I Pedro

Vendo Cristo como o Pastor de nossas Almas

Aspectos Preliminares

A perseguição pode causar tanto crescimento quanto amargura na vida cristã. A resposta a ela determina o resultado. Ao escrever aos crentes judeus que estavam lutando nas perseguições, Pedro os encoraja a se conduzirem corajosamente pela Pessoa de Cristo. Tanto seu caráter quanto sua conduta devem estar acima de qualquer reprovação.

Tendo nascido novamente para uma fé viva eles, devem imitar Aquele que é Santo e que os chamou. O fruto deste caráter será uma conduta enraizada na submissão: dos cidadãos aos governantes, dos servos aos senhores, das esposas aos maridos, e de um crente ao outro.

Somente quando a submissão é completamente compreendida é que Pedro trata da difícil área do sofrimento. Os cristãos não devem achar estranho o “fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa estranha vos estivesse acontecendo…” (4:12), mas devem se regozijar por participarem dos sofrimentos de Cristo. Esta resposta a Vida é verdadeiramente o clímax de nossa submissão a boa mão de DEUS.

Esta epístola é dirigida aos forasteiros da Dispersão ou mais literalmente aos “peregrinos da Dispersão” (1:1). Isto, juntamente com a ordem de manterem seu comportamento “exemplar no meio dos gentios” (2:12), dá uma ideia inicial de que a maior parte dos leitores é formada por cristãos hebreus.

Entretanto uma análise mais apurada forma uma visão oposta de que a maioria dos leitores é formada por gentios. Afinal, eles foram chamados “das trevas” (2:9) e diz que “antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de DEUS” (2:10). O seu “fútil procedimento que vossos pais vos legaram” era caracterizado pela ignorância e futilidade (I Pe 1:14 ,18).

Porque eles não mais se envolviam em “borracheiras e idolatrias” são difamados por seus compatriotas (4:3-4). Esta descrição, portanto, não se encaixa numa liderança predominantemente cristã hebraica.

Esta epístola foi dirigida aos cristãos da Ásia Menor indicando que o Evangelho se espalhou por regiões não evangelizadas quando Atos foi escrito. Pedro escreveu esta epístola em resposta a notícias da crescente oposição aos crentes da Ásia Menor (1:6; 3:13-17; 4:12-19; 5:9-10).

A hostilidade e a suspeita aumentavam contra os cristãos no Império e eles estavam sendo insultados e maltratados por causa de seu estilo de vida e conversa subversiva sobre outro Reino. O Cristianismo ainda não tinha recebido a interdição oficial Romana, mas o palco estava sendo montado para a perseguição e martírio num futuro próximo.

Há divergências de onde teria sido escrita esta epístola haja visto que há a citação de Babilônia no final da carta em contraposição a consistentes evidências históricas de que Pedro teria passado seus últimos dias em Roma. Neste sentido o termo Babilônia seria uma designação figurada apropriada para Roma como um centro de idolatria e confusão.

A vida de Pedro foi mudada drasticamente após a ressurreição do Senhor e ele ocupava um papel central na Igreja Primitiva, inclusive no anúncio do Evangelho para os samaritanos e gentios (At 2:10).

Após o Concílio de Jerusalém registrado em Atos 15 muito pouco se diz a respeito das atividades de Pedro. Ele viajou extensivamente com sua esposa (I Co 9:5) e ministrou em várias províncias romanas.

Segundo a tradição, ele foi crucificado de cabeça para baixo em Roma, antes da morte de Nero, em 68d.C. Esta epístola foi escrita provavelmente em 64 d.C., pouco antes do início da perseguição instigada por Nero.

Esta carta apresenta Cristo como o exemplo e a esperança do crente em épocas de sofrimento em um mundo espiritual hostil. Ele é a base para a “viva esperança” e “herança” (1:3-4), e o relacionamento de amor disponibilizado por Ele pela fé é a fonte da “alegria indizível” (1:8).

Seu sofrimento e morte dão redenção a todos os que confiam Nele: “carregando-o em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por Suas chagas fostes sarados” (2:24). Cristo é o Supremo Pastor e Bispo dos crentes (2:25; 5:4) e quando Ele aparecer, aqueles que O conhecem irão glorifica-Lo.

A expressão “nação santa” citada em 1:9 refere-se a uma realidade espiritual e não geográfica.

Esta carta fala profundamente de que a alma trabalhada pelo Senhor, até e principalmente, pelas provações, nos capacita a obedecer e a ter um amor fraternal que flui de forma ardente (rios de água viva). Além disto esta carta é repleta de dignidade, humildade, amor e é cheia de fervor, esperança, fé e de incentivo e estímulo para que estejamos preparados e prontos para a vinda do Senhor.

Ao citar o batismo Pedro demonstra que ele é o testemunho público aos homens e ao mundo espiritual que a pessoa creu, sendo agora de DEUS por meio de Jesus Cristo (aqui obviamente com todas as implicações de sair do estado de condenação, de ser trasladado do reino das trevas e ser transportado para o Reino do Filho do Seu Amor, da justificação pela fé, de se tornar um filho de DEUS, de ter seus pecados expiados e de ser incluída numa realidade espiritual tremenda que é o Corpo de Cristo e a família de DEUS).

Há, entretanto, que se ter clareza de que o que representa o despojamento da imundícia da carne é a crença pela fé na Obra de Cristo no Calvário, de tal forma que o Batismo representa, portanto, a indagação de uma boa consciência deste que creu para com DEUS.

Se quisermos entender esta carta é necessário reconstruir historicamente a condição dos cristãos nos anos 63 e 64 d.C. É provável que Paulo tenha sido libertado da prisão romana por volta do ano 64 d.C. A grande perseguição ocorrida na época de Nero não havia ainda começado, mas estava se aproximando.

Neste intervalo de tempo, após a libertação de Paulo e o início da grande perseguição instigada por Nero, os cristãos estavam sendo de fato assaltados, atacados, e perseguidos por todos os lados, tanto pelos judeus quanto pelos gentios.

Eles estavam constantemente sob sofrimento e perseguição sem qualquer alívio. Pedro então disse que estava escrevendo a eles com a finalidade de exortá-los com suas palavras e, portanto, testificava de sua própria experiência no Caminho.

Pedro estava dizendo que eles não deveriam ficar desapontados, nem desanimados, nem pensar que a situação era anormal, ou que havia algo de errado com eles, simplesmente pelo fato de que a pressão sobre eles estava aumentando e não diminuindo.

Com sua carta Pedro disse que eles estavam dentro de uma normalidade; que eles estavam no caminho certo. É isto que os irmãos deveriam esperar. Este é o mesmo caminho trilhado pelo Nosso Senhor Jesus. “Tudo isto está acontecendo com vocês de acordo com o plano de DEUS e também pela seguinte razão: DEUS ama tanto vocês que Ele deseja purificá-los, torná-los completos. Ele deseja aperfeiçoá-los para que vocês possam herdar a gloriosa herança preparada para vocês. Esta é a mensagem que Pedro está tentando transmitir.

Nós não apenas devemos crer que DEUS pode salvar-nos como também que Ele é capaz de guardar-nos incontaminados do mundo. Esta deve ser a perseverança dos santos. Ele é capaz de guardar-nos sem tropeço e apresentar-nos completos e imaculados diante Dele em glória de modo que possamos herdar nossa herança (I Pe 1:5).

Separação pelo lado de fora e purificação pelo lado de dentro. Em outras palavras, Ele é poderoso para salvar-nos por completo: espírito, alma e corpo. Nascemos, portanto, para uma “viva esperança”; uma esperança maior.

Tudo o que está nesta Terra está corrompido e é corruptível. É sujo ou pode tornar-se sujo. Está perecendo e é perecível. Mas nós temos uma herança reservada para nós nos céus; incorruptível. (I Pe 1:4) Assim sendo cremos que Ele é capaz de guardar-nos para a “salvação preparada para revelar-se no último tempo”; esta é a mensagem de Pedro.

Há uma herança reservada no céu para nós. Hoje, no entanto, DEUS está fazendo com que nos tornemos dignos desta herança. Se a herança é incorruptível, então tudo o que é corruptível deve ser lançado fora. Se a herança é imarcescível, então tudo o que é perecível deve ser lançado fora.

E estas coisas serão assim lançadas fora mediante os testes e provações, de tal modo que estejamos prontos e de tal modo que, nossa fé se tornará mais preciosa do que o ouro. “Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas…” (I Pe 1:9).

Quando DEUS opera, Ele sempre o Faz a partir do interior para a periferia. Primeiramente Ele atinge nosso espírito humano regenerando-o. Quando então a salvação vem a nós, o Espírito Santo vivifica nosso espírito e o faz de novo. Quando o Espírito Santo toca o nosso espírito, o qual está morto, o traz a vida e faz dele um espírito novo.

Então o Espírito Santo vem e passa a habitar em nosso espírito. Esta vida que agora está em nós deve viver; e viver através de nós. Cristo não deve ficar confinado em nosso espírito; ao contrário, Ele deve “sair” de nosso espírito e penetrar/ocupar nossa alma e “usar” nosso corpo.

Em Efésios 3, a oração de Paulo é que Cristo possa habitar pela fé em nosso coração. Cristo mora em nosso espírito, mas Ele deseja morar também em nosso coração. Ele deseja desalojar aquele que ocupa a nossa alma e deseja tomar o seu lugar. Este que ocupa nossa alma é o nosso ego.

O ego é a vida da alma; a carne são as obras da alma caída. Assim, Cristo vive em nosso espírito, nós nos tornamos uma nova criação e, então devemos viver uma nova Vida. Deve ser Ele quem vive e não nós quem devemos viver.

Infelizmente o ego está morando em nossa alma há bastante tempo e ele não quer ser desalojado. Ele não quer abrir mão de seus “direitos”. Ou seja, mesmo depois que nós nascemos de novo nós nos vemos sob a tirania de nosso ego. No íntimo de nosso espírito nós sabemos o que devemos fazer, mas a nossa alma recusa-se a cooperar. Ou melhor, não somente ela não deseja cooperar, como opõe-se a qualquer forma de cooperação.

A alma precisa ser salva. O ego precisa ser tirado do lugar que está ocupando e deve ser substituído por Cristo. Acontece que a alma é o lugar onde reside nossa personalidade. A alma representa e expressa o que somos. Ela, portanto, representa nossa pessoa. A grande questão aqui é que DEUS diz: “a minha salvação deve alcançar a sua alma de tal modo que tudo o que proceder de sua alma seja uma expressão minha e não uma expressão de você mesmo”.

É por este motivo que necessitamos passar por diversas provações, pressões e sofrimentos na vida. Sendo os mesmos designados por DEUS na medida certa para nós, eles têm uma única finalidade: a de fazer diminuir a vida própria de nossa alma e fazer com que a Vida espiritual de Cristo possa crescer em nós. DEUS não deseja destruir nossa alma, pelo contrário, Ele deseja salvar-nos de nós mesmos; Ele deseja salvar nossa alma; afinal o nosso pior inimigo não é Satanás, mas nosso ego.

O conflito de Romanos 7 não é para os incrédulos, mas para os crentes. E a saída para esta questão está naquilo que o Senhor disse diversas vezes aos Seus discípulos: “Se você quiser me seguir, se você quer ser meu discípulo, então você deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir-me. Afinal aquele que desejar salvar sua vida perdê-la-á, e aquele que estiver disposto a perder sua vida por amor de mim salvá-la-á para a eternidade” (Lc 9:23-24). A palavra vida empregada na tradução deste versículo é a mesma palavra alma no original grego; ou seja, é a vida da alma.

A alma compreende nossas emoções, nosso intelecto e nossa vontade.

Nós precisamos de salvação em nossa vida emocional. Precisamos ser tratados profundamente pela cruz até chegarmos ao ponto em que não reagimos de acordo com nossos próprios sentimentos, mas de acordo com aquilo que DEUS sente, de acordo com o que Cristo sente.

Como fruto da queda TUDO em nós ficou desequilibrado, desordenado; e com nossas emoções não é diferente (Rm 3:9; Ec 7:20; Sl 14:1-3; Sl 5:9; Sl 140:3; Sl 10:7; Pv 1:16; Sl 36:1-4).

Salvação em nossa vida emocional compreende não somente emoções mais refinadas e sensíveis. “Você vai amar, não por causa de você mesmo, você vai odiar, não por ter sido ferido, mas você vai amar porque o Amor de DEUS o constrange e, você vai odiar porque é constrangido a odiar aquilo que DEUS odeia ”. Veja o estado do homem natural neste sentido: ele ama o que DEUS odeia; ele é escravo do pecado.

Por outro lado, amar aos irmãos significa amar a todos os filhos de DEUS independente de qualquer outra coisa. E isto só é possível se nossa vida emocional for tratada. Afinal, se ela não for tratada, nós amaremos somente aqueles a quem amamos naturalmente e, odiaremos a quem odiamos naturalmente.

E detalhe: o ódio que devemos ter é aquela ira santa contra o pecado. DEUS odeia o pecado, mas ama o pecador. Devemos separar estas coisas senão incorreremos em grave erro.

Negar a si mesmo não é controlar-se a si mesmo. Não é autocontrole. Antes, significa não tomarmos conhecimento de nós mesmos. Negar a si mesmo é uma questão relacionada à vontade; é uma decisão que se estabelece na mente iluminada pelo Espírito.

Já o tomar a cruz é algo relacionado a experiência diária. DEUS espera de nós que estejamos dispostos a negar a nós mesmos, que não satisfaçamos a nós mesmos, não satisfaçamos ao nosso ego. Se estivermos dispostos a negarmos a nós mesmos, o Espírito Santo ordenará as circunstâncias em nossa vida de modo que possamos tomar nossa cruz.

Em contrapartida, entretanto, se não negarmos a nós mesmos, não teremos cruz alguma a carregar; simplesmente porque sempre que aparecer uma oportunidade de tomarmos a cruz, nós nos desviaremos dela. Que perda!! Na verdade, negar-se a si mesmo envolve sofrimento, pois envolve o não satisfazer o ego. Por isto Pedro disse “Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento…” (I Pe 4:1).

Nós precisamos de salvação em nossa vida do intelecto. Há muitas fortalezas do inimigo edificadas em nossas mentes, as quais se opõem a DEUS, de modo que a luz de DEUS, a Palavra de DEUS não possa penetrar em nossas mentes. Paulo disse que estas fortalezas devem ser destruídas e levadas cativas a Cristo (II Co 10:5).

Há entre nós muitas barreiras mentais, tantos pensamentos e preconceitos que impedem a penetração de muitas verdades da Palavra de DEUS. Estas são as fortalezas do inimigo, os raciocínios do homem. Jesus disse a Pedro; “porque cogita das coisas dos homens, e não das coisas de DEUS?”.

Nós precisamos de salvação em nossa vida da vontade. Esta é a última cidadela a ser transposta e tem a ver fundamentalmente com a consciência existencial de que somos dele e que só há sentido, significado e propósito na existência humana em ser/existir nele e para Ele. Tudo o mais é vazio, sem sentido, despropositado.

A consagração (Romanos 12:1-2) é, em última instância, a experiência prática diária desta verdade se estabelecendo como algo fortemente enraizado em nós. Portanto é fruto de Vida, ou seja, de experiência somada a Revelação!! “Faça-se a Tua vontade e não a minha”.

E mais, é fruto também de uma profunda consciência de que nossa tendência natural é para o engano, o pecado e o erro (afinal “na Tua luz tenho visto minhas trevas…”). Neste estágio, já não nos “valemos” de DEUS como Aquele que existe para satisfazer nossos desejos, mas sabemos que nossa vida só tem propósito se satisfizer os desejos Dele. Afinal Ele é o Criador, Sustentador e, principalmente, neste sentido, HERDEIRO de tudo!! Esta inversão de visão expressada em Vida denota o nível de profundidade do conhecimento de Cristo.

A salvação da alma é algo que está ocorrendo hoje. Nossas almas estão em processo de transformação. De glória em glória estamos sendo transformados a imagem de Cristo. Seu caráter está sendo impresso em nós. Ele conduzirá muitos filhos a glória e estes herdarão com Ele o Reino.

Portanto não há anormalidade alguma nestas provações e sofrimentos. A Graça de DEUS é suficiente para suprir todas nossas necessidades. Sua Misericórdia é a causa de não sermos consumidos. Então, discernindo tudo isto Pedro conclui: “Esta é a genuína Graça de DEUS; nela estai firmes”.

Análise Detalhada

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