

Quando eles deixaram o Senhor DEUS, eles romperam aquela comunhão e foram após outros deuses. Assim eles provocaram o Senhor à ira. E a ira do Senhor se acendeu com respeito a eles. Esta palavra ira no original hebraico se refere a zelo, ela se refere a um ciúme ardente. Logo o quadro que vemos é que o povo de DEUS era uma esposa infiel.

Quando eles abandonaram o “seu marido” por infidelidade, o coração do Seu Senhor ardia por eles. E este ardor do coração de DEUS fazia com que DEUS mesmo os julgasse. Veja o coração de DEUS. Ele não se comportou como um marido que diz assim: ela que se vá, que escolha o seu caminho e vá para onde quiser. Porque vemos isto? Porque a Palavra diz que a IRA Dele se acendeu. A esposa Dele, para Ele, não era descartável.

E como um marido fiel que visa recuperar esta esposa infiel, Ele vai discipliná-los. Como? A maneira de DEUS é muito interessante. Ele vai deixá-los andar nos caminhos que eles mesmos escolheram. Assim como sucedeu com aquele filho pródigo. Afinal, o filho não teve a capacidade de VER o Amor e o Caráter do Pai.

Ao contrário, ele somente viu os bens e aquilo que o Pai possuía que o poderia satisfazer, na visão dele. Então ele pede ao Pai que dê a ele o que lhe era de direito, distribuindo a herança do Pai mesmo antes de sua morte. O filho pródigo fala de uma vida OBSTINADA. De uma vida insubmissa. De uma vida que entende que tem um caminho melhor do que o caminho do Pai.

Mas o que faz o Pai? Ele não diz: filho não faça isto! Fica comigo. Você vai sofrer e vai me fazer sofrer agindo assim. O que há em você que está clamando por satisfação que você não tenha aqui comigo? Não me deixe meu filho! Ao contrário: o Pai simplesmente entrega tudo o que é de direito do filho e permite que ele se vá.

Quando depois de o filho gastar tudo vivendo uma vida dissoluta, quando ele cai em si e vê que na casa do Pai ele desfrutava de tantas coisas, e que, até mesmo os empregados do Pai se alimentavam melhor do que ele, nesta situação deplorável em que ele agora se encontra, então ele resolve voltar. Ele resolve confessar seus pecados, confessar a besteira que fez, resolve se julgar diante do Seu Pai, para “quem sabe” ser novamente aceito pelo Pai, ser restabelecido à comunhão com Ele.

E, de uma forma maravilhosa, vemos na parábola que o Pai já o estava esperando, pois que a parábola deixa claro que o Pai o avistou de longe. A idéia é a de que desde que o filho partiu, o zelo de ciúme do Pai com respeito a Seu filho, o Seu zelo de Amor estava ardendo pelo filho.

Em Juízes o que vemos é a mesma coisa, porém com respeito a todo um povo. Nos versículos 14 e 20 de Juízes cap. 02 a expressão “a ira do Senhor” se acendeu contra eles indica não que DEUS estivesse com raiva deles, mas que DEUS ardia de ciúmes, de Amor por eles.

Na verdade é manifestação de misericórdia e não de juízo. E talvez em nenhum outro sentido, senão neste mesmo, e de forma GLORIOSA, vemos que em DEUS “A MISERICÓRDIA TRIUNFA SOBRE O JUÍZO.

O que acontece em Juízes é o que acontece na vida de muitos de nós. Nós olhamos para as cisternas rotas e dizemos assim: “Mata minha sede. Porque “este DEUS” não mata minha sede”. Este DEUS não me atende. Eu não consigo manipulá-Lo. Eu não consigo trazê-Lo para fazer as minhas vontades. Então eu vou mergulhar nesta cisterna, porque ela de alguma forma me consola. É assim que muitos de nós fazemos. Então DEUS permite que nós sejamos disciplinados através dos “deuses” que nós escolhemos. Esta é a maneira de DEUS.

Ele não é um DEUS que esconde “deuses” de nós. Porque? Porque no Amor há liberdade. Assim foi no jardim do Éden e assim é ainda hoje. Porque Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Se DEUS tivesse por propósito manter aquele casal “preso”, Ele teria colocado somente uma árvore, mas Ele colocou duas, para que Ele fosse buscado voluntariamente e amado pelo que Ele é.

E, interessante, continua sendo esta a mesma questão no nosso coração hoje. Se nós queremos os “deuses” nós podemos ir aos “deuses”. Nós iremos retardar o processo disciplinar de DEUS em nossas vidas, mas de alguma forma este coração Amoroso de DEUS irá nos acompanhar (não nos incentivar, nem nos estimular) até mesmo nos nossos caminhos pecaminosos.

E é isto todas as vezes que bebemos da água suja das cisternas rotas que este mundo nos oferece. Ainda que Ele não nos estimule, nem nos incentive (é claro!), mas Ele nos acompanha tendo em vista Seu Amor e Seu propósito restaurador com respeito a nossas vidas. Se Ele não fizesse isto, o nosso coração nunca retornaria.

Ou será que algum dentre nós ainda tem ilusão de que quando voltamos ao Senhor foi motivado pela existência de algo bom em nós? É evidente que não! Porque quando nós retornamos a Ele é Ele Quem nos busca. É Ele Quem de novo constrange nosso coração com Seu Amor. É Ele Quem deixa claro, lá no nosso íntimo, que nós não temos lugar fora Dele mesmo. É Ele Quem está do nosso lado quando nós estamos lambendo as cisternas rotas.

Esta é a maneira de DEUS de manifestar a Sua disciplina. Nenhum filho, naturalmente falando, teria coragem de lamber as cisternas rotas na frente de seu pai. Mas nós fazemos isto na frente Dele. E nós sabemos que Ele está vendo e em nenhum minuto Ele está nos retaliando.

Ele não nos recrimina, mas simplesmente fica quieto, nos observando, aguardando que nossa consciência fique mais aguçada e que retornemos a Ele pelo constrangimento de Amor com que Ele nos acolhe, corrige e disciplina. Ele, através deste processo, calma e tranquilamente vai demonstrando nossos vazios, nossa ilusão e vai nos restaurando para Ele mesmo, porque Ele sabe que ninguém nem nada pode nos satisfazer senão Ele mesmo. Agora talvez compreendamos melhor quando a Palavra fala que “a ira do Senhor se acendeu contra Israel”.

Se nós não virmos o caráter de DEUS nós não vimos NADA! Se nós não virmos isto nós faremos como falou o filósofo Blaise Pascal: “DEUS fez o homem a Sua imagem e semelhança, mas o homem fez DEUS à sua imagem”. Tantas vezes os filhos de DEUS O vêem e fazem Dele como eles mesmos são: rudes, legalistas, vingativos, não perdoadores e tantas outras coisas que caracterizam a NATUREZA HUMANA.

Quando a Bíblia fala da ira de DEUS, a primeira idéia que temos a da ira humana e não de zelo, de ciúme e de Amor. Mas pensamos numa ira humana que rejeita, que fere, que tem o objetivo de promover vingança e dor contra quem ela é desferida. É por isto que devemos, pela Palavra de DEUS, ter nossas mentes transformadas para compreendermos Quem verdadeiramente Ele é e quem verdadeiramente nós somos.

A idéia humana que fazemos quando a Palavra fala que DEUS os deu aos seus espoliadores é a de que Ele nos rejeitou, quem sabe até mesmo num momento de “ira irrefletida”. Isto NUNCA poderia ser o nosso DEUS.

Ao contrário, o que a Palavra diz é que o nosso DEUS ardendo em ciúmes, entregou os Seus amados para os seus espoliadores. A palavra espoliadores é muito expressiva. Porque? Porque significa que eles iriam gastar e gastar e gastar a vida e a alma daqueles judeus para, no final, deixá-los abandonados, largados e completamente subjugados.

De alguma forma o Senhor permitia que estes povos, estes “deuses” eram levantados para dominar sobre Israel. A dominação se dava por períodos de 20 e, em alguns casos até 40 anos. Ao final aqueles judeus estavam “gastos” e se viam oprimidos, vencidos, sôfregos, angustiados, completamente pobre, arrasado. Sem comida, sem mantimento, sem nada, sem condição de sobrevivência. Eles eram levados ao limite. Experimentavam um profundo aperto. Que paradoxo não? Afinal eles se submeteram aqueles “deuses” buscando alguma satisfação. Este é o ENGANO DO PECADO.

Então, neste contexto, e somente assim, é que DEUS podia encontrar um caminho para recuperar de novo o coração daquele povo para Ele mesmo. E DEUS o fazia por meio de Juízes que o Senhor mesmo levantava para promover este retorno. É como se o Senhor dissesse: viram? Vocês entenderam? Perceberam agora que Eu, somente EU, sou a fonte de Àguas Vivas. Somente EU SOU o MANANCIAL.

“E vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração…”

Dobre: Hebraico – διψυχος dipsuchos

1) mente dupla

1a) vacilante, incerto, duvidoso

1b) de interesse dividido

Observe que neste contexto, o texto sugere que o coração dividido, vacilante, a mente dupla é sinal de coração que necessita de ser limpo. Veja o que Jesus disse acerca disto: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.” Mateus 5:8

Esta citação é de fundamental importância porque nós somos transformados na medida da contemplação de Cristo, Sua Pessoa e Obra. Nós nos tornamos semelhantes àquilo que amamos. Simplicidade e pureza advêm da contemplação de Cristo e da obediência a Sua Palavra.

A primeira vez em Tiago que esta palavra aparece é em Tg 1:8. E, naquele contexto, há ainda mais um ingrediente a ser adicionado: como Deus pode responder às orações de um coração inconstante, dividido. Veja como todas estas coisas estão ligadas: perseverança, fé, pureza, foco, comunhão.

“Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza.” Tiago 4:9

“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato. Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade.” Eclesiastes 7:2-6

Somos constantemente chamados à uma reflexão de nossos caminhos, de nosso testemunho, de nossa vida de comunhão com o Senhor. O processo continuado de arrependimento, e em níveis cada vez mais profundos, é entendido por muitos, como resultante de uma vida consagrada ao Senhor.

Necessitamos urgentemente, como povo de Deus, reter o Cabeça, que é Cristo. Neste sentido necessitamos:

  1. Ter sempre o foco em Cristo – Pessoa e Obra
  2. Sermos obedientes à Visão Celestial
  3. Honrar sempre o Espírito Santo
  4. Reter a Palavra Viva e Eficaz
  5. Vivermos como Sacerdócio Santo e agradável ao Senhor.

De forma objetiva isto se expressa através de uma vida consagrada por:

  1. Uma contemplação continuada da Pessoa e Obra de Cristo
  2. Pureza de Coração expressa por:

2.1- Julgamento de relacionamentos inadequados

2.2- Um coração não dividido (entre Cristo e tantas outras coisas)

2.3- Interrupção imediata dos chamados “pecados habituais”

3- Rendição Completa evidenciada por:

3.1- Considerar nossa vida não preciosa para nós mesmos

3.2- Vestirmos o avental de escravos (Jo 13:4)

4- Termos um coração ensinável que ouve ao Senhor como marca de:

4.1- Mansidão

4.2- Humildade.

5- Amor – Uma vida cuja motivação básica seja de Amor a Ele e aos irmãos.

A maledicência é condenada – O significado bíblico do Julgamento

Os Juízos Divinos:

A distinção entre os juízos divinos se dá em razão de quatro aspectos diferenciadores: os participantes, o local, o tempo e o resultado de cada um. Vejamos uma abordagem panorâmica:

Julgamento do pecado original. Na cruz, o Senhor Jesus recebeu em seu corpo a sentença divina, morrendo por todos os pecadores (Jo 5.25; 12.31; 19.17,18; I Pe 2.24; 3.18; Gl 3.13; Cl 2.13-15; II Co 5.21; Hb 9.26). Por isso, nenhuma condenação há para quem está em Cristo Jesus (Rm 8.1; Jo 5.24).

Julgamento dos pecados atuais do crente. Hoje, quando um servo de Deus peca, tem o Senhor Jesus como o seu Advogado, mas deve fazer sempre um auto-julgamento, confessando os seus pecados e colocando-se diante do Senhor (I Jo 2.1,2; I Co 11.31,32; Hb 3.12,13; 12.7; I Pe 4.17; I Co 5; I Tm 1.20; Tg 5.16; I Co 4.3,4).
O Tribunal de Cristo. Logo após o Arrebatamento da Igreja, ocorrerá — ainda nos ares — o Tribunal de Cristo. É importante não confundirmos esse julgamento com os outros mencionados nas páginas sagradas. Todos os salvos arrebatados serão julgados pelas suas obras, para receber ou não galardão (II Co 5.9,10; Rm 14.10-12; I Jo 4.17). Não se trata aqui de juízo para condenação, mas para avaliação do trabalho que temos feito para o Senhor (I Co 3.10-15; II Tm 4.7,8).

Julgamento de Israel. A nação israelita será julgada durante a Grande Tribulação. E o texto de Daniel 12.1 enfatiza que “… livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro”.

Julgamento das Nações. O Senhor Jesus e sua Igreja, arrebatada por Ele antes da Grande Tribulação (I Tessalonicenses — toda a epístola), pisarão na terra (Zc 14.4). E as nações (ou os representantes delas) serão julgadas antes da instauração do Milênio (Mt 13.40-46; Jl 3.1,2,12-14; Sl 9.8). O texto de Mateus 25.31ss dá detalhes desse julgamento, mostrando quais serão os critérios adotados pelo Justo Juiz para absolver ou condenar.

Julgamento do Diabo e suas hostes. Satanás será julgado em instância final — pois já foi condenado por antecipação (Jo 16.11) — e lançado no Inferno, juntamente com seus emissários, após a sua última e rápida revolta, que se dará logo após o Milênio. É claro que os chamados amilenaristas e pós-milenaristas não concordam com essa assertiva, porém ela é biblicamente verdadeira e incontestável à luz de Apocalipse 20.10, Romanos 16.20, I Coríntios 6.3, Judas v.6, II Pedro 2.4, etc.

O Trono Branco. Este é o último grande julgamento, o Juízo Final, para condenar todos aqueles cujos nomes não estiverem inscritos no livro da vida do Cordeiro (Ap 20.5-11; At 17.31; Rm 2.12-16). É nesse último grande juízo que o Justo Juiz dirá aos falsos obreiros “Nunca vos conheci” (Mt 7.23). Alguns teólogos pensam que aqui o Senhor se referiu aos não-eleitos, mas o termo grego ginõskõ denota que Ele nunca aprovou (cf. o uso do termo grego com esse sentido em Rm 7.15), reconheceu ou deu crédito ao trabalho dos obreiros que não fazem a sua vontade. O Senhor só tem relacionamento aprovador com quem o ama, o serve e persevera em segui-lo (Gn 18.19; Sl 1.6; Jo 10.14,27; I Co 8.3; Na 1.7; Gl 4.9; II Pe 2.20-22; Ap 3.11).

O Julgamento Humano

Texto básico: Mateus 7:1-21

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.  Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.”

Muitas pessoas que buscam silenciar qualquer julgamento são ágeis em citar Mateus 7: 1: “Não julgueis para que não sejais julgados” parece ser a resposta perfeita.

Todavia, dentro do contexto, a passagem indica que de fato devemos julgar; espera-se apenas que evitemos julgamentos falhos, desprovidos de conhecimento e alheios à Palavra. E mais, que o objeto do julgamento seja não a pessoa em si mesma, mas seus atos. Isto veremos com mais detalhes, mais à frente. Além do mais, nossos julgamentos devem começar conosco:

“Tira primeiro a trave de teu olho e, então verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” disse Jesus (v. 5) 

E continuou: “Acautelai-vos dos falsos profetas” (v.15). Isto também requer um julgamento; precisamos ser capazes de discernir a verdade da falsidade.  Jesus usou a metáfora dos frutos para nos dar critérios apropriados para os julgamentos. “Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis”.

Muitos cristãos se sentem orgulhosos em saber que julgarão os próprios anjos, mas se esquecem que o julgamento começa pela Casa de Deus. (I Pedro 4: 17). 
Porque a ocasião de começar o juízo pela
Casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao Evangelho de Deus? 

Devemos julgar as pessoas (e nós mesmos) pela qualidade dos frutos que produzem. Os frutos não podem ser julgados por valores terrenos, tais como boa aparência, condição social, cultura, eloquência ou qualquer outro atributo pessoal (v.15), mas devem ser julgados por valores celestiais que são os frutos do Espírito em nós, como descrito por Paulo em Gálatas 5: 22-23.

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” 
Paulo em
I Coríntios 6: 1-5, chama a atenção dos irmãos por estarem sendo displicentes em não julgarem um irmão em pecado. Também em I Tessalonicenses 5: 21, diz que devemos julgar todas as coisas. Ele próprio emite julgamento em Filipenses 3: 17-19, II Timóteo 2: 16-18.

“Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.
O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.”
Filipenses 3:17-19
Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda maior. Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns.”
II Timóteo 2:16-18

João também fala sobre julgar em IJoão 4: 1-6

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.”

Tiago e a Menção ao Julgamento Humano:

“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?” Tiago 4:11,12

A Lei de Deus é, na verdade, uma expressão de sua Santidade. Deus não tem problema algum quanto a Lei, uma vez que ela é a viva expressão de Seu Ser absolutamente Santo, Santo e Santo.

É interessante notar a correlação feita por Tiago no início desta porção: “Aquele que FALA MAL do irmão ou JULGA a seu irmão, FALA MAL da Lei e JULGA a Lei…”.

Por evidente, quem fala mal de alguém está julgando este alguém; bem, pelo menos no conceito humano de julgamento. Via de regra, quando falamos em julgamento de uns para com outros, estamos a referir-nos a um juízo condenatório. Talvez por este motivo Tiago correlacione o FALAR MAL com o JULGAR.

Mas NECESSITAMOS entender melhor:

  1. O que a Palavra de Deus chama de JULGAMENTO.
  2. O que deve ser julgado? De que forma?
  3. O aspecto individual e o coletivo do Julgamento.

Neste sentido, ainda que por um viés com ênfase negativa, é bastante instrutiva a colocação de Tiago. Porque? Porque ele associa a pessoa à Lei. Falar mal de alguém é julgar este alguém. Mas não só isto: julgar este alguém é comparado a julgar a Lei. Veja que, ainda que implicitamente, há uma identificação entre a Pessoa e a Lei. Porque?

Veja, quando Adão transgrediu o mandamento de Deus, toda a raça humana caiu em desobediência e, por consequência, morte. Este estado de alienação em relação a Deus, produziu uma descendência adâmica, caída e naturalmente inclinada ao pecado, ao engano e ao erro.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.

Aqui se declara de forma bastante enfática a transmissão deste estado alienado de Adão à sua descendência.

Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado (ou em outras palavras, não era imputado) em conta quando não há lei.
Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.

O delineamento do pecado viria a ficar evidente a partir da Lei de Moisés, porém isto não eximia os seus transgressores da penalidade da morte. Isto posto, não só desconstroí a possibilidade da ignorância humana ser utilizada como elemento remissivo, como deixa claro que a dessemelhança dos pecados cometidos pelos “filhos de Adão” em relação a este só testificavam desta natureza caída e naturalmente alienada de Deus. Na linguagem de Paulo aos Efésios: “…morta em delitos e pecados”.

Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos. O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação.

Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” Romanos 5:12-19

Logo, parece claro que há uma associação evidente entre a Vida e a Lei. Aqui Vida como expressão da própria Vida de Deus. A obediência de Cristo ao Pai resultou em vitória sobre a morte e transmissão de Vida àqueles que Nele crêem. A desobediência de Adão a Deus resultou em morte e transmissão de morte a toda a humanidade.

Veja que a questão está associada à obediência resultante de uma vida dependente de Deus, centrada Nele. Em contraposição a isto, temos a desobediência como resultante de uma vida supostamente independente de Deus (como se isto fosse possível), e centrada no ego.

Posto isto, fica mais fácil entender em que sentido o JULGAR o IRMÃO é JULGAR a LEI. Porque? Porque ao nos posicionarmos como juízes utilizando parâmetros até da própria Lei para julgar a um irmão, estamos nos colocando acima do irmão e da Lei. Mas de que maneira?

Observe que obedecer a Deus é indicativo de dependência Dele. Desobedecer a Deus, por outro lado, é sinal de independência. Como o Único que possui Vida em Si mesmo é Deus, toda atitude desobediente e, por consequência, alienada do Autor da Vida, é digna de morte, LOGO, é morte em si mesma.

Ora, se nos colocamos a julgar (aqui entendido o sentido humano, condenatório, depreciativo, crítico, ferino) a(o) irmã(o), estamos nos colocando em atitude INDEPENDENTE, DESOBEDIENTE, e por consequência, manifestamos um estado de MORTE.

Isto porque nos colocamos acima da Lei, como juízes, não observadores da mesma. Se a Lei foi nos concedida para nos revelar nossa mais íntima e terrível pecaminosidade, e a nossa inconsciência quanto a isto, então a atitude de JULGAR, neste sentido, é uma atitude, em primeiro lugar, ignorante, mas também arrogante, desobediente e prepotente. E toda atitude com estas características revela tão somente nossa vida adâmica, alienada, desobediente e independente de Deus. Isto é MORTE!

Veja, a Lei foi dada a Moisés não para justificar o povo, mas para servir de aio para os conduzir a Cristo. A Lei foi adicionada para que o homem pudesse ser livrado de uma inconsciência absoluta quanto a sua própria pecaminosidade.

O Fim da Lei é Cristo

O fim da Lei é Cristo. E Cristo, em Sua primeira Vinda, não veio para julgar, mas para salvar os pecadores com base em Sua Obra Redentora na Cruz. Quem julga é a própria Lei, conforme as Escrituras:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” João 3:16-18

O Julgamento em Jesus é fruto de Vida e Comunhão

De forma paradoxal, à primeira vista, Jesus parece contradizer isto em versículos posteriores neste mesmo evangelho, SE entendido fora de contexto. Observe:

“Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.

Observe a Vida de Cristo centrada no Pai. Palavra-Chave: Dependência.

Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.

O Pai confiou TODO JULGAMENTO ao Filho, para que TODOS HONREM ao Filho. Veja a associação entre JULGAMENTO e HONRA.

Julgamento (Padrão Divino) é fruto de Autoridade

Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.

Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.

O Pai Lhe deu TODA autoridade para julgar. Veja a associação entre JULGAMENTO e AUTO-EXISTÊNCIA.

Julgamento (Padrão Divino) como fruto de DEPENDÊNCIA

Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.

Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou.” João 5:19-30

Veja a associação entre o JULGAMENTO e o ouvir e fazer a VONTADE DO PAI.

Julgamento (Humano) segundo “A CARNE”

“Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo. Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou. Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim.” João 8:15-18

Jesus menciona que eles julgavam “SEGUNDO A CARNE”, mas Ele a ninguém julgava. E, se julgava, Seu julgamento era verdadeiro porque não somente Ele julgava, mas Ele e o Pai. O que está aqui colocado é extremamente profundo. Fala de um JULGAMENTO fruto de uma VIDA DE UNIÃO, VIDA COMPARTILHADA.

Observe que o que Jesus está a fazer é contrapor a idéia do que é uma vida independente, tipificada genericamente pela expressão CARNE, da Vida Compartilhada, Vida de UNIÃO, SANTA; e associar isto ao JULGAMENTO.

Quem Julga é a Palavra.

“Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo.” João 12:46-50

Observe algo muito relevante aqui. Jesus está associando alguns elementos fundamentais para a compreensão da questão do JULGAMENTO. Quais sejam:

  1. Ouvir a Jesus é obedecer e atentar às Suas Palavras. Ele é a Luz.
  2. Jesus só pode SALVAR O MUNDO, porque Ele, como Homem, nunca desobedeceu ao Pai. Ou seja, Ele sempre viveu em DEPENDÊNCIA!
  3. Há um correlação direta entre Sua Vida de DEPENDÊNCIA E SANTIDADE e o JULGAMENTO que, em obediência à Palavra, ele exercia SEM a manifestação de uma atitude condenatória para com os demais. Ou seja, Sua Santidade é que fazia com que a Lei ficasse evidenciada e, então, todos pudessem se perceber JULGADOS. Este é o PRINCÍPIO, como veremos em detalhes mais adiante.

Há uma relação direta entre NÃO FALAR POR SI MESMO e NÃO BUSCAR SUA PRÓPRIA GLÓRIA. Jesus deixa isto claro em outras passagens. Logo, julgar segundo a carne é, em última instância, manifestação de busca de glória pessoal.

“Corria já em meio a festa, e Jesus subiu ao templo e ensinava. Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como sabe este letras, sem ter estudado? Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou.
Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça. Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?”
João 7:14-19

Porém, a Vida de União do Senhor com o Pai era tão profunda que Ele mesmo parece contradizer-se em outra passagem correlata. Na verdade, o que há é que Jesus se sente UM com o Pai. Ao mencionar “Eu sei de onde Vim e para onde Vou”, Jesus fala de Sua Vida eterna compartilhada desde a eternidade passada com o Pai. Observe:

”De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. Então, lhe objetaram os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o teu testemunho não é verdadeiro. Respondeu Jesus e disse-lhes: Posto que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou.
Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo. Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou.
Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então, eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora.”
João 8:12-20

Há um detalhe aqui digno de nota: ao concluir este assunto o evangelista faz questão de citar que estas palavras foram proferidas próximo ao gazofilácio. Veja que M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O! O que ESPÍRITO SANTO está a fazer é correlacionar a realidade da Vida de Cristo ao verdadeiro tesouro que tem haver com a subjugação da VIDA EGOCÊNTRICA! Pra detalhamento deste ponto consulte “O Resumo das Câmaras do Tesouro” no Templo de Salomão.

O que a Palavra de Deus chama de JULGAMENTO.

“Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.

Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas. Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais coisas e fazes as mesmas, pensas que te livrarás do juízo de Deus?

Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?
Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento:

a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça.

Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego.

Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.

Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.

Obs: ATENÇÃO AO CUIDADO DO ESPÍRITO SANTO. ELE MENCIONA QUE É CRISTO JESUS QUEM HAVERÁ DE JULGAR OS SEGREDOS DOS HOMENS. A MENÇÃO A CRISTO JESUS SIMBOLIZA, VIA DE REGRA, A MANIFESTAÇÃO DO CRISTO CORPORATIVO (O SENHOR JESUS CRISTO + A SUA IGREJA).

OBSERVE QUE ELE FALA EM JULGAR “OS SEGREDOS DOS HOMENS”. QUE IMPRESSIONANTE! OS SEGREDOS DOS HOMENS. AFINAL, TODAS AS COISAS ESTÃO DESCOBERTAS E PATENTES AOS OLHOS DAQUELE A QUEM DEVEMOS PRESTAR CONTAS (Hb 4:13).

Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?

Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa.

Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão?

E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.
Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.

Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” Romanos 2:1-29

É fundamental perceber que todo o contexto aponta para uma suposta prepotência dos judeus em relação aos demais povos, no que concerne a sua diferenciada posição (pelo menos aos olhos deles), com respeito ao fato de Deus ter concedido a eles a Lei e as instruções dela decorrentes, bem como a revelação de Sua Vontade

Conforme o texto bíblico fica claro que isto fez com que eles se julgassem:

  1. Instrutores de ignorantes
  2. Mestres de crianças
  3. Únicos detentores da Sabedoria e Verdade.

De fato, isto deveria ser verdade. A Lei lhes foi entregue. Os mandamentos, as ordenanças, os ritos cerimoniais, o sacerdócio, e tantas outras grandiosas revelações dadas por Deus a eles. Até mesmo (e principalmente) a circuncisão foi-lhes dada como sinal da Aliança de Deus, e deveria o ser também, reciprocamente (deles para com Deus).

No entanto, observe que na sequência do texto, fica evidente a fala do apóstolo Paulo que estas figuras só se validam na prática, pela prática da Palavra de Deus. Ou seja, são verdades que se tornam realidades no viver diário do povo de Deus. A sua não observância não só seria motivo de perplexidade, mas acima de tudo, de hipocrisia.

E mais, a sua observância faria do circunciso um INCIRCUNCISO. E do incircunciso um CIRCUNCISO. Isto é de EXTREMA IMPORTÂNCIA. Por óbvio, Paulo não está validando a idéia de salvação pelas Obras. Mas, enfatizando que a salvação pela Graça por meio da fé deve nos conduzir a uma vida de REALIDADE, e não de hipocrisia. Logo, a Lei, entendida neste sentido, se “valida” em nós, na medida de sua prática. Isto reafirma o conceito exposto por Tiago de que JULGAR O IRMÃO É JULGAR A LEI.

Ao longo do texto, Paulo desconstrói a idéia de que A CIRCUNCISÃO da Antiga Aliança é uma figura da VERDADEIRA CIRCUNCISÃO que é a do CORAÇÃO. É notável que Deus tenha determinado que a circuncisão deveria ser feita na carne do prepúcio.

A idéia aqui é a de que, o órgão genital masculino relaciona-se a questão da SEMENTE DE ABRAÃO. Isto tem haver com a questão de ALIANÇA. Para que se tenha um correta e detalhado entendimento da profundidade deste tema, veja o Resumo sobre “A Coxa” em Documentos Auxiliares, subseção “Termos e Expressões Biblicas”.

Quando o INCIRCUNCISO PRATICA A LEI ele julga o CIRCUNCISO. Observe isto! É a prática da Lei que julga, não o homem que a pratica. Ou, dito de outra maneira, quando o homem pratica a Lei, ele, pela prática da mesma, JULGA seus “irmãos” e “não irmãos”.

E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.
Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.

Agora veja como o apóstolo Paulo conclui o tema nesta seção:

“Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.”

Ou seja, a questão é:

  1. Primeiramente INTERIOR e acontece nas interioridades de nosso ser. E Aquele que tudo Vê, sabe, discerne e conhece todas nossas motivações.
  2. Ela é do CORAÇÃO. Aqui, devemos entender o CORAÇÃO como a junção, espiritualmente falando, de CONSCIÊNCIA+ (EMOÇÕES, VONTADE, INTELECTO). É o Governo do ESPÍRITO SANTO sendo exercido em nós e transmitido pela consciência as esferas de nossa alma.
  3. No espírito. Ou seja, alcança o nosso ser interior no mais profundo dele. Nosso espírito humano. Logo, não é algo meramente cognitivo, intelectualizado, ou compreendido de forma meramente racionalizada, embora o nosso culto seja também racional (Rm 12:1).
  4. Não é segundo a LETRA. Ou seja, não é algo meramente concatenado e formalmente teologizado. Acima de tudo é Vida. Logo, como diria Jesus, “vocês deveriam fazer isto sem omitir estas outras coisas…” O conhecimento sem realidade é desprovido de conteúdo. A letra mata, mas o Espírito Vivifica. O saber ensoberbece, mas o Amor edifica.
  5. O louvor não procede dos homens, mas de Deus. Logo, a questão é muito mais uma vida “escondida” diante de Deus que O agrade do que a busca da manifestação aos homens de “grandes revelações” da parte de Deus, até mesmo na Palavra, que tem muito mais o poder de fazer os servos de Deus caírem na condenação do diabo pela busca, consciente ou não, de glória pessoal, do que promover algo que seja da Vontade e do agrado do Senhor.

“O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim. Jamais tendes ouvido a sua voz, nem visto a sua forma. Também não tendes a sua palavra permanente em vós, porque não credes naquele a quem ele enviou. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. Eu não aceito glória que vem dos homens; sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente, o recebereis. Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único? Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança. Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” João 5:37-47

O que deve ser julgado? De que forma?

No mundo as pessoas julgam. E este julgamento é entendido como sendo, via de regra, uma manifestação de desaprovação à PESSOA. É um juízo condenatório, proferido CONTRA a pessoa. Tem caráter de depreciação, e daí que a fala de Tiago refere-se a isto como FALAR MAL.

Na Palavra de Deus vemos o contrário. Um filho de Deus JULGA os demais quando, por seu procedimento irrepreensível, por sua conduta ilibada, ele expõe aos demais suas pecaminosidades mais intrínsecas. E isto sem uma única verbalização condenatória.

O agente desta verbalização é o próprio ser julgado, através de sua consciência, e ocorre nas interioridades de seu ser ao observar o procedimento daquele que obedece aos mandamentos de Deus e à Sua Palavra.

Logo, vemos algumas distinções fundamentais entre o que o mundo estabelece como julgamento e o que a Palavra de Deus nos diz, a saber:

  1. Julgo aos “meus pares” pelo meu comportamento, pelas minhas atitudes e não pela verbalização de juízos condenatórios CONTRA meu próximo.
  2. O Espírito Santo, que é o Único que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é Quem vai se utilizar de nosso testemunho para fazer com que “o outro” perceba, se sensibilize, se conscientize e se arrependa. E isto sem uma palavra nossa.
  3. O julgamento não se dá em desfavor do próximo, mas em favor dele. O objetivo não é condenatório, mas visa arrependimento para restauração.
  4. O objeto do julgamento não é a pessoa, mas suas atitudes, seu comportamento em contraposição à Palavra.

O aspecto individual e coletivo relacionados ao Julgamento

Aspecto Individual:

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” Mateus 7:1-5

Observe que há uma correlação entre ver o argueiro no olho de meu irmão e, então, observar a trave que há no meu olho. Ou seja, dá a entender que somos muito rápidos em ver o defeito nos outros e não em nós mesmos. E que aquilo que vemos no outro é, muitas vezes, aquilo que temos como defeito em nós mesmos.

Além disto, o que se depreende do texto é que ao retirar a trave do meu olho devo AJUDAR meu irmão a retirar o argueiro do olho dele. Ou seja, a visão do “defeito” visa libertação, restauração, e não condenação. Primeiro em mim mesmo, depois posso ser habilitado a me tornar instrumento de Deus a favor da vida do próximo.

“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.” Lucas 6:37,38

Jesus não está dizendo que o ato de julgar é errado em si mesmo, mas sim que é errado julgar hipocritamente, como mostra o contexto imediato, que fala sobre apontar o cisco no olho do próximo quando há uma trave no nosso (vs.3-5).

Este tipo de julgamento parcial e hipócrita é repudiado biblicamente, mas o julgamento honesto é incentivado em toda parte. Paulo diz que nós devemos julgar as causas desta vida (I Co.6:2), para julgarmos as causas entre irmãos (I Co.6:5), para julgarmos todas as coisas e ficar com o que é bom (I Ts.5:21), e que é para nós mesmos julgarmos (I Co.11:13), inclusive para julgarmos o que ele mesmo diz (I Co.10:15).

O próprio Jesus disse para julgarmos por nós mesmos o que é justo (Lc 12:57). Se o ato de julgar fosse em si mesmo errado, então nem sequer poderia existir juízes ou julgamento criminal. Ninguém poderia ser preso, pois toda condenação envolve algum tipo de juízo.

Mais à frente veremos como estes textos guardam relação entre si. Por evidente que, somos seres dotados de consciência e temos (em maior ou menor grau) algum discernimento do que se deve ou não praticar. Mesmo após a queda o homem não se viu desprovido de um resquício de consciência, a tal ponto que, quando Deus vai em busca de Adão ele diz: “Ouvi a Tua voz no Jardim e TIVE MEDO”.

Logo, a consciência faz com que validemos o que está de acordo com a Lei de Deus e o que não está. A grande questão é que o conceito terreno de julgamento, no exercício da Lei, ou melhor, na percepção da consciência em acordo com a Lei, via de regra, faz com que venhamos a agir condenando a pessoa, não o ato em si.

É evidente que a pessoa deve ser punida e todo pecado obedece a Lei da Semeadura: “o que o homem plantar isto ceifará”. Deus, no que concerne a Sua Obra subjetiva em nós, não nos isenta de nossa responsabilidade, bem como não nos isenta das consequências do pecado. Objetivamente na cruz Ele nos substituiu. E todo aquele que se arrepende e se converte de seus maus caminhos recebe o perdão de Deus.

Mas, uma vez salvos e perdoados, somos chamados à uma vida de santidade. Somos chamados a negar-nos a nós mesmos para que a Vida de Deus em nós possa ser vivenciada; vida no Espírito e pelo Espírito. Daí que as palavras de Tiago são extremamente relevantes. Ele está escrevendo para crentes, não para não-crentes.

A Questão não é só Não Julgar, mas é se abster em favor do outro

Já vimos que o julgamento individual bíblico corresponde a um comportamento tão manifestamente santo que as pessoas ao nosso redor deveriam ser sentir julgadas pelo nosso bom procedimento (Vide detalhada explicação acima).

E, neste sentido, muitas vezes ao analisarmos a questão de julgamento não nos damos conta de que ela possui raízes muito mais profundas. Mas, graças à Palavra de Deus, somos habilitados a compreender melhor estas questões.

E a raiz do problema chama-se vida egocêntrica. Sim, a questão do julgamento no fundo traz consigo a real causa de grande parte de nossos problemas nesta área. Para compreender isto vamos analisar alguns textos.

“Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu.

Este texto é bastante instrutivo. Porque será que o apóstolo Paulo inicia a questão de discussão entre irmãos, abordando-a sob a ótica da comida? Veja, a questão do comer possui seu sentido literal e espiritual. Toda literalidade guarda ensinos de cunho espiritual, pois é desta forma que Deus usa para se comunicar conosco, tendo em vista nossa limitação. Vamos relembrar alguns pontos importantes neste sentido, que estão detalhadamente analisados no Resumo sobre Levítico:

Levítico 11 – O pecado estabelecido no Mundo

O desejo do Senhor é criar em nossa mente uma repugnância pelo pecado, e para este fim Ele estabelece instruções contendo distinções que seriam enfrentadas diariamente.

Primeiro Ele mostra os animais que deveriam servir ou não como alimento. Todo dia o Israelita teria que exercitar sua distinção entre o limpo e o imundo. Deste modo ele aprenderia como DEUS discerne o pecado e que marca colocou sobre ele.

Não havia diferença moral nenhuma entre um animal e outro, mas como DEUS estabeleceu Sua diferença entre eles, Seu povo deveria obedecê-Lo nisto. Deste modo cada animal se tornou para o Israelita num lembrete da Lei, exigindo que ele fizesse distinção entre o certo e o errado, entre o permitido e o proibido.

O Senhor estabeleceu muitos sinais para lembrar Seu povo da queda e de que eles estavam num mundo caído. Assim, a principal finalidade destes arranjos, era a de ensinar ao povo a distinção moral conforme claramente se depreende de Lv 11:44-45.

Na visão de Pedro em At 10:12-14, lhe foi mostrado que os gentios idólatras e, portanto, impuros deveriam agora ser admitidos na comunhão de Israel. Aí se estabeleceu uma referência típica ao pecado contido nas ordenanças de Levítico 11.

Nosso Alimento e Nosso Caráter

Espiritualmente falando, o que comemos manifesta o nosso caráter (Lv 11:1-43). O “comer” simboliza a apropriação interior de certas características em nosso ser moral. Aplica-se diretamente às coisas que vemos e ouvimos e a tudo aquilo que damos lugar em nossas mentes.

A literatura do mundo está cheia de impurezas; se assimilarmos e recebermos a formação de nosso caráter dela, não poderemos ser separados para DEUS. Assim o comer é muito mais sério do que o tocar, porque a constituição interior é formada daquilo que comemos.

Mas veja que o simples tocar já comunica impureza, como diz Paulo: “Não toqueis o que é imundo e EU vos receberei” (II Co 6:17). A conduta exterior é o primeiro teste de uma criatura pura, mas deve ser apenas o resultado da realidade interior.

Animais Terrestres

O Ruminar e o Caráter

Os animais limpos deviam ruminar e ter a unha fendida. O ruminar é o processo natural de digerir interiormente os alimentos e simboliza o exame das Escrituras com oração e meditação constante.

Isto fica claro quando vemos a descrição do varão do Salmo primeiro. Infelizmente muitos lêem, mas não assimilam; outros lêem e assimilam “para os outros” e não para eles mesmos; outros lêem e escutam desejando entender, guardar, reter e praticar aquilo que receberam. Isto sim, é ruminar a Palavra de DEUS; é assimilar a verdade espiritual no interior.

A Unha Fendida e a Conduta

Mas o ruminar não é tudo; é preciso ter também a unha fendida. Aqui temos o “andar separado” que deve acompanhar a ocupação interior do coração e mente com aquilo que é de DEUS.

Jeremias disse: “Nunca me assentei no congresso dos zombadores, nem me regozijei; por causa da Tua mão me assentei solitário, pois me encheste de indignação” (Jr 15:17).

Tais palavras demonstram a “Unha fendida” do profeta do Senhor. Paulo disse a Timóteo: “Porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (ruminar). No mesmo capítulo ele fala da necessidade de nos afastarmos da iniqüidade (II Tm 2:7,19), indicando a necessidade da unha fendida.

“A unha fendida permite um caminhar firme e rápido e protege o animal, de se atolar no barro e no solo macio. As unhas opostas dão estabilidade ao caminhar e nos sugerem os aparentes paradoxos da verdade, os quais nos dão firmeza e equilíbrio. A velocidade para a qual os pés existem, nos mostra que onde há digestão espiritual também existe a fé que busca o invisível e faz da vida cristã uma carreira”(F.W.Grant)

A unha fendida fala de nosso testemunho. Em nossa conduta que marcas deixamos no chão?

Animais Aquáticos

Barbatanas e Escamas – Movimento e Defesa (Lv 11:9-12): Dos habitantes das águas, duas características nos são fornecidas, simbolizando movimento e defesa.

A água aqui é o elemento mais denso e por isto, a barbatana traz a idéia de arma “ofensiva” enquanto a escama sugere a parte “defensiva”. Visto estarmos cercados pelo pecado que entrou no mundo, precisamos da proteção contra o meio ambiente e de condições para avançar sempre em direção ao Alvo da Soberana Vocação de DEUS em Cristo (Fp 3:14).

Barbatanas – Força para Avançar: A barbatana representa a capacidade de seguir um curso definido, sem ficar a mercê das correntes e ondas que estão sempre se movendo num mundo de ilegalidade” ( C.A.Coates ). A vida cristã é uma batalha e não temos como fugir dela (II Tm 4:7-8). Ló desceu a Sodoma e usou as escamas para se proteger da corrupção daquele lugar. Ele é chamado de “justo” (II Pe 2:7), mas sofreu muito porque não utilizou suas barbatanas espirituais. Ao invés de prosseguir e deixar para trás aquele lugar pecaminoso, ele se deteve no meio de grandes pecadores vindo a perder seus bens e família.

Escamas – Proteção do Meio Ambiente: Todos os cristãos foram munidos de escamas, pois nos tornamos “participantes da Natureza Divina, havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo” ( II Pe 1:4 ). O Senhor Jesus podia encarar o diabo e dizer que nada poderia ser encontrado Nele que pertencesse ao mundo das trevas (Jo 14:30).

Animais Voadores

Insetos alados – Cristãos Mundanos (Lv 11:20-22): Os insetos alados são considerados impuros. Eles simbolizam os cristãos que procuram viver em duas esferas: a terrena e a celestial. Quando voam parecem pertencer as regiões celestiais, mas sua permanência ali é temporária; logo retornam a terra.

Geralmente quando tais crentes voam, é porque buscam apenas escapar de alguma situação perigosa aqui na Terra, mas na verdade, não almejam viver nas regiões celestiais, nem tampouco por fazer do “esconderijo do Altíssimo” (Sl 91:1) sua morada.

Seu apego ao mundo os impede de fazer morada no Senhor. São como Demas que amou o presente século e abandonou Paulo num momento de grande perigo (II Tm 4:10). Eles ainda não aprenderam que o “mundo passa e a sua concupiscência” também, e que somente aqueles que fazem a Vontade do Senhor é que permanecem para sempre (I Jo 2:17). Porém há algumas exceções como o gafanhoto e o grilo, dentre outros.

Logo, veja que não é sem sentido, que Paulo aborda pela ótica “do comer”.

“Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente.”

Aqui outro elemento fundamental. Há diferença entre consciências. Claro, nem todos temos a mesma luz, a mesma revelação, o mesmo conhecimento, a mesma intimidade com o Senhor, etc…

E o texto é bastante claro neste sentido: “cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Paulo não está validando o individualismo, mas a consciência de fé na individualidade. O primeiro é a perversão do segundo.

Somos chamados a unidade na diversidade. Portanto, veja que a questão está muito mais relacionada à vivência da consciência que JÁ possuímos diante do Senhor, em obediência a Ele e a Sua Palavra, do que propriamente uma questão de se utilizar disto para discutir, julgar e nos contrapor aos nossos irm.

Isto é bastante interessante. Porque? Porque em Filipenses 2:1-4, Paulo parece discorrer em sentido contrário a esta instrução contida em Romanos 14:5, a saber:

“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” Filipenses 2:1-4

Afinal, devemos todos “pensar” a mesma coisa ou deve ser de tal forma que “cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente”? Na verdade, ambas coisas são verdadeiras, pelo menos momentaneamente.

A questão é que ATÉ que cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, haveremos conviver uns com os outros, respeitando a consciência de fé alheia, e entendendo que até mesmo (para não dizer principalmente) nossa compreensão é ainda parcial e limitada.

Mas, a uma coisa somos chamados: a de viver em acordo com a consciência de fé que temos, em santo temor do Senhor afinal “tudo o que não provêm de fé é pecado”. E mais, viver de forma a preservar a unidade do Espírito no vínculo da PAZ.

“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;
há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”
Efésios 4:1-6

Logo, isto elimina qualquer possibilidade de uma atitude independente. Observe que a preservação do Espírito está em um contexto de “andar de modo digno”, na mesma medida em que apresenta um elemento fundamental: a mutualidade; o “suportando uns aos outros”.

Qualquer alegação de “particular interpretação”, especialmente em questões doutrinárias não essenciais quanto aos fundamentos de nossa confissão cristã, e que são muitas vezes utilizadas como elemento de divisão no Corpo de Cristo, certamente são uma afronta ao Amor, à Vida de Cristo que foi derramada na Cruz do Calvário, e, em especial, no que concerne ao pedido central de Nosso Senhor Jesus Cristo mencionado na oração sacerdotal em João 17: “para que eles sejam Um…”

Por evidente isto não se limita somente a questões de ordem doutrinária, mas essencialmente de uma disposição reprovável do sentir de “uns para com outros”. Esta animosidade básica, característica da vida egocêntrica é talvez a grande responsável pela questão de divisões, julgamentos ferinos, iras, contendas, invejas e discórdias no meio povo de Deus. Sim, porque Tiago está escrevendo para cristãos.

Que vergonha. Que manifestação carnal mais deplorável. Que tristeza para o testemunho do Senhor. Que necessidade de andarmos em pureza, em humildade e santo temor. Que necessidade de nos negarmos a nós mesmos em busca dos interesses do Senhor. “Importa que Ele cresça e que eu diminua…”

“Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.”

Aqui o aspecto central da questão. Observe que o que o apóstolo Paulo está a fazer é, se utilizando de questões relacionadas ao julgamento e associando-as a questões do comer, ele aborda a questão focal: o egoísmo, o egocentrismo. E ele o faz de forma reflexiva, utilizando-se nos versículos 7 e 8 de Romanos 14, para apontar para questões de cunho existencial. “Nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si mesmo…”

Isto não só delimita um sentido existencial focado em Cristo, mas deixa claro até mesmo ao leitor mais desapercebido que:

  1. Não há existência fora de Cristo. Ele é a razão da Vida. Existimos para Ele.
  2. Que nenhuma existência tem sentido se não for vivida para Ele.
  3. Que o sentido existencial ganha significado Nele e para Ele.
  4. Que qualquer atitude, ainda que feita em nome da consciência de fé que se tem, se é parcial, se gera divisão, é reprovável e já está por si só des-significando nosso sentido existencial Nele, pois está indo contra à essência do Amor Daquele que se entregou na cruz. Com um detalhe: como uma ovelha muda!!

“Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.”

A chamada à consciência individual, por meio do Tribunal de Deus, sugere muito mais chamar a nossa atenção a uma existência focada no Senhor, do que propriamente faz menção a um juízo em si mesmo. Isto porque o Tribunal de Cristo é estabelecido para galardão, recompensa. Muitos inclusive entendem que a recompensa é Cristo, o que nos parece bastante consistente (especialmente para quem entende sobre a edificação da Vida de Cristo pelo Espírito, assim como revelada nas Escrituras) . Quem age de acordo com o princípio da Vida de Cristo, certamente receberá aquilo que já demonstra possuir: a manifestação de Sua Vida. Não há recompensa maior!!

“Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura. Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu. Não seja, pois, vituperado o vosso bem.”

Observe a evolução da revelação. Não se trata, portanto, de não julgarmos. Aqui é importante registrar que este julgamento refere-se ao que o mundo chama de julgamento (tema abordado acima). Ao contrário, trata-se de nos abstermos em favor do outro. O que determina o meu “comer ou não comer”, eu que supostamente já tenho discernimento da sombra destas realidades, devo manifestar a luz que possuo, visando não os meus “interesses”, mas os interesses do Senhor manifestos na edificação de Cristo na vida de meus irmãos.

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros. Não destruas a obra de Deus por causa da comida.”

Ser agradável a Deus. Ser aprovado pelos homens. Servir a Cristo. É bastante claro o ensino bíblico. Veja que o tema tem haver com EDIFICAÇÃO. Observe a correlação entre esta edificação e a “Obra de Deus”. Lembre-se de que o Templo foi erigido por Salomão “em tempos de paz”. E um detalhe: todo contexto da edificação do Templo carrega com aspecto de julgamento pessoal subjetivo extremamente forte. Isto fica nítido e pode ser estudado no Resumo sobre o “Templo de Salomão.”

Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado.” Romanos 14:1-23

Esta porção é bastante significativa. Afinal, ela trata de duas sérias questões:

  1. A primeira é a de que temos a tendência de imprimir nossa visão/impressão àquilo que é o objeto de nossa análise/avaliação. E esta visão impregnada de pré-conceitos relativiza o objeto/ser na medida de nossas projeções, que são, muitas vezes, a expressão não do objeto/ser, mas de nós mesmos. Neste sentido a pureza de coração é fundamental, afinal é do interior do coração dos homens que procede todo tipo de mal (Mc 7:21-23).
  2. A segunda questão envolve o entendimento do que seria “comer com escândalo”. Esta palavra “escândalo” refere-se a “fazer alguém tropeçar”. Ou seja, trata-se de “comer” de forma a que sujeito o meu próximo a tropeçar. Ora, se o comer, como vimos, carrega aspectos espirituais em si mesmo, trata-se portanto, de testemunho. E não somente isto, mas da consciência que possuo no tocante ao testemunho de Cristo manifestado através de minha vida, com o senso de minha co-responsabilidade na edificação de meus irmãos, por quem Cristo deu a Sua Vida.

“Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim.”

Não agradar a nós mesmos. Que frase “estranha”, que conceito contraditório para nosso ego, para nossa visão egocêntrica, para os conceitos da psicologia humana moderna que diz “você merece ser feliz”. Tudo no mundo diz que “devemos buscar a felicidade”. Mas será que isto pode ser assim? Seria relativizando a Verdade da Palavra? Desconsiderando o próximo? Será que percebemos que o exercício do individualismo pode custar a vida de outros?

Por óbvio, o individualismo é a perversão da individualidade. A individualidade é parte de um processo maior, em Deus, de individuação, para sermos em Deus, aquilo para o que Ele nos projetou ser. Assim, e nesta consciência, individual e corporativa, exercemos nossa individualidade, de forma consciente, para edificação do Corpo de Cristo. Assim manifestamos a grandeza de Deus, na diversidade da operação da Vida de Seus membros. E nisto, Deus é glorificado!!

Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.
Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.”
Romanos 15:1-7

Se há um aspecto na Palavra que temos de atentar é este. O contexto do “pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito” é este: edificação, paz, unidade, mutualidade, manifestação de Vida Corporativa. Sabiamente, o Espírito Santo de Deus, conhecedor de nossa imensa dificuldade de uma vida de plena união com Ele e uns com os outros assinala: “Ora, o Deus da PACIÊNCIA e da CONSOLAÇÃO vos conceda o mesmo SENTIR de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que CONCORDEMENTE e a UMA VOZ glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, ACOLHEI-VOS UNS AOS OUTROS, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus”.

Estas mesmas questões são abordadas em outros livros na Bíblia, notadamente em I Co 8:1-13. Observamos nesta porção basicamente as mesmas instruções já mencionadas e analisadas em Rm 14 e Rm 15. Senão vejamos.

“No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele. No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus. Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele. Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se. Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos. Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos? E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais. E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.” I Coríntios 8:1-13

Obs: A questão relacionada aos ídolos em conexão com o comer, mencionados neste contexto, é abordada em detalhes na seção “Idolatria” contida no site.

“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem.
Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro. Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência alheia? Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser vituperado por causa daquilo por que dou graças? Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.”
I Coríntios 10:23-33

Julgar ou Testemunhar

1.Como Cristão, é nosso dever testemunhar:

A. Jesus deu a “Grande Incumbência” para todos os Seus discípulos:

Mt.4:19 Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens

Mc.16:15 Ide por todo o mundo, pregai o evangelho

Atos 1:8 Ser-Me-eis testemunhas… até aos confins da Terra

Mt.28:19,20 Portanto ide, ensinai todas as nações

Mc.13:10 O evangelho seja… pregado entre todas as gentes

Lc.24:47 Em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações

João 15:16 Vos nomeei, para que vades e deis fruto

B. Jesus nos envia como Seus obreiros e testemunhas:

Is.6:8 A quem enviarei? Eis-me aqui, envia-me a mim

Mt.9:37,38 Poucos os ceifeiros… rogais pois ao Senhor… que mande ceifeiros para a Sua seara

Lc.9:2 (Jesus) enviou-os a pregar o Reino de Deus

Jo 20:21 Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós

Rm.10:14,15 E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?

II Co.5:20 Somos embaixadores da parte de Cristo

2.Por que precisamos testemunhar:

A. Você fala daquilo em que acredita:

Sl.107:2 Digam-no os remidos (salvos) do Senhor

Jo 3:11 Dizemos o que sabemos e testificamos o que vimos

At 4:20 (Falamos) do que temos visto e ouvido

II Co.4:13 Cri, por isso falei (V. Sl.116:10a)

B. Para salvar almas da morte:

Pv.14:25 A testemunha verdadeira livra as almas

At 26:18 Para lhes abrires os olhos, e… os converteres… do poder de Satanás a Deus

Tg 5:20 Aquele que converter… um pecador, salvará da morte uma alma

C. Se você não testemunhar, você e eles sofrerão:

Ez.3:17-19 Não falando para avisar o ímpio… o seu sangue da tua mão o requererei (V. também At 20:26,27)

Mc.8:38 O Filho do Homem Se envergonhará dele quando vier

Lc.12:8,9 Quem Me negar diante dos homens será negado

I Co.9:16 Ai de mim, se não anunciar o evangelho

II Co.4:3 Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto

(V. também Jr.8:20; Jn.1:1-17)

3.Não seja tímido nem tenha vergonha de testemunhar:

Sl.119:46 Falarei dos Teus testemunhos… e não me envergonharei

Is.40:9 Levanta a tua voz fortemente… não temas

Is.62:6b Vós os que fazeis menção do Senhor, não haja silêncio em vós

Mt.5:14-16 Vós sois a luz do mundo… não se pode esconder… assim resplandeça… diante dos homens (V. também MC.4:21; Lc.8:16)

Mc.8:38 Qualquer que… se envergonhar de Mim e das Minhas Palavras… o Filho do homem se envergonhará dele

At 18:9b Não temas, mas fala, e não te cales

Rm.1:16 Porque não me envergonho do evangelho de Cristo

Ef.6:18-20 (Oro)… para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança (ousadia)

I Ts 2:2 Tornamo-nos ousados… para vos falar o evangelho de Deus

II Tm.1:8a Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor

(V. também Jr.1:6-9)

4.Dicas sobre como ser uma boa testemunha:

Pv.18:13 [Faça perguntas] Responder antes de ouvir

Tg 1:19 [Ouça] Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar

Pv.20:5 [Faça-os abrir o coração] O tirará para fora

Mt.12:34b Do que há em abundância no coração, disso fala a boca

At 26:27 [Pergunte no que a pessoa acredita] Crês tu nos profetas?

At 17:23-28 [Encontre assuntos nos quais concordam] Alguns dos vossos poetas disseram

I Co 9:19-22 Fiz-me tudo para todos, para… chegar a salvar

At 26:1-20 [Conte o seu testemunho pessoal. Exemplo de Paulo]

Mc.4:2 [Ilustre o que quer dizer com histórias verídicas] (Jesus) ensinava-lhes muitas coisas por parábolas

Lc.13:1-5 [Use acontecimentos atuais: Pilatos, desmoronamento da torre de Siloé]

At 2:40 [Explique pacientemente] E com muitas outras palavras

Sl.126:5,6 [Tenha um coração partido] Semeiam em lágrimas, segarão com alegria

Mt.9:36 Teve grande compaixão deles (ovelhas perdidas)

I Co 13:1 [Fale com amor, senão não passa de palavras vazias como metal que soa ou sino que tine]

I Sm 16:23 [A música tem poder espiritual: exemplo de Davi tocando harpa para o rei Saul]

Lc 14:23 [Tenha dedicação e determinação] Força-os a entrar

I Rs 18:21a [Faça-os tomar uma decisão] Até quando coxeareis entre dois pensamentos (V. Js.24:15; Hb.3:7,8a; II Co 6:2)

5.Use a Palavra quando testemunhar:

A. A Palavra é poderosa e convence as pessoas:

II Cr 17:9 Tinham consigo o livro da lei do Senhor; e rodearam todas as cidades… e ensinaram entre o povo

Lc.8:5,11 Um semeador saiu a semear… a semente é a Palavra de Deus

Jo 4:41,42 Muitos mais creram n`Ele, por causa da Sua Palavra… Já não é pelo teu dito (da mulher) que cremos

Jo 5:39 Examinai as Escrituras… elas de Mim (Jesus) testificam

Jo 20:31 Estes… foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo

At 17:2,3 Paulo… disputou com eles sobre as Escrituras

At 18:28 Com grande veemência convencia… mostrando pelas Escrituras

Tt 1:9 A Palavra, que é conforme a doutrina… para convencer os contradizentes

B. Memorizar versículos é importante para a testificação:

Sl.119:42 Assim terei que responder… pois confio na Tua Palavra

Pv 22:17-21 Para… responder palavras de verdade aos que te enviarem

Ml.2:6 A lei da verdade esteve na sua boca… apartou a muitos da iniquidade

Mt 12:34b,35a O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro (do seu coração)

At 13:32-35 [Cite a Palavra:] Como também está escrito no Salmo segundo

II Tm 4:2 Que pregues a Palavra… exortes com toda a… doutrina

I Pe 3:15 Estai sempre preparados para responder… a qualquer

6.Mantenha a sua testificação simples:

Jo 12:32 E Eu (Jesus) quando for levantado… todos atrairei a Mim

I Co 1:17 Evangelizar, não em sabedoria de palavras

I Co 2:1,2 Não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria

I Co 2:4 A minha pregação não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana

I Co 14:9 Se… não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz?

II Co 1:12 Com simplicidade e sinceridade… não com sabedoria carnal

II Co 3:12 Usamos de muita ousadia (clareza) no falar

7.Sobre o que você deveria pregar (testemunhar):

A. Pregue o evangelho; pregue Jesus:

Is.58:1 Anuncia ao Meu povo a sua transgressão e… pecados

Mt.28:19,20 Ensinai… todas as coisas que Eu vos tenho mandado

Mc.16:15 Pregai o evangelho [boas novas da salvação em Jesus]

Lc.9:2 (Jesus) enviou-os a pregar o Reino de Deus

Jo 3:16 [Que eles podem ter a vida eterna se acreditarem em Jesus]

At 4:2b (Ensinavam)… a ressurreição dos mortos

At 5:42 Não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo

At 13:32-35 [Jesus cumpriu as profecias messiânicas do Antigo Testamento]

At 13:38 Por Este (Jesus) se vos anuncia a remissão dos pecados

At 20:21 Testificando… a conversão a Deus e a fé em… Jesus

Rm.5:8 Deus prova o Seu amor para conosco… Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores

I Co 1:23 Nós pregamos a Cristo crucificado

I Co 15:3 Vos entreguei (declarei)… que Cristo morreu por nossos pecados

I Co 15:4 E que foi sepultado e que ressuscitou (dos mortos)

II Co 4:5 Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor

II Co 5:20 Rogamo-vos… que vos reconcilieis com Deus

I Tm 1:15 Que Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores

IJo 4:14 Testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo

(V. também At 10:42;24:25a; Ef.3:8)

B. Sobre o que não falar:

I Co 3:2 Não com manjar (doutrinas fortes)… porque ainda não podíeis [aguentar]

I Ts 2:3-6 Porque a nossa exortação não foi com engano… nem com fraudulência… nunca usamos de palavras lisonjeiras

II Tm 2:23 Rejeita as questões loucas e sem instrução

Tt 3:9 Não entres em questões loucas… contendas e debates

Hb.5:14 Mantimento sólido (doutrinas fortes) é para (os amadurecidos)

8.A Quem Testemunhar:

A. Jesus ordenou que testemunhássemos para o mundo inteiro:

Mc 16:15 Pregai o evangelho a toda criatura (pessoa)

Mt 28:19 Portanto ide, ensinai todas as nações

Lc 8:39 Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas

Mc 5:19 Vai para tua casa, para os teus e anuncia-lhes

Mt 11:5b Aos pobres é anunciado o evangelho

Is 61:1 Para pregar as boas novas aos mansos

At 26:22a Dando testemunho tanto a pequenos como a grandes

Rm.15:20,21 Me esforcei por anunciar… a quem não foi anunciado

At 22:21 Aos gentios de longe (povos de nações distantes)

At 28:28 Salvação é enviada aos gentios (pagãos receptivos)

At 17:18-21 [A filósofos curiosos e intelectuais]

Ez 2:7 [Dê uma chance a todos, até aos rebeldes]

Ez.3:17,18 (Avisa) o ímpio acerca do seu caminho ímpio

B. A quem não testemunhar:

Mt 9:13b Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores

Pv 23:9 Não fales aos ouvidos do tolo, porque desprezará

At 13:45,46 [Não fique testemunhando para pessoas que rejeitam]

Mt.7:6 Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas

At 18:6 Resistindo e blasfemando eles… disse-lhes: Parto

Mt 10:14 Se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras… saí

Tt 3:10,11 Ao hereje, depois de uma e outra admoestação, evita-o

Pv 14:7 Vai-te (da) presença do homem insensato

9.Um exemplo pessoal que conquista:

A. O seu exemplo pessoal faz parte do seu testemunho:

Mt 5:16 Assim resplandeça a vossa luz… vejam as vossasobras

Fp 2:15,16a Irrepreensíveis e sinceros… resplandeceis como astros no mundo; retendo a Palavra da vida

I Tm 4:12b Sê o exemplo dos fiéis

II Co 3:2 Vós sois a nossa carta… conhecida e lida por todos os homens

Tt 2:7,8 Em tudo te dá por exemplo de boas obras

I Pe 3:1,2 [Cônjuge incrédulo é ganho pelo exemplo do que crê] (V. também I Tm 5:14b)

Jo 13:35 Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros

B. Exemplo de felicidade atrai os outros:

Sl.51:12,13 Torna a dar-me a alegria da Tua salvação. Então…os pecadores a Ti se converterão

C. Conquiste os outros com amor, não com discussão:

I Ts 2:7,8 Antes fomos brandos… sendo-vos tão afeiçoados

II Tm 2:23,24 Ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso

(V. também I Co 13:1,2,8)

D. Exemplo pessoal tem que confirmar o seu testemunho:

Jo 13:15 Eu (Jesus) vos dei o exemplo… como Eu fiz… façais

Rm 2:21-24 Tu que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve… fazes?

(V. também I Co 11:1; I Tm 6:1; Tt 2:4,5)

10.Quando devemos testemunhar:

A. Devemos testemunhar constantemente:

Ec 11:6 Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde

Jo 4:35 Vede as terras, que já estão brancas para a ceifa

At 5:42 Todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam

II Tm 4:2 Instes a tempo e fora de tempo [mesmo quando for “inconveniente”]

I Pe 3:15 Estai sempre preparados para responder… a qualquer um

(V. também At 20:31)

B. Ore a Deus para “suprir” oportunidades de testificação:

Cl 4:3 Orando… para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo

C. Espere pela hora de Deus para testemunhar para certas pessoas:

Mt 10:5-7 Não ireis pelo caminho das gentes (gentios)… ide antes… [Mas depois, disse] Ide por todo o mundo” Mar.16:15

At 16:6,7 (Paulo impedido)… de anunciar a Palavra na Ásia[mas anunciou com grande êxito lá alguns anos depois At 19:1,10]

11. Onde devemos testemunhar:

11.1- Na sua própria casa (At 28:30,31);

11.2- Em todas as casas (At 5:42);

11.3- De casa em casa (At 20:20);

11.4- Em escolas e salões (At 19:9,10);

11.5- Na igreja (Hb 2:12);

11.5- Em mercados (At 17:17);

11.6- Em bairros de outras raças (Jo 4:1-42);

11.7- Nas ruas, estradas, caminhos e valados (Lc 14:21b,23);

11.8- Em toda a cidade (Lc 8:39b);

11.9- Em carros [carruagens] (At 8:29-35);

11.10- Em barcos (At 27:22-25);

11.11- Na prisão (Fp 1:12,13);

11.12- No tribunal (Mt 10:18-20);

11.13- No deserto (Mt 3:1,2);

11.14- Em todo lugar (At 8:4).

12.O “fruto” que os Cristãos deveriam dar é outros cristãos, novas almas salvas:

Lc 8:5-15 [“A Parábola do Semeador”] (V. também Mt 13:3-8,18-23; Mc 4:2-8,14-20.)

Lc 8:11 A semente é a Palavra de Deus [que semeamos em corações]

Mc 4:14 O que semeia (testemunha), semeia a Palavra

Pv 11:30 O que ganha almas sábio é

Jo 12:24 Mas se morrer (para si mesmo), dá muito fruto

Jo 15:5 Quem está em Mim… dá muito fruto

Jo 15:8 Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto

Ro 7:4 Sejais de outro (Jesus)… a fim de que demos fruto para Deus

13.O Espírito Santo e testificação:

A. O Espírito Santo nos unge para testemunhar sobre Jesus:

Is 61:1 O Espírito do Senhor está sobre mim… me ungiu para pregar

At 1:8 Recebereis a virtude (o poder) do Espírito Santo que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas

At 4:29-31 Todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a Palavra de Deus

I Ts 1:5 O nosso evangelho foi… em poder, e no Espírito Santo

(V. também Cl 1:27-29)

B. Só Deus e o Seu Espírito Santo podem realmente conquistar as pessoas:

Jo 6:44 Ninguém pode vir a Mim, se o Pai… o não trouxer

Zc 4:6b Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito

Mt 10:20 Não sois vós quem falará, mas o Espírito… que fala em vós

Jo 15:5 Sem Mim nada podeis fazer

I Co 3:6,7 Eu plantei… mas Deus (deu) o crescimento

14.Testemunhar é o trabalho mais importante que existe:

A. Testemunhar é um trabalho digno de tudo que temos:

Mt 4:19-22 Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens… eles, deixando logo as redes, seguiram-No (V. também Lc 5:9-11)

Mc 8:35 Perder a sua vida por amor de Mim e do evangelho

Mc 10:29 [Deixar casa, família, esposa, terras por amor ao evangelho]

Lc 9:59,60 Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia

B. Recompensa no Céu por testemunhar:

Pv 11:30 O que ganha almas sábio é

Dn 12:3 Os entendidos resplandecerão… e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas (V. também Mt 13:43)

Lc 12:8 O Filho do homem o confessará diante dos anjos

I Co 3:8b Cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho

I Co 9:16,17a Porque se (anuncio o evangelho) de boa mente, terei prêmio

15.Reações ao Evangelho:

A. As pessoas receptivas acreditam na Palavra:

Jn 3:1-9 [Jonas pregou em Nínive e a cidade inteira se arrependeu]

Jo 4:39-42 [Os samaritanos em Sicar receberam Jesus e acreditaram]

At 8:5,6,8,14 [Filipe pregou em Samaria]…as multidões unanimemente prestavam atenção… Samaria recebera a Palavra de Deus

At 16:14 Lídia… o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta

At 16:32-34 Lhe pregavam a Palavra… na sua crença… alegrou-se com toda a sua casa

B. Os não receptivos rejeitam a Palavra:

Lc 8:5,12 O diabo e tira-lhes… a Palavra, para que se não salvem

I Co 1:18 Palavra… é loucura para os que perecem

II Co 4:4 O deus deste século cegou os entendimentos (dos incrédulos)

(V. também Jr36)

C. Impopularidade e perseguição por testemunhar:

Lc 6:22 (Rejeitarão) o vosso nome como mau por causa… (de Jesus)

Jo 7:7 O mundo… Me aborrece (odeia), porquanto testifico que suas obras são más

At 16:20,21 Estes homens… perturbaram a nossa cidade, e nos expõem costumes que nos não é lícito

D. Nossa testificação é um testemunho contra os impenitentes:

Mt 10:18 Sereis conduzidos à presença dos reis… para servir de testemunho contra eles

Mc 6:11 Sacudi o pó… em testemunho contra eles.

Jo 12:48 A Palavra que tenho pregado… o há de julgar

16.Testemunhar com ousadia apesar da oposição:

A. Nem ameaças, nem perseguições nem martírio deveriam nos deter:

Lc 21:12-15 Vos perseguirão… vos darei sabedoria

At 4:29, 31,33 Olha para as suas ameaças… anunciavam com ousadia a Palavra de Deus

At 14:1-3a Detiveram-se muito tempo falando ousadamente acerca do Senhor

Atos 20:24 Em nada tenho a minha vida por preciosa

I Ts 2:2 Havendo primeiro padecido… tornamo-nos ousados em vos falar

Ap 6:9 Foram mortos por amor da Palavra de Deus e do testemunho

Ap 12:11 O venceram pela Palavra… não amaram as suas vidas

Ap 20:4 Foram degolados pelo testemunho de Jesus

B. Testemunhe, mesmo que as leis do homem o proíbam:

Am 7:12-15 [Sacerdote mau disse]… Em Betel não profetizarás… O Senhor me disse (a Amós): Vai, e profetiza

Mt 10:16 Sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas

Lc 10:3 Vos envio como cordeiros ao meio de lobos

At 4:17-20 Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido

At 5:27-29 Mais importa obedecer a Deus do que aos homens

At 5:40-42 Mandaram que não falassem… não cessavam

17.Mais versículos sobre testificar e dar testemunho:

A. Do Antigo Testamento:

Dt 32:3 (Apregoarei o nome do Senhor); I Cr 16:8 (Fazei conhecidos entre os povos os Seus feitos); Sl 9:11 (Anunciai entre os povos os Seus feitos); Sl 18:49 (Te louvarei entre as nações); Sl 26:7 (Publicar… contar todas as Tuas maravilhas); Sl 66:16 (Cantarei o que Ele tem feito à minha alma); Sl 71:15 (A minha boca relatará… Tua salvação todo o dia); Sl 89:1 (Com a minha boca manifestarei a Tua fidelidade de geração a geração); Sl 96:3 (Anunciai entre os povos as Suas maravilhas); Sl 96:10 (Dizei entre as nações: O Senhor reina); Sl 119:13 (Com os meus lábios declarei todos os juízos da Tua boca); Sl 119:27 (Assim falarei das Tuas maravilhas); Sl 145:4-7 (Falarei da magnificência gloriosa da Tua majestade); Sl 145:11,12 (Façam saber aos filhos dos homens as Tuas proezas); Is 43:10a (Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor); Is 52:7 (Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz).

B. Do Novo Testamento:

Mc 16:20 (Tendo partido, pregaram por todas as partes); Lc 8:1 (Pregando e anunciando o evangelho do reino); Jo 4:39 (Muitos creram n’Ele pela palavra da mulher); Jo 21:17 (Amas-Me? Apascenta as Minha ovelhas); At 5:20 (Ide… dizei ao povo todas as palavras desta vida); At 5:32 (E nós somos testemunhas acerca destas palavras); At 10:42 (Nos mandou pregar ao povo, e testificar); At 13:49 (A Palavra do Senhor se divulgava por toda aquela província); At 18:25 (Fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente); At 22:15 (Porque hás de ser Sua testemunha para com todos os homens); Rm 10:15b (Quão formosos os pés dos que anunciam a paz); II Tm 2:2 (O que… ouvistes, confia-o a homens fiéis… para ensinarem os outros); II Tm 4:2 (Pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo).

O Aspecto Coletivo

“Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos? Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade?
Mas irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos!
O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos! Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.”
I Coríntios 6:1-10

Como Resolver Conflitos Dentro da Igreja Local

Texto extraído do site solascriptura compilado pelo Pr. Cleverson de Abreu Faria

É muito comum na vida cotidiana de uma Igreja Local a ocorrência de conflitos. Por vezes surgem divergências entre os irmãos, ou mesmo entre a própria liderança. O que fazer quando surgem esses conflitos? O que fazer quando acontecem facções no seio da comunidade cristã?

Perguntas sérias que merecem respostas sérias e objetivas. Onde encontrar tal solução? No conselho do irmão mais experiente? No conselho do pastor? No conselho de um grupo de cristãos mais maduros? Não, não e não.

Temos que aprender a buscar conselho na Bíblia, a Palavra de Deus. Devemos aprender a seguir o padrão bíblico. Encontramos na Palavra de Deus muita instrução para solucionarmos os conflitos que ocorrem no seio da Igreja de Deus.
O que fazer então quando existe contenda entre os irmãos? Como solucionar os problemas causados por uma facção entre os membros da Igreja Local? É possível sim a obtenção de sucesso na resolução destes problemas. Vamos então verificar e aplicar o ensino bíblico para que possamos resolver tais desavenças quando surgirem em nosso meio:

Conflitos em Questões Pessoais

“Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.15-20).

Este ensino do Jesus Cristo é maravilhoso. É a solução simples, clara e objetiva de Deus para os nossos conflitos pessoais. Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina qual deve ser a nossa atitude e a ação a ser tomada quando alguém peca contra seu irmão em Cristo. O fato é que não se deve criar um problema maior do que aparentemente seja. Não devemos ampliar a questão além do necessário, nem ficar resmungando ou contando a todos o que se passa, devemos ir imediatamente a pessoa envolvida e confrontá-la com seu erro, mas sempre com uma atitude cristã de amor.

Vejamos os passos dados e ensinos para que todo tipo de problema envolvendo irmãos da mesma fé seja resolvido:

1) Fale com ele amorosamente.

Quando acontecer o fato de um de nossos irmãos ou irmãs na fé nos ofender, a atitude sábia e correta de todo cristão deveria ser a de ir até este ofensor. Apesar de ser muitas vezes difícil de se fazer isso, apesar de exigir coragem da parte do ofendido, esta sempre será a melhor solução. Pode ser que muitos não achem isso correto, mas é bíblico e sendo bíblico é a solução de Deus. Quando assim se procede, na maioria dos casos, o problema é solucionado.

Uma confrontação direta faz com que toda e qualquer dúvida seja dirimida. Nesse caso a atitude conta muito. Quantos se dirigem a seu irmão ou irmã em Cristo com atitude arrogante e com isso sequer conseguem a solução do problema. Uma atitude de amor é o ideal. Confrontar sim, mas em amor. Falar do erro sim, mas com humildade e amor. Isso faz com que aconteça o arrependimento e a confissão do erro por parte da pessoa errada.

“Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!” (Tg 3.5). Pequenas ofensas, conflitos pequenos, podem se tornar grandes e contaminar muita gente se não forem tratados logo e amorosamente.

2) Busque o auxílio de testemunhas.

Se este confronto pessoal não surgiu efeito, Jesus Cristo nos ensina que devemos buscar o amparo e o auxílio de mais pessoas para solucionar a questão. Sábio era proceder desta maneira. Busque dois ou três homens de Deus, pessoas respeitáveis e que tenham um bom testemunho e sejam espirituais e se dirija novamente ao ofensor estando estas testemunhas ao seu lado para tentar auxiliar na melhor solução do problema enfrentado.

Geralmente a presença de mais pessoas faz com que mais conselhos sejam dados, sendo um meio bem eficaz de fazer com que o ofensor veja o seu pecado. Assim, o arrependimento pode ser manifestado e conseqüentemente o perdão estabelecido.
3) Leve a questão à Igreja.

Caso o primeiro e o segundo passo não tenham qualquer efeito na resolução do problema, faz-se necessário então tomar o passo número três. Nunca antes, é a última opção a ser feita quando o problema é pessoal, não afetando o testemunho coletivo da Igreja Local.

Agora, os líderes da Igreja devem entrar em ação. O pastor, juntamente com os diáconos da Igreja devem ficar cientes do problema estabelecido. Esses líderes deverão entrar em contato com ofensor e ofendido e buscar a reconciliação. No caso do ofensor se recusar a se submeter ao conselho bíblico, deve ser excluído do rol de membros da Igreja Local. Lembre-se que mesmo nesse caso, a atitude deve ser amor e humildade.

O grande alvo nisso tudo deve sempre ser o perdão e a restauração da comunhão entre as partes ofendidas. Muita oração deve estar envolvida. E é claro, a Palavra de Deus, que nos revela tudo o que precisamos para nossos problemas.

Conflitos em Questões “Políticas”

“Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.1-7)

Vemos neste texto das Escrituras todas as questões relativas a uma grande controvérsia ocorrida no seio da Igreja Local. O maior problema envolvido aqui era que existiam dois grupos na Igreja: os cristãos judeus de língua aramaica, o grupo majoritário e os cristãos judeus e gentios helenistas, que eram o grupo minoritário. O helenista é o habitante da Grécia ou o judeu que falava o grego e seguia os costumes gregos.

Estava ocorrendo acepção de pessoas entre os cristãos. As viúvas dos cristãos de língua grega, o grupo menor, estavam sendo esquecidas na distribuição de alimentos e dinheiro. Isso fez com que uma grande polêmica fosse levantada e estabelecida.
Veja como uma simples questão pode causar um grande tumulto dentro de uma Igreja Local. O fato, na verdade, era simples. Mas veio a se tornar grande. Fez-se necessário a tomada de uma decisão, caso contrário um problema ainda maior poderia se alastrar. Note quantas Igrejas hoje em dia se dividem por problemas semelhantes. São pequenas coisas que fazem com que os ânimos se alterem como a cor que será pintada a Igreja, a cor do carpete do templo ou do berçário, o hinário a ser usado, e assim vai. Muitas Igrejas chegam a uma divisão nesses aspectos banais.
Ocorre então a intervenção dos apóstolos. Estes pela sabedoria divina souberam tratar da questão de uma forma extremamente bem sucedida. Veja a solução oferecida pelos apóstolos:

1) Enfrentar o problema.

Imediatamente ao tomar conhecimento da queixa feita pelos judeus de fala grega, os apóstolos tomaram as providências devidas. Eles não esconderam o fato e sequer deixaram que tal problema simplesmente fosse resolvido com o passar do tempo. Convocaram a congregação e estabeleceram os fatos diante de todos. Não disseram que haviam cometido pecado ao servirem às mesas juntamente com o ministério da Palavra. Da mesma forma, eles não menosprezaram o serviço das mesas. Também não foi negada a necessidade de se ter cuidado para com a administração dos bens, ou seja, as ofertas da Igreja. Sequer foi dito aos membros da Igreja que eles deveriam se submeter aos atos e decisões dos líderes sem terem o direito de abrirem a sua boca para darem sua opinião. O que fizeram foi simplesmente reconhecerem que tinham uma necessidade de retirar aquilo que não era bom, por isso, deram total razão aos queixosos. Foram humildes. Quantos líderes não agem dessa forma em nosso meio! Perceba que os apóstolos não defenderam seus próprios interesses. Quanta necessidade nós temos, hoje em dia, de líderes que procedam dessa maneira!

2) Encontrar uma solução.

De nada bastava ter o conhecimento da causa. Os apóstolos precisaram agir. A prioridade deles era se dedicarem à oração e ao ensino.

Note que os apóstolos ao receberem as murmurações não disseram que eram infalíveis e sequer percebemos que eram imunes às críticas, antes, percebemos que eles procuraram agir da melhor forma para a perfeita resolução do problema. A Igreja de Jerusalém fora convocada. Note também que nenhuma outra organização interferiu nessa decisão, pois sequer existia outra Igreja. Portanto, os problemas de Igreja Local devem ser resolvidos dentro da própria Igreja Local.

A solução encontrada fora escolher sete homens para se empenharem no serviço glorioso e digno de servir às mesas. Os primeiros diáconos foram escolhidos. Não eram quaisquer homens não. Não serviria colocar qualquer tipo de homem, mas sim, homens de Deus, homens com o coração na obra de Deus.

3) Demonstrar confiança.

A proposta feita foi de total agrado da multidão. Os irmãos votados aceitaram a responsabilidade de tal encargo e logo se puseram a desempenhar suas funções. Note aqui como os primeiros cristãos demonstraram uma prova muito forte de sua caridade e de seu amor. A queixa fora feita pelos irmãos helenistas, os judeus de fala e costumes gregos.

Os sete diáconos eleitos tinham nomes gregos ou eram helenistas. Já notamos que a imensa maioria era irmãos judeus cristãos da Palestina, e estes, ao escolherem diáconos helenistas para serem os encarregados a partir daquele momento da distribuição diária, demonstraram que entregavam aos cuidados dos queixosos as suas próprias viúvas.

Isso foi um tipo de demonstração e confiança que fez com que a Igreja permanecesse unida. Vendo isso, os helenistas não podiam mais ajudar de outra forma a não ser desempenhar bem o seu papel, resolvendo assim o conflito e amando ainda mais a seus irmãos como uma resposta pela compreensão e aceitação de sua queixa.

Conflitos em Questões Doutrinárias
“Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós…” (Atos 15.28).

Algumas vezes surgem questões sobre doutrina na Igreja Local. O que fazer quando a Bíblia não nos dá ordem específica sobre tal assunto doutrinário? Ora, se a Palavra de Deus é clara e específica em um determinado assunto, devemos tomar a posição bíblica.

Agora, se não houver uma palavra clara de Deus na Bíblia sobre determinado assunto, devemos ser flexíveis e verificar princípios que melhor nos auxiliam nesse aspecto. Como diz o velho ditado: “Unidade nos essenciais, liberdade nos não-essenciais, mas amor em todas as coisas!”

Questões de doutrina podem dividir uma Igreja. Devemos ser cautelosos e bíblicos para enfrentar dificuldades assim. A história toda se encontra em Atos 15.1-29. Vejamos como solucionar questões doutrinárias:

1) Detectar a doutrina errada e estabelecer um plano.

A Igreja notou algo de errado em alguns homens que chegaram da Judéia, pois estavam causando confusão e contenda entre os cristãos. Estes homens não foram enviados por nenhuma igreja. Paulo e Barnabé foram enviados à Jerusalém para a resolução deste erro doutrinário. O apóstolo Paulo poderia ter usado sua autoridade como apóstolo para por um fim na questão levantada por estes falsos mestres, mas pensou que isso poderia apenas agravar ainda mais a situação e inflamar os ânimos. Resolveram ir para o Primeiro Concílio Eclesiástico em Jerusalém.
O assunto desse concílio era único: uma pessoa que não fosse judia teria ou não que se fazer judia primeiro para chegar a ser uma cristã? Os gentios então teriam que se submeter a circuncisão dos judeus e eventualmente ficarem sob o Pacto Abraâmico e sujeitos à Lei Mosaica? Portanto, a crença desses homens era que um homem para ser salvo deveria se fazer judeu primeiro.

A idéia seria que Paulo, Barnabé e alguns líderes em Antioquia fossem então para este concílio, onde seria tratado o assunto levantado e voltariam com uma recomendação e uma solução deste concílio para ser notificado a Igreja. Note que eles não foram enviados à Igreja de Jerusalém para receber ordens vindas de lá, mas sim que deveriam falar aos apóstolos e irmãos da capital tudo o que Deus estava fazendo entre os gentios e, portanto, provar que o que estes homens estavam pregando era uma falsa doutrina.

2) Examinar ambas as partes.

Estando no Concílio os primeiros a levantar para falar foram os falsos mestres. Após isso Pedro se levanta e discorre como Deus está trabalhando e colocando os gentios entre os salvos da mesma forma que os judeus, não fazendo qualquer distinção.
A discussão e a contenda fora levantada pelos fariseus que também acreditavam como aqueles homens. Note que não fizeram uma sessão secreta, todos podiam falar, pois houve grande discussão. O próprio apóstolo Pedro foi coerente com sua própria experiência e da mesma forma claro ao afirmar que submeter os gentios à lei de Moisés era pô-los sob um jugo impossível de se levar. Afirmou também que sendo eles salvos pela graça de Jesus Cristo, os gentios também eram da mesma forma.
Note algo muito importante: estes falsos mestres, fariseus, em nenhum momento sequer citaram um único versículo para provar sua doutrina herética. Em nenhum momento citaram um verso do Velho Testamento ou um mandamento ou palavra de Jesus Cristo. Assim acontece com as falsas doutrinas. Quando, porém, citam algum texto bíblico, citam tirando a passagem de seu contexto e dando interpretação que nunca fora dado a tal passagem antes. É a única forma de possuem para confirmar uma doutrina falsa.

Paulo e Barnabé contam o Deus fizera por intermédio deles em relação aos gentios. Falou das muitas maravilhas que estava acontecendo e como Deus estava agindo.
Depois disso, falou quem conduzia a sessão. Não era o apóstolo Pedro não. Se ele tinha uma posição de preeminência como alegam alguns, ele deveria estar dirigindo e supervisionando este concílio.

O “presidente” deste concílio era o apóstolo Tiago, irmão de Jesus Cristo e o autor da Epístola que leva seu próprio nome. Ele resume todo o argumento. Citando passagens do Velho Testamento (Amós 9.11-12; Isaías 54.1-5; Oséias 3.5), o apóstolo Tiago diz que tudo o que fora dito pelos demais apóstolos estava de acordo com o que Deus já havia tornado conhecido nas Escrituras.

Esta é uma prática saudável: devemos submeter nossas experiências, crenças, sonhos, pensamentos à Palavra de Deus! Toda a verdade tem que estar de acordo com a verdade que Deus tem revelado.

3) Seja firme, mantenha a sã doutrina.

O “presidente” do concílio, então. Dá o seu veredito. Os gentios convertidos não precisavam ser circuncidados. Fora uma resposta firme e clara. Com isso, o pastor presidente do Concílio, Tiago, estava dizendo que nem ele, nem Pedro, nem os demais apóstolos, nem qualquer ancião ou mesmo uma determinada Igreja tinha qualquer tipo de poder ou autoridade para legislar ou formular qualquer lei espiritual. Se alguém declarasse que algo era a verdade, nem mesmo assim poderia ser verdade se estivesse contrária a Palavra de Deus.

Não foi inventado um novo dogma, não fora inventado novas condutas, o que ocorrera fora simplesmente que aplicaram o ensino revelado na Palavra de Deus referente à conduta do cristão, nada mais, ponto final. Fora dito também que mesmo aos gentios, não era permitido todo tipo de conduta, mesmo tendo liberdade em Cristo.

Para que os gentios não ofendessem aos judeus em relação a uma conduta pagã, Tiago fora flexível. Foi taxativo sim, em que a salvação é pela graça, independentemente das obras (Efésios 2.8-10), mas flexível no sentido de que os gentios também precisam modificar suas práticas para que não escandalizem os judeus. Por isso fora imposto que eles “se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (Atos 15.20).

Todo o problema fora resolvido. A falsa doutrina fora combatida. Aos judeus não caberia mais pressionar aos gentios que se circuncidassem para obter a salvação. Em relação aos gentios para que a paz predominasse e voltasse fora dito que não mais ofendessem aos judeus com práticas pagãs abomináveis a eles. Ambas as partes deram-se por satisfeitas. O erro doutrinário fora combatido e removido. A paz reinou e a união voltou no seio da Igreja de Deus.

Concluindo:

Através destes exemplos podemos aprender como resolver os conflitos quando surgirem nosso próprio meio. Exemplos importantes e sábios. A Palavra de Deus é o nosso manual para resolução de qualquer tipo de divergência que ocorrer. Em primeiro lugar Deus. Sua Palavra. Oração. Por último nossos argumentos. Se nossos argumentos são opostos ao que Diz a Bíblia, nosso dever é ficar com a Bíblia.

O Julgamento e a obediência às Autoridades:

“Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos; e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, pois já era tarde. Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil. No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos e os escribas com o sumo sacerdote Anás, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os arguiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? Então, Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Autoridades do povo e anciãos, visto que hoje somos interrogados a propósito do benefício feito a um homem enfermo e do modo por que foi curado, tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus. Vendo com eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrário. E, mandando-os sair do Sinédrio, consultavam entre si, dizendo: Que faremos com estes homens? Pois, na verdade, é manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos negar; mas, para que não haja maior divulgação entre o povo, ameacemo-los para não mais falarem neste nome a quem quer que seja. Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus. Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” Atos 4:1-20

“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública. Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram buscá-los no cárcere. Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro. Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto. Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo. Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem. Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem.” Atos 5:17-32

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.” Romanos 13:1-5

Você pode interpretar este texto de Romanos 13 de, pelo menos, duas maneiras. A primeira é acreditar que o apóstolo Paulo está afirmando que devemos nos submeter às autoridades civis, quaisquer que sejam elas, porque todas foram ordenadas por Deus. Neste caso, obedecer a governantes como Lenin, Mussolini ou Hitler, Maduro, Erdogan, Putin ou Trump, equivale a obedecer a Deus.

A segunda interpretação de Romanos 13 compreende que, justamente porque foram ordenadas por Deus, as autoridades civis agem por delegação e, portanto, não tem permissão para fazerem o que bem entenderem e, sua legitimidade depende de sua fidelidade à Vontade de Deus que lhes deu não somente autorização para governar como também os termos de Seu Governo.

Parece bem razoável que a segunda interpretação seja a correta. Por esta razão as parteiras do Egito desobedeceram o Faraó que ordenara a morte das crianças descendentes dos hebreus. Daniel desobedeceu a Nabucodonosor, o rei da Babilônia, que exigia a adoração à sua imagem. José fugiu de Israel para preservar a morte do menino Jesus, quando o rei Herodes mandou matar todos os meninos com menos de dois anos de idade em Belém.

Quando proibidos pelas autoridades judaicas de testemunhar a ressurreição de Jesus, os apóstolos Pedro e João foram enfáticos em afirmar que “importa mais obedecer a Deus do que aos homens”. A fidelidade a Deus é o critério para a obediência à submissão às autoridades civis. (Texto produzido pelo irmão Ed Renê Kivitz).

Obs: O tema “Autoridade e Submissão” é extremamente amplo e para uma compreensão mais profunda deve ser estudado com especial atenção. Para tanto, sugerimos, dentre outras, o estudo correspondente na seção “Estudos Bíblicos Estruturantes”, onde o mesmo é exaustivamente abordado.

A Falibilidade dos Projetos Humanos – Tg 4:13-17

Tiago, agora, nos versículos 13-17, vai falar sobre o risco da presunção. A presunção vem de um entendimento errado de nós mesmos e das nossas ambições.

A presunção é assegurar a nós mesmos que o tempo está do nosso lado e à nossa disposição. Presunção é fazer os nossos planos como se estivéssemos no total controle do futuro. Presunção é viver como se nossa vida não dependesse de Deus.

A presunção é um sério pecado. Ela envolve tomar em nossas próprias mãos a decisão de planejar e comandar a vida à parte de Deus. A presunção olha para a vida como um contínuo direito e não como uma misericórdia diária.

A presunção atinge várias áreas: toca a vida – hoje, amanhã, um ano. Toca as escolhas – “… hoje ou amanhã iremos… passaremos um ano, negociaremos e ganharemos”. Toca a habilidade – “ negociaremos e ganharemos”.

Obviamente Tiago não está combatendo a questão do planejamento, mas combatendo o planejamento sem levar Deus em conta.[1] É claro que a vida é feita de nossas escolhas. Precisamos ter alvos, planos, sonhos, mas não presunção.

Como nós podemos nos proteger da presunção?

Em primeiro lugar, tendo consciência da nossa ignorância: “No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã” (4.14).

Em segundo lugar, tendo consciência da nossa fragilidade-. “Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece” (4.14).

Em terceiro lugar, tendo consciência da nossa total dependência de Deus: “Em lugar disso, devíeis dizer: se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” (v. 15).

Quais são os perigos da presunção? A presunção envolve tomar em nossas próprias mãos o nosso destino (4.16). Também envolve uma declarada desobediência ao conhecido propósito de Deus (4.17).

Podemos afirmar que a vida humana está em certo aspecto sob o controle humano. Precisamos tomar decisões e somos um produto das decisões que fazemos na vida: quem queremos ser, com quem andamos, com quem nos casamos, o que fazemos.

Por outro lado, a vida humana, não está em nosso controle. Nós não conhecemos o nosso futuro nem sabemos o que é melhor para nós. Devemos procurar saber quais são os sonhos de Deus para a nossa vida. A verdade incontroversa é que a vida humana está sob o controle divino. Se Deus quiser iremos, compraremos, ganharemos.

Tiago passa em seguida a considerar a sublime questão da vontade de Deus (4.13-17). Warren Wiersbe fala sobre as três atitudes que uma pessoa tem diante da vontade de Deus: ignorá-la, desobedecê-la ou obedecê-la.

Alguns ignoram a vontade de Deus (Tg 4.13,14,16)

Warren Wiersbe, ainda, apresenta quatro argumentos para revelar a tolice de se ignorar a vontade de Deus: a complexidade, a incerteza, a brevidade e a fragilidade da vida.

Em primeiro lugar, vejamos a complexidade da vida (4.13). Pense em tudo o que envolve a vida: hoje, amanhã, comprar, vender, ter lucros, perder, estar aqui, ali. A vida é feita de pessoas e lugares, atividades e alvos, dias e anos. Todos nós tomamos decisões cruciais dia após dia.

Em segundo lugar, a incerteza da vida (4.14a). Esta expressão é baseada em Provérbios 27.1: “Não te glories do dia de amanhã; porque não sabes o que produzirá o dia”.

Esses negociantes estavam fazendo planos seguros para um ano, enquanto não podiam ter garantia de um dia sequer. Eles diziam: nós iremos, nós permaneceremos, nós compraremos e teremos lucro. Essa postura é a mesma que Jesus reprovou na parábola do rico insensato em Lucas 12.16-21.

Aquele que pensa que pode administrar o seu futuro é tolo. A vida não é incerta para Deus, mas é incerta para nós. Somente quando estamos dentro da vontade de Deus é que podemos ter confiança no futuro.

Em terceiro lugar, a brevidade da vida (4.14b). Tiago compara a duração da vida com uma neblina. O livro de Jó revela de forma clara a brevidade da vida:

1) “Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão…” (Jó 7.6);

2) “…nossos dias sobre a terra são uma sombra” (Jó 8.9);

3) “…os meus dias são mais velozes do que um corredor” (Jó 9.25);

4) “O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e cheio de inquietação. Nasce como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece” (Jó 14.1,2).

Moisés diz: “…acabam-se os nossos anos como um suspiro… pois passa rapidamente, e nós voamos” (SI 90.9,10). Porque a vida é breve não podemos desperdiçá-la nem vivê-la na contra-mão da vontade de Deus.

Em quarto lugar, a fragilidade da vida (4.16). A presunção do homem apenas tenta esconder a sua fragilidade. O homem não pode controlar os eventos futuros. Ele não tem sabedoria para ver o futuro nem poder para controlar o futuro. Portanto, a presunção é pecado, é fazer-se de Deus. Em suma, qualquer tentativa para achar segurança longe de Deus é uma ilusão.”

Alguns desobedecem à vontade de Deus (Tg 4.17)

Conhecimento implica em responsabilidade. As pessoas conhecem a vontade de Deus, mas deliberadamente a desobedecem. Nosso pecado torna-se mais grave, mais hipócrita e mais danoso do que o pecado de um incrédulo ou ateu.

Mais grave porque pecamos contra um maior conhecimento. Mais hipócrita porque declaramos que cremos, mas desobedecemos. Mais danoso porque os nossos pecados são mestres do pecado dos outros. O apóstolo Pedro diz: “Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (II Pe 2.21).

Por que as pessoas que conhecem a vontade de Deus, deliberadamente a desobedecem?

Em primeiro lugar, por orgulho. O homem gosta de considerar-se o dono do seu próprio destino, o capitão da sua própria alma.

Em segundo lugar, pela ignorância da natureza da vontade de Deus. Muitas pessoas têm medo da vontade de Deus. Pensam que Deus vai fazê-las miseráveis e infelizes. Mas a infelicidade reina onde o homem está fora da vontade de Deus. O lugar mais seguro para uma pessoa estar é no centro da vontade de Deus.

O que acontece àqueles que deliberadamente desobedecem a vontade de Deus? Eles são disciplinados por Deus até se submeterem (Hb 12.5-11). Eles perdem recompensas espirituais (lCo 9.24-27). Finalmente, eles sofrerão conseqüências sérias na vinda do Senhor (Cl 3.22-25).

Outros obedecem a vontade de Deus (Tg 4.15)

A comida de Jesus era fazer a vontade do Pai (Jo 4.34). A vontade de Deus é que dirigia sua vida. A vontade de Deus é que Seu povo se alegre, ore e dê graças em tudo (l Ts 5.16-18).

Deus revela a Sua vontade para todos aqueles que desejam obedecê-la: “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele…” (Jo 7.17). Nós devemos procurar compreender qual é a vontade do Senhor. O apóstolo Paulo ordena: “Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef 5.17). Nós devemos experimentar a vontade de Deus (Rm 12.2). Nós devemos fazer a vontade de Deus de todo o nosso coração (Ef 6.6).

Quais são as recompensas daqueles que fazem a vontade de Deus? Eles se regozijam em profunda comunhão com Cristo (Mc 3.35), têm o privilégio de conhecer a verdade de Deus (Jo 7.17), têm suas orações respondidas (ljo 5.14,15) e a garantia de uma gloriosa recompensa na volta de Jesus (Mt 25.34).

Qual é a nossa atitude em relação à vontade de Deus? Ignoramo-la? Conhecemo-la, mas deliberadamente a desobedecemos ou obedecemo-la com alegria? Quem obedece a vontade de Deus pode até não ter uma vida fácil, mas certamente terá uma vida mais santa, segura e feliz.

A Repreensão de Deus às riquezas mal adquiridas e mal empregadas – Análise Histórico-Cultural Preliminar

5.1-6 O juízo contra os opressores ricos

Em praticamente todas as áreas rurais do império, incluindo grande parte da Galileia rural, os ricos proprietários de terras lucravam com o trabalho dos agricultores arrendatários (que muitas vezes trabalhavam junto com escravos) que cultivavam as extensas terras desses proprietários.

A ideia de que o feudalismo, sistema em que os servos trabalhavam na propriedade do senhor abastado, só veio à tona na Idade Média é um equívoco. O sistema simplesmente recebia menos atenção na literatura romana porque esta se concentrava nas cidades, embora se estime que apenas um décimo do império fosse urbano.

A maior parte da denúncia de Tiago aqui assume a forma de um oráculo profético de juízo do ANTIGO TESTAMENTO, formato que também encontra paralelos na sabedoria e nos textos APOCALÍPTICOS judaicos.

A diferença entre a denúncia de Tiago aos ricos e a fala violenta que ele próprio condena (1.19,26; 3.1-12; 4.11) é que ele (assim como muitos visionários judeus da época) recorre ao juízo divino, e não à retribuição humana (4.12; cf. Dt 32.35; Pv 20.22). A profecia de Tiago se demonstrou correta: poucos anos depois, a aristocracia judaica foi praticamente eliminada na revolta contra Roma.

As exortações a “chorar e lamentar” eram uma forma profética explícita de dizer: “Vocês terão motivos para chorar e lamentar” (Jl 1.8; Mq 1.8; cf. Tg 4.9). As roupas eram um dos principais sinais de riqueza na Antiguidade. Muitos camponeses só tinham uma túnica.

Alguns outros autores antigos também ridicularizavam a ferrugem da fortuna acumulada que não era usada. Quanto aos termos “ferrugem” e “traça” (v. 2) ocorrendo juntos, compare-se o versículo com Mateus 6.19. Como os textos judaicos costumavam notar, a fortuna seria inútil no dia iminente do juízo de Deus.

A Lei de Moisés proibia reter salários, mesmo de um dia para o outro. Se o trabalha- dor injustiçado clamasse a Deus, este o vingaria (Dt 24.14,15; cf., p. ex., Lv 19.13; Pv 11.24; Jr 22.13; Ml 3.5).

O fato de que a injustiça feita ao oprimido clamaria a Deus contra o opressor também era imagem do Antigo Testamento (Gn 4.10). Na Palestina do século 01 d.C., muitos trabalhadores dependiam do salário diário para comprar comida para si e para a família. Reter dinheiro poderia significar que o trabalhador e sua família passariam fome.

Os proprietários, que viviam em outros lugares, recebiam tanto dinheiro com a agricultura que o salário que pagavam aos trabalhadores não refletia o lucro que acumulavam. Embora os ricos apoiassem os projetos de construções públicas (em troca de inscrições em honra deles nos edifícios), eles eram muito menos inclinados a pagar salários adequados para os trabalhadores.

Pelo menos no começo do século 2 d.C., os mestres judeus sugeriam que não deixar os restos da colheita para os pobres era o mesmo que roubá-los (com base em Lv 19.9,10; 23.22; Dt 24.19). A maioria das colheitas era realizada no verão ou em torno dele.

Era comum contratar trabalhadores adicionais para a colheita Muitos textos judaicos da DIÁSPORA (textos literários, amuletos etc.) chamavam Deus “Sabaoth” ou “Senhor do Sabaoth”, transliterando a palavra hebraica para “exércitos”. Se era má ideia ofender um poderoso, ideia muito pior era tornar-se inimigo de Deus.

Os ricos e seus convidados consumiami muita carne no dia do abate, i.e., nas festas (muitas vezes durante a colheita ou quando se tosquiavam os carneiros; cf. I Sm 25.4.36). Uma vez abatido o animal, comia-se o máximo possível da carne de uma vez, porque o resto só poderia ser preservado se fosse secado ou salgado. Os pobres em geral não tinham acesso a carne, a não ser durante os festivais públicos.

A imagem aqui é a dos ricos sendo engordados como gado para o dia do abate deles próprios (cf., p. ex., Jr 12.3; Am 4.1-3); imagens semelhantes aparecem em partes da antiga obra apocalíptica I Enoque (94.7-11; 96.8; 99.6).

Como muitas vezes no Antigo Testamento (p. ex., Am 6.4-7), o pecado no versículo 05 não é a exploração em si (como no v. 4), mas viver de maneira suntuosa enquanto outros passam fome ou necessidade.

A tradição judaica reconhecia o fato de que os iniquos tramam contra os justos, como atestam os sofrimentos de muitos heróis veterotestamentários (como Davi e Jeremias).

A opressão judicial contra os pobres, reiteradamente condenada no Antigo Testamento, era vista como assassinato em textos judaicos posteriores. Tomar a túnica uma pessoa ou reter o seu salário equivalente a colocar a vida dela em risco.

O próprio Tiago, o “Justo”, foi posteriormente martirizado SUMO SACERDOTE por causa das denúncias que contra o comportamento dos ricos.

O poder do Dinheiro

O dinheiro hoje domina as casas de leis, os palácios dos governos e as cortes do judiciário. O dinheiro é o maior deus deste mundo. Por ele as pessoas roubam, mentem, corrompem, casam-se, divorciam-se, matam e morrem.

O dinheiro é mais do que uma moeda, ele é um espírito, um deus, ele é Mamom. Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro. Ele é o mais poderoso dono de escravos do mundo.

O problema não é possuir dinheiro, mas ser possuído por ele. O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. Não é pecado ser rico. A riqueza é uma bênção. Davi disse que riquezas e glórias vêm de Deus (l Cr 29.12). Moisés disse que é Deus quem nos dá sabedoria para adquirirmos riqueza (Dt 8.18). O problema é colocar o coração na riqueza. A raiz de todos os males não é o dinheiro, mas o amor ao dinheiro (l Tm 6.10).

Vivemos hoje uma economia global. A máquina econômica gira numa velocidade caleidoscópica. Precisamos trabalhar mais e consumir mais. Os luxos do ontem se tornaram as necessidades do hoje. Mas o sistema pede não apenas mais do nosso dinheiro, mas também mais do nosso tempo. Coisas estão se tornando mais importantes do que pessoas. Estamos substituindo relacionamentos por coisas materiais. Muitas pessoas estão construindo um patrimônio colossal, mas estão perdendo a família. Nenhum sucesso compensa o fracasso da família.

Os ricos estão se tornando cada vez mais opulentos e os pobres cada vez mais desesperados. 50% das riquezas do mundo estão nas mãos de apenas algumas centenas de empresas.

A corrupção está instalada na medula de nossa nação. Sentimos vergonha ao ver tanto escândalo financeiro, tantos esquemas de corrupção instalados nos corredores do poder, quando os recursos que deveriam vir para aliviar o sofrimento do pobre são saqueados pelas ratazanas que roem incansavelmente as riquezas da nação. Estamos sendo espoliados pelos dráculas que, insaciáveis, chupam o sangue do povo.

A palavra de Tiago é mais do que oportuna. Deveria ocupar as manchetes dos jornais. Deus observa o que está acontecendo. Tiago está falando do uso e do abuso das riquezas.[2] Ele está falando de salários retidos, luxo, vida nababesca e atos específicos do mal. E o efeito dominó. Uma coisa leva à outra.

Os ricos estão retendo o fruto do trabalho do pobre. Os ricos estão vivendo no luxo, em virtude de terem explorado os pobres. Os ricos estão oprimindo e matando os pobres. Tiago diz que isso está sendo visto por Deus. J. A. Motyer entende que essa descrição de Tiago não se refere aos ricos cristãos, visto que não existe nenhum chamado ao arrependimento. Também, o versículo 07, faz um contraste entre os ricos e a reação que os irmãos deveriam ter diante da exploração deles.

Como a riqueza foi adquirida (Tg 5.46a)

A Bíblia não proíbe o homem de ser rico, se essa riqueza vem como fruto da bênção de Deus e do trabalho honrado (SI 112; Pv 10.4). Abraão e Jó eram homens ricos e também piedosos. O que a Bíblia proíbe é adquirir riquezas por meios ilícitos e para propósitos ilícitos. Amós 2.6 condena o adquirir riquezas ilícitas e Isaías 5.8 condena o adquirir com propósitos ilícitos.

Não é pecado ser rico. Não é pecado ser previdente. Não é pecado usufruir as benesses da riqueza. O pecado está ligado à origem, ao meio e ao fim da riqueza.

Tiago fala que os ricos que ajuntaram riqueza ilícita enfrentarão a inevitabilidade do juízo de Deus (5.1). O luxo de hoje torna-se desventura amanhã (5.1). O primeiro pecado que Tiago condena é a atitude egoísta de acumular a riqueza para si. Tanto as vestes como o dinheiro estão sendo acumulados para o desperdício e não mais para o uso. Esse espírito ganancioso é pura tolice. Ele leva a pessoa a pensar que a vida é só o aqui e agora. Os ricos vivem como se não houvesse o céu para ganhar ou o inferno para fugir.

A segurança do dinheiro é falsa. A alegria que ele proporciona é fugaz (5.1). O apóstolo Paulo retrata esse fato de forma contundente em l Tm 6.6-10,17-19.

Tiago menciona duas formas pecaminosas como os ricos adquiriram suas riquezas: retendo o salário dos trabalhadores e controlando as coortes. Vejamos a abordagem de Tiago:

Em primeiro lugar, os ricos tornaram-se opulentos retendo o salário dos trabalhadores com fraude (5.4). Os ricos não apenas estavam retendo o salário dos trabalhadores, mas estavam retendo o salário deles com fraude. Os ricos estavam sendo desonestos com os pobres. A origem da riqueza deles era fraudulenta.

Eles estavam ricos por roubar dos pobres (Pv 22.16,22). A lei de Moisés proibia ficar com o salário do trabalhador até à noite: “Não oprimirás o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos, ou dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, e isso antes que o sol se ponha; porquanto é pobre e está contando com isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado” (Dt 24.14,15).

Prossegue Moisés: “Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã” (Lv 19.13). Os trabalhadores foram contratados por um preço, e fizeram o seu trabalho, mas não receberam. O crente precisa ser honesto para pagar suas dívidas e cumprir com os seus compromissos financeiros.

Além de roubar dos pobres, os ricos são condenados também por viverem regaladamente (5.5). Eles vivem em extravagante conforto, com o dinheiro que eles roubaram dos pobres famintos. Os ricos viviam além das fronteiras do conforto, eles viviam no território dos vícios, onde nunca negavam a si mesmos qualquer prazer.

Em segundo lugar, os ricos estavam cada vez mais opulentos controlando as coortes (5.6a). A regra de ouro do mundo é que aqueles que têm o ouro é que fazem as regras. Os ricos se fortalecem porque compram as sentenças, subornam os tribunais e assim oprimem ainda mais os pobres que não podem oferecer resistência.

Tiago chama a vítima de “o justo”. Os ricos roubam-lhe os bens, negam-lhe os direitos, abafam-lhe a voz. Os ricos compram os tribunais, torcem as leis, violam a justiça, oprimem os fracos e fecham-lhes a porta da esperança.

Nos versículos 2,3 e no versículo 5 há o uso egoísta da riqueza (acúmulo e luxúria), cada um dos versículos é seguido por uma condenação dessa prática (v. 4 e 6). Os ricos condenam os pobres nos tribunais (2.6 e 5.6). Na diáspora os crentes foram dispersos e perderam seus bens, propriedades, casas (1.1).

Judas vendeu Jesus por dinheiro. Os ricos compravam as sentenças contra os pobres por dinheiro e assim condenavam e matavam os justos (Am 2.6). Quando Deus estabeleceu Israel em sua terra, deu ao povo um sistema de cortes (Dt 17.8-13). Ele advertiu os juizes para não serem gananciosos (Ex 18.21). Os juizes não podiam ser parciais ao julgar entre os ricos e os pobres (Lv 19.13).

Nenhum juiz podia tolerar perjúrio (Dt 19.16-19). O suborno era condenado pelo Senhor (Is 33.15; Mq 3.11; 7.3). Amós denunciou os juizes que vendiam sentenças por suborno (Am 5.12,13). Os pobres não tinham como resistir os ricos. Eles controlavam as próprias cortes. Eles só podiam apelar para Deus, o justo juiz.

Como a riqueza foi empregada (Tg 5.3-5)

Já é uma coisa condenável adquirir riquezas de forma ilegal, imoral e pecaminosa, mas maior delito ainda é usar essas riquezas de forma também pecaminosa. Tiago cita três formas pecaminosas de usar as riquezas:

Em primeiro lugar, eles acumularam de forma avarenta as riquezas (5.3). Não há nenhum pecado em ser previdente, fazer investimentos e em prover para si, para a família e para ajudar outros (II Co 12.14; l Tm 5.8; Mt 25.27). Mas é pecaminoso acumular o que não é nosso. Eles ajuntavam o que deviam pagar aos trabalhadores. Anos depois, os romanos saquearam todos os seus bens e suas riquezas foram espoliadas.

É uma grande tragédia uma pessoa ajuntar tesouros para os últimos dias e não ajuntar tesouros no céu. Confiar na provisão e não no provedor é um pecado. Quem assim age, vive como se nossa pátria fosse a terra e não o céu (Lc 12.15-21). Confiar na instabilidade da riqueza ou na transitoriedade da vida é tolice (4.14; l Tm 6.17). A vida de um homem não consiste na quantidade de bens que ele possui (Lc 12.15).

Em segundo lugar, eles mantiveram os necessitados longe do benefício de suas riquezas (5.4). Os ricos não apenas acumularam riquezas, guardando gananciosamente suas moedas ao ponto de ajuntar ferrugem, mas estavam armazenando também o salário dos ceifeiros. Eles não estavam sendo fiéis na mordomia dos bens. Eles estavam sendo fraudulentos. O roubo é pecado. Deixar de pagar salários justos e reter os salários ardilosamente é um grave pecado aos olhos de Deus.

Em terceiro lugar, eles estavam vivendo na luxúria enquanto os pobres estavam morrendo (5.5). A palavra luxúria (triphao) só é encontrada aqui em todo o Novo Testamento. Essa palavra significa extravagante conforto. A palavra prazeres (spatalao) significa entregar-se aos prazeres e aos vícios (l Tm 5.6). As duas palavras juntas significam uma vida sem autonegação, uma vida regalada, desenfreada, sedenta apenas dos prazeres e do conforto. Eles pecaram contra a justiça e contra a temperança. Jesus ilustrou essa atitude nababesca, falando sobre o rico que vivia regaladamente em seus banquetes sem se importar com o pobre ou mesmo com o destino da sua alma (Lc 16.19-31).

Qual é o destino final da riqueza? (Tg 5.1-4)

Tiago menciona as conseqüências do mau uso das riquezas. Warren Wiersbe, comentando o texto, fala sobre quatro dessas conseqüências: as riquezas acabam, elas destroem o caráter, elas atraem o juízo e elas revelam a perda de grandes oportunidades.

Em primeiro lugar, as riquezas mal usadas irão desvanecer (5.2,3a). Nada daquilo que é material permanecerá para sempre neste mundo. As sementes da morte estão presentes em tudo aquilo que está neste mundo. É uma grande tolice pensar que a riqueza possa trazer estabilidade permanente. Assim diz o apóstolo Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas gozarmos” (l Tm 6.17).

Além disso, a vida é passageira: “Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece” (4.14) e não podemos levar nada desta vida: “Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar” (l Tm 6.7). Jesus disse para o rico insensato: “… insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”(Lc 12.20).

Em segundo lugar, as riquezas mal usadas destroem o caráter (5.3). Diz Tiago: “O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo…”. Este é o julgamento presente na riqueza. O veneno da riqueza infectou a pessoa e ela está sendo devorada viva. A cobiça leva a pessoa a transgredir todos os outros mandamentos.

Ló, ao se tornar rico, pôs sua vida e família a perder-se. Diz Deus: “… se as vossas riquezas aumentarem, não ponhais nelas o coração” (SI 62.10). O bom nome é melhor do que as riquezas (Pv 22.1). A piedade com contentamento é grande fonte de lucro (l Tm 6.6). O casamento feliz é melhor do que finas jóias.

Em terceiro lugar, as riquezas mal usadas acarretam o inevitável julgamento de Deus (5.1,3,5). Tiago viu não apenas o presente julgamento (as riquezas sendo devoradas e o caráter sendo destruído), mas também ele falou do julgamento futuro diante de Deus (5.1,9). Jesus é o reto juiz e ele julgará retamente. Todos vão comparecer diante do tribunal de Cristo para dar conta de suas vidas.

Veja as testemunhas que Deus vai chamar nesse julgamento:

  1. Primeiro, as suas próprias riquezas enferrujadas e suas roupas comidas de traça vão testemunhar contra eles no juízo (5.3), revelando a avareza de seus corações. Há uma ironia aqui: os ricos armazenam suas riquezas para protegê-los e elas serão contra eles para condená- los.
  2. Segundo, o salário retido com fraude dos ceifeiros vai testemunhar contra eles (5.4). O dinheiro tem voz. Ele fala e sua voz chega ao céu, aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Deus ouviu o sangue de Abel e ouve o dinheiro roubado dos trabalhadores.
  3. Terceiro, os trabalhadores irão também testificar contra eles (5.4b). Não haverá chance dos ricos subornarem as testemunhas e o juiz. Deus ouve o clamor do Seu povo oprimido e o julga com justiça.

Em quarto lugar, as riquezas mal usadas revelam a perda de uma preciosa oportunidade (5.3). Pense no bem que poderia ter sido feito com essa riqueza acumulada de forma avarenta. Pobres poderíam ter sido assistidos, o reino de Deus expandido, o salário dos ceifeiros pago.

O que esses ricos guardaram, perderam anos depois quando Roma começou a perseguir os judeus (64 d.C e 70 d.C.). O dinheiro não deve ser uma arma para controlar e dominar os outros, mas um instrumento para ajudar os necessitados. O que guardamos, perdemos. O que damos, retemos.

Uma pessoa pode ser rica neste mundo e pobre no mundo por vir. Pode ser pobre aqui e rica no mundo vindouro (II Co 6.10). O dinheiro fala: o que ele irá testemunhar sobre você no dia do juízo? O ouro e a prata (v. 3) não enferrujavam, mas tinham a tendência de perder o brilho e, dessa forma, evidenciavam claramente um mau uso por meio do acúmulo.

Como você tem lidado com o dinheiro: ele é seu dono ou seu servo? Seu coração confia na provisão ou no provedor? Você é honesto no trato com o dinheiro? Você tem alguma coisa em suas mãos que não lhe pertence? Os bens que você tem, foram adquiridos honestamente? Você tem usado seus bens para ajudar outras pessoas, ou você tem acumulado apenas para o seu deleite e conforto?

A Perseverança, as Colheitas e a relação com o Tempo do Fim

A colheita (conforme o versículo 04) torna-se aqui uma imagem do dia do juízo, como em outras passagens da literatura judaica. (sobretudo em Mt 13). As chuvas de outono, na Palestina, ocorriam em outubro e novembro; as chuvas de inverno (que constituíam de três quartos das chuvas anuais), em dezembro e janeiro.

Mas os habitantes da Siria-Palestina ansiavam pelas chuvas do fim de março e de abril, necessárias para as colheitas do fim da primavera e do início do verão. A principal colheita de trigo na região começava em meados de abril e ia até o fim de maio.

A colheita de cevada ocorria em marco. A principal colheita de grãos começava em junho na Grécia e em julho na Itália. As famílias dos agricultores dependiam totalmente de uma boa colheita. É natural, portanto, que Tiago se refira ao “precioso fruto” (ou “colheitas preciosas”, NTLH) da terra.

A maioria dos profetas do ANTIGO TESTAMENTO sofreu grande oposição por causa de suas pregações. Alguns foram mortos. A tradição judaica havia desenvolvido a história do martírio desses profetas. Ninguém, portanto, contestaria a afirmação de Tiago aqui.

Os exemplos de pessoas virtuosas eram parte importante da argumentação na Antiguidade (os filósofos estoicos muitas vezes usavam sábios de mentalidade semelhante como exemplos de perseverança).

É possível que a estrutura do livro de Jó como um todo tivesse o propósito de dar animo a Israel depois do Exílio. Embora a justiça de Deus parecesse estar longe e Israel fosse zombado pelas nações, Deus, no fim, vingaria o seu povo e o cativeiro a que ele havia sido submetido (cf. Jó 42.10 em hebraico).

O juramento era confirmação verbal garantida pelo apelo a uma testemunha divina. Violar um juramento feito em nome de Deus constituía violação do terceiro manda- mento (Êx 20.7; Dt 5.11). Assim como alguns grupos de filósofos gregos, certos tipos de ESSÊNIOS não faziam mais nenhum juramento depois de completar os seus juramentos de iniciação (de acordo com JOSEFO, G. J. 2.135, em contraste com os essênios que escreveram os MANUSCRITOS DO MAR MORTO).

Os FARISEUS, contudo, permitiam os juramentos. Quanto a jurar por várias outras coisas, como substitutos menores de Deus. Um juramento em geral conclamava um deus a testemunhar a veracidade da intenção daquele que jurava, e devia ser mantido; se não o fosse, o mentiroso estaria trazendo uma maldição para a própria vida.

Os votos eram categoria mais específica de juramento. Fazia-se o voto de realizar algum dever ou de se abster de alguma coisa durante um período específico. O problema é saber ao certo de que tipo de juramento se está falando nesse contexto. Alguns estudiosos sugerem que se trata da advertência a não fazer certos juramentos típicos dos ZELOTES (cf. At 23.12).

Embora isso possa se encaixar muito bem no contexto de Tiago, é possível que os seus leitores não atinassem com algo tão específico. Talvez a ideia seja que não se deve fazer juramentos motivados pela impaciência (5.7-11). Em vez de jurar, deve-se orar, porque a forma mais plena de juramento incluía uma maldição contra si mesmo, que equivalia a “Que Deus me mate se eu não fizer isto”.

A Paciência, a Perseverança e os Frutos na Vinda do Senhor

Tiago começa sua carta com uma chamada à perseverança sob as provações (1.2-4) e termina exortando os crentes a serem pacientes até à vinda do Senhor (5.7,8). As provas, e não as experiências místicas, são o caminho da santificação e do aperfeiçoamento (1.4).

Tiago se volta agora dos ricos para os pobres que estavam sendo oprimidos e dá-lhes uma palavra de encorajamento. Eles devem ser pacientes, sabendo que é a Deus que estão servindo e que de Deus é que vem a recompensa. Os pobres são encorajados a confiar no provedor e não na provisão.

Tiago diz para os crentes da dispersão que a recompensa é a coroa da vida (1.12); agora, afirma que a recompensa é a vinda de Cristo (5.7,8). No começo, o caminho da perfeição é a oração (1.5) e no final da carta, ele volta ao mesmo tópico (5.13-18). No começo oramos por nós, no fim oramos pelos outros.

Tiago fala da segunda vinda de Cristo sob dois aspectos: como uma alegre esperança (5.7,8 e 10,11) e como uma temível expectativa (5.9,12). Para os salvos, o Senhor vem trazendo compaixão e misericórdia (5.11); para os ímpios o Juiz vem trazendo julgamento (5.9,12). Tiago diz que a vinda do Senhor está próxima (5.8) e o juiz está às portas (5.9). Ao mesmo tempo em que a vinda do Senhor será um dia glorioso para o Seu povo, será também o terrível dia do Senhor para os ímpios.

A vinda do Senhor é um sinal de alerta sobre o perigo do mau uso da língua. Devemos ter cuidado para não nos queixarmos uns dos outros (5.9). Também devemos ter cuidado para não fazermos juramentos impróprios (5.12). E mais fácil fazer um voto do que cumpri-lo. Mas ao fazermos um voto, devemos cumpri-lo, porque Deus não gosta de tolos (Ec 5.4).

E mais importante ser real do que dramático. Nosso sim deve significar sim e o nosso não deve significar não. Devemos ser íntegros em nossa palavra. Não podemos ser pessoas divididas internamente. Devemos nos livrar da mente dupla. Devemos ser íntegros com Deus e com os homens e praticar uma devoção à verdade, se é que ela habita em nós.

A vinda do Senhor está próxima (5.8), está às portas (5.9). Enquanto Jesus não volta não esperamos vida fácil neste mundo (Jo 16.33). Paulo nos lembra que é em meio a muita tribulação (At 14.22). Devemos ser pacientes até Jesus voltar.

Mas como podemos experimentar esse tipo de paciência até Jesus voltar? Tiago dá três exemplos de paciência para encorajar os crentes:

A paciência do lavador (Tg 5.7-9)

Se uma pessoa é impaciente, ela nunca deve ser um agricultor. O agricultor planta a semente certa, no campo certo, no tempo certo, sob as condições certas. A semente nasce, cresce, floresce e frutifica. O agricultor não tem nenhum controle sobre o tempo. Muita chuva pode danificar a lavoura. Falta de chuva pode pôr toda a colheita a perder.

O agricultor na Palestina dependia totalmente das primeiras chuvas que vinham em outubro (para o plantio), e das últimas chuvas que vinham em março (para a colheita).

O tempo está fora do seu controle. Ele tem que confiar e esperar. E Deus quem faz a semente brotar, germinar, crescer e frutificar. Ele náo pode fazer nada nesse processo (Mc 4.26-29).

Por que o agricultor espera? Porque o fruto é precioso (5.7). “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (G1 6.9).

Tiago descreve o crente como um agricultor espiritual que procura uma colheita espiritual. “Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima” (5.8).

É FUNDAMENTAL ENTENDER QUE TIAGO ESTÁ FAZENDO UMA CONEXÃO ENTRE A COLHEITA E O FINAL DOS TEMPOS. ELE ESTÁ DESCORTINANDO A PALAVRA UTILIZANDO-SE DO REGIME DAS FESTAS FIXAS DO SENHOR MENCIONADAS EM LEVITICO, ASSOCIANDO-AS COM AS PALAVRAS DOS PROFETAS E APONTANDO PARA EVENTOS FUTUROS MENCIONADOS EM APOCALIPSE.

O nosso coração é o solo. A semente é a Palavra de Deus. Há estações para a vida espiritual, como há estações para o solo. Muitas vezes nosso coração se torna seco e cheio de espinhos (Jr 4.3). Então Deus manda a chuva da sua bondade e rega a semente plantada, mas devemos ser pacientes para esperar a colheita.

Deus está procurando frutos em nossa vida (Lc 13.69). Devemos produzir o fruto do Espírito (G1 5.22,23). E o único meio de darmos frutos doces é sermos provados (1.2-4). Em vez de ficarmos impacientes, devemos saber que Deus está trabalhando em nós.

Você só pode se alegrar nessa colheita espiritual, se o seu coração estiver fortalecido (5.8). Um coração instável não produz fruto. Um agricultor está sempre trabalhando em sua lavoura. Deus está trabalhando em nós para tirar de nós uma colheita abundante. Um lavrador não vive brigando com os seus vizinhos. Ele está cuidando da sua própria lavoura. Não devemos perder o foco e viver falando mal uns dos outros (5.9).

A paciência dos profetas (Tg 5.10)

Os profetas foram homens que andaram com Deus, ouviram a voz de Deus, falaram em nome de Deus, mas passaram também por grandes aflições. Eles trilharam o caminho estreito das provas e foram pacientes. Privilégio e provas caminharam juntos na vida dos profetas. Privilégio e sofrimento; sofrimento e ministério caminharam lado a lado na vida dos profetas.

Isaías não foi ouvido pelo seu povo. Ele foi serrado ao meio. Jeremias foi preso, jogado num poço e maltratado por pregar a verdade. Ele viu o cerco de Jerusalém e chorou ao ver o seu povo sendo destruído. Daniel foi banido da sua terra e sofreu pressões quando jovem. Sofreu ameaça e perseguição por causa da sua fidelidade a Deus, a ponto de ser jogado na cova dos leões. Ezequiel também foi duramente perseguido. Estêvão denunciou o sinédrio: “A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas” (At 7.52).

Jesus disse: “Bem-aventurado sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11,12). Quando você estiver enfrentando sofrimento, não coloque em dúvida o amor de Deus, pois pessoas que andaram com Deus como você, também passaram pelas aflições. Seja paciente!

O apóstolo Paulo diz: “E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Tm 3.12). Nem sempre a obediência a Deus produz vida fácil! Se a igreja for mais perseguida, será mais fiel? Não. Se ela for mais fiel será mais perseguida. Isso significa que Deus não nos poupa das aflições, mas Ele nos assiste nas aflições. Elias anunciou ao ímpio rei Acabe que a seca viria sobre Israel. Ele também sofreu as conseqüências da seca, mas Deus cuidou dele e lhe deu vitória sobre os ímpios.

A vontade de Deus jamais levará você onde a graça de Deus não possa lhe sustentar. A nossa paciência em tempos de prova é um poderoso testemunho do evangelho àqueles que vivem ao nosso redor. O apóstolo Paulo escreve: “Porquanto tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que, pela constância e pela consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). Quanto mais conhecemos a Bíblia, mais Deus pode nos consolar em nossas tribulações.

Como um agricultor, devemos continuar trabalhando e como os profetas, devemos continuar testemunhando.

A paciência de Jó (Tg 5.11,12)

Tiago diz: “Eis que chamamos bem-aventurados os que suportaram aflições…” (5.11). Mas você não pode perseverar a não ser que haja provas em suas vida. Não há vitória sem luta. Não há picos sem vales. Se você deseja a bênção, você tem que estar preparado para carregar o fardo e entrar nessa guerra.

Certa feita ouvi um cristão orar: “Oh Deus, ensina-me as profundezas da Tua Palavra. Eu desejo ser arrebatado até o terceiro céu e ver e ouvir as coisas maravilhosas que Tu tens lá”. Embora a oração tenha sido sincera, ela partiu de um crente imaturo. Paulo foi arrebatado até o terceiro céu; ele viu e ouviu coisas gloriosas demais para contar. E como resultado, Deus colocou um espinho em sua carne para mantê-lo humilde (II Co 12.1-10). Tem que existir um equilíbrio entre privilégios e responsabilidades, bênçãos e provas.

O livro de Jó pode ser dividido assim:

1) As perdas de Jó (1-3);

2) As acusações contra Jó e sua defesa contra os ataques de seus amigos (4-31);

3) A restauração de Jó (38-42).

As circunstâncias estavam contra Jó; os homens estavam também contra ele; a sua esposa, de igual forma, ficou contra ele; seus amigos estavam contra ele. Satanás estava contra ele. Ele pensou que Deus também estava contra ele. Mesmo assim, ele perseverou! Ele provou que um homem pode amar a Deus acima dos bens, da família e da própria vida. Jó derrubou todas as teses de Satanás.

Jó era um homem piedoso, justo, próspero, bom pai, sacerdote da família, preocupado com a glória de Deus. O próprio Deus dá testemunho a seu respeito. Deus o constitui Seu advogado na terra. Satanás prova Jó com a permissão de Deus. Jó perdeu todos os seus bens, perdeu todos os seus filhos e perdeu também a sua saúde (Jó 1.22; 2.10).

Jó perdeu o apoio da sua mulher. Jó perdeu o apoio dos seus amigos. Jó faz 16 vezes a pergunta: por quê? Jó expressa sua queixa 34 vezes. Mas no auge da sua dor, ele disse para Deus: “Ainda que Deus me mate, ainda assim, esperarei nele…” (Jó 13.15).

Deus restaura a sorte de Jó, dando-lhe o dobro dos bens. Por que não deu o dobro dos filhos? Porque quando os animais foram embora, eles realmente foram. Eles não tinham almas imperecíveis. Mas quando os filhos foram fisicamente, eles na verdade não foram. Eles estavam com Deus no céu. Assim, agora, Jó tem dez filhos no céu e dez filhos na terra. Em tudo isso Jó triunfou.

Jó esperou pacientemente no Senhor e Deus o honrou. Ele não explicou nada para Jó, mas apesar de Jó não conhecer os porquês de Deus, ele pôde conhecer o caráter de Deus (Jó 42.5). A maior bênção que Jó recebeu não foi saúde e riqueza, mas um conhecimento mais profundo de Deus. Isso é a própria essência da vida eterna (Jo 17.3).

O livro de Jó nos prova que Deus tem propósitos mais elevados no sofrimento do que apenas punir o pecado.[3] O propósito de Deus no livro de Jó é revelar-se como o Deus cheio de bondade e misericórdia (Jó 5.11). Jó passou a conhecer o Senhor de uma forma nova e mais profunda. O propósito de Satanás era fazer de Jó um homem impaciente com Deus. Isto porque um homem impaciente com Deus é uma arma nas mãos do maligno. Mas o propósito de Deus em permitir Jó sofrer foi fortalecê-lo e fazer dele uma bênção maior para o mundo inteiro.

Tiago deseja encorajar-nos a sermos pacientes em tempos de provas. Como um agricultor, devemos esperar por uma colheita espiritual, por frutos que glorifiquem a Deus. Como os profetas, devemos procurar oportunidades para testemunhar mesmo no meio do sofrimento. Como Jó, devemos esperar para que o Senhor complete Seu amoroso propósito em nós, mesmo em meio ao sofrimento.

O Proceder Cristão de Dependência e Santo Temor a Deus nas Experiências Práticas da Vida Cotidiana

A não resistência não significava fingir que as coisas não importam (como faziam OS ESTOICOS) ou simplesmente esperar, desconsoladamente, pelo fim dos tempos (como talvez tenham feito alguns autores judeus de literatura APOCALÍPTICA). Significava, em vez disso, oração.

As feridas eram ungidas com óleo (cf. Is 01.6; Lc 10.34). Os que tivessem dor de cabeça ou desejassem evitar alguma doença eram ungidos com azeite por motivos “medicinais” (do ponto de vista da Antiguidade; cf. Josefo, Ant. 17.172; G. J. 1.657).

O óleo também era usado para ungir sacerdotes ou governantes. Ele era derramado sobre as cabeça deles como forma de consagrá-los a Deus. É possível que os cristãos tenham combinado o uso medicinal simbólico do óleo com o símbolo da consagração, isto é, de entregar a pessoa ao poder do Espírito de Deus (Mc 6.13). Uma das bênçãos regularmente recitadas nas SINAGOGAS era uma prece geral por cura.

Visitar os enfermos era prática religiosa no judaísmo antigo, provavelmente continuada pelos cristãos (cf. Mt 25.36,43 quanto aos missionários enfermos).

Os profetas do ANTIGO TESTAMENTO frequentemente usavam a cura das doenças como uma imagem para a cura do pecado. A literatura judaica muitas vezes associava o pecado à doença. Por exemplo, a oitava bênção de uma prece judaica diária, uma bênção de cura (embora a ênfase não seja na cura física), seguia-se a petições por perdão e redenção.

Tiago não está sugerindo que há uma relação causal direta entre toda enfermidade e o pecado, assim como não o fazem Paulo ou o Antigo Testamento. A sabedoria judaica também reconhecia que Deus ouviria os enfermos e associava esse fato à renúncia ao pecado (38.10).

Mas embora se acreditasse que só alguns mestres judeus muito piedosos normalmente conseguiriam produzir tais resultados garantidos (cf. Tg 5.17,18), Tiago aplica a possibilidade de orar com fé a todos os cristãos.

Tiago menciona a oração. Um cristão maduro é aquele que tem uma vida plena de oração diante das lutas da vida. Em vez de ficar amargurado, desanimado, reclamando, ele coloca a sua causa diante de Deus e Deus responde ao seu clamor.

Tiago escreve uma carta prática e, por isso, ele começa e termina esta carta com oração. Desperdiçamos tempo e energia quando tentamos viver a vida sem oração. Neste parágrafo Tiago encoraja-nos a orar. Tiago destaca três verdades fundamentais nesse versículo.

Devemos orar pelos que sofrem (Tg 5.13)

Em primeiro lugar, nos problemas não devemos murmurar, mas orar. O sofrimento aqui é provado por circunstâncias adversas: saúde, finanças, família, relacionamentos, decepções. Em vez de murmurar contra Deus ou falar mal dos irmãos (5.9), devemos apresentar essa causa a Deus em oração, pedindo sabedoria para usar essa situação para a glória de Deus (1.5).

Em segundo lugar, Deus muda as circunstâncias pela oração. A oração remove o sofrimento. Mas também a oração nos dá poder para enfrentar os problemas e usá-los para cumprir os propósitos de Deus. Paulo orou para Deus mudar as circunstâncias da sua vida, mas Deus lhe deu poder para suportar as circunstâncias (II Co 12.7-10). Jesus clamou ao Pai, com abundantes lágrimas, no Getsêmani, para passar dEle o cálice, mas o Pai lhe deu forças para suportar a cruz e morrer pelos nossos pecados.

Em terceiro lugar, ao mesmo tempo temos pessoas chorando e outras celebrando na igreja. Ao mesmo tempo há pessoas sofrendo e há pessoas alegres (5.13). Deus equilibra a nossa vida, dando-nos horas de sofrimento e horas de regozijo. O cristão maduro, entretanto, canta mesmo no sofrimento (Jó 35.10). Paulo e Silas cantaram na prisão (At 16.25). Josafá cantou no fragor da batalha (II Cr 20.21).

Muitas vezes trafegamos dos caminhos floridos da alegria para os vales do choro num mesmo dia. Mas, mesmo que os nossos pés estejam no vale, nosso coração pode estar no plano (SI 84.5-7). Pelo poder de Deus, podemos transformar os vales secos em mananciais, o pranto, em alegres cantos de vitória. Quando o diamante é lapidado é que ele reflete sua beleza mais fulgurante. Quando a flor é esmagada é que ela exala o seu mais doce perfume. A alegria mais poderosa é aquela que, muitas vezes, explode banhada pelas lágrimas mais quentes.

Devemos orar pelos enfermos (Tg 5.14-16)

Tiago fala sobre a atitude do enfermo, a atitude dos presbíteros e a atitude dos irmãos.

Em primeiro lugar, vejamos o que o enfermo faz. No caso em apreço, parece-nos que Tiago está dizendo que a pessoa está doente por causa do pecado (5.15b,16). Nem toda doença é resultado de pecado pessoal, mas o caso mencionado por Tiago parece-nos retratar uma doença hamartiagênica, ou seja, provocada por um comportamento pecaminoso.

O doente reconhece a autoridade espiritual dos presbíteros da igreja (5.14). O crente impossibilitado de ir à igreja chama os presbíteros da igreja à sua casa. O doente reconhece assim, que os presbíteros, e não um homem ou mulher que tem o dom de curar, é que devem orar por ele. J. A. Motyer faz um importante comentário acerca dessa questão da cura.

Mesmo quando vamos ao médico, nossos olhos continuam firmados no Senhor. Somente Deus tem o poder de curar. Não existe aquilo que se chama de cura não espiritual. Quando o doente toma uma aspirina, é o Senhor que faz a aspirina ser eficaz. Quando um cirurgião opera um paciente, é Deus quem realiza a cura. Todo dom perfeito vem lá do alto.

Precisamos ter isso em mente quando examinamos essa convocação dos presbíteros para orar e ungir o enfermo. Tiago não nos diz se está recomendando um complemento ao trabalho do médico ou se o expediente é uma alternativa ao trabalho do médico. Não podemos assumir que Tiago esteja aqui desconsiderando ou desaprovando o trabalho do médico, pelo fato de náo têlo mencionado.

Na verdade, o que Tiago enfatizava é que há sempre uma dimensão espiritual na cura. Em nenhuma ocasião um cristão deveria procurar o médico sem procurar a Deus, visto que toda cura vem de Deus, pois é Ele quem sara todas as nossas enfermidades.

Alguns estudiosos, conforme veremos no próximo capítulo, entendem que o uso do óleo consistia no uso dos melhores recursos médicos daquele tempo. Desta forma, o que Tiago estaria defendendo era a oração e o emprego da melhor medicina aceita e consagrada da época. Assim, Tiago estaria recomendando a oração e o remédio. Os dois expedientes devem estar sempre juntos.

Tiago enfatiza também a necessidade de o doente confessar os seus pecados (5.16). A confissão é feita aos santos e não a um sacerdote. Devemos confessar o nosso pecado a Deus e também àqueles que foram afetados por ele. Jamais devemos confessar um pecado além do círculo que foi afetado por aquele pecado. Pecado privado deve ter confissão privada. Pecado público requer confissão pública. E uma postura errada lavar roupa suja em público.

Em segundo lugar, vejamos o que os presbíteros fazem: primeiro, eles oram pelo enfermo com imposição de mãos, a oração da fé (5.14,15). Os presbíteros são bispos e pastores do rebanho. Eles velam pelas almas daqueles que lhes foram confiados. Eles oram com imposição de mãos, num gesto de autoridade espiritual. A oração da fé é a oração feita na plena convicção da vontade de Deus. Segundo, eles ungem o enfermo com óleo em nome do Senhor (5.14). Não é a unção que cura o enfermo, mas a oração da fé. Quem levanta o enfermo não é o óleo, é o Senhor. O óleo é apenas um símbolo da ação de Deus.

Em terceiro lugar, vejamos o que os irmãos fazem (5.16). Os crentes confessam seus pecados uns aos outros e oram uns pelos outros. Há uma terapia divina quando há confissão, perdão e reconciliação. A oração não é uma prerrogativa apenas dos presbíteros nem é ela direcionada apenas aos enfermos, antes, é um privilégio de todos os crentes.

A confissão não é a um sacerdote ou a todos indistintamente. A confissão deve ser feita a Deus e à pessoa ou pessoas diretamente implicadas. J. A. Motyer diz que a posição bíblica acerca da confissão de pecados deve ser resumida da seguinte maneira: “A confissão deve ser feita à pessoa contra quem pecamos, e de quem nós necessitamos e desejamos receber perdão”. A mágoa adoece, a confissão traz cura. O ressentimento produz prostração, o perdão restauração.

Devemos cre na eficácia da oração (Tg 5.17,18)

Quando a nação se desvia de Deus, os profetas de Deus devem orar e pregar. Israel se afastou de Deus, e Elias apareceu no cenário para confrontar o rei, o povo, e os profetas de Baal. Elias orou com instância para não chover e as comportas do céu foram fechadas.

Depois de três anos e meio, orou, firmado na promessa de Deus, para chover e os céus prorromperam em abundantes chuvas. Os céus se fecharam e se abriram em resposta às orações de Elias. Ele não só falou aos homens, confrontando seus pecados; mas também falou com Deus, clamando por chuva restauradora.

Os crentes, embora sujeitos a fraquezas, podem ter vitória na oração. Elias era homem sujeito às mesmas fraquezas (teve medo, fugiu, sentiu depressão, pediu para morrer), mas era justo e a oração do justo pode muito em sua eficácia. O poder da oração é o maior poder no mundo.

A história mostra o progresso da humanidade: poder do braço, poder do cavalo, poder da dinamite, poder da bomba atômica. Mas o maior poder é o poder de Deus que se manifesta através da oração dos justos.

Elias orou fundamentado na promessa de Deus. Em I Reis 18.1 Deus disse que enviaria a chuva e em I Reis 18.41-46, Elias orou pela chuva. Não podemos separar a Palavra de Deus da oração. Em Sua Palavra Deus nos dá as promessas pelas quais devemos orar.

Elias orou com persistência. Muitas vezes, nós fracassamos na oração porque desistimos muito cedo, no limiar da bênção.

Elias orou com intensidade. A palavra “instância” (5.17) significa que Elias orou de coração. Ele pôs o seu coração na oração. Devemos orar pela nação hoje, para que Deus traga convicção de pecado sobre o povo e um reavivamento para a igreja.

A restauração dos desviados (Tg 5.19,20)

Há sempre o perigo de uma pessoa se desviar de verdade. “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas” (Hb 2.1). O resultado desse desvio é pecado e possivelmente a morte (5.20). O pecado na vida de um crente é pior do que na vida de um não crente.

Devemos ajudar os membros que se desviam da verdade. Essa pessoa precisa ser “convertida”, ou seja, voltar para o caminho da verdade (Lc 22.32). Precisamos nos esforçar para salvar os perdidos. Mas também precisamos nos esforçar para restaurar os salvos que se desviam. Judas 23 usa a expressão “arrebatando-os do fogo”.

Tiago, nesse parágrafo, deu sua última instrução: oração pelos que sofrem, pelos enfermos e cuidado e restauração para os que se desviam. Nosso coração deve estar cheio de compaixão pelos que sofrem, pelos enfermos e pelos que se desviam, para que nossas orações possam subir ao trono da graça em favor deles.