Que atitude a Igreja deve ter em relação à segunda vinda de Cristo? – (ITs 5.1-11)
A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS, especialmente a segunda vinda de Cristo, tem despertado grande interesse nos círculos evangélicos nos últimos dois séculos. Inúmeras obras foram escritas com as perspectivas as mais diferentes. Essa revitalização da doutrina trouxe fortalecimento na fé e profundo engajamento missionário por parte de alguns e, infelizmente, sérios desvios por parte de outros.
Atualmente, vemos dois extremos com respeito ao debate desse assunto:
Aqueles que se entregam à curiosidade frívola. Não poucos estudiosos da Bíblia, no afã de mergulhar nas profecias bíblicas, chegam às raias do entusiasmo
inconsequente, marcando data para a segunda vinda de Cristo e descrevendo minúcias desse auspicioso acontecimento escatológico.
A grande tese de Paulo é que a Igreja não deve se preocupar com as minúcias da data da segunda vinda de Cristo, mas, sim, estar preparada para a Sua volta. Vigilância e trabalho e não especulação é o que a Bíblia ensina quanto a esse momentoso tema.
A razão por que não foi necessário Paulo escrever para os tessalonicenses acerca dos tempos e épocas da segunda vinda de Cristo (5.1) não era que ele julgasse essas informações irrelevantes ou desnecessárias, mas porque ele já havia ensinado a eles que este tema estava além da esfera de seu ensino. O papel da Igreja não é saber tempos ou épocas que o Pai reservou para a Sua exclusiva autoridade, mas estar engajada na obra e preparada para a parousia}.
O dia da segunda vinda de Cristo não foi revelado aos anjos nem a nós. E da autoridade exclusiva do Pai (Mt 24.36; At 1.7).
Aqueles que se entregam ao ceticismo incrédulo. Se por um lado existem aqueles que deixam de fazer a obra por causa da expectativa iminente da segunda vinda há também, de outro lado, aqueles que vivem despreocupadamente sem dar crédito a ela. Estes são zombadores e escarnecedores, que andam dizendo: “Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as cousas permanecem como desde o princípio da criação” (2Pe 3.4).
No meio desses dois extremos, como a Igreja de Cristo deve se portar? Que atitude deve ter em relação à segunda vinda de Cristo? George Barlow defende a ideia que a Igreja deve aguardar a segunda vinda de Cristo com uma atitude
de expectativa, vigilância, coragem militante e confiança. Consideremos esses pontos:
A Igreja deve aguardar a segunda vinda de Cristo com grande expectativa (5.1-3)
Em I Tessalonicenses 4.13-18 o apóstolo Paulo respondeu à pergunta sobre a situação das pessoas que morrem em Cristo, dizendo que elas não estão em nenhuma desvantagem com respeito aos vivos. Agora, Paulo responde a mais uma pergunta da igreja sobre o tempo e a forma da segunda vinda de Cristo.
1. A segunda vinda de Cristo virá em tempo desconhecido pela igreja (5.1). Paulo já havia ensinado a igreja sobre o crónos e o kairós de Deus em relação à segunda vinda (5.1). O mesmo fizera Jesus com os apóstolos (At 6.6,7), dizendo-lhes que não lhes competia saber tempos ou épocas. O dia da segunda vinda de Cristo só é conhecido por Deus (Mt 24.36). Qualquer especulação sobre essa data é perda de tempo e desobediência ao ensino bíblico.
A palavra crónos significa o tempo cronológico, os acontecimentos que se seguem um ao outro, enquanto kairós é um tempo particular e a natureza dos eventos que acontecem. Fritz Rienecker ensina que a palavra crónos denota simplesmente duração de tempo ou o tempo visto em sua extensão, enquanto kairós refere-se ao tempo apropriado, o momento certo.
Observações importantes (Grifo Nosso)
- Há que se considerar que desde o Gênesis o Senhor tem chamado atenção para os “moed’s”, ou “tempos determinados” de Deus. Isto fica claro conforme Gn 1:14 (Na criação dos luzeiros que seriam para “sinais” e “estações”, sendo esta última palavra traduzida literalmente por “tempos determinados”).
- Observe ainda que As Festas Fixas do Senhor são “tempos determinados”, conforme se traduz em Levítico 23:2. A palavra “Festas” é a mesma palavra “moed’s”, significando “tempos determinados”. O que parece claro é que o Senhor quer ligar a questão temporal à questão de natureza espiritual, ou seja, o chronos com o kairós (o tempo oportuno de Deus).
- Isto fica tanto mais claro quanto se tem a noção e conhecimento do ensino correto sobre as Duas Casas de Israel e sua íntima relação com as Festas Fixas do Senhor no que concerne aos eventos necessários de serem cumpridos para a volta do Senhor.
- Para corroborar esta visão veja que o Senhor mesmo se utiliza do cumprimento da Festa de Pentecostes, em seu sentido espiritual, em conexão com ambas expressões “chronos” e “kairós”. Isto está relatado em At 1:7-8: “Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos (chronos) ou épocas (kairós) que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade, mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo….”
- Da mesma forma, o apóstolo Paulo se utiliza da mesma figura em ITs 5:1, porém, agora, correlacionando o “Dia do Senhor” com a questão do “chronos” e “kairós”. O tema em foco neste último capítulo trata da Vinda do Senhor, de Sua Parousia.
- Não seria razoável imaginar que assim como estas expressões foram utilizadas quanto a descida do Espírito Santo em Pentecostes, em cumprimento de natureza espiritual à Festa de Pentecostes descrita em figura literal no A.T., pudessem agora ser utilizadas novamente quanto a Sua segunda Vinda; à Sua descida gloriosa à esta terra para cumprimento dos eventos finais? E se assim o é, não deveríamos considerar razoável que houvesse a obediência ao cumprimento das Festas, não meramente vinculada a seu aspecto literal/temporal (chronos), mas como claramente correlacionada a seu aspecto espiritual no que concerne aos “moed’s” de Deus (kairós)?
A igreja de Tessalônica queria saber detalhes sobre o tempo da segunda vinda de Cristo e Paulo não tem nada a acrescentar além do que já havia ensinado oralmente aos crentes quando de sua permanência entre eles. Eles queriam saber com precisão o tempo da segunda vinda.
2. A segunda vinda de Cristo será repentina (5.2). O apóstolo Paulo afirma: “[…] pois vós mesmas estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite” (5.2). A palavra traduzida “com precisão” significa “acuradamente” ou “detalhadamente”. Howard Marshall diz que muitas pessoas hoje desejam ardentemente informações detalhadas acerca do tempo e do curso dos últimos eventos, e há escritores que estão dispostos a responder às perguntas escatológicas com pormenores minuciosos e com não pouca imaginação.
Alguns defensores do ensino “dispensacional” a respeito da segunda vinda de Jesus são especialmente propensos a oferecer cronogramas exaustivos e esmerados dos eventos futuros. Paulo não é assim. Quando lhe pediram informações detalhadas, nada mais tinha para dizer senão aquilo que diz nesta passagem. Os ensinadores cristãos atualmente fariam bem se seguissem seu exemplo e assim evitassem ir além daquilo que está escrito (ICo 4.6).
A segunda vinda de Cristo virá como um ladrão de noite. Essa mesma comparação é usada pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 24.43; Lc 12.39), bem como pelo apóstolo Pedro (2Pe 3.10)
Jesus virá de forma repentina e rápida. Essa vinda é descrita como um relâmpago que sai do oriente e vai até o ocidente. Ela será tão repentina quanto um abrir e fechar de olhos. Quando se ouvir o grito do noivo, não haverá mais tempo para se preparar. Quando o noivo chegar, a porta será fechada e ninguém mais poderá entrar.
A segunda vinda de Cristo será inesperada (5.2). O ladrão vem quando não é esperado e pega a família de surpresa. Ele sempre chega de surpresa. Ele não envia um telegrama anunciando o dia e a hora da sua chegada.
William Hendriksen observa que um ladrão nunca envia antecipadamente uma carta de advertência sobre o seu plano, dizendo: “Amanhã a tal hora farei uma visita. Esconda em lugar seguro os seus valores”. Não! Ele vem repentina e inesperadamente. Por isso, é perda de tempo indagar quanto tempo falta ou quando será. Quando Cristo voltar, as pessoas não vão estar apercebidas. Elas estarão despreparadas e desprevenidas. Jesus alerta para esse fato solene em uma parábola:
Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, [vigiaria e] não deixaria arrombar a sua casa. Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá (Lc 12.39,40).
Observações Importantes (Grifo Nosso)
- É fundamental observar todas as citações que tratam da Vinda do Senhor como ladrão. São elas:
- Mt 24:40-44 – Parábola da Figueira/Verão/Noé/Apercebidos
- I Ts 5:1-11;23 – Dia do Senhor/Chronos/Kairós/Dores de Parto
- II Pe 3:10-13 – Dia do Senhor/Juízo sobre a Terra
- Ap 3:1-3 – Sardes/Vigilância/Vestiduras Brancas
- Ap 16:12-15 – Sexta Taça/Juízo sobre a Terra
- Observe que todas as citações tem o caráter de juízo. Logo, utilizar-se desta menção “vem como ladrão” para sustentar o arrebatamento parcial pré-tribulacional secreto dos Vencedores não parece ter fundamentação bíblica.
- Outro ponto a ser considerado é que embora o dia e a hora sejam ditos que ninguém o sabe, porém sabemos pelo profeta Daniel que os sábios entenderão “os tempos”. Especialmente quando se tem a visão pós-tribulacionista e que, neste sentido, teríamos claro o conhecimento da “metade última da semana” quando o iníquo for explicitamente revelado.
Howard Marshall lembra que o ponto de comparação é duplo. Primeiro, expressa a imprevisão do evento. O ladrão vem quando não é esperado, e pega a família de surpresa. Segundo, provavelmente devamos também ver um elemento de uma má acolhida. Paulo está olhando a questão do ponto de vista daqueles que descobrirão que o Dia é de julgamento, e, portanto, diz que será tão repentino e mal recebido quanto a visita de um arrombador.
O mundo será’ pego de surpresa, porque se recusa a ouvir a Palavra de Deus e a atentar para a Sua advertência.
- Deus avisou que o dilúvio estava a caminho e, no entanto, somente oito pessoas creram e foram salvas (lPe 3.20).
- Ló avisou sua família de que a cidade seria destruída, mas ninguém lhe deu ouvidos (Gn 19.12-14).
- Jesus avisou Sua geração de que Jerusalém seria destruída (Lc 21.20-24), mas muitos pereceram durante o cerco.
O Senhor Jesus disse que na Sua segunda vinda o mundo vai estar desatento, pois será como nos dias do dilúvio. As pessoas estarão cuidando dos seus interesses: casando-se, e dando-se em casamento, comendo, bebendo e festejando. Estas coisas não são más em si mesmas. Quando, porém, a alma é totalmente absorvida por elas, como um fim em si mesma, de tal forma que as necessidades espirituais são negligenciadas, então elas se transformam em maldição e não mais são uma bênção.
A segunda vinda de Cristo virá num tempo de aparente paz e segurança no mundo (3.3). O apóstolo Paulo alerta: “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão”
A fraseologia “paz e segurança” ecoa nas passagens do Antigo Testamento (Jr 6.14; 8.11; Ez 13.10; Mq 3.5), que falam da atividade de falsos profetas que asseguravam o povo que nada tinha a temer a despeito da podridão que caracterizava a sociedade.
Aqui em Paulo, no entanto, o pensamento pode dizer respeito mais ao mundo pecaminoso que se consola pensando que nada lhe pode acontecer (2Pe 3.3,4). Será exatamente quando isto estiver sendo dito que lhes sobrevirá repentina destruição, afirma Howard Marshall.
Russel Norman Champlin diz que a palavra grega eirene, “paz”, alude ao contentamento no íntimo, à tranquilidade, supostamente baseada na paz estabelecida entre os homens. Já o termo as- phaleia, “segurança”, indica uma segurança sem obstáculos e perturbações.
Quando Cristo voltar, o mundo vai estar pensando que a sociedade estará marcada por paz e segurança. Os homens ímpios terão um grande senso de segurança. “Os incrédulos do mundo são como bêbados vivendo em um paraíso falso e desfrutando uma segurança falsa.”
Os governos mundiais e órgãos internacionais estarão erguendo monumentos a essa aparente paz e segurança. Os homens pensarão firmemente que estarão no controle da situação. Por isso, podemos afirmar que a segunda vinda não será num tempo óbvio para as nações. Os homens estarão no apogeu da sua autoconfiança. Eles estarão se sentindo na fortaleza da paz interna e da segurança externa. Quando, porém, eles pensarem que estarão mais seguros, então lhes sobrevirá o maior perigo.
Jesus descreveu essa aparente segurança dos homens quando da Sua segunda vinda assim:
Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu todos. Assim será no dia em que o Filho do homem se manifestar (Lc 17.26-30).
- A segunda vinda de Cristo será inescapável (5.3). A repentinidade da parousia é enfatizada pela segunda comparação de Paulo: “[…] como vêm as dores de parto à que está para dar A luz; e de nenhum modo escaparão. Esta é uma metáfora bíblica comum (SI 48.6; Is 13.8; 21.17,18; Jr 6.24; 22.23; Mq 4.9) usada para expressar a pura dor e agonia de experiências desagradáveis. Essa figura enfatiza a inevitabilidade e a inescapabilidade deste julgamento. Para os que estiverem despreparados, o Dia do Senhor terá o caráter de um julgamento certeiro. Russel Normal Champlin enfatiza que o mundo inteiro agonizará como uma mulher que está em trabalho de parto. A mulher grávida traz, em seu próprio ventre, a causa de sua dor eventual. E o mundo, em sua iniqüidade, tem o mesmo procedimento, pois nutre aquilo que lhe fará passar por grande dor.
Observações Importantes (Grifo Nosso)
- A expressão “dores de parto” tem dupla aplicação nas Escrituras. De um lado se refere aos sofrimentos dos ímpios por ocasião dos eventos de julgamento do Senhor neste tempo do fim.
- De outro lado, faz menção às contrações, seja da natureza que geme aguardando a plena redenção, seja pela verdadeira Igreja fiel que anseia pela formação plena de Cristo, que sofre pela proclamação genuína do evangelho da Graça e que deseja a imediata volta do Senhor com a consumação de todas as coisas.
A segunda vinda de Cristo não apenas virá de forma repentina e inesperada, mas também será inescapável. Julgamento e destruição serão absolutamente certos para os ímpios. Todos os seres humanos que não colocaram sua confiança em Cristo irão enfrentar esse terrível Dia do Senhor. Será como a dor de parto que vem inescapavelmente para a mulher grávida. Assim, Paulo está mostrando com essa metáfora a inevitabilidade e a inescapabilidade do julgamento.
Ninguém poderá se esconder dessa manifestação gloriosa nem evitar esse glorioso e terrível dia. Jamais os ímpios escaparão às dores desse mais estupendo evento da História. A desesperada, porém, frustrada tentativa do ímpio para escapar desse dia é vividamente retratada em Apocalipse 6.12-17. Ninguém, porém, escapa!
- A segunda vinda de Cristo será um dia de glória e terror ao mesmo tempo (5.3). Se a segunda vinda de Cristo será o dia da recompensa dos salvos (4.13-18), ao mesmo tempo, será um dia de terror e catastrófica destruição para os ímpios (5.3). Exatamente no mesmo instante que o mundo estará se ufanando de sua paz e segurança, uma repentina destruição virá sobre ele. Essa destruição será totalmente inesperada. O profeta Isaías descreve esse terrível dia assim:
Uivai, pois está perto o Dia do Senhor; vem de Todo-poderoso como assolação. Pelo que todos os braços se tornarão frouxos, e o coração de todos os homens se derreterá. Assombrar-se-ão, e apoderar-se-ão deles dores e ais, e terão contorções como a mulher parturiente; olharão atônitos uns para os outros; o seu rosto se tornará rosto flamejante (Is 13.6-8).
Esse dia é descrito como o grande e terrível Dia do Senhor. Será o dia do Juízo. O dia do julgamento. O dia do Senhor, o dia da segunda vinda de Cristo (Mt 24.27,37,39) será o dia de glória para os salvos, mas de pranto, dor e perdição para os ímpios (Am 5.18-20). Os escritores do Novo Testamento identificam “o dia do Senhor” como o dia da segunda vinda de Cristo.
Observações Importantes (Grifo Nosso)
As menções ao Dia do Senhor são, todas elas, de cunho relacionado a Juízo. É de fundamental importância que se verifique cada uma das passagens onde o mesmo é mencionado nas Escrituras, com o propósito de se testificar desta questão:
DIA DO SENHOR –> Guarda relação com o tempo do fim, pois esta expressão está claramente apontando para isto.
Basta analisar os profetas. Citações dos profetas acerca do DIA DO SENHOR e seu significado:
William Barclay ensina que para o judeu todo o tempo estava dividido em duas eras. A era presente que se considerava absoluta e irremediavelmente má. E a era futura que seria a época de ouro de Deus. Mas entre ambas estava o Dia do Senhor. Esse dia seria terrível. Seria como as dores de parto de um mundo novo; um dia em que um mundo se destroçaria e o outro nasceria para a vida.191
A igreja deve aguardar a segunda vinda de Cristo com profunda vigilância (5.4-7)
Warren Wiersbe diz que Paulo está fazendo em todo este parágrafo um contraste entre os salvos que estão preparados para a segunda vinda de Cristo e os ímpios que estão despreparados. Que contraste pode ser assim descrito:
1) Conhecimento e ignorância (5.1,2);
2) Expectativa e surpresa (5.3-5);
3) Sobriedade e embriaguez (5.6-8);
4) Salvação e julgamento (5.9-11).
Duas verdades merecem destaque:
- A vigilância é resultado de uma transformação espiritual (5.4,5). Como dissemos, Paulo, agora, formula um contraste entre os salvos e os ímpios. Ele diz que os salvos são filhos da luz e filhos do dia e não estão mais nas trevas da ignorância e do pecado.
William Hendriksen afirma que esses irmãos se constituem numa nítida antítese com os homens do mundo. Esses últimos estão em trevas, envolvidos por elas, submersos nelas. As trevas entram em seus corações e mentes, em todo o seu ser. Essas são as trevas do pecado e da descrença. É em razão dessas trevas que os descrentes não são sóbrios nem vigilantes.
A segunda vinda de Cristo, entrementes, não apanhará os filhos da luz dormindo desprevenidos e despreparados. Embora os salvos não saibam o dia nem a hora da segunda vinda de Cristo, eles têm azeite em suas lâmpadas e estarão esperando o noivo e sairão ao Seu encontro. Os salvos amam a segunda vinda, esperam a segunda vinda, oram pela segunda vinda e apressam a segunda vinda por intermédio de um serviço consagrado. Para estes, a segunda vinda será dia de luz e não de trevas!
Os crentes foram transformados. Eles não vivem apenas de aparência como as cinco virgens néscias. Eles não deixam para se preparar na última hora. Eles não fizeram apenas mudanças externas. Eles foram transformados radicalmente como a luz se diferencia das trevas e o dia da noite. Quando a rainha Maria de Orange estava morrendo, seu capelão tentou prepará-la com uma leitura. Ela respondeu: “Eu não deixei este assunto para esta hora”.
- A vigilância deve ser constante (5.6,7). Paulo exorta sobre o perigo do crente imitar o ímpio em vez de influenciá-lo; o perigo de a igreja assimilar o mundo em vez de confrontá-lo. Os filhos da luz não podem dormir como aqueles que vivem nas trevas.
Dormir aqui não tem o sentido natural (descansar) nem o sentido metafórico (morrer), mas o sentido moral (viver como se nunca houvesse de vir o dia do Juízo). Pressupõe-se a existência de relaxamento espiritual e moral. Significa estar despreparado como as cinco virgens loucas (Mt 25.3,8).
Howard Marshall nesta mesma linha de pensamento afirma que aqui a referência diz respeito a um sono moral, o estado em que uma pessoa é espiritualmente inconsciente e insensível à chamada de Deus. O sono e a embriaguez estão associados com a noite e não com o dia; são estados que pertencem à situação da qual os cristãos já foram libertos.
Quando uma pessoa está dormindo-a não está alerta nem envolvida no que está acontecendo ao seu redor. Assim, quando um crente está dormindo-o não está vigiando nem está envolvido nas coisas de Deus. Jesus adverte: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25.13).
O apóstolo Paulo fala sobre dois aspectos vitais nessa preparação para a segunda vinda de Cristo:
• A necessidade de vigiar (5.6). Os filhos da luz devem estar atentos e viver de olhos abertos. Eles devem observar os avisos e atentar para as promessas. Devem viver em obediência sabendo que o dia do juízo se aproxima. William Hendriksen diz que ser vigilante significa viver uma vida santificada, consciente da vinda do dia do juízo. Pressupõe-se precaução espiritual e moral.
• A necessidade de ser sóbrio (5.6,7). Ser sóbrio significa estar cheio de ardor moral e espiritual; não é viver superempolgado, por um lado, nem indiferente por outro, porém, calma, firme e racionalmente. A sobriedade é exatamente o oposto da embriaguez.
Howard Marshall escreve que o bêbado é uma pessoa que perde o controle das suas faculdades e está fora de contato com a realidade. Uma pessoa sóbria, porém, tem autocontrole. Uma pessoa embriagada, por sua vez, não apenas perde o autocontrole, mas também não se apercebe dos perigos à sua volta. Ser sóbrio é viver preparado para a segunda vinda de Cristo a todo instante. Devemos ter azeite em nossas lâmpadas todo dia. Devemos vigiar todo dia. Devemos aguardar a vinda do Senhor todo dia. Devemos orar para que Ele venha todo dia. O apóstolo Paulo escreveu:
E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências (Rm 13.11-14).
A igreja deve aguardar a segunda vinda de Cristo com corajosa militância (5.8).
Três verdades são destacadas pelo apóstolo Paulo:
- Devemos aguardar a segunda vinda de Cristo não como espectadores passivos, mas como soldados militantes (5.8). Muitas pessoas adotam uma posição escapista e omissa em relação à segunda vinda de Cristo. Trancam-se em seus guetos, vasculhando profecias e sinais ao mesmo tempo em que se escondem dos confrontos sociais. Vivem tão absortas com as profecias que esquecem da missão. Vivem tão ocupadas em identificar tempos e épocas reservados apenas ao Senhor que esquecem de obedecer à grande comissão dada pelo Senhor.
Warren Wiersbe corretamente afirma que viver na expectativa da segunda vinda de Cristo não é vestir um lençol branco e assentar-se no alto de um monte. E justamente esse tipo de atitude que Deus condena (At 1.10,11). Antes, é viver à luz de Sua volta, conscientes de que nossas obras serão julgadas e de que não teremos novas oportunidades de servir. E viver de acordo com os valores da eternidade.
Há aqueles que chegam a pensar e a pregar que quanto pior melhor, pois assim, Cristo está mais perto de voltar para buscar a Sua igreja. Aqueles que subscrevem essa visão míope fogem do mundo, em vez de serem elementos de transformação no mundo. A posição cristã é de enfrentamento e não de fuga. Aguardamos a segunda vinda de Cristo não fugindo dos embates do mundo com vestes ascensionais, mas entrando no campo de combate como soldados de Cristo. Devemos lutar para acordar os que estão dormindo (Ef 5.14). Devemos vigiar para que o inimigo não nos enrede com suas astúcias. Devemos nos preparar para aguardar o nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (ljo 3.3). .
- Devemos aguardar a vinda de Cristo protegendo nossos corações e mentes em Cristo (5.8). A couraça protege o coração e o capacete protege a cabeça. Mente e coração devem ser protegidos na medida em que entramos nessa renhida peleja. O que pensamos e o que sentimos deve estar debaixo da proteção divina enquanto aguardamos a segunda vinda de Cristo. Razão e emoção precisam estar protegidas.
A fé e o amor são como uma couraça que cobre o coração: a fé em Deus e o amor pelo povo de Deus. A esperança é um capacete resistente que protege os pensamentos. Russel Norman Champlin diz que a armadura aqui aludida é a proteção espiritual para a cabeça e o coração. Com a cabeça e o coração corretos, o homem inteiro andará direito. Os incrédulos enchem sua mente das coisas deste mundo, enquanto os cristãos consagrados voltam sua atenção para as coisas do alto (Cl 3.1-3).
- Devemos aguardar a segunda vinda de Cristo revestindo-nos das três virtudes cardeais (5.8). A fé e o amor nos protegem o coração e a esperança da salvação protege nossa mente. Uma fé viva em Cristo e um amor profundo por Deus e pelo próximo nos livram dos dardos inflamados do maligno. Uma esperança firme na gloriosa salvação e recompensa que se consumarão na segunda vinda de Cristo protege nossa mente de qualquer dúvida ou sedução deste mundo.
A fé e o amor são as qualidades essenciais que o cristão deve demonstrar com relação a Deus e os homens, e a esperança da salvação final é a garantia que o capacita a per- severar a despeito de todas as dificuldades, lembra Howard Marshall.203
A igreja deve aguardar a segunda vinda de Cristo com sólida confiança (5.9,10)
O apóstolo Paulo tem a garantia do futuro porque finca os pés no solo firme do passado. Ele tem certeza da glória, porque está estribado na redenção realizada na cruz. Três verdades benditas são destacadas por Paulo com respeito à nossa salvação:
- A eleição divina (5.9). A nossa salvação não nos foi dada como resultado dos nossos méritos ou obras, mas como destinação do próprio Deus. A salvação tem dois aspectos: um negativo e outro positivo. Negativamente, a salvação é o livramento da ira. Deus não nos destinou para a ira (1.10; 5.9). Positivamente, a salvação é a apropriação dos resultados da obra de Cristo na cruz (5.9,10). Deus nos destinou para a salvação: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.17).
- A redenção na cruz (5.9,10). A razão por que os crentes podem aguardar a salvação e não a ira encontra-se na Pessoa de Jesus que morreu por eles. Se Jesus não tivesse morrido, teriam sido destinados para a ira. A morte de Cristo teve o efeito de um sacrifício expiador do pecado e que, ao morrer, Ele ficou solidário conosco em nossa pecaminosidade a fim de que sejamos solidários com Ele na Sua justiça.204
Alcançamos a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo. Não é pelos Seus ensinos ou milagres, mas por Sua morte. A eleição divina não anula a cruz de Cristo, mas está centrada nela. Somos salvos pela morte de Cristo. Foi Seu sacrifício vicário e substitutivo que nos livrou da ira e nos deu a vida eterna. Não podemos separar a teologia da cruz da teologia da glória. Jesus morreu a nossa morte para vivermos a Sua vida.
A razão por que os crentes podem aguardar a glória e não a ira é porque o Pai os destinou para a salvação (2Tm 1.9; 2Ts 2.13; Ef 1.4) e porque Cristo morreu por eles. Aqueles a quem Deus predestina, a esses também Deus chama, justifica e glorifica (Rm 8.30).
- A comunhão eterna (5.10). Paulo acentua que tanto os que estão vivos (os que vigiam), quanto os que morrem (dormem) estarão em união com Cristo. Estamos unidos com Cristo agora e estaremos unidos com Ele no céu. Estamos em Cristo, enxertados Nele. Já morremos com Ele. Já ressuscitamos com Ele. Já estamos assentados nas regiões celestiais com Ele. Estaremos com Ele para sempre. Reinaremos com Ele por toda a eternidade. Nada nem ninguém neste mundo nem no porvir poderá nos separar Dele.
A confiança na herança dessas bênçãos encoraja os crentes ao consolo recíproco e à edificação mútua (5.11). O crente não apenas edifica-se a si mesmo, ele é edificado por outros. O crescimento espiritual da igreja depende da contribuição de cada um dos membros. Grande parte do nosso trabalho até a gloriosa volta do Senhor é confortar e encorajar uns aos outros. Precisamos encorajar uns aos outros com respeito à nossa gloriosa esperança. Nossa Pátria não está aqui. Nosso destino é a glória.
Compilação parcial do resumo do Rev Hernandes Dias Lopes.