I Tessalonicenses – (1Ts 3.1-13)
As marcas de um pastor de almas
Warren Wiersbe escreve que nos dois primeiros capítulos desta carta o apóstolo Paulo mostrou como a Igreja nasceu e como ele a pastoreou. Agora, trata do passo seguinte no processo do amadurecimento: como a Igreja deve se manter firme em sua posição em meio às tribulações.
A firmeza na fé dos crentes tessalonicenses é o grande foco deste capítulo. Cinco vezes nos dez primeiros versículos, Paulo fala sobre a. fé dos tessalonicenses (3.2,5,6,7,10). A palavra-chave é confirmar (3.2,13). O pensamento chave pode ser encontrado nessa explosão de alívio de Paulo: “[…] porque, agora, vivemos, se é que estais firmados no Senhor” (3.8).
O autor William Hendriksen ensina que este capítulo constitui-se uma só unidade, em que os cinco primeiros versículos, tanto quanto os restantes, se ocupam de Timóteo: o que levou Paulo a enviá-lo (v. 1-5) e o conforto produzido pelo seu relatório (v. 6-10), concluindo com um fervoroso desejo que quase chega a ser uma oração (v. 11-13).
Russell Norman Champlin acrescenta que estes versículos de 1 a 5 também têm um tom apologético, como quase toda a porção anterior desta epístola. Paulo fora criticado por sua aparente falta de interesse pelos crentes tessalonicenses, por não tê-los visitado de novo. Neste capítulo, Paulo refuta seus críticos e demonstra seu amor pela igreja.
Destacamos dois pontos acerca da alma do apóstolo Paulo como pastor:
Em primeiro lugar, o pastor é aquele que tem uma grande preocupação com o estado espiritual da igreja (3.1a). Paulo saiu de Tessalônica às pressas por causa da implacável perseguição e agitação social provocada por judeus e gentios e foi para Beréia. Porém, seu coração de pastor ficou em Tessalônica. Ele saiu fisicamente da cidade, mas continuou velando pelas ovelhas de Cristo. Seu cuidado pastoral pelo rebanho não o deixou inativo nem acomodado. Suas emoções não o paralisaram. Ele sentiu e agiu. Ele ansiava ardentemente estar com aqueles irmãos (2.17), mas como foi impedido (2.18), ele enviou à igreja perseguida um obreiro para fortalecê-los na fé (3.2).
Em segundo lugar, o pastor é aquele que pensa mais no bem-estar das ovelhas do que em si mesmo (3.1b). Paulo se considerava mãe e pai da igreja de Tessalônica (2.7,11). Ele já havia demonstrado grande amor pela igreja e um profundo desejo de estar com ela (2.17-20). Agora, Paulo acrescenta que não aguenta mais ficar sem lhes enviar uma ajuda. A preocupação com o estado da igreja era semelhante a um fardo para Paulo, que ele não podia suportar mais (3.1).
Paulo não era um mercenário, mas um pastor de almas. Ele prefere o bem dos outros a seu próprio bem-estar. A palavra sozinho no versículo 1 significa “abandonado”. Em vez de abandonar as ovelhas igual a um pastor mercenário (Jo 10.12,13), Paulo prefere sofrer a solidão e enviar ajuda à igreja de Tessalônica. Ele sempre pensou mais na igreja do que em si mesmo. Mais tarde ele escreveu aos crentes de Corinto e, disse: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co 12.13). Paulo era como uma vela, ele brilhou com a mesma intensidade enquanto viveu. Além das pressões exteriores, a preocupação com todas as igrejas pesava diariamente em seu coração (2Co 11.28).
Três fatos neste capítulo ressaltam o coração de Paulo como pastor de almas:
Paulo enviou à igreja um consolador (3.1-5)
Três verdades são aqui apresentadas:
- O zelo de Paulo (3.1). Paulo não era apenas um evangelista, que ganha pessoas para Cristo, porém, muitas vezes, as deixa sem assistência espiritual, pois ele vai em busca de novos campos. Ele era também um pastor que velava pelas ovelhas, uma mãe que nutria e acariciava seus filhos e um pai que gostava de estar, perto dos filhos para ensiná-los. Ele preferia ficar só a deixar as ovelhas sozinhas. Ele preferia ficar abandonado a abandonar as ovelhas. Ele pensava mais no bem-estar do rebanho do que no seu próprio bem-estar. Ele estava pronto não apenas a dar às pessoas o evangelho, mas também a sua própria vida (2.8).
- O caráter de Timóteo (3.2). O apóstolo aponta três características de Timóteo, antes de enviá-lo a Tessalônica.
- Ele era um obreiro crente (3.2). Paulo o chama de “nosso irmão”. Timóteo é denominado irmão (ICo 1.1; Cl 1.1), ou seja, um companheiro crente, alguém que, pela graça soberana, pertence à família de Deus, em Cristo. Timóteo não era um obreiro profissional, mas um crente fiel ao Senhor Jesus. Antes de falar de seus dons e habilidades, Paulo acentua que ele é crente, membro da família de Deus. Com isto, Paulo está dizendo que não podemos compartilhar com os outros aquilo que não temos. Não podemos conduzir o povo de Deus a uma experiência profunda com Deus se nós mesmos não temos intimidade com o Senhor. A vida do ministro é a base do seu ministério.
A igreja evangélica vive hoje uma grande crise de liderança pastoral. Há pastores não convertidos no ministério, que pregam aos outros a salvação, mas nunca foram transformados pelo evangelho. Há pastores não vocacionados no ministério. Gente que entrou para o pastorado com a motivação errada, está no lugar errado e fazendo a obra de Deus de forma errada. Há pastores doentes emocionalmente no ministério. Precisavam ser cuidados, mas estão cuidando dos outros. Há pastores preguiçosos, avarentos, apáticos e até na prática de pecados escandalosos no ministério. Timóteo era crente (3.2). Ele tinha caráter provado (Fp 2.22).
- Ele era um obreiro servo (3.2b). Timóteo tinha a mentalidade de servo. A palavra “ministro”, utilizada por Paulo, vem do grego diáconos, que significa “servo”. Timóteo sempre se colocou como um servo nas mãos de Deus para estar aonde Paulo o mandava. Paulo o enviou a Tessalônica (3.2), a Corinto (lCo 16.10) e a Filipos (Fp 2.19-23). Timóteo não pensava em si mesmo, mas em cuidar dos interesses do povo de Deus (Fp 2.20-22). O ministério para Timóteo não era uma plataforma de prestígio pessoal, mas um instrumento para servir ao povo de Deus. Timóteo estava a serviço de Deus e dos irmãos e não a seu próprio serviço. Ele estava no ministério para dar algo e não para receber algo. Ele pastoreava a igreja para servir e não para locupletar-se.
- Ele era um obreiro encorajador (3.2c). Paulo deixa claro o propósito de enviar Timóteo aos crentes de Tessalônica: “[•••] para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos”. Diante da feroz perseguição e da sinistra campanha de calúnias, do lado de fora, e também da falta de maturidade intelectual, moral e espiritual dos crentes tessalonicenses, a missão de Timóteo era perfeitamente apropriada.
Alvah Rovey diz que as palavras confirmar e exortar descrevem grande parte do labor apostólico e ministerial de Paulo (At 13.32,41; 16.3; 18.23; Rm 1.11; 16.25; 1Ts3.13; 2Ts 2.17; 3.3). Timóteo era um obreiro que fortalecia e encorajava os novos crentes a ficarem firmes no meio das provas. Ele cuidava do povo em tempos difíceis. Ele era um consolador, um amigo.
William Barclay corrobora esse pensamento dizendo que quando Paulo enviou Timóteo a Tessalônica não era tanto para inspecionar a igreja, mas para prestar-lhe ajuda. A atitude não era de condenação de seus erros, mas de auxílio em suas deficiências. Timóteo não estava indo para Tessalônica com o dedo em riste, com a vara da disciplina na mão, mas com o cajado de pastor, com o coração aberto’ de um pastor que está pronto a dar sua vida pelas ovelhas.
- As tribulações da igreja (3.3-5). O apóstolo Paulo aborda três verdades sobre as tribulações que atingem a igreja:
- As tribulações fazem parte da agenda de Deus (3.3b). As tribulações não são acidentes, mas apontamentos de Deus em nossa vida. Temos de esperar sofrer por amor a Cristo (Fp 1.29), e não devemos estranhar a perseguição, mas considerá-la parte normal da vida crista (lPe 4.12-16). As perseguições visam ao nosso fortalecimento na fé (Jo 16.33; Rm 5.3; 2Tm3.12).
Paulo já havia alertado a igreja sobre a inevitabilidade das provações. Os crentes são perseguidos porque eles não são deste mundo, eles são chamados do mundo. Eles estão no mundo, mas não são do mundo. Eles não amam o mundo, não são amigos do mundo, não se conformam com o mundo, por isso o mundo os odeia (Jo 15.19). A vida dos crentes expõe e denuncia os pecados do mundo (Jo 15.18,22). Os crentes são perseguidos porque o mundo não conhece a Deus Pai nem a Cristo, nosso Salvador (Jo 16.3). Os crentes são perseguidos porque o mundo está enganado quanto a Deus e quantos aos próprios crentes (Jo 16.2,3).
- As tribulações trazem inquietação à igreja (3.3). Quando a igreja deixa de olhar a vida na perspectiva de Deus, ela fica inquieta, perturbada e desanimada nas tribulações.
O verbo grego sainomai traduzido aqui como “inquietar” é raro e sua interpretação causou dificuldade aos comentaristas antigos. Era usado desde os tempos de Píomero para referir-se ao abanar do rabo de um cachorro, e daí surgiu o sentido metafórico de “bajular, lisonjear, adular”. A idéia é que o inimigo com frequência lisonjeia o cristão a fim de fazê-lo desviar-se. Satanás disse a Eva que, se ela comesse do fruto, seria como Deus, e ela se deixou enganar por sua lisonja. Satanás é mais perigoso quando bajula do que quando mostra sua ira.108 Satanás é especialista em usar estratagemas para persuadir os crentes a abandonarem a sua fé em Deus nos tempos de prova. Enquanto Deus visa a nos fortalecer por meio das tribulações, Satanás tenta nos destruir através delas.
Satanás sempre vai sugerir que é impossível amar a Deus mais do que o dinheiro, a família, a saúde e os amigos. Foi essa a tática que ele usou para tentar derrubar Jó. Precisamos nos acautelar tanto do ataque de Satanás quanto de sua sedução. A blandícia do diabo é pior do que o seu rugido. William Hendriksen ensina que a arma do inimigo da fé nem sempre é só a espada. Às vezes ele surge, “com chifres como de cordeiro” (Ap 13.11), com suas palavras e lisonjas, como um cão que abana sua cauda.xw O mesmo escritor ainda assevera que indubitavelmente, para Paulo o diabo era real, verdadeiramente existente, um oponente muito poderoso e terribilíssimo. Os que negam a existência real e pessoal de Satanás deveriam ser consistentemente honestos, a ponto de confessar que tampouco creem na Bíblia!
Os inimigos do evangelho estavam tentando seduzir os neófitos tessalonicenses, dizendo-lhes que Paulo não se importava com eles. Que o velho apóstolo os havia abandonado e o que o melhor que eles fariam era retroceder e abraçar novamente o paganismo. Timóteo, porém, foi enviado a Tessalônica exatamente para impedir que tal bajulação em meio à angústia da perseguição tivesse êxito.111
O inimigo atacou a igreja de Tessalônica de várias maneiras, como podemos observar a seguir:
- Atacou a igreja espalhando mentiras e boatos acerca de Paulo (2.3-6). Os inimigos da igreja tentaram macular a imagem de Paulo, colocando-o como um aproveitador e um mercenário. Paulo se defende por saber que se os acusadores lograssem êxito quanto ao mensageiro, desacreditariam a mensagem.
-Atacou a igreja através do vergonhoso tratamento dado ao apóstolo e aos novos crentes (2.2).
- Atacou a igreja confrontando face a face os crentes e opondo-se à sua fé, ameaçando-os se eles falassem do nome de Cristo (2.16).
- Atacou a igreja por meio de agressão física (Atos 17.3,6).
- Atacou a igreja usando a lei e a autoridade civil contra a igreja caso ela continuasse a adorar e a falar sobre Cristo (Atos 17.6-9). Porém, apesar de todos esses ataques e perseguições, a igreja permaneceu firme na fé.
- As tribulações trazem sérios riscos à causa do evangelho (3.5b). Paulo envia Timóteo para fortalecer a igreja por causa do seu temor de que “[…] o tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor” (3.5b). O ministério é um combate contínuo e sem intermitência. Há uma interferência sem trégua das forças espirituais do mal contra a igreja e não podemos fechar os olhos a essa realidade. O tentador não tira férias, não descansa nem dorme. Ele está a todo tempo, em todo lugar, com seus agentes malignos tramando, tentando, perseguindo e colocando ciladas no caminho do povo de Deus para derrubá-lo. Muitas pessoas abandonam a fé no meio do espinheiro das provações, escandalizando-se com o evangelho. Precisamos estar atentos!
Paulo recebeu da igreja notícias consoladoras (3.6-8)
Destacamos três verdades consoladoras:
- Boas notícias da relação dos crentes com Deus e com o apóstolo (3.6). O mesmo Timóteo que fora representante de Paulo perante a igreja de Tessalônica, agora é representante dessa igreja perante Paulo. Timóteo regressou de Tessalônica trazendo notícias alvissareiras acerca da fé e do amor dos crentes tessalonicenses. Aqueles irmãos estavam firmados na fé e arraigados no amor uns pelos outros no meio do mais terrível tempestade de perseguição. As provações, em vez de destruí-los, os fortaleceram; em vez de separá-los, os uniram ainda mais.
Não há maior alegria do que saber que os nossos filhos na fé andam na verdade ainda que sofrendo provações.
- Howard Marshall preceitua que essas boas notícias trouxeram consolo a Paulo, a ponto de ele expressar seus sentimentos numa explosão de alegria. O coração do apóstolo está em chamas pelo Senhor e transbordando de amor pelos crentes de Tessalônica.
Os crentes de Tessalônica estavam não apenas com uma correta relação com Deus, mas também com o seu pai na fé. Eles tinham uma relação vertical e horizontal certa. A campanha difamatória dos inimigos não pôde destruir a reputação do apóstolo na igreja tessalonicense. Eles guardavam grata memória de Paulo.
O apóstolo era um homem de mente brilhante, mas de um coração sensível. Ele valorizava os sentimentos e cultivava profundos relacionamentos.
- Boas notícias que consolam a Paulo em meio às suas lutas (3.7). Paulo estava em Corinto enfrentando grandes privações e tribulação, mas ao receber a notícia de que seus filhos na fé em Tessalônica estavam firmes na fé, ele foi consolado. Paulo abre as cortinas da sua alma e escancara sem rodeios as suas carências emocionais. Ele não é um super-homem nem um superquente. Ele tem sentimentos. Ele tem necessidade de consolação. Ele precisa também ser encorajado.
Os líderes também precisam ser encorajados. Eles podem sofrer todo tipo de ataque externo e todo tipo de privação, mas se forem consolados e encorajados pela igreja enfrentam com galhardia qualquer situação.
- Boas notícias que revitalizam o coração para continuar a obra (3.8). O apóstolo ao receber as boas-novas dos crentes tessalonicenses, escreve: “[…] porque, agora, vivemos, se é que estais firmados no Senhor” (3.8). O coração de Paulo está em chamas para o Senhor e ao mesmo tempo está transbordando de terna afeição pelos crentes de Tessalônica.113 A firmeza na fé daqueles crentes novos e perseguidos traz um novo alento para o coração do velho apóstolo. Relacionamentos contam muito. Isso era uma espécie de oxigênio que dava maior fôlego ao apóstolo para continuar seu trabalho.
O que desgasta um obreiro não são os problemas externos, mas as intrigas internas. Privação e tribulação não o desencorajam. Circunstâncias adversas não podem tirar-lhe a alegria e o entusiasmo de prosseguir. Porém, ele precisa ver a igreja caminhando firme em amor e firmada na fé.
Paulo orou pela igreja (3.9-13)
Paulo não pode ir a Tessalônica, mas pode orar pelos tessalonicenses. A oração não está limitada ao tempo nem ao espaço. Você pode tocar o mundo através da oração. Você pode fazer mais por uma pessoa de joelhos, orando por ela, do que trabalhando para ela. William Barclay lembra que nunca saberemos de quantos pecados temos sido salvos e quantas tentações temos superado pelo fato de alguém ter orado por nós.
A oração de Paulo é dirigida não apenas ao soberano e supremo Criador do universo, mas a Deus como Pai. Ele tem uma visão da majestade de Deus e também da intimidade de Deus. Ele vê Deus como transcendente e também como imanente. De igual forma, Paulo se dirige ao Senhor Jesus. Ele deseja que ambos, Deus Pai e o Senhor Jesus, trabalhem abrindo-lhe a porta para retornar aos seus queridos filhos na fé em Tessalônica.
A oração de Paulo pelos tessalonicenses tinha três características fundamentais: Era uma oração marcada por profunda gratidão (3.9); era uma oração perseverante (3.10a) e uma oração intensa (3.10b).
A oração de Paulo, outrossim, abrangia os problemas ordinários da vida diária (3.11). Ele desejava viajar e pedia a Deus para abrir o caminho (3.11), pois sabia que Satanás podia barrar esse caminho (2.18). Olhava as coisas comuns com os olhos espirituais. Você ora pelas coisas comuns da vida?
Paulo orou por três motivos específicos: uma fé madura, um amor profundo e para que eles pudessem ser santos na presença de Deus.
- Paulo orou para que eles pudessem ter uma fé madura (3.9,10). A nossa fé ainda não é perfeita e precisa de reparos continuamente. A palavra grega katartidzo, “reparar” é a mesma utilizada para consertar as redes ou tapar os buracos (Mc 1.19). Essa palavra era empregada para reconciliar facções políticas; um termo cirúrgico para “juntar ossos quebrados”.
Precisamos remendar os buracos e tapar as brechas no escudo da nossa fé. Havia deficiência na fé daqueles irmãos, por exemplo, uma compreensão equivocada acerca da doutrina da segunda vinda de Cristo. Havia membros da igreja vivendo de forma desordenada e outros que estavam desanimados (5.14). Precisamos ser trabalhados continuamente.
A fé é como um músculo do nosso corpo; só se fortalece com exercício.117 Deus nos testa para provar a nossa fé. Uma fé que não é testada não pode ser confiável. A oração de Paulo foi atendida (2Ts 1.3).
- Paulo orou para que eles pudessem ter um amor profundo uns pelos outros (3.12). As tribulações podem tornar as pessoas egoístas. O sofrimento pode quebrantar e também endurecer. O mesmo sol que amolece a cera, endurece o barro. Por isso, Paulo orou pela igreja para que o Senhor fizesse crescer e aumentar o amor dos crentes uns para com os outros. A oração de Paulo é que os crentes possam transbordar de amor e abundar de tal maneira que esse oceano de amor, uma vez cheio, alcance os limites de suas bordas e venha derramar de tal forma que ele alcance não só os irmãos em Cristo, mas até mesmo os de fora.
A igreja é uma família onde devemos construir pontes de amizades e não muralhas de separação. A igreja é a comunidade do amor, da aceitação, do perdão, da restauração. Seremos conhecidos como discípulos de Cristo pelo amor (Jo 13.34,35). O amor é a apologética final. Uma igreja sem amor está em trevas. Aquele que diz que ama a Deus, mas não demonstra amor pelo seu irmão nunca viu a Deus. O maior de todos os mandamentos é o amor. Os dons espirituais sem amor de nada valem (ICo 13.1-3). O zelo doutrinário sem o amor não agrada a Jesus (Ap 2.4). O amor não deve ser apenas de palavras, mas de fato e de verdade, ou seja, de forma prática.
Contudo, Paulo ora a Deus para que a igreja cresça em amor também para com todos, ou seja, até para com seus perseguidores. Amar os iguais é coisa simples. O desafio é amar os inimigos, amar aqueles que nos perseguem, amar aqueles que não são dignos de amor. A Bíblia diz que devemos orar pelos nossos inimigos, abençoar os que nos perseguem e pagar o mal com o bem. O verdadeiro amor perdoa as ofensas sem registrar mágoas.
As maiores lições sobre o amor são aprendidas na escola do sofrimento. José do Egito sofreu treze anos até ser guindado ao alto posto de governador do Egito. Ele foi vítima do ódio de seus irmãos, mas jamais alimentou o desejo de vingança em seu coração. Ao contrário, ele amou, perdoou e serviu àqueles que lhe fizeram mal. Os judeus perseguiram Paulo de cidade em cidade, mas Paulo continuou amando-os a tal ponto de estar disposto a morrer por eles (Rm 9.1-3).
- Paulo orou para que eles pudessem ser santos na presença de Deus até a volta de Jesus (3.13).
Três verdades devem ser destacadas neste versículo:
• A segunda vinda de Cristo motiva os crentes a uma vida de santidade (3.13). Se nós cremos que Jesus vai voltar; se cremos que Ele vai julgar os vivos e os mortos; se cremos que vamos comparecer perante o Seu tribunal para dar contas da nossa vida, então, precisamos viver em santidade de vida. Quem aguarda a segunda vinda de Cristo purifica-se a si mesmo (ljo 3.3). A palavra grega hagiosyne, traduzida como “santidade”, era usada para referir-se a uma qualidade de objetos e pessoas que são separados do uso comum para o serviço de Deus. Porém, quando o conceito é utilizado para pessoas santas, o pensamento é que aqueles que estão separados para servir a Deus devem demonstrar a mesma retidão e pureza que O caracterizam.119
- A santidade de vida não é uma formalidade externa, mas uma vida vivida na presença de Deus (3.13). A santidade não é medida por gestos, ritos ou cerimônias externas. Ela é medida por uma vida sem culpa na presença de Deus que tudo vê, tudo sonda e tudo conhece. Os fariseus eram meticulosos em ritos externos, mas viviam na impureza. Deus procura a verdade no íntimo. Aqueles que gostam de observar os pecados dos outros, normalmente, escondem os seus próprios.
- A segunda vinda de Cristo nos mostra que o melhor ainda está por vir (3.13). O cristianismo não caminha para um ocaso, mas para um glorioso amanhecer. A História não é cíclica nem marcha célebre para um desastre, mas é conduzida por Deus para a vitória triunfante de Cristo e da Sua Igreja. Jesus vai voltar fisicamente, visivelmente, poderosamente, gloriosamente. Aqueles que morreram em Cristo e foram habitar com Ele (2Co 5.8; Fp 1.23) voltarão com Ele em glória. A vinda de Cristo será como um glorioso cortejo, onde os anjos e os santos remidos descerão com Ele entre nuvens. William Hendriksen coloca esse acontecimento, assim:
O pensamento aqui é que quando o Senhor Jesus voltar, Deus trará com Ele aqueles que, através dos tempos viveram a vida de separação cristã do mundo e de devoção a Deus. Foram “postos à parte” por Deus para sua adoração e serviço, de modo que, pelo poder santificador do Espírito Santo, se tornaram santos “tanto em experiência quanto em posição”, e pela morte entraram no reino lá de cima. Nem sequer um deles será deixado no céu: todos aqueles que ao morrer foram para o céu — e que, portanto, estão agora com Ele no céu – deixarão seu habitat celestial no exato momento em que o Senhor começar Sua descida. Num piscar de olhos se reunirão aos seus corpos, os quais agora se convertem em corpos gloriosamente ressurretos, e então, imediatamente (com os filhos de Deus que ainda sobrevivem na terra, e que serão transformados) subirão para o encontro do Senhor.
A condição espiritual dos crentes gera peso no seu coração a ponto de você fazer sacrifícios pessoais para ajudá-los a crescerem na fé?
Você tem orado pela igreja, para que os crentes sejam mais firmes na fé e mais arraigados em amor?
Você está vivendo em santidade? Você está preparado para a segunda vinda de Cristo? A única maneira de nos prepararmos para nos encontrarmos com Deus é vivermos diariamente com Deus.
Compilação parcial do resumo de ITs 3:1-13 realizado pelo Rev. Hernandes Dias Lopes.