Nome do livro: Cristianismo Pagão

Autor: Frank Viola
Tema: Origem e dimensão histórica
Editora: Abba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda.

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Nome do livro: Babilônia – A Religião de Mistérios

Autor: Ralph Woodrow
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Editora: Associação Evangelística

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Sinopse

Por tratar-se de tema de alta relevância, apresentamos uma sinopse ampliada do livro com o intuito de demonstrar a importância do estudo deste conteúdo, esperando com isto estimular o leitor a estudar o tema em detalhes.

Ressaltamos que esta sinopse, apesar da designação “ampliada”, é apenas uma pequena parte de todo conteúdo que deve, segundo nosso entendimento, ser objeto de estudo completo e detalhado.

PARA QUE VOCÊ POSSA APROFUNDAR NESSE ESTUDO, RECOMENDAMOS A AQUISIÇÃO DE UM EXEMPLAR DESSA OBRA/TEMA.

Nota do site

O Site TenhoSede entende que há uma gama enorme de bons livros cristãos que podem ajudar muito a todos os filhos de Deus no desenvolvimento de uma vida cristã consagrada, madura e frutífera. Neste sentido, os livros aqui mencionados são uma pequena demonstração desta visão.

Esclarece ainda, que todo conteúdo dos livros aqui indicados é de responsabilidade de seus autores e que os mesmos foram incluídos nesta Plataforma tão somente pelo seu elevado conteúdo bíblico. O objetivo é o de trazer à luz uma enorme gama de aspectos relevantes para o todo da revelação das Escrituras e para uma melhor interface com outras seções do site.

A indicação dos mesmos é feita essencialmente para abordar temas fundamentais para uma melhor e mais profunda compreensão da Palavra, não sendo necessária a aquisição especificamente dos títulos aqui indicados. No entanto, recomenda-se que os temas por eles abordados devam ser estudados em detalhes, ainda que por meio de outros títulos, para que se alcance uma maior consciência da grandeza do Senhor e de Sua Palavra.

Índice

Capítulo 1 – Babilônia fonte da religião falsa

Capítulo 2 – Abordagem ao NT: A bíblia não é um quebra-cabeças

Capítulo 3 – Santos, dias santos e símbolos

Capítulo 4 – A origem da idolatria no Antigo Testamento

Capítulo 5 – Você se torna aquilo que adora

Capítulo 6 – As epístolas de Paulo

Capítulo 7 – O livro de Apocalipse

Capítulo 8 – Obeliscos, Templos e Torres

Capítulo 9 – A criação de espaços e objetos sagrados

Capítulo 10 – A Cruz é um símbolo Cristão?

Capítulo 11 – Batismo e ceia do senhor: diluindo os sacramentos

Capítulo 12 – As Relíquias do Romanismo

Capítulo 13 – Fraude religiosa

Capítulo 14 – Pastor: ladrão do funcionamento de cada membro

Capítulo 15 – Pedro foi o primeiro papa?

Capítulo 16 – Origem pagã do ofício papal

Capítulo 17 – Imoralidade papal

Capítulo 18 – Roupa dominical: encobrindo o problema

Capítulo 19 – Os papas são infalíveis?

Capítulo 20 – Ministros do louvor: o clero de segunda classe

Capítulo 21 – A desumana inquisição

Capítulo 22 – Educação cristã: lavagem cerebral

Capítulo 23 – “Dominadores sobre a herança de Deus”

Capítulo 24 – A missa

Capítulo 25 – Sermão: a vaca mais sagrada do protestantismo

Capítulo 26 – Liturgia: a realidade das manhãs dominicais

Capítulo 27 – Três dias e três noites

Capítulo 28 – Peixe, sexta-feira e o festival da primavera

Capítulo 29 – A avaliação que Jesus faz do dinheiro

Capítulo 30 – Dízimo e salários do clero: um peso na carteira

Capítulo 31 – A pobreza de Cristo

Capítulo 1

Babilônia fonte da religião falsa

A religião misteriosa da Babilônia tem sido simbolicamente descrita no último livro da Bíblia como uma mulher sem roupa; e na sua testa estava escrito o nome: “MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A MÃE DAS PROSTITUIÇÕES E ABOMINAÇÕES DA TERRA” (Apocalipse 17:1-6).

A verdadeira igreja, por exemplo, é comparada com uma noiva, uma mulher sem mácula nem ruga (Ef. 5:27; Ap. 19:7,8).

Mas a verdadeira igreja apresentada nesse texto é descrita como uma prostituta.

Quando João escreveu o livro de Apocalipse, a Babilônia — como uma cidade — já havia sido destruída. Porém, os conceitos religiosos e costumes que se originaram na Babilônia continuaram e foram bem representados em muitas nações do mundo.

Voltando ao tempo para o período um pouco antes do dilúvio, os homens começaram a migrar “desde o Oriente, onde eles acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali” (Gn. 11:2). Foi nesta terra que a cidade de Babilônia foi edificada. Foi nesse período que essa terra tornou-se conhecida como Babilônia ou mais tarde como Mesopotânia.

Surgiu então um homem muito forte que se chamava Nimrode. Ele se tornou um poderoso caçador contra os animais selvagens. A Bíblia nos diz: “E Cusi gerou a Nimrode; este começou a ser poderoso na terra. E este foi poderoso CAÇADOR diante do Senhor” (Gn. 10:8,9).

O texto nos conta como Nimrode esquematizou um melhor meio de proteção. Ao invés de combater constantemente os animais selvagens ele organizou as pessoas em cidades e criou paredes de proteção. Posteriormente criou reinos. Sobre isso a Bíblia nos diz: “E o princípio do seu reino foi Babel, e Ereque, e Acade, e Calne, na terra de Sinar” (Gn.10:10).

O reino de Nimrode é o primeiro mencionado na Bíblia. O seu nome significa, “ele se rebelou.”

Esse poderoso homem foi considerado controverso. O notável historiador Josefo escreveu: “Agora, foi Nimrode que os excitou a tal afronta e contenda contra Deus… Ele também gradualmente mudou o governo, levando-o à tirania, não vendo qualquer outra maneira de desviar os homens do temor de Deus… as multidões estavam muito prontas a seguir as determinações de Nimrode… e eles construíram uma torre, não medindo sofrimentos, nem sendo em nenhum grau negligentes a respeito da obra: e, por razão da multidão de mãos empregadas nela, ela cresceu, ficando muito alta … O lugar onde eles edificaram a torre é agora chamado Babilônia.”

A religião babilônica desenvolveu-se em torno de tradições concernentes a Nimrode, sua esposa Semíramis, e seu filho Tamuz.

Quando Nimrode morreu, de acordo com as antigas narrativas, seu corpo foi cortado em pedaços, queimado, e enviado a várias áreas. Práticas semelhantes são mencionadas até mesmo na Bíblia (Juizes 19:29; I Samuel 11:7). Após a sua morte, sua esposa Semíramis reivindicou que ele agora era o deus-sol. Ela também afirmou que seu filho fôra concebido de maneira sobrenatural e que era a semente prometida, o “salvador”. Na religião que se originou daí, contudo, não somente o filho foi adorado, mas a mãe também passou a ser adorada! A maior parte do culto babilônico era levado e feito através de símbolos misteriosos — era uma religião de “mistérios”.

Como deus-sol, Nimrode era representado de várias maneiras: por imagens do sol, peixes, árvores, obeliscos e animais. Séculos mais tarde, Paulo contestou essa idolatria dizendo que: “adoraram e serviram a CRIATURA mais do que ao CRIADOR” (Rm. 1:21- 26).

Este sistema de idolatria espalhou-se da Babilônia para as nações.

Quando Roma tornou-se império mundial, é fato conhecido que ela assimilou dentro do seu sistema os deuses e religiões dos vários países pagãos que dominava.

Desde que a Babilônia era a fonte de paganismo desses países, podemos ver como a religião primitiva da Roma pagã não era outra senão o culto babilônico que havia se desenvolvido e tomado várias formas e nomes diferentes nos países para os quais foram. Foi durante este tempo — quando Roma dominava o mundo — que o verdadeiro Salvador, Jesus Cristo, nasceu, viveu entre os homens, morreu e ressuscitou. Ele subiu aos céus, enviou o Espírito Santo, e a igreja do Novo Testamento foi estabelecida na terra.

O verdadeiro Cristianismo, ungido pelo Espírito Santo, varreu o mundo como um fogo na pradaria.

Passados alguns anos os homens começaram a se estabelecer a si mesmos como “senhores” sobre o povo de Deus no lugar do Espírito Santo.

Tentativas de fundirem o paganismo com o cristianismo estavam sendo feitas até mesmo nos dias quando nosso Novo Testamento estava sendo escrito, pois Paulo mencionou que “o mistério da iniquidade” já estava operando, avisou que viria uma “apostasia” e alguns “deixariam a fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios” — as doutrinas camufladas dos pagãos (II Ts. 2:3,7; I Tm. 4:2).

O cristianismo ficou face a face com o paganismo babilônico nas suas várias formas as quais tinham sido estabelecidas no Império Romano. Os cristãos primitivos recusavam-se a ter algo a ver com seus costumes e crenças. Resultou muita perseguição. Muitos cristãos foram falsamente acusados, atirados aos leões, queimados em estacas e torturados e martirizados de outras maneiras. Foi quando grandes mudanças começaram a ser feitas. O imperador de Roma professou conversão ao cristianismo. Ordens imperiais saíram por todo o império que as perseguições deveriam cessar. Os bispos receberam grandes honrarias. A igreja começou a receber reconhecimento e poderes mundanos. Mas, por tudo isto um grande preço teve que ser pago. Muitos compromissos foram feitos com o paganismo.

Daí em diante, misturas por atacado foram feitas do paganismo com o cristianismo, especialmente em Roma.

As páginas que se seguem provam que foi esta mistura que produziu aquele sistema que é conhecido hoje como a Igreja Católica Romana.

Não há dúvidas que existem muitos católicos excelentes, sinceros e devotos. Não é a intenção do autor tratar com leviandade ou ridicularizar qualquer pessoa de cujas crenças possamos discordar. Em vez disto, ele deseja que as pessoas possam se inspirar — a despeito de sua afiliação religiosa — a abandonar as doutrinas babilônicas e seus conceitos, e buscar um retorno à fé que uma vez foi entregue aos santos.

Capítulo 2

Abordagem ao NT: a bíblia não é um quebra cabeça

A abordagem mais comum utilizada pelos modernos cristãos quando querem estudar a Bíblia chama-se “comprovação de textos”. A origem da “comprovação de textos” surgiu entre 1590 e1600. Um grupo de homens chamados Escolásticos Protestantes tomou o ensino dos Reformadores e os sistematizou segundo as regras da lógica Aristotélica.

Os Escolásticos Protestantes sustentavam não apenas as Escrituras como a Palavra de Deus, mas cada parte dela como Palavra de Deus — independente do contexto.

Nós cristãos raramente, ou quase nunca, olhamos para o NT em sua totalidade. Em vez disso, nos servimos com pratos de pensamentos fragmentados cozidos por uma lógica oriunda de uma humanidade decadente.

A ordem das cartas de Paulo

O Novo Testamento consiste em sua maior parte das cartas de Paulo. Paulo de Tarso escreveu dois terços dele.

No início do século II, alguém pegou as cartas de Paulo e as juntou em um só volume. Este termo técnico chama-se “cânon”. Os escolásticos se referem a este tomo compilado como “Cânon Paulino”. Essencialmente, esse é o seu NT, com algumas poucas cartas posteriormente agregadas, os quatro evangelhos e os Atos colocados em seguida, e o Apocalipse colocado ao final.

A adição de capítulos e versículos

Em 1227, um professor da Universidade de Paris, chamado Stephen Langton agregou capítulos a todos os livros do NT. Depois, em 1551, um impressor chamado Roberto Stephanuse numerou os versos de todos os livros do NT.

Os versículos nasceram nas páginas dos escritos sagrados em 1551.

A maioria dos cristãos não tem consciência dos eventos sociais e históricos que fizeram o pano de fundo das cartas do NT. Eles concebem o NT como um manual que pode ser utilizado para comprovar qualquer ponto. Picar a Bíblia em pequenos fragmentos facilita este processo.

Um remédio prático

Fomos condicionados a abordar o NT com um microscópio e a extrair versículos para averiguar o que disseram os primeiros cristãos. Necessitamos abandonar completamente essa mentalidade, voltar atrás e encontrar uma nova perspectiva das Escrituras. Necessitamos aprender todo o drama do princípio ao fim. Necessitamos aprender a ver o NT panoramicamente, não microscopicamente.

Quando você estuda a história, os versículos precisam estar concatenados. Não há como tomar um versículo fora do contexto e dizer, “Olhe, temos que fazer isto”. Muitos versículos que nós cristãos rotineiramente sacamos da Bíblia simplesmente jamais combinarão entre si. Mas você ficará surpreso pela harmonia descortinada ao ver pela primeira vez o quadro inteiro.

Você aprendeu que as práticas da igreja que você acreditava serem bíblicas não têm qualquer base nas Escrituras. Você descobriu a origem destas práticas. Você sabe que elas não tiveram origem em Deus, mas em homens — a maioria dessas práticas vieram do paganismo. E você sabe que elas frustram o propósito final de Deus para com a Sua Igreja. E você sabe que elas frustram o propósito final de Deus para com a Sua Igreja. Você também se deu conta de que dependeu desesperadamente destas tradições inúteis e de que foi até mesmo atrapalhado por elas.

A adoração da mãe e do Filho

A igreja romanista inventou a adoração a Maria para substituir a antiga adoração à deusa-mãe. A história da mãe e do filho foi muito conhecida na antiga Babilônia e desenvolveu-se até ser uma adoração estabelecida.

Aqui é explicado porque muitas nações adoravam uma mãe e um filho — de uma forma ou de outra — séculos antes do verdadeiro Salvador, Jesus Cristo, ter nascido neste mundo. Nos vários países onde este culto se espalhou, a mãe e o filho foram chamados por diferentes nomes.

Quando os filhos de Israel caíram em apostasia, eles também foram enganados por esta adoração da deusa-mãe. Como lemos em Juízes 2:13: “Eles deixaram ao Senhor: e serviram a Baal e a Astarote”. Astarote ou Astarte era o nome pelo qual a deusa era conhecida pelos filhos de Israel. É penoso pensar que aqueles que haviam conhecido o verdadeiro Deus, o abandonassem e adorassem a mãe pagã. Ainda assim era exatamente o que faziam repetidamente (Juízes 10:6; I Samuel 7:3,4; 12:10; I Reis 11:5; 11 Reis 23:13).

O profeta Jeremias repreendeu-os pôr a adorarem, mas eles se rebelaram contra sua ordem.

Em Éfeso, a grande mãe era conhecida como Diana. O templo dedicado a ela, naquela cidade, era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Em todo o mundo a deusa era adorada (Atos 19:27).

Foi durante esse período quando o culto da mãe divina foi muito destacado, que o Salvador, Jesus Cristo, fundou a verdadeira Igreja do Novo Testamento.

Pelos séculos III e IV o que era conhecido como a ‘‘igreja” havia, em muitas maneiras abandonado a fé original.

Quando essa “queda” veio, muito paganismo foi misturado com o cristianismo. Um bom exemplo disso é a maneira como a igreja permitiu que o culto a grande mãe continuasse.

Líderes da igreja comprometidos viram que, se pudessem encontrar alguma semelhança no cristianismo com a adoração da deusa-mãe, poderiam aumentar consideravelmente o seu número. Maria, a mãe de Jesus, pois era a pessoa mais lógica para eles escolherem.

Mas a adoração a Maria não fazia parte da fé cristã original.

É evidente que Maria, a mãe de Jesus, foi uma mulher excelente, dedicada e piedosa mesmo assim nenhum dos apóstolos nem mesmo o próprio Jesus jamais insinuaram a ideia da adoração a Maria.

Éfeso foi a cidade em que Diana tinha sido adorada como a deusa da virgindade e da fertilidade desde os tempos primitivos. Dizia-se que ela representava os primitivos poderes da natureza e foi assim esculpida com muitos seios.

Quando as crenças são por séculos conservadas por um povo, elas não são facilmente esquecidas. Assim sendo, a igreja raciocinou que se fosse permitido às pessoas conservarem suas ideias a respeito de uma deusa-mãe, e o nome de Maria fosse colocado no lugar, eles poderiam ganhar mais convertidos. Mas este não era o método de Deus.

Maria é frequentemente chamada “A Madona”. Nimrode veio a ser conhecido como Baal. O título de sua esposa, a divindade feminina, seria o equivalente a Baalti. Em Português, esta palavra significa “minha Senhora”; em La-tim, “Mea Domina”, e em Italiano, foi corrompida para a bem conhecida “Madonna”. As Escrituras tornam claro que existe apenas um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (1 Tm. 2:5). Ainda assim o catolicismo romano ensina que Maria também é uma “mediadora”. As orações para ela formam uma parte muito importante do culto católico.

Maria também é frequentemente chamada “rainha dos céus”. Mas Maria, a mãe de Jesus, não é a rainha dos céus. “A rainha dos céus” foi um título da deusa-mãe que foi adorada séculos antes de Maria ter ao menos nascido.

A obra apresenta um embasamento claro de que Maria foi introduzida pela igreja a fim de substituir a antiga deusa-mãe no intuito de não perder e ganhar ainda mais adeptos.

A deusa egípcia da fertilidade, Ísis, era representada como estando de pé sobre a lua crescente com estrelas rodeando sua cabeça. Nas igrejas católicas romanas por toda a Europa podem ser vistas pinturas de Maria exatamente da mesma maneira.

De numerosas maneiras, líderes da apostasia tentaram fazer Maria parecer semelhante às deusas do paganismo e exaltá-la a um plano divino.

Adoração a Maria

Talvez a prova mais forte que a adoração a Maria foi decorrente do velho culto da deusa-mãe pagã, possa ser vista no fato que na religião pagã a mãe era tão (ou mais) adorada do que seu filho.

O verdadeiro cristianismo ensina que o Senhor Jesus — e somente ELE — é o caminho, a verdade, e a vida; que somente ELE pode perdoar pecados; que somente ELE de todas as criaturas da terra, jamais viveu uma vida sem qualquer mancha de pecado; e ELE é que tem que ser adorado — nunca sua mãe. Mas, o catolicismo romano — mostrando a influência que o paganismo tem tido em seu desenvolvimento – de muitas maneiras também exalta a MÃE.

Maria é mais compassiva, compreensiva e misericordiosa do que seu filho Jesus. Certamente isto é contrário às Escrituras! Ainda assim, esta idéia tem sido frequentemente repetida nos escritos católicos.

Um notável escritor, Alfonso de Liguori, católico, escreveu extensamente, dizendo quão mais eficientes são as orações dirigidas a Maria do que as que são dirigidas a Jesus Cristo. Ele conta uma história imaginária que exemplificaria como é mais fácil chegar a Cristo através de Maria.

Os seios não são estranhos aos adoradores da deusa-mãe pagã. Imagens dela têm sido pintadas ou esculpidas mostrando frequentemente seus seios extremamente fora de proporção em relação ao corpo. No caso de Diana, para simbolizar sua fertilidade, ela é pintada com nada menos do que cem peitos.

As histórias variam, mas todas falam de acontecimentos sobrenaturais em conexão com sua entrada da deusa-mãe no mundo, que ela era superior aos demais mortais, que era divina. Pouco a pouco, de modo que os ensinamentos a respeito de Maria não parecessem inferiores aos da deusa-mãe, foi necessário ensinar que a entrada de Maria neste mundo envolveu também um elemento sobrenatural.

A Igreja Católica Romana, como ela mesma afirma, tem há muito crescido e se desenvolvido ao redor de um grande número de tradições e ideias manipuladas por padres da igreja através dos séculos, até mesmo crenças trazidas do paganismo.

Indo diretamente às Escrituras, não somente não existe qualquer prova para a ideia da imaculada conceição de Maria, como existe evidência do contrário. Apesar de ter sido um vaso escolhido do Senhor, uma mulher virtuosa e piedosa, uma virgem, ela foi tão humana como qualquer outro membro da família de Adão. “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), sendo a única exceção o próprio Jesus Cristo. Como qualquer outra pessoa, Maria precisou de um salvador e admitiu isto plenamente quando disse: “E o meu espírito se alegra em Deus meu SALVADOR” (Lc. 1:47).

Se Maria necessitou de um salvador, ela não era em si mesma uma salvadora. O fato é que a divindade de nosso Senhor não dependia de sua mãe ser algum tipo de pessoa exaltada ou divina.

Cada dia católicos no mundo inteiro recitam a Ave Maria, o Rosário, o Angelus, as Litanias da Bendita Virgem, e outras rezas semelhantes. Multiplicando o número dessas orações, vezes o número de católicos que as recitam cada dia, alguém tem calculado que Maria teria que escutar 46.296 petições por segundo. Obviamente ninguém a não ser Deus mesmo poderia fazer isto.

Tentativas posteriores para glorificar Maria podem ser vistas na doutrina católica romana da virgindade perpétua. Este é o ensinamento que Maria permaneceu virgem por toda a sua Vida. Mas, como o explica a The Encyclopedia Britannica, a doutrina da virgindade perpétua de Maria não foi ensinada até uns trezentos anos após a ascensão de Cristo. Não foi antes do Concilio de Calcedônia em 451 que esta fabulosa qualidade ganhou o reconhecimento oficial de Roma. Após Jesus ter nascido, Maria deu à luz a outros filhos.

Jesus foi o “primogênito” filho de Maria (Mt. 1:25); não diz que ele foi seu único filho. O que sugere que mais tarde ela teve um segundo filho, possivelmente um terceiro, etc. De acordo com as histórias e menções na Bíblia sobre outros filhos de Maria ela teria tido oito no total, sendo Jesus o primeiro e não o único.

As Escrituras dizem: “José não a conheceu até que ela deu a luz ao seu filho primogênito: e ele chamou seu nome JESUS” (Mt. 1:25). José “não a conheceu” até que Jesus nasceu, mas depois disto, Maria e José uniram-se como marido e mulher e filhos foram nascidos deles. A ideia que José conservou Maria como uma virgem toda a sua vida é claramente não escriturística.

Não foi até este presente século, contudo, que a doutrina da “assunção” de Maria foi oficialmente proclamada como doutrina da igreja católica romana. Foi em 1951 que o papa Pio XII proclamou que o corpo de Maria não viu corrupção, mas foi tomado para os céus.

Muito se diz sobre a crença de que Maria ascendeu corporalmente aos céus. Mas, a Bíblia não diz absolutamente nada a respeito da assunção de Maria. Ao contrário João 3:13 diz: “Ninguém subiu aos céus, a não ser aquele que desceu dos céus, o Filho do homem que está nos céus” — o próprio Jesus Cristo. ELE é aquele que está à mão direita, de Deus, ELE o único que é nosso mediador.

Intimamente ligado à ideia de rezar para Maria, está um instrumento chamado rosário. As contas no rosário são para contar as rezas — rezas que são repetidas sempre e sempre.

Embora este instrumento seja largamente utilizado dentro da igreja católica romana, está claro que ele não é de origem cristã. Ele tem sido conhecido em muitos países.

A The Catholic Ençyclopedia diz, “Em quase todos os países, então, encontramo-nos com algo na natureza de contas de oração ou contas de rosário”.

A obra apresenta exemplos de outras partes do mundo em diferentes tempos que também utilizavam o rosário para contar orações.

A oração mais frequentemente repetida, que é a principal do rosário, é a “Ave Maria”. A The Catholic Encyclopedia diz: “Não existe qualquer traço da Ave Maria como uma fórmula devocional aceita antes de em torno de 1050”. O rosário completo envolve a repetição da Ave Maria 53 vezes.

Jesus falou a respeito de orações repetidas como sendo uma prática dos pagãos. “Quando orardes”, disse Ele, “não useis de vãs repetições, como o fazem os gentios (ou pagãos); pois eles pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis pois a eles; porque vosso Pai sabe o que vos e necessário, antes de vós lho pedirdes” (Mt. 6:7-13). Nesta passagem Jesus claramente disse aos seus seguidores para NÃO ficar repetindo várias vezes uma pequenina oração.

É significativo observar que foi logo após dar esta advertência, no próprio próximo versículo, que Ele disse: “Vós orareis assim: Pai nosso que estás nos céus…” e deu aos discípulos a que nos referimos como “A Oração do Senhor”. Jesus deu esta oração como um oposto ao tipo de oração dos pagãos. Ainda assim os católicos romanos são ensinados a repetir várias vezes esta oração. Se esta oração não era para ser repetida várias vezes, quão menos uma pequenina oração feita por homens para Maria.

Capítulo 3

Santos, dias santos e símbolos

Os católicos romanos também honram e rezam para diversos “santos”. Estes santos, de acordo com a posição católica, são mártires ou outras pessoas notáveis da igreja que morreram e a quem os papas pronunciaram santos.

A palavra “santo” refere-se somente a uma pessoa que obteve um grau especial de santidade. Mas, de acordo com a Bíblia todos os verdadeiros cristãos são santos – até mesmo aqueles que poderão tristemente terem falta de maturidade espiritual ou conhecimento.

Se quisermos que um “santo” ore por nós, ele deve ser uma pessoa viva. A Bíblia condena toda a tentativa de comungar com os mortos (veja Isaías 8:19, 20). O verdadeiro linguajar do Concilio de Trento é que “os santos que reinam juntos com Cristo oferecem suas próprias orações a Deus pelos homens”.

“As principais objeções levantadas contra a intercessão e invocação dos santos são que estas doutrinas são opostas à fé e à confiança que devemos ter somente em Deus… e que elas não podem ser provadas pelas Escrituras…”.

De muitas maneiras as doutrinas católicas relacionadas com os “santos” são muito semelhantes às antigas ideias pagãs que eram defendidas com relação aos “deuses”.

Olhando novamente lá atrás, para a “mãe” da falsa religião – a Babilônia — descobrimos que as pessoas oravam para e honravam uma pluralidade de deuses. De fato, o sistema babilônico desenvolveu-se até ter uns 5.000 deuses e deusas. Mais ou menos da mesma maneira como os católicos acreditam com relação aos seus “santos”.

Da Babilônia — como a adoração da grande mãe — tais conceitos a respeito dos “deuses” espalhou-se pelas nações.

Quando Roma conquistou o mundo, estas mesmas ideias estavam muito em evidência. A seguir é apresentada uma série de deuses e deusas que eram cultuados nesse período, como por exemplo, a deusa Minerva.

Com a ideia de deuses e deusas associada com vários eventos na vida, agora estabelecida na Roma pagã, foi apenas mais outro passo para aqueles mesmos conceitos finalmente serem incorporados na igreja de Roma.

A velha ideia de deuses associados com certas profissões e dias têm continuado na crença católica romana em santos e dias santos.

Os católicos são ensinados que através da oração aos santos podem obter ajuda que de outra maneira não receberiam. Eles são orientados adorar a Deus e então “rezar primeiro a Santa Maria, e os santos apóstolos, e os santos mártires e todos os santos de Deus. Como a esperança que Deus concederia ao padroeiro o que por outro lado recusaria ao suplicante parece evidente que o sistema católico romano do padroeiro evoluiu das crenças primitivas em deuses devotados a dias, ocupações, e as várias necessidades da vida humana.

Muitas das antigas lendas que tem sido associada com os deuses pagãos foram transferidas para os santos.

Tornou-se fácil transferir para os mártires cristãos as concepções que os antigos conservaram concernentes aos seus heróis. Esta transferência foi promovida pelos numerosos casos nos quais os santos cristãos tornaram-se os sucessores das divindades locais, e o culto cristão suplantou o antigo culto local. Isto explica o grande número de semelhanças entre deuses e santos.

Como o paganismo e o cristianismo foram misturados, algumas vezes foi dado a um santo um nome semelhante em som ao do deus ou deusa pagã que ele substituía. E pode-se encontrar facilmente uma gama enorme de exemplos que comprovam isso.

O templo antigo melhor preservado, que agora permanece em Roma é o Panteon, que em tempos antigos era dedicado (de acordo com a inscrição sobre o pórtico) a “Júpiter e a todos os deuses.” Este foi reconsagrado pelo papa Bonifácio IV “à virgem Maria e a todos os santos”. Tais práticas não eram incomuns.

Igrejas e ruínas de igrejas tem sido frequentemente encontradas nos lugares onde santuários e templos pagãos originalmente estavam situados.

Uma caverna mostrada em Belém como o lugar no qual Jesus nasceu, de acordo com Jerônimo, era realmente uma pedra-santuário na qual o deus babilônico Tamuz tinha sido adorado. As Escrituras jamais afirmam que Jesus nasceu em uma caverna.

Não somente a devoção aos antigos deuses continua (em uma nova forma), mas o uso de estátuas desses deuses também continua. Existem igrejas na Europaque contém mais de quatro mil estátuas.

Em grandes e impressionantes catedrais, em pequeninas capelas, em santuários à beira do caminho, nos painéis de automóveis — em todos esses lugares os ídolos do catolicismo podem ser encontrados em abundância.

Admitem-se nos escritos católicos que em numerosas vezes e entre vários povos, imagens dos santos têm sido adoradas de maneiras supersticiosas.

Vários artigos dentro da The Catholic Encyclopedia procuram explicar que o uso das imagens é válido, na base de serem representativos de Cristo e dos santos. “A honra que é dada a elas refere-se aos objetos que representam, de modo que as imagens que beijamos e diante das quais descobrimos a cabeça e diante das quais nos ajoelhamos, o fazemos adorando a Cristo e venerando os santos cujas aparências elas têm”.

No Velho Testamento, quando os israelitas conquistavam uma cidade pagã ou país não era para adotarem os ídolos desses povos em sua religião. Os tais eram para serem destruídos. Eles tinham que destruir “todas as figuras” dos deuses pagãos também (Números 33:52).

Os pagãos colocavam um círculo ou auréola ao redor da cabeça daqueles que eram “deuses” em suas pinturas. Esta prática continuou exatamente na arte da igreja romanística.

Figuras, supostamente de Cristo, foram pintadas com “raios dourados” circundando sua cabeça. Esta era exatamente a maneira como o deus-sol dos pagãos havia sido representado por séculos.

A igreja dos primeiros quatro séculos não usava qualquer figura de Cristo. Parece evidente, então, que as figuras de Cristo, como aquelas de Maria e dos santos, vieram da imaginação dos artistas.

Além disto, tendo agora ascendido aos céus, não o conhecemos mais “segundo a carne” (II Cor. 5:16), tendo sido “glorificado” (João 7:39), e com um “corpo glorioso” (Fil. 3:21), nem mesmo artista do mundo poderia retratar o Rei em sua beleza. Qualquer pintura, mesmo a melhor, jamais poderia mostrar quão maravilhoso ele realmente é.

Exemplo fundamental de que você se torna

aquilo que adora – Isaías 6

A obra analisa o que os israelitas refletiam, observando primeiro Isaías 6. A passagem não contém apenas temas que se originam no começo da vida de Israel, mas também, temas que prosseguem em partes posteriores do Antigo Testamento, do Novo e até do último livro da Bíblia.

Os israelitas tornaram-se semelhantes à aquilo que veneravam, e essa semelhança os arruinou. A passagem Isaías 6 será analisada com muitos detalhes porque estabelece o princípio deste livro com mais clareza. O autor salienta que a passagem Isaías 6 é uma das mais difíceis de todo o Antigo Testamento. Por isso, é de fundamental importância analisá-la cuidadosamente.

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de seu manto enchiam o templo.

Acima dele havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam.

E clamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.

E as bases das portas tremeram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.

Então eu disse: Aí de mim! Estou perdido;

porque sou homem de lábios impuros

e habito no meio de um povo de lábios impuros

e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!

Então, um dos serafins voou até mim, trazendo na mão uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz;

e tocou-me a boca com a brasa e disse: Agora isto tocou os teus lábios; a tua culpa foi tirada, e o teu pecado, perdoado.

Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei? Quem irá por nós? Eu disse: Aqui estou eu, envia-me.

Ele então disse: Vai e diz a este povo:

Ouvindo, ouvireis, e nunca entendereis;

e, vendo, vereis e jamais percebereis.

Torna o coração deste povo insensível;

que seus ouvidos fiquem surdos,

e os seus olhos, cegos,

para que não veja com os olhos,

não ouça com os ouvidos,

nem entenda com o coração,

e não se converta nem seja curado.

Então eu disse: Até quando, Senhor? Ele respondeu:

Até que as cidades estejam assoladas e fiquem sem habitantes,

as casas sem moradores,

e a terra esteja completamente desolada,

e o Senhor tenha lançado toda a população para longe dela

e a terra esteja totalmente abandonada.

Mas, se ainda restar nela a décima parte,

também será destruída,

como o terebinto e o carvalho que,

depois de derrubados, ainda deixam o toco.

A santa semente é o seu toco”(Is 6.1-13)

À primeira vista, parece que Deus usa a pregação do profeta como instrumento com o qual causa a incredulidade de Israel. Embora esse texto tenha sido entendido como pronunciamento de juízo devido à deslealdade generalizada contra a aliança, jamais houve alguma hipótese de que seja uma punição associada especificamente ao pecado de idolatria da nação. O autor analisa que Isaías 6.9-13 é um anúncio de julgamento sobre a idolatria de Israel, o que parece ser um pecado essencial e representativo da desobediência da aliança pela nação inteira. Essa ideia se desenvolve por todo o resto do Antigo Testamento e continua no Novo.

A obra explica que essa passagem de Isaías funciona como um medicamento teológico forte. Alguns talvez até digam que é um veneno divino.

Como é possível essa passagem fazer sentido para nós e ainda assim continuarmos acreditando num Deus bom e santo que cuida do seu rebanho? É irônico, mas essa passagem contém uma das mais famosas afirmações da santidade Deus em toda a Bíblia (“Santo, santo, santo é o Senhor” {v.3}, que é citada em AP 4.8).

Isaías 6 divide-se em quatro partes:

  1. Nos versículos de 1 a 4, Deus é louvado por sua santidade;
  2. Nos versículos de 5 a 7, o impuro Isaías é declarado perdoado;
  3. Os versículos de 8 a 10 são o comissionamento profético de Isaías para ensurdecer e cegar Israel, e fazer que a nação não compreenda a palavra de Deus;
  4. Os versículos de 11 a 13 relatam os efeitos dessa incumbência.

O versículo 3 afirma: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. Deus é distinto em seus atributos de uma forma que ninguém mais é; por isso, é perfeito em cada um desses atributos, não apenas na pureza moral. Portanto, Ele tem de ser glorificado e venerado pela soma de seus atributos. Nos versículos de 5 a 7, ficamos sabendo que Isaías, mesmo sendo pecador, é declarado santo pela graça perdoadora de Deus.

Há, contudo, um problema. Depois do relato da glorificação da santidade de Deus e de que a vida de Isaías foi declarada santa, mesmo ele sendo pecador, nos versículos de 8 a 10 encontramos o veredito pronunciado contra Israel.

Versículo 8: “Ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei? Quem irá por nós?” Isaías respondeu: “Aqui estou eu, envia-me”.

Quando esse texto é observado, fica claro que se trata de um veredito de culpa contra Israel. Trata-se de uma época, depois de várias centenas de anos de pecado e mais pecado de Israel, em que chegou um momento da declaração de culpa sobre essa geração. Essa mensagem, bem como a justiça e a santidade de Deus, fazem sentido à luz do contexto literário de Isaías 6.1-13. Os israelitas estão sendo julgados por pecados sem arrependimento.

O autor entende que o conceito de idolatria está presente em Isaías 6.9-10. Ele se propõe a demonstrar:

Quando os órgãos do sentido espiritual não funcionam podem ser chamados de “linguagem da disfunção dos órgãos sensoriais”. Quando essa linguagem é utilizada no Antigo Testamento refere-se não apenas aos pecadores em geral, mas também ao pecado da adoração de ídolos.

Em várias passagens de Isaías é tratado o tema dos idólatras. Por exemplo: no meio da descrição de uma pessoa que fabrica o ídolo, Isaías 44.17-18 afirma “então com o resto [isto é, o resto da árvore] faz um deus para si, uma imagem de escultura. Ajoelha-se diante dela, prostra-se e dirige-lhe sua súplica: ‘Livra-me, porque tu és o meu deus’”.

Parte da implicação do salmo é que Israel deveria “bendizer” e “reverenciar” o Senhor, em vez dos ídolos das nações (SL 135.19-21); caso contrário, Israel sofreria o mesmo destino dos gentios idólatras (SL 135.18).

O livro aponta que se adorarmos os ídolos, vamos ficar semelhantes a eles, e essa semelhança nos arruinará.

O problema de Israel era a adoração de ídolos, e a ideia de Isaías 6.9-10 é esta: Isaías tem que anunciar aos idólatras que eles se mantiveram tão impenitentes em relação ao culto dos ídolos que Deus ia torná-los insensíveis espiritualmente, inanimados e sem vida espiritual, assim como os ídolos. Deus está falando pelo intermédio de Isaías, seu profeta: “Você gosta de ídolos, Israel? Pois bem, vai ficar igual a um ídolo, e esse é o castigo”. O povo é punido por meio de seu próprio pecado.

Conclusão sobre Isaías 6.9-10. Portanto, Isaías 6.9-10, é um juízo justo de seu próprio pecado. É como será na eternidade, quando Deus dirá aos que rejeitaram a ele e seu povo: “Vocês não quiseram passar a vida em comunhão comigo e com meu povo na terra: separação de Deus e de seu povo”. Aqui, o incrédulo Israel está recebendo o que desejava. Estava sendo castigado por meio de seu próprio pecado. Os ídolos têm ouvidos e olhos físicos, mas não conseguem ouvir nem ver. Mais ainda, os ídolos por certo não ouvem nem veem as coisas do espírito, apesar de haver supostamente um deus por trás deles.

Ao confiar em ídolos, Israel também dizia implicitamente que o Senhor “não tinha olhos pra ver, nem ouvidos para ouvir” o culto blasfemo que a nação prestava a objetos criados. Na verdade, os israelitas estavam tratando o Deus verdadeiro como se ele fosse um ídolo falso e os ídolos falsos como se fossem o Deus verdadeiro.

Ainda sobre o tema o Salmo 94.7-11 afirma:

E dizem: O Senhor não vê;

o Deus de Jacó não percebe.

Ó tolos do povo, procurai entender,

e vós, insensatos, quando tereis sabedoria?

Por acaso aquele que fez o ouvido não ouvirá:

Ou aquele que formou o olho não verá?

Por acaso aquele que disciplina as nações não corrigirá?

Aquele que instrui o homem no conhecimento,

o Senhor, conhece os pensamentos do homem;

sabe que são fúteis.

A conclusão apresentada pela obra é de que os ídolos têm olhos e ouvidos, mas não conseguem ver nem ouvir, quer física, quer espiritualmente. Da mesma forma, segundo a descrição, os órgãos dos sentidos de seus adoradores não funcionam, o que revela que essas pessoas passaram a ser cegas e surdas espiritualmente assim como seus objetos falsos de culto.

Se procurarmos “ouvidos e olhos” numa concordância bíblica encontraremos que o povo de Israel é mencionado como quem “têm olhos para ver, mas não veem, têm ouvidos para ouvir, mas são incapazes de ouvir”. Ou seja, ele está sendo castigado por ser idólatra. Com isso a conclusão que pode ser observada é: nós nos tornamos semelhantes ao que reverenciamos para nossa ruína ou nossa restauração.

No tempo de Isaías, o povo de Deus se tornava semelhante ao que reverenciava, e essa semelhança era destrutiva para a vida espiritual deles. Este castigo é uma ironia, uma vez que o povo imaginava que seu culto aos ídolos resultasse numa vida melhor e mais próspera, mas, na realidade, intensificava a deteriorização da vida espiritual deles e, em última análise, sua prosperidade material. Esse é uma manifestação do conhecido provérbio: “Há um caminho que ao homem parece correto, mas o fim dele conduz à morte” (Pv 14.12; 16.25). Ironicamente, o castigo da nação foi modelado de acordo com seu pecado: gosta de ídolos? Então, vai ficar igual a eles, e essa semelhança vai arruinar você.

Reagindo à contundente mensagem de juízo pela idolatria nos versículos 9 e 10, Isaías pergunta a Deus: “Até quando, Senhor” vai durar esse castigo de cegueira e surdez com que o senhor está punindo os israelitas e os deixando espiritualmente mortos, como os ídolos deles (v. 11a)? A resposta foi: “Até que as cidades estejam assoladas e fiquem sem habitantes, as casas sem moradores, e a terra esteja totalmente abandonada” (v. 11b)

O alcance do julgamento é mencionado no versículo 12: “e o senhor tenha lançado toda a população para longe dela e a terra esteja totalmente abandonada”. Deus retirará os habitantes da terra de Israel e o mandará para o exílio. O exílio físico de Israel e o afastamento de sua terra prometida refletem seu exílio espiritual de Deus, uma vez que era na terra deles que a presença manifesta única de Deus habitava o Templo, que representava a presença de Deus com seu povo por meio do culto e da mediação sacerdotal desse povo.

Os capítulos posteriores de Isaías indicam que o exílio de Israel tinha esse significado espiritual. A obra segue citando trechos do texto de Isaías que retrata o exílio de Israel como expressão da ira divina, da indignação, do desamparo, da rejeição, da ocultação de Deus e da consequente separação entre Deus e a nação.

Os efeitos mais abrangentes e o alcance do

julgamento da idolatria: Isaías 6.13

O texto segue apresentando os efeitos do exílio e da destruição física e espiritual de Israel segundo Isaías 6.13:

No entanto, haverá uma décima parte nela,

E esta [a “décima parte” ou remanescente] retornará e estará sujeita a queima,

Como um terebinto ou um carvalho

Cujo toco permanece quando é derrubado.

A santa semente é o seu toco.

A maioria dos comentaristas acredita que a representação do remanescente como a parte “sujeita a queima”, semelhante a árvores com um “toco” que permanece, simboliza a purificação ou o refino dos fiéis de Israel. Considera-se particularmente que a menção do “toco” como ilustração da “santa semente” sustente a ideia do remanescente fiel.

Essa interpretação talvez esteja correta, mas há algumas observações que a tornam improvável. Essas observações sugerem a probabilidade de que o versículo 13 esteja indicando que o julgamento de Isaías 6.9-12 prossegue e está atingindo o auge entre a maioria dos que voltaram do exílio. Portanto, o julgamento é exaustivo, porque até o remanescente de Israel se tornará infiel. Dessa forma, o versículo 13 anuncia o fim de Israel como nação teocrática, como fora organizada e entendida até o tempo de Isaías.

A metáfora da “queima” de árvores não é positiva no livro de Isaías. Em outras partes do livro, a imagem de terebintos e carvalhos queimando faz parte de um retrato da destruição dos ídolos por Deus. O paralelismo único é intensificado pelo fato de “queimar” estar em próxima relação com “terebinto” nas duas passagens. Em Isaías 1.29-31 essas palavras constam como parte da descrição do julgamento de Israel por Deus em consequência da sua idolatria.

É possível perceber que aqueles que adoram nos jardins de ídolos (onde árvores antigas eram veneradas e tidas como moradias de espíritos divinos) vão ficar tão secos espiritualmente quanto esses jardins espiritualmente secos; os que cultuam os terebintos murcharão espiritualmente assim como as folhas dessas árvores acabarão “murchando” e morrendo.

É provável que a aplicação da metáfora do “terebinto queimando” também ocorra em Isaías 6.13a, sobretudo por causa da proximidade dos dois contextos. Apesar de, ao que parece, a relação não ter sido reconhecida por outros, tanto Isaías 6.13a como Isaías 1.29-31 representam metaforicamente o rebelde Israel ficando semelhante aos ídolos (“árvores cultuais”) que adorava. Israel se tornará igual a essas árvores, terá o mesmo destino delas, a destruição. Isso é uma expressão do princípio irônico declarado abstratamente em Salmos 115.8 e 135.18. Assim como suas árvores de idolatria seriam “queimadas”, também os israelitas idólatras, como duas vezes se menciona, serão queimados como as árvores cultuais. Do mesmo modo que os objetos idolatrados sofreriam a destruição material, os que adoravam esses objetos iam sofrer a destruição espiritual e, em alguns casos, também a destruição física.

Uma segunda observação sugere ainda que o versículo 13 diz respeito não a um remanescente fiel em Israel, mas, sim, a um remanescente infiel.

As duas traduções a seguir da segunda linha do versículo 13 b, embora não idênticas, são representativas dessa perspectiva adotada pela maioria dos comentários e traduções:

  1. como o terebinto, e como o Carvalho, dos quais, depois de derrubados, ainda fica o toco. A santa semente é o seu toco.
  2. assim como o terebinto e o Carvalho deixam o tronco quando são derrubados assim a santa semente será o seu tronco.

Em contrapartida, algumas versões afirmam que o que essas traduções vertem por “toco” de uma árvore deve ser traduzido por coluna idolátrica. Seguem algumas tradições representativas dessa alternativa:

  1. terebinto ou carvalho caído no chão como uma coluna cultual [idolátrica] de um lugar alto, a semente santa é sua coluna cultual.
  2. terebinto ou carvalho caído no chão como uma coluna cultual [idolátrica] entre eles [ou nela]; a semente santa é sua coluna cultual.

Embora as considerações gramaticais e sintáticas sejam quase igualmente equilibradas em relação aos dois principais grupos de traduções que foram citados, fatores lexicais indicam a probabilidade do segundo grupo de traduções.

O versículo 13 afirma que mesmo os israelitas idólatras serão feitos iguais a seus símbolos de idolatria, o destino deles será semelhante ao fim devastador de seus próprios ídolos (v. 13), isto é um mero “toco” da bela árvore de idolatria. A referência aos ídolos no versículo 13b identifica com clareza o caráter cultural das árvores queimando mencionadas antes do 13a para enfatizar a comparação poética do juízo de Israel com a destruição das árvores semelhantes a ídolos. Estas não são árvores comuns que foram cortadas, mas símbolos de idolatria. Mesmo abatidas e na condição de tocos, sua identidade idolátrica ainda não está completamente apagada. A última oração do versículo é o clímax, uma vez que a imagem do topo de uma árvore idolátrica destruída agora se transfere para o réprobo Israel.

A conclusão radical, mas não sem precedente, do versículo 13 b, de que a remanescente (a “décima parte”) “semente santa” se tornará idólatra, assinala o fim da existência teocrática tradicionalmente conhecida de Israel. A única outra ocorrência de “semente santa” no Antigo Testamento se dá em Esdras 9.1,2, em que a expressão é negativa e tem conotação de idolatria, o que dá mais apoio a mesma ideia da expressão em Isaías 6.13. Em outras palavras, o que se havia destinado para ser a “semente santa” se corrompera, misturando-se com os povos impuros da região. Seria como empregar o termo positivo cristãos para referir-se a aqueles que se chamam por esse nome, mas vivem como não cristãos.

Assim, “semente Santa” ainda tem conotação estritamente positiva, mas apenas no sentido formal de que Deus escolhera a nação para ser “sua semente” separada das nações idólatras, embora, apesar desse chamado santo, Israel se tenha tornado exatamente igual às outras nações.

A finalidade dessas representações semelhantes de Israel como árvores de idolatria queimadas em Isaías 1. 29-31 e 6.13 é associar o julgamento a idolatria, a fim de ressaltar que o castigo da nação foi consequência de seu culto a ídolos. Que castigo irônico adequado os que se abrasavam “junto aos Carvalhos” ter o seu juízo descrito como Árvores em chamas.

Em Isaías 17.8-11 e 27.9-11, ao que parece, o julgamento do Israel idólatra também é comparado a destruição dos seus símbolos de idolatria (“colunas de Aserá e postes-ídolos do Sol”).

O autor acredita que a expressão “semente santa” em Isaías 6.13 só pode ser positiva. É significativo, porém, que ela seja negativa na única passagem do Antigo Testamento em que é encontrada, o texto de Esdras, o quê, no mínimo, anula a ideia de que o sentido positivo é o único possível e lógico em Isaías 6.13. Assim, o contexto imediato tem de determinar se o que está sendo empregado é o sentido negativo ou positivo. A leitura geral do contexto de acordo com o autor é negativa de modo que o uso negativo de “semente santa se enquadra perfeitamente naquele contexto.

Outra indicação em favor da interpretação positiva de “semente santa” é que a palavra santo nas formas verbais e nominais é empregada na maioria das vezes no livro de Isaías com sentido positivo.

As expressões que mencionam que Israel tem ouvidos, mas não ouve, e tem olhos, mas não vê e que o comparam a uma árvore queimada são mais bem entendidas como metáforas da idolatria aplicadas à nação desobediente para ressaltar que Israel seria punido por causa da idolatria sendo castigado da mesma maneira que seus ídolos. Esse anúncio de julgamento também abrange a ideia de que os idólatras haviam começado a ficar parecidos com seus ídolos – tinham ficado tão cegos e tão surdos espiritualmente quanto esses ídolos.

O preceito teológico-bíblico expresso em Isaías 6 é que nos tornamos semelhantes ao que adoramos, quer para nossa ruína, quer parar nossa restauração. Isaías queria adorar o Senhor e refletia sua Santidade, o que resultou em restauração. Israel, por sua vez, adorava os ídolos e refletia a cegueira e surdez espiritual deles, o que resultou em ruína.

O princípio da idolatria encontrado em Isaías se encontra em outras passagens do Antigo Testamento e do Novo também, algumas das quais de fato aludem a Isaías ou são aludidas por ele.

Pode ser que a purificação da “boca” e dos “lábios” de Isaías reflita um ritual do Antigo Oriente Próximo que era conhecido no tempo de Isaías, a “lavagem da boca”. A presença de Isaías na entrada do templo, a queima de seus lábios e o pronunciamento de sua purificação (“a tua culpa foi tirada”, Is 6.7) parecem uma paródia deum ritual do Antigo Oriente Próximo em que os ídolos eram preparados para os deuses habitarem neles. Se isso estiver correto, a cena de Isaías 6.1-8 seria uma forma de ridicularizar as instituições idolátricas da época e mostrar que o próprio Isaías era a verdadeira imagem viva do verdadeiro Deus.

O texto segue explicando como funcionavam os antigos rituais para preparação de ídolos para serem receptáculos.

O ritual da “lavagem da boca” seguia em linhas gerais um procedimento de três etapas:

1. a separação da imagem da sua condição presente de matéria inanimada,

2. a remodelagem, que visava preparar a imagem para sua nova condição e

3. a reintrodução da imagem na sua nova e transformada existência divina. Às vezes, até o estilo de expressão “a quem enviarei”, supostamente pronunciada pelo deus [ou pelos deuses], ao que parece é empregada em relação à imagem divina.

A cerimônia em que Isaías é levado à entrada, ou portal, do templo celestial, sua boca é purificada e ele é declarado “purificado” (e, “perdoado”) pode ser uma paródia desse costume do Antigo Oriente Próximo. Isso seria uma introdução oportuna para o restante dos versículos de 9 a 13, que são uma zombaria literária da adoração idólatra de imagens pelos israelitas, imagens com as quais ele mesmos ficaram parecidos.

As imagens são feitas à semelhança dos deuses que representam. Do mesmo modo, a ideia do Antigo Oriente Próximo de que os reis são a imagem de seus vários deuses talvez forme um contexto bem geral aqui. Assim como Adão, uma figura régia representante da humanidade foi criado à imagem de Deus e, portanto, semelhante a Deus, também se acreditava que os reis humanos no Antigo Oriente Próximo eram como os deuses de quem eram a imagem. Os israelitas idólatras se imaginavam como portadores da imagem do Deus verdadeiro, uma vez que na mente deles não o tinham renunciado ao prestar culto aos ídolos pagãos, acreditando que adorar esses ídolos não era incompatível com a adoração de Yahweh. Portanto, talvez esteja implícito que assim como eles imaginavam que se assemelhavam de algum modo aos outros deuses que adoravam.

Na realidade, porém, eles haviam rejeitado o verdadeiro Deus e não se pareciam mais com Ele do modo que Ele planejara. Antes, estavam ficando semelhantes aos outros deuses, mas não como pensavam. Estavam ficando tão sem vida espiritual quanto esses deuses, que eles acreditavam equivocadamente ter vida.

Um ídolo é “um mestre de mentira” porque, embora o fabricante e os adoradores acreditem que um deus fala e ensina por intermédio do ídolo, na verdade, dentro da imagem só há o vazio.

“Confiar” nesse “artífice” idólatra e seguir os ensinamentos de um ídolo que é um “mestre de mentira” é andar no caminho errado e seguir as doutrinas de demônios, já que os demônios habitam nos ídolos.

Os idólatras imaginavam que os ídolos trariam vida melhor e prosperidade, mas herdaram apenas morte e vacuidade, o que é tornar-se semelhantes aos ídolos ocos e espiritualmente mortos. Em contrapartida, existe um Deus verdadeiro “no seu santo templo”, que fala verdadeiramente, cujos adoradores devem ficar mudos na sua presença, pois ele é o verdadeiro mestre de todos.

Outras evidências no Antigo Testamento

A ideia de que nos assemelhamos ao que adoramos se encontra não apenas em Isaías 6, mas também em outras passagens do Antigo Testamento. Aqui será apresentado de que maneira o restante do Antigo Testamento contribui para a ideia de alguém se assemelhar aos ídolos que adora.

Primeiro analisar ligação entre Isaías 6.9,10 e Deuteronômio 29.4 (TM=29.3) para aventar a hipótese de que a ideia de Isaías acerca da idolatria surge dos pecados idólatras da primeira e da segunda geração de Israel. Em seguida, a obra vai estudar o pecado mais abominável de idolatria cometido por Israel no deserto: a adoração do bezerro de ouro no monte de Sinai (Êx 32).

Deuteronômio

As expressões de Deuteronômio 29.4 e Isaías 6.9,10 indicam uma provável alusão de Isaías a Deuteronômio. Deuteronômio 29.3 (TM=29.2) se dirige à primeira geração de Israel e seus filhos: “As grandes provas que os teus olhos viram, os sinais e grandes maravilhas [no Egito e na peregrinação pelo deserto]”. Em seguida, vem a impressionante e firme declaração de Deuteronômio 29.4: “Mas, até hoje, o Senhor não vos deu um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir”. Por quê? Talvez ela se refira apenas à incapacidade espiritual do povo, mas por que se emprega esse modo de expressão específico para representar tal incapacidade? Ao que parece, o motivo é que a primeira geração se caracterizou pela idolatria.

Ao que parece, o assunto do desenvolvimento posterior nos capítulos 28 e 29 é que as características específicas dos ídolos inanimados – cujos supostos órgãos dos sentidos, como visão e audição, não funcionam (Dt 4.27,28) – foram transmitidas aos adoradores desses ídolos mortos. Isso indica que a figura do mau funcionamento dos órgãos do sentido que retrata os israelitas idólatras das gerações que passaram pelo deserto.

Até a geração de israelitas do deserto foi idólatra, e o texto menciona que ela estava se tornando semelhante a seus ídolos. Deuteronômio 29.4 é uma explicação de por que a geração do deserto não reagiu positivamente à libertação do Êxodo e à revelação de Deus que presenciou. Deuteronômio 29.4 está vinculado a uma advertência profética à primeira geração e às gerações posteriores de israelitas. A nação é repetidamente exortada a se manter fiel à aliança do Senhor, mas essa exortação é pronunciada apenas de forma geral.

A primeira geração, juntamente com seus descendentes, é identificada como idólatra, e a mensagem profética anuncia que as maldições previstas na aliança recairão sobre elas.

Uso de Deuteronômio no Salmo 115 indica a probabilidade de que as figuras do mau funcionamento dos órgãos do sentido em Deuteronômio 29.4 representem os idólatras da primeira geração de Israel assemelhando-se a seus ídolos espiritualmente mortos, como está explícito no salmo.

Além do mais, as ações judiciais na aliança relativas às pragas do Deuteronômio em Isaías, bem como em Jeremias e Ezequiel, são concretizadas inicialmente pelas mensagens dos profetas.

Quando se lembra de que Deuteronômio 28-32 afirma que a idolatria é a principal forma em que Israel violara a aliança, a presença recorrente desse processo pactual contra Israel nos profetas se torna mais compreensível.

Importância analógica do episódio do bezerro de ouro

em relação à idolatria de Deuteronômio 29.4

Parece que a descrição dos idólatras em Êxodo 32 transmite a ideia de idólatras se assemelhando aos seus ídolos. O povo se tornou espiritualmente semelhante ao bezerro que adorava; a imagem “dura cerviz” comunica a ideia do mau funcionamento de um membro espiritual do ser desses israelitas. Se isso está correto, então Êxodo 32 e Deuteronômio 29.4 têm em comum o tema da identificação do idólatra com o ídolo adorado. Uma vez que ambos se referem aos israelitas idólatras do deserto, as duas passagens reforçam que essa ideia seja aplicada a eles. Portanto, Êxodo 32 é um dos principais episódios da adoração de ídolos na ampla extensão de Deuteronômio 28-32, que faz menção da idolatria dos israelitas reiteradas vezes.

Deuteronômio 31.29 se refere à idolatria futura dizendo sobre Israel: “quando fizerdes o que é maus aos olhos do Senhor, para provocar sua ira com a obra das vossas mãos”, que é uma paráfrase de Deuteronômio 9,18: “… fazendo o que era maus aos olhos do Senhor, provocando-lhe a ira”. O propósito da comparação entre a idolatria da primeira geração e a das gerações futuras é que o bezerro de ouro era considerado paradigmático da futura idolatria de Israel, de forma que a idolatria posterior seguiria o modelo da anterior. Deuterônomio 29.4, no contexto dos capítulos de 28 a 32, pelo menos em parte, se refere a uma condição da geração do deserto que nos remete ao histórico culto do bezerro de ouro e que será, em potencial, aplicável às gerações futuras.

Observe-se outras partes do Antigo Testamento a figura de um bezerro selvagem saltando ou dançando (Sl 29.6, mas empregando um verbo diferente de Êx32.19;32.33) e note-se que, no tempo do exílio, Israel reconhece que fora disciplinado como “um novilho ainda não domado” que precisava ser “restaurado” (Jr 31.18).

O pecado da idolatria deles é representado em Êxodo 32? A descrição pode ser entendida em termos de metáfora de gado. Parece que o Israel insubordinado é retratado metaforicamente como vacas rebeldes que correm soltas e precisam ser juntadas. Será que essa figura de linguagem é mera coincidência? A probabilidade é que se trata de uma narrativa sarcástica porque o povo está adorando uma vaca. Oseias 4.17 declara: “Efraim aliou-se a ídolos; deixem-no só!”. A ideia no versículo 16 é que a obstinação de Israel, que se comporta como uma novilha ou ovelha rebelde, é idolatria. Essa idolatria em Oseias é quase sempre adoração de bezerros, e Deus a pune deixando seu povo sem pastor. O texto mostra que algumas versões bíblicas em inglês, como a Wyciffe, a descrição reiterada de Êxodo 34.29-35 do rosto de Moisés com “chifres” reverbera a ideia do bezerro ídolo. Israel queria se aproximar do bezerro para se identificar com ele e acreditavam que esse ídolo lhes garantiria segurança. No entanto, a única realidade de uma presença divina em forma de bezerro que eles experimentam foi por meio de Moisés, cuja aparência com cornos representava a ira de Deus contra o povo. Enquanto o povo se tornara tão duro e inflexível quanto o bezerro que adoravam, a experiência de Moisés adorando a Deus em sua presença direta resultou no seu reflexo da ira divina contra o povo pecaminoso.

Alguns usos da forma verbal e do substantivo do vocábulo “chifre” referem-se aos chifres do boi ou de outros animais capazes de atacar com os chifres. Chifre também pode ser uma metáfora relativa à força de uma pessoa, uma nação ou mesmo de Deus, mas todos esses usos são aplicações de metáforas de animais, o que é provavelmente o caso em Êxodo 34 também.

É provável que a tradução devesse afirmar que o rosto de Moisés “parecia ter chifres”, no sentido de que emanava uma radiação em forma de chifre, cujo significado metafórico, tendo em vista o uso característico da palavra em Habacuque 3.4, transmite a ideia do poder divino representado por Moisés. Por que utilizar essa metáfora nesse momento da narrativa de Êxodo?

Será que, depois da segunda descida de Moisés do Sinai, a descrição reiterada do seu rosto com “chifres” não seria uma paródia dos israelitas idólatras, que tinham ficado parecidos com o bezerro que adoraram? Isto na forma dos resplandecentes chifres de um touro. Ao que tudo indica foi por causa dessa aparência de glória iracunda que os israelitas tiveram medo de “aproximar-se dele [Moisés]” (Êx 34.30).

Assim, a aparência do rosto de Moisés radiante, como se tivesse chifres, dá a entender uma zombaria divina dos adoradores do ídolo bezerro, que já tinham sido como bezerro em Êxodo 32. A intenção da paródia é zombar do povo por ter imaginado equivocadamente que a verdadeira glória divina pertencesse a seu patético deus bezerro, e não a Yahweh. Outro indicador dessa polêmica relação entre o bezerro de ouro e Moisés é o reconhecimento de que a imagem gloriosa do “chifre” no rosto de Moisés era um emblema de julgamento que provavelmente teria castigado os israelitas não espirituais se Moisés não tivesse coberto o rosto com um véu. Moisés escondendo sua glória corniforme com um véu em Êxodo 34.29-35 é uma reação ao pecado da adoração do bezerro de ouro e à descrição dos idólatras como gente de “dura cerviz”, o cobrir do rosto parece ser um ato de misericórdia no julgamento, uma vez que, não fosse o véu, a glória na forma de chifres desvelada os teria destruído.

Portanto, a descrição dos chifres ainda pode ser entendida como o reflexo da glória de Deus em Moisés, ainda que a narração diga que a glória se manifestou em forma de chifres. Esse tipo de zombaria ou paródia irônica pode ser encontrado em outras partes da literatura bíblica e no judaísmo.

A primeira geração de israelitas não foi literalmente petrificada em forma de bezerros de ouro semelhantes ao bezerro que adorava, mas a descrição mostra esses israelitas agindo como novilhos descontrolados e teimosos, aparentemente porque estavam sendo ridicularizados na identificação com a imagem do bezerro espiritualmente rebelde que adoraram. Eles se tornaram semelhantes àquilo que veneraram, e essa semelhança os estava destruindo. A referência de Êxodo 32.7 de que o povo “se corrompeu” por causa da idolatria demonstra ainda mais a deterioração espiritual que se havia estabelecido e transformando o ser interior desses idólatras.

Nesse aspecto, provavelmente não seja coincidência que a expressão “dura cerviz” se encontre no Antigo Testamento, com uma única exceção, designando o atributo dos adoradores do bezerro de ouro em outros lugares do Antigo Testamento quase que exclusivamente para aludir aos adoradores do bezerro de ouro ou às vezes aos israelitas idólatras posteriores. A origem desse uso metafórico em Êxodo 32 associado exclusivamente ao bezerro de ouro parece ser a imagem de uma vaca que não quer ir na direção que o vaqueiro deseja, mas reage com a cerviz endurecida e se desvia do caminho. O vínculo entre idolatria e “dura cerviz” foi estabelecido em Êxodo 32, e os usos posteriores a essa passagem foram influenciados por essa metáfora relativa à idolatria da primeira geração. Isso não significa que toda aplicação negativa de uma metáfora de vaca/bezerro a Israel reflita essas circunstâncias de Êxodo, a não ser os usos cujos contextos contenham referência à idolatria ou a algum aspecto da narrativa de êxodo 32.

Assim como a geração do Êxodo endurecera a “cerviz” como um novilho rebelde que se desvia do caminho, as gerações posteriores de israelitas também são retratadas com a mesma forma de bezerro. Em ambos os casos, a metáfora de “dura cerviz” retrata Israel porque a nação está sendo ridicularizada por se comportar como um novilho obstinado. O propósito da comparação é mostrar que Israel estava ficando tão rebelde espiritualmente quanto à imagem de rebeldia representada pelo ídolo bezerro. Os idólatras quiseram unificar a nação sob a autoridade do deus bezerro, que os levaria para a Terra Prometida. Na realidade, esse ato era rebelde e só podia criar divisões entre o povo, separando os idólatras de Deus e do povo fiel.

Por que então Israel criou no Sinai o bezerro ídolo em vez de outro animal? A razão provável é que o bezerro ou touro estava entre as imagens egípcias de animais mais importantes que representavam os deuses do Egito, e os israelitas adoravam os deuses do Egito antes do Êxodo, dentre os quais, de certo, o próprio Ptá.

Conclusão sobre Êxodo 32. Esta seção apresenta três ângulos de argumentação de que o Israel idólatra foi identificado com o bezerro a que cultivava:

1) a descrição de Israel como gado disperso necessitando ser reagrupado;

2) em especial, a descrição do povo como gente de “dura cerviz,” cuja origem provável é uma referência às vacas, que endurecem o pescoço; na verdade, o vínculo entre idolatria e “dura cerviz” foi primeiramente estabelecido em Êxodo 32, e praticamente todos os usos posteriores foram influenciados por esse uso metafórico;

3) o polêmico vínculo entre a adoração do bezerro em Êxodo 32 e a gloriosa aparência corniforme no rosto de Moisés.

Outras referências do Antigo Testamento ligadas à adoração israelita do bezerro de ouro Salmos 106.20. Há uma alusão à idolatria do bezerro de ouro pelos israelitas neste texto posterior de Salmos:

Em Horebe, fizeram um bezerro

e adoraram uma imagem de fundição.

Assim trocaram sua glória

pela imagem de um boi que come capim.

Esqueceram-se de Deus, se Salvador,

que havia feito grandes coisas no Egito.

Esta passagem expressa a ideia de que Israel substituíra o objeto da verdadeira, a glória, que é o Senhor glorioso, por uma imagem de idolatria. O propósito da figura talvez seja salientar a natureza gloriosa de seu Deus. Entretanto, apesar dessa possibilidade, a oração: “trocaram sua glória pela imagem de um boi” parece ser uma expressão compactuada que inclui provavelmente a ideia não apenas da troca do objeto de culto, mas também do caráter glorioso do verdadeiro Deus a ser potencialmente refletido no povo (e por isso possuído por eles) por identificação com o caráter ou a imagem de outro deus. Outro jeito de dizer isso é que sua glória é uma referência teológica não definida por completo ou intencionalmente ambígua, capaz de referir-se tanto a Deus e sua glória refletida no meio do povo, mediante os atos divinos histórico-redentivos, quanto a essa glória refletida no povo em consequência de sua fiel reação aos atos realizados em seu favor. Por isso, a oração comunica um vínculo inquebrável entre Deus e sua glória refletida.

Que a glória no versículo 20 não é uma simples palavra substituta para a pessoa de Deus, mas inclui a referência a seu atributo de glória que ele faz refletir em outros se deduz por uma tradição antiga segundo a qual os primeiros escribas corrigiam um original “minha glória” ou “sua glória”, inserindo “a glória deles”.

A primeira e a segunda interpretações separam o ser de Deus de sua glória. Mesmo que essas interpretações não representem o hebraico original, é provável que elas expressem o significado de “a glória deles”: Israel “trocar o glorioso reflexo de Deus no seu meio pelo dos ídolos”. Essas variantes hebraicas também expressam uma linha de interpretação seguida pelo Antigo Testamento grego, o Targum (“a glória do seu Senhor”) e Romanos 1.23 (“a glória do Deus incorruptível”). Portanto, glória se refere a um bem que Deus possui e é compartilhado por Israel por causa da íntima proximidade deste com Ele.

A “glória” mencionada em Salmos 106.20 diz respeito provavelmente ao conceito da glória divina na narrativa de Êxodo a que o salmo se refere. A única referência explícita a essa “glória” é o episódio em que Moisés suplica a Deus: “Rogo que me mostres tua glória” (Êx 33.18), e Deus responde: “Quando a minha glória passar […] te cobrirei com a minha mão, até que eu tenha passado” (Êx 33.22).

O ponto principal a respeito da glória de Deus e do rosto radiante de Moisés em Êxodo 33 e 34 é o fato de Moisés ser o líder representante de Israel que refletia a glória de Deus, ao contrário dos idólatras, que não refletiam a glória divina, mas se assemelhavam ao ídolo bezerro.

A “glória” de Deus em Êxodo 33 e 34 não é sinônimo de Deus nem do próprio Senhor, mas é uma expressão exterior de quem ele é, lembrando que Deus é espírito e que o visível nada mais é do que uma manifestação externa do seu ser invisível (Êx 33.20; Jo 1.18; 4,24). É importante reiterar que essa manifestação exterior da própria glória tem dois aspectos: a manifestação de Deus de seus atributos gloriosos (entre eles, misericórdia e justiça) na história de Israel, e o reflexo de Israel dos aspectos dessa glória na própria nação. Pode-se dizer que os israelitas possuíam o primeiro aspecto, mas tinham de possuir o segundo (e o remanescente fiel o possuía de fato). Diferentemente de Moisés, Salmos 106.20 afirma que os adoradores do bezerro de ouro “trocaram” a glória de Deus, que deviam refletir, pela inglória semelhança com a escultura do animal. Que a glória refletida no rosto de Moisés representava o que todos os israelitas fiéis deviam ter refletido está, na verdade, registrado em outros textos veterotestamentários, os quais dão a entender que a proximidade fiel com Deus resulta no reflexo da luz divina: “O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti” (Nm 6.25); “olhai para ele [o Senhor] e ficai radiantes” (Sl 34.5); bem como Isaías 60.1-5 (p. ex.: “Levante-te, resplandece, porque é chegada a tua luz, e a glória do Senhor nasceu sobre ti”).

Portanto, Salmos 106.19,20 diz não apenas que Israel trocou o verdadeiro Deus por um falso deus em forma de bezerro, mas também mostra que Israel trocou a glória de Deus demonstrada a eles – que por conseguinte deviam refletir – pela imagem do ídolo, que em seguida passaram a refletir.

A ideia predominante de glória divina em todo o Antigo Testamento normalmente não se refere a Deus como ele é em si nem a seu ser essencial, mas a algum reflexo ou manifestação exterior desse ser, ou de um atributo do seu ser que é evidência de sua presença. A glória de Deus às vezes se manifesta em luz, brilho, luminosidade, e assim por diante, que emana de Deus, ou como uma representação de Deus demonstrando um atributo (poder, por exemplo) mediante os seus atos histórico-redentores em favor de seu povo. Isso se aplica particularmente aos casos em que o termo glória é acompanhado de um sufixo pronominal (“minha glória,” “sua glória” ou “a glória deles”), que nunca é uma metonímia em que se emprega glória no lugar da pessoa de “Deus”, mas normalmente indica a posse divina ou humana da glória, o que se pode definir de acordo com cada contexto. Essa distinção de glória pode parecer sutil, mas não deixa de ser perceptível. O próprio Deus não está excluído dessas referências a sua glória, pois a essência de seu ser é profundamente ligada à manifestação exterior desse ser glorioso na história, o que foi demonstrado a seu povo e no meio dele. Além disso, como argumentei, a fidelidade de Israel devia levá-lo a uma relação pessoal tão íntima com Deus e sua glória que resultasse no reflexo dessa glória, mas os israelitas a trocaram não por outro deus simplesmente, mas pelo reflexo da natureza igminiosa desse deus.

1 e 2Reis. Israel tornou-se semelhante aos ídolos que adorava.

O contexto de 2Reis 17.15 é analisado no livro. Começa com 1Reis 12.64. O capítulo relata que o culto de Israel ao bezerro de ouro no início de sua história se repetiu mais tarde, no início da história do Reino do Norte. Nesse momento, o rei Jerobão, que esteve exilado no Egito, fez dois bezerros de ouro para serem adorados pela nação. Assim, Jerobão trouxe do Egito a prática da adoração do bezerro, exatamente como Arão e Israel haviam feito na origem da história de Israel no Sinai. O texto de 1Reis 12 narra com detalhes esse episódio trágico:

Depois de ter recebido conselho, o rei fez dois bezerros de ouro e disse ao povo:

Ó Israel, já chega de subires a Jerusalém; aqui estão teus deuses que te tiraram da terra do Egito.

Ele pôs um bezerro em Betel, e o outro em Dã.

Isso se tornou um pecado, pois o povo ia ateDã para adorar o ídolo.

Ele também construiu santuários nos altares das colinas e constituiu sacerdotes dentre o povo, que não eram dos filhos de Levi.

Jerobão estabeleceu uma festa no dia quinze do oitavo mês, como a festa que se celebrava em Judá, e se

sacrificou no altar. Fez o mesmo em Betel, sacrificando aos bezerros que havia feito. Também em Betel

estabeleceu os sacerdotes dos altos que construíra.

E, no dia quinze do oitavo mês, sacrificou no altar que construíra em Betel. Assim estabeleceu uma festa

para os israelitas, na data que escolheu a seu bel-pazer, e sacrificou no altar, queimando incenso (1Reis 12.28-33).

Além da referência aos “bezerros de ouro”, 1Reis 12.28 também mostra o rei Jerobão declarando: “aqui estão os teus deuses que te tiram da terra do Egito”, praticamente uma citação da narrativa do pecado original de Israel com o bezerro de ouro em Êxodo 32.4,8.

Existe uma ligação clara entre Êxodo 32 e 1Reis 12.25-33.67 O texto de 2Reis 17.15 faz um resumo da idolatria do bezerro de ouro relatada em 1 Reis 12, dizendo que este, juntamente com outros episódios de idolatria da história de Israel, foi um pecado de seguir a vacuidade dos ídolos e tornar-se vazio como eles. Depois de Jerobão, a maioria dos reis de Israel, cuja história é narrada ao longo dos dois livros de Reis, seguiu-lhe o pecado idólatra. A afirmação de 2Reis 17.15 tem de ser considerada em seu contexto imediato (v. 7-18) para enxergarmos melhor que 2 Reis 17.15 está ligado ao assunto de 1Reis 12 referente ao culto posterior dos bezerros de ouro e outros ídolos em Israel.

Isso aconteceu porque os israelitas haviam pecado contra o Senhor, seu Deus, que os tirara da terra do Egito, de sob o poder do faraó, rei do Egito, e porque haviam temido outros deuses, e seguiram os costumes das nações que o Senhor havia expulsado da presença dos israelitas, e outros que os reis de Israel introduziram.

Os israelitas também praticaram às escondidas o que não era correto contra o Senhor, seu Deus. Edificaram para si altares em todas as suas cidades, desde a torre das sentinelas até a cidade fortificada; levantaram colunas e postes-ídolos para si em todos os montes altos e debaixo de todas as árvores frondosas; queimaram incenso em todos os altares, como as nações que o Senhor havia expulsado da presença deles; praticaram o mal, provocando o Senhor à ira, e cultuaram os ídolos, sobre os quais o Senhor lhes havia ordenado: Não fareis isso.

Mas o Senhor advertiu Israel e Judá pelo ministério de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo:

Convertei-vos dos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, conforme toda a lei que ordenei a vossos pais e que vos enviei pelo ministério de meus servos, os profetas.

Porém eles não deram ouvidos; ao contrário, foram obstinados como seus pais, que não creram no Senhor, seu Deus; rejeitaram os seus estatutos e a sua aliança, que fez com os seus pais, como também as advertências que lhes fez; seguiram ídolos vãos e tornaram-se como eles, como também seguiram as nações ao redor, as quais o Senhor lhes havia ordenado que não imitassem.

E fizeram para si dois bezerros de fundição e um poste-ídolo, e adoraram todo o exército do céu, e cultuaram Baal, deixando todos os mandamentos do Senhor, seu Deus.

Eles queimaram seus filhos e filhas como sacrifícios entregaram-se a adivinhações e encantamentos e se venderam para a prática do mal diante do Senhor, provocando-o à ira.

Por isso o Senhor ficou furioso com Israel e os expulsou de sua presença, restando apenas à tribo de Judá (2Rs 17.7-18 de acordo com análise do autor).

O autor destaca aqui a ligação clara entre o primeiro culto do bezerro de ouro e o que ocorria no reinado de Jerobão e nas gerações israelitas posteriores. Além dos paralelos já observados entre Êxodo 32 e 1Reis 12, o texto de 2Reis 17.4 diz que os israelitas “endureceram a sua cerviz, como a cerviz de seus pais, que não creram no Senhor, seu Deus”, uma referência à descrição da “dura cerviz” de Israel no primeiro ato de adoração ao bezerro de ouro. A origem dessa linguagem pictórica parece ser a situação em que a vaca ou outro animal domesticado semelhante não quer ir na direção que o dono deseja e reage à condução do dono com “dura cerviz”. O autor concluiu que ela faz parte de um quadro maior em que o narrador do Êxodo escarnece metaforicamente de Israel porque a nação se tornou tão rebelde de espírito quanto o bezerro que adorava, um novilho desgarrado e indomado.

A passagem de 2 Reis 17.15 deve ser entendida de acordo com esta: “Seguiram ídolos vãos e tornaram-se [vãos] como eles, como também seguiram as nações ao redor, as quais o Senhor lhes tinha ordenado que não imitassem” (grifo do autor). O versículo 16 especifica os ídolos “vãos” aos quais os israelitas se assemelhavam: “bezerros de fundição e um poste-ídolo, e adoraram todo o exército do céu, e cultuaram Baal”. Desse modo, o sentido do trecho é que Israel adorava ídolos, entre eles os bezerros de ouro, que eram vãos, e passou a ser vazio espiritualmente como os ídolos adorados. Visto juntamente com 1Reis 12, parece que se trata de uma clara recapitulação do pecado cometido no primeiro episódio do bezerro de ouro, exceto que agora esse ato específico de idolatria continua sendo praticado mesmo depois do reinado de Jerobão. É bom lembrar que o culto do bezerro instituído por Jerobão era uma das formas em que Israel adorava Baal (v. a discussão a seguir sobre Oseias). Será que a referência ao Israel posterior tornar-se vazio como seus ídolos é um fenômeno único e não aconteceu com os primeiro adoradores do bezerro no Sinai?

É bem provável que o narrador de Êxodo tivesse afirmado que o primeiro caso do tipo de idolatria de que fala Êxodo 34.14-16 era o culto do bezerro de ouro. Isso fica ainda mais provável pelos termos e sinônimos comuns entre Êxodo 32; 34 e Números 25:

Vendo isso, Arão edificou um altar diante do bezerro e proclamou: Amanhã haverá festa ao Senhor.

No dia seguinte, eles se levantaram cedo, ofereceram holocaustos e trouxeram ofertas pacíficas. O povo sentou-se para comer e beber, e depois se levantou para se divertir.

Depressa se desviou do caminho que lhe ordenei. Fizeram para si um bezerro de fundição, adoraram-no que te tirou da terra do Egito (Êx 32.5,6,8).

Esse vínculo linguístico e conceitual entre a adoração do bezerro de ouro, o relato de Êxodo 34 e o culto de Baal em Números 25 indicam que eram todos da mesma natureza essencial idólatra. Tal vínculo pode contribuir para explicar por que a adoração do bezerro e o culto de Baal em 2Reis 17 são tão estreitamente associados e envolvem o princípio de que os idólatras se tornam vazios como seus ídolos.

Logo, a identificação estreita do relato de 1Reis 12 e de 2Reis 17 com o ato original de idolatria de Israel indica que a afirmação sobre o Israel posterior se tornar vazio como os ídolos vãos segue explicitamente a forma proposicional daquilo que foi mostrado antes que era um retrato metafórico em forma narrativa em Êxodo 32. O princípio punitivo de Israel tornar-se semelhante aos ídolos que cultuava não diz respeito apenas à adoração do bezerro de ouro, mas também a adoração de outros ídolos (2Reis 17.16 menciona “dois bezerros de fundição […] um poste-ídolo [Aserá na ARA][…] todo o exército do céu […] Baal”). É impressionante como Oseias também elabora reiteradamente sobre a natureza irônica da adoração de bezerros de fundição, o mesmo sistema cultual instituído por Jerobão na tradição do episódio original do bezerro de ouro no monte Horebe.

Nesse aspecto, as evidências em Oseias precisam de mais atenção:

Os israelitas são rebeldes

como bezerra indomável.

Como pode o Senhor apascentá-los

como cordeiros em campina?

Efraim aliou-se a ídolos;

deixem-no só! (Os 4.16,17,NVI).

Fizeram para si ídolos da sua prata e do seu ouro,

para serem destruídos.

Ó Samaria, o teu bezerro é rejeitado;

a minha ira se acendeu contra eles;

até quando serão incapazes de ter pureza?

Pois isso procede de Israel;

um artífice o fez, e não é Deus.

O bezerro de Samaria será despedaçado.

Porque semeiam vento,

colherão tempestade (Os 8.4a-7a.).

Os moradores de Samaria terão medo

por causa do bezerro de Bete-Áven.

O seu povo se lamentará por causa dele,

os seus sacerdotes idólatras também prantearão

por causa da sua glória, que se afastou dela (Os 10.5).

Porque Efraim era uma novilha domada que gostava de trilhar;

e eu poupava a beleza do seu pescoço;

mas porei arreios sobre Efraim (Os 10.11a.).

E agora pecam cada vez mais

e fazem imagens que fundem com prata,

ídolos segundo o seu entendimento;

todos são obra de artífices;

eles dizem: Oferecei sacrifícios a estes. Homens beijam bezerros!

Por isso serão como a névoa de manhã,

como o orvalho que logo acaba;

como a fumaça que sai pela janela (Os 13.2,3a.).

No que diz respeito à adoração do bezerro em Oseias, vale a pena observar:

1) Israel é representado em todos esses versículos cultuando os bezerros.

2) O texto diz que Israel é uma vaca que se desviou do caminho (Os 4.16; 10.11a). Isso dá a entender que o profeta que mostrar que Israel se tornara igual a seu ídolo, de espírito tão rebelde quanto o bezerro que adorava, assim como acontecera à primeira geração na época da origem do culto do bezerro de ouro.

3) Depois de afirmar que a nação se tornara semelhante ao bezerro ídolo, a narrativa também retrata Israel de outras formas: exatamente como o bezerro será “despedaçado”, os adoradores também “semeiam o vento e colhem a tempestade”. Isto é, semeia com o culto aos ídolos, tão vazio quanto o vento, e a vantagem que colhe nada mais é do que uma tempestade vazia, com que é identificado e pela qual é julgado (Os 8.4b – 7a). De modo semelhante, os que “sacrificam” e “beijam bezerros” “serão como a névoa da manhã e o orvalho que logo acaba, como a palha que se lança fora da eira ou a fumaça que sai pela janela” (Os 8.6; 10.5), seus adoradores também se assemelham nessa existência breve e vazia e serão julgados em seguida.

A legitimidade do vínculo intersexual dessas três é clara quando se levam em conta as observações a seguir:

1) essas três passagens são as únicas de todo Antigo Testamento hebraico em que o verbo trocar ocorre com a palavra glória; na última delas é seguido pela proposição para;

2) a troca se dá sempre por um objeto menos nobre, que em cada caso tem a ver com um ídolo;

3) os três transmitem a ideia de que as pessoas estão trocando a gloriosa imagem refletida do verdadeiro Deus pela igminiosa imagem de um deus falso;

4) em seus respectivos contextos, as três passagens estão ligadas especificamente a alusões à idolatria do bezerro de ouro Sinai;

5) as três emendas do escriba de “minha glória” para “a [sua] glória deles”, acreditando-se que o suposto original “troca da minha glória” tenha sido alterado por ter sido considerado desrespeitoso para com Deus (como alguém pode fazer isso com Deus?).

Uma vez que foi argumentado em parte a favor da ideia da troca da glória de Deus pela presunção idólatra em Salmos 106.20, devo demonstrar que esse também é o caso em Oseias 4.7.78 A primeira observação a fazer sobre isso é que, se os dois textos são de fato vinculados, a ideia compactada de glória no salmo seria o entendimento natural de glória em Oseias. Parece que praticamente a mesma e precisa formulação textual comum às duas passagens transmite a mesma ideia multiforme de ambas. Isto é, “a glória deles” se refere:

1) não apenas a “seu Deus”, mas também

2) à glória de Deus entre eles, que Deus lhes demonstrara exercendo seus atributos gloriosos nos seus atos na história e que, por sua vez, os israelitas deviam refletir em seu caráter.

A data do salmo 106 não é certa, por isso não é possível saber se Oseias se baseou no salmo ou se o salmista teve o texto do profeta como referência. Qualquer que tenha sido o caso, os vínculos entre os dois mostram que eles provavelmente interpretam um ao outro. Oseias se apoia no texto do salmo a respeito do bezerro de ouro ou o salmo torna mais explícito que Oseias está falando do bezerro de ouro aplicando o incidente à idolatria de sua época. Já a formulação linguística quase idêntica pode representar a mesma tradição antiga que retratara a idolatria do bezerro, tradição essa em que o salmo e Oseias se apoiam.

Será apresentado que a referência de Jeremias é sem dúvida posterior à de Oseias e provavelmente faz alusão a ela, contudo também pode haver um vínculo entre o salmo e Jeremias.

Que a substituição da glória em Oseias 4.7 tem a mesma conotação densa do salmo se percebe observando que os dois outros únicos usos do vocábulo glória em Oseias têm estreita associação com a ideia semelhante de glória em relação à idolatria. Curiosamente, Oseias 10.5 se refere aos “bezerros de Bete-Áven”, pelos quais os seus [de Israel] “sacerdotes idólatras prantearão” por causa “da sua glória, que se afastou dela”. A glória se diferencia do ídolo (“a sua glória […] se afastou dela [da imagem do bezerro]”). Logo, “a glória” não é uma referência básica ao ídolo em si, mas sim a algum suposto atributo esplendoroso ou um reflexo glorioso do deus falso representado pelo ídolo, que não existirá mais, pois “o bezerro [ídolo] também será levado para a Assíria” (Os 10.6), e os antigos altares do ídolo serão arruinados e abandonados (Os 10.8). Portanto, a glória aqui não se concentra no ídolo em si, mas em algo estritamente ligado a ele. Contudo, ainda é certo que também se leva em conta em segundo plano a divindade representada pelo ídolo, uma vez que o deus é ligado a sua glória de modo inseparável, de modo que de novo se percebe uma ideia múltipla de glória. Ao que parece, a mesma ideia rica de significado se aplica à divina glória em Oseias 4.7a. Por conseguinte, a vergonha do deus falso em 4.7b diz respeito igualmente ao deus, mas também sobretudo à “vergonha” desse deus.

Do mesmo modo, não por coincidência Oseias 9.10-12 refere-se diretamente à idolatria e à retirada da glória divina, substituída pela natureza odiosa do ídolo:

Achei Israel como uvas no deserto,

vi vossos pais como os primeiro frutos da figueira;

mas eles foram para Baal-Peor e se consagraram a essa coisa vergonhosa;

tornaram-se uma abominação, como aquilo que amaram.

Quanto a Efraim, a sua glória voará como a ave;

não haverá nascimento, nem gravidez, nem concepção.

Ainda que venham a criar filhos,

eu os privarei deles, para que não fique nenhum.

Ai deles, quando eu me afastar! (Os 9.10-12.)

Israel estava praticando atos sexuais como parte dos ritos de fertilidade. Os israelitas acreditavam que os rituais de fertilidade fossem imitação dos atos sexuais de Baal com sua consorte e esperavam que com essa prática recebessem bênçãos materiais de fertilidade. Era um ato repulsivo. Israel mostrou-se semelhante a esse deus de imoralidade sexual quando se tornou sexualmente imoral e tão repugnante quanto seu deus.

Números 25.1-3 é a fonte provável do texto de Oseias 9.10, uma vez que este também afirma que o pecado de Israel foi “juntar-se” ao imoral “senhor da fenda” e que os israelitas se juntaram de modo imoral às mulheres de Moabe: “o povo começou a prostituir-se com as mulheres moabitas […] o povo havia se juntado a Baal-Peor”. O falso deus Baal os “infectara com suas abomináveis qualidades”. Está claro em todo o livro de Oseias e no contexto direto imediato de Oseias 9.10 (v. 8,9,11) que Efraim também era culpado do mesmo tipo de adoração a Baal, que é claramente denominado de “culto do bezerro” em outra partes do livro, segundo quase todos os especialistas (Os 4.15-18:13.1;cf. Os 8.5,6). Logo, a geração de Oseias foi tão afetada pelo castigo de assemelhar-se a seu ídolo Baal quanto a primeira geração de Israel. A identificação do culto do bezerro com o culto de Baal produz um vínculo estreito do princípio de Oseias 4.7 com o princípio transformador de assemelhação com um dos ídolos de Baal em Oseias 9.10.

Há uma relação linguística e conceitual entre a adoração do bezerro de ouro Êxodo 32 e o relato da posterior idolatria de Israel em Êxodo 34, bem como do culto a Baal em Números 25. Isso indica a mesma natureza idólatra dos três. Essa ligação ajuda a explicar por que o culto do bezerro de ouro e o de Baal em 2Reis 17 se associavam de modo entrelaçado e implicavam o princípio de assemelhação com o vazio dos ídolos adorados.

É difícil saber se “a glória deles” se refere aos ídolos de Israel, à glória dos seus ídolos ou à glória de Deus. Porém, tendo em vista Oseias 9.10, em que se lê que a natureza deles refletia a natureza abominável do seu ídolo Baal, parece melhor entender que “a glória deles” no versículo seguinte é diferente da glória do ídolo e se refere às bênçãos gloriosas de Deus, que serão retiradas (isto é “voará[voarão]”), pois a explicação da glória passageira deles no fim do versículo 11 é que Israel se tornaria estéril (“não haverá nascimento, nem gravidez, nem concepção”). A infertilidade nada mais é que a consequência de Deus ter retirado suas bênçãos oriundas de sua gloriosa presença, como diz o fim do versículo 12: “Ainda que venham a criar filhos, eu os privarei deles, para que não fique nenhum. Ai deles, quando eu me afastar!”.

Que o tema da idolatria esteja pelo menos incluído em Oseias 4.7 também é provável por causa dos paralelos mais próximos em outras partes do livro, sobretudo Oseias 10.1.

O “pecado” de Oseias 4.7 é provavelmente o da adoração de ídolos.

Observações dão a entender que “a glória deles” em Oseias 4.7 refere-se provavelmente à glória divina (que Israel reflete) trocada pelo reflexo dos ídolos vãos. Oseias 4.11 prossegue com o assunto da idolatria dos versículos de 7 a 10, afirmando que a o povo se entregara “à prostituição, ao vinho velho e ao novo, que tiram o entendimento (lit., ‘o coração’)”. A ideia bem simples aqui é que, quando o indivíduo começa a praticar a idolatria (e os rituais associados), como castigo, cada vez mais ele se ilude e mais desprovido fica de entendimento espiritual. Assim, Israel se tornou cada vez mais semelhantes a seus ídolos, sem coração nem entendimento.

Depois de Oseias 4.13-15 explicar mais de uma vez que essa idolatria é “prostituição” e “adultério”, Oseias 4.16 acrescenta mais informação ao quadro, dando repercussão ao episódio do bezerro de ouro: “Os israelitas são rebeldes como bezerra indomável. Como pode o Senhor apascentá-los como cordeiros na campina?” (a esperada resposta implícita é “não”). Em seguida, Oseias 4.17 interpreta o versículo 16: “Efraim está entregue aos ídolos, deixa-o”, a ideia associada com o versículo 16 é que a obstinação de Israel como a de animal rebelde é consequência da idolatria. Deus pune Israel “deixando-o” sem um pastor. Que eles estão “entregues aos ídolos” é interpretado no versículo 18 em “entregam-se a orgias”, “amam a vergonha”. Em vez de se entregarem a Deus, seu verdadeiro marido, eles se uniram, tornaram-se um só, espiritualmente com os falsos deuses e assim cometeram prostituição e adultério. A dedicação aos ídolos vazios resultará na identificação deles com o vento vazio e a vergonha dos seus “sacrifícios” idólatras (v. 19). Isso parece com Oseias 8.7, que compara o culto de Israel ao bezerro (Os 8.5,6) a “semear vento” e diz que como fruto desse culto “colherão tempestade” (como Os 13.2,3).

A descrição por todo o livro de Oseias, sobretudo em Oseias 4.7-19, da identificação do Israel do norte com os bezerros que o povo cultuava aponta para a mesma identificação da primeira geração em Êxodo 32, visto que Oseias parece modelar a idolatria dos israelitas contemporâneos segundo a geração de Moisés. Mais precisamente, como alguns comentaristas de renome têm observado, as referências ao culto do bezerro em Oseias devem ser consideradas em relação ao culto dos bezerros de fundição de Jerobão, o que recapitula o episódio do bezerro de ouro do Sinai.

Jeremias 2.11 faz a mesma alusão ao episódio do bezerro de outro que Salmos 106.20 e Oseias 4.7.

Os textos de Jeremias 2.11 e Oseias 4.7 se concentram em seus limites nas gerações posteriores de Israel, que eram tão idólatras quanto a primeira.

A maioria dos comentaristas, porém, entende que o “trocar a sua glória” (de Israel) em Jeremias 2.11 refere-se apenas a trocar Deus, como alvo da adoração, por outro deus (“a sua glória” seria uma metonímia de contiguidade para “seu Deus”). Entretanto, pode-se traçar um vínculo profundo ou pelo menos uma relação estreita entre Jeremias 2.5 e 2.11, o que indica a viabilidade da segunda passagem não estar falando apenas de trocar um deus por outro, mas também de trocar a glória de uma divindade pela glória de uma divindade pela glória de uma divindade pela glória de outra.

Em ambos os textos Israel seguira ídolos espiritualmente vazios e passou a assemelhar-se ao vazio espiritual desses ídolos. A principal observação é que 2Reis 17.15 está inserido entre duas referências ao bezerro de ouro e, por isso, relaciona-se essencialmente com eles: o versículo 14 (“eles […] endureceram sua cerviz como a cerviz de seus pais”, que se origina em Êx 32.9; 33.3,5) e o versículo 16. O culto do bezerro provavelmente também é destacado no texto de 2Reis. Assim, a referência no versículo 15 a seguir “ídolos vãos e” tornar-se “como eles” em parte diz respeito ao culto do bezerro e é uma interpretação teológica do culto original ao bezerro no Sinai, como também é das outras formas de idolatria mencionadas.

A aplicação de Jeremias tem mais foco temporal nas primeiras gerações de Israel.

Se é possível discernir um caminho conceitual entre Jeremias 2.5 e 2.11b, este último também talvez inclua tornar-se semelhante ao ídolo cultuado. Isto é, o versículo 11b expressa a ideia de Israel ter trocado Deus, como alvo da adoração, por um ídolo, e com isso trocou também a glória de Deus que a nação refletira. Na troca, Israel recebeu a semelhança igminiosa e vã de outro deus, que passou a refletir, fato apoiado por Jeremias 2.5b. Esse vínculo entre os dois versículos se estrita quando se recorda que o próprio texto de Jeremias 2.11 é uma alusão a Oseias 4.7, que, conforme aleguei, refere-se à natureza transformadora do culto do bezerro de ouro. A seguir, o autor procura mostrar que o versículo 5 está associado com o versículo 11b a fim de comprovar o vínculo conceitual entre os dois.

A primeira geração de Israel é o do de Jeremias 2.2,3: “Lembro-me de ti, da tua fidelidade na juventude […] de como me seguiste no deserto […] Israel era santo para o Senhor, primícias da sua colheita”. Depois de admoestação para que o Israel da época “ouça a palavra do Senhor” (NVI), os versículos 5 e 6 voltam à experiência dos israelitas, que inclui a primeira geração:

Assim diz o Senhor:

Que delito vossos pais acharam em mim,

para que me deixassem?

Eles foram atrás de coisas inúteis e tornaram-se inúteis.

Não perguntaram: Onde está o Senhor,

que nos fez subir da terra do Egito,

que nos guiou através do deserto

por uma terra árida e cheia de covas,

por uma terra seca e de treva,

por uma terra onde ninguém passava,

nem morava? (Jr 2.5,6, grifo do autor).

Esses dois versículos provavelmente incluem uma referência coletiva aos “pais” de Israel, que vão desde a primeira geração até algum ponto depois do assentamento do povo na Terra Prometida, como deixa claro o versículo 7a: “Eu vos guiei a uma terra fértil, para comerdes de seus frutos excelentes”. Portanto, a afirmação do versículo 5 de que as pessoas de Israel “foram atrás de coisas inúteis e tornaram-se inúteis” (como seus ídolos) é uma declaração que resume as consequências da idolatria para a nação, começando com o episódio do bezerro de ouro e se estendendo até as diversas experiências idólatras de Israel já assentado na Terra Prometida. É provável que “ir atrás de coisas inúteis” inclua o envolvimento de Israel com Baal na prática de rituais sexuais vinculados ao rito de fertilidade. Os israelitas acreditavam que esse rito era imitação dos atos sexuais de Baal com sua parceira e esperavam que com essa imitação recebessem várias bênçãos de fertilidade. Era um ato “vão”. Israel mostrava sua semelhança com esse deus da imoralidade sexual tornando-se sexualmente imoral e “vazio” como seu deus.

Jeremias 2.7b,8 continua com o tema “ir atrás de ídolos” do versículo 5:

Mas entrastes e contaminastes a minha terra,

e da minha herança fizestes algo abominável.

Os sacerdotes não perguntaram: Onde está o Senhor?

Os doutores da lei não me conheceram;

os governantes se rebelaram contra mim,

e os profetas profetizaram em nome de Baal,

indo atrás de ídolos imprestáveis.

Israel ter transformada a “herança” de Deus em “algo abominável” indica que a terra se transformara num lugar profanado pela idolatria, sobretudo pelo que está expresso no segmento “os profetas profetizaram em nome de Baal, indo atrás de ídolos imprestáveis”.

O Versículo 11 parece outra versão do Versículo 5: deixar de refletir a glória do verdadeiro Deus para refletir a semelhança de outro Deus é parte de “ir atrás de um Deus” que é “imprestável”. O verbo hebraico no fim dos versículos 8 e 11 (traduzido em português por “é imprestável”) não é apenas o mesmo, mas tem exatamente a mesma raiz (ou hifil), o que aumenta o paralelismo. Além disso, esse verbo também ocorre mais quatro vezes referindo-se não precisamente aos ídolos em si, mas “aspecto vazio e todo dos ídolos”, e é o sinônimo do verbo “tornar-se vazio” do versículo 5 (Is 44.9,10; Jr 16.19; Hc 2.18; os dois verbos aparecem num paralelismo em Jr 16.19). Logo, “por aquilo que é imprestável” do Versículo 11 faz referência não exatamente ao ídolo em si mas à inutilidade espiritual e à natureza vazia do ídolo.

“Espantoso” é o que Israel fez no Versículo 11, e o versículo 13 dá duas razões formais para a natureza espantosa dessa idolatria:

1) os israelitas “abandonaram” a Deus e

2) fabricaram outros Deuses (“cavaram para si cisternas”). Além disso, há outra ideia dupla implícita relativa ao efeito que esses dois alvos de culto produzem no Adorador. Por ter “abandonado” Deus, eles não podem mais ter das “águas-vivas” da “fonte” (Deus) da qual se desligaram, mas agora compartilham de “cisternas furadas” incapazes de reter água. Isto é, partilham do “vazio” dos deuses falsos (que não têm as águas da vida). Assim, afastaram-se de Deus por outros deuses e não mais compartilham da vida que emana de Deus, mas apenas do vazio morto de seus ídolos, ideia apresentada formalmente antes no Versículo 5.

É curioso observar que o contexto mais amplo de Jeremias 5.5 diz Israel:

1) “se recusaram a receber a correção” (Jr 5.3);

2) “não conhecem o caminho” (Jr 5.4);

3) “quebraram o jugo” (Jr 5.5);

4) tendo se soltado, vagueiam por regiões desprotegidas, onde ficam expostos ao perigo de animais selvagens devorá-los (Jr 5.6); e

5) “como garanhões bem nutridos” (Jr 5.8).

A locução dura cerviz era empregada no antigo testamento exclusivamente para designar Os Adoradores do bezerro de ouro porque eles estavam sendo representados como pessoas de espírito rebelde para com Deus, como um bezerro desobediente é para o seu dono. Os capítulos 7 e 19 de Jeremias merecem atenção especial. Eles mencionam Israel endurecendo sua cerviz, o que provavelmente tem a conotação irônica de idolatria dos outros usos de dura cerviz, com a qual o adorador é retratado como o objeto blasfemo cultuado.

Os acadêmicos em geral concordam que Jeremias 19 recapitula e amplia Jeremias 7.1 as menções da cerviz endurecida de Israel em Jeremias 7.26 e 19.15, junto com a metáfora do mal funcionamento dos órgãos sensoriais em 7.26 (“não me destes ouvidos, nem me atendestes“), indicam por que os israelitas cometeram o pecado da idolatria de oferecer seus filhos como holocausto a Baal no lugar chamado Tofete, rebatizando de “O Vale da Matança” (Jr 19.6), porque isso é de fato que os pais fizeram com os filhos. Como castigo para esse pecado de idolatria, a nação sofreria uma grave fome e seria obrigada a matar um ao outro para obter comida (“comer a carne de seus filhos, e a carne de suas filhas e […] comerá cada um a carne do seu próximo ” [Jr 19.9]); e “esta cidade [Jerusalém] será como Tofete” (Jr 19.12), ou seja, Deus faria seus lugares “profanados como o lugar de Tofete” (Jr 9.13).Desse modo, Deus tornaria Jerusalém – o lugar do culto de idólatras – semelhante ao lugar de sua idolatria, fazendo que seus habitantes se matassem uns aos outros assim como haviam matado seus filhos como oferendas a Baal em Tofete. (Não se trata apenas de comer a carne de uma pessoa morta, mas de matar a pessoa para comer-lhe a carne, o que está evidente em Deuteronômio 28.45-57; cf.2Reis 6.24-31; Is 9.19 (TM = 9.18); Ez 16.21; 23.37-39; assim como em Lv 26.29; Zc 11.9.

Também é plausível que o castigo dos israelitas de se matarem e comerem uns aos outros em Jeremias 19.9, em parte, tenha a intenção de se parecer com a descrição figurada de Baal comendo as crianças que lhe sacrificavam.

O que talvez confirme essa hipótese é a referência de Ezequiel 23.37-39, em que Israel é acusado de ter “sangue nas suas mãos” […] até os seus filhos, gerados para mim [Deus] sacrificaram aos ídolos para serem consumidos [ou “comidos”, a forma nominal do verbo comer, empregada nas duas passagens de Jeremias].

Ao que parece, não é nenhuma coincidência que o irônico castigo de Israel seja refletir seu culto de Baal matando e depois comendo uns aos outros e em Jeremias 19.9 seja uma referência clara a Deuteronômio 28.53. A obra aponta que nesse aspecto, os segmentos do texto de Jeremias “comer a carne de seus filhos, e a carne de suas filhas” e “por causa do cerco e da angústia provocada pelos seus inimigos” são quase idênticos a Deuteronômio 28.53: “comerás […] a carne de teus filhos e de tuas filhas […] no cerco e na aflição com que os teus inimigos te afligirão“. Esse uso do texto de Deuteronômio para indicar que os idólatras de Israel se assemelharão ao seu crime de idolatria pode ser significativo, uma vez que já observamos que Deuteronômio 4 e 28-29 demonstram que os idólatras se tornam iguais a seus ídolos e que Isaías 6.10 aluda a Deuteronômio 29.4 para afirmar o mesmo.

Além de Deuteronômio, Isaías, Salmos 106, Oseias e Jeremias, o restante da literatura profética também atesta o padrão irônico da adoração de ídolos. Novamente, a linguagem figurada que retrata as pessoas ficando iguais seus ídolos não parece ser uma simples referência geral aos transgressores da aliança, mas se aplica especificamente aos israelitas que violaram as disposições específicas da aliança que proibiam a idolatria.

Isso é evidente nos contextos mais amplos das expressões metafóricas do mal funcionamento dos órgãos sensórios referentes aos olhos e ouvidos.

O princípio da assemelhação com a insensibilidade espiritual dos ídolos encontrado em Isaías 6.9,10 ocorre provavelmente em outras partes nos profetas. Ezequiel 12.2 diz que o Israel idólatra “tem olhos para ver e não vê, e tem ouvidos para ouvir e não ouve” (cf. Ez 11.18-21). Observa-se praticamente o mesmo fenômeno nos seguintes textos:

1) Jeremias 5.21 (cf. v. 1,19),

2) Jeremias 7.24,26 (cf. Jr 7.9,18,30,31),

3) Jeremias 11.8 (cf. Jr 11.10-13),

4) Jeremias 25.4 (cf.Jr 25.5,6),

5) Jeremias 35.15,

6) Jeremias 44.5 (cf. Jr 44.3,4,8,15,17-19) e

7) Ezequiel 44.5 (cf. Ez 40.4; 44.7-13).

É provável que não seja coincidência que a metáfora da disfunção dos órgãos sensórios ocorra quase sempre em textos que falam de idólatras.

Em alguns empregos da metáfora da disfunção dos órgãos dos sentidos não é claro se a idolatria está ou não em mente ou se não está em mente de jeito nenhum, embora a última categoria empregue a metáfora atípica da disfunção em comparação com as pesquisas anteriores. Entretanto, quase sem exceções, o segmente “tem olhos, mas não vê” ou “tem ouvidos, mas não ouve” associado com outra metáfora de disfunção dos órgãos sensórios se aplica aos idólatras. Havia outras figuras de linguagem e outros modos de se expressar se os autores bíblicos quisessem falar apenas da incapacidade espiritual da nação.

Salmos 81 faz um resumo da reação idólatra da primeira geração de israelitas e de seus descendentes à libertação deles do Egito por Deus:

Ele o ordenou como a lei a José,

quando atacou a terra do Egito.

Ouvi uma voz que não conhecia, dizendo:

Livrei o peso do seu ombro;

suas mãos ficaram livres dos cestos.

Na angústia clamaste, e te livrei;

eu te respondi do meio dos trovões;

coloquei-te à prova junto às águas de Meribá. [Interlúdio]

Meu povo, ouve-me e eu te advertirei;

ah, Israel, se apenas me escutasses!

Não haja no meio de ti deus estranho,

nem te prostes perante um deus estrangeiro.

Eu sou o Senhor, teu Deus,

que te tirei da terra do Egito;

abre bem a tua boca, e eu a encherei.

Mas meu povo não ouviu a minha voz,

e Israel não quis saber de mim.

Por isso, eu os entreguei à teimosia de coração,

para que andassem segundo seus próprios conselhos.

Ah, se Israel andasse nos meus caminhos! (TM=81.4-12)

O bezerro de ouro foi o primeiro deus falso que Israel adorou depois de sair do Egito e certamente estava entre os deuses estranhos e estrangeiros cujo culto Deus lhe havia proibido. Reagindo à desobediência dos israelitas de adorar ídolos, Deus “os entregou à teimosia de coração, para que andassem segundo seus próprios conselhos” (v.12; Cf. semelhantemente Lm 3.64,65). No contexto, “teimosia de coração” e andar “segundo seus próprios conselhos” significam respectivamente sua entrega irredutível ao culto dos ídolos e o fato de continuarem praticando o pecado da idolatria.

A obra mostra que outros textos de Jeremias fazem uso significativo da palavra “obstinação”.

É significativo o uso da palavra “obstinação”, no cânon veterotestamentário seja em Deuteronômio 29, em que a “teimosia do coração” diz respeito à adoração de ídolos (cf. Dt 29.17-26 [TM=16-25]).

Pode-se concluir que as referências ao ídolo em forma de bezerro em Salmos 106.20, 2Reis 17, Oseias 4.7 e Jeremias 2.5, 11 confirmam a conclusão anterior do autor sobre Êxodo 32 de que, no monte Sinai, Israel é retratado em tom escarnecedor como gado rebelde porque a nação estava adorando um bezerro e, por isso, se tornou semelhante a ele. O ponto central desse retrato é que a primeira geração de israelitas e as seguintes estavam ficando espiritualmente tão voluntariosas, vergonhosas e imprestáveis quanto a imagem de rebeldia, de vexame e indignidade representada pelos ídolos em forma de bezerro que adoraram.

Além disso, Deus não ter dado à maioria dos israelitas do deserto “um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir” (Dt 29.4) é um castigo sobre a nação, que a torna tão morta espiritualmente quanto os ídolos que adorara (ligado a Dt 4.28), o principal deles era o bezerro de ouro. É compreensível que esse antecedente histórico tenho sido atraente para Isaías usá-lo como cenário de Isaías 6.10 a fim de falar do mesmo problema do Israel de sua época.

Capítulo 4

A origem da idolatria no Antigo Testamento

A tese de que Adão, ao abandonar seu compromisso com Deus e deixar de refletir sua imagem, reverenciou outra coisa no lugar de Deus e tornou-se semelhante ao novo alvo de adoração. Logo, a essência do pecado de Adão foi dar as costas para Deus e trocar a reverência ao Criador por um novo objeto de adoração, a que o primeiro homem veio assemelhar-se.

Adão como a imagem e semelhança do Criador. Gênesis 1.28 afirma que a missão de Adão era sujeitar toda a terra: “Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam sobre a terra”.

Adão e Eva e seus descendentes foram criados para ser conforme a imagem de Deus a fim de refletir seu caráter e sua glória, e encher a terra com esses atributos (Gn 1.26-28).

É plausível pensar que “dominar” e “sujeitar” a “terra toda” faz parte de uma definição prática da imagem divina em que Adão foi criado. Assim como Deus, depois de seu trabalho inicial da criação, sujeitou o caos, dominou sobre ele e ainda criou e encheu a terra de toda espécie de vida, também Adão e Eva, em sua morada-lar, tinham de refletir as atividades de Deus mencionadas em Gênesis 1, cumprindo a ordem de “sujeitar” e “dominar toda a terra” e “frutificar” e “multiplicar-se”.

Até o nome da árvore cujo fruto era proibido comer – “árvore do conhecimento do bem e do mal” – insinuava o dever régio de Adão: “discernir entre o bem e o mal” é uma expressão hebraica que se refere à capacidade dos reis ou de figuras de autoridade de fazer julgamentos no cumprimento da justiça.

Os comentaristas divergem quanto à interpretação do significado dessa árvore no Éden, mas a melhor abordagem explica a árvore determinando o uso de “conhecer/discernir entre o bem e o mal” em outras partes do Antigo Testamento. Diante disso, parece que a “árvore” do Éden funcionou como árvore de julgamento, o local aonde Adão devia ter ido para “discernir entre o bem e o mal” e, portanto, onde devia ter julgado a serpente porque era “má” e anunciando o juízo sobre ela assim que este ser entrasse no jardim.

A ideia de que Adão foi colocado num santuário como “imagem” régia de seu Deus é um conceito antigo encontrado até fora de Israel. Os paralelos na Assíria e no Egito normalmente mostram que se colocavam imagens de divindades no templo do deus e que os reis eram considerados imagens viva de um deus e, por isso, o reflexo desse deus. O texto segue apresentando alguns exemplos.

A ordem para Adão sujeitar, dominar e encher a terra inclui acima de tudo a ideia de que ele é um rei povoando a terra, não apenas com seus descendentes, mas com descendentes portadores da imagem que refletirão a glória de Deus. Os reis do antigo Oriente Próximo eram considerados “filhos” de seu deus e por isso representavam a divindade de seu deus no reinado deles, sobretudo refletindo a imagens dos deuses na Mesopotâmia e no Egito tinham como propósito representar a divindade e manifestar a presença dela.

Num fascinante paralelo mesopotâmio, “a criação, a animação e a instalação de imagens divinas seguiam uma série estritamente especificada de ritos”. Realizavam-se uma série de rituais na oficina do artesão, à margem de um rio, num bosque e finalmente no templo. Com esses rituais, a imagem inerte de um deus nascia, vinha à luz, era vestida e se transformava na manifestação viva do deus. A imagem era em seguida instalada num templo. De modo semelhante, Deus formou Adão em sua oficina (Gn 2.7a); Adão foi transmutado numa pessoa viva pelo fôlego de Deus (Gn 2.7b) e foi trazido plenamente à vida (Gn 2.7c). Depois, foi assentado no Jardim (Gm 2.15). Novamente, esse cenário sugere que Adão era a imagem viva do verdadeiro Deus, não de uma divindade falsa pagã, e nessa condição foi colocado no templo jardim e, como imagem viva, tinha de refletir a glória e a semelhança de Deus. Essas semelhanças com o Antigo Oriente Próximo são apenas sombras imperfeitas da missão genuína relatada em Gênesis 1 e 2.

Adão à imagem e semelhança distorcidas da criação. Gênesis 3 conta que Adão e Eva pecaram e não refletiram a imagem de Deus. O casal violou a ordem de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Adão não conseguiu cumprir a tarefa que lhe fora comissionada, que incluía não permitir que nada impuro e antagônico a Deus entrasse no templo, o Jardim. Adão não guardou o Jardim, mas permitiu que uma serpente vil entrasse, o que introduziu o pecado, o caos e a desordem no santuário e na vida de Adão e Eva. Ao invés de sujeitar e dominar a serpente, lançando-a para fora do Jardim, Adão deixou que ela o dominasse.

Em vez de desejar ficar perto de Deus para refletir a imagem Dele, Adão “e sua mulher esconderam-se da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gn 3.8; cf. Gn 3.10).

Não existe nenhuma palavra ou expressão explícita que designe o pecado de Adão como “idolatria”. É preciso lembrar que idolatria é reverenciar qualquer coisa a não ser Deus. No mínimo, Adão trocou sua fidelidade a Deus pela fidelidade a ele próprio e talvez também a Satanás, uma vez que passou a se assemelhar em alguns aspectos ao caráter da serpente.

Adão ter deixado de confiar em Deus para confiar na serpente significa que ele não mais refletia imagem do Criador, mas deve ter começado a espelhar a imagem da serpente.

Não se pode esquecer de que, depois de ter colocado Adão no Jardim, em Gênesis 2.15, para o cultivar e guardar, Deus declarou ao homem um pronunciamento triplo para ajudá-lo a se lembrar de sua tarefa de servir e guardar: em Gênesis 2.16,17, Deus assevera:

“[1] podes comer livremente de qualquer árvore do jardim, mas

[2] não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal,

[3] porque no dia em que dela comeres, com certeza morrerás”.

Quando se viu de frente com a serpente satânica, Eva não conseguiu se lembrar precisamente da palavra de Deus ou alterou-a de propósito em favor de suas próprias intenções.

Eva fez alterações fatais na ordem que Deus dera em Gênesis 2, o que indica que a adoração dela a Deus fora sutilmente transferida para Satanás e que ela começara a se assemelhar ao caráter do Diabo, e isso causou sua ruína. Assim como Adão fizera, Eva mentiu e transferiu a culpa do seu pecado para Satanás.

É provável que o homem tenha ouvido a conversa tentadora da serpente com Eva: “No dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3.5). Depois Adão é expulso do jardim, porque em certo sentido as palavras da serpente se concretizaram:

Então o Senhor Deus: Agora o homem tornou-se como um de nós e conhece o bem e o mal. Não suceda que estenda a mão e tome também da árvore da vida, coma e viva eternamente. Por isso, o Senhor Deus o mandou para fora do jardim do Éden para cultivar o solo, do qual fora tirado (Gn 3.22,23).

Adão, não só estava perto quando sua companheira de aliança, Eva, foi enganada pela serpente, mas também decidiu por si mesmo que a palavra de Deus estava errada e a palavra do Diabo, certa.

Ao fazer o que fez, Adão estava refletindo outra característica da serpente, que havia exaltado seu código de conduta acima dos preceitos do padrão justo de Deus e contra eles.

O retrato de Adão em Ezequiel 28

A ideia de que Adão estava cometendo egolatria parece confirmar-se no texto de Ezequiel 28, em que há dois pronunciamentos de juízo consecutivos contra o rei de Tiro (v. 1-10,11-19).

Os comentaristas têm diferentes interpretações quanto à identidade dessa personagem: um anjo caído (em geral Satanás) ou, na maioria das vezes, Adão. Seja quem for esse indivíduo, o pecado e do castigo do rei de Tiro são observados, sobretudo, pelas lentes do pecado e do castigo da personagem do Éden, e não de seu pecado particular. Desse modo, essa personagem mais antiga passa a ser representante do rei de Tiro, e o pecado e o castigo deste são considerados uma espécie de recapitulação do pecado original.

O entendimento de Gênesis 3 na passagem de Ezequiel 28 concebe o pecado como uma reorganização da existência em torno do ego. A consequência disso é que o indivíduo passa a ser seu próprio criador, redentor e sustentador. Portanto, todo pecado inclui a idolatria.

Pareceria absurdo nós nos assemelharmos a nós mesmos porque adoramos a nós mesmos. Numa reflexão mais aprofundada, porém, isso talvez não pareça tão absurdo. Parte da acusação contra o rei de Tiro era: “o teu coração elevou-se” (Ez 28.2,5) e “consideras o teu coração como se fosse o coração de um deus” (Ez 28.6), o que certamente se refere, no mínimo, a usurpar uma prerrogativa divina, isso é orgulho.

A Escritura muitas vezes retrata reis soberbos e ímpios como uma enorme estátua de homem (Dn 2) ou como uma árvore gigantesca que ensombrece a terra (Ez 31; Dn 4) para representar o orgulho desmesurado desses indivíduos de tentar transformar-se no centro do universo. Em todos os casos, essas imensas imagens são repetidamente destruídas.

Toda vez que qualquer “homem” (“Adão”, como é chamado em Ez 28.9) se põe no centro da realidade, ele reflete uma imagem maior de si engrandecendo-se de forma ilegítima. Quando a sabedoria da Palavra de Deus é ignorada e a humana passa a ser o foco, se transforma em sabedoria idólatra.

Quando tentamos nos engrandecer e nos glorificar, estamos na verdade refletindo nosso ego de um jeito cada vez maior. Desejar refletir o ídolo do nosso ego e querer ser maiores do que somos só nos deixa pequenos, por causa do castigo. Em contrapartida, encher de glória o verdadeiro Deus e reconhecer com adoração que a sua grandeza leva o adorador a participar da grandeza e da glória de Deus refletindo sua glória, que, por sua vez, reflete-se novamente nele. Assim, Deus é considerado o Único e exclusivo grande e importante do universo.

Capítulo 5

Você se torna aquilo que adora

No caso de Israel, o que o povo venerava, a isso se assemelhavam, para sua própria ruína. A idolatria continuou pelo primeiro século e nos séculos iniciais da igreja, e ainda há idolatria segundo o conceito tradicional hoje em dia. Os exemplos mais evidentes de idolatria no mundo atual se encontram nas regiões do mundo consideradas subdesenvolvidas ou em desenvolvimento.

Como fazer uma ponte que una o conceito de idolatria do Antigo e do Novo Testamento? Visto que a maioria não se prostra diante de ídolos hoje em dia, como a ideia veterotestamentária da adoração de ídolos se aplica legitimamente a nossa cultura contemporânea? A obra sugere que deixemos o conceito de idolatria do Novo Testamento responder a essa pergunta. Porém, quando lemos os Evangelhos, é impressionante descobrir que Israel não praticava idolatria como seus antepassados do Antigo Testamento. A nação judaica se orgulhava de ser diferente das demais nações que se prostravam perante imagens de pedra e madeira. Contudo, também fica claro que a maioria dos israelitas era no mínimo tão pecadora quanto seus antepassados, sobretudo porque crucificou o filho de Deus (MT 23.29-38).

Se o ser humano não reflete a imagem de Deus, está envolvido e se relaciona com alguma parte da criação. A geração de judeus que rejeitou Jesus ser considerada tão pecadora quanto as gerações anteriores do Israel desobediente no decorrer do período veterotestamentário (Mt 23.29-37) também dá fortes indícios de que a idolatria das gerações anteriores foi de alguma forma transmitida à geração do primeiro século. No aspecto teológico e bíblico, parece improvável que o conceito de idolatria não tenha sido transmitido para a geração de Israel da época de Jesus. Apesar de raramente aparecerem palavras ídolo ou deus falso nos evangelhos, isso não significa que não há nenhum conceito de idolatria nesses textos.

Paulo afirma que a idolatria pode assumir formas tais como a confiança no dinheiro: “Prostituição, impureza, paixão, desejo mal e avareza, que é idolatria” (Cl 3.5). Esse desenvolvimento paulino da ideia, entretanto, já fora adiantado por Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6,24; v. tb. Lc 16.13).

O conceito de idolatria se expressa mediante recurso a passagens do Antigo Testamento, que em seus contextos originais têm a idolatria como tema central.

O mero fato de uma passagem do Antigo Testamento ter a idolatria como seu alvo não significa que o autor neotestamentário tinha consciência quando importou toda ela para sua mensagem. Portanto, uma vez que esses contextos dos Evangelhos não empregam o vocabulário explícito da idolatria, é provável que não estejam desenvolvendo essa ideia a partir dessas passagens do Antigo Testamento.

Se nos Evangelhos esses usos do Antigo Testamento não conotam idolatria, há pouca possibilidade exegética ou bíblica de encontrar o conceito em outra parte dos Evangelhos.

O uso de Isaías nos evangelhos sinóticos

O que era um mandado profético em Isaías 6 agora é chamado por Jesus de profecia. O mandado profético de Isaías se cumpriu em seu ministério, como revelam Isaías 29.9-14 e 63.17.

Isaías 6 pode ser uma “profecia tipológica” ou “profecia de um acontecimento”. Isto é, às vezes os profetas do Antigo Testamento profetizavam explicitamente acerca de fatos que iam ocorrer no Novo Testamento, mas outras vezes fatos históricos comuns prefiguravam acontecimentos semelhantes que ocorreriam no Novo Testamento.

A incredulidade e o julgamento de Israel no tempo de Isaías prefiguravam um padrão que previa incredulidade e julgamento maiores nos dias de Jesus.

No entanto, pode haver um jeito mais fácil e mais direto de entender como Jesus entende Isaías 6 sem recorrer à tipologia. Recorde-se que em Isaías 6.11 o profeta pergunta “até quando” o castigo da cegueira e da surdez espiritual duraria. A resposta foi que o castigo continuaria até com o remanescente que sobrevivera ao cativeiro babilônico e estaria de volta na terra prometida depois do exílio. É compreensível que Jesus considerasse a maioria do Israel incrédulo de seus dias como uma continuação desse remanescente incrédulo e cego. Nesse aspecto, também é compreensível por que Jesus considerava Isaías 6.9,10 uma profecia da condição espiritual dos judeus da época de Isaías e também dos de sua própria época.

Entretanto, Isaías 6.9,10 afirma que o motivo preciso de Israel estar sendo castigado na época de Isaías e de que seria castigado quando voltasse do exílio era a adoração de ídolos.

O texto segue dizendo que o pecado principal de Israel em toda a sua história no Antigo Testamento era a idolatria.

Os israelitas rejeitaram a Deus, que viera à Terra em forma humana e foi entregue para morrer nas mãos dos romanos. O Israel do tempo de Jesus estava tão morto espiritualmente quanto o do tempo de Isaías.

Apesar de Israel dizer “Jamais cometeremos idolatria como nossos antepassados nem como as nações”, o povo cometia uma forma diferente, e talvez nova, de idolatria. Em essência, ídolo é qualquer coisa adorada no lugar do verdadeiro Deus. A ideia de idolatria encontrada em Ezequiel talvez tenha em parte preparado o terreno para esse entendimento. Ezequiel 14.4,7 refere-se a um israelita idólatra como a alguém que “abriga seus ídolos no coração”. Apesar do texto se referir também externamente ao culto de ídolos propriamente dito, ele abre a possibilidade de outras coisas que não Deus serem objeto de desejo no coração que procura segurança. Tudo quanto tome o lugar de Deus como objeto de desejo é ídolo, seja uma imagem de pedra, seja dinheiro, seja o que for. É muito importante que esse conceito esteja claro em nossas mentes.

As palavras de Jesus nos versículos 6 e 7 são uma citação de Isaías 29.13, em que Deus acusa Israel de confiar nas tradições humanas, e não em Deus. As palavras que Jesus cita de Isaías 29 dizem respeito ao pecado da adoração de ídolos no contexto original delas em Isaías. Marcos 7.8 afirma que “negligenciar o mandamento de Deus” e “seguir a tradição dos homens” é reverenciar a tradição no lugar da Palavra de Deus e assim cometer idolatria.

No tempo de Jesus, essa idolatria pela “tradição de homens” se manifestava não na adoração de ídolos de pedra ou madeira, mas de tradições criadas por homens. Mateus 23.16-28 dá mais detalhes sobre algumas dessas tradições judaicas humanas (por exemplo, dar o dízimo da “hortelã, do endro e do cominho” e ao mesmo tempo negligenciar “omitir o que há de mais importante na lei”). O problema das tradições não era que fossem necessariamente antibíblicas ou ruins em si, mas, sim, a na atitude de Israel em relação às tradições. Israel confiava nessas tradições em vez de confiar em Deus e na sua palavra.

Mateus 15.14, Jesus faz a seguinte declaração sobre os fariseus: “Deixai-os; são guias cegos! Se um cego guiar outro cego, ambos cairão num buraco”. Essa passagem é uma continuação do paralelo de Marcos 7, uma vez que Isaías 29.13 é citado no mesmo contexto (Mt 15.8,9) sobre tradições. A cegueira dos fariseus é com muita probabilidade uma continuação da aplicação de Jesus da profecia de Isaías 29.13 para eles, pois a profecia repete que o povo ficará cego: “Cegai-vos e ficai cegos” (Is 29.9); “fechou os vossos olhos” (Is 29.10).

Que o problema de Israel era idolatrar suas tradições é evidente na concepção de Paulo dos judeus da época de Jesus. Em vez de analisar o assunto no capítulo 7, sobre Paulo, o autor vai tratar aqui dada sua importância para os Evangelhos. Em Colossenses 2.18-22, por exemplo, Paulo exorta:

Ninguém seja árbitro contra vós, fingindo humildade ou culto aos anjos, baseando-se em coisas que tenha visto, inutilmente arrogante em seu conhecimento carnal, e não retendo a Cabeça, com a qual todo o corpo, suprido e organizado pelas juntas e ligamentos, vai se desenvolvendo segundo o crescimento concedido por Deus.

Visto que morrestes com Cristo para os espíritos elementares do mundo, por que vos sujeitais ainda a mandamentos como se vivêsseis no mundo, tais como não toques, não proves, não manuseies?

Todas essas coisas desaparecerão com o uso, pois são preceitos e doutrinas dos homens.

As leis alimentares do Antigo Testamento, diz Paulo, eram “sombras das coisas que haveriam de vir; mas a realidade é Cristo” (v. 17). Confiar nessas leis agora passa a ser uma tradição idólatra, uma vez que elas encontraram seu objetivo e fim em Cristo.

Da mesma forma, Paulo testifica das tradições alimentares idólatras em Filipenses 3: “Tomai cuidado com esses cães; cuidado com os maus obreiros, cuidado com a falsa circuncisão!” (v. 2) e em seguida os chama de “inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição; o deus deles é o estômago; e a glória que eles têm baseia-se no que é vergonhoso; eles se preocupam só com as coisas terrenas” (v.18,19). A declaração de Paulo de que os judeus incrédulos tinham o estômago como seu deus com muita probabilidade é uma referência à preocupação deles com as tradições criadas por homens sobre toda espécie de purificações ligadas ao alimento. Comprometer-se com essas tradições em vez de confiar em Cristo era idolatria! Romanos 2.22 (“Tu, que abominas os ídolos, rouba-lhes os templos?”), também testifica đa concepção paulina de que os judeus incrédulos eram idolatras, mas não como os gentios. A idolatria das tradições era mais sutil, mas igualmente pecaminosa. Paulo afirma que a idolatria deles é tão forte que era como se eles entrassem de fato em templos pagãos e roubassem e cultuassem os ídolos deles. Uma das tradições idólatras que Paulo tem em mente é a confiança de que a circuncisão exterior ainda pudesse credenciar alguém para ser um judeu que agrada a Deus enquanto transgride a lei (Rm 2.25-28). Provavelmente, o mesmo tipo de tradição está em mente em Timóteo 4.3 (“abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e conhecem bem a verdade”).

A intensa atividade de demônios nos Evangelhos também denuncia o comprometimento de Israel com a tradição como atividade idólatra, uma vez que se acreditava que os demônios estavam “por trás dos ídolos”, (2) e o próprio Diabo é chamado algumas vezes de Belzebu (7 vezes), o que provavelmente associado a Baal de alguma forma, o deus cananeu da fertilidade, citado com tanta frequência no Antigo Testamento (1Rs 18.16-40).

Várias passagens do Apocalipse de João vinculam claramente a idolatria com demônios (v. Ap 2.20,24; 9.20; 16.13,14; 18.2,3).

Acerca do uso nos Evangelhos dos textos de Isaías sobre idolatria pode-se concluir que pelo menos mais um aspecto indica que Jesus está atacando a idolatria. Isaías 40—66 profetizava que no futuro êxodo de Israel do cativeiro, Deus derrotaria e julgaria os ídolos e seus adoradores espiritualmente mortos. Por isso, Rikk Watts alegou de força convincente que os Evangelhos retratam Jesus dando início ao cumprimento das profecias de Isaías sobre o segundo êxodo (p.ex., ele é o Servo Sofredor de Isaías 53) pondo em prática a libertação dos pecadores do cativeiro do pecado, dos demônios e de Satanás, 22 os quais em última análise estão por trás do ídolo da tradição. A acusação de idolatria pode até ser feita contra qualquer judeu do primeiro século que “se desviou (de Deus]”e se dedicou aos “ídolos de seu coração” (1QS 2:11b-12).

Isaías 40-66 apresenta o mesmo tema pessimista do final de Isaías 6, cm que até o remanescente dos regressantes do exílio ia venerar ídolos tanto quanto o Israel anterior ao exílio.

Desse modo, nos principais momentos literários dos Evangelhos, todos os evangelistas citam Isaías 6.9,10, o que demonstra a importância capital da passagem. O texto é citado nos Evangelhos para dizer que os israelitas contemporâneos de Jesus finalmente seriam julgados.

Quatro razões para justificar que a ideia de idolatria de Isaías,

1) O ataque contra a idolatria é essencial para o significado de Isaias 6,9,10, de forma que a cegueira e a surdez são entendidas como referências reais ao povo se tornando semelhante aos ídolos.

2) As palavras hebraicas próprias para ídolo não ocorrem em Isaías 6,9,10, logo, não deve ser surpresa que elas não ocorram na citação ou explicação da passagem.

3) O autor sustentou que existe o conceito de idolatria vinculado às citações de Isaías 6 e 29, mas que as palavras explícitas que normalmente exprimem um conceito não precisam ocorrer em novas expressões do mesmo conceito. Surpreendentemente, a palavra própria para ídolo ou para idolatria não ocorre nos poucos lugares em que Jesus se refere à idolatria (Mt 4.9; 6.24), o que pode ser o precedente para ele fazer a mesma coisa quando menciona passagens do Antigo Testamento referentes à idolatria.

4) Embora a idolatria fosse um problema enorme para o povo de Deus no Antigo Testamento, será possível que, quando chegamos à época dos Evangelhos, esse problema tenha cessado, visto que as referências explicitas a ídolos são raras? O autor defendeu que o problema continuou, mas não é exprimido com os mesmos termos explícitos.

O tema da idolatria tratado nos Evangelhos não é tão evidente quanto no Antigo Testamento, mas, apesar de não se empregarem as palavras explícitas para ídolo, é provável que o conceito de idolatria ocorra.

Não se deve esquecer de que parte do trabalho da teologia bíblica é discernir os vínculos interpretativos entre passagens que são clara e formalmente vinculadas (como, por exemplo, as citações no Novo Testamento). Sendo assim, parte dessa tarefa é perceber os elos interpretativos que não são declarados textualmente pelo autor que faz a citação ou a alusão.

A idolatria em Atos

Assim como em Isaías os ídolos impotentes e as nações que eles representam são contrastados com a onipotência de Yahweh, também em Atos a incapacidade dos ídolos e os povos que se identificam com eles são contrastados com o senhorio absoluto de Jesus e o poder de seus representantes aqui na terra.

No tempo em que Jesus e seus seguidores entraram em cena, a gloriosa presença de Deus parece ter se afastado do templo. As passagens Ezequiel 10.18 e 11.21-23 (p. ex., v. 23n “E a glória do Senhor se levantou do meio da cidade”.) indicam a probabilidade de que a presença de Deus deixou o lugar santíssimo no começo do exílio babilônico e, ao que parece, não voltou a habitar o templo seguinte, construído após o retorno de Israel do exílio por causa da infidelidade da nação. Isso também está indicado em Esdras 3.12: “muitos dos sacerdotes, dos levitas e chefes de famílias mais idosos que tinham visto o primeiro templo choraram bem alto quando viram o lançamento do fundamento deste [segundo] templo”. Por que choraram? Porque o segundo templo parecia ser nada comparado ao templo de Salomão, que os anciãos tinham visto em sua “glória original” (Ag 2.3). Em parte, o motivo do lamento talvez não tenha sido apenas o tamanho menor do segundo templo, mas também que ele não tinha a gloriosa presença de Deus como o primeiro templo.

O mau uso do templo (“fazendo a casa de meu Pai um mercado” ou a “cova de ladrões”), que inspirou a denúncia de Jesus, e a incredulidade da maioria dos sacerdotes, incluindo a do sumo sacerdote, que acusou Jesus de blasfêmia (Mc 14.60-65), indicam ainda mais o estado de desolação espiritual do templo. Isso também se depreende quando se observa que o próprio Jesus começou a assumir o papel do templo, e esse papel é intensificado na sua ressurreição. Os Evangelhos afirmam que Jesus começou a substituir o velho templo durante seu ministério e isso atingiu o apogeu na sua ressurreição.

Atos apresenta o assunto da idolatria primeira e normalmente vinculado à ideia do templo. O templo de Jerusalém foi construído originalmente com o propósito de ser a ligação entre o céu e a terra. Em virtude do pecado de Israel, entretanto, o templo terreno estava prestes a ser castigado, conforme Jesus profetizou nos Evangelhos. Israel acreditava que seu templo era o emblema deles de povo escolhido por Deus, mesmo que a presença divina se tivesse afastado do templo por causa da rebeldia, da idolatria e da apostasia dos israelitas. Estevão reitera esse julgamento e, como Jesus, também é morto por causa disso. Assim, apesar de Israel acreditar que a presença de Deus estava no lugar santíssimo, no tempo de Jesus esse lugar estava sem essa presença e era um símbolo tradicional, esvaziado de seu significado anterior. Contudo, Israel continuava crendo que esse templo desolado era um sinal de que eles eram o verdadeiro povo de Deus. Tal confiança se transformou num dos muitos ídolos de “tradição” de Israel. O templo se tornara um ídolo. E, como foi para todos os ídolos de Israel no Antigo Testamento, esse templo idolatrado tinha de ser destruído, como de fato foi no ano 70 d.C.

Atos 7.51: “Mas eles [Israel] se rebelaram e entristeceram o seu santo Espírito”, mas Salmos 106.33a seria provavelmente combinado com essa influência: “pois se rebelaram contra seu Espírito”, o que, em contexto, talvez inclua a adoração dos ídolos, entre eles o bezerro de ouro (cf. Sl 106.19-21,28,29,35-39).

Essa ligação nos leva mais próximos da teologia bíblica de Isaías da idolatria. Talvez por isso o retrato de Estevão dos perseguidores judeus com a metáfora do mau funcionamento dos órgãos lhe flua tão prontamente da língua, pois já estaria pronta, à mão, por causa do seu profundo conhecimento do livro de Isaías.

Antes, carregastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do Deus Renfã, figuras que fizestes para adorá-las. Assim, eu vos exilarei para além da babilônia.

Essa alusão clara ao episódio do bezerro de ouro aponta novamente para a hipótese de que Salmos 106.33a (“se rebelaram contra seu Espírito”) está por trás de Atos 7.51 (“Homens teimosos e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como fizeram os vossos pais, assim também fazeis”), uma vez que o segmento do salmo, como vimos antes inclui provavelmente a referência ao evento do bezerro de ouro.

A terminologia de Estevão de que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos humanas” (At 7.48) está de acordo com o restante do Novo Testamento, em que “feita por mãos humanas” se refere à criação antiga e “feito sem mãos” se refere à nova criação, mais especificamente ao estado da ressurreição como início da nova criação. Isso está expresso com mais clareza em Marcos 14.58, a forma abreviada dessa tradição de onde parte a narrativa do discurso de Estevão (At 6.14): “Eu destruirei este santuário, construído por mãos humanas, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos humanas.

Os únicos outros usos da terminologia “feito por mãos humanas” ocorrem em Efésios e Colossenses, em que os judeus incrédulos são designados por “circuncisão feita por mãos”, em oposição a “feitos por ele, criados em Cristo Jesus [ressurreto]” (Ef 2.10,11; cf. 2.5,6,15). Em contrapartida, o apóstolo refere-se aos crentes dizendo: “Fostes circundados com a circuncisão que não é feita por mãos humanas […], a circuncisão de Cristo; sepultados com ele no batismo, com quem também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11,12). Como o templo do Antigo Testamento, feito por mãos, também a circuncisão por mãos tinha como propósito simbolizar a circuncisão do coração, o que ocorre por meio de Cristo e do Espírito. Essa distinção se acentua na pedra de Daniel que se cortou “sem auxílio de mãos” (Dn 2.34,45, ARC) e na Epístola de Barnabé 16, que contrasta as pessoas da antiga criação “um templo feito por mãos humanas” com as “novas, criadas novamente” pela presença poderosa de Deus neles.

A última parte da fala de Estevão se prestava a criticar os que nem sequer percebiam o paradoxo da impossibilidade e possibilidade simultâneas de Deus existir num templo terreno.

Como nos usos do Antigo Testamento do sintagma “feito pelas mãos”, o uso de Estevão também serve para desprezar o que era idolatria – os judeus incrédulos haviam convertido o templo de Deus em ídolo por causa da perspectiva não escatológica de sua finalidade e do consequente uso incorreto do santuário. Isso ganha importância quando se recorda que até os sacerdotes “profanaram” o templo de Salomão com os ídolos das nações (2Cr 36.14). Essa ideia pode ser fortalecida por uma tradição judaica que entendia Isaías 66.1 como uma reação de Isaías à instalação de um ídolo no templo pelo rei Manassés. Além da impossibilidade inerente das estruturas humanas servirem de morada permanente para Deus, quando elas são contaminadas por ídolos “feitos por mãos”, Deus não só não pode habitar neles, mas também elas têm de ser destruídas.

Conclusão sobre Atos 7. Paulo afirma que “o Deus que fez o mundo e tudo que nele há, Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 17.24). Paulo diz isso depois da grande divisão na história da salvação, quando Cristo e seu povo já haviam começado a substituir o templo de idolatria de Israel feito “por mãos de homens”. Para que Deus habite plena e irrestritamente com seu povo, não pode haver estruturas humanas separando Deus do povo. Isso porque nenhum ser humano pode responder positivamente à pergunta de Deus sobre sua eterna e escatológica morada: “Que casa edificaríeis para mim? Qual é o lugar do meu descanso?” (Is 66.1).

O compromisso dos israelitas com o templo, depois da vinda de Cristo, significava que eles estavam comprometidos com uma tradição e um edifício espiritualmente vazios e mortos. O verdadeiro templo a que devemos nos dedicar é o templo de Deus em Cristo e o Espírito.

O estudo da idolatria relativa ao templo no livro de Atos é importante porque, no tocante à presença de Deus, o antigo templo de Israel se tornara obsoleto, e crer que Deus pudesse ser adorado naquele local era idolatria. Contudo, a adoração no verdadeiro templo, no domínio de Cristo e do Espírito, é a adoração verdadeira, que resulta na semelhança da imagem de Cristo.

Atos 17.24,25: parte da pregação de Paulo em Atenas, explica que na presente era não se deve adorar ao verdadeiro Deus mediante templos materiais, imaginando que se possa encontrá-lo nesses lugares:

O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é ele mesmo quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas […] Sendo nós gerados por Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação humana (At 17.24,25,29).

Os templos feitos por mãos humanas não só são impróprios para hospedar a presença divina permanentemente (v. 24), mas também essas estruturas implicam que Deus precisa ser servido por “mãos humanas”. Isso é impossível, porque Deus é o Criador autossuficiente de tudo (v. 25). Além do mais, estaríamos redondamente enganados se imaginássemos que a presença de Deus se pode encontrar por trás de ídolos de “ouro, prata ou pedra, esculpida por arte e imaginação humana” (v. 29). Isso porque os seres humanos foram criados para serem filhos de Deus (“gerados por Deus”). Assim como os filhos refletem a imagem de seus pais, os filhos de Deus também devem refleti-lo, o que fazem ao refletir os atributos gloriosos da sua “natureza divina” (cf. Gn 1.27). A lógica de Paulo é simples: “Se o semelhante gera semelhante, é ilógico supor que a natureza divina que criou seres humanos vivos é semelhante a uma imagem feita de uma substância inanimada”, antes, a divindade deve ser viva. Portanto, Paulo quer que as pessoas adorem o Deus vivo, não ídolos espiritualmente mortos.

Atos 28.25-28: o livro de Atos encerra com a mesma citação de Isaías 6.9,10. O último episódio importante da narrativa retrata Paulo e os judeus dialogando na casa em que o apóstolo se hospedou (At 28.17-24). A conversa conclui com a pregação de Paulo acerca do reino e Jesus do Antigo Testamento (v. 23). Alguns foram convencidos, mas outros não (v. 24).

Embora não se diga nada explicitamente sobre idolatria, como também é o caso dos Evangelhos, visto que a passagem de Isaías em seu contexto original trata da idolatria, esse mesmo tema, ao que parece, é transmitido aqui. É verdade que no contexto imediato de Atos 28 não haja nenhuma evidência de adoração a ídolos, o mesmo caso, como vimos, das citações de Isaías 6 nos Evangelhos. Portanto, talvez isso seja um exemplo do uso de uma passagem do Antigo Testamento sem importar uma das ideias centrais do texto.

A rejeição de Cristo por Israel se devia à devoção idólatra da nação a tradições mortas, como Lucas já havia narrado antes em Atos. Anteriormente em Atos, uma dessas tradições idólatras com que o Israel incrédulo estava envolvido era a confiar equivocadamente no templo como o lugar exclusivo da presença reveladora de Deus, quando, pela inauguração dos últimos dias, Cristo é o único lugar em que Deus se revela de maneira exclusiva. Assim, eles haviam trocado q adoração verdadeira pela falsa. É significativo que Atos termine com essa nota triste da citação de Isaías 6.

Concluindo: Lucas trata abertamente do tema da idolatria em vários pontos do livro de Atos. Contudo, é difícil perceber no livro a ideia de que os idólatras se assemelham a seus ídolos.

Capítulo 6

As epístolas de Paulo

As epístolas de Paulo contêm várias referências a idolatria, as mais relevantes para nossos propósitos são Romanos 1 e 1Coríntios 10. Essas passagens revelam que o pensamento de Paulo acerca da idolatria é profundamente saturado com alguns dos textos do Antigo Testamento e ideias já discutidos aqui, entre eles o tema do idólatra que se torna semelhante ao ídolo que adora ou se identifica estreitamente com esse ídolo, tema baseado em passagens do Antigo Testamento relacionadas ao culto do bezerro de ouro.

O conceito Paulino de idolatria em romanos 1

Romanos 1.20-28 é um dos discursos de Paulo mais explícito sobre a idolatria. A passagem afirma:

Pois os seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, são vistos claramente desde a criação do mundo e percebido mediante as coisas criadas, de modo que esses homens são indesculpáveis; porque, mesmo tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; pelo contrário, tornaram-se fúteis nas suas especulações, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e substituíram a glória do Deus incorruptível por imagens semelhantes ao homem corruptível, às aves, aos quadrúpedes e aos répteis.

É por isso que Deus os entregou à impureza sexual, ao desejo ardente dos seus corações, para desonrarem seus corpos entre si; pois substituíram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram a criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente. Amém.

Por isso, Deus os entregou a paixões desonrosas. Porque até as suas mulheres substituíram as relações sexuais naturais pelo que é contrário à natureza. Os homens, da mesma maneira, abandonando as relações naturais com a mulher, arderam em desejo sensual uns pelos outros, homem com homem, cometendo indecência e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro. Assim, por haver rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável para fazerem coisas que não convêm.

Essa sessão introdutória de Romanos afirma que a adoração de ídolos é o pecado que está na raiz de todos os outros pecados. Quando alguém deixa de confiar em Deus para confiar em algum outro elemento da criação, o “coração” se “obscurece”, e disso decorre toda espécie de pecado, como Paulo começou a explicar nos versículos de 24 a 28 e prossegue nos versículos de 29 a 32. Paulo considera a idolatria a essência do pecado. Ezequiel 22.1-16 já havia afirmado que a idolatria de Israel (v. 1-4) levara a nação a toda espécie de pecados (v. 5-13), o que depois trouxe julgamento sobre o povo (v. 14-16). É significativo que o levantamento que Paulo faz da história da idolatria inclua toda a humanidade que abandonou Deus para adorar outra coisa, isso inclui provavelmente Adão e Eva (os quais Rm 1.20,21 provavelmente inclui em sua afirmação): “Pois seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, são vistos claramente desde a criação do mundo, de modo que esses homens são indesculpáveis; porque mesmo tendo conhecido a Deus, não glorificaram como Deus“. Por conseguinte, toda a humanidade, incluindo Adão e Eva, é acusada aqui, uma vez que estavam entre todos os seres humanos que cometeram “toda impiedade e injustiça” de pecadores (1.18a) e se tornaram “indesculpáveis” “desde a criação do mundo” também porque estavam entre os que “impedem a verdade pela sua injustiça” (1.18 B).

A passagem explica que a natureza essencial da idolatria é a “substituição da Glória do Deus incorruptível por imagens” (Rm 1.23), “substituição da verdade de Deus pela mentira” e “da adoração e serviço à criatura em lugar do Criador” (v. 25). O castigo justo para a adoração anômala de Deus é anomalia em outros relacionamentos, o que inclui homossexualidade, lesbianismo, desobediência aos pais e toda a sorte de relações anômalas com outro (v. 24-32).

Na verdade, o próprio castigo é que os relacionamentos não naturais dos idólatras com outros se assemelham a relacionamento não natural deles com Deus. Eles não são justos como Deus, mas “injustos” (v. 18,19); não são “sábios” como os que refletem a sabedoria de Deus, mas “tolos” (v.22); não são cheios da verdade, mas cheios de “engano” (v.29); não são bons, mas “inventores de males” (v.30); não são amorosos, mas “sem afeto natural” (1.31); não são misericordiosos, mais “sem misericórdia” (1.31).

O antecedente veterotestamentário de Romanos 1.21-25

O relato da idolatria entre os gentios nessa passagem é ricamente entrelaçado com a construção linguística de alguns textos do Antigo Testamento. A maioria das alusões está relacionada idolatria israelita do bezerro de ouro, o que nos permite começar a entender porque Paulo as reuniu desta forma.

Alusões a Salmo 106.20, Jeremias 2.11 e Oseias 4.7.

Salmos 106.20 afirma que Israel “trocou” o objeto da adoração verdadeira, “sua glória”, isto é, o Senhor glorioso, por uma imagem de idolatria.

Parte da argumentação de Paulo em Romanos 1.18-24 vem de Jeremias 2.11, o que é importante, uma vez que pode ter sido parte da construção textual de Paulo, juntamente com Salmos 106.20, acerca de “trocar a glória de Deus” pelas imagens da criação.

Jeremias 2.11 acusa: “Por acaso houve alguma nação que tenha trocado os seus deuses, posto que nem são deuses? Mas o meu povo trocou sua glória por aquilo que é imprestável”. Outras nações nunca negariam seus deuses, mas acrescentariam outros ao panteão dos que adoravam. A questão retórica é que Israel é ainda pior que as outras nações na idolatria, porque trocou de fato a adoração do verdadeiro Deus pelo falso. Israel “trocar sua glória” em Jeremias 2.11 refere-se apenas a trocar Deus como objeto de sua reverência por outro deus.

A comprovação antiga da primeira pessoa do singular no texto hebraico de Oseias 4.7 pode ter sido interpretada por Paulo como indicação de que Deus também havia mudado a glória do seu povo, que era conforme a sua imagem, por desonra como consequência de terem eles feito isso primeiro com o pecado deles. Por isso, no mínimo, o possível eco da passagem de Oseias 4.7 indica mais uma referência ao castigo irônico de as pessoas se assemelharem à glória corruptível dos ídolos que adoram.

Jeremias 2.5 também parece estar na mente de Paulo em Romanos 1.21b. Se for assim, a afirmação de Paulo imediatamente anterior ao versículo 21, “Não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”, é uma forma positiva de falar do ato negativo da adoração de ídolos preparando o caminho para a alusão de Jeremias 2.5 na última parte do versículo 21. Portanto, Paulo acompanha a ideia de Jeremias de que Israel se tornou tão inútil e vazio quanto os ídolos que adorava.

2Reis e Oseias afirmam que a devoção de Israel aos ídolos bezerros fez a nação assemelhar-se a ídolos espiritualmente vazios e indignos. É provável que Jeremias 2.5 esteja mais em mente do que 2Reis, porque Jeremias 2.11 também é aludido por Paulo em Romanos 1. Contudo, o texto de 2Reis é atraente uma vez que ocorre no contexto de recapitulação da instituição do culto ao bezerro de ouro no monte Sinai.

O ponto principal é a existência de, pelo menos, uma alusão a Salmos 106.20 e duas a Jeremias 2 em Romanos 1, alusões que em seus respectivos contextos indicam que Israel se tornou como os ídolos que adorava. É possível que, quando Paulo sintetiza Jeremias 2.5 para “e tornaram-se vazios” e omite a oração imediatamente anterior, ele esteja querendo salientar a ideia de que as pessoas se tornam tão corruptíveis quanto seus ídolos.

Alusão a Adão em Gênesis 1-3. O autor analisa um último cenário do Antigo Testamento em Romanos 1. Gênesis 1-3 também pode estar em parte por trás do pensamento de Paulo em Romanos 1.23, segundo opinam alguns comentaristas: “substituíram a glória do Deus incorruptível por imagens semelhantes ao homem corruptível, às aves, aos quadrúpedes e aos répteis”. Se isso for uma alusão a Gênesis 1-3 a ideia do papel da humanidade de refletir a imagem de Deus e o pecado por ela cometido de se dedicar a outras imagens aumentariam a ideia implícita de que parte da destrutividade da idolatria é se conformar à semelhança do ídolo reverenciado.

Paulo combinou as alusões à idolatria de Israel com Adão para mostrar que o pecado de Adão também era idolatria. Em contrapartida, a combinação das alusões a Adão com as referentes à idolatria de Israel mostra o próprio Israel como uma espécie de figura coletiva de Adão.

Romanos 3.23 é um desenvolvimento de Romanos 1.23 para mostrar que a transformação que implica a perda da gloria divinamente refletida nos seres humanos é uma ideia presente em 1.23. Romanos 3.23 desenvolve mais Romanos 1.23, uma vez que Romanos 3.23 é a próxima ocorrência em que “a glória” está expressamente vinculada com Deus.

É importante comparar Romanos 1.18-28 com Romanos 12.1,2.

Em Romanos 1 a anomalia na relação de um indivíduo com Deus traz o castigo correspondente da mesma anomalia na relação do indivíduo com outros seres humanos, contudo, em alguma medida, o pensamento de Paulo parece incluir o conceito de que as pessoas se tornam semelhantes aos ídolos que veneram, isto é, espiritualmente “vazias”. Assim como Paulo começa a primeira parte da carta com a adoração pervertida, a última parte do livro também começa com adoração, a adoração correta e aceitável para Deus. Que Paulo pretendia apresentar Romanos 12.1,2 como a antítese de Romanos 1.18-28 fica evidente pelo emprego da mesma terminologia usada de maneira oposta ou pelo emprego de antônimos.

Reflexões teológicas acerca da relação entre a imagem de Deus nos seres humanos e a transformação na imagem de ídolos

Quando disse que os israelitas “trocaram a glória de Deus” pela imagem de ídolos, isso expressa um significado “denso” que precisa ser esmiuçado de pelo menos três maneiras:

1. trocar a adoração do glorioso Deus pela adoração de um ídolo infame;

2. trocar a condição de estar perto dos atos de Deus em favor de seu povo ou de sua presença exclusiva, que manifestava a sua glória entre eles, pela aproximação com a presença do ídolo inglório;

3. trocar a glória de Deus, que devia ter sido refletiva no caráter individual do seu povo, pelos atributos vergonhosos de um ídolo, que se refletem no caráter deles.

O conceito Paulino de idolatria em 1Corintios 10

Ao resumir o pensamento de Paulo sobre refletir a imagem do mundo ou a de Cristo, o autor tenta chegar à raiz do motivo porque o apóstolo acredita que as pessoas se tornam conformadas àquilo a que se dedicam. Paulo talvez dê mais um lampejo de por que os idólatras se assemelham a seus ídolos e adquirem sua natureza morta. Em 1Corintios 6.15b-17 (a única outra ocorrência além de Rm 1 e Rm12 da locução “os vossos corpos”), Paulo diz:

Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei os membros de Cristo e farei deles membros de uma prostituta? De modo nenhum! Ou não sabeis que quem se une a uma prostituta torna-se um corpo com ela? Como se [Deus] disse, os dois serão uma só carne“. Mas, quem se une ao Senhor é um espírito com ele. (1Co 6.15-17).

O princípio comunicado nesses versículos é: nós nos tornamos um com aquilo a que nos dedicamos sinceramente e, por isso, somos identificados com a natureza própria disso. Ao que parece, essa ideia é bem próxima de nos assemelharmos àquilo com que nos comprometemos.

A conclusão sobre idolatria é que tanto as expressões “os que comem dos sacrifícios” se tornam “participantes do altar [idólatra]” (1Co 10.18) quando aquela que diz que os que sacrificam têm “comunhão com os demônios” (1Co 10.20) referem-se ao antecedente da idolatria do bezerro de ouro estando, assim, em paralelismo sinonímico, referindo-se à mesma coisa. Faz sentido Paulo entender que os idólatras gentios tivessem “comunhão com os demônios” (v. 20), uma vez que não só o contexto de Deuteronômio identifica demônios por trás dos ídolos, mas nós também observamos que a narrativa de Êxodo 32 do episódio do bezerro de ouro ela mesmo retrata os israelitas idólatras sendo identificados com o bezerro; isto é, tornaram-se semelhantes ao bezerro que reverenciaram, sacrificando a ele e comendo refeições sagradas na presença dele. Além disso, a obra mostrou que as reflexões veterotestamentárias posteriores sobre o bezerro de ouro também entendiam que os israelitas se identificaram espiritualmente com o bezerro que adoravam, particularmente em textos como Salmos 106.20, Jeremias 2.5-11 e Oseias 4.7, 16,17.

A passagem de 1Coríntios 10 é um paralelo impressionante:

  1. O contexto mais amplo fala reiteradamente de os crentes serem “templo do Espírito Santo” (1Co 3.16,17; 6.19), e Paulo tem em mente fazer refeições nos templos de ídolos em 1Coríntios 10.18-22;
  2. Existe um mandamento para afastar-se da idolatria (Cf. 1Co 10.14 com 2Co 6.17); e
  3. Uma oposição entre Cristo e os ídolos associados com demônios. A questão é que “participar” em Cristo ou Deus, em 2Coríntios 6, estar na esfera da sua presença viva como membro da família (implicitamente assemelhando-se a ele), e o contrário deve valer com respeito à “comunhão” com as “trevas”, “Belial” e “ídolos”. É possível que seja o mesmo tipo de oposição em 1Coríntios 10.18-22.

A obra faz uma análise sobre o grupo de palavras koinõnos/koinõnia que são citadas cinco vezes no Antigo Testamento.

Ezequiel 14.3,4,7 diz que os israelitas idólatras “deram lugar no seu coração aos seus ídolos”. A idolatria não é mera questão de adoração exterior, mas de compromisso interior do coração. Vazio de espírito no coração do idólatra que o transforma numa criatura espiritualmente vazia. Contudo, como o autor decorre durante o livro isso ocorre em última análise como juízo soberano de Deus. Talvez seja por isso que Ezequiel afirma um pouco mais adiante que o “coração/vontade” do idólatra é “fraco”, e o idólatra é “uma prostituta desenfreada” (Ez16. 30).

Nesse aspecto, vale a pena notar que a exortação de Deus para Israel “temer o Senhor Deus, adorando-o e jurando pelo seu nome”, em que o último acrescenta “se apegando a ele” faz parte da advertência para que o povo não se comprometa com adoração de ídolos.

Foi escrito um livro inteiro discutindo que a idolatria no antigo testamento deve ser considerada em grande parte em relação à fidelidade ou infidelidade da relação matrimonial de Israel com o Senhor. O conceito veterotestamentário de matrimônio exige fidelidade sexual absoluta entre marido e mulher. O envolvimento sexual ilícito por parte de qualquer dos cônjuges distorce o ideal do casamento e expõe a natureza fraturada da humanidade caída.

A proibição que Deus faz de casamentos mistos visava a protegê-los do casamento espiritual com ídolos e a capacitá-los a ser fiéis como esposa de Yahweh, porque entrar numa relação matrimonial humana profunda significa que “dois se tornam um”, e os cônjuges refletem um ao outro. Salomão, apesar de sua muita sabedoria, ainda era influenciado por suas mulheres. Ele refletiu seus envolvimentos idólatras e de fato começou a praticar idolatria, a ponto de “edificar um lugar alto” para os vários deuses de suas mulheres. É contra esse tipo de compromisso conjugal íntimo com parceiros idólatras que o escrito judaico José e Asenate adverte.

Capítulo 7

O livro de Apocalipse

Nas quatro primeiras seções deste capítulo, o autor prepara o terreno para o tema da idolatria em Apocalipse e na última sessão decorre um pouco mais especificamente em como os que adoram a besta vêm a assemelhar-se com o seu caráter, o que os leva à ruína.

O contexto literário das cartas e a função da fórmula

“quem tem ouvidos, ouça” nessas cartas

A mensagem de cada uma das sete cartas endereçadas às igrejas em Apocalipse 2-3 pode ser dividido em quatro grandes seções:

  1. Fórmula de comissionamento com descrições cristológicas;
  2. Uma sessão “conheço” (que normalmente contém elementos de elogio, exortação e a acusação, às vezes incluindo chamados ao arrependimento, ameaças de julgamento e promessas);
  3. Exortação ao discernimento; e
  4. Exortação a vencer.

O fluxo de raciocínio de cada carta em geral se enquadra no seguinte padrão:

  1. Cristo se apresenta com determinados atributos (particularmente adequado à situação de cada igreja; a fé nesse atributo é a base para superar o problema enfrentado);
  2. A situação e o problema específico são retratados (a partir do “conheço”);
  3. Dependendo da situação e do problema, Cristo dá uma palavra de incentivo para que a igreja persevere em meio ao conflito (no caso das igrejas fiéis) ou de exortação para que se arrependa a fim de evitar o juízo (no caso das igrejas infiéis);
  4. Em seguida, a situação anterior e o problema juntos, sobretudo com os incentivos correspondentes a perseverar ou as exortações ao arrependimento, formam a base para Cristo lançar um chamado para que as igrejas reajam positivamente, atendendo (“ouvindo”) quer ao incentivo anterior, quer a exortação;
  5. Com base numa reação afirmativa (=”ouvir” acompanhado de “vencer”), Cristo promete a herança da vida eterna com Ele, de modo único aos atributos de Cristo ou à situação da igreja (a fórmula do “ouvir” ainda funciona como condição básica, juntamente com a ideia de vencer, mesmo quando situada depois da promessa nas últimas quatro cartas).

Diante do desenvolvimento lógico e do tema semelhantes de todas as cartas o ponto geral pode ser formulado do seguinte modo: Cristo incentiva as igrejas a testemunhar, adverte-as contra a transigência com o mundo e as exorta a “ouvir” e vencer essa transigência para que herdem a promessa da vida eterna com Ele. Portanto, o desdobramento lógico de cada carta tem como clímax a promessa de herdar a vida eterna com Cristo, o ponto principal de cada carta. O corpo das sete cartas forma a base sobre a qual o Espírito chama as igrejas a reagir “ouvindo”, o que deve resultar em vencer, cuja consequência é herdar as respectivas promessas.

Embora cada carta se dirija a situação particular de determinada igreja, ela é pertinente às necessidades das sete e, provavelmente, por extensão, à igreja universal ou à igreja “em geral”.

É possível discernir três divisões gerais entre as sete igrejas. A primeira e a última corremos risco de perder a identidade cristã. Portanto, são exortadas a se arrepender a fim de evitar o juízo e herdar as promessas merecidas pela fé genuína. As igrejas interessadas nas três cartas principais têm, em diferentes graus, alguns que permaneceram fiéis e outro que se envolveram com a cultura pagã. Entre essas igrejas, a de Pérgamo está na melhor condição, e a de Sardes, na pior. Essas igrejas são exortadas a eliminar do meio delas os elementos que transigem com a cultura ao redor a fim de evitar o julgamento dos transigentes (e provavelmente até das próprias igrejas) e herdar as promessas devidas aos que vencem a tentação de transigir com o mundo. A segunda e a sexta carta foram escritas para as igrejas que haviam demonstrado fidelidade e lealdade ao “nome” de Cristo mesmo diante da perseguição de judeus e pagãos. Embora sejam “pobres” e “sem influência”, essas igrejas são incentivadas a continuar perseverando como “o verdadeiro Israel”, uma vez que iam enfrentar mais provações. Elas têm de suportar com a esperança de que vão herdar as promessas de salvação eterna (as duas vão receber a “coroa”).

Todas as cartas tratam em geral da questão de testemunhar de Cristo no meio de uma cultura pagã. As igrejas com problemas são todas exortados de várias formas a fortalecer o testemunho, e as duas igrejas sem problemas são incentivadas a perseverar no testemunho fiel que vinham mantendo. Por conseguinte, a fórmula do “ouvir” funciona para exortar os cristãos a testemunhar de Cristo, apesar das tentações de transigir com a cultura ao redor, e assim vencer e receber a recompensa final da salvação. Portanto, a fórmula do “ouvir” é a chave para entender o tema principal das cartas.

Contexto teológico bíblico da fórmula

“quem tem ouvidos, ouça”

No Antigo Testamento essa fórmula refere-se ao efeito que a revelação simbólica dos profetas tinha sobre os israelitas. A função principal dos profetas Isaías, Jeremias e Ezequiel era advertir Israel de sua desgraça iminente e do julgamento divino, sobretudo por causa de sua atitude intratável quanto à idolatria. Os profetas avisaram Israel com sermão sermões e mensagens racionais, exortando os ouvintes sobre seus pecados e lembrando-os da história passada deles, em que Deus julgara seus pais por causa do mesmo tipo de desobediência egoísta. Esses mensageiros proféticos, porém, tiveram pouco sucesso por causa da lealdade idólatra de Israel e da consequente letargia espiritual e atitude de dura cerviz contraria a mudar os modos a que se haviam acostumado. Os israelitas haviam se tornado mortos espiritualmente como seus ídolos e endurecidos diante das advertências racionais, históricas e homiléticas.

Em consequência, os profetas também recorreram a outras formas de advertências. Eles adotaram ações simbólicas e parábolas para obter atenção.

Agora a obra segue informando que a pregação de Isaías é concebida como julgamento para cegar e ensurdecer a maioria dos israelitas, tornando-os ainda mais semelhantes a seus ídolos mortos, mas, ao mesmo tempo, sem dúvida, teria efeito positivo apenas sobre o minúsculo remanescente. A mensagem de Isaías 1-5 é predominantemente uma advertência de julgamento em forma não parabólica e uma promessa de benção condicionada ao arrependimento. Em seguida, surge a mensagem parabólica em Isaías 7.3 e 8.1-4, que já fora prevista pela parábola da vinha em Isaías 5.1-7. O aspecto parabólico da mensagem do profeta então está intimamente vinculado a incumbência de Isaías 6.9,10 e, portanto, talvez seja considerado um dos meios pelos quais o povo deve ser segado e ensurdecido conforme a natureza dos seus ídolos cegos e surdos.

Contudo, as parábolas se destinam também ater o efeito de solavanco no remanescente que se acomodara na autossatisfação em meio a maioria transigente. Israel não queria ouvir a verdade e, quando esta lhe era apresentada sem rodeios para convencer o seu pecado, ele se recusava a reconhecer o fato do pecado. As parábolas, entretanto, funcionavam para despertar da anestesia do pecado aqueles que faziam parte do verdadeiro remanescente fiel.

Como Israel, porém, a igreja também se tornou complacente com a cultura ao redor, ficou letárgica espiritualmente e acolheu alianças idólatras, de modo que se instituiu o método parabólico de revelação.

É verdade que a fórmula aparece de forma mais positiva em Apocalipse comparada a Isaías 6 (“que seus ouvidos fiquem surdos […] para que […] não ouça com os ouvidos”). Não obstante, a formulação positiva também se encontra em Ezequiel 3 e em Mateus 13, como conhecimento, como em Isaías, de que a maioria não responderá positivamente, mas apenas o verdadeiro remanescente fiel será capaz de “ouvir”. Não se sabe se as advertências de João foram ignoradas pela maioria de seus ouvintes. Contudo, visto que o apóstolo se encontra francamente na tradição profética de Isaías, de Ezequiel e de Jesus no uso das parábolas, não devemos ser otimista demais e achar que houve uma resposta positiva esmagadora.

Um exemplo do efeito de choque das parábolas

apocalípticas sobre os surdos idólatras

A obra relata em Apocalipse 2 e 17, exemplos do papel de alerta das parábolas celestiais para os leitores em Apocalipse 2, Cristo fala de uma situação de pecado que deixara os cristãos anestesiados espiritualmente. O texto segue contando a história de Tiatira. O autor detalha essa história explicando o envolvimento de João nela.

O elo entre a Babilônia e Jezabelem Apocalipse 2 sugere que Jezabel representa mais precisamente o setor apóstata da igreja com que o sistema econômico-religioso da ímpia sociedade greco-romana se infiltra na igreja e cria um movimento subversivo. Portanto, o assunto principal de Apocalipse 2.19,20s é: enquanto a igreja de Tiatira permite que “Jezabel” ensine essas doutrinas de idólatras dentro da igreja, a própria igreja começa a ter intercurso espiritual com a prostituta do diabo e com a própria besta diabólica. Ela é o oposto da mulher pura de Apocalipse 12.1,2, que simboliza o verdadeiro povo de deus.

A obra segue contando o que João disse aos crentes de Tiatira.

O autor enfatiza que João usa linguagem metafórica porque ela comunica tanto no nível cognitivo quanto no nível emocional, o que aumenta o potencial de chocar as pessoas para que elas voltem a se concentrar no cognitivo e percebam melhor a realidade de sua perigosa situação idólatra.

A fórmula “quem tem ouvidos ouça” e a idolatria em vista da importância teológica dos antecedentes do Antigo Testamento e dos Evangelhos

A fórmula “quem tem ouvidos ouça” tem origem em última análise em Isaías 6.9,10 ajuda a explicar por que ela é empregada numa situação de envolvimento e tolerância com ídolos. Isaías 6.9,10 descreve os israelitas apóstatas como iguais aos ídolos que têm olhos, mas não veem, e ouvidos, mas não ouvem, para dizer em linguagem figurada que eles se tornaram semelhantes espiritualmente ao que referenciavam. Os israelitas haviam-se tornado tão sem vida espiritualmente quanto os ídolos. Na verdade, o irresistível uso veterotestamentário da construção básica “têm ouvidos, mas não ouvem” se refere aos membros e impenitentes da comunidade da aliança, que tinham ficado tão inanimadas no espírito quanto os ídolos que insistiram em adorar.

A fórmula “quem tem ouvidos, ouça” e o ato de se

tornar semelhante aos ídolos adorados

O texto segue informando que o capítulo mais claro sobre idolatria no livro de Apocalipse é o 13. A exortação é uma advertência sobre adorar a besta (v. 1-8), que é o indivíduo e ao mesmo tempo representa a potência ímpia que governa o mundo. Não se refere apenas ao primeiro século, mas transmite informações válidas para os poderes políticos idólatras que vão existir até o fim da história. No fim dos versículos de 11 a 18, a mais uma advertência para os cristãos semelhante à exortação para “ouvir” do versículo 9:

“Aqui existe sabedoria. Quem tiver entendimento” descubra a natureza idólatra da besta (v.18 ).

Pra finalizar o capítulo a obra explica o significado do número “666”.

A inversão: deixar de refletir a imagem dos ídolos

para refletir a imagem de Deus

O Profeta Isaías podia transformar-se de semelhante a seu povo idólatra em semelhante a Deus tão somente pela iniciativa divina de transportar Isaías para o verdadeiro templo celestial e aí transformá-lo num homem que reflete a imagem santa de Deus. Outros podiam da mesma forma ser transformados e fazer parte do remanescente fiel de Israel.

O julgamento de cegueira e surdez espirituais de Isaías 6, que viera de Deus, foi cumprido e será suspenso em algum momento futuro, particularmente quando “um rei reinará com justiça” (Is 32.1). Essa promessa de restabelecimento da visão, da audição e da sensibilidade situa-se entre duas promessas de restauração (Is 31.4-9; 32.9-20). O texto segue falando sobre a divina libertação e proteção de Sião, ocasião em que seu povo é exortado: “voltai-vos para aquele contra quem vos revelastes com teimosia“. (Is 31.6)

A exortação será levada a sério, visto que o versículo sete profetiza: “Naquele dia, cada um jogará fora os seus ídolos de prata e os de ouro, feitos pelas vossas mãos pecaminosas”, (alusão a Isaías 2.20 e talvez a Isaías 30.22). O profeta prediz o fim da desolação de Israel: “até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto”. Com isso, o contexto dá fortes indícios de que o próprio Deus acabará com o castigo de entorpecimento espiritual de Isaías 6, além de sugerir que o castigo que será suspenso ocorreu por causa da idolatria.

Assim como Israel, as nações também estavam sob o efeito anestésico da idolatria, mas Deus também tiraria algumas delas desse sono estupefaciente quando fizesse isso com Israel.

A inversão dos Evangelhos

Logo em seguida à citação de Isaías 6.9,10 em Mateus 13.14,15, Jesus diz igualmente: “Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem” (v.16), o que o versículo 11 tinha dito tratar-se de uma consequência de um dom divino: “A vós é dado conhecer os mistérios do reino do céu”.

Os próprios discípulos faziam parte da massa cega, surda e endurecida do Israel incrédulo. Contudo, o modo que isso se aplica aos discípulos é diferente de como se aplica a Israel em Mateus 13, Marcos 4 e Lucas 8, em que se tem o relato de que eles estão cumprindo a profecia de Isaías 6.9,10. Nos versículos 17 e 18 de Marcos 8, a redação de Isaías se transforma numa pergunta. Isso indica que a anestesia espiritual não se instalara para sempre neles. Jesus estão perguntando aos discípulos se eles estão cumprindo a profecia de Isaías 6 assim como o restante do Israel endurecido está de fato cumprindo.

Em João 9.1-38 encontra-se um relato estendido de Jesus curando um cego, que os judeus se recusavam a reconhecer. Jesus explica imediatamente o significado desse episódio: “Eu vim a esse mundo para julgamento, afim de que os que não veem vejam, e para os que veem se tornem cegos.

A inversão profetizada em Isaías

O ensinamento de Jesus de que Deus (ou Ele mesmo) é o único capaz de dar visão e audição aos cegos espirituais está estreitamente ligado ao livro de Isaías. A obra mostrou que Deus tanto julgou os idólatras, tornando-os iguais a seus ídolos (Is 6.9,10), como também os resgatará de sua anestesia idólatra.

A confiança de Israel nos ídolos significava que a nação atribuía seu bem-estar e até a existência aos deuses representados pelos ídolos e não a Yahweh.

Enquanto Israel criava e adorava seus ídolos e ficava semelhante à imagem espiritual cega e surda deles, Deus, o único e verdadeiro criador de imagem, podia inverter essa condição e moldar seu povo para refletir a verdadeira imagem divina, de modo que esse povo seja capaz de ver e ouvir as coisas do espírito.

O Deus de Israel particularmente é o único Criador e ele será o único criador da nova criação, que trará restauração e salvação para Israel. A recorrente menção de que “não há nenhum Deus” senão o senhor é dirigido primeiramente a Israel e depois às outras Nações. Alocução “obra das mãos dos homens” é a linguagem figurada para designar as imagens feitas por seres humanos e, por isso, a locução “obra da mão (de Deus)” em Isaías se refere provavelmente também a seres humanos criados como imagens. A visível e proposital oposição feita por Isaías entre Israel, como obra das mãos de Deus, e os ídolos, como obra da mão dos homens, diz respeito ao fato de Deus ter feito os seres humanos como as únicas imagens legítimas dele, uma vez que foram feitos pelas mãos divinas para agir como imagens vivas legítimas que devem refletir a glória da imagem do Deus vivo (Gn1.26-28).

O texto segue concluindo que Deus é o verdadeiro criador de imagens só uma imagem dele e como tal devem adorá-lo e refletir sua imagem autêntica, e não adorar e refletir imagens falsas feitas por mãos humanas.

Isaías parece opor intencionalmente a obra das mãos dos homens à obra da mão de Deus, também parece que há uma oposição semelhante entre homens “formarem” ídolos e Deus “formar” Israel. Por exemplo, Isaías 43 refere-se muitas vezes a Deus “formar” Israel para refletir sua “glória” e seu “louvor”.

Além do mais, nem um Deus verdadeiro pode ser formado por mãos humanas, uma vez que Yahwehé o único e verdadeiro. Os idólatras são “o povo que tem olhos, mas é cego; e os surdos que têm ouvidos”, mas o Israel do fim dos tempos será formado por Deus como parte da nova criação vindoura, para que nação não seja mais espiritualmente insensível como é agora.

Que trágica ironia Israel está produzindo suas próprias imagens falsas estar-se conformando espiritualmente, em vez de perceber que a única imagem verdadeira é a de Deus, a qual os israelitas tinham de refletir como pequenas imagens divinas na terra. Contudo, como o oleiro supremo, Deus é capaz de resgatar Israel e as nações de sua escuridão idólatra e do sono profundo em que vivem, restaurando-os e recriando-os novamente a sua imagem viva, como afirma Isaias 29, recolocando neles olhos que veem e ouvidos que ouvem a sua palavra verdadeira como Deus disse a Moisés: “Quem faz a boca do homem? Quem faz o mudo, ou surdo, ou que ver, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?”

Depois que Paulo anuncia o mandamento de Deus para o arrependimento por causa do julgamento vindouro, há três tipos de reação. Na primeira, a maioria rejeita mensagem, enquanto, na segunda, parece que alguns deixam aberta a questão até ouvir o apóstolo falar novamente sobre o assunto. Já outros, terceira, aparentemente a minoria, aceitaram o que Paulo disse, como se lê: “Todavia, alguns homens uniram-se a ele e creram, entre os quais Dionísio, membro do conselho do Areópago, uma mulher chamada Dâmaris e com eles ainda outros” (At 17.34). Esses novos crentes abandonaram seus ídolos para confiar em Deus e ser restaurados para ele e, portanto, ser como ele, uma vez que agora se converteram verdadeiramente em sua “geração família” (v.28). Os poucos que cresceram e se juntaram a Paulo representam o principal assunto de todo o capítulo 17, uma vez que representa a resposta definitiva e culminante a toda a narrativa do discurso no Areópago.

Que diferença faz

A ideia principal deste livro sobre idolatria é que as pessoas se assemelham ao que reverenciam, quer para ruína, quer para restauração. Deus criou todos os seres humanos para refletir uma imagem. As pessoas sempre refletirão alguma coisa, seja o caráter de Deus, seja algo do mundo. Se elas se dedicarem a Deus, serão como ele; mas, se se dedicarem a algo diferente de Deus, ficarão semelhantes a isso, sempre inanimadas espiritualmente e vazias, como objeto da criação vazio e sem vida a que se dedicaram. A semelhança com os ídolos do mundo é uma forma de castigo. Israel assemelha-se ao que reverenciava, o que foi uma manifestação do castigo por causa da idolatria e o levou a ruína espiritual. Isaías, o remanescente fiel do Antigo Testamento e os crentes da igreja primitiva se assemelharam ao que reverenciavam para sua restauração e bênção.O mesmo se aplica as pessoas de nossos dias.

O autor ressalta que sempre precisamos lembrar que a ideia do Antigo Testamento de adorar imagens de madeira, pedra ou metal ainda é bem pertinente para as pessoas do Século 21. Isso porque, como vimos, mesmo na época do novo testamento, a idolatria assumia formas não literais, como, por exemplo, a confiança em tradições mortas ou no dinheiro (recordemos as palavras de Paulo em Ef 5 e mm Cl3). Último Versículo de 1João diz: “Guardai-vos dos ídolos”. É possível que João esteja se referindo a ídolos no sentido literal; porém, o mais provável é que esteja resumindo a tese de toda a epístola de 1João: a advertência aos crentes para não acreditarem no falso ensino de que Cristo não é verdadeiramente humano ou, em outros casos, de que não é verdadeiramente Deus. Está dizendo que, quando confiamos no falso ensino, que é um usurpador da verdade, somos culpados de idolatria. A igreja precisa se proteger para não venerar a teologia falsa no lugar da verdadeira.

Idolatria é tudo o que substitui a adoração a Deus. Curiosamente, alguns dicionários definem “religião” como “algo a que alguém se dedica”, que pode ser Deus ou outra coisa.

O autor faz suas considerações finais analisando o que foi tratado na obra e mostrando a importância de não adorarmos ídolos falsos e sim, o único e verdadeiro ídolo, que é Deus.

Seja qual for do Cristão, ele deve orar: “Senhor, faze-me encontrar paz em tua glória e não na minha”.

O povo de Deus precisa enxergar tudo na vida pela lente das escrituras. Os crentes verdadeiros precisam conformar-se não ao mundo, mas ser transformados em Cristo. Hoje existem formas sutis de idolatria: as pessoas podem idolatrar suas riquezas ou suas atividades. Mas algumas formas de idolatria contemporânea são mais explícitas. Alguns cristãos, talvez sejam tentados adorar imagens, Santos e outros elementos da Eucaristia outros cristãos podem ser tentados a adorar a cruz e a Bíblia. Outros são tentados adorar outros tipos de ídolos presentes na tradição evangélica, mas os objetos criados não têm o espírito vivo do Senhor, e, à medida que as pessoas reverenciam, vão se esvaziar do Espírito, vão ficando menos espirituais.

A conclusão que o autor chegou é de que todas as manifestações de idolatria a seguir são proibidas:

1. adorar um objeto crendo que a presença de Deus ou de seu espírito habita esse objeto;

2. adorar um objeto dando a justificativa de que é adoração a Deus, que é representado pelo objeto;

3. Fazer imagem de Deus, uma vez que Deus é Espírito se pode ver.

Que Deus seja conosco, como o novo e verdadeiro povo de deus.

Pai, nós te damos graças por tua palavra, que é firme, mas não sem esperanças. Jesus reconstruiu o seu verdadeiro povo na sua própria imagem com base na sua própria pessoa, na sua morte e ressurreição, e enviando o espírito, e deseja que confiemos nele e não sejamos idólatras. Por isso, senhor, faze-nos reverenciar-te para que nos tornemos parecidos contigo e sejamos abençoados e restaurados a ti, e não arruinados. Dá-nos olhos para ver e ouvidos para ouvir tua verdade e nos dá “compreensão a fim de que conheçamos a ele, que é a verdade” para permanecer “nele, que é verdade, no seu filho Jesus Cristo. Esse é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20). Dá-nos a graça para nos guardar dos ídolos”(1Jo 5.21). Fica conosco para essa finalidade e para tua glória. Em nome de Cristo, Amém.

Capítulo 8

Obeliscos, Templos e Torres

Entre as nações antigas, eram feitas imagens não somente de deuses e deusas em forma humana, mas muitos objetos que tinham um significado misterioso ou oculto eram parte da adoração pagã.

A Bíblia menciona uma imagem tipo obelisco de aproximadamente três metros de largura e 30 metros de altura, “se prostraram todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor linha levantado na Babilônia” (Daniel 3:1-7). Mas foi no Egito que o uso do obelisco foi o mais conhecido.

Os antigos — tendo rejeitado o conhecimento do verdadeiro Criador — vendo que o sol dava vida às plantas e ao homem, olhavam para o sol como um deus. O obelisco também tinha um significado sexual. Sabendo que através da união sexual era produzida a vida, o falo (o órgão masculino da reprodução) era considerado (junto com o sol) um símbolo de vida. Estas eram as crenças representadas pelo obelisco.

Para que os obeliscos tenham o simbolismo que se pretende para eles, eles foram colocados apontados para cima — eretos.

Bastante interessante é que existe um obelisco à entrada da Basílica de São Pedro, em Roma.

Não é uma mera cópia de um obelisco egípcio, é o próprio obelisco que estava no Egito nos tempos antigos. Calígula, em 37-41 d.C., fez o obelisco que está agora no Vaticano, ser trazido de Heliópolis, Egito, para seu circo no Monte Vaticano, onde agora está a Catedral de São Pedro.

O obelisco de granito vermelho do Vaticano tem 25 metros de altura (40 com sua fundação) e pesa 320 toneladas. Foi realizada uma verdadeira operação militar para transferir tal objeto de lugar. Muitos homens e muito dinheiro foram gastos.

No centro do átrio que está localizado na basílica de São Pedro está o obelisco. Este átrio é circundado por 248 colunas do estilo dórico que custam aproximadamente um milhão de dólares. O estilo de tais colunas foi tomado emprestado do estilo dos templos pagãos.

Como os líderes católicos romanos tomaram emprestadas outras ideias do paganismo, não é surpresa que construir templos elaborados e dispendiosos também se tornaram um costume.

No Novo Testamento, está claro que o Espírito Santo não mais habita em templos feitos pelas mãos dos homens (Atos 17:24). Agora Deus habita em seu povo — sua verdadeira igreja — pelo Espírito.

Não temos registro de construção de igreja (como tal) antes de 222-235 d.C.. Provavelmente a razão pela qual as construções de igrejas não foram feitas anteriormente foi por causa das perseguições, pois os primeiros cristãos não tinham permissão de possuir propriedades. Mas, se eles tivessem tido este privilégio, temos certeza que tais edifícios teriam sido construídos de maneira simples.

Mas, quando a igreja veio a ter poder político e riqueza, sob o reinado de Constantino, um padrão de construir igrejas ricas e elaboradas, foi estabelecido e tem continuado até este dia.

A maioria dos dispendiosos edifícios de igrejas que têm sido construídos através dos séculos tem como padrão uma torre.Algumas torres têm custado fortunas para serem construídas. Isto não tem acrescentado qualquer valor espiritual. Jesus, é claro, jamais construiu tais estruturas quando esteve na terra, nem deu qualquer instrução para serem construídas após sua partida.

“De todos os majestosos monumentos da Babilônia, o Zigurate com a torre deve certamente ter sido uma das construções mais espetaculares do seu tempo, elevando-se majestosamente acima de seu enorme muro de mil torres… ao redor da grande praça, câmaras separadas para os peregrinos, como também para os sacerdotes que cuidavam do “Zigurate”. Koldewey chamava este conjunto de edifícios “o Vaticano da Babilônia”.

Tem sido sugerido que um dos significados do nome da deusa Astarte (Semiramis), escrito como “asht-tart”, quer dizer à mulher que fez torres. A deusa Cibele (que também tem sido identificada com Semiramis) foi conhecida como a deusa guardadora das torres, a primeira (diz Ovídio) que erigiu torres em cidades e foi representada com uma coroa em forma de torre em sua cabeça, como também o foi Diana. No simbolismo da igreja católica, uma torre é o emblema da virgem Maria.

Algumas antigas torres, como todos nós sabemos, foram edificadas com propósitos militares, como torres de vigia. Mas, muitas das torres que foram construídas no Império Babilônico eram exclusivamente torres religiosas, conectadas com um templo.

Embora estas torres tenham tomado diferentes formas em diferentes países, ainda assim as torres de uma forma ou de outra permanecem. As torres tomaram diferentes significados para diferentes fins, mas ainda sim, elas permanecem até os nossos atuais dias.Torres tem há muito sido uma parte estabelecida da religião dos chineses.Eles as chamam “pagode” e está ligado a palavra “deusa”.

Muitos desses pagodes estão a vários metros de altura e estão cobertos com esculturas representando cenas nas vidas dos deuses do templo, ou de santos eminentes.

O uso de torres também existe na cristandade — entre católicos e protestantes. A torre da grande catedral de Colônia eleva-se a 157 metros acima da rua, enquanto a da catedral de Ulm, na Alemanha, tem 161 metros de altura.

No topo de muitas torres de igrejas, um campanário frequentemente aponta para o firmamento.

O edifício da igreja herdando o complexo de edifício

O complexo de edifício está tão inculcado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, sua primeira ideia é encontrar um salão.

Templos, sacerdotes e sacrifícios

O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício. Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras vivas — “sem mãos [humanas]”. Ele é o que estabeleceu um novo sacerdócio. Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.

Como consequência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de Jesus Cristo.

Poder-se-ia dizer que o cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a pessoa que constituía o espaço sagrado, não a arquitetura.

Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (ekklesia), “templo”, ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios.

O uso inicial de um lugar de reunião cristã ocorre no ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215). Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I.

Mesmo assim, a referência “ir à igreja” de Clemente não trata de uma alusão a um edifício de alvenaria construído especialmente para a adoração dos membros, trata de um lugar privado que os crentes do século II usavam para suas reuniões.

Os cristãos primitivos também eliminaram os sacrifícios.

De igrejas caseiras a santas catedrais

Os primeiros cristãos acreditavam que a presença de Jesus é a própria presença de Deus. Eles acreditavam que o corpo de Cristo, a Igreja, constitui o templo. Quando o Senhor Jesus estava na terra, Ele fez algumas declarações negativas referindo-se ao templo judaico. A maior foi que o templo seria destruído. Mesmo Jesus referindo-se ao templo que existia no sentido arquitetônico, na realidade, Ele estava falando de seu próprio corpo.

A atitude de Jesus limpar o templo significa que a “adoração do templo” judaico seria substituída pela adoração a Ele próprio. Com Sua vinda, o Pai não seria adorado em uma montanha ou templo. Ele seria adorado em espírito e em verdade.

Quando o cristianismo nasceu, foi a única religião na terra sem objetos sagrados, pessoas sagradas, espaços sagrados. A fé cristã nasceu em casas e em salas de estar. Durante os primeiros três séculos, os cristãos não tiveram edifícios especiais. Alguns dizem que o fato deles reunirem-se em casas era devido à repressão. Isso não é verdade. Foi uma opção consciente e deliberada. Os cristãos não chamaram seus edifícios de “templos” até o século XV.

Capítulo 9

A criação de espaços e objetos sagrados

Nos séculos II e III os cristãos começaram a adotar o costume pagão de reverenciar mortos. Os cristãos do século III se reuniam em dois tipos de locais: Suas próprias casas e o cemitério. Eles acreditavam que compartilhar uma refeição em um cemitério onde fora enterrado um mártir significava celebrá-lo e cultuar juntamente com ele.

Construir um santuário em cima de uma tumba e chamá-lo “sagrado” também era uma prática pagã. Ressaltar que a cruz enquanto referência artística à morte de Cristo não foi adotada antes de Constantino. O crucifixo, a representação artística do Salvador pregado na cruz, surgiu no século V.O costume de fazer o “sinal da cruz” com a mão teve origem no século II.

Por volta do século II, os cristãos passaram a venerar os ossos dos santos, tidos como santos e sagrados. Eventualmente, isso deu origem às coleções de relíquias.

Durante o século IV, o cálice e o pão eram vistos como geradores de um senso de assombro, pavor e mística. Chegou a ponto de as igrejas do Oriente colocarem um toldo sobre a mesa do altar onde estavam o pão e o cálice.

Pelo século III, os cristãos tinham não apenas lugares sagrados, eles tinham também objetos sagrados.

Constantino — Pai do edifício da igreja

A história de Constantino (285-337 d.C.) abre uma página tenebrosa na história da cristandade. Foi ele quem iniciou a construção dos edifícios. A história é assombrosa. Quando Constantino entrou em cena, era favorável que os cristãos escapassem de sua condição de desprezo e de minoria.

Em 312 d.C., Constantino tornou-se César do Império Ocidental. Em 324, ele tornou-se Imperador de todo Império Romano. Pouco tempo depois ele começou a ordenar a construção de edifícios de igreja. Ele fez isso para promover a popularidade e a aceitação da cristandade.

O pensamento de Constantino era dominado pela superstição e pela magia pagã.

Mesmo após sua conversão ao cristianismo, Constantino nunca abandonou sua adoração ao deus sol. Em 321 d.C., Constantino decretou o domingo como dia de descanso. Confirmando sua afinidade com a adoração do sol, as escavações de São Pedro de Roma descobriram um mosaico de Cristo como o Sol Invencível.

Constantino usou decorações e rituais tanto pagãos como cristãos na dedicatória de sua nova capital, Constantinopla. Ele utilizou fórmulas de magia pagã para proteger as colheitas e sanaras enfermidades.

Constantino também fortaleceu a noção pagã de objetos e espaços sagrados. Devido principalmente à sua influência, o comércio de relíquias passou a ser bem comum na igreja. Também se destacou por trazer à fé cristã a ideia de “lugar santo” baseado no modelo do santuário pagão. O que mais impressiona é que depois de morto Constantino foi declarado “divino”. Após a morte de Constantino, o Senado proclamou-o deus pagão. E ninguém os impediu de fazer isso.

A verdade é que uma mentalidade de magia pagã imperou no Imperador Constantino. Indiscutivelmente, o pai do edifício da igreja.

O programa de construção de Constantino

Em 327 d.C., Constantino começou a construir os primeiros edifícios de igrejas ao longo do Império Romano. É interessante o fato dele ter nomeado suas igrejas com nomes de santos — da mesma forma que os pagãos nomeavam seus templos com nomes de seus deuses. Ele construiu suas primeiras igrejas sobre os cemitérios onde os cristãos honravam seus santos mortos.

Os mais famosos “espaços santos” foram: São Pedro, sobre o Monte do Vaticano (erigido em cima da suposta tumba de Pedro). São Paulo, do lado de fora dos muros da cidade (construída em cima da suposta tumba de Paulo).

A deslumbrante e magnífica igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém (construída em cima da suposta tumba de Cristo), e a igreja da Natividade em

Belém (construída sobre a suposta gruta onde Cristo nasceu). Constantino construiu nove igrejas em Roma e muitas outras em Jerusalém, Belém e Constantinopla.

Pelo fato da edificação ser considerada sagrada, o congregante necessitava passar por um ritual de purificação antes de entrar. Então, no século IV, foram construídos tanques no pátio para que os cristãos pudessem lavar-se antes de entrar no edifício.

Constantino decorava abundantemente os novos edifícios com arte pagã. Os edifícios das igrejas construídas por Constantino eram desenhados exatamente conforme o modelo da basílica. A basílica era o edifício governamental mais comum. Era desenhada segundo o estilo dos templos pagãos.

Ele também a favoreceu por sua fascinação com a adoração ao sol. As basílicas foram desenhadas de tal maneira que os raios solares caíam sobre o orador enquanto este falava à congregação. Igual aos templos gregos e romanos, as basílicas cristãs foram construídas coma fachada voltada para o leste.

A basílica cristã por dentro. Era uma réplica exata da basílica romana possuíam uma plataforma elevada de onde os clérigos ministravam. A plataforma tinha uma elevação com vários degraus. Também havia uma grade que separava o clero dos leigos. No centro do edifício ficava o altar. Era uma mesa (mesa do altar) ou arca coberta por uma tampa. O altar era considerado o lugar mais santo do edifício por duas razões. Primeiramente, este continha relíquias dos mártires.

Em segundo lugar, a Eucaristia (o pão e o cálice) estavam sobre o altar. A Eucaristia, agora vista como um sacrifício sagrado, era oferecida sobre o altar. Em frente ao altar havia a cadeira do Bispo.

Era rodeada por duas fileiras de cadeiras reservadas para os anciãos. O sermão era pregado desde a cadeira do Bispo. O poder e a autoridade repousavam nessa cadeira.

Em alguns lugares os templos pagãos existentes foram esvaziados de seus ídolos e convertidos em edifícios cristãos. Os cristãos usaram materiais das ruínas de templos pagãos e construíram novos edifícios cristãos nesses locais.

As maiores influências no culto

O edifício da igreja produziu mudanças significativas na adoração cristã. Pelo fato do Imperador ser a “personalidade” número um na igreja, um simples cerimonial não era suficiente. Para poder honrá-lo, a pompa e os rituais da corte imperial foram adotados pela liturgia cristã.

Constantino introduziu as velas e a queima de incenso como parte dos cultos da igreja. Toda essa parafernália acompanhava o clero quando ele entrava em cena.

Sob o reino de Constantino, os clérigos, que usavam roupas normais no princípio, passaram a vestir-se com roupa especial.

Também foi adotado o costume romano de iniciar o culto com músicos profissionais. Para este propósito, corais foram treinados e trazidos para a igreja cristã. O culto tornou-se mais profissional, dramático e cerimonial.

A cristandade do século XIV foi profundamente moldada pelo paganismo grego e pelo imperialismo romano.

Constantino proveu a paz para todos os cristãos. Sob seu reino, a fé cristã foi legitimada. Na realidade, esta superou em tamanho tanto o Judaísmo como o paganismo. Por estas razões, os cristãos viram a ascensão de Constantino ao trono do Império como um ato de Deus.

Os cristãos do século I eram avessos ao mundo e evitavam qualquer contato com o paganismo. Tudo isso mudou durante o século IV quando a igreja emergiu como uma instituição pública no mundo e começou a “absorver e cristianizar ideias e práticas religiosas pagãs”.

A história do edifício da igreja é a triste saga do cristianismo adotando práticas da cultura pagã. Foi uma adoção que transformou radicalmente a cara de nossa fé. Eles se impregnaram com a ideia pagã de que existe um lugar especial onde Deus mora de uma maneira especial.

O edifício da igreja foi adotado diretamente da cultura pagã.

A velha parafernália mosaica de sacerdotes sagrados, edifícios sagrados, rituais sagrados e objetos sagrados foi destruída para sempre na cruz de Cristo.

A evolução da arquitetura da igreja

Depois da era Constantino os edifícios das igrejas passaram por várias etapas diferentes.

Examinando rapidamente a arquitetura eclesiástica vemos que após Constantino, a arquitetura cristã passou da fase basilical para a fase bizantina.

As igrejas bizantinas tinham grandes cúpulas centrais além de ícones e mosaicos decorativos. Depois da arquitetura bizantina veio a Românica. Os edifícios românicos se caracterizavam por uma elevação de três plantas, com gigantescas colunas sustentando arcos redondos e um interior colorido.

Após o período românico veio a era gótica no século XII. A arquitetura gótica foi marcada por catedrais com abóbadas, arcos e pilastras pendentes.

Os vitrais foram introduzidos nas igrejas no século VI por Gregório de Tours (538-593d.C.).

Grandes painéis de vitrais coloridos preencheram as paredes das igrejas góticas emitindo uma forte luz de diferentes cores. Também havia cores escuras e bonitas, criando um efeito de uma nova Jerusalém. Os vitrais dos séculos XII e XIII raramente foram superados em beleza e qualidade. Com suas cores deslumbrantes, os vitrais criaram um sentido expressivo de majestade e esplendor. Provocaram sentimentos associados à adoração de um Deus poderoso e intimidatório.

Os arquitetos góticos dependeram muito dos ensinos do filósofo grego Platão. Este filósofo ensinou que o som, a cor e a luz possuíam significados elevados e místicos. Que podem induzir humores e transportar as pessoas ao “Bem Eterno”. Criaram sistemas de luz assombrosos e inspiradores para dar um irresistível sentido de esplendor e de adoração.

A catedral gótica fomenta um sentimento místico, transcendente e assombroso. Os edifícios eclesiásticos basilicais, românicos e góticos foram tentativas humanas de retratar o celestial e o espiritual.

A principal mensagem da arquitetura gótica é: “Deus é transcendente e inalcançável — resta-nos temer Sua majestade.

O edifício da igreja protestante

Os reformadores eram em sua maioria sacerdotes. Consequentemente, eles estavam inadvertidamente condicionados aos padrões do pensamento Católico Medieval. Eles executaram bem poucas mudanças funcionais no que diz respeito à sua arquitetura.

O verdadeiro núcleo da Reforma foi a ideia de que as pessoas não poderiam conhecer a Deus nem crescer espiritualmente amenos que elas ouvissem a pregação. Portanto, quanto os reformadores herdaram os edifícios eclesiásticos existentes, eles os adaptaram para tal finalidade.

O campanário

Os babilônios e egípcios construíram obeliscos e pirâmides que refletiam sua crença de que eles estavam dando um passo para a imortalidade. Quando a filosofia e a cultura grega prevaleceram, a arquitetura abandonou a verticalidade e assumiu a horizontalidade, sugerindo a crença grega na democracia, na igualdade entre os homens, e nos deuses terrestres e prosaicos.

Com o desenvolvimento da Igreja Católica Romana, a prática de produzir campanários para coroar os edifícios ressurgiu. Quando a arquitetura religiosa entrou no período românico, os campanários começaram a aparecer nos topos e cantos de cada catedral construída no Império Romano.

Oposta à arquitetura grega, a linha característica da arquitetura gótica era vertical, que sugeria um esforço para alcançar as alturas. Por este tempo, por toda Itália, começaram a surgir torres na fachada dos edifícios das igrejas.

Em suma, o moderno campanário é uma invenção Medieval que tem suas raízes nas hastes e nas torres góticas. Foi melhorada e popularizada pelo programa de construção do Sr. Cristofer Wren em Londres depois do grande incêndio no ano de 1666.

Quando os puritanos apareceram, eles construíram seus edifícios (igrejas) de uma maneira bem mais simples que seus predecessores católicos e anglicanos. Mas eles mantiveram a haste.

A mensagem da haste é algo que contradiz a mensagem do NT. Os cristãos não necessitam subir até os céus para encontrar Deus. Ele está aqui mesmo.

O púlpito

Os primeiros sermões foram proferidos da cadeira do Bispo. Posteriormente em o ambo, uma mesa alta ao lado do santuário, diante da qual as lições bíblicas eram ministradas, tornou-se o lugar onde os sermões passaram a ser proferidos. Já em 250 d.C. o ambo foi substituído pelo púlpito.

Em 252 d.C., Cipriano menciona a plataforma elevada que separa o clero dos leigos como “a plataforma sagrada e venerada do clero.” Pelo fim da Idade Média, o púlpito tornou-se bem comum nas igrejas paroquiais.

O púlpito dominou nas igrejas reformadas e o altar finalmente desapareceu sendo substituído pela “mesa da comunhão”. Hoje é impensável um culto protestante sem a presença da “mesa sagrada”.

O púlpito é daninho porque eleva o clero a uma posição de proeminência.

O banco e o balcão

Os bancos foram coisas estranhas ao mobiliário das igrejas durante os primeiros mil anos da história cristã. Nas primeiras basílicas, a congregação permanecia em pé durante todo oculto.

Já pelo século XIII, bancos sem encosto foram gradualmente introduzidos nos edifícios das igrejas inglesas. Depois foram deslocados para a área central da igreja (a área chamada nave). Inicialmente os bancos eram ordenados em semicírculo rodeando o púlpito. Mais tarde eles foram fixados ao piso.

O banco moderno foi introduzido no século XIV, mas não chegou a ser comum até o século XV.

A arquitetura da igreja moderna

Durante os últimos duzentos anos, os modelos arquitetônicos dominantes empregados pelas igrejas protestantes podem ser classificados de duas formas: O estilo santuário (usado nas igrejas litúrgicas) e o estilo palco (usado nas igrejas evangélicas). O santuário é a área onde o clérigo (e eventualmente o coro) conduz o culto. Nas igrejas tipo palco, há uma grade ou tela que separa o clero do leigo.

No edifício estilo santuário há uma pequena mesa de comunhão usualmente localizada num plano inferior ao púlpito. A mesa de comunhão é tipicamente decorada com castiçais de metal, uma cruz e flores. Duas velas na mesa da comunhão caracterizam a ortodoxia na maioria das igrejas protestantes de hoje. Assim como muitos aspectos do culto da igreja, a presença foi adotada da corte cerimonial do Império Romano.

Toda arquitetura protestante produz o mesmo efeito estéril presente nas basílicas constantinianas, que continua preservando o abismo não bíblico entre o clero e o leigo. Em suma, a arquitetura cristã está congelada desde seu nascimento no século IV.

A exegese do edifício

O local físico onde ocorre o encontro social da igreja expressa e influencia o caráter da igreja. Cada edifício onde nos reunimos exige uma resposta de nossa parte. Por seu interior e exterior ele nos mostra explicitamente o que a igreja é e como funciona. O formato do edifício reflete sua função particular. O local de uma igreja nos ensina como nos encontrarmos. Nos ensina o que é importante e o que não é. E nos ensina o que é aceitável dizer a um ao outro e o que não é.

O fato de uma igreja se reunir em casas foi fator determinante para seu caráter. O local de reunião da igreja joga um papel crucial na vida da igreja. Não pode ser assumido como uma simples “incidental verdade histórica”. O local de reunião pode ensinar péssimas lições a pessoas boas e sinceras e pode também sufocar suas vidas. Chamar a atenção para a importância do local de reunião da igreja (casa ou edifício de igreja) ajuda-nos a compreender o tremendo poder de nosso ambiente social.

A separação entre o culto e a vida cotidiana caracteriza a cristandade ocidental. O culto é visto como algo separado da estrutura da vida, como um produto a ser consumido. Séculos de arquitetura gótica têm nos ensinado mal sobre o que o culto realmente é. Poucas pessoas podem caminhar em uma poderosa catedral sem experimentar o poder do espaço.

Nossos sentidos interagem com o espaço para produzir um estado particular de alma. Um estado de assombro, místico e transcendente que visa um escape da vida normal.

Nos círculos protestantes, “bons” líderes de louvor são aqueles que conseguem usar a música para produzir aquele mesmo efeito que outras tradições lograram com o vasto espaço, o estado de espírito de venerabilidade.

Esta disjunção entre secular e espiritual é realçada quando o edifício de igreja típico faz com que você seja “processado” ao subir suas escadarias ou mover-se em seu interior. A razão disso é que você desloca-se da vida cotidiana para outra vida. Tal transição é requerida. Tudo isso fracassa no teste da segunda-feira. Não importa quão bom foi domingo, a segunda-feira pela manhã vem colocar nosso culto a prova.

Além disso, o edifício da igreja não é um lugar amistoso. É frio, incômodo e impessoal. Não foi projetado para intimidade nem companheirismo.

A arquitetura da Igreja Protestante dirige todas as atenções para a pessoa que profere o sermão. O edifício se presta para que o púlpito domine a atividade. Assim, este restringe o funcionamento da congregação.

Em outras palavras, tal arquitetura sugere que a única forma de comunhão entre Deus e Seu povo é via pastor.

O consenso geral entre os cristãos de todas as denominações é que “igreja é essencialmente um lugar separado para o culto”. Isto tem sido considerado verdadeiro pelos últimos 17 séculos. Constantino ainda vive e respira nas mentes da maioria dos cristãos de nossos dias.

O obsceno alto custo da manutenção

O edifício eclesiástico demanda um grande desperdício de dinheiro. Apenas nos Estados Unidos os bens imóveis possuídos pelas igrejas institucionais hoje supera 230 bilhões dólares.

A questão central é: Os cristãos modernos estão desperdiçando uma enorme quantidade de dinheiro com edifícios desnecessários. A cristandade cresceu rapidamente por cerca de 300 anos sem a ajuda (obstáculo) desses edifícios.

Os que optam por reunir-se em casas em vez de edifícios eclesiásticos eliminam esses altos gastos gerais: O salário do pastor e o gasto do edifício. A diferença entre esse alto gasto e o de uma congregação caseira é brutal. Em vez de pessoal pago mais o “alto gasto” do edifício tragando como um sifão de 50 a 85 % do dinheiro arrecadado da comunidade, a congregação caseira poderia dedicar esse montante para outros serviços mais proveitosos como ministérios, missões locais e distantes.

Podemos superar essa tradição?

Não existe a menor prova de base bíblica para o edifício da igreja. De alguma maneira fomos ensinados a nos sentir mais santos quando estamos na “Casa de Deus”. Herdamos uma dependência patológica de um edifício para adorar a Deus.

Enfim, o edifício da igreja nos ensinou de uma maneira errada o significado da igreja e sua finalidade. O edifício é uma negação arquitetural do sacerdócio de todos os crentes.

Capítulo 10

A cruz é um símbolo cristão?

A cruz é reconhecida como um dos símbolos mais importantes da Igreja Católica Romana. Ela está colocada no topo de telhados e torres. É vista nos altares, mobiliário, e roupas eclesiásticas. O plano da nave da maioria das igrejas católicas é feito na forma de uma cruz. Todos os lares católicos, hospitais, e escolas têm a cruz adornando as paredes. Em toda parte a cruz está honrada e adorada ostensivamente — de centenas de maneiras.

As igrejas protestantes, em sua maioria, não acreditam em fazer sinal da cruz com os dedos. Nem se ajoelham diante de cruzes ou usam-nas como objetos de adoração. Eles têm reconhecido que estas coisas são anti-escriturísticas e supersticiosas. Mas o uso da cruz tem sido comumente relido em torres ou púlpitos, e de várias outras maneiras como uma forma de decoração.

Os cristãos primitivos não consideravam a cruz como um símbolo virtuoso, mas antes “o madeiro maldito”, um instrumento de morte e de “vergonha” (Heb. 12:2). Eles jamais falaram da cruz como uma peça de madeira que alguém tinha que conduzir pendurada em uma correntinha ao redor do pescoço ou levar cm sua mão como uma proteção ou amuleto. Tais usos da cruz vieram mais tarde.

No sexto século, a imagem do crucifixo foi sancionada pela igreja de Roma. Não foi até o segundo Concilio de Éfeso que lares particulares foram solicitados a possuírem uma cruz.

Se a cruz for um símbolo cristão, não se pode dizer que sua origem está dentro do cristianismo, pois de uma forma ou de outra ela era um símbolo sagrado muito antes da Era Cristã e entre muitos povos não cristãos. A cruz originou-se entre os babilônios da antiga Caldéia.

A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, os pagãos foram recebidos dentro das igrejas independente da regeneração peia fé, e foram permitidos abertamente reter seus signos pagãos e símbolos.

Diz um importante historiador em referência ao Egito: Aqui, sem mudança, por milhares de anos, descobrimos entre os seus mais sagrados hieróglifos a cruz em várias formas, mas aquela conhecida especialmente como a cruz do Egito”, ou a cruz Tau, é da forma da letra T, frequentemente com um círculo ou ovoide acima dela. Ainda este símbolo místico não era peculiar a este país, mas era reverenciado entre os caldeus, fenícios, mexicanos, e todos os povos antigos cm ambos os hemisférios”.

A cruz tem sido um símbolo sagrado na índia por séculos entre povos não cristãos.

Os budistas, e numerosas outras seitas da Índia marcavam seus seguidores na cabeça com o sinal da cruz. No continente africano, em Susa, nativos mergulham uma cruz no rio Gitche. As mulheres cabilas embora sejam maometanas, tatuam uma cruz entre os olhos.

São inúmeros os povos que utilizam a cruz como símbolo de sua religiosidade e fé.

As Virgens Vestais da Roma pagã usavam cruzes penduradas em seus colares, como as freiras da igreja católica romana o fazem agora. Porcelli menciona que Ísis era mostrada com uma cruz em sua testa. Seus sacerdotes carregavam cruzes em procissão em sua adoração a ela.

A cruz era usada como um símbolo religioso pelos aborígenes da América do Sul nos tempos antigos. Crianças recém-nascidas eram colocadas debaixo de sua proteção contra os maus espíritos.

Cruzes também figuravam nas roupas de Rot-n-no nada menos do que no século XV antes da Era Cristã.

A The Catholic Encyclopedia reconhece que “o sinal da cruz, representada na sua forma mais simples pelo cruzamento de duas linhas em ângulos retos, antedata grandemente, tanto no Oriente como no Ocidente, a introdução do cristianismo. Ele remonta a um período muito remoto da civilização humana”.

A crucificação, como um método de morte “era usado em tempos antigos como punição para crimes flagrantes no Egito, Assíria, Pérsia, Palestina, Cartago, Grécia, e Roma…A tradição atribui a invenção da punição da cruz a uma mulher, a rainha Semiramis’’.

Cristo morreu em uma cruz — fosse de que tipo fosse — e ainda muitos tipos de cruzes são usados na religião católica.

Se o uso católico romano da cruz começou simplesmente com a cruz de Cristo — e não foi influenciado por nenhum paganismo — por que existem tantos tipos diferentes de cruzes que são usados?

A cruz conhecida como a cruz TAU era largamente usada no Egito. O que e conhecida como a cruz GREGA foi também encontrada em monumentos egípcios. A forma da cruz que é hoje conhecida como a cruz LATINA era usada pelos etruscos, conforme é vista em um antigo túmulo pagão com anjos alados de cada lado dele.

Entre os cumas da América do Sul, a que (em sido chamada de cruz de SANTO ANDRÉ, era vista como protetora contra maus espíritos.

A palavra grega “cruz” significa uma estaca reta levantada, ou poste.

A declaração de Tomé a respeito do sinal de cravos (plural) nas mãos de Jesus (João 20:25) pareceria indicar uma peça cruzada, pois em uma simples estaca suas mãos teriam provavelmente sido transpassadas com um só cravo. Deixando espaço acima de sua cabeça para a inscrição (Lucas 23:38), estas coisas tenderiam a favorecer o que tem sido chamada de cruz Latina. Cruzes em formato de um “T” ou “X” podem ser eliminadas, uma vez que estas não dariam provavelmente espaço suficiente acima da cabeça, para a inscrição.

Quanto à forma exata da cruz de Cristo, todos esses argumentos tornam-se insignificantes, quando comparados com o real significado da cruz — não a peça de madeira, mas a eterna redenção de Cristo.

Uma outra perspectiva do salvador: Jesus, o revolucionário

Jesus Cristo não é apenas o Salvador, o Messias, o Profeta, o Sacerdote, e o Rei. Ele é também o Revolucionário.

Nosso Senhor não é intrinsecamente crítico ou severo. Ele é pleno de misericórdia e de bondade, e ele ama Seu povo apaixonadamente. E é por isso que Ele não se comprometerá com as tradições inquebrantáveis que amarraram seu povo. Ele tampouco ignorará nossa fanática devoção a elas.

Tradições dos escribas e fariseus. Ele não fazia isso de forma casual, mas deliberadamente. Os fariseus foram os que, pela “verdade” que enxergavam, intentaram extinguir a verdade que eles não conseguiam ver. Isto explica porque sempre houve uma tormentosa controvérsia entre a “tradição dos anciãos” e os atos de Jesus.

O que se necessita é uma revolução dentro da fé cristã. Movimentos de renovação não farão isso. Revivamentos não atingirão isso. Ambos foram plenos nos últimos 50 anos. Movimentos de renovação e revivamentos nunca foram suficientemente potentes para quebrar a imensa inércia da tradição religiosa.

Movimentos de renovação e novas formas para a igreja são como mudar as roupas de um manequim. Por mais que troquemos essa roupa nunca daremos vida a ele, não importa quão de vanguarda ela seja. Não! É necessário meter fogo na raiz do problema e acender uma revolução.

Capítulo 11

Batismo e ceia do senhor: diluindo os sacramentos

Diluindo as águas do batismo

A maioria dos cristãos evangélicos pratica e acredita no “batismo dos crentes” ao invés do “batismo infantil”.

É típico na maioria das igrejas modernas somente aplicar o batismo depois de passado um grande período de tempo após a conversão. Muitos cristãos são salvos em determinado momento e batizados muito tempo depois. No século I esta prática era desconhecida.

Na igreja primitiva, os convertidos eram batizados imediatamente após a conversão.

No século I, o batismo em água era a confissão externa da fé de uma pessoa. Mais que isso, era a forma como alguém vinha ao Senhor no século I. Por esta razão, a confissão do batismo vincula-se vitalmente ao exercício da fé salvadora. Tanto que os escritores do NT muitas vezes utilizavam o “batismo” em vez da palavra “fé” referindo-se a ser “salvo”.

Alguns cristãos influentes ensinavam que o batismo necessitava ser precedido por um período de instrução, oração e jejum. Esta tendência piorou no século III quando alguns dos novos convertidos tinham que esperar até três anos pelo batismo.

O batismo chegou a ser um ritual adornado e rígido que havia adotado muitos aspectos das culturas judias e gregas — complicado com a bênção da água, tirar toda roupa, ungir de azeite, exorcismo, e dar leite com mel à pessoa recém batizada. Isto chegou a ser um ato de obras em vez de fé.

O legalismo que envolvera o batismo revelou um outro conceito mais surpreendente: somente o batismo perdoa pecado. Se uma pessoa comete pecado depois do batismo ela não pode ser perdoada.

A ceia do Senhor

Rios de sangue foram derramados tanto por mãos protestantes como católicas por causa de intrincadas doutrinas relacionadas à Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor, uma vez preciosa e viva, chegou a ser o centro do debate teológico por muitos séculos. Tragicamente, esta se moveu de um quadro dramático e concreto do corpo e do sangue de Cristo para um exercício intelectual abstrato e metafísico.

Hoje, a tradição forçou-nos a tomar a Ceia com um dedalzinho com suco de uva e um pedacinho de pão ou biscoito sem gosto. Toma-se a Ceia em um ambiente de penumbra e morte. Pedem que recordemos os horrores da morte de Nosso Senhor e reflitamos sobre nossos pecados. A Santa Ceia, essencialmente, era um banquete cristão.

Truncando a ceia

Durante o século I e a primeira parte do II, os primeiros cristãos descreviam a Santa Ceia como a “festa do amor”. Naquele tempo eles tomavam o pão e o cálice dentro do contexto de uma ceia festiva. Mas por volta do tempo de Tertuliano (160-225), houve um início de separação do pão e do cálice da Ceia. Pelo fim do século II, a separação foi completa.

Com o fim da ceia, os termos “partir o pão” e “Ceia do Senhor” sumiram. Agora, o termo comum do ritual truncado (apenas pão e cálice) era “Eucaristia”.

O misticismo associado à Eucaristia deveu-se à influência do misticismo religioso pagão. Tais religiões eram permeadas de mistério e superstição. Com esta influência, os cristãos começaram a atribuir nuances sagradas ao pão e ao cálice. Eram vistos como objetos santos em si mesmos.

Pelo século X houve uma mudança de pensamento e de linguagem. A palavra “corpo” já não era mais utilizada referindo-se à igreja. Era utilizada apenas referindo-se ao corpo físico do Senhor ou ao pão da Eucaristia.

Como o sacerdote católico, muitos pastores ministram a ceia e recitam as palavras da instituição: “Este é o meu corpo” antes de distribuir os elementos à congregação. Da mesma forma que a Igreja Católica.

Constantino e a cruz

Um fator de destaque que contribuiu para a adoração da imagem da cruz dentro da igreja romanista foi a famosa “visão da cruz” e subsequente “conversão” de Constantino. Quando ele e seus soldados se aproximaram de Roma, estavam prestes a enfrentar o que é conhecido como a Batalha da Ponte de Milvian.

No caso de Constantino foi dito a ele que os deuses não viriam em sua ajuda, que ele sofreria derrota na batalha. Mas, então, em uma visão ou sonho, como ele relatou mais tarde, apareceu uma cruz para ele e as palavras, “neste sinal conquistarás”. No dia seguinte — 28 de outubro de 312 — ele avançou por trás de um estandarte com a figura de uma cruz. Ele foi vitorioso naquela batalha, venceu seu rival, e professou conversão. É claro que tal aparente vitória para a cristandade teve muito a ver com o uso posterior da cruz na igreja romanista.

O Império Romano (do qual Constantino tornou-se o cabeça) tem sido descrito nas Escrituras como uma “besta”.

Daniel viu quatro bestas que representavam quatro impérios mundiais. A quarta besta, o Império Romano, era tão horrível que foi simbolizada por uma besta que não parecia com qualquer outra (Daniel 7:1-8). Um verdadeiro monstro horrendo.

Muito embora sua visão tivesse muito a ver com o estabelecimento de certas doutrinas e costumes dentro da igreja, os fatos mostram plenamente que ele não foi verdadeiramente convertido.

Provavelmente a indicação mais óbvia de que ele não foi realmente convertido pode ser vista no fato que, após sua conversão, ele cometeu vários assassinatos, incluindo o de sua própria esposa e filho.

A mãe de Constantino, contudo, persuadiu-o que sua esposa tinha cometido incesto com seu filho. Constantino fez Fausta ser afogada até a morte em um banho superaquecido.

Constantino realmente concedeu numerosos favores aos cristãos, aboliu a morte por crucificação, e as perseguições que haviam se tornado tão cruéis em Roma, acabaram. Mas ele tomou estas decisões partindo puramente de convicções cristãs ou teve motivos políticos para agir assim? Tem sido afirmado consequentemente que Constantino favoreceu o cristianismo meramente por motivos políticos.

Ele raramente se adaptou às exigências cerimoniais da adoração cristã. Suas cartas aos bispos cristãos tornaram claro que ele pouco ligava para as diferenças teológicas que agitavam o cristianismo — embora estivesse desejoso de suprimir as divisões, no interesse da unidade imperial. Por todo o seu reino ele tratava os bispos como seus ajudantes políticos; ele os convocava, presidia seus concílios, e concordava em reforçar qualquer opinião que sua maioria formulasse. Um crente verdadeiro teria sido um cristão em primeiro lugar e um estadista em segundo; com Constantino foi o contrário. O cristianismo era para ele um meio, não um fim.

O cristianismo de Constantino era uma mistura. Embora ele tivesse sua estátua removida dos templos pagãos e tivesse renunciado ao oferecimento de sacrifícios para si mesmo, ainda assim as pessoas continuavam a falar da divindade do imperador.

O conceito pelo qual a Igreja Católica Romana desenvolveu-se e cresceu — o conceito de misturar paganismo e cristianismo como uma força unida — está claramente ligado a Constantino e os anos que seguiram, nos quais a igreja tornou-se muito rica e aumentou consideravelmente seus bens.

As leis entre os judeus exigiam que as cruzes fossem queimadas após serem usadas para a crucificação.

Ezequias fez o que era “reto” — não somente destruindo ídolos pagãos — mas até mesmo aquele que Deus havia ordenado, pois já havia servido seu propósito original e agora estava sendo usada de maneira supersticiosa.

Capítulo 12

As Relíquias do Romanismo

Grosseira superstição que tem acompanhado o uso de relíquias revela a decepção e inconsistência com as quais o romanismo tem sido assolado por séculos. Entre as relíquias mais altamente veneradas tem havido pedaços da “verdadeira cruz”.

O notável reformador, João Calvino (1509-1564), mencionou a inconsistência de várias relíquias do seu dia. Várias igrejas diziam que possuíam a coroa de espinhos; outras as talhas usadas por Jesus no milagre de Caná. Um pouco do vinho podia ser achado em Orleans.

O berço de Jesus era exibido para veneração cada véspera de Natal na igreja de Santa Maria Maior em Roma. Várias igrejas afirmavam que tinham as fraldas de Jesus.

Outras relíquias incluem as ferramentas de carpinteiro de José, ossos do jumentinho no qual Jesus cavalgou entrando em Jerusalém, e até a mamadeira de Jesus foi apresentada aos fiéis. E esses são apenas alguns exemplos.

De acordo com a crença católica, o corpo de Maria foi tomado para o céu. Porém, várias diferentes igrejas na Europa reclamam ter o corpo da mãe de Maria, muito embora nada saibamos a respeito dela. Os católicos acreditam que a casa na qual Maria viveu em Nazaré está agora na cidadezinha de Loreto, na Itália, tendo sido transportada para lá pelos anjos.

A veneração de corpos mortos de mártires foi ordenada pelo Concílio de Trento que também condenou aqueles que não acreditavam nas relíquias: “Os santos corpos dos santos mártires… devem ser venerados pelos fiéis, pois através desses corpos muitos benefícios são derramados por Deus sobre os homens, de modo que, aqueles que afirmam que veneração e honra não são devidas às relíquias dos santos…devem ser completamente condenados, como a Igreja há muito os tem condenado e ainda os condena”. Desde que se acreditava que “muitos benefícios” advinham dos ossos de homens mortos, a venda de corpos e ossos tornou-se um grande negócio.

Em torno de 750, longas filas de carroções constantemente iam para Roma, levando imensas quantidades de crânios e esqueletos que eram classificados, etiquetados, e vendidos pelos papas.

Quando o papa Bonifácio IV converteu o Panteon em uma igreja cristã em mais ou menos 609, “vinte e oito carretas carregadas de ossos sagrados das Catacumbas foram descarregadas em uma bacia de pórfiro abaixo do altar-mór”.

Muitas lendas são contatadas a respeito desse fato. Uma delas diz que quando Nimrode, o falso “salvador” da Babilônia morreu, seu corpo foi dividido junta por junta — e as partes foram enterradas em diferentes lugares. Quando ele foi “ressuscitado”, tornando-se o deus-sol, foi ensinado que estava agora em um corpo diferente, tendo deixado para trás os membros do velho corpo.

Desde que o Egito era um lugar de relíquias multiplicadas, a sabedoria de Deus no sepultamento secreto de Moisés é compreensível (Dt. 34:6). Ninguém sabia o lugar do seu sepultamento e não se podiam fazer peregrinações sagradas à sua tumba.

É desnecessário dizer que o uso de relíquias é muito antigo e não se originou com o cristianismo.

Não vemos relíquias como algo que tem parte na verdadeira adoração, pois “Deus é Espírito: e importa que aqueles que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). O extremismo ao qual tem conduzido o uso de relíquias, não e uma verdade. Alguns dos ossos que já foram aclamados como ossos de santos, têm sido expostos como ossos de animais.

Certa vez foi apresentado o que seria uma parte da asa do anjo Gabriel. Sob investigação, contudo, descobriu-se que era uma magnífica pena de avestruz.

Se não haveria virtude real no verdadeiro cabelo, osso, ou vestido, quanto menos poderá existir mérito em relíquias que se sabe que são falsificações?

Capítulo 13

Fraude religiosa

Vendas de relíquias, ofícios da igreja, e indulgências, tornaram-se um grande negócio dentro da igreja da Idade Média. O papa Bonifácio VIII declarou um jubileu para o ano 1300 e ofereceu indulgências liberais para aqueles que fizessem uma peregrinação até a Basílica de São Pedro. Calcula-se que dois milhões de pessoas foram lá aquele ano e depositaram tal tesouro diante do suposto túmulo de São Pedro e que dois padres com rodos nas mãos ficavam dia e noite ocupados, recolhendo o dinheiro. A maior parte desta fortuna foi usada pelo papa para enriquecer seus próprios parentes que compraram numerosos castelos e esplêndidos terrenos no Lácio. Isto foi algo que trouxe forte ressentimento para o povo de Roma.

Desde os dias de Constantino, a igreja romana havia aumentado em riquezas rapidamente. Na Idade Média, a igreja possuía cidades inteiras e vastas porções de terra. Aqueles que viviam nos países católicos eram exigidos que pagassem impostos para a igreja. Naqueles dias, poucas pessoas sabiam escrever, de modo que os padres eram frequentemente envolvidos em testamentos. Em 1170 o papa Alexandre III decretou que ninguém podia fazer um testamento a não ser na presença de um padre.

Outra fonte de dinheiro era a venda de indulgências. Uma indulgência oferece ao penitente pecador os meios de pagar esta dívida durante esta vida na terra.

De acordo com a doutrina católica a fonte das indulgências é constituída pelos méritos de Cristo e dos santos, mas se Cristo é “a propiciação pelos nossos pecados” e seu sangue “nos purifica de todo pecado” (1 João 1:7; 2:2), por quais meios podem os méritos de Maria e outros santos possivelmente adicionar algo a isto? O que Maria e os outros santos fizeram nada pode acrescentar à obra consumada de Cristo no Calvário.

Sem um fundamento escriturístico apropriado, não é pouco admirável que a ideia das indulgências conduzisse a muitos abusos. Uma vez que a concessão de indulgências estava comumente ligada a dinheiro. Indulgências eram empregadas por eclesiásticos mercenários como meio de ganho pecuniário. Abusos se espalharam.

Thomas Gascoigne, Chanceler da Universidade de Oxford, queixou-se que os vendedores de indulgência que vagueavam pela terra, algumas vezes davam uma carta de perdão pelo pagamento de dois centavos, ou por um copo de cerveja, pelo aluguel de uma prostituta, ou por amor carnal.

No tempo de Martinho Lutero, por causa da construção da Basílica de São Pedro, um esforço especial foi feito pelo papa, para levantar dinheiro através da concessão de indulgências.

Os ricos davam grandes doações, enquanto os pobres camponeses sacrificavam o que podiam a fim de ajudarem seus queridos no purgatório, ou para obter perdão de seus próprios pecados.

Maninho Lutero afixou suas famosas Noventa e Cinco Teses à porta da Catedral de Wittenberg, Alemanha. (Sua tese de número 27 era contra a ideia que assim que o dinheiro peneirava na caixa da coleta, as almas escapavam do purgatório).

Lutero começou a falar contra a venda de indulgências e, eventualmente, contra as indulgências propriamente ditas. Ele foi denunciado em uma Bula do papa Leão X, por dizer, “As indulgências são uma fraude religiosa… as indulgências não livram aqueles que as ganham da penalidade devida ao pecado à vista da justiça divina”.

O trabalho da Reforma fez um bom serviço ao expor os abusos de dar dinheiro a favor das almas no Purgatório. Hoje as pessoas não escutam que o dinheiro pode pagar pela libertação daquelas almas atormentadas.

Uma Missa Solene pode ser muito cara, dependendo das flores, velas, e número de padres que tomam parte na mesma.

A Missa baixa, por outro lado, é muito menos cara — somente seis velas são usadas e é repetida em voz baixa. Os irlandeses têm um ditado, “Alto dinheiro, ALTA Missa; baixo dinheiro, BAIXA Missa; nenhum dinheiro, NENHUMA MISSA!”

Aqueles que morrem sem ninguém que pague missas em seu favor, são chamados “as almas esquecidas no Purgatório”. Uma contribuição cada ano para a sociedade assegurará a ele que, após sua morte, orações serão ditas por sua alma.

Nenhum papa, padre, ou pregador pode garantir a salvação de qualquer pessoa, viva ou morta, na base de qualquer quantia de dinheiro dada para suas orações.

Pedro claramente afirma que ‘‘não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (I Pedro 1:18.).

As ideias católico-romanas a respeito do Purgatório (e as orações para ajudar aqueles que estão no Purgatório) não foram os ensinamentos de Cristo e dos apóstolos.

Durante o século doze, uma lenda foi espalhada que dizia que São Patrício havia encontrado a verdadeira entrada para o Purgatório. Essa suposta entrada ficaria na Irlanda. Turistas vinham de longe e de perto para visitarem o local. Em seguida abusos financeiros desenvolveram-se e em 1497 o papa Alexandre VI ordenou que fosse fechado por ser um a fraude.

Crenças a respeito de um purgatório circularam durante muito tempo.

Existe uma descrição elaborada do sofrimento purgatorial nos escritos sagrados do Budismo. Houve tempos em que tantos budistas chineses foram comprar rezas para a libertação dos seus amados do purgatório que lojas especiais tiveram que ser montadas para este propósito.

O conceito de dar dinheiro a favor dos mortos é muito antigo. Um ponto que pode ser visto dentro da própria Bíblia. Aparentemente os israelitas foram expostos a esta crença, pois foram advertidos a não dar dinheiro “para algum morto” (Dt. 26:14). Após apresentar detalhadas evidências para sua conclusão, Hislop diz: “Em todo sistema, portanto, exceto o da Bíblia, a doutrina do purgatório após a morte, e rezas pelos mortos, tem sempre ocupado um lugar”.

Os israelitas foram advertidos várias vezes para não fazerem “sua semente passar no fogo para Moloque” (Lv. 18:21; Jr. 32:35; II Reis 23:10). Moloque (que alguns identificam com Bel ou Nimrode) era adorado “com sacrifícios humanos, purificações… com mutilação, votos de celibato e virgindade, e devoção do primogênito”.

O preço já foi pago — por Jesus Cristo! A Salvação é pela graça — por um favor que jamais poderia ser merecido por dinheiro, obras humanas, ou sacrifícios. “Pois pela GRAÇA sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é DOM de Deus: não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Ef. 2:8,9).

Capítulo 14

Pastor: ladrão do funcionamento de cada membro

O pastor é a figura fundamental da fé protestante. O pastor é tão predominante nas mentes da maioria dos cristãos que, na realidade, ele é mais bem conhecido, mais louvado, mas mais confiado do que o próprio Jesus Cristo. Remova o pastor e o moderno cristianismo entra em colapso. Não há um só versículo em todo NT que apoie a existência do moderno pastor dos nossos dias. Ele simplesmente nunca existiu na igreja primitiva.

O Pastor é Bíblico… Certo?

Portanto, “Pastor” é uma metáfora que descreve uma função específica na igreja. Não é uma profissão nem um cargo. Assim, pois, Efésios 4:11 não se refere a um cargo pastoral, mas meramente a uma das muitas funções na igreja. Pastores são aqueles que naturalmente provêm nutrição e cuidado às ovelhas de Deus. Porém, é um profundo erro confundir pastores com um ofício ou título como comumente se concebe hoje.

Lamentavelmente, nós definimos esta palavra com nosso próprio conceito ocidental sobre o que é um pastor. Nós compreendemos a ideia moderna de pastor moderno como apoiada pelo NT. Nem mesmo a imaginação de um homem alucinado conceberia o moderno ofício pastoral no cristianismo do século I. Os católicos cometeram o mesmo erro com a palavra “sacerdote”.

De onde vem o pastor?

Com a queda do homem surgiu um desejo implícito na raça humana de ter um líder físico para levá-lo a Deus. Por esta razão, as sociedades humanas através da história criaram consistentemente uma casta espiritual e especial de ícones religiosos.

Este desejo está em nosso sangue. Ela sempre é marcada por um treinamento especial, uma roupa especial, um vocabulário distinto e uma maneira de vida singular.

Samuel. Deus quis que seu povo vivesse sob sua proteção direta, mas Israel clamou por um rei humano. Alguns pesquisadores sugerem que a doutrina dos nicolaítas, que Jesus condena em Apocalipse 2:6, é uma referência ao desenvolvimento de um clero primitivo. Paralelamente à busca do homem caído por um intermediário espiritual humano destaca-se sua obsessão pela forma hierárquica de liderança. Em maior ou menor grau todas as velhas culturas foram hierárquicas em suas estruturas sociais. Lamentavelmente, os cristãos pós-apostólicos adotaram e adaptaram estas estruturas em sua vida eclesiástica como veremos adiante.

A origem do bispo soberano

Até o século II a igreja não teve nenhuma liderança oficial. Tais lideranças nas igrejas do século I eram certamente raras. Eram grupos religiosos sem sacerdote, templo ou sacrifício. Os próprios cristãos conduziram a igreja sob o comando direto de Jesus Cristo.

Inácio de Antioquia (35-107 d.C.) foi o primeiro a iniciar o escorregadio e decadente caminho da fixação de um líder único na congregação. Pode-se atribuir a ele a gênese do cargo de pastor e da hierarquia na igreja moderna.

Inácio elevou um dos anciãos acima dos demais. O ancião promovido era agora chamado de “o Bispo”. Todas as responsabilidades que pertenceram ao colegiado de anciões eram exercidas pelo Bispo.

Para Inácio, o Bispo tomara o lugar de Deus enquanto que os presbíteros tomaram o lugar dos doze Apóstolos.

Apenas o Bispo poderia celebrar a Santa Ceia do Senhor, dirigir os batismos, dar conselhos, disciplinar os membros da igreja, aprovar os matrimônios e pregar sermões.

Historicamente, isso é conhecido como o “mono-episcopado” ou “episcopado monárquico”. É o tipo de organização onde o Bispo é distinto dos anciãos (o presbítero) e é superior a eles. Durante o tempo de Inácio, a regra do Bispo único não havia chegado a outras regiões. Mas, pela metade do século II, este modelo chegou a ser firmemente estabelecido na maioria das igrejas. Pelo final do século III este prevaleceu por toda parte.

De presbítero a sacerdote

Já pela metade do século III a autoridade do Bispo se calcificou em um ofício fixo. Cipriano de Cartago (200-258 d.C.) era um ex-orador pagão e mestre de retórica. Quando ele se fez cristão, tornou-se também um prolífico escritor. Contudo, ele nunca abandonou algumas de suas ideias pagãs. Com sua influência abriu a porta para ressuscitar as práticas do Velho Testamento, dos sacerdotes, templos, altares e sacrifícios. Os Bispos começaram a ser chamados “sacerdotes”. Ocasionalmente eles também eram chamados de “pastores”. No século III cada igreja tinha seu próprio Bispo. Prontamente o conjunto de Bispos e presbíteros foi chamado de “clero”.

A origem da doutrina não bíblica do “protetorado” também pode ser atribuída a Cipriano. Ele ensinava que o Bispo tem apenas um superior, Deus. Ele deveria prestar contas apenas a Deus. Qualquer um que se separasse do Bispo se separaria de Deus. O Bispo chegou a ser considerado como “sumo sacerdote” que pode perdoar pecados.

Pelo final do século IV, os Bispos se misturaram aos poderosos. Passaram a receber tremendos privilégios. Meteram-se na política, o que os separou ainda mais dos presbíteros.

Cipriano defendeu uma linha contínua de sucessores dos Bispos remontando a Pedro. Isso é conhecido como “sucessão Apostólica”. Pode-se atribuir a Cipriano o conceito antibíblico de sacerdócio. Cipriano sustentou que o fato dos clérigos cristãos serem sacerdotes que oferecem o sacrifício santo (a Eucaristia) torna-os sacrossantos (santos).

O papel do sacerdote

Mas durante a Idade Média houve uma mudança. Os presbíteros começaram a representar o sacerdócio enquanto os Bispos dedicavam seu tempo com ofícios políticos. Os sacerdotes locais da paróquia chegaram a ser mais importantes para a vida da igreja que o Bispo. Agora era o sacerdote que se colocava no lugar de Deus e que controlava os sacramentos.

Pode-se creditar a Ambrósio de Milão (339-397 d.C.) a ideia de que a simples pronúncia das palavras convertia magicamente o pão e o vinho no corpo e no sangue físico do Senhor. Segundo Ambrósio, o sacerdote era dotado de poderes especiais para pedir a Deus que descesse do céu e que entrasse no pão.

A influência da cultura greco-romana

A cultura greco-romana era hierárquica por natureza. Esta influência surgiu na igreja quando os novos convertidos trouxeram sua bagagem cultural à comunidade crente.

Ao final do século I e ao princípio do II, os presbíteros locais começaram a surgir como os “sucessores” candidatos ao papel de liderança exercido pelos obreiros apostólicos. Isso deu origem a um líder individual em cada congregação. Sem a influência dos obreiros locais extras que foram treinados pelos Apóstolos no NT, a Igreja começou a deixar-se levar pela corrente de um modelo organizacional oriundo de seu âmbito cultural.

Cipriano insistiu que a organização da igreja seguisse o modelo do Império Romano.

Entre os anos 100 e 300 d.C., a liderança da Igreja adotou o governo romano como modelo. A hierarquia do Velho Testamento foi usada para justificar isso.

Constantino e a hierarquia romana

É importante lembrar que o mundo social em que o cristianismo se espalhou era governado por um único mandatário — o Imperador. Pouco depois de Constantino subir ao trono no princípio do século IV, a Igreja desenvolveu toda sua plumagem de vaidade, típica de uma sociedade hierarquicamente organizada.

Podemos ver traços da estrutura de liderança hierárquica em eras remotas como do antigo Egito, Babilônia e Pérsia. Mais adiante esta foi levada às culturas grega e romana onde se aperfeiçoou.

Pelo século IV, a Igreja seguiu os mesmos passos do Império Romano. O imperador organizou a igreja em dioceses segundo o modelo dos distritos regionais romanos. Mais adiante, o Papa Gregório desenhou o ministério de toda igreja segundo a lei romana.

Quando Jesus entrou no drama da história humana, Ele eliminou o ícone religioso profissional tanto quanto a forma hierárquica de liderança.

Desde então a Igreja de Jesus Cristo tem buscado seu modelo de organização eclesiástica das sociedades em que foi colocada. Isto sucedeu apesar da advertência de nosso Senhor de que Ele iniciaria uma nova sociedade de caráter único.

Constantino e a glorificação do clero

Entre 313 e 325 d.C. o cristianismo deixou de ser uma religião arredia lutando para sobreviver ao governo romano. Agora tomava o sol do imperialismo, com grande quantidade de dinheiro, posição e estima.

Constantino exaltava o clero. No ano 313 d.C., ele deu ao clero cristão a isenção de impostos — algo que os sacerdotes pagãos tradicionalmente desfrutavam. O clero estava livre de ser julgado pela corte secular e de servir ao exército.

Constantino foi o primeiro a usar as palavras “clérigo” e “clero” para destacar uma classe social mais elevada. Os clérigos receberam as mesmas honras que os mais altos oficiais do Império Romano recebiam, e das mãos do próprio Imperador. Ele também ordenou que o clero recebesse uma paga anual fixa; uma paga pelo ministério.

Não é de surpreender que tanta gente nos dias de Constantino experimentasse um repentino “chamado ao ministério”. Para eles, ser um mandatário da igreja agora era mais uma carreira que um chamado.

Uma falsa dicotomia

Sob Constantino, o cristianismo foi reconhecido e honrado pelo Estado. Isto apagou a linha entre a igreja e o mundo. A fé cristã já não era uma religião de minoria. As práticas das religiões místicas começaram a ser utilizadas na adoração da igreja. E a noção pagã da dicotomia entre o sagrado e o profano encontrou caminho fértil na mentalidade cristã. A vida cristã agora se dividia em duas partes: O secular e o espiritual — o sagrado e o profano.

Mas pelo século IV esta falsa ideia foi adotada universalmente pelos cristãos. Isto produziu a ideia profundamente errônea de que há profissões sagradas (um chamado ao “ministério”) e profissões ordinárias, “um chamado vocacional mundano”.

Clemente de Roma foi o primeiro a usar a palavra “leigo” contrastando com ministros. Clemente sustentava que a ordem do VT com respeito aos sacerdotes deveria ser cumprida na igreja cristã. Tertuliano foi o primeiro escritor a utilizar a palavra “clero” referindo-se a uma classe de cristãos separados. Pelo século III a brecha entre clero e leigo se estendeu ainda mais e chegou a um ponto irremediável. Os clérigos eram líderes treinados da igreja — os guardiões da ortodoxia — os governadores e mestres do povo. Eles possuíam dons e graças que não estavam disponíveis aos simples mortais.

Os termos “clero” e “leigo” não aparecem no NT.

A distinção entre clero e leigo pertence ao outro lado da cruz. Com o novo pacto em Cristo, o clero e o leigo são eliminados. Há somente o povo de Deus. Junto com estas mudanças de postura chegou um novo vocabulário. Os cristãos começaram a adotar o vocabulário das seitas pagãs. O acesso a Deus agora era controlado pela casta clerical.

Em suma, pelo fim do século IV e entrando no V, o clero chegou a ser uma casta sacerdotal — um grupo espiritual da elite dos “homens santos”. Isto nos conduz ao tema espinhoso da ordenação.

A falácia da ordenação

No século IV, a teologia e o ministério eram âmbito dos sacerdotes. O trabalho e a guerra eram âmbito do leigo. Os obreiros apostólicos (plantadores de igrejas) do século I voltavam a visitar uma igreja depois de um período de tempo. Em algumas congregações os trabalhadores reconheciam publicamente os anciãos.

Eles não eram nomeados por uma autoridade externa. Ou seja, cada um deles era reconhecido devido a sua antiguidade e contribuição com a igreja. Segundo o NT, o reconhecimento de certos dons dos membros é algo instintivo e orgânico, há apenas três passagens no NT que nos dizem que os anciãos eram reconhecidos publicamente.

O reconhecimento público dos anciãos e de outros ministérios geralmente era acompanhado pela imposição de mãos pelos obreiros apostólicos.

Durante o século III a “ordenação. Era um rito cristão formalizado. Pelo século IV, a cerimônia da ordenação foi ornada por vestimentas simbólicas e por um rito solene. A ordenação produziu uma casta eclesiástica que usurpou o sacerdócio dos crentes.

Quando Constantino fez do cristianismo sua religião preferida as estruturas de liderança da igreja passaram a ser sustentadas através da sanção política. Formas de sacerdócio do Velho Testamento foram combinadas com a hierarquia grega Tristemente, a igreja estava segura nesta nova fórmula — exatamente como está hoje.

A ordenação concede ao sacerdote (ou Bispo) poderes divinos especiais tornando-o apto a oferecer o sacrifício da Missa. A ordenação também o torna um tipo de homem completamente separado e santo. Os sacerdotes chegaram a ser identificados como “vigários de Deus na terra”. Eles chegaram a fazer parte de uma ordem de homens especiais. Uma ordem apartada dos “leigos” da igreja.

Em nenhum lugar do NT a pregação, o batismo ou a distribuição da Ceia do Senhor restringe-se aos “ordenados”.

A reforma

Os reformadores do século XVI colocaram fortemente a prova o sacerdócio Católico. Eles atacaram a ideia de que o sacerdote possuía poderes especiais para converter vinho em sangue. Eles rechaçaram a sucessão Apostólica. Eles incentivaram o clero a casar-se. Eles revisaram a liturgia para que a congregação tivesse mais participação. Eles também eliminaram a posição do Bispo e reduziram o sacerdote à condição de presbítero.

Desgraçadamente, mesmo eliminando o cargo de Bispo, ressuscitaram a regra do Bispo único com nova roupagem. Embora os reformadores se opusessem ao Papa e sua hierarquia religiosa, eles fizeram vista grossa com respeito ao ministério que eles herdaram. Eles acreditavam que o “ministério” era uma instituição restrita àqueles poucos que foram “chamados” e “ordenados”. Assim, pois, os reformadores reafirmaram a divisão clero-leigo.

Lutero manteve a ideia de que aqueles que pregam necessitam de um treinamento especial. Como os católicos, os reformadores acreditavam que apenas um “ministro ordenado” poderia pregar, batizar e ministrar a Ceia do Senhor. Como resultado, a ordenação deu ao ministro uma aura de favor divino indiscutível.

De sacerdote a pastor

Apenas no século XVIII que o termo “pastor” chegou a ser de uso corrente, eclipsando “pregador” e“ ministro”. Esta influência veio dos Luteranos Pietistas. Desde então o termo espalhou-se entre as principais correntes cristãs.

Os reformadores acreditavam que o pastor possuía o poder e a autoridade divina. Ele não falava em seu próprio nome, mas em nome de Deus.

Em suas mentes, a pregação, o batismo e a eucaristia tinham que ser ministrados pelo pastor e não pela congregação. Para todos os reformadores, a função primária de um ministro é a pregação. Como Calvino, Lutero também fez do pastor uma posição separada e exaltada.

Lutero acreditava que todos estão em sacerdócio, mas nem todos podem exercer o sacerdócio. Isto é sacerdotalismo, pura e simplesmente. Lutero abominou o campo católico pela rejeição do sacerdócio sacrificatório.

A cura de almas

Tanto Calvino como Lutero compartilharam o pensamento de que as duas principais funções do pastor eram proclamar a Palavra (pregação) e celebrar a Eucaristia (comunhão). Mas Calvino agregou um terceiro elemento. Ele enfatizou que o pastor tinha a obrigação de prover o cuidado e a sanidade da congregação. Isto é conhecido como “cura de almas”.

Os primeiros seguidores de Lutero também praticaram a medicina das almas. Mas na Genebra de Calvino essa prática chegou a ser uma arte. Exigiu-se que cada pastor e ancião visitasse as casas dos paroquianos. A ele cabia levar sanidade, cura e compaixão ao povo enfermo de Deus.

A primazia do pastor

Em poucas palavras, a reforma protestante foi um golpe no sacerdotalismo católico romano. Mas não foi um golpe mortal, pois os reformadores preservaram a regra do Bispo único. Este simplesmente passou por uma mudança semântica. O pastor agora exercia o papel do Bispo. Ele chegou a ser conhecido como a cabeça da igreja local — como o principal ancião. A palavra usada no NT para ministro é diakonos.

Tanto reformadores como puritanos adotaram a ideia de que os ministros de Deus precisam ser profissionais competentes. Portanto, os pastores necessitavam um extenso treinamento acadêmico para cumprir sua função.

Como o pastor destrói a vida coletiva

A distinção antibíblica clero/leigo tem causado tremendos danos ao Corpo de Cristo. Tal distinção provoca uma ruptura na comunidade dos crentes por classificá-los como cristãos de primeira e de segunda classe. Adicotomia clero/leigo perpetua uma horrível mentira. A mentira de que alguns cristãos são mais privilegiados do que outros quanto a servir ao Senhor.

O ministério do único homem é completamente alheio ao NT.

Como o pastor destrói a si mesmo

O moderno pastor prejudica não apenas o povo de Deus, ele prejudica a si mesmo. A posição de pastor de uma forma ou de outra atrofia os que assumem essa função. As frequentes depressões, vazio, estresse, e o desequilíbrio emocional são terrivelmente constantes entre os pastores.

Espera-se que a maioria dos pastores exerça 16 tarefas simultâneas.

E a maioria acaba pulverizada pelas pressões. Por esta razão, mensalmente, 1.600 ministros entre todas as denominações nos Estados Unidos são demitidos ou são forçados a renunciar. As demandas do pastorado são terríveis.

A profissão de pastor dita padrões de conduta como qualquer outra profissão. A profissão dita como o pastor deve vestir-se, falar e atuar. Esta é uma das principais razões pela qual tantos pastores vivem vidas tão artificiais. Nesse aspecto, o rol pastoral fomenta a desonestidade.

Judaísmo

Algumas passagens veterotestamentárias sobre idolatria causaram impacto nos comentaristas bíblicos judeus da Antiguidade e posteriores. Este capítulo vai estudar como isso ocorre.

Judaísmo antigo

Vimos na análise de Isaías 6 (cap. 1) que Salmos 115.4-8 (=135.15-8) é uma passagem importante para compreender por que Isaías se refere a Israel como um povo que tem ouvidos, mas não ouve, olhos, mas não vê. O trecho relevante do salmo diz:

Os ídolos deles são de prata e ouro,

obra das mãos do homem.

Têm boca, mas não falam;

têm olhos, mas não veem;

têm ouvido, mas não ouvem;

têm nariz, mas não cheiram;

têm mãos, mas não apalpam;

têm pés, mas não andam;

nem som algum lhes sai da garganta.

Tornem-se semelhantes a eles

aqueles que os fazem e todos os que neles confiam (Sl 115,4-8).

A conclusão acerca daqueles que fabricam e adoram ídolos é uma das chaves mais explícitas para entender a natureza da idolatria e o que acontece com aqueles que se dedicam a adorar e amar seus ídolos: “Tornem-se semelhantes a eles aqueles que os [os ídolos] fazem e todos os que neles [os ídolos] confiam” (v.8).

No seu comentário, o filósofo judeu helenista Filo usa o texto de Salmos 115.5-7 para declarar categoricamente que “o verdadeiro horror” da idolatria é que os idólatras devem ser exortados de que vão ficar tão inanimados, mortos, quanto as imagens que adoram, pois, embora ele ache que os próprios idólatras detestem essa exortação, na mente eles “abominam a ideia de se parecer com eles [aos ídolos]” (Decálogo 72-75). Filo acredita que isso mostra a enorme e profunda impiedade dessa adoração perversa.

O filósofo afirma que, ao contrário disso, “a melhor das súplicas e o objeto de felicidade é tornar-se semelhante a Deus”.

Ele explica que os fabricantes de ídolos manufaturam suas imagens para “promover a sedução” e “a ilusão” dos ídolos.

Filo entende que os adoradores de imagens inanimadas vão assumir a semelhança dessas imagens e se tornar eles próprios inanimados espiritualmente. Talvez seja por isso que ele diz: “Quem tem alma jamais deve adorar uma coisa sem alma” (Decálogo 76).

Um texto judaico ainda mais antigo que Filo, a coletânea Testamentos dos Doze Patriarcas (c. 150 a.C.), testifica uma ideia muito semelhante de idólatras que são igualados a seus ídolos, mas não faz referência a nenhum texto veterotestamentário específico.

O testamento de Issacar 6:1-2

Além de sugerir identidade com Belial, a ideia “vão se unir a Belial” engloba provavelmente algum envolvimento com ídolos.

O texto de 1Enoque 99.7-9 (c. 100 a. C.) entende que os idólatras serão influenciados espiritualmente pelos ídolos de que são devotos: “(E aqueles) que adoram pedras, os que esculpem imagens de ouro e prata, de madeira e barro, bem como os que cultuam espíritos maus, demônios e toda espécie de ídolos sem consciência, não terão nenhum tipo de socorro” (v. 7). Não apenas não terão nenhum tipo de ajuda daquilo que adoram como também serão prejudicados.

Aqueles que adoram ídolos “se tornarão maus por causa da loucura de seu coração“, isso é uma referência à tolice de cultuar ídolos. Além disso, “seus olhos serão vendados em virtude do temor do coração“. Assim, eles serão vendados por causa de seus ídolos. Especificamente, é “por intermédio deles [dos ídolos]” que se “tornarão maléficos e temerosos“. Portanto, há poder nos ídolos, não porque são objetos mortais de “espíritos maus e demônios” (1Enoque 99.7). São essas forças sobrenaturais ímpias que fazem o idólatra ficar mais “perverso”.

A Sabedoria de Salomão (segundo ao primeiro século a.C) contém provavelmente o discurso mais extenso contra a idolatria de toda a literatura judaica da Antiguidade (v. Sb 11:15-20; 12:23-16.1). O livro trata aqui de dois elementos pertinentes ao tema.

Tanto o ídolo como seu fabricante são “malditos” e “serão punidos” porque ambos “para Deus” são “igualmente repugnantes”. A narrativa prossegue afirmando que o efeito nefasto do “erro” de adorar ídolos é que os idólatras “vivem em enorme conflito devido à ignorância” e se iludem “chamando esses grandes males de paz” (Sb 14:22).

À luz de Sabedoria 15.5-6, o modo peculiar em que os idólatras são “dignos” dos ídolos é o fato de terem deixado de ser a “alma viva […] e o espírito animado” que Deus planejou para serem (como diz Sb 15.8), o “coração” do idólatra são “cinzas“), já que se comprometeram com uma “forma inanimada de uma imagem morta” (Sb 15:5-6).

A concepção do judaísmo acerca de Israel assemelhar-se

ao bezerro de ouro que adorava

O Israel idólatra foi punido com sua assemelhação imediata ao caráter rebelde do ídolo do bezerro. Essa semelhança espiritual é perceptível na descrição de Êxodo 32 dos idólatras como gado rebelde: o retrato do povo mostra que era

1) obstinado, de “dura cerviz” (Êx 32.9; 33.3,5), povo que não obedecia,

2) era “descontrolado” (porque “Arão os deixara assim” (Êx 32.25)),

3), de forma que “depressa se desviou do caminho” (Êx 32.8) e precisava ser

4) “reunidos” novamente “na entrada” (Êx 32.34).

É possível que a identificação mais antiga dos idólatras do bezerro de ouro com esse ídolo esteja em Qumran. O texto de Qumran de CD 1:13 refere-se aos apóstatas daquela geração da seguinte maneira: “Eles são os que se desviam do caminho. Este é o tempo sobre o qual foi escrito: ‘como a vaca obstinada, Israel se tornou obstinado’“.

A oração “eles são os que se desviam do caminho” e uma citação de Êxodo 32.8 (ou de Dt 9.12, seu paralelo): “desviou-se do caminho”, que fala da rebeldia de Israel em adorar o bezerro de ouro. Em seguida, a segunda parte de CD 1:13 identifica essa situação com Osias 4.16: “Este é o tempo sobre o qual foi escrito: ‘como uma vaca obstinada, Israel se tornou obstinado’“. Logo, CD 1:13 entende que a rebeldia de Êxodo 32.8 pode ser comparada aos israelitas idólatras do tempo de Oseias, que corriam soltos por toda parte como vacas. Essa interpretação judaica antiga, acredito, desenvolve o retrato da narrativa do gado fora de controle em Êxodo 32.8.

A ideia do salmo não é só que Israel trocara seu Deus por outro deus, mas também inclui a ideia de trocar a glória de Deus (manifestada a Israel e por este refletida) pela glória de outra divindade.

Outro Midrash judaico mais recente alega que o “lábio superior e os ossos” daqueles que “beijaram o bezerro de todo o coração” ficaram “dourados” (Pirqe R. El. 45). Esse é o outro provável exemplo em que o judaísmo assemelha o culto dos bezerros de Israel do norte à adoração do bezerro em Êxodo 32, visto que a única passagem no Antigo Testamento em que a expressão “beijar bezerros” ocorre é Oseias 13.2.

Quando Arão estava produzindo o ídolo bezerro, “Satanás entrou no ídolo, e a semelhança desse bezerro surgiu dele”, o que dá a entender a participação de Satanás na confecção do ídolo (Tg. Ps. -J. Êx 32.24). Do mesmo modo, um Midrash judaico posterior afirma que, quando o bezerro foi feito, “Sammael [Satanás] entrou nele e mugia [como uma vaca] para enganar Israel”, como se o “bezerro estivesse mugindo”, o que atraíra os israelitas para “se desviarem, seguindo atrás dele’. Além disso, o texto retrata Satanás presente “dentro do” ídolo, “saltando e pulando diante do povo”, que por sua vez “se divertia diante do ídolo” e “brincava e se curvava diante dele”, provavelmente imitando Satanás na condição de animador do culto. Isso pode insinuar mais uma maneira em que o povo estava se tornando semelhante ao ídolo bezerro, mas, neste caso, a identificação é com a figura satânica por trás do ídolo.

Agostinho disse que Moisés lançara a cabeça do bezerro de ouro no fogo, moera o restante em pó fino, jogara esse pó na água e fizera o povo beber. Conforme a interpretação de Agostinho, esse ato seria uma espécie de sacramento ímpio em que “assim como os homens que confessam Cristo se tornam o corpo de Cristo, os adoradores do Diabo-bezerro se tornaram o corpo do Diabo”. Parece que isso tem alguma confirmação na passagem de Deuteronômio 32.17 (“Ofereceram [a geração do deserto] sacrifícios aos demônios, e não a Deus“), a referência que pode abranger a adoração ao bezerro de ouro.

Paulo entende que os sacrifícios aos ídolos também são sacrifícios aos demônios, o que necessariamente a “comunhão com os demônios”, que habitam o ídolo. Isso se aplica não apenas à idolatria dos gentios, mas também à idolatria de Israel no deserto, uma vez que o apóstolo tinha em mente os israelitas alguns versículos antes (1Coríntios 10.-11). Esse trecho serve na verdade como parte da base do raciocínio para a dedução de não cair na tentação e fugir “da idolatria”.

A pergunta é em que os israelitas idólatras foram transformados ou mudados? A tradução de Deuteronômio 32.5 parece responder a essa pergunta: “Os filhos não pertencem mais a ele, porque adoram os ídolos“, eles tinham de pertencer a outro, que não é difícil de ser identificado no contexto. Esse outro são os ídolos a quem se dedicara, (em última análise, aos poderes demoníacos por trás dos ídolos). Salmos 106.20 dá respaldo a essa ideia de identificação com o ídolo na adoração do bezerro de ouro, e outros setores do judaísmo também interpretavam esse versículo assim.

Antes Deus era o “pai” de Israel, e a nação “pertencia a ele” como “filhos e filhas”. No entanto, visto que se tornaram idólatras, eram “filhos sem fé” e “os filhos não pertencem mais a Ele”. A conclusão do autor é de que parece ser que esses indivíduos se tornaram filhos das suas novas divindades.

Também existe uma ligação clara entre os que confiam em Deus se tornarem como Deus e os que confiam em ídolos se tornarem como seus ídolos: Rabbi Levi b. Hama afirmou:

Se alguém adora ídolos, assemelha-se a eles, como se diz: Tornem-se semelhantes a eles que os fazem, etc. (Sl CXV, 8); não é o caso, pois, que aquele que adora a Deus se torne semelhante a ele? E como é que sabemos? Porque está escrito: Bendito o homem que confia no Senhor, suja esperança é o Senhor (Jr XVII, 7) [portanto, quase idêntico ao Midr. DtRab. 5.9].

Isso é importante, pois afirma que o adorador de Deus se torna como Deus, o contrário de Salmos 115.8 – a expressão mais clara da ideia de que os idólatras se assemelham a seus ídolos.

O Targum de Jeremias 2.5 traduz o hebraico “eles foram atrás de coisas inúteis e tornaram-se inúteis” por “eles se desviaram indo atrás dos ídolos e se tornaram indignos“, em seguida, traduz o hebraico de Jeremias 2.7 “da minha herança fizestes algo abominável” por “fizeram de minha herança a adoração de ídolos“. Essas alterações dão a entender que o tradutor do Targum procurava intensificar a associação do povo com seus ídolos. Curiosamente, o ambiente do episódio do bezerro de ouro não está ausente, uma vez que é aludido em parte em Jeremias 2.5 e 2.11b (“Meu povo trocou sua glória por aquilo que é imprestável“).

O judaísmo posterior concluiu que “esse pecado [do bezerro de ouro] é suficiente [pela gravidade] para Israel sofrer por causa dele de hoje até a ressurreição”.

A comparação do pecado do bezerro de ouro com o pecado de Adão é interessante, pois, como vimos, o pecado de Adão também implicou tornar-se parte da criação, como era a opinião do judaísmo e do próprio Antigo Testamento sobre a transgressão do bezerro. É provável que a opinião judaica seja um desenvolvimento da própria perspectiva do Antigo Testamento.

Capítulo 15

Pedro foi o primeiro papa?

De acordo com a crença, Cristo apontou Pedro como o primeiro papa, que por sua vez veio para Roma e serviu neste cargo durante 25 anos. Começando com Pedro, a igreja católica reclama uma sucessão de papas que continuou até nossos dias. Esta é uma parte muito importante da doutrina católico-romana.

As Escrituras mostram claramente que deveria haver uma igualdade entre os membros da igreja e que CRISTO “é o cabeça da igreja” (Ef. 5:23), não o papa.

Jesus afirmou claramente que nenhum homem deveria ser um dominador sobre os outros. Em lugar disto, ele ensinou uma igualdade — negando claramente os princípios que estão envolvidos em ter um papa regendo toda a igreja como o Bispo dos bispos.

Jesus ensinou mais tarde o conceito de igualdade, advertindo os discípulos contra o uso de títulos lisonjeiros tais como “pai” (a palavra “papa” significa pai). Rabi, ou Mestre. “Pois um só é vosso Mestre, Cristo”, disse ele, “e vós todos sois irmãos” (Mt. 23:4-10). A ideia de que um deles era para ser exaltado à posição de papa está em flagrante contradição com esta passagem. A igreja não foi edificada sobre Pedro, mas sobre Cristo.

Quando Jesus falou de edificar sua igreja sobre uma rocha, os discípulos não entenderam isto como significando que ele estava exaltando Pedro para ser o papa deles, pois dois capítulos depois eles perguntaram a Jesus quem era o MAIOR (Mat. 18:1). Se Jesus tivesse ensinado que Pedro era aquele sobre quem a igreja estava para ser edificada — se este versículo provasse que Pedro ia ser papa — os discípulos teriam sabido automaticamente quem era o maior entre eles.

Se observarmos Pedro bem de perto nas Escrituras, torna-se aparente que Pedro não foi de jeito nenhum um papa. Por vários motivos: ele era casado, não permitiria que homens se curvassem diante dele, não colocou a tradição no mesmo nível da Palavra de Deus. Ao contrário, “Pedro tinha pouca fé em ‘‘tradições dos vossos pais” (I Pedro 1:18). E por fim, Pedro não foi um papa, pois não usou coroa. Ele mesmo explicou que quando o Sumo Pastor aparecer, então “receberemos a incorruptível coroa de glória” (l Pedro 5:4).

Com toda a probabilidade, nos primeiros dias primitivos da igreja, Pedro realmente ocupou a mais proeminente posição entre os apóstolos. Foi Pedro que pregou o primeiro sermão depois do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes e 3.000 foram acrescentados ao Senhor. Mais tarde, foi Pedro que primeiro levou o evangelho aos gentios.

Sempre que encontramos uma lista dos doze apóstolos na Bíblia, o nome de Pedro é sempre mencionado em primeiro lugar (Mat. 10:2; Mc. 3:16; Lc. 6:14; Atos 1:13). Mas nada disto — nem mesmo por um forte esforço de imaginação — indicaria que Pedro foi o papa ou o Bispo dos bispos universal.

Mais tarde Paulo parece ter tido o ministério mais importante. Ele falou de Pedro, Tiago e João como colunas da igreja cristã (Gál. 2: 9). Não obstante, ele podia dizer, “em nada sou inferior aos mais excelentes apóstolos” (II Cor. 12:11).

Em Gálatas 2:11, lemos que Paulo repreendeu a Pedro ‘‘porque ele era repreensível”, um palavreado que parece estranho, se Pedro fosse visto como um papa “infalível”.

Não existe qualquer prova, biblicamente falando, que Pedro até mesmo se aproximou de Roma. O Novo Testamento nos diz que ele foi para Antioquia, Samaria, Jope, Cesaréia, e outros lugares, mas não para Roma.

Existe uma estátua, supostamente de Pedro, que está localizada na Basílica de São Pedro em Roma. Longas filas de pessoas se formam esperando para passar diante dela e beijar seus pés.

Capítulo 16

Origem pagã do ofício papal

Ninrode, o rei e fundador da Babilônia, não foi apenas um líder político, foi também um líder religioso. De Nimrode descendeu uma linha de reis-sacerdotes — cada um ficando como cabeça do mistério religioso babilônico. Muitos estão familiarizados com a festa que ele fez em Babilônia quando a escrita misteriosa apareceu na parede. Esta reunião foi mais do que uma simples festa social. Foi, sim, uma reunião religiosa, uma celebração dos mistérios babilônicos dos quais naquele tempo Belsazar era o cabeça.

Beberem vinho dos santos vasos do Senhor que haviam sido tirados do templo de Jerusalém. Esta tentativa de misturar aquilo que era santo com o paganismo trouxe julgamento divino. A Babilônia foi marcada para juízo.

A antiga cidade está agora em ruínas, desabitada (Jer. 50:39; 51:62).

Mas, embora a cidade tivesse sido destruída, os conceitos que foram uma parte da antiga religião da Babilônia sobreviveram.

Quando Roma conquistou o mundo, o paganismo que havia se espalhado partindo da Babilônia e se desenvolvido em várias nações, foi absorvido pelo sistema religioso de Roma. Isto induzia a ideia de um Supremo Pontífice (Pontífice Máximo). Era o ano de 63 a.C. quando Júlio César foi reconhecido oficialmente como o “Pontifex Maximus”.

Os imperadores romanos (incluindo Constantino) continuaram a conservar o ofício de Pontifex Maxímus até 376 quando Graciano, por razões cristãs, recusou-o. Ele reconheceu este título e oficio como idólatras e blasfemos. Alguns dos cristãos olhavam para o bispo de Roma como “bispo dos bispos” e cabeça da igreja. Isto produziu uma situação única. Um homem era agora olhado como o cabeça tanto pelos cristãos como pelos pagãos.

Os líderes da igreja desejavam números e poder político. A verdade vinha em segundo lugar.

A obra apresenta uma explicação detalhada sobre como a igreja explicou o ofício de Sumo Pontífice.

Desde que o apóstolo Pedro era conhecido como Simão Pedro, é interessante notar que Roma não somente tinha um “Pedro”, um abridor ou intérprete dos mistérios, mas também um líder religioso chamado Simão.

Sabemos que a igreja romanista tornou-se perita em tomar várias ideias ou tradições e misturá-las com seu sistema unido de religião.

Os papas têm reclamado serem “Cristo em ofício” na terra. Aparentemente Simão, o feiticeiro, fez o mesmo reclamo em Roma, mas jamais lemos de qualquer reclamo semelhante feito por Simão Pedro, o apóstolo.

Quando o bispo de Roma tornou-se o Sumo Pontífice em mais ou menos 378, ele automaticamente tornou-se o possuidor das chaves místicas. Isto ganhou reconhecimento por parte dos pagãos em relação ao papa e novamente veio a oportunidade de misturar Pedro na história.

Não é incomum para Pedro ser representado como o chaveiro dos céus o guardião das portas decidindo quem ele deixará e quem não deixará entrar. Isto está muito parecido com as ideias associadas ao deus pagão Janus, pois ele é o guardião das chaves e portas na mitologia pagã de Roma – o abridor.

A palavra “pontífice” vem da palavra pons, “ponte”, e facio, “fazer”. Significa “construtor de pontes”.

Como sacerdotes da religião pagã romana, naqueles dias, o título em seu significado original teve simbolismo religioso: cada um desses reis e sacerdotes alegaram serem a ponte ou ligação entre esta vida e a próxima.

Então, obviamente, o título Pontífice tinha nada a ver com o verdadeiro cristianismo. Foi apenas o título dos reis-sacerdotes pagãos.

Há evidências de que o papa não é o sucessor do apóstolo Pedro, mas o sucessor da linha de sumos sacerdotes do paganismo que se originou em Babilônia. As vestes caras e altamente decoradas que usam demonstram que o ofício de Papa é de origem pagã, como estas peças de vestuário foram feitas segundo o padrão dos imperadores romanos e não dos apóstolos.

A tiara coroa que os papas usam é idêntica na forma àquelas usadas pelos “deuses” ou anjos que são mostrados em antigos tabletes assírios. É semelhante àquela vista em Dagon, o deus-peixe. Este mesmo tipo de mitra é usado pelos papas até os dias atuais.

Desde que Pedro tinha sido um pescador, o anel do deus-peixe com o título Pontifex Maximus inscrito estava a ele associado. Mas um anel como este jamais foi usado por Pedro o apóstolo. Ninguém jamais curvou-se e beijou seu anel. Ele provavelmente jamais teve um — pois não tinha prata nem ouro (Atos 3).

Pálio é o adorno que o papa usa sobre os ombros. Um paramento que era usado pelo clero pagão da Grécia e de Roma, antes da Era Cristã. Nos tempos modernos o pálio é feito de lã branca que é tirada de dois cordeiros que tenham sido “abençoados” na basílica de St. Agnes, em Roma.

Por séculos a igreja romanista reclamou a posse da mesma cadeira na qual Pedro havia se sentado e ministrado em Roma. As placas na frente desta cadeira mostram fabulosos animais da mitologia como também os fabulosos “trabalhos de Hércules”.

Gilgamés a quem a mitologia transformou em um Hércules babilônico seria então a pessoa designada como o bíblico Nemrod (Ninrode). É curioso que Nimrode seja comparado com Hércules e talhas associadas com Hércules apareçam na assim chamada “Cadeira de Pedro”. Nenhuma destas coisas nos fariam pensar nesta cadeira como sendo de origem cristã.

Uma comissão científica apontada pelo Papa Paulo em julho de 1968, reportou que nenhuma parte daquela cadeira é suficientemente velha para datar dos dias de Pedro.

A prática de beijar um ídolo ou estátua foi tomada emprestada do paganismo. Isso fazia parte do culto à Baal.

O costume de procissões religiosas nas quais ídolos são carregados. Tais procissões são uma parte comum da prática.

Isaías, em direta referência aos deuses da Babilônia, tinha isto para dizer: “Gastam o ouro da bolsa, e pesam a prata nas balanças: assalariam o ourives, e ele faz um deus, e diante dele se prostram e se inclinam. Sobre os ombros o tomam, o levam, e o põem no seu lugar; ali está, do seu lugar não se move” (Ísaías 46:6,7). Há uns três mil anos, a mesma prática era conhecida no Egito, sendo tais procissões uma parte do paganismo ali.

O apóstolo Pedro jamais foi carregado através de multidões de pessoas que se curvavam diante dele (cf. Atos 10:25,26).

Que o ofício papal foi produzido por uma mistura de paganismo e cristianismo, pouca dúvida resta. O pálio, a mitra de cabeça de peixe, os paramentos babilônicos, as chaves místicas, e o título Sumo Pontífice foram todos tomados emprestados do paganismo. Todas estas coisas e o fato que Cristo jamais instituiu o ofício de papa em sua igreja mostra claramente que o papa não é o vigário de Cristo ou o sucessor do apóstolo Pedro.

Capítulo 17

Imoralidade papal

Alguns dos papas foram tão depravados e baixos em suas ações que até mesmo pessoas que não professavam qualquer religião envergonhavam-se deles. Pecados como adultério, sodomia, simonia, estupro, assassinato e embriaguez estão entre aqueles que têm sido cometidos por papas. Ligar tais pecados com homens que tem reclamado ser o “Santo Padre”, “Vigário de Cristo”, e “Bispo dos bispos”, poderá soar chocante, mas aqueles que estão a par da história do papado sabem muito bem que nem todos os papas foram homens santos.

O papa Sérgio III (904-911) obteve o ofício papal através de assassinato. Os anais da igreja de Roma contam sua vida de pecado ostensivo com Marozia que teve dele vários filhos ilegítimos.

Diz um historiador: ‘‘Durante sete anos este homem… ocupou a cadeira de São Pedro, enquanto sua concubina e sua mãe, compartilhavam da corte com uma pompa e voluptuosidade que relembrava os piores dias do antigo império”.

Esta mulher — Teodora—junto com Marozia, a concubina do papa, “enchiam a cadeira do papa com suas imoralidades e seus filhos bastardos. O reinado do papa Sérgio III começou o período conhecido como “o governo das prostitutas” (904-963).

O papa João X (914-928) foi designado para o ofício papal. “Teodora apoiou a eleição de João a fim de encobrir com mais facilidade suas relações com ele”. Seu reinado veio a ter um fim súbito quando Marozia o asfixiou até a morte. Ela o queria fora do caminho, de modo que Leão VI (928-929) pudesse tornar-se papa. Seu reino foi curto, contudo, pois foi assassinado por Marozia quando ela soube que ele havia “dado seu coração a uma mulher mais depravada do que ela”. Não muito depois disto, o filho adolescente de Marozia — sob o nome de João XI — tornou-se papa.

Em 955 o neto de Marozia, com dezoito anos de idade, tornou-se papa com o nome de João XII. Um homem ordinário e imoral, cuja vida foi tal que era chamado de cafajeste, e a corrupção moral em Roma tornou-se assunto do ódio geral.

O notável bispo católico de Cremona, Luitprand, que viveu nesse tempo, escreveu: “nenhuma mulher honesta ousava aparecer em público, pois o Papa João não tinha qualquer respeito fosse por moças solteiras, mulheres casadas, ou viúvas — elas estavam certas de serem desonradas por ele, até mesmo sobre as tumbas dos santos apóstolos, Pedro e Paulo”. Após sua morte súbita em julho de 985, devida com toda probabilidade à violência, o corpo de Bonifácio foi exposto aos insultos do populacho, arrastado pelas ruas da cidade e finalmente, despido e coberto de feridas.

Em seguida veio o Papa João XV (985-996) que distribuiu as finanças da igreja entre seus parentes e ganhou para si mesmo a reputação de ser “cobiçoso de lucro imundo e corrupto em todos os seus atos.”

Benedito VIII (1012-1024) “comprou o ofício de papa o subornando abertamente”. O papa seguinte, João XIX também comprou o papado. Sendo um leigo, foi necessário para ele ser passado por todas as ordens clericais em um só dia. Depois disto, Benedito IX (1033-1045) foi feito papa quando ainda jovem, com 12 anos de idade (alguns relatos dizem 20) através de uma barganha de dinheiro com as poderosas famílias que dominavam Roma. Ele cometeu assassinatos e adultérios à plena luz do dia, roubou peregrinos sobre as covas dos mártires.

Um certo número de papas havia cometido assassinatos, mas Inocêncio III suplantou todos os seus predecessores no número de crimes de morte. Embora não matasse pessoalmente, ele promoveu a coisa mais diabólica na história humana — a Inquisição. Estimativa dos números de heréticos que Inocêncio havia matado chega a um milhão de pessoas.

Por mais de 500 anos os papas usaram a inquisição para impor seu poder contra aqueles que não concordavam com os ensinamentos da igreja romanista. Em conflitos com cardeais e reis, numerosas acusações foram trazidas contra o papa Bonifácio VII (1294-1303). Historiadores protestantes geralmente, e até mesmo modernos escritores católicos classificam-no entre os papas iníquos, como um ambicioso, homem arrogante e impiedoso, enganador e traiçoeiro, sendo todo o seu pontificado um registro de maldades.

Embora procurando enfatizar alguns aspectos bons de Bonifácio, “os historiadores católicos admitem, contudo, a explosiva violência e ofensiva fraseologia de alguns dos seus documentos públicos. Um exemplo desta “ofensiva, fraseologia” seria sua declaração que “gozar e deitar-se carnalmente com mulheres ou com meninos não é mais pecado do que esfregar as mãos”. Em outras ocasiões, aparentemente naqueles momentos “explosivos” ele chamou Cristo de “hipócrita” e professou ser um ateu.

Sobre a obediência a uma papa pecaminoso a resposta católica é esta: “Um papa pecaminoso permanece membro da igreja (visível) e deve ser tratado como um dirigente pecaminoso, injusto, por quem devemos rezar, mas de quem não podemos retirar nossa obediência”.

João XXIII (1410-1415) “foi acusado por trinta e sete testemunhas (na maioria bispos e padres) de fornicação, adultério, incesto, sodomia, simonia, roubo e assassinato. Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado trezentas freiras. Ao todo, o Concílio condenou-o por 54 crimes da pior espécie.

Ele tem sido chamado de “o mais depravado criminoso que jamais sentou-se no trono papal”. O papa Pio II (1458-1464) era considerado pai de muitos filhos ilegítimos.

Em seguida veio o papa Sixto IV (1471-1484) que financiava suas guerras vendendo ofícios eclesiásticos a quem pagasse mais e “usava o papado para enriquecer a si mesmo e aos seus parentes.

O papa Inocêncio VIII (1484-1492) foi pai de dezesseis filhos com várias mulheres. Alguns dos seus filhos celebraram seus casamentos no Vaticano.

Em seguida veio Rodrigo Bórgia que tomou o nome de Alexandre VI (1492-1503), tendo ganho sua eleição para o papado subornando os cardeais.

Antes de tornar-se papa, enquanto cardeal e arcebispo, ele viveu em pecado com uma senhora de Roma; e posteriormente, com a filha dela, Rosa, com quem teve cinco filhos. Ele viveu em incesto público com suas duas irmãs e com sua própria filha, Lucrécia, de quem se diz que teve um filho. Em 31 de outubro de 1501, ele promoveu uma orgia de sexo ao vaticano, que não teve igual em terrível horror nos anais da história humana.

O papa Leão X entregou-se sem restrições aos divertimentos que eram fornecidos com pródiga abundância. Ele foi possuído por um amor insaciável ao prazer. Gostava de dar banquetes e divertimentos caros, acompanhados por orgia e bebedeira.

Martinho Lutero viajou para Roma. Não passou, porém muito tempo lá, pois descobriu que Roma era tudo menos uma cidade santa. A iniquidade existia entre todas as classes do clero. Padres contavam piadas indecentes e usavam horrível profanidade, até mesmo durante a missa.

A corte papal era servida ao jantar por doze garotas nuas.

Nos séculos catorze e quinze uma papisa já era contada como personagem histórico, de cuja existência ninguém duvidava. Ela teve seu lugar entre os bustos talhados que ficavam na catedral de Siena. O papa Clemente a transformou em um papa macho, chamado Zacarias, séculos após ela ter morrido.

Existe até mesmo a possibilidade de uma papisa fêmea fazer a sucessão completa. Mas, a salvação não depende de traçar uma linha de papas até Pedro — ou mesmo de um sistema de religião dizendo que representa Cristo. A salvação é encontrada em Cristo, Nele mesmo.

Capítulo 18

Roupa dominical: encobrindo o problema

A Roupa na Igreja

A prática de “vestir-se socialmente” para ir à igreja é um fenômeno relativamente recente. Começou pelo final do século XVIII com a Revolução Industrial.

“Vestir-se bem” para alguma ocasião era opção apenas para a nobreza rica. Na Europa medieval, até o século XVIII, “vestir-se bem” era a marca definitiva da classe social de alguém. Em países como a Inglaterra, as pessoas pobres eram proibidas de vestir o tipo de roupa que as pessoas “bem de vida” usavam. Isto mudou com a invenção das grandes fábricas têxteis e o desenvolvimento da sociedade urbana.

Sofisticação e refinamento eram atributos divinos e que os cristãos precisavam demonstrá-los. Daí nasceu a ideia de que as pessoas precisavam “vestir-se bem” para poder honrar a Deus. A partir de então os membros da igreja adoravam em belos edifícios, exibindo sua roupa formal para honrar a Deus. Em outras palavras, vestir “roupa dominical” é simplesmente um subproduto da cultura secular. Isto nada tem a ver com a Bíblia, com Jesus Cristo ou com o Espírito Santo.

O traje do clero

O clero cristão não se vestia diferente do povo comum até a chegada de Constantino. A liturgia da Igreja era considerada um evento formal. O clero, desejando diferenciar-se das pessoas comuns, usava as antigas e arcaicas roupas brancas romanas.

Do século V em diante, os bispos usavam a cor roxa. Nos séculos VI e VII as vestes do clero tornaram-se mais detalhadas e caras. Durante a Idade Média, a roupa adquiriu significados místicos e simbólicos. Vestes especiais surgiram por volta dos séculos VI e VII. E surgiu o costume de colocar sobre a roupa comum um jogo de vestes especiais na sacristia.

As mudanças da reforma

Durante a reforma, o rompimento com a tradição e as vestimentas clericais foi lento e gradual. No lugar das vestes clericais tradicionais, os reformadores adotaram a batina negra dos estudantes. O pastor luterano usava longas vestes pretas pelas ruas.

A batina do pastor reformado simboliza a autoridade espiritual. O ato de colocar a batina negra revela seu poder espiritual de ministro.

Hoje é o traje escuro com batina que funciona como a vestimenta clerical da maioria dos pastores protestantes. Muitos pastores não saem sem este traje. Muitas vezes se vestem com essa roupagem para aparecer em eventos públicos não religiosos. Alguns pastores protestantes levam o colar clerical — para que ninguém se esqueça de que ele é “um homem de Deus”.

Capítulo 19

Os papas são infalíveis?

O Concílio procurou estreitar o significado da infalibilidade até uma definição com a qual pudessem lidar, aplicando-a somente aos pronunciamentos papais feitos “ex-catedra”. O palavreado finalmente adotado foi este: “O Pontífice Romano, quando fala ex cathedra — que é, quando no exercício do seu ofício como pastor e mestre de todos os cristãos, ele define… uma doutrina de fé ou moral a ser observada por toda a Igreja.

Todos os problemas não foram resolvidos por este palavreado, não obstante a infalibilidade papal ter se tornado um dogma oficial da Igreja Católica Romana no Concílio Vaticano de 1870.

Conhecendo a história dos papas, vários bispos católicos se opuseram a fazer da infalibilidade papal um dogma no concílio. Agudas discordâncias entre os papas certamente argumenta contra a ideia da infalibilidade papal.

O papa Honório I, após sua morte, foi denunciado como herético, pelo Sexto Concílio que teve lugar no ano de 680. O papa Leão II confirmou a condenação dele. Se os papas são infalíveis, como um podia condenar o outro? O papa Virgílio, após condenar certos livros, removeu sua condenação, depois os condenou novamente e em seguida retratou-se de sua condenação, em seguida condenou-os novamente.

Os duelos foram autorizados pelo papa Eugênio III (1145-1153). Mais tarde o papa Júlio II (1503-1513) e o papa Pio IV (1559-1565) proibiram-nos.

O papa Sexto V tinha uma versão da Bíblia preparada que ele declarou ser autêntica. Dois anos mais tarde o papa Clemente VIII declarou que ela estava cheia de erros e mandou fazer outra.

O papa Adriano II (867-872) declarou que os casamentos civis eram válidos, mas o papa Pio VII (1800-23) condenou-os como inválidos.

O papa Eugênio IV (J431-47) condenou Joana D”Arc a ser queimada viva como feiticeira. Mais tarde outro papa, Benedito IV, em 1919, declarou que ela era uma “santa”.

Quando consideramos as centenas de vezes e maneiras como os papas se contradisseram uns aos outros através dos séculos, poderemos entender como a ideia da infalibilidade papal é difícil para muitas pessoas aceitarem.

Durante o Concílio Vaticano de 1870, no dia 9 de janeiro, foi proclamado: “O Papa é Cristo em ofício, Cristo em jurisdição e poder… inclinamo-nos diante de tua voz, oh Pio, como diante da voz de Cristo, o Deus da verdade. Unindo-nos a ti, unimo-nos a Cristo.”

Mas, o esboço histórico que temos apresentado mostra claramente que o papa NÃO é “Cristo em ofício” ou em qualquer outra maneira. O contraste é aparente. As coroas muito caras usadas pelos papas tem custado milhões de dólares. Jesus, durante sua vida terrena, não usou qualquer coroa, exceto a coroa de espinhos.

A imoralidade de muitos dos papas — especialmente nos séculos passados — aparece como um contraste surpreendente com o Cristo que é perfeito em santidade e pureza.

Diferentemente dos gregos e hebreus, os romanos não usavam todas as letras do seu alfabeto como números. Eles usavam somente seis letras: D, C, L, X, V e I. (Todos os outros números eram feitos de combinações destes) é interessante e talvez significativo que as seis letras que fazem o sistema numeral romano, quando somadas juntas totalizam exatamente 666.

Riqueza e tradição — muito interessantemente — foram as duas grandes corruptoras da Igreja Romana. A riqueza corrompeu a prática e a honestidade. A tradição corrompeu a doutrina.

Capítulo 20

Ministros do louvor: o clero de segunda classe

Em qualquer igreja moderna se verificara que a liturgia virtualmente começa com hinos, corinhos ou cânticos de louvor e adoração. Não há exceções. Quando chega a hora do sermão sagrado, os que “dirigem a adoração” selecionam os cânticos que serão cantados. Eles começam a cantar tais cânticos.

Isto contrasta fortemente com a maneira de fazer as coisas durante o século I. Na Igreja Primitiva, a adoração e a música estavam nas mãos do povo de Deus.

A origem do coral

Isto começou a mudar com a vinda do coral cristão. A origem do coral cristão remonta do século IV. Sob Constantino, os corais foram desenvolvidos e treinados para ajudar na celebração da Eucaristia. A prática foi adotada do costume romano de dar início às cerimônias imperiais com música solene.

Sob Constantino, os corais foram desenvolvidos e treinados para ajudar na celebração da Eucaristia. A prática foi adotada do costume romano de dar início às cerimônias imperiais com música solene.

Pelo ano 367 d.C., a música da congregação foi completamente eliminada e substituída por corais. Os coros papais começaram no século V. Corais e cantores treinados juntamente com o impedimento do canto pela congregação refletiam a postura cultural dos gregos. Similar ao oratório (diálogo profissional), a cultura grega era baseada na dinâmica artista/auditório. Tragicamente, esta característica foi retirada dos templos de Diana e dos dramas gregos e transportada diretamente para as igrejas.

O chamado canto fúnebre adotado e aceito pelos cristãos também teve origem pagã.

A contribuição da reforma

A principal contribuição da música dos reformadores foi a restauração da música na congregação e o uso de instrumentos na igreja. Lutero também encorajou o cântico congregacional em determinadas partes do culto. Pelo século XVIII, o órgão tomou o lugar do coro nos principais cultos cristãos.

Os primeiros corais protestantes começaram a prosperar em meados do século XVIII. Inicialmente, a função do coro era prover o tom correto para dirigir a música à congregação.

A origem do grupo de louvor

Em muitas das igrejas contemporâneas, sejam carismáticas ou não, o coro foi substituído pelo fenômeno recente do grupo de louvor. Neste tipo de igreja o edifício tem poucos símbolos religiosos.

Em muitas igrejas, o pastor chamará a equipe de louvor de volta à plataforma para cantar alguns cânticos de adoração enquanto ele conclui seu sermão. Um período de “apelo” pode seguir-se enquanto a banda toca.

A origem da “equipe de adoração” remonta à fundação da Capela do Calvário em 1965.

O problema é que isto rouba do povo de Deus uma função vital: A função de selecionar e de dirigir sua própria música nas reuniões — de ter o louvor divino em suas próprias mãos — de permitir que Jesus Cristo dirija a música de Sua Igreja em vez de um diretor humano.

Capítulo 21

A desumana inquisição

A igreja caída tornou-se tão abertamente corrupta na Idade Média, que podemos prontamente entender porque, em muitos lugares, os homens se levantaram em protesto. Muitos foram aquelas almas nobres que rejeitaram as falsas reivindicações do papa, e em lugar disto olharam para o Senhor Jesus para terem a salvação e a verdade. Estes foram chamados “hereges” e foram amargamente perseguidos pela Igreja Católica Romana.

Um dos documentos que ordenaram tais perseguições foi o desumano “Ad exstirpanda”, emitido pelo Papa Inocêncio IV em 1252. Este documento afirmava que os hereges deveriam ser “esmagados como serpentes venenosas”. Ele formalmente aprovou o uso da tortura. As autoridades civis foram ordenadas a queimar os hereges. “A antes mencionada Bula “Ad exstirpanda” permaneceu daí em diante como um documento fundamental da Inquisição, renovado ou reforçado por vários papas tais como, Alexandre IV (1254-1261), Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292) Bonifácio VIII (1290-1303), e outros. As autoridades civis, portanto, eram ordenadas pelos papas, sob pena de excomunhão a executarem as sentenças legais que condenavam os hereges impenitentes ao poste.

Os homens ponderavam muito naqueles dias em como poderiam inventar métodos que produziriam a maior tortura e dor.

Grandes torqueses eram usadas para arrancar as unhas ou aplicavam ferros aquecidos ao rubro a partes sensíveis do corpo. Eram rolados sobre superfícies cheias de lâminas afiadas. Havia o parafuso de polegares para desarticular os dedos e “Botas Espanholas” que eram usadas para esmagar as pernas e os pés.

As vítimas após terem rasgadas suas roupas tinham seus braços amarrados atrás das costas com uma corda dura. Pesos eram amarrados em seus pés. A ação de uma roldana suspendia-as no ar ou deixava-os cair e levantava-os novamente com violência, deslocando as juntas do corpo. Enquanto tal tortura estava sendo empregada, sacerdotes sustentando crucifixos tentavam levar os hereges à retratação.

Alguns que rejeitaram os ensinamentos da igreja romana tiveram chumbo derretido derramado dentro dos ouvidos e bocas. Olhos foram arrancados e outros foram cruelmente açoitados com chicotes. Alguns foram forçados a pular de abismos para cima de paus a pique onde, estremecendo com dores, morriam lentamente. Outros eram sufocados até a morte, engolindo pedaços retalhados dos seus próprios corpos, engolindo urina, ou excremento. À noite, as vítimas da Inquisição eram acorrentadas bem pregadas ao solo ou à parede onde eram presas indefesas de ratos e vermes que enchiam aquelas sangrentas câmaras de tortura.

A intolerância religiosa que incitou a Inquisição causou guerras que envolveram cidades inteiras. Em 1209 a cidade de Beziers foi tomada por homens que tinham recebido a promessa do papa que entrando na cruzada contra os hereges, eles ao morrerem passariam direto, desviando-se do purgatório e entrariam imediatamente no céu.

Os cruzados assistiram à missa solene pela manhã, em seguida passaram a tomar outras cidades da área. Neste cerco estima-se que 100.000 albigenses (protestantes) caíram em um só dia.

No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram trancadas em um celeiro ao qual atearam fogo. Mulheres foram ostensiva e dolorosamente violentadas. Crianças foram assassinadas diante de seus pais que estavam impotentes para protegê-las.

Dez mil Huguenotes (protestantes) foram mortos no sangrento massacre em Paris no “Dia de São Bartolomeu”, em 1572. O rei francês foi à missa para agradecer solenemente o fato de tantos hereges terem sido mortos. Ele ordenou que a casa da moeda papal fizesse moedas comemorando este acontecimento.

A Inquisição não pode ser explicada muito facilmente, pois embora algumas vezes a tortura fosse levada a efeito além do que realmente era prescrito, o fato que permanece é que ela foi ordenada por decreto papal e confirmada por papa apôs papa. Pode alguém acreditar que tais ações foram representativas Dele que disse para dar o outro lado da face, perdoar nossos inimigos, e fazer bem àqueles que nos desprezam?

Capítulo 22

Educação cristã: lavagem cerebral

Na mente da maioria dos cristãos, a educação cristã formal qualifica uma pessoa a fazer a obra do Senhor.

A ideia de que um obreiro cristão necessita frequentar uma universidade cristã ou um seminário para ser um obreiro legítimo é um pensamento inculcado. Tal pensamento não se ajusta bem com a ideia dos primeiros cristãos.

No século I, as pessoas chamadas ao serviço do Senhor foram treinadas de duas maneiras:

1) Eles aprenderam as lições essenciais do ministério cristão vivendo uma vida compartilhada com um grupo de cristãos. Em outras palavras, eles eram treinados experimentando a vida na igreja não como líderes, mas como aprendizes.

2) Eles aprenderam a obra do Senhor sob a tutela de um obreiro maior e mais experimentado.

As quatro etapas da educação teológica

Ao longo da história da Igreja houve quatro etapas da educação teológica. A saber: Episcopal, Monástica, Escolástica e Pastoral. Apresenta-se brevemente cada uma delas:

Episcopal. A teologia da idade patrística (entre os séculos III e V) foi chamada “episcopal” pelo fato das lideranças teológicas serem bispos. 6[6]. Esta teologia foi marcada pelo treinamento dos bispos e sacerdotes, e versava sobre como cumprir os vários rituais e liturgias da igreja.

Monástica. A fase monástica da educação teológica foi vinculada à vida ascética e mística. Era ensinada por monges que viviam em comunidades monásticas e mais tarde em escolas universitárias. As escolas monásticas foram fundadas no século III. Tais escolas enviaram missionários a territórios inexplorados depois do século IV.

Escolástica. A terceira etapa da educação teológica deve muito à cultura universitária. Pelo ano 1200, alguns ambientes de catequese cristã viraram universidades. A Universidade de Bolonha na Itália foi a primeira a surgir. A Universidade de Paris foi a segunda, depois veio Oxford.

Seminarista. A teologia seminarista saiu da teologia “escolástica” ensinada nas universidades.

Sua meta era produzir especialistas religiosos treinados no seminário. Lá ensinavam teologia — não a do primitivo bispo, monge, ou professor — mas a do ministro profissionalmente “qualificado”. Esta é a teologia que predomina no moderno seminário.

Os primeiros seminários

Durante a Era Medieval a educação clerical foi mínima. Pelo tempo da Reforma, muitos pastores protestantes anteriormente convertidos pela Igreja Católica não tinham experiência com a pregação. A eles faltava treinamento e educação.

Portanto, durante o desenvolvimento da Reforma foram tomadas providências para que os pastores não educados pudessem frequentar escolas e universidades.

Este tipo de treinamento teológico produziu “uma nova profissão” — o pastor treinado teologicamente.

Desde seu início, o protestantismo promoveu um clero bem educado que chegou a ser o elemento principal do movimento. No terreno protestante, o clero representava os cidadãos mais educados. E eles aproveitaram de sua educação para exercer sua autoridade. Podemos creditar a fundação do seminário aos católicos no final do século XVI.

Em 1860 havia um total de 60 seminários protestantes na América do Norte. Este rápido crescimento em grande parte foi devido ao resultado do ingresso dos convertidos produzidos pelo Segundo Grande Despertar (1800-1835) e à necessidade de treinar ministros para cuidar dos novos crentes.

Escola dominical

A Escola Dominical também é uma invenção relativamente moderna, surgida cerca de 1700anos depois de Cristo. Roberto Raikes (1736-1811) é tido como o fundador da Escola Dominical. Em 1780, ele fundou uma escola para crianças pobres. Raikes não fundou a Escola Dominical com o propósito de dar instrução religiosa.

Raikes estava preocupado com o baixo nível de alfabetização e com a imoralidade entre as crianças em geral.

O movimento da Escola Dominical alcançou seu ápice quando chegou aos Estados Unidos. A primeira Escola Dominical dos Estados Unidos surgiu em Virginia em 1785.

Por volta de 1805, as Escolas Dominicais se espalharam ao longo dos Estados Unidos. Em1810, a Escola Dominical começou a migrar de um esforço filantrópico para ajudar crianças pobres para um instrumento de evangelização.

A Escola Dominical tornou-se o principal campo de recrutamento da igreja moderna. Hoje, a Escola Dominical é usada tanto para recrutar novos convertidos como para treinar jovens na doutrina da fé. A maioria dos jovens vê a escola dominical como algo chato e irrelevante.

O pastor da juventude

Depois da Segunda Guerra Mundial (1945 em diante), os estadunidenses desenvolveram uma tremenda preocupação pela juventude nos Estados Unidos. Isto se estendeu à igreja cristã. Reuniões de jovens nas décadas de 1920 e 1930 sob a bandeira “Jovens Para Cristo” engendraram uma organização “para-igreja” com o mesmo nome por volta de 1945.

Com o ingresso de muitos adolescentes, surgiu a ideia de que alguém necessitava ser indicado para trabalhar com eles. Assim, pois, nasceu o ministro juvenil profissional. O pastor de jovens começou a sair pelas grandes igrejas urbanas entre 1930-50. Depois se moveu para os subúrbios nos anos 60.

Hoje, o pastor de juventude é uma instituição permanente na igreja organizada, tanto quanto o pastor. Mas nem um nem outro tem qualquer raiz nas Escrituras.

Expondo o Coração do Problema

Tanto Platão como Sócrates ensinaram que conhecimento é virtude. Ser “bom” significa ter o máximo de conhecimento. Portanto, o ensino do conhecimento é o ensino da virtude.

Os filósofos gregos, Platão e Aristóteles (ambos alunos de Sócrates) são os pais da moderna educação cristã.

Essencialmente, a moderna aprendizagem teológica é cerebral. Pode ser chamada de “pedagogia líquida”.

O moderno ensino teológico é uma educação de transferência de dados. Sai de um caderno e passa para outro. E isso significa muito nestes dias quando muitos cristãos estão obcecados com títulos teológicos e em suas análises sobre qualificações ministeriais.

É falacioso tratar homens e mulheres que saem do seminário ou da faculdade bíblica como pessoas devidamente “qualificadas”. E tratar os que não passam por estas coisas como “desqualificados”. Por tal padrão muitos vasos selecionados do Senhor não passariam por este teste.

Capítulo 23

“Dominadores sobre a herança de Deus”

Os homens de mais alto escalão da Igreja Católica Romana, os mais aproximados do papa, são um grupo de “cardeais”. A Bíblia diz que Cristo colocou apóstolos profetas, evangelistas, pastores e mestres em sua Igreja (Ef, 4:11). Porém, jamais encontramos qualquer indicação que ele ordenou um grupo de cardeais.

“O colégio dos Cardeais, como papa como seu cabeça”, escreve Hislop, “é simplesmente a réplica do colégio pagão de Pontífices, com seu Pontífice Máximo, ou Soberano Pontífice, que é conhecido como tendo sido feito no modelo do grande original Concílio de Pontífices em Babilônia”. Quando o paganismo e o cristianismo se misturaram, os cardeais, sacerdotes dos gonzos. Que haviam servido na Roma pagã, eventualmente encontraram um lugar na Roma papal.

Desde os tempos antigos, a cor vermelha ou escarlata tem sido associada com o pecado. Isaías, em seus dias, disse: “Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a lã” (Isaías 1:18). O adultério é algumas vezes citado como o pecado escarlata. A cor vermelha está associada com a prostituição, como na expressão “distrito da luz vermelha”. Em vista destas coisas, não parece injusto questionar porque o vermelho seria usado para os paramentos dos homens de mais alto grau na igreja romanista.

Os próximos em autoridade abaixo do papa e dos cardeais são os bispos da igreja Católica. Diferentemente dos títulos “papa” e “cardeal”, a Bíblia realmente menciona bispos.

Como a palavra “santos”, contudo, a palavra “bispo” tem sido comumente mal interpretada. Muitos pensam em um bispo como um ministro de ordem superior, tendo autoridade sobre um grupo de outros ministros e igrejas. Esta ideia reflete-se na palavra “catedral”, que vem de cathedra que significa “trono’’. Uma catedral, diferentemente de outras igrejas, é aquela na qual o trono do bispo está localizado.

Muito claramente, um bispo não era um ministro de uma grande cidade que se sentava em um trono e exercia autoridade sobre um grupo de outros ministros. Cada igreja tinha seus anciãos e estes anciãos eram bispos. Isto foi entendido por Martinho Lutero. “Mas, a respeito dos bispos que ora temos”, ele observou, “destes as Escrituras nada sabem; eles foram instituídos… de modo que um possa dominar sobre muitos ministros”.

A palavra “sacerdote” em um sentido muito real pertence a todo cristão, crente — não somente a líderes eclesiásticos.

Ao se rejeitar uma divisão artificial entre “clero” e “laicato”, não estamos falando que os ministros não devem receber respeito apropriado e honra, “especialmente aqueles que trabalham na palavra” (I Tim. 5:17). Mas, por causa desta divisão, muito frequentemente as pessoas de uma congregação tem a tendência de colocar toda a responsabilidade do trabalho de Deus sobre o ministro.

Realmente Deus tem um ministério para todo o seu povo. Não estamos dizendo com isto que todos têm um ministério de púlpito, mas até mesmo dar um copo de água fria não fica sem propósito nem recompensa (Mat. 10:42).

No Novo Testamento, o pleno trabalho de uma igreja não era colocado sobre um indivíduo. As igrejas eram comumente pastoreadas por uma pluralidade de anciãos, como o mostram numerosos textos bíblicos. O sacerdócio de todos os crentes é claramente a posição do Novo Testamento. Mas como os homens se exaltaram a si mesmos como “dominadores sobre a herança de Deus”, as pessoas foram ensinadas que precisavam de um sacerdote a quem podiam contar seus pecados, dar-lhes os últimos rituais, dizer missas para elas, entre outras coisas. Elas foram ensinadas a depender de um sacerdote humano, enquanto o verdadeiro sumo-sacerdote, o Senhor Jesus, era obscurecido à vista delas por uma nuvem escura de tradições feitas pelo homem.

Como um aviso contra esta prática, Jesus disse: “A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:9-12.).

É difícil entender como uma igreja que reclama ter Cristo como seu fundador — depois de uns poucos séculos — começou a usar os mesmos títulos que ele disse para NÃO usar.

Quando Jesus falou contra títulos lisonjeiros, o pensamento básico era que devia haver humildade e igualdade entre seus discípulos.

Capítulo 24

Um sacerdócio solteiro

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento (1 Timóteo 4;l-3,).

Realmente, este desvio da fé, como aqueles que conhecem História entendem, aconteceu lá atrás nos primeiros séculos.

O casamento ser proibido na religião dos mistérios, não se aplicava a todas as pessoas. Era, em vez disto, uma doutrina de celibato sacerdotal.

Nem todas as nações exigiram o celibato sacerdotal, como no Egito, onde os sacerdotes tinham permissão de casar-se.

Em lugar da doutrina de “proibir o matrimônio” promovendo a pureza, contudo, os excessos cometidos pelos sacerdotes solteiros da Roma pagã foram tão horríveis que o Senado achou que eles deveriam ser expulsos da república romana.

Mais tarde, após o celibato clerical tornar-se estabelecido na Roma papal, problemas semelhantes surgiram.

Roma, naqueles dias, era uma “cidade santa” somente de nome. Relatórios estimaram que haviam em torno de seis mil prostitutas nessa cidade, com uma população que não excedia cem mil. Os historiadores contam que “’todos os eclesiásticos tinham amantes, e todos os conventos da Capital eram casas de má fama. Um pequeno lago em Roma estava situado perto de um convento. Esse foi drenado por ordem do papa Gregório. No fundo foram encontrados mais de seis mil crânios de bebês.

Os estupros eram tão horríveis no nono século, que São Teodoro Studita proibiu até mesmo animais fêmeas na propriedade do mosteiro. No ano de 1477, danças noturnas e orgias eram realizadas no claustro católico em Kercheim, que são descritas na história como sendo piores do que aquelas vistas nas casas públicas de prostituição. Os padres vieram a ser conhecidos como “os maridos de todas as mulheres”.

A The Catholic Encyclopedia, embora procurando explicar e justificar o celibato admite que tem havido muitos abusos.

“Um grande número do clero, não somente sacerdotes, mas bispos também, abertamente tomavam esposas, e geravam filhos a quem transmitiam seus benefícios”. Não existe regra na Bíblia que exija que um ministro seja solteiro. Os apóstolos eram casados (I Cor. 9:5) e um bispo tinha que ser “o marido de uma só mulher” (I Tím. 3:2).

A doutrina de “proibir o matrimônio” desenvolveu-se somente gradualmente dentro da Igreja Católica. Quando a doutrina do celibato começou a ser ensinada, muitos dos sacerdotes eram homens casados. Em um concílio romano convocado pelo papa Sirício em 336 foi passado um edito proibindo que os sacerdotes e diáconos tivessem relações sexuais com suas mulheres.

A Bíblia chama à proibição do casamento uma “doutrina de demônios”.

A doutrina de proibir os sacerdotes de se casarem encontrou outras dificuldades no passar dos séculos, por causa do confessionário.

É fácil ver que a prática de moças e mulheres confessarem suas fraquezas morais e desejos a sacerdotes solteiros poderia facilmente resultar em muitos abusos.

Existe um tipo de confissão que a Bíblia ensina, mas não é a um padre solteiro. A Bíblia diz, “confessai vossas faltas uns aos outros” (Tiago 5:16). Se este versículo pudesse ser usado para dar apoio a ideia católica da confissão, então não somente as pessoas deveriam confessar aos padres, mas os padres deveriam também confessar seus pecados ao povo. Quando Simão de Samaria pecou, depois de ter sido batizado, Pedro não lhe disse para confessar a ele. Ele não disse para rezar a “Ave Maria” certo número de vezes por dia. Pedro disse a ele para “orar a Deus” pedindo perdão (Atos 8:22).

Quando Pedro pecou, confessou a Deus e foi perdoado; quando Judas pecou, confessou a um grupo de sacerdotes e cometeu suicídio (Mal. 27:3-5). A ideia de confessar a um sacerdote não veio da Bíblia, mas veio da Babilônia. Essa ideia era conhecida em muitas partes do mundo.

Negro é a cor distintiva das roupas do clero usadas pelos padres da Igreja Católica Romana e algumas denominações protestantes também seguem este costume. A Bíblia menciona certos sacerdotes de Baal que se vestiam de preto.

Outra prática da igreja católica que também foi conhecida nos tempos antigos e entre povos não cristãos é a Tonsura, que é um rito sagrado instituído pela Igreja pelo qual um cristão é recebido na ordem clerical, sendo raspado seu cabelo. Hoje o costume não é mais praticado em muitos países. É conhecido e reconhecido que este costume não estava em uso na Igreja primitiva. Mas era conhecido entre as nações pagãs.

Capítulo 24

A missa

Sobre a missa, The Catholic Encyclopedia diz: “Na celebração da Santa Missa, o pão e o vinho são transformados no corpo e no sangue de Cristo. Isto é chamado de transubstanciação, pois no Sacramento da Eucaristia a substância do pão e do vinho não permanece a mesma. Mas a inteira substância do pão e do vinho é mudada em sua carne e seu sangue, embora permaneça a semelhança exterior do pão e do vinho somente”.

A base para esta crença é buscada nas palavras de Jesus quando Ele falou a respeito do pão que abençoara. “Tomai e comei; este é meu corpo” e do cálice, “Bebei dele todos; pois este é meu sangue” (Mat. 26:26-28). Mas, forçar um significado literal nestas palavras cria numerosos problemas de interpretação e tende a subestimar o fato que a Bíblia comumente usa expressões figuradas.

Depois que Jesus abençoou os elementos, estes não foram transformados em seu corpo e sangue literais uma vez que Ele (literalmente) estava ainda ali. Ele não sumiu para aparecer na forma de pão e de vinho. Depois que havia abençoado o cálice, ainda chamou-o de “fruto da vide”, não sangue literal (Mat. 26:29).

Não existe qualquer evidência que qualquer mudança vem para os elementos através do ritual romanista. Eles permanecem com o mesmo gosto, cor, cheiro, peso, e dimensões.

O Concilio ordenou pastores para explicar que não somente os elementos da missa contém carne, ossos, e nervos como uma parte de Cristo, mas também um Cristo completo.

A própria ideia de Cristo — “carne e sangue, corpo e alma, divindade e humanidade” — sendo oferecido repetidamente como uma “renovação” do sacrifício da cruz, fica em gritante contraste com as palavras de Jesus na cruz, “Está consumado” (João 19:30). Os sacrifícios do Velho Testamento tinham que ser oferecidos continuamente porque nenhum deles era o perfeito sacrifício. Mas agora “nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus. Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10:10-14).

Aqueles que acreditam que o sacrifício da cruz deveria ser continuamente renovado na Missa, em um certo sentido “de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia” (Heb. 6:6).

A santa mãe Igreja tem aprovado o costume de comunicar sob um elemento. A comunhão sob ambos os elementos não apenas deixa de ser obrigatória aos fiéis, como o cálice é estritamente proibido pela lei eclesiástica a qualquer um, a não ser o sacerdote celebrante. Depois de muitos séculos, esta lei não tem sido relaxada. Alguns católicos têm permissão de participar tanto do pão, como do cálice, mas os costumes variam de lugar para lugar.

É dada evidência abundante aos rituais de transubstanciação entre muitas nações, tribos, e religiões.

No Mitraísmo uma sagrada refeição de pão e vinho era celebrada. O Mitraísmo tinha uma Eucaristia, mas a ideia de um banquete sagrado é tão antiga quanto à raça humana e existia em todas as eras e entre todos os povos.

Durante a Missa os membros da igreja romanista de boa-fé podem vir à frente e ajoelhar-se diante do sacerdote que coloca um pedaço de pão em suas bocas o qual tem se tornado um “Cristo”.

Este pedaço de pão é chamado de “hóstia” de uma palavra latina originalmente significando “vítima” ou “sacrifício.

Na religião dos mistérios do Mitraísmo, os mais altos iniciados do sistema recebiam um pequeno bolo redondo ou bolacha de pão esmo que simbolizava o disco solar, como o simbolizava também sua tonsura redonda.

Em 1854 um antigo templo foi descoberto no Egito com inscrições que mostram pequenos bolos redondos em um altar. Acima do altar está uma grande imagem do sol.

Era costume de os egípcios colocar um disco solar (algumas vezes com asas ou outros símbolos) sobre a entrada de seus templos — para honrar o deus sol e expulsar os maus espíritos. Não estamos sugerindo, é claro, que os desenhos circulares em uso hoje trazem o significado que tiveram uma vez para aqueles que iam aos templos pagãos. Não obstante, a semelhança parece significativa.

A janela circular que tem sido tão comumente usada acima das entradas das igrejas é algo chamado de janela de “roda”. O desenho de roda, como a roda de uma carruagem, acreditava alguns dos antigos também ser um símbolo do sol.

Quando os israelitas se misturaram com a religião de Baal, eles tiveram “carruagens do sol” — carruagens dedicadas ao deus sol (II Reis 23:4’H). Uma imagem na forma de uma roda de carruagem está colocada sobre a famosa estátua de Pedro na catedral de mesmo nome.

As figuras romanistas de Maria e dos santos sempre tem um disco circular ao redor da cabeça. A tonsura romana é redonda. Imagens redondas são vistas acima dos altares e entradas. O ostensório no qual a hóstia redonda é colocada, sempre mostra um desenho do sol soltando raios. Todos estes usos dos símbolos do sol podem parecer bastante insignificantes. Mas, quando a figura completa é vista, cada uma fornece uma pista para ajudar a resolver o mistério da moderna Babilônia.

As bolachas redondas da Missa são sempre desenhadas como círculos marcados por cruzes. Não podemos deixar de notar como estes desenhos são semelhantes àqueles que estão nas bolachas redondas de um monumento assírio.

Quando Jesus instituiu a ceia memorial, ela foi à noite. Os primeiros cristãos participavam da ceia do Senhor à noite, seguindo o exemplo de Cristo e os tipos do Velho Testamento. Porém, mais tarde a ceia do Senhor veio a ser observada pela manhã. Seja qual for a razão, isto agora é um costume comum tanto entre os católicos, como entre os protestantes tomar a “Ceia” do Senhor pela manhã.

Comentando sobre a Missa e seu elaborado ritualismo, o livro “O Romanismo e o Evangelho” diz: “É um espetáculo de fantasiosa magnificência — luzes, cores, vestimentas, músicas, incenso, e o que tem um estranho efeito psicológico, um número de oficiantes isolados, fazendo um ritual estático, completamente independentes dos adoradores. Estes são na verdade espectadores, não participantes, espectadores como aqueles que estavam presentes em representações dos antigos cultos de mistérios”.

Capítulo 25

Sermão: a vaca mais sagrada do protestantismo

Ao Sermão, uma das práticas mais sacrossantas. O sermão é a base da liturgia protestante. A razão pela qual a maioria dos cristãos vai à igreja é pela importância do sermão. De fato, o culto como um todo é tipicamente julgado pela importância do sermão.

O conceito do cristianismo moderno relaciona o sermão ao culto dominical matutino.

Para o cristão típico, o sermão é a principal provisão de sustento espiritual. É mais importante que a oração, a leitura bíblica e a confraternização entre os irmãos. E, sejamos honestos, é ainda mais importante que a comunhão com Jesus Cristo. A surpreendente realidade é que o sermão não tem raiz nas Escrituras.

O sermão, que tem pouco a ver com o genuíno crescimento espiritual, na realidade não elimina o propósito que Deus desenhou com relação à reunião da Igreja.

O sermão e a bíblia

As Escrituras registram homens e mulheres pregando. Todavia, há uma grande diferença entre a pregação inspirada pelo Espírito, descrita na Bíblia, e o moderno sermão. Esta diferença quase sempre passa por alto porque fomos condicionados a não nos importarmos.

No AT, os homens de Deus pregavam e ensinavam. Mas sua falação não se encaixa com o sermão moderno. No NT Senhor Jesus não pregava um sermão regular à mesma audiência.

As cartas do NT mostram que o ministério da Palavra de Deus incorporava a igreja como um todo em suas reuniões regulares. O moderno sermão proferido aos cristãos é algo alheio a toda Bíblia. Não há absolutamente nada nas Escrituras que indique sua existência nas reuniões da Igreja Primitiva.

De onde vieram os sermões cristãos?

O mais antigo registro cristão relacionado à pregação de sermões refere-se ao final do século II. Apesar de seu reconhecido fracasso, o sermão chegou a ser uma prática normal entre os crentes no princípio do século IV.

O sermão cristão foi adotado diretamente da fonte pagã da cultura grega. Para compreender o nascedouro do sermão, temos que voltar ao século V a.C. e analisar um grupo de mestres peregrinos chamados sofistas. Atribui-se aos sofistas a invenção da retórica (a arte de falar persuasivamente). Eles recrutavam discípulos e exigiam pagamento dos interessados em ouvir seus discursos.

Os sofistas se tornaram conhecidos pelas roupas especiais que usavam.

Alguns tinham uma residência fixa onde proferiam seus sermões regularmente à mesma audiência. Outros viajavam para proferir seus polidos discursos. Eles ganhavam bastante dinheiro nesta atividade.

Os sofistas foram os homens mais distintos de seu tempo. Tanto que eles viviam por conta própria. Outros tiveram estátuas públicas erigidas em sua homenagem.

Quase um século mais tarde, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) fez uma modificação na retórica ao agregar três pontos à mensagem. “O todo”, disse Aristóteles, “necessita um princípio, um meio e um fim”. Com o tempo, os oradores gregos implementaram o princípio dos três pontos de Aristóteles em seus discursos.

Quando Roma conquistou a Grécia, os romanos ficaram encantados com respeito à retórica. Por conseguinte, a cultura greco-romana desenvolveu uma cobiça insaciável por escutar alguém proferir um discurso eloquente.

Os gregos e romanos antigos viram a retórica como uma das mais elevadas formas de arte.

Os oradores conseguiam deixar uma multidão frenética simplesmente por sua poderosa destreza retórica.

A chegada de uma corrente contaminada

Por volta do século III, foi criado um vácuo quando o ministério mútuo do Corpo de Cristo se desvaneceu. Durante este tempo, o trabalhador itinerante que falava de uma forma espontânea deixou as páginas da história da igreja.

Para substituí-lo, começou a surgir uma casta clerical. As reuniões abertas começaram a desaparecer, e as reuniões da igreja passaram a ser mais e mais litúrgicas.

Durante o século III surgiu a ideia do “especialista em religião”. Pelo século IV, a igreja tornou-se completamente institucionalizada e o funcionamento do povo de Deus congelou.

Nesse meio tempo muitos oradores pagãos se tornaram cristãos. Como resultado, ideias filosóficas pagãs foram inadvertidamente sendo introduzidas na comunidade cristã.

Assim, a ideia pagã de um orador profissional treinado para proferir discursos ou sermões mediante pagamento passou diretamente ao sangue do cristianismo.

Estes ex-oradores pagãos (agora cristãos) começaram a utilizar integralmente suas destrezas oratórias para fins cristãos. Se comparar um sermão do século III com um proferido com os pais da igreja, você encontrará a estrutura e a fraseologia de ambos bem semelhantes.

Então, um novo estilo de comunicação passou a tomar forma na igreja cristã, um estilo marcado por uma polida retórica, uma gramática sofisticada, uma eloquência descritiva, e um monólogo.

O sermão greco-romano substituiu a profecia, a mútua partilha e o ensino inspirado pelo Espírito. O sermão chegou a ser privilégio elitista de líderes da igreja, particularmente os Bispos.

Hoje, os seminaristas fazem um curso chamado homilética para aprender a pregar.

Os reformadores, os puritanos e o grande despertar

Durante a era Medieval, a Eucaristia dominava a Missa Católica Romana, e a pregação ficou para traz. Mas, com o surgimento de Martinho Lutero (1483-1546), o sermão recuperou sua proeminência no culto de adoração.

Os Puritanos adotaram o estilo de pregar usado por Calvino. Era a exposição das Escrituras de forma sistemática. Um estilo adotado dos pais da igreja, o qual chegou a ser bem popular durante a Renascença. Os eruditos dessa época proviam comentários de textos da Antiguidade clássica, oração por oração.

Seguindo o caminho de seu pai João Calvino, os Puritanos centraram todos seus cultos eclesiásticos em torno do ensino sistemático da Bíblia. Pretendendo evangelizar a Inglaterra (purificá-la dos equívocos Anglicanos), os Puritanos centraram todos seus cultos em torno de exposições bíblicas, versículo a versículo, estruturadas, metódicas e lógicas.

Este estilo estava ligado à memorização das notas do sermão. As divisões, subdivisões e análises do texto bíblico elevaram o sermão ao nível de uma fina ciência. Esta forma ainda é utilizada por inúmeros pastores.

O Grande Despertar foi outra influência responsável pelo tipo de pregação comum às primeiras igrejas Metodistas, o qual está em uso atualmente nas igrejas Pentecostais. Fortes ímpetos emocionais, gritos, saltos desde a plataforma até o público, tudo isso são vestígios dessa tradição.

Resumindo a origem do sermão moderno, podemos dizer o seguinte: O cristianismo adotou a retórica greco-romana, batizando-a e forrando-a com fraldas. A homilia grega encontrou o caminho da igreja cristã por volta do século II, e alcançou seu apogeu com os oradores de púlpito do século IV, a saber, Crisóstomo e Agostinho.

Como a prédica do sermão degrada a igreja

Embora venerado por cinco séculos, o sermão convencional tem contribuído das mais variadas formas para a degradação da igreja.

Primeiramente, o sermão faz com que o pregador seja uma virtuose artística do culto eclesiástico. Como resultado, a participação da congregação fica obstaculizada (na melhor hipótese) e excluída (na pior hipótese).

Em segundo lugar, o sermão estanca o crescimento espiritual. Pelo fato de ser uma estrada de uma só mão, o sermão embota a curiosidade e produz passividade. O sermão debilita a igreja no que toca ao seu funcionamento.

Como cristãos, necessitamos funcionar, exercitar, caminhar para poder crescer.

Em terceiro lugar, o sermão conserva a mentalidade do clero antibíblico. Cria uma excessiva e patológica dependência do clero. O sermão faz do pregador um especialista em religião, o único que tem algo de valor a compartilhar. Trata todos os demais como cristãos de segunda categoria, como esquentadores de banco.

O sermão torna a “igreja” distante e impessoal.

Em quarto lugar, não importa quão forte e extensamente o ministro fale acerca de “equipar os santos para a obra do ministério”, a verdade é que a pregação de sermões não equipa ninguém para o serviço espiritual. Na realidade, o povo de Deus acostumou-se tanto a ouvir sermões que os pastores se acostumaram a pregá-los.

Em quinto lugar, o moderno sermão é totalmente contraproducente. A maioria dos pregadores é especialista em coisas que nunca experimentou. Por ser abstrato e teórico, piedoso e inspirador, demandante e obrigatório, entretido e ruidoso, o sermão não coloca os ouvintes em uma experiência direta e prática daquilo que é pregado.

O sermão reflete seu verdadeiro pai — a retórica greco-romana. A retórica greco-romana estava mergulhada em abstrações. De qualquer forma, o sermão não promove crescimento espiritual. Mais que isso, ele agrava o empobrecimento da igreja.

Capítulo 26

Liturgia: a realidade das manhãs dominicais

O cristão que frequenta a igreja moderna observa a mesma superficialidade litúrgica cada vez que vai à igreja. Não importa qual denominação protestante ele pertença o serviço da igreja nas manhãs de domingo é virtualmente o mesmo em todas as igrejas protestantes. Mesmo entre as denominações chamadas “vanguardistas” as variantes são mínimas.

Pequenas variações, a liturgia é essencialmente a mesma em todas as igrejas protestantes do mundo.

A liturgia dominical

A prescrição litúrgica é a mesma em todos os cultos. A ver:

Cumprimento: Quem entra na igreja, é abordado por um porteiro sorridente.

Leitura Bíblica ou Oração: Usualmente feita pelo pastor ou líder dos músicos.

Cânticos: Um músico, coro, ou equipe de louvor dirige a congregação nos cânticos.

Anúncios: Usualmente dados pelo pastor ou algum outro líder da igreja.

Coleta: A chamada “oferta” é usualmente acompanhada por um cântico.

Sermão: Normalmente é um discurso de 30 a 45 minutos proferido pelo pastor. Depois do Sermão segue-se uma ou mais das seguintes atividades:

Esta é a férrea liturgia observada religiosamente semana após semana por cerca de 345 milhões de protestantes no mundo. Fato que nos últimos 500 anos ninguém parece questionar.

Liturgia é tida como sacrossanta aos olhos da maioria dos cristãos modernos. Mas por quê? Simplesmente devido ao titânico poder da tradição.

A origem da liturgia protestante

Os pastores falam rotineiramente a suas congregações, “fazemos tudo conforme a Bíblia”, contudo, praticam esta férrea liturgia. Eles não agem corretamente. (Acredito que esta falta de veracidade deve-se mais à ignorância do que à má fé).

Verifique sua Bíblia do começo ao fim, você não encontrará nada semelhante a isso. Os cristãos do século I nada sabiam sobre tais coisas. Na realidade, essa liturgia protestante tem tanto apoio bíblico quando à Missa católica.

A liturgia do culto protestante tem suas raízes principais na Missa Católica. A Missa não teve origem no NT e isso é significativo. A Missa saiu do antigo Judaísmo e do paganismo.

A Missa Medieval refletia a mente de seu padre, Gregório. Foi uma combinação de rituais pagãos e judaicos borrifados com teologia católica e vocabulário cristão.

A Missa Católica que se desenvolveu do século IV até o século VI foi essencialmente pagã. Os cristãos copiaram as vestimentas dos sacerdotes pagãos, o uso do incenso e da água benta nos ritos de purificação, a queima de velas durante a adoração, a arquitetura da basílica romana em seus edifícios de igreja, dentre várias outras coisas.

A contribuição de Lutero

No ano de 1520, Lutero lançou uma violenta campanha contra a Missa Católica Romana. O ponto culminante da Missa sempre foi a Eucaristia, também conhecida como “Comunhão”.

Da perspectiva da mente católica Medieval, oferecer a Eucaristia era Jesus Cristo se sacrificando novamente.

Lutero repudiava as mitras e os báculos dos papistas, e seus ensinos sobre a Eucaristia. O erro cardeal da Missa, disse Lutero, era que esta foi uma “obra” humana baseada numa falsa compreensão do sacrifício de Cristo.

Em 1523, Lutero enunciou sua própria revisão da Missa Católica. Esta revisão é o fundamento de toda adoração protestante. Lutero colocou a pregação no centro da reunião.

Por conseguinte, no culto de adoração dos protestantes modernos o púlpito é o elemento central e não a mesa do altar.

Lutero recebe o crédito por fazer com que o sermão seja o ponto culminante do culto protestante. Em suas palavras: A pregação e o ensino da Palavra de Deus é a parte mais importante do culto divino.

Lutero fez uma drástica cirurgia na oração Eucarística, mantendo apenas as “palavras sacramentais”. Tais palavras são as de 1 Coríntios 11:23 em diante — “O Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão… e disse ‘Tomai e comei, este é o meu Corpo’…” Até hoje os pastores protestantes recitam religiosamente este texto antes de ministrar a comunhão.

Enfim, a liturgia de Lutero era nada menos que uma versão truncada da Missa Católica. Os paroquianos continuaram sendo espectadores passivos e toda liturgia era dirigida por um clérigo ordenado.

As maiores mudanças duradouras feitas por Lutero na Missa Católica foram às seguintes: (1) Ele realizou a Missa na linguagem do povo. (2) Deu ao sermão uma posição central na reunião. (3) Ele introduziu a música na congregação. Ele eliminou a ideia de que a Missa era um sacrifício de Cristo. (5) Permitiu que a congregação participasse no pão e no vinho. Aparte destas diferenças, Lutero manteve a mesma liturgia como se vê na Missa Católica.

Sob a influência de Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o sacerdote católico. Em sua maior parte, houve pouca diferença prática na maneira como funcionaram estas duas instituições.

Contribuição de Zwinglio

Com a invenção da imprensa (por volta de 1450), o aumento na produção de livros litúrgicos acelerou as mudanças litúrgicas que os reformadores tentavam efetuar.

Zwinglio (1484-1531), o reformador suíço substituiu a mesa do altar por algo chamado “mesa da comunhão”, onde se ministrava o pão e o vinho. Ele também ordenou que se levasse o pão e o vinho à congregação em seus bancos utilizando bandejas de madeira e taças.

Também recomendou que a Santa Ceia fosse observada trimestralmente. Fez isso em oposição ao tomá-la semanalmente como os outros reformadores haviam recomendado.

A Contribuição de Calvino e companhia

O reformador João Calvino da Alemanha (1509-1564) alongou o formato litúrgico. Ele criou suas próprias ordens de adoração. Ele fez algumas modificações na liturgia de Lutero. A mais notável foi a coleta de dinheiro após o sermão.

Calvino acreditava que cada crente tinha acesso a Deus através da Palavra pregada e não através da Eucaristia.

A igreja de Calvino em Gênova foi o modelo para todas as igrejas reformadas. Suas ordens de adoração se estenderam por toda parte. Provavelmente, a característica mais nociva da liturgia de Calvino foi dirigir a maior parte do culto de cima do púlpito. O cristianismo nunca se recuperou disso. Hoje, o pastor atua como mestre de cerimônias e diretor executivo do culto dominical matutino, da mesma forma que o sacerdote da Missa Católica.

Na medida em que o Calvinismo se espalhou por toda Europa, a liturgia de Calvino passou a ser adotada na maioria das igrejas protestantes.

Em outras palavras, os pais da igreja daquele período representaram o nascente catolicismo (atual). Foi de lá que Calvino retirou seu principal modelo para restabelecer uma nova liturgia.

A contribuição dos puritanos

Os Puritanos foram os Calvinistas da Inglaterra. Os Puritanos sentiram que a ordem de adoração de Calvino não era suficientemente bíblica. Por conseguinte, quando os pastores proclamam coisas como “fazer tudo conforme a Palavra de Deus”, eles ecoam sentimentos puritanos.

O abandono das vestes clericais, ídolos, ornamentos e o clero escrevendo seus próprios sermões foi uma contribuição positiva que os puritanos nos legaram.

O sermão alcançou seu apogeu com os Puritanos Americanos. Eles sentiram que era algo quase sobrenatural.

A contribuição Puritana na formação da liturgia protestante não resultou em libertar o povo de Deus para que este funcionasse sob a direção de Cristo. Como as reformas litúrgicas anteriores, a ordem Puritana de adoração era altamente previsível. Era escrita em seus mínimos detalhes e seguida uniformemente em cada igreja.

As contribuições dos metodistas e do evangelismo fronteiriço

Os Metodistas foram os precursores dos Pentecostais.

Os Metodistas seguiram os Puritanos no que se refere a incluir a oração pastoral antes do sermão dominical. As orações dos clérigos metodistas eram dolorosamente extensas e universais em seu alcance.

Ainda hoje, no século XXI, a oração pastoral elisabetana continua vivendo e respirando.

Pelo poder irrefletido da tradição os séculos XVIII e XIX trouxeram novidades para o protestantismo americano. Foi quando surgiram os populares cultos do Evangelismo Fronteiriço estadunidense. Eles alteraram a meta da pregação. Sua meta exclusiva era a conversão de almas. Dentro da cabeça do evangelista, não havia outra coisa no plano de Deus a não ser a salvação.

Whitefield foi o primeiro evangelista moderno a pregar ao povo ao ar livre. O culto metodista passou a ser o meio para obter o fim. A finalidade do culto já não era mais a simples adoração a Deus, os crentes foram instruídos a ganhar novos crentes individuais. Toda humanidade foi dividida em dois desesperados campos polarizados: perdido ou salvo, convertido ou incrédulo.

Os Metodistas e os Evangelistas Fronteiriços deram luz ao “apelo”.

Mais tarde, em 1807 na Inglaterra, os metodistas criaram o “banco de penitentes”. Agora, os pecadores ansiosos tinham um local para confessar seus pecados ao serem convidados para vir à frente.

Com o tempo, o “caminho de serragem” usado nos acampamentos deu lugar ao corredor da igreja. Assim, pois, surgiu o famoso “apelo ao altar”.

Talvez o elemento mais dominante proporcionado por Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por pragmatismo quero dizer a crença de que se algo funciona ou dá resultados, então deve ser apoiado ou aceito. Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas.

O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia ou a espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas modernas. Pela prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas conversões. A meta da Igreja Primitiva perdeu-se completamente.

A tremenda influência de D. L. Moody

As sementes do “evangelho revivalista” foram espalhadas através do mundo ocidental pela gigantesca influência de D. L. Moody (1837-1899). O evangelho de Moody, como o de Whitefield, tinha apenas um ponto central, a salvação do pecador. Todos os demais fins eram secundários.

A influência exercida por Moody foi tão assombrosa que em 1874 poder-se-ia dizer que a igreja não era “um grande organismo coletivo”, mas apenas uma “agremiação de indivíduos”. O tempo da pré tribulação deu origem à ideia de que os cristãos necessitam salvar muitas almas o mais rápido possível, antes do fim do mundo.

A contribuição pentecostal

Inaugurado por volta de 1906, o movimento Pentecostal deu-nos uma expressão mais emotiva através dos cânticos entoados pela congregação. Estes incluíam mãos levantadas, danças entre os bancos, bater palmas, falar em línguas e o uso de pandeiros. A expressão Pentecostal soava bem com sua ênfase sobre a função extasiante do Espírito Santo.

O Pentecostal e o Carismático seguem a mesma liturgia como fazem os demais protestantes. Um Pentecostal meramente tem mais espaço para mover-se ao derredor de seu assento.

A tradição Pentecostal também nos deu a música do solista e a música coral que acompanha a oferta.

Como em todas as igrejas protestantes, o sermão é o ponto culminante da reunião Pentecostal. Todavia, na diversidade da igreja Pentecostal, o pastor às vezes sentirá “o movimento do Espírito”.

Muitos ajustes, nenhuma mudança vital

A história litúrgica dos Luteranos, Reformadores e Puritanos, Metodistas, Evangelistas-Fronteiriços, e Pentecostais mostra um ponto indiscutível: durante os últimos 500 anos, a ordem de adoração liturgia o protestante permaneceu quase que praticamente inalterada.

No fundo, todas as tradições protestantes partilham as mesmas características trágicas em sua liturgia: Elas são celebradas e dirigidas por um clérigo, o sermão é a parte central, os membros são passivos e não tem permissão para ministrar.

Os reformadores fizeram muitas alterações na teologia do Catolicismo Romano. Mas, em termos de prática real, eles fizeram quase nada com relação ao aspecto litúrgico.

Os Reformadores produziram uma tímida reforma da liturgia católica.

Que há de errado nesse quadro?

Naturalmente, é lastimoso que a liturgia protestante não tenha se originado com o Senhor Jesus, os Apóstolos, nem com as Escrituras do NT. Esse fato, por si só, não significa que tal ordem esteja equivocada. Simplesmente significa que não tem base bíblica.

A realidade é que muitas coisas que fazemos em nossa cultura têm raízes pagãs. A liturgia protestante reprime a participação mútua e o crescimento da comunidade cristã. Isto provoca um estrangulamento no funcionamento do Corpo de Cristo por calar seus membros.

O culto inteiro é dirigido por um homem. De que forma, na liturgia, Deus poderá dar a um irmão ou irmã uma palavra para compartilhar com toda congregação? A ordem de adoração não permite tal coisa. Jesus Cristo não tem a liberdade de expressar, através de Seu Corpo, Sua direção. Ele é mantido cativo por nossa liturgia. Ele também é transformado em um espectador passivo.

Para muitos cristãos, o culto dominical é extremamente chato. É sempre a mesma ladainha sem nenhuma espontaneidade. A liturgia personifica o poder ambíguo da rotina. E a rotina se degrada em hábito. O qual se converte em cansaço. Enfim, algo insalubre e sem sentido.

Igrejas atentas ao seu “índice de audiência” incorporaram uma grande quantidade de média e modernizações teatrais na liturgia. O argumento que utilizam é que estão promovendo a adoração aos que não são membros. Utilizando o que há de mais moderno em tecnologia eletrônica, tais igrejas têm obtido êxito em inflar a massa.

A liturgia protestante, na realidade dificulta a transformação espiritual. Isto se deve a três fatores:

1) estimula a passividade,

2) limita o funcionamento, e

3) implica que investir uma hora por semana é o segredo da vida cristã vitoriosa.

Crescemos quando funcionamos não quando olhamos e escutamos sentados passivamente. O fato é que a liturgia protestante é antibíblica, impraticável e antiespiritual. Não há nada semelhante a isso no NT.

Ficar dramaticamente longe deste ritual dominical matutino é a única maneira de descongelar o povo de Deus. A outra opção seria submeter-se à terrível condenação: “Vocês abandonaram o mandamento de Deus para seguir as tradições dos homens”.

Capítulo 27

Três dias e três noites

A maioria de nós tem entendido que Jesus morreu na “Sexta-Feira Santa” e ressuscitou dos mortos no domingo de “Páscoa” pela manhã. Desde que Jesus disse que ressuscitaria “ao terceiro dia”, alguns contam parte da Sexta-Feira como um dia, Sábado como o segundo, e parte do Domingo como a terceiro. É apontado que algumas vezes uma expressão como o “terceiro dia” pode incluir apenas partes de dias, uma parte de um dia sendo contada como um todo.

Outros exemplos disso encontram-se na Bíblia também, como na seguinte afirmação de Jesus: “Eis que vou expulsando demônios e fazendo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia serei consumado. Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte; porque não convém que morra um profeta fora de Jerusalém” (Lc. 13:32,33).

Como cristãos, o fato que cremos que Jesus viveu, morreu e ressuscitou é infinitamente mais importante do que alguma explicação que possamos oferecer com relação ao elemento de tempo de seu sepultamento.

Desde que há doze horas em um dia e doze horas em uma noite (João 11:9,10), se figurarmos “três dias e três noites” completos, isto seria igual a 72 horas. Se Ele estava para ser ressuscitado dentre os mortos em três dias” (João 2:19), isto não poderia ser mais do que 72 horas. Para harmonizar estas várias afirmações, não parece sem razão entender que o período de tempo foi exatamente 72 horas. Afinal de contas, Deus é um Deus de exatidão. Ele faz tudo corretamente dentro do prazo. Nada com Ele é acidental.

Se a ressurreição aconteceu ao mesmo tempo do dia de quando Jesus foi sepultado — somente três dias depois — isto colocaria a ressurreição perto do pôr do sol, não ao nascer do sol, como comumente se entende que foi. Uma ressurreição ao nascer do sol exigiria uma noite extra —três dias e quatro noites. Este não foi o caso, é claro.

A narrativa de João nos conta que Maria Madalena foi ao túmulo quando “ainda escuro” no primeiro dia da semana e Jesus não estava lá (João 20:1,2.).

Quando o domingo de manhã veio, Jesus já havia ressuscitado, tendo a ressurreição acontecido um pouco antes do pôr do sol do dia anterior. Contando para trás três dias, isto nos levaria para a quarta-feira. Isto contaria três dias e três noites entre o sepultamento e a ressurreição de Cristo? Sim. Quarta-feira à noite, quinta-feira à noite e sexta-feira à noite — três noites; também quinta-feira, sexta-feira, e sábado — três dias. Isto faria um total de exatamente três dias e três noites ou 72 horas.

Desde que Jesus foi crucificado no dia antes do “sabbath”, podemos entender porque alguns tem pensado na sexta-feira como o dia da crucificação. Mas o “sabbath” que se seguiu à sua morte não foi o “sabbath” semanal, mas um “sabbath” anual — “pois era grande o dia daquele sábado” (João 19:14,31). Este “sabbath” poderia cair em qualquer dia da semana e naquele ano veio aparentemente na quinta-feira. Ele foi crucificado e sepultado no dia da preparação (quarta-feira), o dia seguinte foi o grande dia do sábado (quinta-feira). Entendendo que houve naquela semana dois “sabbaths” ou sábados, fica explicado como Cristo poderia ser crucificado no dia antes do sábado e já estava ressuscitado do sepulcro quando o dia depois do sábado veio – ainda assim cumprindo seu sinal de três dias e três noites.

Em sua Blblía Anotada e Com Referências de Dake, Finis Dake tem dito a respeito de Mateus 12:40: “Nenhuma afirmação diz que Ele foi sepultado na sexta-feira ao pôr do sol. Isto o deixaria no sepulcro somente um dia e uma noite, provando que suas próprias palavras não eram verdadeiras”.

A Bíblia em nenhum lugar diz ou implica que Jesus foi crucificado e morreu na sexta. Ele foi sepultado um pouco antes do pôr do sol da Quarta-Feira. Setenta e duas horas depois Ele ressuscitou do túmulo. Quando as mulheres visitaram o sepulcro um pouco antes da aurora, de madrugada, elas encontraram o sepulcro já vazio. Não existe absolutamente nada em favor da crucificação na sexta, mas tudo nas Escrituras está perfeitamente harmonizado pela crucificação na quarta.

Jesus foi sepultado um pouco antes do pôr do sol da Quarta-Feira. Setenta e duas horas depois… ele ressuscitou do túmulo. Quando as mulheres visitaram o sepulcro um pouco antes da aurora, de madrugada, elas encontraram o sepulcro já vazio.

“Não existe absolutamente nada em favor da crucificação na sexta, mas tudo nas Escrituras está perfeitamente harmonizado pela crucificação na quarta.

Capítulo 28

Peixe, sexta-feira e o festival da primavera

As Escrituras apresentam certas razões para questionar a sexta-feira como o dia no qual Cristo foi crucificado: Ainda assim, nesse dia muitos católicos se abstêm de carne – substituindo-a por peixe supostamente relembrando a crucificação da sexta.

Certamente as Escrituras jamais associam peixe com sexta.

A deusa da fertilidade sexual entre os romanos era chamada do Vênus. É de seu nome que nossa palavra “venérea” (como em doença venérea), veio. A sexta-feira era vista como seu dia sagrado e o peixe era visto como sagrado para ela.

O peixe era visto como sagrado também para Astarote, sob cujo nome os israelitas adoravam a deusa pagã.

A palavra grega pascha traduzida é “Páscoa” e não tem qualquer conexão com a palavra inglesa “Easter”. É bem conhecido que “Easter” não é uma expressão cristã — não em seu significado original. A palavra vem do nome de uma deusa pagã – a deusa da luz do dia e da Primavera.

Como a palavra “Easter”, muitos de nossos costumes nessa estação tem seus princípios entre religiões não cristãs.

Ovos de Páscoa são coloridos, escondidos, caçados, e comidos. Mas, este costume não se originou no cristianismo. O ovo era, contudo, um símbolo sagrado entre os babilônios que acreditavam em uma antiga fábula a respeito de um ovo de tamanho enorme que caiu do céu no rio Eufrates. Deste ovo maravilhoso — de acordo com o mito antigo — a deusa Astarte (Easter) foi chocada. O ovo veio a simbolizar a deusa Easter.

Diz a Enciclopédia Britânica, “O ovo como um símbolo da fertilidade e da vida renovada vai até o antigo Egito e os persas, que tinham o costume também de colorir e comer ovos durante seu festival da Primavera.

Aparentemente alguém procurou cristianizar o ovo, sugerindo que como o pinto sai do ovo, assim também Cristo saiu do túmulo.

O coelho é associado com a lua nas lendas do antigo Egito e outros povos. Através do fato que a palavra egípcia para coelho, significa “aberto” e “período”, o coelho veio a ser associado com a ideia de periodicidade, tanto lunar como humana, e assim sendo é um símbolo de fertilidade e de renovação da vida. Como tal o coelho ficou ligado aos ovos de Páscoa. Assim, tanto o coelho da Páscoa como os ovos eram símbolos de significado sexual, símbolos de fertilidade.

Na estação de Páscoa não é incomum para os cristãos irem a cultos ao nascer do sol. Acredita-se que isto honra a Cristo, por que Ele ressuscitou dos mortos no domingo de páscoa pela manhã, bem na hora em que o sol estava surgindo. Mas, a ressurreição não ocorreu verdadeiramente ao nascer do sol, pois era ainda escuro quando Maria Madalena veio ao sepulcro e ele já estava vazio.

Rituais conectados com o sol nascente — de uma forma ou de outra — tem sido conhecidos entre muitas nações antigas.

A deusa da Primavera, de cujo nome vem nossa palavra “Easter” era associada com o nascer do sol no Oriente – até mesmo a própria palavra “Easter” parece implicar “do Oriente”. Assim sendo o nascer do sol no Oriente, o nome Easter, e a estação primaveril estão todos ligados.

De acordo com as antigas lendas, após Tamuz ser morto, desceu para o mundo interior. Mas pelo choro de sua “mãe” Ishtar (Easter), ele foi misticamente revivido na Primavera.

A cada ano os homens tinham que lamentar com Ishtar pela morte de Tamuz e celebrar o retorno do deus a fim de ganhar novamente seus benefícios. Quando a nova colheita saia, aqueles povos acreditavam que seu “salvador” tinha vindo do mundo inferior, tinha terminado o Inverno, e tinha feito a primavera começar.

Como cristãos acreditamos que Jesus Cristo ressurgiu dos mortos em realidade — não meramente na natureza ou na nova vegetação da Primavera. Porque sua ressurreição foi na primavera do ano, não foi muito difícil para a igreja do quarto século (tendo já se desviado da fé original de muitas maneiras) fundir o festival pagão da primavera com o cristianismo.

Tendo adotado outras crenças a respeito do festival da Primavera na igreja, foi apenas outro passo no desenvolvimento para também adotar o velho “jejum” que precedia o festival. Foi somente no sexto século que o papa oficialmente ordenou a observância da Quaresma, chamando-a de “sagrado jejum” durante a qual as pessoas tinham que abster-se de carne e de algumas outras comidas.

Capítulo 30

O festival de inverno

Natal – 25 DE DEZEMBRO é o dia designado em nossos calendários como o dia do nascimento de Cristo. Mas, é este realmente o dia no qual ele nasceu? Os costumes que existem hoje relacionados com este período são de origem cristã? Ou o Natal é outro exemplo de mistura entre o paganismo e o cristianismo?

Uma análise da palavra “Christmas” (Natal em inglês) indica que ela é uma mistura. Embora ela inclua o nome de Cristo, também menciona a “Missa”.

Como Paulo, tememos que alguns tenham sido corrompidos por causa da influência pagã sobre tais coisas como a Missa. Olhando desta maneira, a palavra “Christ-mass” (Missa de Natal) se contradiz a si mesma.

Quanto à verdadeira data do nascimento de Cristo, é de se duvidar de 25 de dezembro. Quando Jesus nasceu, “havia naquela mesma região pastores que estavam no campo. Os pastores na Palestina não ficavam nos campos durante a metade do inverno. Adam Clarke tem escrito, “Como esses pastores ainda não haviam trazido seus rebanhos para casa, é um argumento presumível que outubro ainda não havia começado, e que, consequentemente, nosso Senhor não nasceu em 25 de dezembro, quando não havia qualquer rebanho nos campos.

Enquanto a Bíblia não fala expressamente da data do nascimento de Jesus, existem indicações que foi provavelmente no Outono que isto aconteceu.

Ao tempo do nascimento, José e Maria tinham ido a Belém para serem recenseados (Lucas 2:1-5). Não existem registros para indicar que a metade do inverno era o tempo de recenseamento Um tempo mais lógico do ano teria sido no outono, no fim da colheita.

De acordo com Josefo, Jerusalém era normalmente uma cidade de 120.000 habitantes, mas durante as festas, se enchia de turistas. Tais vastas multidões não somente enchiam Jerusalém, mas as cidades circunvizinhas também, incluindo Belém. Se a viagem de Maria e José fosse na realidade para estar na festa, como também para serem recenseados, isto colocaria o nascimento de Jesus no outono do ano.

Não é essencial que saibamos a data exata na qual Cristo nasceu — sendo a coisa principal, é claro, que ele nasceu. Os cristãos primitivos comemoravam a morte de Cristo (ICor. 11:26), não seu nascimento.

Diz Frazer, “Ó maior culto pagão religioso que colocava a celebração em 25 de dezembro como um feriado tanto no mundo romano como grego, era a adoração do sol, que era pagã — o Mitraísmo. Este festival de Inverno era chamado “a Natividade“ — a “Natividade do SOL”.

A bem conhecida festa solar do NatalisInvictí” — a Natividade do Sol Inconquistado — celebrada no dia 25 de dezembro, tem uma forte indicação do porque a nossa data de dezembro.

Alguns dos costumes de Natal dos nossos dias foram influenciados pela Saturnália Romana. Alguns tem procurado ligar os presentes de Natal com aqueles presentes dados a Jesus pelos magos.

A árvore de natal, como a conhecemos, só data de alguns poucos séculos, embora as ideias a respeito de árvores sagradas são muito antigas. Uma antiga fábula babilônica falava de um pinheiro que nasceu de um velho tronco morto. O velho tronco simbolizava o Nimrode morto, o novo pinheiro simbolizava que Nimrode tinha vindo a viver novamente em Tamuz. Esse é só mais um exemplo da mistura entre a religião católica e a pagã.

O mistério da mistura

Uma mistura do paganismo e do cristianismo produziu a Igreja Católica Romana. Os pagãos adoravam e rezavam para uma deusa mãe. Assim a igreja caída adotou a maternidade sob o nome de Maria. Os pagãos tinham deuses e deusas associados com vários dias, ocupações, e acontecimentos da vida. Este sistema foi adotado e os “deuses” foram chamados de “santos”. Os pagãos usavam estátuas de ídolos de suas divindades pagãs em seus cultos, assim também a igreja caída o fez, simplesmente chamando-se por nomes diferentes. Desde tempos antigos, cruzes de vários formatos eram olhadas de maneira supersticiosa.

Orações repetidas, rosários, e relíquias foram todos adotados do paganismo e dados uma aparência superficial de cristianismo. Em literalmente centenas de maneiras, os rituais pagãos foram absorvidos pela religião católica em Roma.

Eruditos católicos reconhecem que sua igreja surgiu de uma mistura de paganismo com cristianismo. Mas, do seu ponto de vista, estas coisas foram triunfos do cristianismo, porque a igreja teve a capacidade de cristianizar práticas pagãs.

A Igreja desde um período muito antigo adotou outras coisas como: música, luzes, perfumes, abluções, decorações florais, canópias, abanos, telas, sinos, paramentos, dentre outros, que não eram identificados com qualquer culto idólatra em particular; eles eram comuns a quase todos os cultos. Água, óleo, luz, incenso, cânticos, procissões, prostração, decoração de altares, paramentos de sacerdotes, estão naturalmente a serviço do universal instinto religioso.

O uso de estátuas, e costumes tais como inclinar-se diante de uma imagem, são explicados na teologia católica.

Seria natural que pessoas que se inclinassem diante, beijassem e incensassem as águias imperiais e as imagens de César (com nenhuma suspeita de algo a não ser idolatria) prestassem os mesmos sinais à cruz, às imagens de Cristo, e ao altar. Os primeiros cristãos estavam acostumados a ver estátuas de imperadores, de deuses pagãos e heróis, como também pinturas de paredes pagãs. Está muito claro que estes costumes se desenvolveram do paganismo.

Alguns acham que esta “mistura” foi um artifício usado para evitar a perseguição, porém, não se pode negar que as raízes da mistura estavam presentes.

No Velho Testamento, a apostasia na qual os israelitas repetidamente caíam era a da mistura, eles não rejeitavam totalmente a adoração do verdadeiro Deus, mas misturavam os rituais com ela.

Era realizada uma “festa para o Senhor (versículo 5) — uma festa para Jeová (ou mais corretamente) Iavé, o verdadeiro Deus. Eles se sentaram para comer e beber e se levantaram para folgar. Eles praticaram rituais nos quais se despiram (versículo 25).Talvez semelhantes aos que eram realizados por sacerdotes babilônicos despidos.

Os Israelitas realizaram rituais secretos, edificaram altos, usaram adivinhação, fizeram seus filhos passar pelo fogo, e adoraram o sol, a luz, e as estrelas (II Reis 17:9-17). Como resultado, eles foram levados de sua terra. O rei da Assíria trouxe homens de várias nações, incluindo a Babilônia, para habitar na terra de onde os israelitas foram tirados. Estes também praticaram rituais pagãos e Deus enviou leões entre eles. Reconhecendo isto como julgamento de Deus, eles mandaram buscar um homem de Deus para ensiná-los como temer ao Senhor.

No tempo de Ezequiel um ídolo tinha sido colocado bem à entrada do templo de Jerusalém. Os sacerdotes ofereciam incenso a falsos deuses que eram pintados nas paredes. Alguns até mesmo sacrificavam seus filhos.

Considerando estes numerosos exemplos bíblicos, está claro que Deus não está contente com uma adoração que é uma mistura.

Como Samuel pregou: “Se com todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós, os deuses estranhos e os astarotes e preparei o vosso coração ao Senhor, e servi a ele só, e vos livrará” (I Samuel 7:3).

Deveríamos lembrar-nos que Satanás não aparece como um monstro com chifres, um longo rabo, e um garfo. Em vez disto, ele aparece como um anjo de luz (II Cor. 11:l4). Como Jesus advertiu a respeito de “lobos com peles de ovelhas” (Mateus 7:15).

A verdadeira adoração deve ser “em espírito e em verdade” (João 4:24) — não em erros pagãos.

Se a Igreja Católica Romana que reclama que jamais muda, está gradualmente deixando de lado práticas que alguns de nós consideramos pagãs, podemos nos alegrar por qualquer progresso ao longo do caminho da verdade.

A salvação não depende de um sacerdote humano, de Maria, dos santos ou do papa. Jesus disse, “Eu sou o caminho, e a verdade, é a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).

Capítulo 29

A avaliação que Jesus faz do dinheiro

Em toda a vida religiosa é de crucial importância saber o que Cristo pensava sobre algo. Todos os assuntos abordados por Jesus são de extrema importância. Todos eles, sem exceção, devem ser estudados a fim de nos orientar.

Neste livro o autor vai expor a opinião de Jesus sobre dinheiro e as questões relacionadas a ele. Pensar e agir como Cristo faria não é uma tarefa fácil visto que estamos a todo momento, sob a influência do mundo que nos cerca. O que é um grande alívio é saber que se desejarmos de verdade descobrir o que Ele pensava, Ele logo nos mostrará o que devemos pensar e fazer. Para isso, basta sermos sinceros em nossa decisão de querer que Cristo nos ensine como ganhar e usar o dinheiro.

A obra apresenta passagens bíblicas e explicações sobre como é abordado esse tema nas Escrituras.

Jesus está atento às ofertas e considera cada donativo a Deus, lhe atribuindo, consequentemente um certo valor. Nenhum donativo para nenhuma parte da obra de Deus, grande ou pequena, que Ele não tenha ciência e lhe dê o devido crédito e o abençoe se for merecedor. A obra ensina que esse conceito é válido tanto aqui quanto na eternidade.

Dar dinheiro faz parte de nossa vida religiosa e Cristo nos orienta através da Sua palavra. O autor analisa o que existe nas Escrituras sobre esse assunto. Segue sua explanação.

As ofertas: uma prova segura do caráter de quem dá

No mundo, o dinheiro é um padrão ou um certo critério de valor. É difícil expressar tudo o que o dinheiro significa para nós. É o símbolo do trabalho, da atividade, do talento. É com frequência uma amostra da bênção de Deus para com esforços diligentes.

Uma das conclusões que serão observadas é de que o homem é constantemente medido pela quantidade de dinheiro que possui ou não. Ele é julgado não apenas pelo seu dinheiro no reino deste mundo, como será também no reino dos céus com toda a certeza.

O mundo leva em conta a quantidade de dinheiro de cada indivíduo, enquanto Cristo considera, se o homem entregou sua oferta ou não e quais os seus motivos.

Uma pergunta que sempre fazemos é quanto um indivíduo dá. Cristo pergunta quanto lhe resta. Nós olhamos a oferta. Cristo pergunta se a oferta foi um sacrifício.

Cristo sempre quer invariavelmente o amor generoso.

Ele quer que toda a oferta esteja cheia de amor, uma verdadeira oferta voluntária. Se desejamos a aprovação do Mestre, precisamos nos lembrar de uma coisa: precisamos colocar tudo a Seus pés, colocar tudo à Sua disposição. E isto, como sendo a expressão espontânea de um amor.

Senhor Jesus! Oh, dá-me a graça para amar de tal modo que eu possa saber como tenho de dar.

As ofertas: um grande meio de obter graças

O espírito do mundo é a concupiscência da carne, a cobiça dos olhos e o orgulho da vida.

O dinheiro é o grande meio que o mundo tem para satisfazer seus próprios desejos. Cristo disse de seus discípulos: “Não são do mundo, como eu não sou do mundo”.

Dinheiro, que o fazem conforme um princípio que não é do mundo, mas que é o espírito do céu que lhes ensina como devem usá-lo. Usá-lo para propósitos espirituais, para aquilo que há de durar por toda a eternidade, para aquilo que agrada a Deus.

Aqueles que são de Cristo crucificaram a carne e seus desejos.

Uma das formas de demonstrar e manter a crucificação da carne é não usar o dinheiro para satisfação pessoal.

O livro diz que a maneira de vencer toda a tentação de usar o dinheiro em benefício próprio é ter o coração cheio de grandes pensamentos sobre o poder espiritual do dinheiro. Se desejamos aprender a manter a carne crucificada, não devemos gastar nenhum centavo para nossa satisfação pessoal. Como o dinheiro que é gasto com nos mesmos pode nos alimentar e nos fortalecer o dinheiro sacrificado para Deus pode ajudar a alma na vitória de vencer o mundo e toda a carne.

Muitos precisam estar continuamente ocupados em faturar; seus corações sentem-se presos às coisas terrenas, ligados à vida mundana.

É a fé que nos dá a vitória permanente sobre esta tentação.

De um modo muito especial nossas ofertas podem encher nossa própria vida de amor.

Embora não saibamos, nosso dinheiro desenvolveria e fortaleceria nosso amor, se nos impulsionasse a ter interesse e simpatia pelas necessidades daqueles que nos rodeiam.

As ofertas podem ser um dos meios seletivos da graça, da comunhão contínua com Deus, na renovação de nossa entrega de tudo que somos e queremos d’Ele e uma prova da sinceridade de coração com que andamos diante d’Ele em fé, amor e negação de nós mesmos.

As ofertas: um poder maravilhoso para Deus

O autor expressa sua opinião quando exclama: Quão maravilhosa é a religião cristã!

Toma o dinheiro que representa o espírito deste mundo, personificado no interesse próprio, na cobiça, na avareza e no orgulho, transformando-o num instrumento para serviço e para fornecer ainda à glória de Deus.

Pensemos nos pobres. Quanta ajuda e felicidade poderíamos levar a milhares e milhares de pessoas indigentes um dinheiro proveniente de uma mão caridosa.

Disse Jesus: “Mais bem-aventurado é dar do que receber”.

Que privilégio divino e que bênção é ter o poder de aliviar os necessitados e alegrar o coração dos pobres através da prata e do ouro.

Tudo o que se gasta na obra de amor tem um valor eterno e traz dupla felicidade, tanto para nós mesmos, como para os outros.

As ofertas feitas com fé e amor não vão apenas para o tesouro da igreja, mas também para o próprio tesouro de Deus e são trocadas por “mercadoria” celestial. E não segundo os padrões de valor desta terra, onde sempre nos perguntamos quanto é, mas segundo os critérios do céu, onde os conceitos do muito e do pouco, grande e pequeno, são desconhecidos.

Se dedicássemos mais tempo a pensar com calma, para que o Espírito Santo nos mostrasse nosso Senhor na Casa da Moeda Celestial, colocando seu selo em roda da oferta que fosse verdadeira, usando-a para Seu reino apenas, com certeza nossas moedas começariam a reluzir com mais brilho. A obra sugere que nossa reflexão deve ser: quanto menos gastar comigo mesmo e mais com o Senhor, mais rico serei. O mais rico é aquele que dá tudo o que pode.

As ofertas: uma ajuda permanente à escalada ao céu

Em nossas ofertas voltadas para o céu, podemos provar e cultivar o amor de Cristo, o amor aos homens e a devoção à obra de Deus. Nossas ofertas devem preparar-nos para o céu e não nos afastar dele.

Quantas pessoas dariam de boa-fé qualquer quantia para adquirir o céu e a santidade. Alguns acreditam que podem comprar o que não está à venda. O dinheiro não pode conseguir isso.

O dinheiro entregue em espírito de sacrifício, de amor, de fé n’Ele, que tudo pagou, nos dá uma recompensa abundante e eterna.

Cristo está sentado à frente da Arca do Tesouro. Ele observa nossas ofertas. Aceita o que se dá em espírito de sincera consagração e amor. Ele nos ensina a dar, quando dar e com quanto amor e sinceridade nós fazemos também.

O dinheiro que causa tantas tentações e pecado, aflição e condenação eterna, ao ser recebido, administrado e posto aos pés de Jesus, o Senhor do tesouro, passa a ser um dos canais escolhidos por Deus para agraciar a mim mesmo e aos outros. Nisto também somos mais que vencedores, por intermédio d’Aquele que nos amou.

O Espírito Santo e o dinheiro

Aqui é citada a relação entre o Espírito Santo e o dinheiro. Quando o Espírito Santo desceu e se colocou entre os homens, ocupou-se do controle de suas vidas. Não podiam fazer ou ser nada sem a sua inspiração e orientação.

Daí aconteceu que suas possessões e propriedades, seu dinheiro e suas terras, seus ganhos e seus gastos ficaram regulados por princípios até então desconhecidos.

O Espírito Santo que tudo alcança para nos guiar na própria distribuição do dinheiro que ganhamos e para dele fazer seu Próprio julgamento. Se, como cristão, queremos saber quanto e de que forma devo dar, temos que aprender qual é o ensinamento do Espírito Santo a respeito da posição que o dinheiro deve ter na vida do cristão e na da igreja.

Aqui, é apresentada a primeira lição: o Espírito Santo toma posse do próprio dinheiro. E todos os que acreditavam estavam unidos; e tudo o que cada um tinha era possuído em comum por todos.

Em At. 4:34: “E não havia nenhum necessitado entre eles; porque todos quantos eram possuidores de campos ou de casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e o punham aos pés dos apóstolos”. Sem nenhuma ordem ou mandamento – apenas no gozo do Espírito Santo, no gozo do amor que Ele havia derramado em seus corações, no gozo dos tesouros celestiais que agora os tornava ricos – de modo espontâneo, eles se desprendiam de suas posses e as colocavam à disposição do Senhor e de seus servos.

Teria sido estranho se as coisas tivessem sido de outro modo, o que seria uma terrível perda para a igreja. Uma das conclusões apresentadas na obra é a de que: o dinheiro é o grande símbolo do poder e da felicidade deste mundo, um de seus ídolos proeminentes o qual tem o poder de afastar os próprios homens de Deus.

A salvação não seria plena se não fornecesse uma libertação total do poder do dinheiro. O Espírito Santo, quando chega em sua plenitude ao nosso coração, as posses materiais perdem seu lugar e o dinheiro somente é valorizado como meio de demonstrar nosso amor ao Senhor apenas, prestando ajuda ao nosso próximo.

Encontramos aqui o verdadeiro segredo do ofertar cristão; a motivação da vida cristã é se regozijar no Espírito Santo. Como é grande a falta deste elemento em nosso hábito de dar. O costume, o exemplo, o motivo, a persuasão humana, a noção do dever e o sentimento da necessidade que nos rodeiam, têm mais a ver com as nossas ofertas do que o poder e o amor do Espírito. O que não significa que o que foi mencionado na obra anteriormente não seja necessário.

O Espírito Santo faz uso de todos estes elementos de nossa natureza quando nos estimula a dar. O segredo do verdadeiro “dar” é a alegria de andar na vontade do Senhor.

A queixa da igreja referente à grande necessidade de mais dinheiro para a obra de Deus, quanto à grande desproporção entre o que o povo de Deus gasta consigo e o que dedica a Ele, é de caráter universal.

É preciso levar a sério esta lição: esta é uma simples prova do pouco que o poder do Espírito Santo é conhecido pelos crentes. O livro diz que devemos orar com maior fervor para que toda a nossa vida possa ser vivida no regozijo do Espírito Santo de Deus.

A segunda lição pentecostal que a obra quer nos demonstrar sobre o dinheiro é encontrada em At.3: “E Pedro disse: ‘Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda!”. Por aqui se vê que o Espírito Santo prescinde do dinheiro.

A Igreja de Pentecostes precisa de dinheiro para toda a sua obra; o Espírito de Pentecostes proporciona o dinheiro; o dinheiro pode ser ao mesmo tempo uma prova segura da poderosa obra do Espírito e um meio bendito para abrir caminho a uma ação ainda mais ampla.

Os homens pensam que o dinheiro é a sua maior necessidade, que a abundância do dinheiro ganho é uma prova da presença do Espírito; que o dinheiro tem que ser força e bênção.

O Espírito Santo condescende em usar o dinheiro de seus santos, mas também, às vezes, lhes mostra que é divinamente independente dele. A igreja deve entregar-se à orientação desta dupla verdade: o Espírito Santo reclama todo o seu dinheiro; mas também as grandes obras do Espírito Santo podem ser efetuadas sem ele. A igreja nunca pedir dinheiro, nem considerar que isso é sua força.

O Espírito Santo vem demonstrar aos homens que uma vida de perfeita confiança em Deus proporciona riquezas celestiais independentes dos bens terrenos e que a pobreza é mais adequada a reter e a distribuir os tesouros eternos pelos que os possuem.

É um modo maravilhoso, quase indispensável, desprender-se das coisas externas para aprender a ser testemunha da absoluta realidade e suficiência das riquezas celestiais invisíveis.

Alguns que são pobres, passando grande necessidade pela obra que fazem por Deus somente podem dar o que possuem: em nome de Jesus Cristo. E outros, que não são chamados a dar tudo, sem dúvida irão dar com imensa generosidade, porque começam a ver que quanto mais se dá, mais se irão aproximar do privilégio de tudo dar.

O espírito Santo põe o dinheiro à prova. Nem todo o dinheiro que oferecemos é dado sob Sua santa supervisão e, de vez em quando, revelará ao coração que se rende sinceramente a Ele, no que se pode estar equivocado ou nele faltar ainda.

Existem aqueles que não dão o que dizem dar. Este pecado, não em sua forma máxima, mas em seu espírito e em suas manifestações mais sutis, é mais frequente do que pensamos.

Não existe nada, salvo temermos a nós mesmos e a sincera renúncia a todas as nossas opiniões e argumentos sobre quanto podemos possuir e quanto podemos dar, sob o exame e a direção do Espírito Santo que possa nos salvar deste perigo. Nossas ofertas devem ser feitas à luz do Espírito Santo, se são para serem feitas também sob seu domínio.

Uma observação muito importante que o livro nos demonstra é que sempre pensamos mais no julgamento dos homens do que no julgamento de Deus. E esquecemos que nossas ofertas são contabilizadas somente por Deus segundo o que dá o coração; é o doador contente o que é aprovado por Ele.

O Espírito santo rechaça o dinheiro. Uma das passagens bíblicas diz que: “Simão lhes ofereceu dinheiro dizendo: ‘Dai-me também a mim este poder, que a qualquer a quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo’”.

Mas Pedro lhe respondeu: “O teu dinheiro pereça contigo, uma vez que tu te persuadiste de que o dom de Deus se podia adquirir com dinheiro!”

A intenção de ganhar poder ou influência na igreja de Deus, por meio do dinheiro, leva à perdição.

Aqui, havia uma simples ignorância do caráter espiritual e anti-mundano do reino de Cristo.

Simão não entendia os homens com quem lidava. Estes homens precisavam de dinheiro e poderiam usá-lo muito bem para eles mesmos e para os outros.

Mas o Espírito Santo, com os poderes e tesouros do mundo invisível, tinham tomado total possessão deles e os havia feito entender que o dinheiro não valia nada.

“Que pereça antes que, por um momento, seja fomentada a ideia de que o rico pode adquirir um lugar ou um poder do qual carece o pobre”!

A sua igreja sido fiel nesta verdade, em seu protesto contra as pretensões da riqueza? O autor se propõe a responder com as seguintes argumentações.

Tem havido exemplos, homens de verdadeira descendência apostólica que mantêm viva a superioridade do dom de Deus sobre as considerações terrenas. Mas, com demasiada frequência, têm-se concedido aos ricos honra e influência, afastando-se da graça e piedade, o que seguramente tem ofendido o Espírito e prejudicado a igreja.

Um assunto muito importante aqui é a aplicação pessoal. Nossa natureza tem andado sob o poder do espírito deste mundo; nossa mente carnal, com suas vontades e hábitos de pensamento e sentimento, é tão sutil em sua influência, que não há nada que possa nos livrar do poderoso feitiço que o dinheiro exerce, exceto a certeza da presença e da obra constante e plena do Espírito em nós.

O Espírito Santo pode fazer-nos morrer para os caminhos e modos de pensar do mundo. E o Espírito dá-nos isso quando nos enche da Sua presença e poder da vida em Deus.

A graça de Deus e o dinheiro

A epístola aos Coríntios que traz os ensinamentos de Paulo sobre o tema das ofertas do crente.

Algumas das principais lições que podem nos ajudar a achar o caminho, pelo qual nosso dinheiro pode passar gradualmente a ser um meio e uma prova do progresso da vida cristã em nós mesmos.

A graça de Deus sempre nos ensina a dar 2 Cor.8:1

A palavra graça aparece em vários momentos distintos no decorrer deste capítulo. São apresentadas três aplicações diferentes para cada uma. São elas:

  • Sobre “a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que por amor a vós se fez pobre”;
  • Outra, sobre “a graça que Deus pode fazer a abundar em nós”;
  • As demais sobre a graça especial das ofertas.

A graça é a força, o poder e a energia da vida cristã, tal como ela age em nós por intermédio do Espírito Santo. A obra nos orienta que todos conhecemos a ordem de permanecer fiéis na graça, de crescer na graça e de buscar mais graça.

A lei da vida cristã nos ensina que não se pode conhecer ou aumentar a graça verdadeiramente, senão realizando-a como obra. Isto quer dizer que o uso do nosso dinheiro em favor de outros é um dos meios pelo qual se pode expressar e robustecer esta graça.

A graça em Deus é Sua compaixão pelos que são indignos. Sua graça é maravilhosamente gratuita.

Deus dedica a sua vida a dar e tem prazer em dar. E, quando Sua graça entra no coração, não se pode mudar sua natureza: seja em Deus ou no homem, a graça ama e se regozija em dar, oferecer. E a graça ensina ao homem a considerar isto como o valor principal do dinheiro, do poder, como faz Deus, para fazer o bem, para poder enriquecer a outros, ainda que seja à custa do próprio empobrecimento.

A graça de Deus nos ensina a dar generosamente

A leitura segue nos contando quando os gentios da Macedônia ficaram sabendo da necessidade de seus irmãos judeus em Jerusalém.

Haja mais generosidade nos pobres do que nos ricos.

É como se os pobres não se apegassem com tanta avidez ao que têm: desprendem-se mais facilmente das coisas; a ilusão da riqueza ainda não os possuiu e endureceu.

É citado nos textos que os pobres aprenderam a confiar em Deus quanto ao dia seguinte. Sua generosidade não é, na realidade, o que os homens consideram como tal: seus donativos são pequenos.

Poderia ser dito que não lhes custa muito dar tudo; já estão acostumados a ter pouco. E, contudo, o próprio ato de dar facilmente, é o que o torna mais precioso diante do Senhor.

“Deram conforme suas possibilidades e ainda além delas, pedindo-nos com muita súplica que lhes concedêssemos o privilégio de participar deste serviço para os santos”. Se este espírito prevalecesse em nossas igrejas e as pessoas de posses moderadas ou grandes se pautassem pelos pobres em seus padrões de dar e o exemplo dos macedônios passasse a ser a lei da generosidade cristã, teríamos inúmeros recursos disponíveis a serviço do reino.

A graça de Deus ensina a dar alegremente

Nesta passagem é possível descobrir que na vida cristã a alegria é o principal indicador de saúde e de boa vontade. Não é uma experiência ocasional: é a prova permanente da presença do regozijo e do amor do Salvador.

Devem caracterizar-se pelo “júbilo que o mundo não pode tirar-nos”. Não só em nossa vida devocional como também em nossos deveres diários e momentos de turbulência. E assim, inspirando nossas ofertas, fazendo que o dar nosso dinheiro seja um sacrifício de alegria e ação de graças. E dando alegremente passa a ser uma nova fonte de alegria em nós, como uma participação no júbilo d’Aquele que disse:

“Mais bem-aventurado é dar do que receber”.

O texto traz uma passagem bíblica que dizia que o dia em que se traziam os donativos ao templo: “Então o povo se alegrava, porque com bondoso coração ofereciam voluntariamente ao Senhor; e o rei Davi também se regozijava com grande júbilo”. Este é um contentamento que pode acompanhar-nos ao longo de toda a vida, dia após dia, entregando sem cessar nossas ofertas de dinheiro e nossas vidas ao serviço dos que nos rodeiam. Deus colocou o instinto da felicidade dentro de cada uma de Suas criaturas; não podem, no mínimo, deixar de se sentirem atraídas para o que lhes proporciona felicidade.

A graça de Deus faz com que nossas ofertas sejam

parte da nossa entrega ao Senhor

Paulo fala sobre dar (v.5): ”Primeiramente deram-se a si mesmos ao Senhor”. Na frase anterior temos uma das expressões mais belas sobre o que é necessário para a salvação e daquilo em que consiste a salvação. O homem que se entregou ao Senhor faz tudo o que nosso Senhor nos pede; tudo mais Ele o fará.

Ele nos diz que dar dinheiro não terá nenhum valor, a menos que, primeiro, estejamos entregues a nós mesmos; que todas as nossas ofertas sejam a renovação e continuação de um primeiro grande ato de entrega pessoal; que cada novo donativo de dinheiro seja uma renovação da bênção, da inteira consagração.

Somente este pensamento pode elevar nossas ofertas acima do nível comum do dever cristão e delas fazer uma verdadeira manifestação e corroboração da graça de Deus em nós. Não estamos sob a lei, mas sim sob a graça.

Uma vida verdadeiramente consagrada é uma vida vivida momento após momento em Seu amor. É isto o que nos trará o que parece tão difícil: dar sempre com o espírito apropriado e como um ato de adoração.

A graça de Deus faz com que nossas ofertas sejam parte da vida que se assemelha à de Cristo (v.9)

É de fundamental importância conhecermos bem o que é a Sua vida para que possamos dar a Ele de modo inteligente e voluntário. A obra nos apresenta uma das raízes mais profundas:

“Por amor a vós, sendo rico, se fez pobre, para que vós fosseis enriquecidos por sua pobreza”. Para nos enriquecer e bendizer se fez pobre. Foi por isso que se satisfez tanto com a oferta da viúva; seu donativo estava na mesma medida do Seu: “Deu tudo o que tinha”. Esta é a vida e a graça que procura agir em nós; não há outro exemplo no qual se possa moldar nossa vida à semelhança de Cristo. “Porque já conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que por amor a vós se fez pobre”.

A graça de Deus opera em nos não só o querer,

mas também o fazer (v.10)

Muitos desejam que chegue o dia em tenham mais, para assim poderem dar mais. E, no entanto, este desejo, esta vontade imaginada de dar mais, engana-os e se faz passar como se tratasse de uma generosidade atuante. Quantos possuem os meios e a intenção de serem generosos e, contudo, vacilam; e o grande donativo que iriam fazer em sua vida ou deixar em testamento nunca se realiza.

Quantos se consideram verdadeiramente generosos por aquilo que querem fazer; mas, na realidade, o que fazem com os meios de que dispõem é algo que não podem desejar que Deus observe. A mensagem chega para todos: “Agora, pois, acabai também de fazê-lo, para que assim como estivestes prontos a querê-lo, assim também o estejais em cumpri-lo conforme as posses que tendes”.

Uma das lições mais importantes apresentadas neste capítulo é de que a vida cristã precisa de exercício; e que é através da prática que cresce a piedade.

A graça de Deus faz a doação aceitável

O autor mostra uma passagem das escrituras sobre o que cada um tem (v.12) ”Porque se o desejo de dar já existe, será aceito segundo o que cada um tem e segundo o que não tem”. Deus, que vê o coração, julga cada oferta pela capacidade de dar de cada um. E Seu bendito Espírito dá, a saber, ao coração reto e à consciência abençoada que sua oferta na terra encontrou aprovação e aceitação no céu.

Deus teve o cuidado de ensinar a todos isto mesmo em Sua Palavra de todas as formas possíveis.

Precisamos procurar redimir nossas ofertas de tudo o que é vil e mesquinho, nos assegurando de que sejam aceitáveis. É necessário que se recuse dar o que não nos parecer satisfatório.

A graça de Deus, proveniente da oferta, tem como resultado

a verdadeira unidade e igualdade de todos os santos (v.13)

“Porque não digo isto para que haja para outros abasteça e para vós aperto, mas para que ao mesmo tempo, com igualdade, a vossa abundância supra a escassez deles, para que também a abundância deles supra a vossa necessidade, para que haja igualdade, como está escrito: ‘Àquele que recolheu muito, não lhe sobrou e ao que pouco recolheu, não lhe faltou’”.

Isso nos leva a concluir que o dinheiro passará a ser um laço de união ligando os cristãos de Jerusalém aos de Corinto.

Deus permite riquezas e pobreza. Deus concede Seus dons com uma só mão, parecendo desigual, para que nosso amor possa ter o alto privilégio de restaurar a igualdade.

A necessidade de alguns nos impele ao amor, à ajuda e à benção de dar aos outros. E em outras ocasiões, ou em diferentes esferas, quem precisa de ajuda somos nós que havíamos ajudado antes. Tudo está tão bem ordenado que o amor terá ocasião para agir e terá a oportunidade de cultivar e demonstrar o Espírito de Cristo.

“Que aquele que dá, que dê em abundância e não em escassez, para que possa ter uma maior recompensa”.

O autor nos propõe algumas reflexões. Algumas delas são:

Por que não começarmos logo e não entregarmos a Ele, que se fez pobre por nós, tudo aquilo que temos retido e guardado por egoísmo e auto complacência?

E por que não Lhe pedimos que nos mostre através de Seu Espírito, que o valor e a benção do dinheiro consistem em gastá-lo para o Senhor, para a benção do nosso próximo e para usá-lo como um instrumento e exercício da graça, transformando-o assim num tesouro que dura para toda a eternidade?

Capítulo 30

Dízimo e salários do clero: um peso na carteira

O Dízimo é Bíblico?

Há dízimo na Bíblia? Sim, o dízimo é bíblico. Mas não é cristão. O dízimo pertence à velha Israel. Foi essencialmente um imposto de renda. No primeiro século, no NT, não há registro de cristãos dizimando.

O Senhor instituiu três classes de dízimos para os Israelitas como parte de seu sistema de impostos. Deus ordenou a Israel que desse 23,3% de suas rendas a cada ano, em oposição aos 10%. Estes dízimos consistiam do produto da terra. A oferta na primitiva igreja era voluntária.

E os que se beneficiavam disto eram os pobres, órfãos, viúvas, doentes, prisioneiros e estrangeiros. De igual forma, quando Israel reteve seus dízimos (impostos), Israel estava roubando a Deus.

O Senhor mandou que seu povo trouxesse seus dízimos ao alforge. O alforge era situado nas câmaras do Templo. Esta câmara era separada para receber os dízimos em espécie, não em dinheiro, para o sustento dos Levitas, pobres, estrangeiros e viúvas. Os dízimos eram para sustentar as viúvas, os órfãos, os estrangeiros, e os Levitas, que não tinham qualquer propriedade. É isto o que a Palavra do Senhor tem como objetivo em Malaquias 3.

A origem do dízimo e do salário do clero

Cipriano (200-258 d.C.) foi o primeiro escritor cristão a mencionar a prática de sustentar financeiramente o clero.

O pedido de Cipriano foi bem incomum naquele tempo. Tanto que não foi apoiado nem divulgado pelo povo cristão naquele momento, mas muito tempo depois. Foi apenas no século IV, 300 anos depois de Cristo, que alguns líderes cristãos começaram a defender o dízimo como prática cristã para sustentar o clero. Mas isto não chegou a ser comum entre os cristãos até o século VIII.

Pelo século XVIII, o dízimo chegou a ser um requisito legal em muitas áreas da Europa Ocidental. Pelo fim do século X, a diferença do dízimo enquanto imposto de renda e mandamento moral apoiado no Antigo testamento havia desaparecido. O dízimo tornou-se obrigatório ao longo da Europa cristã.

Antes do século VIII, o dízimo era um ato de oferta voluntária. Mas pelo fim do século X, ele passou a ser uma exigência legal para sustentar a Igreja Estatal — exigida pelo clero e colocada em vigor pelas autoridades seculares.

Felizmente, a maioria das igrejas modernas abandonou a prática do dízimo como uma exigência legal.

Capítulo 31

A pobreza de Cristo

Já no início deste capítulo somos convidados a refletir sobre a pobreza de Cristo.

“Por sua pobreza”: que significa isto? Que se despojou de todas as posses celestiais e terrenas para que as riquezas da terra e do céu pudessem ser nossas?

Que tomou nosso lugar no caminho da pobreza terrena, para que nós pudéssemos gozar do bem-estar das riquezas celestiais que Ele conquistou por nós?

Ou será que este “por sua pobreza” tem um significado mais profundo e implica que sua pobreza é o mesmo caminho ou passagem que abriu, pelo qual nós teremos de ir se quisermos ingressar plenamente?

Temos de orientar nossa visão para nosso bendito Senhor. A menos que nosso coração esteja voltado para nosso Senhor, em contemplação paciente e em oração, esperando que o Espírito Santo nos dê Sua iluminação, podemos pensar, sem dúvida, em Sua divina pobreza, mas não podemos contemplar realmente Sua glória ou conseguir que Seu poder e bênçãos entrem nossa vida.

Uma das conclusões que temos é que precisamos ver qual era a razão, a necessidade da pobreza terrena de Cristo. Podia ter vivido na terra possuindo riquezas e distribuindo-as com mão generosa e sábia, porém opcionalmente não o fez.

Poderia ter ensinado a Seu povo, de todas as idades, preciosas e necessárias lições a respeito do uso apropriado das coisas deste mundo.

Mas não; havia a necessidade divina de que a Sua vida fosse de pobreza total. Ao procurarmos a explicação, achamos duas espécies de razões. Existem as que fazem referência a nós à Sua obra para conosco como nosso Salvador. Existem outras que estão mais intimamente ligadas a Sua vida pessoal como homem e a obra que o Pai realizava n’Ele, ao se aperfeiçoar através do sofrimento. Algumas dessas explicações encontradas pelo autor são apresentadas a seguir:

A pobreza de Cristo faz parte de Sua inteira e profunda humilhação, uma prova de Sua perfeita humildade: estar disposto a descer às mais baixas profundezas da miséria humana, compartilhando por completo de todas as consequências do pecado. Os pobres têm sido desprezados em todas as épocas, enquanto os ricos são procurados e honrados; Cristo também veio fazer parte dos desprezados e desamparados.

A pobreza de Cristo tem sido sempre relatada como uma das provas de Seu amor. O amor se deleita em dar; o Seu amor perfeito em dar tudo. A pobreza de Cristo é uma das expressões deste amor que se sacrifica a si mesmo e nada retém, procurando ganhar-nos para Si por meio da maior abnegação em nosso favor.

A pobreza de Cristo é também Sua capacidade de relacionar-se conosco e ajudar-nos em todas as provações que surgem em nossa relação com este mundo e seus bens. A pobreza de Cristo tem sido para milhões a garantia de que Ele pode sentir com eles suas necessidades; que também para Ele, as necessidades terrenas foram motivo de ajuda celestial, a escola de uma vida de fé, a experiência da fidelidade de Deus e o caminho para as riquezas celestiais.

A pobreza de Cristo é a arma e a prova da Sua completa vitória sobre o mundo.

A humanidade de Cristo não foi como ensinam as “Docetae”, uma mera aparência ou uma encenação. Nunca houve um homem de modo tão intenso e real como Jesus Cristo:

“Homem verdadeiro de homem verdadeiro”.

A pobreza implica em dependência dos outros e com frequência traz escassez e sofrimento; carece dos meios e do poder da terra. Nosso bendito Senhor sentiu tudo isto como homem. E foi através deste sofrimento que o Pai, em parte, operou n’Ele sua vontade como Filho e o Filho demonstrou Sua submissão ao Pai e Sua absoluta confiança n’Ele.

A pobreza de Cristo foi parte da Sua escola da fé, na qual Ele mesmo aprendeu primeiro e logo ensinou aos homens, que a vida é mais do que a carne e que o homem vive “não só de pão, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus”.

A pobreza de Cristo foi uma das marcas de Sua completa separação do mundo, a prova de que Ele era de outro mundo e de outro Espírito. E assim, como o pecado entrou no mundo por intermédio de um fruto bom para comer e agradável à vista, o grande poder deste mundo sobre os homens está nos negócios, nas posses e no desfrutar desta vida.

A pobreza de Cristo não foi, portanto, um mero acidente ou uma circunstância externa. Foi um elemento essencial da Sua perfeita e santa vida; um grande segredo do Seu poder para vencer e salvar; Seu caminho para a glória de Deus.

A entrega e renúncia a toda a propriedade e a aceitação do estado de pobreza era, de modo claro, uma condição e um meio sem o qual não podia haver a plena posse das riquezas celestiais, devendo ter um poder tão grande que convencesse os homens de seu valor.

Sem nenhuma ordem expressa, Paulo aprendeu a dar, com ninguém houvera feito antes, aquilo que deve ter sido a vida mais íntima do bendito Senhor, nas suas próprias palavras: “Como pobres, mas enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas possuindo tudo”.

O confronto no meio do estado apostólico vem claramente à luz com a história que se conta de um dos papas.

Através de épocas sucessivas foi crescendo a convicção de que só por intermédio de um retorno à pobreza podiam romper-se os laços com este mundo e conseguir-se outra vez as bênçãos do céu. E mais de uma vã tentativa foi feita para dar à pobreza um lugar na pregação e na prática da igreja, tal como havia sido nos dias de Pentecostes. Algumas vezes, os esforços de homens santos conseguiram êxitos temporários, mas sempre voltou a fazer-se sentir o terrível poder do grande inimigo: o amor ao mundo.

Houve várias razões para esta falha. Uma delas foi que os homens não entendiam que, estando no Cristianismo, o estado aparente não contaria, mas só o espírito.

As palavras de Cristo “O Reino de Deus está em vós”, foram esquecidas; e os homens esperavam da pobreza o que só pode ser realizado pelo Espírito de Cristo. Os homens procuraram fazer disso uma lei, dobrar-se às suas regras e unir-se em irmandades, almas que não tinham uma vocação ou uma capacidade interna para uma imitação semelhante à de Cristo.

A seguir é revelado que a igreja procurou investir na pobreza com o manto de uma santidade peculiar e, por meio da sua doutrina dos “Conselhos de Perfeição”, oferecer uma recompensa por tão alta perfeição. Ensinava que, embora os mandamentos do Evangelho fossem dever de todos, havia certos atos ou modos de vida que ficavam a critério do discípulo. Não eram uma obrigação incontestável; seguir estes conselhos era mais que simples obediência, era um ato além dos limites da obrigação e, portanto, tinha um mérito especial. A partir disto cresceu a doutrina do poder da igreja para dispensar ou distribuir o excesso de mérito dos santos àqueles que careciam dele.

E, em alguns casos, a pobreza passou a ser somente uma nova fonte de autos satisfação, fazendo um pacto com a riqueza e lançando sua sombra obscura e mortal sobre aqueles a quem prometia salvar.

A leitura nos conta que desde aqueles tempos, parece que a nossa teologia protestante nunca se interessou em indagar qual lugar, qual significado e qual poder Cristo e o apóstolo deram realmente à pobreza em seus ensinamentos e em sua prática. Inclusive, nos dias atuais, quando Deus ainda está recolhendo muitos testemunhos imbuídos da bênção de renunciar a tudo confiando n’Ele e de não possuir nada para possuí-Lo mais plenamente, mal se pode dizer que a igreja tenha achado a exata expressão da sua fé no espírito da pobreza de Cristo, como o poder com o qual há de se contar como um dos dons que Ele concede a alguns de seus seguidores.

A conclusão que nos é apresentada é de que é possível observar que há bastante dificuldade ao tentarem formular o ensinamento da Escritura de modo a que coincida com os pontos de vista dos crentes evangélicos.

O ensinamento dos Conselhos de Perfeição havia um fundo de verdade. O erro era dizer que a maior semelhança a Cristo não era uma questão de dever, mas de opção. A Escritura diz:

“O que sabe fazer o bem e não o faz, está pecando”.

Onde quer que conheçamos a vontade de Deus, temos que obedecê-la. O erro poderia ser evitado se tivessem prestado atenção às diferenças de conhecimento espiritual pelo qual são afetadas nossas percepções de dever.

Existe uma diversidade de dons e capacitações, de vocação e de graça, que é o que faz essa diferença; não na obrigação de cada um em procurar a máxima semelhança possível a Cristo, mas na possibilidade de manifestar externamente esta semelhança nas formas que vemos em Cristo.

Quando se fala em liberdade cristã o autor quer dizer sobre a nossa liberdade quanto a uma restrição excessiva à nossa própria vontade ou aos prazeres do mundo. Seu real significado é precisamente o oposto. O amor pode ser tão livre como podemos ser eu e o mundo para levar tudo a Deus.

Cristo exigiu uma pobreza tão absoluta quanto a Sua. É no círculo íntimo dos filhos de Deus, entre aqueles que penetram mais profundamente na compreensão das riquezas da graça e a ela se rendem totalmente, que temos de achar as testemunhas a quem Seu Espírito ainda pode inspirar e robustecer para aguentarem sua pobreza. Ele o fez e faz. Em muitos missionários e membros do Exército da Salvação, em muitos obreiros desconhecidos e humildes. Seu Espírito está realizando este exemplo de Sua bendita semelhança.

Benditos são os que esperam n’Ele para receber Seu ensinamento, para conhecer Sua mentalidade e exibir Sua santa semelhança. Somente quando o círculo mais intimamente ligado a Ele mostrar o poder da Sua presença é que os outros sentirão a influência.

Os homens de posses moderadas, os que não sentem vocação para uma vida pobre, virão compelidos pelo constrangimento do poder do exemplo e se sentirão mais impelidos a sacrificar o conforto e o bem-estar pelo serviço a Cristo, do que se sentiam no passado.

E, de acordo com a bíblia, os ricos prestarão atenção aos sinais de perigo que Deus pôs em seus caminhos (Luc.18:25; Mat.6:1,21; I Tim. 6:9,10,16) e poderão, por meio destes exemplos, se não participar da pobreza de Cristo, ao menos receber ajuda para colocarem seus corações mais intensamente nos tesouros do céu: serem ricos na fé, em boas obras, ricos para Deus e saberem-se herdeiros de Deus, das riquezas da graça e das riquezas de glória.

Este capítulo apresenta alguns dos aspectos aparentes da bem-aventurada pobreza de Cristo e da comunhão voluntária que nos concede.

Ajuda a dirigir a alma a Deus e ao invisível; a compreender o absoluto de Sua presença e o cuidado com as coisas mais banais da vida cotidiana; a ter confiança em Deus, que move a mola-mestra de todos os interesses temporais bem como espirituais.

As constantes necessidades do corpo, que são, com frequência, grandes obstáculos, passam a ser ajuda maravilhosa para elevar toda a nossa vida à comunhão de Deus e trazer Deus para nós em tudo. Eleva o espírito acima das coisas transitórias e nos ensina a ficarmos contentes em qualquer situação, sempre alegres falando com Deus.

Não existe nada na vida cristã que seja maior causa de sofrimento do que o mundanismo indescritível que advém dos sobressaltos e das riquezas desta vida.

Existe a necessidade da demonstração do Espírito e do poder de Deus, que torna possível aos homens dar tudo o que é desta terra para poderem possuir mais plenamente, gostar e proclamar a suficiência das riquezas celestiais e a satisfação que elas proporcionam.

É por meio da pobreza de Cristo que nos tornamos ricos. Sua pobreza traz a mesma bênção ao Seu povo. Na igreja, muitos que não sentem a chamada ou aqueles a quem, pela providência de Deus, não se lhes permite seguir este ideal, irão sentir-se estimulados e fortificados ao vê-la.

Quando há alguma testemunha da prova da bênção que é a completa semelhança, os outros que não foram chamados a seguir este caminho, sentem-se impulsionados, no meio das riquezas que possuem, a procurar assemelhar-se a eles em espírito, tanto quanto lhes é permitido. O ofertar cristão não só será mais generoso em quantidade, como também mais generoso em espírito, em disposição e em alegria. Por meio da Sua pobreza de Cristo neles, muitos serão enriquecidos.

O autor segue contando sobre seu encontro com um servo de Deus, o Reverendo Geo Ferguson. Ele conta o que conversaram e sobre as reflexões do reverendo.

Se Deus abrisse nossos olhos para que víssemos a virtude espiritual de nosso Senhor em Sua pobreza, em Sua inteira renúncia a todo o conforto ou prazeres mundanos; se víssemos a virtude divina da qual isto é personificação; se soubéssemos como foi infinitamente formoso para os santos anjos, infinitamente agradável para o Pai, só assim poderíamos, em algum grau, dizer se é algo que queremos desejar e imitar.

Se víssemos a simplicidade e a grandeza que a semelhança a nosso Senhor traria à nossa vida, diríamos: “Estive falando do que não entendo; oh, que Deus me mostrasse também Sua glória”: “Por amor a vós, sendo rico, se fez pobre para que vós fosseis enriquecidos por sua pobreza”. Antes de julgar, peça ao Espírito Santo que o faça conhecedor.

Uma das conclusões que o livro apresenta é de que:

A semelhança de Jesus, podes renunciar ao mundo em favor de Deus e do teu próximo e achar teu júbilo nas riquezas celestiais e na bênção de ser dependente de Deus apenas? “Não, Senhor, não posso; mas Tu podes”. Vem e olha o Filho de Deus e adora-O enquanto pensas. Foi Deus quem “O fez” como foi; e pensa que Deus pode, com Seu grande poder, realizar em mim Sua divina semelhança. Pede a Deus que te revele por Seu Espírito o que é a pobreza de Jesus e que logo opere em ti tento quanto possas suportar.

Fiques certo disto: quanto mais profunda for tua identificação em Sua pobreza, mais rico serás. E se a última pergunta vier sondar teu coração: “Estás disposto a isso?”. Então, por certo, tua resposta estará pronta: “Por Tua graça, estou!”. É possível que não vejas nenhuma saída para todas as complicações da tua vida.

Pode ser que tenha receio de passar por sacrifícios e provações que não possa suportar. Mas não tema; porque não há que temer quando se entrega ao perfeito amor de Deus, para que Ele opere Sua perfeita vontade.