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Orografia de Israel

A terra de Canaã é montanhosa por excelência. Daí a razão de a Bíblia chamá-la de “terra de montes e de vales” (Dt 11.11).

A Eretz Israel,1 como Israel era denominado nos tempos bíblicos, e hodiernamente também, media 225 km de norte a sul e do Mediterrâneo até a entrada do deserto, 130 km. Nessa pequenina faixa existem os contrastes mais chocantes da terra, e por isso encantadores. Do monte Hermom, a quase 3.000 m acima do nível do Mediterrâneo, ao vale do mar Morto, a 400 m abaixo do nível do mar, com rios e vales, montes e desertos, lagos e pântanos, jardins floridos e aridez gritante, olivais imensos e areias quentes, frio e calor, a Eretz Israel forma o conjunto mais espetacular do globo. Do Hermom ou do Nebo podemos descortinar esse maravilhoso panorama da Terra Santa.

Israel passou 400 anos no Baixo Egito, cujas terras são planas, onde não chove e a terra confina com o medonho deserto do Saara. Passaria, sob o comando de Moisés, para Canaã, terra de montes e vales, e onde a chuva é abundante no inverno. Os montes exerceram poderosa influência no povo que cantou os cumes e as elevações na sua poesia ou prosa (Sl 36.6; 72.3; 121:1; Is 54.10; Ez 6.3).

A importância dos montes na Bíblia é muito grande. As tábuas da Lei foram dadas por Deus a Moisés num monte; Arão morreu num monte; também Moisés; a bênção e a maldição foram proclamadas em montes; João Batista nasceu nas montanhas; Jesus nasceu na região montanhosa da Judeia; sua grande batalha com o Diabo foi num monte; num monte proferiu o seu maior sermão; transfigurou-se no monte; agonizou num monte; foi crucificado num monte; foi sepultado e ressurreto num monte; ascendeu ao céu de um monte e voltará colocando seus pés no monte das Oliveiras.

Para entendermos claramente o sistema orográfico da Palestina, precisamos começar pelo norte, isto é, por Líbano e Síria; fora, portanto, dos territórios de Israel. Alguns montes servem de limite entre esses países e outras cordilheiras que entram por Israel e o reino da Jordânia

Vamos começar por duas serras muito importantes: Líbanos e Antilíbanos, e o correspondente vale entre eles.

1 WERBLOWSKY, R. J. Zwi. Sionismo, Israel y los Palestinos, p. 3.

Montes Líbanos

Nome

Procede do hebraico Ha-Lebanon, que advém da raiz lbn, que significa “ser branco”; no árabe é Gebel-El-Lignan, que quer dizer “branco”, por causa da neve que cobre seus picos o ano todo (Jr 18.14). Os assírios o chamavam Labian ou Labnanu; os heteus, Niblani; os egípcios RBRN, e os cananeus (conforme consta na relação de Ugarite), LBNN. A palavra consta dos registros antigos, desde o século VIII a.C.

O monte

Não se trata de um monte, mas de uma cordilheira, que corre de noroeste para nordeste, paralelamente ao Mediterrâneo, numa extensão de 170 km. Limita ao sul com o Nahr el Qasimyah ou El-Litani, que é o rio Leontes; ao norte com o Nahr El-Kebi, o antigo rio Eleutoros. Começa na altura de Beirute e vai até Trípoli.

Os árabes conferem aos Líbanos grande importância. Eles afirmam que “os Líbanos têm na cabeça o inverno, nos seus lombos a primavera, no seu seio o outono, e o verão repousa na orla do mar a seus pés”. A altura média da cordilheira oscila entre 1.000 m e 3.000 m sobre o mar. Três picos principais destacam-se da lombada e cortam os espaços: Gebel Makmal (3.126 m), Dahr El-Dubab (3.066 m) e Dahr El-Kutib (3.063  m).

Os flancos ocidentais dos Líbanos chegam até o Mediterrâneo, formando estreita faixa costeira, planície onde os cananeus plantaram suas importantes cidades.

A Bíblia registra umas 70 vezes o nome Líbano, sendo que alguns desses textos se referem aos Antilíbanos. (As principais referências são: Dt 1.7; Os 14.6,8; 1Rs 5.6-10; 2Rs 19.23; Ed 3.7; Ct 4.8; Sl 29.5,6;

72.16; 80.11; 92.12; 104.16; Is 35.2; Jr 22.6; Ez 17.4; Jr 18.14; Js  13.1-6;

2Sm 5.11; 1Cr 22.4-10).

Na antiguidade, densas florestas de cedros e ciprestes cobriam as encostas da grande Serra do Líbano. As precipitações pluviais de novembro a março dão origem a numerosas fontes e não poucos riachos que se precipitam tanto para leste como para oeste, fertilizando grandemente as terras. A mão humana formou em muitas partes do Líbano jardins maravilhosos; no passado, não eram poucos os bosques existentes na região. Desses, existem ainda dois, dos quais o principal é o Bhsarreh, situado a sudeste de Trípoli.

As ricas terras do Líbano produzem, além de legumes e verduras, grande quantidade de amoras, figos, maçãs, damascos, nozes e trigo. A Bíblia usou o cedro do Líbano como símbolo: a) de majestade e força (Jz 9.15; Sl 92.12; Ct 5.15; Is 60.13); b) de orgulho terreno (Sl 29.5,6; Is 2.13).

A madeira do Líbano foi usada em grandes e suntuosas construções do passado no Oriente Médio, como por exemplo: Egito, Mesopotâmia, Síria e Palestina. A transação mais célebre foi feita entre Hirão, da Fenícia, e Salomão, de Israel, de madeira para a construção da Casa do Senhor em Jerusalém (2Rs 5.6-14). Os fenícios, entre as múltiplas mercadorias do seu fabuloso comércio, negociavam madeira do Líbano (Ez 27.5).

José A. Pistonesi diz que, de toda a vasta riqueza de cedros do Líbano, hoje existem algumas centenas de cedros centenários, dos quais doze são gigantescos e são chamados de “Os Doze Apóstolos de Jesus”.2 Os montanheses do Líbano contam que a origem desses doze cedros está tecida numa lenda: Jesus foi ao Líbano com os Doze Apóstolos. Cada um destes carregava um bordão. Enquanto descansavam, cravaram na terra o bordão. Quando quiseram desenterrá-lo, não conseguiram. Os bordões plantaram raízes e cresceram, e hoje são os colossais cedros.

Montes Antilíbanos

A palavra “Líbano” só aparece no Antigo Testamento; já “Antilíbano” nem no Antigo nem no Novo Testamento. A Bíblia reúne no nome Líbano as duas cordilheiras do leste e do ocidente.

O Antilíbano corre paralelo ao Líbano de nordeste para sudoeste: avança para o sul; pelo Hermom, separa-se dos montes de Israel. Ocupa uma extensão de mais ou menos 163 km. Mais estreita do que a sua companheira do ocidente; mais árida também sua terra. Nessa serra nascem os famosos rios Abana e Farfar (2Rs 5.12). É mais baixa que a serra do Líbano. Divide-se em duas porções, separadas pelo platô de onde desce o rio Barada, que corre para o ocidente e irriga o oásis de Damasco, tornando suas terras ricas e produtivas. O mais alto pico é o Hermom, que atinge 2.800 m sobre o mar e ocupa lugar destacado na parte sul da serra.

2 PISTONESI, José A. Geografía Biblica de Palestina, p. 77.

Apesar de suas terras não serem tão férteis como as do Líbano, na serra do Oriente são abundantes os olivais, as vinhas, as figueiras, as laranjeiras, os limoeiros, as macieiras e também a madeira.

A parte ocidental dos Líbanos pertence ao país chamado Líbano; as demais, à Síria. A parte sul dos Antilíbanos é ocupada por três povos distintos: drusos, maronitas e metuales.

Os drusos parecem descender do povo de Cuta (2Rs 17.24-30) e se fixaram nessa serra após a ocupação de Israel pelos assírios. Eram terrivelmente belicosos. Perseguiram os vizinhos e quase exterminaram os maronitas. Em 1860 d.C. as potências mundiais foram obrigadas a conter as investidas sanguinárias dos drusos. Voltaram a atacar seus vizinhos em 1910. Suas crenças religiosas são um complexo de cristianismo, judaísmo e islamismo. Vivem modestamente, não juram, não bebem nem fumam; mentem apenas aos estrangeiros.

Os maronitas são rivais irreconciliáveis dos drusos. Falam um dialeto árabe, mas são sírios. Também de modestos costumes e vida simples. Dedicam-se à agricultura, à criação de ovelhas e cultivam o bicho-da- seda. De onde eles vêm? Ninguém sabe. Pensa-se que dos monotelitas, seita que acredita numa só natureza do Senhor Jesus. Perseguidos no século VIII, refugiaram-se nos Líbanos. Em 1445 uniram-se à Igreja Romana. Conservam, todavia, alguns de seus princípios primitivos, tais como tomar a Ceia do Senhor com os dois elementos, celebrar suas liturgias na língua árabe e festejar seus santos peculiares. Seus sacerdotes podem se casar, porém, se a esposa morrer, nunca mais se casam.

Os metuales são os mais numerosos dos três: irrequietos e belicosos. Hostilizam de morte os cristãos. Pertencem a uma seita chamada xiita, isto é, maometanos de Alá. Não bebem em recipiente em que um cristão tenha bebido e não se sentam à mesa com cristãos.

Os três se unem para defender suas amadas montanhas. Para tanto, lutam com ferocidade até a morte.

Celesíria

Alguns autores dizem que Celesíria significa “Síria oca”; outros, “Síria escavada”, e ainda outros, “Síria celeste”. A Bíblia lhe chama “vale do Líbano” (Js 11.17) e os árabes a denominam Biq’ath. Celesíria é o nome clássico que lhe deram os romanos. É um grande vale limitado a oeste pelos montes Líbanos, a leste pelos Antilíbanos. Sua largura é imensa. Sua altitude máxima está nas proximidades de Baalbeque. Desse ponto começa a descer em direção ao rio Orontes, ao norte e ao sul, unindo-se com o vale do Litani e as cabeceiras do Jordão. O imenso vale é de uma beleza incalculável e de grande fertilidade. Abriga pequenos povoados que se dedicam à agricultura e à criação de ovelhas. Extremamente frio no inverno. Hoje pertence à Síria

Monte Hermom

O hebraico registra Hermon. Especialistas acreditam que vem da raiz haran (no grau verbal hifil), que significa “dedicar”, “consagrar”. Em Deuteronômio 4.48 é chamado “Siom”. Em Deuteronômio 3.9 diz que os sidônios lhe chamavam Siriom e os amorreus, Senir. O texto de 1Crônicas 5.23 faz distinção entre Baal-Hermom e Senir.

É o pico mais elevado do Antilíbano. Maciço montanhoso situado a sudoeste dos Líbanos orientais. Separado deste por um vale profundo e grande, avança para o sul, onde começa a serra do Hermom. Sua forma é de um setor de círculo que se prolonga de nordeste para sudeste, numa extensão de 30 km aproximadamente. Siriom significa couraça, referindo-se, talvez, à sua forma. Hoje os árabes chamam-no Gebel El- Seih, literalmente, “monte do ancião”, talvez pela neve que traz o ano todo em sua crista.

Três picos sobem do Hermom e rasgam o infinito: o mais alto está a 2.759 m sobre o Mediterrâneo. De qualquer deles pode descortinar-se desde Tiro até Carmelo, dos montes da Galileia à Samaria, do Tiberíades ao mar Morto. Serviu de limite para a tribo de Manassés e o território de Basã. Do Hermom nasce o rio Farfar, que corre para Damasco. Do sul saem filetes d’água que formam o Jordão. Em Salmos 89.12 canta-se:  “… o Tabor e o Hermom exultam em teu nome”. Em Salmos 133.3 canta-se o amor fraternal como “o orvalho do Hermom”. Em Cantares 4.8 a beleza do Hermom associa-se à dos montes Amana e Senir.

Os cananeus, muito cedo, usaram o Hermom para festejar seus deuses. Designaram-lhe “Haran” que significa consagrar — e sobre todo o monte praticaram as mais grosseiras abominações. O deus principal do Hermom foi Baal, daí o nome de Baal-Hermom (Jz 3.3; 1Cr 5.23). Eles escavaram no monte uma cavidade, conhecida como yarad, ou seja, “o que desce” (referindo-se ao manancial), e ergueram um templo Qasr-Antar, cujas ruínas atestam o que foi essa casa idólatra do passado. Muitos outros templos foram erigidos no sopé do monte, em todos os seus flancos, como o Hibbariyat e restos de divindades espalharam-se pela montanha altamente sagrada.

O monte é de grande fertilidade. Oliveiras, maçãs, peras, uvas, trigo, além de verduras e legumes colhem-se com abundância nas lombadas mais baixas do Hermom. Há poucos quilômetros ao sul do Hermom, nos dias do ministério terreno de Jesus, florescia Cesareia de Filipe, incrustada num ponto estratégico ao sul do majestoso monte. Cesareia de Filipe ficava aproximadamente a 7 km da então cidade de Dã. O Senhor Jesus levou seus discípulos para um descanso. Deixaram Cafarnaum e rumaram para Cesareia de Filipe (Mt 16.13), onde interrogou os discípulos sobre o pensamento do povo a respeito de sua divina Pessoa. Depois quis saber o que os discípulos, particularmente os doze, pensavam sobre ele. Então subiu a um alto monte, onde se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João. A tradição aponta o Tabor como o monte da Transfiguração. Helena, mãe de Constantino, mandou construir no Tabor, no século quarto, três templos: um para Jesus, outro para Moisés e outro para Elias. Daí para frente, a Igreja Romana finca pé no Tabor como o monte da Transfiguração, e com ela um bom número de exegetas protestantes.image2 7

                                    Monte Hermom

O Tabor nunca poderia ter sido o lugar da transfiguração de Jesus. Mateus (17.1) e Marcos (9.2) dizem que Jesus subiu a um alto monte, e o Tabor só tem 320 m de altitude; seis dias antes da Transfiguração, Jesus se achava em Cesareia de Filipe e nas cidades circunvizinhas; depois da Transfiguração, Marcos 9.30 diz que Jesus atravessou a Galileia; prova que não estava na Galileia, e o Tabor está na Baixa Galileia. Nos dias do ministério terreno do Senhor Jesus, o Tabor estava ocupado com casas e um sem-número de habitantes, sendo impedimento para uma cena como a da Transfiguração. Por outro lado, o Hermom oferece um conjunto de circunstâncias que enquadram perfeitamente a gloriosa transfiguração do Senhor. Ainda mais, rodeado de alguns templos pagãos e ruínas de outros, em meio a grosseiros ídolos, o Mestre

foi proclamado pelos céus Filho do Deus Bendito, no brilho da glória divina (Mt 17.5). Os bons e famosos exegetas do Novo Testamento concluem com razões convincentes que o Hermom foi o monte da Transfiguração do Senhor.3

A cadeia dos Líbanos

“A parte norte do platô Ocidental forma a espinha dorsal da Galileia. Ficava cercada pelas regiões marítimas de Acre e Fenícia a oeste; ao norte pelo rio Leontes e o sistema dos Líbanos; a leste pelo lindo vale do Jordão, e ao sul pela ondulante planura de Esdraelom”.4

A cadeia dos Líbanos, depois da Fenícia, desce para o sul, corre entre o Mediterrâneo a oeste e o vale do Jordão a leste. No território de Israel vai de “Dã a Berseba”, já entrando no “deserto da Judeia”. No norte de Israel, esses montes são chamados montes de Naftali, no centro montes de Efraim e ao sul montes da Judeia. Os montes de Israel a leste do Jordão pertencem à cadeia dos Antilíbanos.

Montes de Naftali

Na Bíblia essa cadeia de montes é chamada “região montanhosa de Naftali” (Js 20.7). Designa o aglomerado montanhoso ao norte de Israel, na região conhecida como Galileia. Erguem-se onde outrora estiveram as tribos de Aser, Zebulom, Naftali e Issacar. Abrangem tanto a Alta como a Baixa Galileia.5 José Pistonesi diz: “É uma alta e abrupta meseta, continuação dos montes Líbanos, dos quais está separada pelo rio Leontes. Corre do norte para o sul até as proximidades do lago de Galileia, de onde toma direção sudoeste e se inclina lentamente para o Mediterrâneo”.6 Seu limite natural é o grande planalto de Esdraelom. Na Alta Galileia, os montes de Naftali alcançam até 1.200 m sobre o mar. Ao sul são mais baixos.

3 STEWART, Roberto Gualtiero. Commentario Esegetico Pratico del Nuovo Testamento. “Marcos”. Torre Pelice: Libreria Editrice Claudiana Itália, 1928, p.

335. Muitos outros comentários, como LANGE, SCHAFF, ROBERTSON, The Expositors Greek Testament etc.

4 ADAMS, James McKee. A Bíblia e as civilizações antigas, p. 146.

5 Sobre Alta e Baixa Galileia, examinar ADAMS, James McKee. A Bíblia e as civilizações antigas, p. 146.

6 PISTONESI, José A. Geografía Biblica de Palestina, p. 82.

Misto de montes e vales, fendas profundas, barrancos e toda uma série de acidentes, foi sempre uma região marcada pela fertilidade e pela riqueza. Procurada, através dos séculos, por judeus e gentios. Daí o nome com que ficou conhecida: “Galileia dos gentios” (Is 9.1; Mt 4.15). O Senhor Deus, através de Moisés, deu a essa região gloriosas bênçãos (Dt 33.23,24). Jesus passou aproximadamente 18 meses do seu ministério terreno na Galileia. Nela habitou também dos 4 aos 30 anos de idade (Lc 3.23), quando se manifestou a Israel. Quatro elevações principais repontam nos montes de Naftali: o Cornus de Hattim, o Tabor, o Gilboa e o Carmelo.

Cornus de Hattim

Fica a noroeste do mar da Galileia, cuja bacia está a 205 m abaixo do Mediterrâneo. O monte deve estar a 180 m sobre o vale, defronte de Cafarnaum, entre esta cidade e o Tabor. Dista, talvez, 1 km de Cafarnaum. Nos seus flancos encontra-se o povoado de Hattim. O monte que descreve uma meia-lua em torno do mar da Galileia tem dois picos principais em forma de chifres, daí a razão do nome. Entre os dois cornos existe uma planura, extensa área que pode abrigar de 4 a 5 mil pessoas. Do cimo do monte avista-se o mar da Galileia, o Hermom, todo o Golã, o vale de Hula, até Safede, na Alta Galileia, e o Tabor, na Baixa. Jesus referiu-se a Safede e ao Tabor, quando disse: “Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte” (Mt 5.14). Nos dias do Senhor Jesus, no dorso do Cornus de Hattim — hoje conhecido como monte das Beatitudes ou Bem-aventuranças —, abundavam os lírios vermelhos, usados como ilustrações no Sermão do Monte (Mt 6.28).

Os cruzados, no século XII d.C., apontaram esse monte como o lugar tradicional onde o Senhor Jesus pregou o Sermão conhecido como o “do Monte”. Antes dos cruzados, ninguém se preocupou com o lugar do Sermão do Monte. Quem, entretanto, examina as imediações de Cafarnaum não encontrará outro monte que corresponda tão bem às circunstâncias em que Jesus esteve na ocasião quando proferiu o famoso Sermão.

Mateus 5.1 declara que o Senhor Jesus “subiu ao monte”. Parece indicar que por ali só havia aquele monte e que este era familiar do Mestre. Lucas 6.17 afirma que Jesus desceu com eles e parou numa planura. Em Lucas 6.12 diz-se que Jesus “retirou-se para um monte”. Naturalmente subiu num dos cornos do Hattim. Quando amanheceu, desceu à planura, onde se encontravam muitos discípulos (Lc 6.17). Mateus contemplou Jesus subindo o monte e Lucas descendo a planura.

Pensa-se que Jetro, sogro de Moisés, tenha sido sepultado nas proximidades desse monte. Nessa região, em 1187 d.C., Guido de Lusiman, último rei cristão de Jerusalém, foi derrotado pelo sultão Saladino.

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Monte Tabor, na Baixa Galileia

Tabor

No território de Zebulom, fronteira com Issacar, nas proximidades do monte Tabor, houve uma cidade com o nome de Tabor (Js 19.22; Jz 8.18; 1Cr 6.77). O carvalho de Tabor deve ser outra localidade no território de Benjamim (1Sm 10.3).

No hebraico é Tabor mesmo, e significa “pedreira” ou simplesmente “montanha”. No presente, os árabes chamam-no Gebel al-Tour, e os israelenses de Har-Tabor. É um monte isolado. Situado no ângulo nordeste da exuberante Esdraelom, distante 10 km de Nazaré e 16 km do mar da Galileia; sua forma assemelha-se a uma campânula, a um semicírculo, visto do sul e de noroeste. Eleva-se 320 m sobre o vale e 615 km sobre o mar. Seus flancos são rochosos. Com exceção da encosta meridional, que é calcária, as demais estão cobertas de verde vegetação irrigada pelo abundante orvalho que nele cai todas as noites. Diversos caminhos, em ziguezague, levam para o cimo do monte, onde há uma plataforma de 400 m por 200 km. Das alturas do Tabor avista-se a Alta Galileia, o lago de Genezaré, o Hermom, o monte das Beatitudes, o Gilboa. A obra O novo dicionário da Bíblia diz taxativamente: “Desde o século IV d.C., e talvez mais cedo ainda, a tradição tem sustentado que o monte Tabor foi a cena da transfiguração do Senhor Jesus. Isso não é muito provável, especialmente em vista do fato que nos dias do Novo Testamento havia uma aldeia em seu cume”.7 Hoje, existe uma grande igreja.

Em Salmos 89.12, o Tabor é comparado com Hermom; em Jeremias 46.18, com o Carmelo. Sua posição estratégica, na vasta planície de Esdraelom, dava-lhe importância para as guerras. Baraque organizou seu exército no Tabor e venceu Sísera (Jz 4); neste monte foram mortos os irmãos de Gideão (Jz 8); mais tarde, em Ofra, perto do Tabor, Abimeleque matou seus 70 irmãos, todos filhos de Gideão (Jz 9.5). Nos dias de Oseias (5.1), havia no Tabor um santuário idólatra. Uma cidade, plantada no seu cume, foi conquistada por Antíoco III, em 218 a.C. Em 53 a.C. travou-se sangrenta batalha entre romanos e Alexandre, filho de Aristóbulo. Em 66 d.C., Flávio Josefo construiu, para defendê-lo dos romanos, nas alturas do monte, muros cujas ruínas ainda hoje podem ser vistas. Em 1799 Napoleão derrotou os turcos no combate conhecido como “Batalha do Monte Tabor”.8

Gilboa

Ergue-se em plena planície de Esdraelom. Em hebraico é Gilboa; na Septuaginta, Gelboué; na Vulgata, Gelboe. O significado da palavra é “fonte borbulhante”. Sua forma dá ideia de enorme espiral, orientada de norte a sudeste. A parte mais larga olha para Beisã. Mede 13 km de comprimento por 9 km de largura. Seu ponto culminante fica em Seih Burqan, com 518 m sobre o vale. A norte, correndo para nordeste, limita com o rio Galude; a oeste pelo uádi Semmah e o el-Nusf, e o uádi Subas ao sul. Constituição rochosa, com boa camada de terra na superfície. É desnudo de vegetação, com aspecto triste e sombrio. Nele se cultivam oliveiras, figueiras e alguns cereais que não necessitam de muita umidade.

Mais do que um monte, parece tratar-se de uma pequena cordilheira. Davi chama-lhe “montes de Gilboa” (2Sm 1.21). Atualmente são denominados Colinas de Gebel Fakua. Nesse monte os filisteus derrotaram Israel. Ali também morreu Saul com seus filhos (1Sm 31). Por causa dessa triste hecatombe, Davi amaldiçoou os montes de Gilboa (2Sm 1.21).

7 PAYNE, D. F. “Tabor, monte”. Em DOUGLAS, J. D. (Ed.). O novo dicionário da Bíblia, p. 1558.

8 Veja PETROZZI, M. T. Mount Tabor and sourroundings. Jerusalém: Franciscan Printing Press, 1976. Trata‐se de uma obra completa sobre o Tabor e seus arredores

Carmelo

O termo vem a ser “vinha”, “jardim”, “terra ajardinada e frutífera” ou simplesmente “terra fértil”. Usado quase 30 vezes somente no Antigo Testamento. No hebraico é Karmel; no árabe, Kurmul. Sob o nome “Carmelo”, designa-se:

  1. Uma cidade situada a 15 km ao sul de Hebrom. Josué derrotou o seu rei e a incorporou à tribo de Judá (Js 12.22; 15.55). Reconstituída, hoje se chama Hibert Kermel.
  2. Uma pequena montanha ao sul de Judá, onde Saul, depois de ferir amalequitas, ergueu o monumento em sua própria honra (1Sm 15.12). Nabal, o esposo de Abigail, possuía terras e rebanhos, e Davi, fugindo de Saul, escondeu-se nesse monte (1Sm 25.2-5,7,40). O rei Uzias teve também abundantes riquezas nesse monte (2Cr 26.10).
  3. Um monte. Trata-se, na verdade, de uma cadeia de montanhas que corre de nordeste para sudeste. No seu lado ocidental dá para o Mediterrâneo. À medida que se dirige para o sul, vai se estreitando paulatinamente até terminar no promontório que cerca a baía de Acre. Separa-se do Planalto Central pelo uádi el-Milh. De norte para sul alcança cerca de 30 km por 5 e até 15 km de largura. Confina a leste com Esdraelom e ao sul com o Sarom. O Quisom corre a seus pés pelo sul. Na divisão das terras de Canaã por Josué, o Carmelo ficou com Aser. O ar no cume do Carmelo é puríssimo. Verduras, legumes, frutas variadas e flores sobejam em seus flancos. Grande número de cavernas naturais aparece no monte: algumas pequeninas, que explicam Amós 9.3, e outras grandes, como a chamada El-Kedar, aberta na rocha, medindo 14 m de comprimento por 8 m de largura e 6 m de altura.

Diz a tradição que nesta caverna Elias e Eliseu tinham a “Escola de Profetas”. Eliseu se encontrou com a sunamita nesse monte (2Rs 4.25). Na extremidade ocidental está o Gebel Mar-Elvas, onde Elias fez a prova de fogo com Baal (1Rs 18). Num recanto do monte, existe um lugar chamado El-Mahrakan, que significa “incêndio”, um poço que a tradição afirma ter sido de onde Elias tirou água três vezes para o seu sacrifício. Muitas pedras rolam no monte, em forma de melão. No cume do Carmelo Elias travou a batalha contra Baal. Centenas de sacerdotes foram derrotados pelo Senhor e mortos no ribeiro de Quisom (400 do poste- ídolo e 450 de Baal). O profeta Eliseu passou muitas vezes pelo Carmelo (2Rs 2.25; 4.25). Ao sul do Carmelo está Dotã, onde José foi vendido aos ismaelitas por seus irmãos (Gn 37.17). Ali também os siros foram feridos de cegueira por Eliseu (2Rs 6.13-18).

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Monte Carmelo

Do Carmelo tem-se uma vista esplêndida do Mediterrâneo, do Líbano, de toda a Galileia, do vale de Jezreel e do Sarom. Conta-se que Pitágoras passava horas no monte Carmelo, e Vespasiano oferecia sacrifícios aos deuses a fim de que o instituíssem imperador.

As Escrituras Sagradas exaltam as belezas e a grandiosidade do Carmelo (Is 35.2; Jr 50.19; Ct 7.5; Mq 7.14.).

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A moderna cidade de Haifa, com seu magnífico porto, está aos pés do Carmelo. A fortaleza de São João Acre não está longe também. Em Haifa está a segunda maior lapidação de diamantes do mundo. O monte Carmelo está hoje transformado num bairro muito importante de Haifa, onde se multiplicam prédios gigantescos e residências luxuosas. Abriga a sede mundial dos carmelitas e da religião Bahá’i.

Montes de Efraim

Também conhecidos como Planalto Central.

Nomes bíblicos

A região que coube por herança a Efraim na terra de Canaã (Js 20.7) era montanhosa e foi chamada de “montes de Israel” (Js 17.15) e, posteriormente, “montes de Samaria” (Jr 31.5,6; Am 3.9).

Localização

As fronteiras de Efraim estão determinadas em Josué 16. Seu limite com Manassés é descrito em Josué 17. Visto que Manassés estava situada ao norte e nordeste de Efraim, essa fronteira praticamente é a de Efraim. Corria de leste para oeste, desde o Jordão e Jericó, em direção ao interior de Betel, cerca de 16 km ao norte de Jerusalém, passando próximo a Luz e Astarote, e alcançando Bete-Horom inferior, até Gezes. A fronteira norte parte de um ponto em Micmetá (Js 16.6) a leste de Siquém (Js 17.7) e volta-se para o ocidente; seu curso, nessa direção, corria desde Tapua até o ribeiro de Caná, que se junta ao uádi Aujah e chega ao Mediterrâneo, cerca de 7 km ao norte de Jope (Js 16.8). Ao ocidente, seus limites estão definidos em Josué 16.6,7.

A região

A região é pouco elevada e bastante irregular. Algumas de suas elevações têm a forma de campânula escalonada, próprias para a lavoura. Vista de longe, a região dá ideia de um maciço compacto; de perto, não passa de montes isolados e semeados pelo vale.

Entre os montes há planícies, algumas grandes e outras pequenas. Algumas são tão pequenas que não passam de precipícios. Ao tempo de Flávio Josefo, a água era abundante e o seu solo fertilíssimo. Jacó abençoou Manassés e Efraim como “ramo frutífero” junto à fonte (Gn 49.22). Moisés também abençoou a herança de José “com o orvalho e abundância da terra” (Dt 33.13-16).

Nessa região, nos dias de Saul e Davi, havia bosques perigosos e florestas imensas. Num desses lugares travou-se a batalha entre Absalão e os exércitos de Davi (2Sm 18.6,17,22,24,26,27). Toda a região montanhosa de Efraim ficava ao ocidente do Jordão. Davi, porém, na ocasião, se achava em Maanaim, na Transjordânia.

Os montes principais

A região toda é montanhosa, mas apenas dois montes se destacam sobre o altiplano: Ebal e Gerizim.

Ebal (“pedra”) fica ao norte do vale e Gerizim ao sul. Ambos de constituição calcária. O Ebal é quase desnudo, enquanto o Gerizim é coberto de vegetação. De ambos se obtém uma vista panorâmica da Palestina; ao norte, do Ebal, e ao sul, do Gerizim. O cume de ambos é uma meseta de gigantesco tamanho. No Gerizim construíram-se casas e um templo, maior e mais suntuoso do que o de Salomão em Jerusalém. No pico do monte foram abertas dez cisternas para captar águas pluviais.

Ambos os montes ocupam posição estratégica no centro da Palestina, caminho forçado para alcançar tanto o norte como o sul. Do Ebal seriam proclamadas as “maldições”, e do Gerizim, as “bênçãos” (Dt 11.29; 27.1- 13; cumpridas em Js 8.30-34). Há algumas dificuldades histórico- geográficas entre Deuteronômio 11.29,30 e Josué 8.30-35 que devem

ser examinadas com cuidado.9

Entre os dois montes existe uma planície que comporta milhares de pessoas. É um anfiteatro feito pela mão de Deus. A acústica é perfeita. De qualquer dos montes que se fale, ouve-se com nitidez no vale. Isso permitiu a seis tribos proclamar do Ebal a maldição, e do Gerizim a bênção, e dentre os representantes de Israel, mais de 600 ouviram a Palavra do Senhor. Posteriormente, peregrinos e cientistas que visitaram o local fizeram prova da acústica, que é perfeita.

O Ebal está a 936 m sobre o mar e 366 m sobre o vale; Gerizim a 870 sobre o Mediterrâneo e a 240 m sobre o vale. Siquém, hoje Nablus, em cujas proximidades está o “Poço de Jacó”, fica no fundo do vale formado pelos dois montes.

Ebal serviu de palco para a proclamação da maldição (Js 8) e não mais se fala nele na Bíblia. Gerizim, entretanto, prossegue com sua história viva:

  1. Do cume desse monte, Jotão, filho de Gideão, pronunciou a célebre parábola “das árvores”, um libelo contra seu irmão Abimeleque, assassino e usurpador (Jz 9.7).

9 Para esclarecimento completo do assunto, examine‐se Enciclopedia de la Biblia, v. 2, p. 1037‐1038.

  1. Quando Judá voltou do cativeiro babilônico, os samaritanos, liderados por Sambalate, o horonita, ofereceram-se para auxiliar a reconstrução do templo de Jerusalém, o que foi rejeitado. Irado, Sambalate, que era sogro de Manassés, sacerdote judeu, expulso do serviço sagrado do Senhor, edificou majestoso templo no cimo do Gerizim e sagrou Manassés sumo sacerdote (Ne 13.28). Salcy, o arqueólogo que descobriu as ruínas do templo de Gerizim, disse que “era um templo rico e bonito”. Os trabalhos religiosos dos samaritanos prosseguiram neste monte até 129 a.C., quando João Hircano, o macabeu, o destruiu.
  2. Nas cercanias do Gerizim fica o famoso “Poço de Jacó”, de águas vivas. Na boca é estreito e gradativamente se vai alargando até atingir o fundo, cujo diâmetro é 2,5 m. Sua profundidade é de cerca de 30 m. Uma espessa camada de limo está no seu fundo.
  3. Jesus salvou a mulher samaritana à boca desse poço (Jo 4).
  4. No século IV d.C. uma basílica foi construída no Gerizim, sendo destruída mais tarde.
  5. Os cruzados, no século XII d.C., construíram outra basílica, da qual restam algumas ruínas.
  6. No século passado, os ortodoxos gregos começaram a construção de outra basílica até hoje inacabada.

Os samaritanos primitivos e os remanescentes atuais acham que Abraão pagou dízimos a Melquisedeque no Gerizim, que lá Isaque quase foi sacrificado e que Moisés mandou levantar o “altar do Senhor” no Gerizim, e não no Ebal (Dt 27.4-10).10 Um grupo de samaritanos ainda hoje sobe o Gerizim para orar, celebrar suas festas e adorar a Deus. Para eles, o lugar é sagrado e de gloriosas recordações.

10 No Pentateuco Samaritano, a palavra “Ebal” foi substituída por “Gerizim”.

Montes da Judeia

Essa região também é conhecida como “Planalto do Sul”. Começam em Betel e chegam a Berseba, numa distância de 96 km. A altitude do altiplano varia entre 300 m e 1.120 m. Em Jerusalém a altitude média é de 800 m e em Hebrom é de 1.120 m.11 De Belém a Hebrom são 17 km e de Hebrom a Berseba, 51 km. A partir de Hebrom para o sul, os montes começam a declinar, até atingir Berseba, onde o altiplano da Judeia se perde nas areias do grande deserto do Neguebe.

Algumas referências bíblicas trazem a expressão no plural, “montanhas de Judá” (Js 11.21), e no singular, “região montanhosa” de Judá (Js 20.7; 21.11). Lucas 1.39-65 emprega a forma singular.

Na divisão de Canaã entre as tribos de Israel, esse território foi dado a Dã, Benjamim, Judá e Simeão.

O aspecto físico dessa região é agradável e até fascinante, principalmente em Jerusalém e arredores, onde os montes são arredondados, com o dorso plano, formando enormes tabuleiros, onde cidades foram edificadas. Inúmeros ribeiros, alguns perenes e outros intermitentes, irrigam a região, tornando fértil e produtivo o seu solo. Esses ribeiros correm ou para o Jordão ou diretamente para o Mediterrâneo. A terra não é tão fértil como a de Samaria e da Galileia, mas produz frutas, legumes, verduras, além de oliveiras e figos.

Precisamos distinguir duas coisas importantes nessa região: as montanhas da Judeia e o deserto da Judeia. A primeira, partindo dos montes de Samaria, passa por Jerusalém e vai a Ein-Karen, Belém, Hebrom e morre no sul; a segunda, descendo para Jericó, entra na direção do mar Morto e vai encontrar-se com a primeira no Neguebe, e agora, conjugado num mesmo deserto, entra na Península do Sinai. No deserto da Judeia há também montes, e alguns até de grande porte. Começaremos pelos montes da Judeia.

11 Segundo o Atlas histórico de la Biblia (Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1971, p. 19), a altitude do Hebrom é de 1.120 m, enquanto J. McKee Adams (A Bíblia e as civilizações antigas, p. 148) diz que é de 1.000 m. O prof. Zev Vilnay limita‐se a dizer que Hebrom é “a cidade mais alta de todas as existentes na Terra Santa” (Guia de Israel, p. 160).

Jerusalém está edificada sobre montes, o que confirma Salmos 122.4: “para onde sobem as tribos”, isto é, as tribos de Israel. O Novo Testamento também confirma essa informação (veja, por exemplo, Mt 20.17,18; Mc 10.33; Lc 18.1; 19.28; Jo 5.1; 11:55). Outra passagem bíblica fala em descer de Jerusalém (Lc 10.30). A cidade toda está edificada sobre montes (Sl 125).

Três montes principais erguem-se dos vales de Hinom, Cedrom e Tiropeom, e formam a multimilenar Jerusalém, a capital do mundo (Ez 5.5): Sião, Moriá e Oliveiras. Ao norte do Sião, ficam Acra e Bezeta, e também Gólgota. Ao sul do Moriá estão Ofel e Aceldama. No Oliveiras estão o Scopus, ao norte, e Escândalo, e Mau Conselho ao sul.

Monte Sião

Majestoso e sobranceiro, ergue-se a leste da cidade. “Sião” significa “colina ressicada pelo sol”. Em Salmos 48.2 esse monte é o “santo monte” (veja também Jl 3.17) e a “alegria de toda a terra”.

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                                          Monte do Mau Conselho

Na Bíblia, a expressão “monte Sião” aparece sob diversas acepções, das quais destacamos algumas:

  1. O próprio monte, o acidente geográfico (Sl 48.2).
  2. O monte Ofel, antigamente fortaleza dos jebuseus, a sudoeste da cidade (2Sm 5.17; 1Cr 11.5).
  3. Toda a cidade de Jerusalém, como em 2Reis 19.21 e outras escrituras (veja Sl 48.12; 69.33; 133.3; Is 1.8; 3.16; 4.3; 10.24; 52.1; 60.14).
  4. Conhecido como “monte santo” em Joel 3.17, porque nele esteve a arca do Senhor, antes do templo de Salomão. Depois da edificação do templo no monte Moriá e da transferência definitiva da arca, Sião compreendia também o templo. Por essa razão, o Antigo Testamento registra “Sião” quase 160 vezes e “Moriá” apenas duas (Gn 22.2; 2Cr 3.1).
  5. Ao tempo dos macabeus, o monte do templo distinguia-se do Sião (1Macabeus 7.32,33).
  6. Sinônimo do povo de Jerusalém, como comunidade religiosa (Sl 126.1; 129.5; Is 33.14; 34.8; 49.14; 52.8).
  7. Em Sião aparecerá o Messias; por isso, há alusão a Sião celeste (Hb 12.22; Ap 14.1).

Os três montes sobre os quais está assentada a cidade de Jerusalém correm de norte para sul. A oeste, o Sião; a leste, o Oliveiras; e no centro, o Moriá. Entre Sião e Moriá corre um vale chamado Tiropeom; e entre o Moriá e o Oliveiras, o vale do Cedrom. O Sião, o Acra, o Bezeta, o Ofel e o Moriá estavam dentro dos muros da cidade; o Oliveira, fora. O Sião compreendia a cidade de Jerusalém e ocupava mais de dois terços da área total. Sião é um altiplano de considerável tamanho. Sobe 777 m sobre o nível do mar. O altiplano do Sião foi chamado de “Cidade Alta” por Flávio Josefo, 33 m mais alto que o Moriá. Na parte sul do Moriá está Ofel, chamada “cidade baixa” de Jerusalém (2Rs 22.14).

Com o correr dos séculos, na banda oriental, o Sião sofreu profundas alterações de limites: ora estreitando-se ao norte, ora ao sul. Hoje, uma parte dele fica fora dos muros e está ocupada por cemitérios e campos de lavoura, cumprindo-se o que disse o profeta Miqueias (3.12).

O professor Zev Vilnay diz declara no monte Sião há um bairro chamado Yemin Moshé, em memória de Moisés Montefiori. Há também ruínas da antiga “Piscina do Sultão”, um povoado conhecido como Batei Shama, a Tumba do rei Davi, com 14 outros de seus descendentes.12 Acredita-se que, numa das salas do “Palácio de Davi”, Jesus tenha comido a última páscoa com seus apóstolos, e instituído a Ceia Memorial. No Sião está o mosteiro com a “Igreja do Sono”. A Igreja Romana crê que no local onde se levantou esse templo, Maria, mãe de Jesus, dormiu sua última noite neste mundo.

Escavações ao redor do atual muro de Jerusalém revelaram vestígios de velhas muralhas, provando que antes de Salomão Sião era murada e numa área menor que a atual. Numa das lombadas do Sião há um cemitério protestante onde o conhecido arqueólogo Sir Flinders Petri está sepultado.

12 VILNAY, Zev. Guia de Israel, p. 82, 89.

Monte Moriá

Nome

Deriva do hebraico Har ha-Moriyyah, isto é, “monte Moriá”; do grego Amoría, empregado por Josefo13 e Jerônimo;14 na Vulgata latina, Moriá e Terra Visionis; a Septuaginta traduz por “país elevado”; a Peshita por “terra dos amorreus”. Em Gênesis 22.14 se lê em tradução literal: “terra onde o SENHOR aparece”.15 Em Salmos 24.3 e Isaías 30.29 o Moriá é chamado “monte do Senhor” ou “monte de Jeová”. O prof. Zev Vilnay registra:

Os sábios de Israel perguntaram: “Por que este monte se chama Moriá?” Porque vem da Palavra MORA, que em hebraico significa Temor . Desta montanha o temor de Deus percorreu a terra toda. Outra versão diz que vem de Ora que quer dizer Luz , pois quando o Todo- poderoso ordenou: “Haja luz”, foi do Moriá que pela primeira vez brilhou a luz sobre a humanidade.16

O monte

O Moriá corre de norte para sul. Está separado do Sião pelo vale do Tirepeom e do Oliveiras pelo Cedrom. Está a 744 m acima do nível do mar. Seu tamanho é menos de um terço do Sião. Sua constituição, em grande parte, é de pedra calcária. Ao sul do Moriá está o Ofel, que foi a antiga fortaleza dos jebuseus, tomada por Davi.

Aparece na Bíblia pela primeira vez em Gênesis 22, mas não é chamado “monte”, e sim de “terra de Moriá”, região onde havia muitos montes. Nessa terra, o Senhor indicaria a Abraão um “monte”, sobre o qual Isaque seria oferecido em holocausto. Quando Abraão recebeu ordem do Senhor para ir a Moriá oferecer Isaque, o patriarca achava-se em Berseba, região próxima à “terra dos filisteus”. A Bíblia diz que Abraão gastou três dias para cobrir a distância entre Berseba e a “terra de Moriá”. A distância de Berseba ao Moriá do templo de

13 Antiguidades, 1,13,12.

14 JERÔNIMO. Quaestiones Hebraicae in Genesim (12, 2). Para um estudo sobre essas questões, veja KAMESAR, Adam. Jerome, Greek Scholarship, and the Hebrew Bible. Broadbridge, Alderley: Clarendon Press, 1993.

15 As versões João Ferreira de Almeida e a Nova Versão Internacional trazem “se proverá” em lugar de “aparece”. A Vulgata e a Figueiredo traduzem respectivamente: “O Senhor verá neste monte” e “No monte do Senhor se verá”. A Tradução Ecumênica da Bíblia traz: “É sobre esta montanha que o SENHOR foi visto”.

16 VILNAY, Zev. Guia de Israel, p. 127.

Salomão é de 48 km e do Gerizim é de 144 km. A Bíblia diz também que o monte que Deus indicaria a Abraão seria visto de longe. O Moriá de Jerusalém não pode ser visto de longe.17

Em 2Crônicas 3.1 afirma-se expressamente que Salomão erigiu o templo no local onde o Senhor apareceu a Davi, isto é, na eira de Ornã, o jebuseu (2Sm 24.18-25). O monte não é rochoso. Devido ao fato de o terreno não ser consistente, Salomão construiu muros de pedras colossais na parte ocidental do monte para suportar o gigantesco templo. Esses muros foram desenterrados e constituem grande atração turística, principalmente para os judeus, que ali vão orar ao Senhor e lamentar, por isso ficaram conhecidos como “Muros das Lamentações”. As pedras que aparecem no referido “muro” são do templo de Salomão, exceto as mais superiores.

O templo de Salomão foi destruído em 587 a.C. pelo monarca Nabucodonosor (2Cr 36.19); Zorobabel o reedificou em 520 a.C. (Ed 5.13-17), e Herodes, o Grande o remodelou (Jo 2.20), mas os romanos o queimaram em 70 d.C., conforme a palavra de Jesus em Mateus 24.2. Nunca mais foi reconstruído. Será que algum dia a reconstrução ocorrerá? Desde o século VII d.C. os árabes construíram em Moriá, na área sagrada do templo dos judeus, a famosa “Mesquita de Omar”, também conhecida como “Domo da Rocha”. Ao sul está a mesquita conhecida como El-Laksa. Numa das dependências da Mesquita de Omar há um subterrâneo, cavado na rocha, onde os reis de Judá guardavam seus tesouros.

No ângulo sul oriental do pátio do templo, na porta que dá a uma escada, descendo-se por essa escada, avista-se à esquerda uma miniatura de templo, chamada “Berço de Cristo”, erigida sobre uma pedra côncava. Um pouco mais para baixo, ficam os estábulos do rei Salomão.

17 Para uma discussão completa sobre esse assunto, veja Enciclopedia de la Biblia, vol. 5, p. 325.

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                                       Muro das Lamentaçõesimage7

              Mesquita de Omar ou Domo da Rocha

Os montes Acra, Bezeta, Ofel e o próprio Gólgota18 fazem parte do Sião ou do Moriá. Podemos resumir a topografia orográfica de Jerusalém a dois montes: Sião, intramuros, e Oliveira, extramuros.

A colina do templo guarda preciosas recordações tanto do Antigo como do Novo Testamento.

18 O Gólgota dos evangelhos não existe mais. Desde a crucificação de Jesus, Jerusalém já foi destruída e incendiada inúmeras vezes.

Monte das Oliveiras

No hebraico é Har ha-Zetin. Na Septuaginta Tò horos tòn elaiòn; na Vulgata Mons Olivarum; em português: Olival ou Oliveiras (veja At 1.12; Jo 8.1 etc.).

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Monte das Oliveiras

O monte das Oliveiras está situado a oriente da cidade de Jerusalém e separado do Moriá pelo vale do Cedrom. Os árabes chamam-no Gebel El- Zeitun. Ele de estende de norte a sul. Nesta posição, segundo José Pistonesi, mede 3,5 km.19 Três elevações sobressaem à lombada:

  1. Ao norte o Karm El-Sayyad, isto é, a “Vinha do Caçador”, com 818 m. Os primitivos cristãos denominaram-no Mons Viri Galilaei, recordando as palavras do anjo em Atos 1.11.
  2. No centro está o Gebel El-Tur, com 812 m.
  3. No sul, o Gebel Bath El-Hawá, com 734 m, também chamado pelos antigos Mons Offensionis e Mons Scandali, por causa dos ídolos que Salomão erigiu às suas mulheres estrangeiras (1Rs 11.18; 2Rs 23.13). Pouco mais ao sul do Ofensa está o chamado “Monte do Mau Conselho”. Neste monte, segundo a tradição, Caifás, o sumo sacerdote, se reuniu com o “conselho de sacerdotes” para tramar a morte de Jesus (Jo 11.47-53).

19 PISTONESI, José A. Geografía Biblica de Palestina, p. 100.

A distância do monte das Oliveiras ao centro de Jerusalém era de 15 estádios (Jo 11.18), cerca de 2.775 m, “jornada de um sábado” (At 1.12). Josefo diz que a distância do Oliveti a Jerusalém era de 5 a 6 estádios.20 Depende de onde se esteja no Oliveiras e do ponto de Jerusalém que se deseja alcançar. Do Getsêmani (no Oliveiras) à “Porta das Ovelhas” ao norte da área do templo, dista menos de 6 estádios.

Nos dias do Antigo Testamento, esse monte estava coberto de oliveiras, vinhas, figos e muitas outras árvores frutíferas e ornamentais. As multidões que aclamaram a Jesus na entrada triunfal em Jerusalém cortaram galhos de árvores do monte das Oliveiras, pois saíram de Betfagé (Mt 21.8). E Neemias 8.15 ordenou que saíssem ao monte (Oliveiras?) e trouxessem ramos de frondosas árvores para a comemoração da Festa dos Tabernáculos. Quando os romanos no ano 70

d.C. destruíram Jerusalém, destruíram tudo pelo fogo, a partir do Monte das Oliveiras, onde Tito tinha o seu quartel-general.

Betfagé e Betânia estavam no monte das Oliveiras. Betfagé quer dizer “casa do figo”, enquanto Betânia significa “casa da tâmara”. Esta ficava na encosta oriental do referido monte, e aquela na ocidental. Em Betânia estava a casa de Marta, Maria e Lázaro, e há cerca de 300 m a sepultura da família, onde Lázaro permaneceu quatro dias e já cheirava mal.

Na encosta do monte das Oliveiras, no Getsêmani, a estrada que vem de Jerusalém bifurca-se: uma vai para o sul até Jericó, passando por Betânia; a outra dirige-se para o leste. Depois de avançar 500 m, divide- se em três caminhos: o do meio passa por Betfagé e vai a Betânia. Os outros dois vão ter também ao cume do monte. A estrada romana saía de Jerusalém, subia o Oliveiras perto de Ain Suwah, alcançava o cume a 900 m, na depressão norte de Karen El-Seiyad descia para o uádi que atravessava perto das ruínas de Bukeidan e chegava ao Jordão. O Senhor Jesus, vindo da Galileia ou voltando, passou muitas vezes por essa estrada, do Jordão a Jericó e de Jericó a Jerusalém. Os motivos geográficos da parábola do Bom Samaritano encontram-se numa dessas estradas. Na velha estrada que vai de Jerusalém a Jericó, numa diferença de nível de 1.100 m, num percurso de pouco menos de 40 km, há uma curva pronunciada e uma caverna, lugar apropriado para esconderijo de ladrões e hoje chamada “Casa do Bom Samaritano”.

20 JOSEFO, Flávio. Antiguidades, 20.8,6; Guerras, 5.2,3.

A tradição afirma que na cova ao norte do Oliveiras são conservados muitos dos últimos ensinos de Jesus. Entre eles o “Pai-nosso”, que está reproduzido em dezenas de línguas. Em 1910 os “Padres blancos” descobriram restos da basílica constantiniana (395 d.C.) conhecida como “Eleanora”. A 50 m dessa cova há hoje uma pequena mesquita, no lugar onde Pomênia (375 d.C.) edificou a Igreja da Ascensão. Numa camada rochosa, dentro da pequena mesquita, está a marca de um calcanhar gravado na pedra, que, segundo os romanistas, é de Jesus, deixado na hora em que subiu ao Pai.

Na encosta meridional, entre os caminhos central e meridional, que levam ao Getsêmani, há um lugar chamado Dominus Flevit, onde Jesus supostamente teria lamentado sobre Jerusalém. Nessa região, entre 1953 e 1955, os franceses descobriram um cemitério judeu-cristão, com nomes que lembram personagens do Novo Testamento.

Getsêmani

Em hebraico Gat Semanim, que vem a ser “prensa de azeite”.

Jesus deixou o cenáculo acompanhado por onze apóstolos e foi em direção ao Getsêmani (Mt 26.36), distante dali cerca de 3 km, de acordo com o dr. João Pedreira do Conto Ferraz Jr.21 A Enciclopedia de la Biblia diz “um quilômetro e meio”. Desceu a vertente do Sião, deixou a cidade pela porta Ofel, contornou o monte Moriá, passando perto da Fonte Siloé, atravessou o ribeiro do Cedrom e chegou ao Getsêmani, que fica na parte mais baixa do monte das Oliveiras. Era um horto ou um jardim, propriedade particular de um parente ou amigo de Jesus. No “jardim” há uma gruta onde oito apóstolos ficaram comodamente sentados, que até dormiram (Mt 26.40). Três apóstolos — Pedro, Tiago e João — avançaram pouco mais com Jesus e ficaram também. Jesus prossegue “um tiro de pedra” (mais ou menos 30 m), e, sozinho, agoniza por nós.

21 FERRAZ JR. J. P. C. Paixão de Jesus Cristo. 2.a ed. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1924, páginas introdutórias.

Nesse “horto” a escolta do sumo sacerdote, guiada por Judas Iscariotes, prendeu Jesus. Hoje, no Getsêmani, existem oito velhas oliveiras que devem datar do século VII d.C. A gruta do “jardim” em 1955 foi inundada por violentas chuvas e danificada. Na reedificação, foram feitas escavações na gruta. Apareceram mosaicos do século VI d.C. e uma prensa de azeite, talvez semelhante à do amigo de Jesus. A restauração da gruta foi feita em 1956. Essa gruta dista mais ou menos 25 m da “Igreja da Agonia”. A gruta mede 17 m de comprimento, por 9 m de largura, por 3,5 m de altura. O “Horto” do Getsêmani fica à esquerda da Basílica da Agonia. Os franciscanos compraram essa área sagrada em 1666. A referida basílica está a uns 80 m da Gruta do Getsêmani, na rocha que se eleva 10 m acima da entrada da gruta.

Monte da Tentação

Um monte isolado que os árabes chamam de Gebel El-Dug, ou seja, “monte da observação”, conhecido atualmente como Gebel Qarantal (“Quarentena” ou “Tentação”). Está situado a 4 km ao norte, num ângulo que dá para a moderna Jericó. Ergue-se a 492 m sobre o nível do mar Morto, a 325 m sobre o nível de Jericó e a 98 m sobre o Mediterrâneo. Monte desnudo e estéril, com um sem-número de grutas naturais. Serve de limite com o deserto de Bete-Áven (Js 18.12). (Veja a foto na página seguinte).

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                        Monte da Tentação ou Quarentena (Jericó)

Nas covas ou grutas do monte, anacoretas se refugiaram para livrar-se do bulício do mundo e meditar. Os gregos o transformaram em comunidade. Dos cruzados para cá, tem-se aceito como o lugar ao qual o Espírito Santo levou Jesus para ser tentado pelo Diabo após o batismo no Jordão. Na realidade, a Bíblia não diz em que monte Jesus foi tentado pelo Diabo. Nas cercanias, entretanto, não há outro monte que responda às exigências e circunstâncias da grande batalha do Filho de Deus com o Diabo como o monte da Quarentena.

Montes da Galaade

Essa região é conhecida como “Transjordânia”, isto é, “Além-Jordão”, hoje ocupada pela Jordânia e governada pela “dinastia ashemita”.

O nome no hebraico é Gil-Ad, Heres Gilad, Har Na-Gil-ad ou Har Gil-ad; na Septuaginta e na Vulgata é Galaad. O significado do nome é bastante diversificado. Para um grupo deriva de “montão do testemunho”, de Gênesis 31.47-50, resultante do encontro de Labão com Jacó. L. Koehler acha que vem de Gi-Ad ou Ga-Ad, equivalente ao árabe Gauda, que descreve a “dureza” ou “rugosidade e irregularidade do terreno”, enquanto Basã é o oposto.

O nome surgiu do encontro de Labão com Jacó (Gn 31.47-55). Labão chamou o lugar Jegar-Saaduta; Jacó, de Galeede; ambos querem dizer “montão do testemunho”. Galeede aparece em Gênesis 31.47-48 apenas duas vezes. Gileade ocorre mais de 120 vezes, e gileadita, quase 10, exclusivamente no Antigo Testamento.

A região

Kenneth Kitchen, especialista em egípcio e cóptico, afirma:

Geograficamente, a própria Gileade era montanhosa, uma terra coberta de bosques seguindo uma linha de Hesbom, em direção ao oeste, até à extremidade norte do mar Morto, e estendendo-se para o norte em direção ao presente rio e uádi Yarmuk, mas que se espraia em planícies até cerca de 29 km ao sul do Yarmuk. […] Ao sul da própria Gileade (isto é, ao sul da linha que vai de Hesbom ao mar Morto) e chegando até o rio Arnom, há um platô ondulado apropriado para a criação de gado e rebanhos de ovelhas e cabras.22

22 KITCHEN, Kenneth. A. “Gileade”. Em DOUGLAS, J. D. (Ed.) O novo dicionário da Bíblia, p. 551.

Nos dias de Josué, essa região praticamente ia do Hermom a Edom e do Jordão e mar Morto, ao Grande Deserto siro-arábico. Antes da conquista de Moisés, abrangia três partes principais:

  1. Norte (Basã), que ia do Iarmuque ao Jaboque.
  2. Centro (Gileade), que ia do Jaboque ao Arnom.
  3. Sul (Moabe), que ia do Arnom até o Zerka-Maim.

Seom, rei de Hesbom, esteve em Gileade quando Israel chegou sob a liderança de Moisés (Dt 2.26-37). Ogue, rei de Basã, governava em Basã (Dt 3.1-11). Moabe estava no sul, e só não foi desarraigado por Israel porque Deus dera esse território aos filhos de Ló (Dt 2.9-11). Moisés tomou os reinos de Seom e de Basã e os deu:

  1. A Rúben, ao sul, o território compreendido entre o Arnom, ao sul, até a terra de Gileade, na altura de Jericó, ao norte.
  2. Gade ficou com toda a terra de Gileade, propriamente dita.
  3. A Manassés, apenas meia tribo, coube-lhe o reino de Basã, da fronteira com Gade, ao sul de Golã (Dt 3.1-17 e Js 12.1-6).

No tempo dos macabeus (1Macabeus 5.17-36), Gileade foi conhecida como Galaadítide, e no tempo dos romanos por Trans Jordanem (Mt 4.15,25; Mc 3.8, 10.1; Jo 1.28; 3.26; 10.40). Hoje a “Transjordânia” está com os árabes, dividida em duas regiões: uma ao norte, chamada Aglum, que vai do norte do Jaboque, ao sul do Iarmuque; e a outra Belka, que vai do Jaboque do uádi Hesbom.

Na época de Jeremias, as terras de Gileade eram fertilíssimas. Bosques imensos cobriam suas imensas áreas (Jr 22.6; 50.19; Zc 10.10). Eram também terras de ricas pastagens (Ct 4.1; 6.5), onde se criava muito gado (Am 4.1). A terra produzia trigo, cevada e legumes, além da oliveira. O bálsamo de Gileade já era conhecido e cobiçado no tempo de Jacó (Gn 37.25; Jr 8.22). Os bosques ofereciam excelente refúgio em tempos de perigo e calamidade (Gn 31.25-55; 1Sm 13.7).

Montes de Gileade

Os Antilíbanos vão do norte da Síria ao Hermom. No Hermom nasce a cordilheira que corre na direção sul, paralelo ao Jordão, e se prolonga até o mar Morto, numa altitude média de 600 a 900 m sobre o vale do Jordão. De norte para o sul, as montanhas principais são:

Montes de Basã

Estendem-se do monte Hermom ao Iarmuque, e do Jordão a Ledjah. A porção compreendida entre o Jordão e o mar da Galileia é mais alta e mais regular. Há um sem-número de crateras de vulcões extintos espalhadas pela região. Suas terras são exuberantes e bastante produtivas. Constituem o celeiro de Síria e Israel. Os altiplanos de Basã, e hoje uma parte de Golã, estavam cobertos de cedros e carvalhos nos dias do Antigo Testamento (Is 2.13; Ez 27.6; Zc 11.2); rebanhos tranquilos alimentam-se em suas relvas verdes. Salmos 89.12 contrasta o orgulho de Basã com a habitação de Deus em Sião.

Montes de Gileade

Era a região do centro. Nascia no Iarmuque e se estendia até o norte do mar Morto. Sua extensão era de 90 km de comprimento, por 30 km de largura. É chamada Gileade (Gn 37.25; Sl 60.7), terra de Gileade (Nm 32.1) e montes de Gileade (Gn 31.25). Cobertas de matas, com grandes bosques, suas terras são férteis e próprias para lavoura. Sua fertilidade assemelha-se à de Samaria, no ocidente. O rio Jaboque dividia de leste para oeste a montanha de Gileade em duas partes, aproximadamente do mesmo tamanho: a do norte e a do sul. Nesta ficou Rúben, e naquela, Gade.

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                                                           Gileade

A história de Gileade está ligada à vida de importantes homens nas suas experiências profundas e marcantes com Deus:

  1. Jacó e Labão (Gn 31).
  2. Jacó na luta de Peniel (Gn 32).
  3. Moisés tomou essa região antes de tomar Canaã (Nm 21).
  4. Terra de dois juízes: Jair (Jz 10.3) e Jefté (Jz 11.1).
  5. Berço natal do profeta Elias (1Rs 17.1).
  6. Sede do reino de Isbosete, filho de Saul (2Sm 2.8,9).
  7. Refúgio de Davi, fugindo de seu filho Absalão (2Sm 17.27-29).
  8. Acabe morreu na batalha de Ramote de Gileade (1Rs 22).
  9. Jeú foi ungido rei em Gileade (2Rs 9).
  10. Nos dias do Novo Testamento foi chamada Pereia e governada por Herodes Antipas (4 a.C. a 37 d.C.).

Por Gileade passava a Estrada do Leste que, vindo da Galileia, cruzava o Jordão em Beisã, no sul do mar da Galileia, e chegava até Betânia de Além-Jordão num passo natural (Jo 1.28), defronte de Jericó, e subia a Jerusalém. Era onde passavam os romeiros que iam a Jerusalém e foi também onde Jesus passou repetidas vezes.

Montes de Moabe

Talvez os mais lindos e famosos dessa região transjordânica.

Limites

A leste com o deserto siro-arábico, conhecido também como “deserto de Moabe”; ao sul com o ribeiro de Zerede, hoje chamado uádi el-Hesa; pelo ocidente limita-se com o mar Morto e mais ao norte com o próprio Jordão; ao norte seus limites oscilam no compasso de suas vitórias ou derrota

Nos dias áureos, o país de norte a sul alcançou 96,5 km, com 57 de largura.

As terras moabitas sempre foram secas e estéreis, pois estavam entre o grande deserto arábico e o mar Morto. Apenas no centro contavam com uma faixa de terras férteis, principalmente as que eram banhadas por ribeiros. Rute e a sogra Noemi devem ter vivido num desses uádis de abundância (Rt 1.1-6). O país de Moabe se divide em quatro regiões distintas:

  1. Planícies de Moabe. Em hebraico: “Arbot-Moab”. Trata-se de um quadrilátero formado pelo Jordão, mar Morto, montes Abarim e uádi Mimrim. Nesta área floresceram grandes e importantes cidades moabitas (Nm 22.1; 25.1-18; 33.48; 36.13).
  2. Campos de Moabe. No hebraico: “Sede Moabe”, porção de terra que se estendia dos altiplanos da Transjordânia, ao norte, ao Arnom ao sul. Talvez sinônimo de “país de Moabe” (Gn 36.35; Nm 21.20; Rt 2.6; 4.3).
  3. Regiões moabitas. Regiões de prosperidade que cresceram e se tornaram centros importantes, algumas nas cidades e outras na faixa agropecuária. As principais foram: Misor, Savé, Quiriataim (Gn 14.5), Sedé — Zofim (Nm 23.14), Asdode ha-Pista, ou o declive entre o pico de Pisga e o mar Morto (Dt 3.17; 4.19; Js 12.3). As maiores riquezas do país provinham dessas regiões. A maior manufatura era pecuária (2Rs 3.4).
  4. Montes de Moabe. São formados por duas cadeias principais:

O Seir, que fica ao sul do mar Morto e chega ao golfo de Ácaba ou Eilate, entre o deserto da Arábia e o vale de Arabá. Seir forma um conjunto compacto de rochas escarpadas e de variadas cores, principalmente amarelo, rosa, azul e púrpura. O sistema montanhoso de Seir está a 1.400 m acima do mar Morto e 1.000 m sobre o nível do Mediterrâneo. Do maciço descem inúmeros riachos que fertilizam a terra, e grande número de uádis rasgam o dorso da montanha, permitindo ao homem que por eles chegasse ao cume ou do cume descesse ao vale.

O orvalho em Seir é abundante como lemos em Gênesis 27.39. Os primitivos habitantes do Seir foram os horeus (Gn 14.6). Os descendentes de Esaú, entretanto, os desalojaram (Gn 36.8) e se firmaram no monte, cresceram e se multiplicaram, tornando-se uma nação rica e um povo forte. Fundaram grandes cidades, tais como Bozra, Elate, Eziom-Geber, Sela, Petra e outras. Arão, irmão de Moisés, morreu no monte Hor, um dos picos do Seir (Nm 20.25-29; 33.38,39; Dt 32.50). O monte Hor acha-se na metade do caminho entre o mar Morto e o golfo de Eilate. No sopé oriental do Seir floresceu Sela, a importante cidade edomita. O monte Hor está a

1.460 m de altura do Mediterrâneo e a 1.860 m sobre o mar Morto. O monte Hor tem dois picos principais que, vistos à distância, assemelham- se a castelos medievais. Num deles, o Gebel Neby Harun, está sepultado o sumo sacerdote Arão. A palavra Seir define: uma montanha (Gn 14.6), uma terra (Gn 32.3) e um povo (Ez 25.8).

Abarim, plural hebraico Bharim, e quer dizer “do outro lado”, “além”, “passagens”, “partes além” e “lugares distantes” (Jr 22.20). Em Números

33.44 Israel acampou em Ije-Abarim, fronteira com Moabe; em Números

33.47 acampou “nos montes de Moabe”, isto é, “no platô de Moabe”. A forma plural sugere uma cadeia de montes, isto é, uma serra, cujas vertentes ocidentais se precipitam da elevada meseta de Moabe, para o oriente do mar Morto, a partir do uádi el-Hesan, ao sul, até Hesbom, além do monte Nebo, ao norte.

Seus principais cumes são: Pisga, Peor e Nebo.

Pisga

Após 40 anos de dura peregrinação no deserto do Sinai, Israel chegou aos montes Abarim e solicitou aos amorreus (Nm 21.20-25) passagem por suas terras, rumando para Canaã. Os amorreus enfrentaram Israel com mão armada. Israel lutou e venceu. Tomou-lhes a terra. Balaque, rei de Moabe, assustado com a presença de Israel em suas terras, chamou o falso profeta Balaão para amaldiçoar o povo de Deus. O Senhor, porém, transformou a maldição em bênção. Na primeira tentativa de “maldição” Balaque levou Balaão ao cume de Pisga. Pisga é um acidente geográfico do monte Abarim. No Antigo Testamento aparece sob duas formas: cume de Pisga (Asdode ha-Pisga) (Nm 21.20; 23.14) e campo de Zofim. Balaão esteve em ambos: no “campo de Zofim” e no “cume de Pisga”. Por ordem de Deus, Moisés teria de subir ao cume de Pisga (Dt 3.27) para contemplar toda a “Terra da Promessa”. E o servo do Senhor obedeceu (Dt 34.1). As “faldas de Pisga” são mencionadas em Deuteronômio 3.17  e 4.49, e ainda em Josué 12.3 e 13.20. Nebo seria a parte mais alta do Abarim; outros o identificam com o Rás El-Siyagah, promontório ao norte do Nebo, na direção oeste a 100 m mais baixo que o Pisga, de onde se tem vista ampla e maravilhosa da Terra da Promissão.

Peor

Em hebraico Ha-Peor, cuja significação é “abertura”.

Pico de uma montanha de Moabe. Para esse pico Balaque levou também Balaão, de onde viu “as tendas de Israel” (Nm 23.28; 24.2). Fica pouco além do vale de Ayim Musa e domina toda a planície que está além do Jordão e ao norte do mar Morto. Situa-se bem defronte a Jericó, ao oriente de Tell El-Rama. É um dos picos do Abarim, próximo ao uádi Hescan. Nesse monte se adorava o deus Baal-Peor, no sedutor culto de Canaã, com requintadas práticas de prostituição cultual. Foi para essa bacanal que Balaão induziu os filhos de Israel (Nm 31.16).

Nebo

A 10 km a noroeste de Mádaba há uma planície chamada Rás El- Siyaga de 710 m de altura, considerada o monte Nebo de Deuteronômio

32.49. Este texto o localiza no “país de Moabe”, defronte a Jericó. Deus avisou que Moisés morreria nesse monte (Dt 32.50). Em Deuteronômio 34.1-6 lemos: “Então, subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó”. O “cume de Pisga” de Deuteronômio 34.1 não se contrapõe ao “monte Nebo” como se fossem dois picos distintos, senão que “Pisga” seria uma especificação do “monte Nebo”. Provavelmente o monte Nebo tinha vários cumes e por isso se especifica um deles, neste caso o de Pisga. Próximo de Rás El- Siyaga, separado desse cume por uma depressão da montanha, existe outro cume 100 m mais alto (808 m) que os árabes chamam Gebel El- Neba (monte Nebo). Este, entretanto, não parece ter sido o “Pisga” onde Moisés morreu; deve ser o Rás El-Siyaga, que, mesmo sendo mais baixo, ele possibilita uma visão melhor da terra de Canaã. O arqueólogo Sylvester Saller escavou o Rás El-Siyaga. Nesse lugar, conservam-se os restos de uma capela bizantina. Dessa capela tem-se uma vista esplêndida da Palestina e da Jordânia. Deste “mirante” (1.100 m) sobre o mar Morto pode-se ver até o monte das Oliveiras, se a evaporação do mar Morto e do Jordão permitir. Alguns palestinólogos acham que o Pisga é uma parte do Abarim, cujo ponto mais alto representa o Nebo.

Monte Sinai

O nome “Sinai” deriva de “Sin”, deusa da lua. Para outros, significa “fendido” ou “rachado”. O prof. Zev Vilnay opina pelo vocábulo hebraico sne, que quer dizer “sarça ardente”.

A Bíblia tem três acepções para o monte Sinai: Sinai (Êx 19.11-18, 20- 24), Horebe (Êx 33.6; 24.13), que sugere a terra “árida” e “deserta” (Dt 1.6), e monte de Deus (Êx 3.1; 1Rs 19.9).

O monte apresenta forma triangular, cujos vértices superiores se apoiam na Ásia e na África. Penetra até o mar Vermelho. Ao leste é banhado pelo golfo Ácaba, que Israel chama de Eilate, e ao ocidente pelo golfo de Suez. A área da península é de 25.000 km². Após o acordo de 1906 entre Egito e Palestina, os limites da região chegaram ao Mediterrâneo, incluindo o deserto de Tih (Parã), com um total de 35.000 km².

Três zonas geológicas são reconhecidas na Península: 1) Cretácea, incluindo o deserto de Tih ou Parã; 2) Arenística, no centro; e 3) Granítica, na parte sul.

Duas cadeias montanhosas começam ao norte da península e descem entre os golfos e se dirigem para o mar Vermelho, no extremo sul:

  1. A ocidental, que acompanha o golfo de Suez e vai até o sudoeste, nas proximidades do mar Vermelho.
  2. A oriental, que segue o golfo de Ácaba e avança para o sul, confinando também com o mar Vermelho.

As duas cordilheiras se encontram no centro da península, dividindo-a em duas partes distintas:

  1. Norte, com o deserto de El-Tih.
  2. Sul, formando uma ponta de lança, que é o monte Sinai.

A região, apesar de árida, é bonita, cheia de contrastes, formando paisagens encantadoras. Os montes são grandes, altos e imponentes pelo colorido de suas areias. A vegetação é escassa, mas em alguns lugares não há nenhuma. Na maior parte da península não há o mínimo essencial para a sobrevivência humana. Poucos oásis se espalham pelas areias quentes do penoso deserto.

A região “granítica” é bela e fascinante: os montes com seus estratos de granito e seus uádis verdes, graças à água que provém da neve dos picos altaneiros. É a região que conta com inúmeras colônias de anacoretas.

O faraó Semehert, da primeira dinastia egípcia, até Ramsés IV, da vigésima, exploraram o granito e a turquesa dessas rochas. A turquesa, especialmente, era extraída do uádi Magará. Na vigência da duodécima dinastia egípcia, foi construído nessa região um templo semita conhecido como Serabit El-Hadim, em cujas ruínas foram descobertas as famosas “inscrições sinaíticas”.23

23 Quando Moisés pediu ao faraó para ir celebrar festa no deserto, provavelmente se referia a esse templo (Êx 5.1).

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Monte Sinai

Os montes mais altos do maciço sinaítico são: Gebel Serbal, Gebel Musa, Gebel Umm-Somer, Gebel Catalina e Gebel Zebir. Qual desses

cinco seria o monte de Moisés? O Sinai dos Dez Mandamentos exige uma série de condições apontadas na Bíblia:

  1. Distância de “onze jornadas” do Horebe a Seir (Dt 1.2).
  2. O monte era visto pelo povo que se achava no vale (Êx 19.11).
  3. Deveria haver um vale grande ao pé do monte, suficiente para abrigar cerca de três milhões de pessoas (Êx 19.17,18), e a de El-Raha coincide com essa necessidade.
  4. O monte deveria estar isolado do povo. Ninguém podia tocar nem mesmo dele se aproximar (Êx 19.12,13).
  5. O monte teria de ser alto, permitindo ao povo contemplar, de longe, o que nas alturas acontecia (Êx 20.18).
  6. Deveria haver água no local onde o povo se reunia (Dt 9.21).

Pela soma de circunstâncias exigida pela Bíblia, o Umm-Somer, o Catalina e o Zebir são naturalmente excluídos. Restam dois: o Serbal e o Musa. O Serbal, com 2.052 m, é alto, sobranceiro e brilhante, parecendo- se a uma armadura metálica, da época dos cavaleiros. O Musa (monte de Moisés) forma um maciço rochoso de forma oblonga, com 3.200 m de comprimento e 1.600 m de largura e uma altitude de 2.000 m sobre o mar e 450 m sobre o vale. Seus extremos estão: um ao norte, formando 3 ou 4 escarpas, chamadas no seu conjunto de Rás Sufsafe e sobindo a 2.014 m; e o outro ao sul, com um só pico numa altitude de 2.444 m.

Somente o Gebel Musa reúne o conjunto de exigências bíblicas para ser o monte Horebe, ou Sinai. A Enciclopedia de la Biblia afirma que a espanhola Egeria, em fins do século IV d.C., visitou o Sinai e deixou notas convincentes em favor do Gebel Musa, como o monte dos Dez Mandamentos.24

Números 33 descreve as jornadas do povo de Israel desde a saída do Egito, sua peregrinação pelo deserto abrasador por um período de 40 anos, até as campinas de Moabe, no limiar da Terra Prometida.

Frequentemente molestados por beduínos e bárbaros, os ermitões do Sinai solicitaram ao imperador Justiniano (séc. VI d.C.) que lhes construísse fortalezas no Gebel Musa. O imperador atendeu ao pedido, mandando-lhes construir a “Basílica de Sarça Ardente”, mais tarde conhecida como da “Transfiguração” e, por último, Mosteiro de Santa Catarina. Este mosteiro, com suas famosas muralhas, ainda existe, edificado no sopé do Gebel Musa.

Nesse convento, o alemão Tischendorf, entre 1844 e 1860, conseguiu comprar dos frades o famoso Códex sinaítico, hoje no Museu Britânico.

Em 1948, na Guerra de Independência, Israel tomou do Egito parte da península do Sinai; na de 1956, tomou tudo. Sob pressão da ONU, Israel devolveu todo o Sinai ao Egito. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tomou a península outra vez, e em suas mãos está até o dia de hoje. Em Eilate, no golfo de Ácaba, Israel tem hoje o seu mais movimentado porto e saída garantida pelo mar Vermelho.

24 Enciclopedia de la Biblia, vol. VI, p. 727‐7