Sinopse
Por tratar-se de tema de alta relevância, apresentamos uma sinopse ampliada do livro com o intuito de demonstrar a importância do estudo deste conteúdo, esperando com isto estimular o leitor a estudar o tema em detalhes.
Ressaltamos que esta sinopse, apesar da designação “ampliada”, é apenas uma pequena parte de todo conteúdo que deve, segundo nosso entendimento, ser objeto de estudo completo e detalhado.
PARA QUE VOCÊ POSSA APROFUNDAR NESSE ESTUDO, RECOMENDAMOS A AQUISIÇÃO DE UM EXEMPLAR DESSA OBRA/TEMA.
Nota do site:
O Site TenhoSede entende que há uma gama enorme de bons livros cristãos que podem ajudar muito a todos os filhos de Deus no desenvolvimento de uma vida cristã consagrada, madura e frutífera. Neste sentido, os livros aqui mencionados são uma pequena demonstração desta visão.
Esclarece ainda, que todo conteúdo dos livros aqui indicados é de responsabilidade de seus autores e que os mesmos foram incluídos nesta Plataforma tão somente pelo seu elevado conteúdo bíblico. O objetivo é o de trazer à luz uma enorme gama de aspectos relevantes para o todo da revelação das Escrituras e para uma melhor interface com outras seções do site.
A indicação dos mesmos é feita essencialmente para abordar temas fundamentais para uma melhor e mais profunda compreensão da Palavra, não sendo necessária a aquisição especificamente dos títulos aqui indicados. No entanto, recomenda-se que os temas por eles abordados devam ser estudados em detalhes, ainda que por meio de outros títulos, para que se alcance uma maior consciência da grandeza do Senhor e de Sua Palavra.
O Site TenhoSede reitera que não tem nenhuma participação na comercialização dos livros, sendo um site totalmente gratuito e sem fins lucrativos.
Índice
Primeiras explicações sobre a arqueologia e a relação com a Bíblia
Arqueologia e os textos antigos
Comprovando arqueologicamente “Gênesis”
Passagens bíblicas
Oriente Médio em relação à Bíblia
Arqueologia e os profetas
Quadro cronológico da arqueologia e o AT
Período intertestamentário
Zorobabel
Templo Herodiano
Mar morto
NT arqueologicamente
Comprovando os evangelhos
Sobre as cartas de Paulo
Apocalipse
Descobertas arqueológicas e o NT cronologicamente
Primeiras explicações sobre a arqueologia e a relação com a Bíblia
Embora não possamos retornar ao passado, ele pode vir até nós. Ele nos está disponível na forma de registros históricos e arqueológicos. O registro histórico consiste em documentos (incluindo a Bíblia) que foram preservados ou recuperados em sociedades modernas a fim de preservar evidencias de costumes precedentes. O registro arqueológico contém elementos culturais que foram sedimentados e que já não fazem parte de uma sociedade contemporânea, mas, uma vez encontrados, fornecem evidencias, com os registros históricos, do passado.
A ciência da arqueologia é um meio moderno de revelar o registro perdido do mundo antigo e, para o estudante das Escrituras, o mundo da Bíblia. Embora seu propósito não seja provar (ou refutar) a historicidade de pessoas e eventos registrados nas Escrituras, pode ajudar imensamente a confirmar a realidade histórica e a exatidão da Bíblia, demonstrando que a fé tem um fundamento com base em fatos. Além disso, serve para ilustrar o pano de fundo e o contexto das Escrituras, de modo que o diferente mundo do passado se torne mais compreensível no presente.
A arqueologia é tanto uma arte como uma ciência e, portanto, requer interpretação.
O objetivo do autor nessa obra é proporcionar uma janela para o passado bíblico através das informações disponíveis no campo da arqueologia. Ele pretende oferecer informações obtidas através de dados coletados e confirmados pela arqueologia e traçar um paralelo com o contexto bíblico.
Embora esse livro tenha sido altamente seletivo no número de textos e exemplos arqueológicos, tentou ser o mais contemporâneo possível (sem negligenciar os achados arqueológicos históricos mais importantes para os estudos bíblicos). A decisão de relacionar os achados arqueológicos com os textos bíblicos na ordem canônica baseou-se no desejo de demonstrar a utilidade da arqueologia aos estudos bíblicos e tornar o trabalho o mais acessível e prático possível para os interessados em estudar a Bíblia.
Os autores desse livro possuem ampla experiência nos campos da arqueologia e de estudos sobre a Bíblia.
Se o passado é uma chave para o presente, os autores esperam que os leitores utilizem esse recurso para uma maior compreensão sobre a Bíblia e a palavra de Deus.
Introdução à arqueologia bíblica
A arqueologia surgiu como um campo da ciência (há cerca de 200 anos) e, como disciplina, continua em constante evolução. A palavra “arqueologia” é formada a partir das palavras gregas archaios (“antiga”) e logia (“palavra, estudo de“). Portanto, no seu sentido mais básico, o termo grego archiologia (“arqueologia”) é uma palavra que se refere – ou é um estudo – à história ou à cultura antigas e aos lugares de onde se originam. As definições podem várias conforme os diferentes objetivos de um arqueólogo em particular. No entanto, o que é comum a todos os tipos de arqueologia é a recuperação e o estudo da cultura material de civilizações passadas. A arqueologia bíblica, como um subconjunto do campo geral, pode ser definida como uma aplicação da ciência da arqueologia ao campo do estudo da Bíblia. A Bíblia, no Antigo Testamento, é um relato seletivo da história de um povo e de um ligar em relação a Deus. Enquanto no Novo Testamento esse relato é aprofundado e sua história inclui outros povos e países, particularmente em relação a Deus na pessoa de Jesus Cristo. No que se refere a essas questões, a arqueologia bíblica lida com os vestígios tangíveis da história dos lugares e das pessoas que neles viveram, ou prevê referência ao contexto bíblico. A Bíblia apresenta uma perspectiva teológica; a arqueologia, uma perspectiva científica. No entanto, quando elas se juntam a serviço de um conhecimento maior que ambas oferecem, uma nova disciplina é criada, unindo a pesquisa arqueológica à interpretação bíblica para o benefício da academia e do púlpito.
Essa relação foi fundamental para o advento e o avanço da arqueologia. No século XIX, as terras bíblicas foram abertas à exploração quase no mesmo tempo em que a crítica histórica colocava em dúvida a historicidade da Bíblia. Os exploradores que acreditavam na Bíblia, patrocinados por sociedades geográficas e históricas (como o Palestine Exploration Fund [Fundo para exploração da Palestina]), empregavam técnicas arqueológicas para descobrir sítios antigos com a intenção expressa de fornecer evidencias cientificas em apoio à Bíblia.
Uma atitude mais crítica, até mesmo cética, do uso da arqueologia com a Bíblia dominou os estudos acadêmicos no final do século XX e começo do século XXI. Em parte, foi uma reação às declarações exageradas de conexões arqueológicas e bíblicas feitas no início do século XX por importantes figuras dessa área. No entanto, isso pode ser atribuído principalmente aos desafios levantados pelo campo da crítica histórica que comprometeu a Bíblia como um documento histórico consistente e confiável.
O uso do termo “Palestina” e “Palestino” na
arqueologia bíblica
O termo comumente aceito para a pesquisa arqueológica conduzida no Levante Meridional é a arqueologia siro-palestina ou palestina. Embora o termo seja usado em referência à antiga Palestina, esse nome nunca foi usado na Bíblia para determinar o lugar onde os antigos hebreus se estabeleceram (a terra de Canaã). O único uso do termo “Palestina” pode ser encontrado numa antiga versão inglesa King James da Bíblia em Joel 3:4. O versículo descreve a planície costeira filisteia (Filístia). A versão KJV traduz “Palestina” para o termo hebraico peleshet, usado cerca de 250 vezes na Bíblia hebraica para nomear a Filístia ou os filisteus. Da mesma forma, o termo “palestino” não é usado na bíblia para designar o grupo de povos antigos descendentes de Abraão (hebreus, israelitas, judeus e ismaelitas).
O termo “Palestina” entrou na linguagem cristã através dos escritos de Eusébio, o bispo favorecido pelo imperador romano Constantino (séc. IV d.C.). Eusébio rejeitou o nome de Aelia para Jerusalém, considerada uma cidade cristã, mas aceitou o nome “Palestina” para Israel, em conformidade com a política antijudaica de Constantino. Essa nomenclatura foi então assimilada no vocabulário cristão, à medida que o Império Bizantino estava sendo estabelecido e seu uso prosseguiu na era cristã posterior, embora no tempo das Cruzadas (1055-1205 d.C.) a terra de Israel fosse chamada o Reino de Jerusalém.
O uso seguinte do termo “Palestina” ocorreu sob o Império Otomano (1517-1917), quando o título se tornou uma designação geral das terras ao sul da Síria. Essa não parece ter sido uma designação oficial, já que otomanos e árabes que viviam na Palestina durante esse período se referiam a sua área como o sul da Síria. Por exemplo, George Habib Antonius, o principal historiador do nacionalismo árabe, considerou a Palestina como parte da grande Síria. Após o período de governo otomano (1917), o termo Palestina foi usado durante o domínio Britânico (1920-1948), mas naquela época o nome se referia tanto às terras do atual Estado de Israel quanto à Jordânia. Depois que a Jordânia se tornou um país independente (1922), o termo “Palestina” foi usado para identificar os lugares ocupados tanto por árabes (árabes palestinos) como por judeus (judeus palestinos), embora antes do estabelecimento do Estado de Israel em 1948 a imprensa internacional comumente se referisse aos judeus como palestinos, e não árabes.
Após a independência de Israel, aqueles que viviam dentro das fronteiras reconhecidas como o Estado de Israel eram conhecidos como árabes israelenses ou judeus israelenses, enquanto aqueles que estavam fora desse território ou mantiveram uma identidade nacional (jordaniana, síria, egípcia, etc.) ou tribal (beduína). Somente após a criação da Organização para Libertação da Palestina que o termo Palestina passou a ser usado pelos árabes.
Os autores descreveram neste livro essas regiões como Israel bíblica (não antiga Palestina no tempo de Cristo) e empregaram a expressão arqueologia de Israel com referência a escavações arqueológicas realizadas em locais identificados com a antiga e moderna terra de Israel.
A arqueologia bíblica hoje
No século XXI, a arqueologia bíblica começou a regressar para o campo dos estudos sobre a Bíblia, embora não sem mudanças e desafios significativos. As teorias e os métodos da crítica histórica passaram do domínio da erudição para a publicação popular e para a mídia de entretenimento documental em constante expansão. O objetivo foi consagrar a arqueologia como ciência real e usá-la para desacreditar as reivindicações históricas da Bíblia, ao demonstrar a ausência de elementos de apoio ou mesmo dados contraditórios.
Em nosso tempo, mudanças teológicas, novas realidades políticas e a preocupação com a integridade acadêmica mudaram o foco da arqueologia da obtenção de evidencias bíblicas para uma abordagem científica rigorosa, uma mudança refletida em novos termos para a disciplina, como a arqueologia siro-palestina ou a arqueologia de Levante. Portanto, embora a ciência da arqueologia tenha retornado aos estudos referentes à Bíblia, seu propósito é, às vezes, mas uma crítica à Bíblia do que uma contribuição para os estudos sobre ela. Esse ponto de vista resulta não da abordagem da disciplina ou metodologia da arqueologia, mas da abordagem de interpretação da Bíblia. Essas abordagens divergentes cristalizam-se hoje em campos distintos conhecidos como “minimalismo” e “maximalismo”.
A arqueologia bíblica hoje
No século XXI, a arqueologia bíblica começou a regressar para o campo de estudos sobre a Bíblia, embora não sem mudanças e desafios significativos. As teorias e os métodos da crítica histórica passaram do domínio da erudição para a publicação popular e para a mídia de entretenimento documental em constante expansão. O objetivo foi consagrar a arqueologia como ciência de apoio ou mesmo dados contraditórios.
Em nosso tempo, mudanças teológicas, novas realidades políticas e a preocupação com a integridade acadêmica mudaram o foco da arqueologia da obtenção de evidências bíblicas para uma abordagem científica rigorosa, uma mudança refletida em novos termos para a disciplina, como a arqueologia siro-palestina ou a arqueologia do Levante. Portanto, embora a ciência da arqueologia tenha retornado aos estudos referentes à Bíblia, seu propósito é, às vezes, mais uma crítica à Bíblia do que uma contribuição para os estudos sobre ela. Esse ponto de vista resulta não da abordagem da disciplina ou metodologia da arqueologia, mas da abordagem de interpretação da Bíblia. Essas abordagens divergentes cristalizaram-se hoje em campos distintos conhecidos como “minimalismo” e “maximalismo”.
Minimalistas e maximalistas
Os minimalistas bíblicos são aqueles que minimizam os dados das Escrituras em respeito aos dados arqueológicos. Os maximalistas bíblicos são os que maximizam (ou priorizam) os dados das Escrituras relativamente aos dados arqueológicos. Os minimalistas são críticos de antigas interpretações prematuras de lugares ou de seus achados que os faziam se encaixar nos textos bíblicos, alegando que escavações posteriores algumas vezes alteraram as conclusões iniciais. Os minimalistas argumentam ainda que, quando os dados arqueológicos falham em demonstrar a existência de um lugar a habitação de um lugar de acordo com a cronologia bíblica, os dados bíblicos devem ser reavaliados quanto à sua historicidade (embora não necessariamente quanto ao seu ensino teológico).
Os maximalistas apreciam a evidência documental mais completa do texto bíblico e argumentam que a ausência de uma evidência não é necessariamente uma indicação de sua não existência. Os maximalistas podem lembrar os minimalistas sobre conclusões errôneas do passado, baseadas na falta de evidências arqueológicas, como o caso da figura bíblica do rei Davi, que já foi considerado uma fantasia, já que nenhuma inscrição arqueológica havia sido encontrada com alguma referência a ele.
Os maximalistas acreditam que os dados arqueológicos devem falar por si mesmos antes de serem combinados com dados literários, sejam da Bíblia, sejam de qualquer outro documento. Eles reconhecem que a Bíblia tem complexidades em sua composição e que cuidados devem ser tomados antes de se tentar traçar paralelos bíblicos, outros paralelos ou correlações históricas. No entanto, é mais provável que a escavação nos locais (ou nos locais prováveis) mencionados na Bíblia tenha um ponto de contato com a história que registra. Além disso, devido às limitações inerentes da arqueologia, os maximalistas acreditam que os textos literários devem ser considerados (e priorizados) como um registro mais amplo se os dados arqueológicos fizeram sua narrativa no contexto geral da história.
As abreviações a.C., d.C. e AD
A abreviações a.C. (“antes de Cristo”), d.C. (“depois de Cristo”) e AD (anno Domini, “no ano de nosso Senhor”) têm sido empregadas na história clássica. Entretanto, deve-se notar que a comunidade arqueológica envolvida nas escavações em terras bíblicas, que inclui aqueles pesquisadores que são seculares e judeus, bem como cristãos, preferem as abreviações mais neutras AEC (“Antes da Era Comum”) e EC (“Era Comum”) para designar os mesmos períodos de tempo como a.C. e d.C. Aqueles que usam estas últimas abreviaturas em campos de estudo que oferecem subsídios para estudos bíblicos não devem ser considerados menos bíblicos, já que essa é a terminologia acadêmica aceita.
A limitações da arqueologia
A arqueologia tem limitações inerentes que precisam ser entendidas para que os subsídios arqueológicos não sejam priorizados (positiva ou negativamente) sobre os dados bíblicos. A principal limitação da arqueologia é a natureza extremamente fragmentária da evidência arqueológica. Apenas uma fração da cultura medieval sobreviveu. A maioria das grandes civilizações passadas foi destruída na Antiguidade por guerras, saqueadores, erosões, desastres naturais ou simplesmente pela devastação causada pelo tempo. A isso podemos acrescentar as centenas de locais que foram e continuam a ser destruídos por causa de projetos de construção (antigos e modernos), manobras militares, revoltas religiosas e políticas, e pilhados por saqueadores (como o Estado Islâmico) que transformaram o mercado negro das antiguidades em um cartel internacional. Outro problema inclui as ações de formação cultural (comportamento humano) e formação não cultural (ambiente natural) que podem corroer, realocar e transformar os elementos deixados no local, incluindo a remoção de camadas da história. Tal atividade destrói o registro arqueológico preservado durante aquele período.
Além disso, dos milhares de sítios antigos conhecidos que ainda sobrevivem, apenas uma fração foi pesquisada, e menos ainda escavada.
Outras limitações vêm de restrições a locais por causa de disputas políticas que impossibilitam a escavação em zonas de guerra ou restringem a escavação a certas nacionalidades, os altos custos financeiros da escavação e a dificuldade de obter permissões de autoridades por questões políticas ou regionalistas.
A Bíblia como um documento arqueológico
A Bíblia como um documento literário, deve ter prioridade na determinação final da exatidão da história que registra. Deve-se reconhecer que a Bíblia é ao mesmo tempo um documento literário e arqueológico, portanto, representa o melhor testemunho sobrevivente que possuíamos para o registro arqueológico de tempos, lugares e eventos bíblicos. Desse modo, é preciso admitir que a Bíblia é um registro seletivo orientado teologicamente. A composição da Bíblia e a natureza dos dados arqueológicos são complexos, e deve-se ter cuidado ao fazer conexões históricas entre eles. Portanto, a arqueologia, como uma ferramenta interpretativa, pode ampliar o escopo do contexto bíblico e tornar suas antigas descrições e referências mais compreensíveis.
O valor da arqueologia para o estudo da Bíblia
Em sua maioria, aqueles que escreveram a Bíblia foram testemunhas diretas em relação a povos, lugares e eventos que descreveram. Esse aspecto tem sido de particular importância no recente debate sobre o estabelecimento cronológico dos patriarcas e do êxodo e na questão da autenticidade dos Evangelhos em sua transmissão oral. Quer aceitemos ou não o testemunho dos apóstolos e escritores dos Evangelhos, eles reivindicam uma experiência pessoal como evidência da veracidade de suas alegações teológicas. Essa relação tangencial entre o texto bíblico, a história e a arqueologia nos recomenda observar alguns princípios básicos no uso dessas fontes para validá-las mutuamente:
– A arqueologia é também um “texto” e, portanto, requer interpretação.
– Não deve haver conflito entre um texto arqueológico bem interpretado e um texto bíblico bem interpretado (desde que se empreguem métodos consistentes de interpretação).
– A falha de um modelo não representa a falha da fonte.
Metodologia para o uso da arqueologia no ensino bíblico
Se deve reconhecer que tento o texto bíblico como os dados arqueológicos são interpretativos. Desse modo, é preciso notar que, uma vez abordadas as questões hermenêuticas, as ocasiões em que o texto e o fato arqueológico se cruzam normalmente têm sido espetaculares e favoráveis para a historicidade do texto bíblico, trazendo informações da cultura material diretamente dos locais originais, reforçando, assim, o estudo da Bíblia. Sozinhos, os dados arqueológicos podem não ser “auto interpretativos”, mas conseguem ainda falar por si mesmos, uma vez ouvidos em um contexto com outras informações comparativas.
Uma metodologia geral para integrar dados arqueológicos na interpretação bíblica pode ser a seguinte.
1. Reconhecer a necessidade de integrar textos bíblicos e dados arqueológicos. Assim como a exegese é uma ferramenta para descobrir o significado de um texto, a escavação é uma ferramenta para desvendar seu contexto histórico e seu significado cultural.
2. Desenvolver uma compreensão do funcionamento da arqueologia. Para usar dados arqueológicos, o intérprete bíblico precisa estar familiarizado com a técnica e a terminologia arqueológicas e ter acesso a recursos arqueológicos técnicos.
3. Identificar os dados arqueológicos de modo a influenciar a compreensão do texto bíblico. Uma vez que a classificação de texto é identificada como tendo um conteúdo que se encaixa no contexto do Oriente Médio, perguntas básicas de diagnóstico interpretativo são feitas ao texto para identificar problemas nos campos histórico, cultural, social e religioso que podem ser abordados por dados arqueológicos análogos.
4. Construir uma exegese bíblico-arqueológica. As duas fontes de dados são combinadas depois de usar o pensamento crítico para discernir como os dados arqueológicos se ajustam melhor aos dados bíblicos.
5. Ensinar a exegese obtida. Na pregação/ensino deve haver uma explicação dos dados arqueológicos selecionados e o modo como eles ajudam a entender o texto bíblico. O benefício para o professor bíblico será uma abordagem mais confiante e segura de um texto historicamente fundamentado, resultando em um público mais informado que seja capaz de fazer uma aplicação mais precisa.
É importante considerar as formas específicas em que a arqueologia contribui para os estudos bíblicos.
A contribuição da arqueologia para os estudos bíblicos
Confirmando a palavra da Bíblia
Um equívoco comum é pensar que o propósito da arqueologia seja comprovar a Bíblia. No entanto, uma vez que a Bíblia se descreve como a “palavra da verdade”, ela não pode ser provada nem refutada pela arqueologia, tanto como Deus não o pode ser pelas limitadas evidências deste mundo. O que a arqueologia pode fazer é confirmar historicamente as declarações históricas no texto das Escrituras.
A Bíblia tem sua confirmação enaltecida através da evidência histórica do passado.
Um benefício obtido ao se busca descobrir fatos do passado é que eles ajudam o cristão a estabelecer um relacionamento realista e racional com Deus. A arqueologia ajuda a trazer a mensagem teológica da Bíblia para um contexto do mundo real, onde a fé real é possível.
Escavações em Tel Miqne revelaram uma inscrição que identificou conclusivamente o local como a Ecrom bíblica, uma cidade filisteia mencionada no Antigo Testamento desde o tempo da conquista até o período pós-exílio. Essa identificação há muito incerta devido aos locais conflitantes apresentados na literatura antiga. A inscrição também atestou uma breve lista dos governantes de Ecrom, terminando com o rei Aquis do século VI a.C. (um nome filisteu mencionado nos livros bíblicos de Samuel e Reis). Nas escavações na Área G da antiga cidade de Davi, 45 bolhas, isto é, selos de argila endurecidos, foram descobertas. As bolhas foram preservadas do fogo que destruiu Jerusalém durante a invasão final babilônica. Essas bolhas continham 53 nomes individuais, muitos dos quais estão registrados no Antigo Testamento. Tais achados confirmam a exatidão de detalhes históricos incidentais no texto bíblico e, por extensão, sustentam a precisão do registro histórico maior.
Corrigindo nossa versão bíblica
Outra contribuição da arqueologia a serviço do texto bíblico está na área da lexicografia. Um dos primeiros passos para o entendimento das Escrituras é a obtenção de um texto que reflita com precisão o texto original. Como temos apenas apógrafos, a exatidão das antigas cópias que foram transmitidas por meio da tradição dos escribas muitas vezes depende da comparação dessas cópias com as versões (traduções desses textos) que fizeram parte de sua história de transmissão. A arqueologia forneceu muitas delas, desde as areias do Egito até as cavernas de Qumran, assim como milhares de inscrições nos idiomas bíblicos (hebraico, aramaico e grego) e seus cognatos (idiomas relacionados com as línguas bíblicas).
No final da década de 1940, de cerca de mil documentos, que se tornaram conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. A descoberta incluía as cópias mais antigas conhecidas do Antigo Testamento, com algumas cópias inteiras de livros (como Isaías) e fragmentos de todos os livros, com exceção de Ester. A descoberta demonstrou quão bem os escribas preservaram o texto bíblico ao longo do tempo. Ela também apresentou variantes que ajudaram os críticos de texto a resolver problemas textuais, e melhorou nossa compreensão do texto bíblico refletido em versões como a Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) e Pentateuco Samaritano. Como resultado, Harold Scanlin afirmou que “todas as principais traduções da Bíblia desde 1950 afirmam que levam em conta a evidência textual dos manuscritos do mar Morto”.
Tornando mais claro o mundo da Bíblia
Assim como a arqueologia pode tornar mais claro o texto bíblico, também pode oferecer esclarecimentos sobre o mundo em que os eventos históricos da Bíblia ocorreram. Uma regra fundamental para o estudo da Bíblia é que todo texto deve ter um contexto. “A arqueologia é nossa única fonte de informação que vem diretamente do próprio período bíblico […] um quadro completo da vida cotidiana desse período, que é a única evidencia que temos do período bíblico, com exceção da própria Bíblia”. Nós não vivemos no mundo da Bíblia (mesmo que alguns possam viver geograficamente naquela região). Não podemos mais reconstruir corretamente os costumes dos patriarcas a partir das tribos beduínas locais melhor do que o faríamos em relação às práticas do judaísmo do primeiro século quanto às tradições posteriores dos rabinos judeus. Precisamos ter dados diretamente dos tempos e lugares do mundo bíblico.
Escavações arqueológicas nos dão essa clareza. Descobertas em todo o mundo antigo têm revelado muito da forma e da essência da vida antiga. Pinturas e relevos de tumbas revelaram representações de antigos semitas semelhantes aos patriarcas bíblicos.
Os detalhes da vida cotidiana, da sociedade, da cultura e da religião que essas descobertas arqueológicas nos apresentaram nos permitiram conduzir os estudantes bíblicos na compreensão do contexto antigo com maior clareza do que em qualquer época anterior da história (desde os tempos bíblicos).
A Pedra de Roseta − chave para decifrar os hieróglifos egípcios
A antiga escrita egípcia, chamada hieróglifos (composta de duas palavras gregas: hieros, “sagrado”, e glypho, “gravar”), foi envolvida em uma aura especial de mistério pelos artistas europeus que romantizaram as ruínas de Gizé e Tebas.
Então, em 1798, soldados sob o comando do general Napoleão Bonaparte, que junto com um corpo de cientistas franceses haviam invadido o Egito no ano anterior, começaram a coletar um grande número de artefatos egípcios recém-descobertos. Como poderia se imaginar, eles estavam destinados apenas para colecionadores e não para seus guardiães. Apenas um ano depois, os tesouros caíram nas mãos dos britânicos, que derrotaram o exército francês e expulsaram o exército de Bonaparte do Egito. Entre essa coleção de antiguidades recém-conquistada que os britânicos enviaram para seu museu nacional em Londres, havia uma grande placa de pedra preta de basalto, inscrita de alto a baixo, com caracteres de escrita antiga.
Apropriadamente chamada de Pedra de Roseta, ela logo atraiu um interesse particular quando se observou que a escrita continha diferentes idiomas. Um estudo posterior revelou que os escritos eram textos paralelos, cada um registrando o mesmo relato. O texto no topo da pedra estava escrito em hieróglifos indecifráveis, o texto do meio em algo que parecia ser uma forma cursiva de hieróglifo (chamado de demótico) e o texto inferior no idioma grego coiné. Sendo que essa linguagem grega (a mesma usada no Novo Testamento) era facilmente entendida pelos estudiosos, esperava-se que alguém pudesse trabalhar a partir do conhecido para o desconhecido. Comparando primeiramente as palavras gregas de fácil compreensão com o texto demótico (que se pensava ser legível), supunha-se que talvez alguma luz pudesse ajudar a decifrar os hieróglifos enigmáticos (que se imaginava serem apenas símbolos). Quando o texto grego da Pedra de Roseta foi traduzido, descobriu-se que era uma estela comemorativa que outrora se encontrava num templo egípcio. Ela registrava um decreto emitido a partir de Mênfis (a antiga capital egípcia) em 196 a.C., exaltando os triunfos do rei Ptolomeu V Epifânio. A inclusão desse nome (o único nome real preservado na seção hieroglífica da pedra) era essencial para finalmente desvendar o código dos hieróglifos.
Os hieróglifos não eram apenas símbolos, mas sinais com valor fonético — uma linguagem legível. Devido à descoberta do texto bilíngue da Pedra de Roseta, os segredos ocultos da língua egípcia e, posteriormente, da história, religião e cultura do Egito antigo foram expostos ao mundo.
Complementando o testemunho da Bíblia
Uma contribuição final que a arqueologia faz aos estudos sobre a Bíblia é prover informações históricas, culturais e religiosas complementares ou suplementares. Embora seja um testemunho vasto e diversificado sobre terras, povos e eventos da história antiga, a Bíblia é um registro seletivo que necessariamente exclui grande parte do significado histórico (como o nome do faraó do êxodo), fazendo com que, em certos relatos, críticos questionem a historicidade da Bíblia. Embora a arqueologia também tenha suas limitações em revelar o contexto maior, escavações nas terras bíblicas acrescentaram um testemunho complementar aos autores bíblicos, o que melhorou os relatos bíblicos ao mesmo tempo em que validam sua exatidão.
Quando os Manuscritos do mar Morto foram descobertos, eles mostraram descrições complementares e até diálogos entre a comunidade judaica (considerada pela maioria dos estudiosos como um grupo de essênios) e essas seitas. Essa informação deu apoio, de modo geral, à exatidão dos relatos do Novo Testamento (bem como os relatos
extra bíblicos) e proveu extensos comentários sobre a perspectiva messiânica que controlava a seita do mar Morto no tempo de Jesus e a formação da Igreja primitiva.
Identificação de um sítio arqueológico
Os vestígios de um sítio antigo são chamados de tel, “monte” (tel no hebraico, e no árabe tell ou tall), porque se assemelha a uma pequena colina que resulta de sucessivas camadas de povoação sobrepostas sobre as ruínas. O termo está relacionado a uma expressão árabe mais antiga, khirbet (“ruína”). Esses montes arqueológicos foram formados ao longo do tempo à medida que as cidades se transformaram em ruínas em consequência tanto de desastres naturais como daqueles provocados pelo homem (terremotos, inundações, ataques inimigos, demolições, queimadas etc.). Normalmente, a cidade seguinte era construída sobre o local anteriormente destruído, de modo que, com o tempo, o local aumentava sua elevação e, em sua fase final, se assemelhava a uma colina. Os arqueólogos pesquisam esses locais de várias maneiras para determinar que parte deve ser alvo da escavação inicial. Isso envolve registro de campo e avaliação do formato de sítios e suas características (artefatos não portáteis, como a arquitetura).
No entanto, os arqueólogos também usam tecnologia avançada, como sensoriamento remoto com o emprego de satélites, fotografias convencionais e fotografias infravermelhas de reconhecimento aéreo, e exploração arqueogeofísica, utilizando levantamentos geofísicos com o emprego de vários radares subterrâneos, como magnetômetros, radar de penetração no solo e resistividade. Esses métodos podem fornecer uma ideia das formas de estruturas e outros objetos, bem como suas localizações e profundidades aproximadas.
Escavação de um sítio arqueológico
O objetivo do arqueólogo é descobrir os vários contextos (coisas que deixaram vestígios na sequência arqueológica, como paredes e poços) presentes nessas camadas e documentar o contexto de cada descoberta, de modo que possa ser determinada sua natureza e data em relação a todo o sítio.
Quando a arqueologia estava em seus primórdios, o método de escavação era, geralmente, a remoção de qualquer camada de terra que estivesse cobrindo estruturas e artefatos. A vantagem desse método era que mais de um tel podia ser escavado, mas tinha a desvantagem de que o ponto específico onde o objeto havia sido encontrado (em relação a outros objetos) se perdia e não era dada atenção aos diferentes períodos de ocupação que eram originalmente parte do sítio. O método de escavação em trincheiras foi uma primeira correção, pois se fazia o que o nome indicava, cortando uma fatia de cima para baixo em uma parte do tel considerada como aquela que continha os artefatos mais importantes (como um palácio ou templo).
A identificação e interpretação das camadas (estratos) são conhecidas como estratigrafia. Os estratos geológicos e arqueológicos que compõem um tel arqueológico podem ser identificados e interpretados em relação aos diferentes períodos de ocupação que eles contêm.
O método estratigráfico é baseado na observação de como ocorre a sedimentação de acordo com princípios de uniformidade.
A escavação estratigráfica revela uma sequência temporal e, portanto, fornece a base para determinar uma cronologia relativa do sítio com base nas relações criadas entre contextos no tempo e por comparação com sítios semelhantes. Uma cronologia absoluta pode ser determinada a partir de descobertas datáveis (como peças indexadas e moedas) encontradas nos contextos.
O procedimento de escavação consiste em remover completamente cada nível na ordem inversa, primeiro a última camada depositada, e somente após a documentação completa progredir para a camada seguinte até que a camada mais antiga seja alcançada. Isso é necessário porque a escavação, pela remoção, destrói o registro histórico existente, que é preservado apenas na documentação. O objetivo é registrar o máximo possível de dados em cada nível para possibilitar a interpretação mais precisa possível. A ampla exposição da arquitetura permite o mapeamento de todo o local à medida que ele é progressivamente revelado. Isso permite que o arqueólogo tenha uma visão geral do sítio.
O método Wheeler-Kenyon expõe o sítio em um padrão de grade.
Esse método permite que o arqueólogo interprete a estratificação de um sítio e controle os dados associados ao estrato e a cada descoberta nessa camada e, em seguida, recrie o local onde os artefatos foram encontrados em sua localização original.
Documentando um sítio arqueológico
A tarefa do arqueólogo é documentar cada estrato em relação aos demais estratos, junto com seus artefatos, para entender o local. Um trabalho bem realizado dependerá de quão bem documentado é o sítio. Geralmente, a permissão concedida ao arqueólogo pela autoridade de antiguidades no país de origem obriga o arqueólogo a publicar os resultados de sua escavação. Para este fim, todos os meios possíveis devem ser empregados para coletar e registrar dados até chegar ao nível microscópico.
Os dados de cada estrato são registrados em forma escrita e eletrônica. Tais dados incluem planos superiores, desenhos laterais (para registrar mudanças nos estratos), desenhos e fotografias (2D e 360°) de recursos e artefatos in situ. Cada artefato ou amostra de solo é removido do sítio e devidamente inventariado, rotulado e gravado para que o trabalho de cada dia possa ser restaurado posteriormente, camada por camada, a partir do relatório final publicado.
Datação de um sítio arqueológico
Para determinar o tempo de duração de uma camada, os arqueólogos usam uma combinação de métodos de datação (a) relativa e (b) absoluta. Examinar desse modo os artefatos de um sítio proporciona uma verificação cruzada que pode ajudar a reduzir o intervalo de datas e chegar a uma data fixa para o estrato.
(a) A datação relativa estabelece uma estrutura ou evento geológico para uma sequência cronológica relativa à outra estrutura ou evento geológico associado a ela nos mesmos estratos (a sequência tipológica de artefatos ou disposição de artefatos com atributos compartilhados). Nessa sequência, os artefatos encontrados por baixo geralmente serão mais antigos que os encontrados na parte superior. O mundo antigo, incluindo os eventos apresentados na Bíblia, é relativamente datado.
Para a datação relativa, artefatos como cerâmica, inscrições e moedas são os mais úteis para se determinar um período de tempo aproximado.
A cerâmica (terracota) como argila cozida é praticamente indestrutível, sendo o artefato mais comum usado para determinar a data de um determinado estrato. Geralmente não contém informações datáveis em si mesma e por si só, ainda que algumas alças de vasos revelem selos que registram um nome, lugar ou imagem que remontam a um período específico.
(b) A datação absoluta (às vezes chamada cronométrica) estabelece a data específica de uma estrutura ou evento geológico para um calendário previamente determinado. Isso é feito testando-se amostras orgânicas (baseadas em carbono) através de meios científicos para fornecer uma gama de datas possíveis (“absolutas”). Esse método tenta fixar uma data em relação a eventos no mundo antigo. Embora vivamos nosso cotidiano por esse método, celebrando aniversários e lembrando os dias de morte, esse é um método moderno. Comparar os resultados de locais próximos (regionais) que foram escavados permite que um arqueólogo determine se certos locais eram contemporâneos e se compartilhavam uma cultura ou civilização local.
Um novo processo chamado re-hidroxilação mede grupos de hidroxila (moléculas na argila que reagem com a umidade ambiental que muda de temperatura ao longo do tempo) para, potencialmente, revelar datas bastante precisas. No entanto, como a técnica de re-hidroxilação depende da temperatura, erros podem ser introduzidos por estimativas de temperatura imprecisas do local da amostra ao longo do tempo. Muito mais testes precisam ser feitos para estabelecer a precisão do método. Outro processo chamado análise de ativação de nêutrons (AAN) não determina a data da cerâmica, mas pode determinar a localização geográfica da qual a argila foi obtida para fazer o vaso em relação a um banco de dados de solos locais.
A datação absoluta é obtida a partir de métodos científicos que apresentam datas cronológicas específicas para artefatos. É útil na construção de uma sequência mais específica de eventos em relação a outros dados do sítio. A datação absoluta requer que algo no artefato mude com o tempo para que esses testes produzam resultados. Portanto, para a arqueologia, esse teste é feito em objetos que já tiveram vida, como ossos, pele, madeira, matéria vegetal e sementes carbonizadas (como azeitonas e poços de dados).
Deve-se observar que os métodos de datação radioativa não podem ser calibrados com datas conhecidas antes de 5 mil anos atrás, e que todas as datas têm uma variação para mais ou para menos, algumas vezes na escala de centenas de anos.
Outro método de datação chamado termoluminescência depende indiretamente do declínio radioativo e se sobrepõe à datação por radiocarbono, mas, ao contrário do carbono 14 ou do EMA, ele pode ser usado para datar cerâmica. Porém, é menos preciso, como no caso de uma amostra depositada perto do subsolo ou rocha no fundo de um poço ou aterro que tenha um nível mensurável de radioatividade.
O DNA antigo às vezes pode ser extraído do traço de colágeno nos ossos para determinar as espécies específicas, sexo e idade do animal. Esse método também foi empregado em manuscritos em pele de animais, como os Manuscritos do mar Morto.
Períodos arqueológicos em relação à Bíblia
Devido aos debates sobre os períodos geológicos (que informam os períodos arqueológicos), priorizando a cronologia bíblica interna ou as crenças extra bíblicas, os supostos problemas de lacunas cronológicas, ausência de genealogias, uso de calendários lunares, solares ou lunissolares, e conciliação de dados arqueológicos com dados bíblicos, as cronologias publicadas têm inúmeras diferenças. Estas pertencem principalmente aos períodos arqueológicos anteriores (Bronze inicial-Ferro I), com a maioria dos estudiosos concordando com datas estabelecidas no Ferro II (séc. VIII a.C. e seguintes). A controvérsia sobre a datação resultou em altas e baixas cronologias com datas diferentes para eventos cruciais como os patriarcas, a permanência/êxodo e conquista (precoce ou tardia) e o assentamento/tempo dos juízes (longos ou curtos). Essas diferenças são notadas no quadro a seguir, e embora tenhamos revisto a cronologia convencional baseada em sincronismos e recentes descobertas arqueológicas, como as do Egito por Manfred Bietak, [ 27 ] não tentamos interagir com cronologias mais antigas revisadas que envolvem mais mudanças radicais nesses períodos, como as de David Rohl e John J. Bimson. Diante desse entendimento, utilizamos as datas convencionais e aceitas para os períodos arqueológicos iniciados com o período pré-patriarcal, que representa o surgimento de civilizações antigas após o dilúvio.
Períodos arqueológicos e história bíblica
Desde seu início, a arqueologia, como disciplina, desenvolveu termos para distinguir os diferentes períodos de tempo com base no desenvolvimento tecnológico. Como as sociedades antigas pareciam ter desenvolvido o uso de certos metais em épocas diferentes, a idade da sociedade era determinada pelo tempo em que se pensava que um metal começou a ser produzido ou comercializado por essa cultura, principalmente para fabricar ferramentas e armas.
A idade do Bronze: a Idade do Bronze começa no Antigo Oriente Médio com a civilização suméria (cerca de 3500 a.C., a data dos primeiros textos escritos) e termina como resultado da invasão dos povos do mar Egeu pelo Mediterrâneo oriental (c. 1200 a.C.). Os eventos bíblicos relacionados aos patriarcas, Moisés, Josué e os juízes ocorrem durante a Idade do Bronze.
A idade do Ferro: é um período de desenvolvimento de estados-reinos menores baseado em sua identidade nacional centrada em torno de uma divindade comum. Os eventos bíblicos do reino de Israel (monarquia unida pelo exílio) ocorrem durante este período.
O período babilônico (587/6-538 a.C.): é o período entre a queda do Reino do Sul, Judá, e a ascensão da província persa de Yehud. A compreensão usual desse período em Judá durante o período neobabilônico apresenta uma condição de desolação após o colapso da elite, principalmente urbana, da sociedade judaica como resultado do exílio forçado. A atividade administrativa e ritual no lugar pode ter ocorrido entre as ruínas de locais importantes, como o Tell en-Nasbeh e o monte do Templo. Portanto, apesar de devastada, a vida dos judeus continuou em Judá até o retorno dos exilados para reconstruir e fortificar as principais áreas da população.
O período Persa (539-330 a.C.): é caracterizado pela ascensão do império medo-persa e a derrota do império neobabilônico em 539 a.C. por Ciro, o Grande, uma conquista que incluía Judá/Judeia, agora conhecida como a província de Yehud (nome aramaico para Judá). Consequentemente, um indicativo arqueológico para esse período são as moedas de Yehud, uma das primeiras moedas introduzidas no antigo Israel. O texto bíblico (Ed 2; Ne 7:6-7) descreve o retorno dos exilados babilônios/persas a Judá, e textos cuneiformes assírios encontrados em escavações perto de Jerusalém indicam que uma população judaica da Assíria também foi reassentada na província de Yehud. A dominação persa da província terminou com a conquista de Judá por Alexandre, o Grande (330 a.C.).
O período helenístico: o período helenístico inicial (330-323 a.C.) começou com as conquistas de Alexandre, o Grande, e a derrota do Império persa. O período helenístico tardio (330-149 a.C.) é caracterizado pela helenização da região por meio da divisão do reino de Alexandre (Dn 11:3-4). Em Israel, isso se concentra no tempo da perseguição judaica sob o governo do rei selêucida (grego) Antíoco IV Epifânio (175-164 a.C.), que baniu a observância da religião judaica e a subsequente Revolta dos Macabeus (167-142 a.C.), pondo fim à influência grega.
O período Asmoneu (167-37 a.C.): essa é a época do governo em Israel da dinastia macabeana (asmoneana) que ocupava os ofícios de sacerdote e rei. Os indicativos arqueológicos para esse período incluem a lâmpada a óleo asmoneana “estilo deslizante”, as ligeiras mudanças nas formas de cerâmica de vasos domésticos e industriais, e as moedas asmoneanas de bronze cunhadas pelos vários governantes (Alexandre Janeu, Antíoco VII Sideta, João Hircano I e II, Judá Aristóbulo, Matatias Antígono).
O período Romano (149 a.C.-638 d.C.): o período romano inicial (149 a.C.-146 a.C.) começa com a destruição de Cartago por Roma na Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C.), tornando a Síria uma província, e a incorporação da região (incluindo Israel) por Pompeu, o Grande, na República Romana (63 a.C.). Esse período viu também a comunidade de Qumran florescer e ter seu fim (68 d.C.), o ministério de Jesus de Nazaré (4 a.C.-33 d.C.), o crescimento da Igreja Primitiva e a Primeira Revolta Judaica contra Roma (66-70 d.C.). O período romano médio inclui a Segunda Revolta Judaica (135-200 d.C.) e a conclusão da Mishná judaica (200 d.C.). Esse período também é conhecido como o período mishnaico.
Tanto a Idade do Bronze como a Idade do Ferro podem ser divididas e subdivididas em períodos mais precisos de desenvolvimento e mudanças sociais durante os quais os eventos registrados no Antigo Testamento ocorreram.
Parte 1
1 – Arqueologia e os textos antigos
A arqueologia apoia o estudo histórico pela descoberta e interpretação de artefatos in situ. Isso significa que seu foco é encontrar artefatos em seus contextos originais e depois explicá-los em termos de suas funções e papéis na Antiguidade. Para o Antigo Testamento, o contexto original é o Antigo Oriente Médio — sua geografia, idiomas, cultura e costumes, isso sem mencionar seus próprios relatos da história e os fatores (religiosos e políticos) que afetaram a forma como eram contados e o que deles era preservado. Na compreensão das dificuldades que a modernidade enfrenta e na tentativa de descobrir e interpretar a história arqueológica mais antiga da Bíblia, dois fatores precisam ser levados em conta.
Primeiro, quanto maior for um recuo no tempo, menos informação arqueológica estará disponível. O fato de realmente encontrarmos informações que possam nos ajudar a confirmar a historicidade dessas pessoas e a confiabilidade dos eventos registrados é significativo, deve assim ser tratado e interpretado como evidência do contexto histórico mais amplo que agora é irrecuperável. Esses dados nos permitem ver que os eventos bíblicos ocorridos dentro de uma geografia condicionada cronologicamente refletem com precisão a terminologia, os lugares e os costumes exclusivos de seu tempo e lugar na história. Isto é precisamente o que vemos, à medida que avançamos no tempo com os períodos posteriores que são mais recuperáveis.
Segundo fator: é preciso reconhecer que os autores bíblicos que viviam no mundo do Antigo Oriente Médio, embora supervisionados por Deus, não abordavam a história (ou cronologia) como nós, especialmente no mundo ocidental. Empregamos a história com o objetivo de estabelecer objetivamente uma ordem completa e precisa de eventos, e validá-los historicamente (de forma que quaisquer lacunas, omissões ou inconsistências inexplicáveis sejam consideradas inaceitáveis). Contudo, os escritores bíblicos eram seletivos em relação a eventos e sua ordem, e a interpretação estava sujeita à sua perspectiva particular e intenção autoral.
A isso que a interpretação arqueológica também é afetada por fatores (religiosos e políticos) e interpretações mais antigas de dados anteriores. De modo que sua conexão com o texto bíblico precisa ser cuidadosamente avaliada. Algumas interpretações mais antigas de determinados locais e artefatos, especialmente sob pressão de patrocinadores religiosos, que em algum tempo “se encaixaram” com a Bíblia, foram corrigidas e até mesmo modificadas à luz de novas informações de escavações posteriores. Por outro lado, as modernas pressões religiosas e políticas para negar qualquer conexão com a Bíblia, em alguns casos, causaram negligência ou reinterpretação de dados mais antigos para se adequarem a padrões aceitáveis. Essa posição é, obviamente, controversa, mas não pode ser descartada desde que a interpretação de todos os dados disponíveis seja o objetivo. Esses fatores devem nos alertar para não presumir que tudo na Bíblia, especialmente seus capítulos mais antigos, possa ser verificado de maneira científica ou que os dados arqueológicos estejam lá à espera de serem encontrados. No entanto, como tem sido repetidamente afirmado, “a ausência de evidência não é evidência de ausência”. Conseguimos obter apenas algumas evidências, mas um pouco nos diz muito. O que podemos e verificamos a respeito da confiabilidade do Antigo Testamento deve ser suficiente para nos permitir aceitar o que não podemos verificar.
2 – Comprovando arqueologicamente Gênesis
GÊNESIS
Gênesis 1-2
Relatos da criação no Antigo Oriente Médio
No princípio Deus criou os céus e a terra […] Esta é a história
das origens dos céus e da terra, no tempo em que foram
criados. (Gn 1:1; 2:4)
O relato da criação no livro de Gênesis ocupa um lugar central na Bíblia e é apontado como uma questão ligada à proto-história. Relatos similares da criação, embora sem a posição central apresentada na Bíblia, também foram registrados por outras civilizações do Antigo Oriente Médio. A descrição mais antiga da criação é a história sumeriana do Gênesis de Eridu, descoberto em Nippur.
Um relato sumeriano mais completo da criação está contido em cinco tabletes do início do segundo milênio a.C., também descobertos em Nippur e agora expostos no Museu do Louvre (Paris). Cada tablete contém diferentes detalhes da criação. Em outros tabletes, uma descrição similar do mundo é apresentada, mas com um foco na proeza sexual de Enki, resultando no nascimento de deuses e deusas. Em um texto em particular há um relato mais completo da criação da humanidade em que as linhas de abertura ecoam as frases iniciais de Gênesis: “Naqueles dias, nos dias em que o céu e a terra foram criados…”.
Outro relato babilônico da criação é encontrado na epopeia de Atrahasis do século XVII a.C., descoberta em Sippar (no Iraque moderno). Ela explica a criação da humanidade como resposta a uma revolta dos deuses inferiores, que foram forçados a fazer trabalhos pesados para o deus principal, Enlil, e os deuses Anunna (deuses superiores).
Um antigo relato mesopotâmico chamado Enuma Elish foi encontrado na forma de tabletes acadianos fragmentados descobertos nas ruínas da biblioteca de Assurbanípal em Nínive. A data original da composição foi provavelmente entre os séculos XIV e XI a.C. O relato apresenta outra versão babilônica da criação do deus-chefe Marduque e, como a epopeia de Atrahasis, ele esclarece o propósito da criação — que a humanidade poderia prestar serviço aos deuses.
Gênesis 1-2
A obra prossegue apresentando um quadro muito didático sobre os relatos da criação no Antigo Oriente Médio.
A maioria dessas similaridades é vista em uma ordem lógica de criação, exceto a criação da luz antes dos luminares, que é uma sequência não natural de eventos criativos compartilhados apenas por esse texto e pelo Gênesis. As diferenças entre esses relatos são evidentes: politeísmo em Enuma Elish versus monoteísmo em Gênesis, teogonia (origem dos deuses) em Enuma Elish versus cosmogonia (origem do cosmos) em Gênesis e uma mitologia complexa em Enuma Elish versus um enredo simples e direto (até mesmo antimítico) em Gênesis. Isso pode ser visto nos deuses da Babilônia sendo identificados como parte da natureza, enquanto Deus, em Gênesis, é o criador distinto da natureza (sua criação). Na melhor das hipóteses, essa comparação revela que tal ordem em particular, especialmente a criação da luz antes dos luminares, foi transmitida na cultura comum antes de ser espalhada em Babel e se incorporou a mitologias locais divergentes ao longo do tempo. As diferenças suprimem o relato bíblico (que foi registrado mais tarde) tomando por empréstimo do relato babilônico anterior. Esse é especialmente o caso do relato sumério, no qual o deus criador e os deuses menores se envolvem em relações sexuais como atos de criação e/ou fertilidade, em contraste com o criador soberano da Bíblia, que age sozinho.
Gênesis 3:1-23
Paralelo babilônico para a queda
A história babilônica de Adapa (também conhecida como Adapa e o alimento da vida) foi preservada em quatro fragmentos cuneiformes (designados A, B, C, D). O mais antigo e mais extenso (B) é do período babilônico cassita (séc. XIV a.C.), dos arquivos egípcios em Tell el-Amarna, dos faraós Amenotepe III e IV. Os outros três (A, C, D) são de Assur (séc. VII a.C.), da biblioteca de Assurbanípal, em Nínive. Segundo a lenda, Ea (o deus do oceano subterrâneo de água doce e da sabedoria) criou Adapa com sabedoria, mas não imortal.
A história de Adapa mostra um paralelo com o relato bíblico da queda da humanidade, na medida em que se refere a uma explicação do porquê o homem perece como um ser mortal. De acordo com E. Ebeling, outro silabário pode igualar o significado do nome de Adapa (a-da-ap) com “homem”, como o hebraico adam (Gn 5:2). Alguns estudiosos afirmam que as semelhanças com Gênesis são superficiais e não criam uma comparação real com o relato bíblico. Uma das razões para essa objeção tem sido a preocupação injustificada a respeito das visões críticas afirmando que as histórias da criação bíblica foram originadas na antiga mitologia do Oriente Médio. No entanto, as outras diferenças nessas narrativas são suficientes para demonstrar que os autores bíblicos posteriores não poderiam ter reformulado seus relatos mais históricos a partir de seus equivalentes pagãos. Enquanto isso, as semelhanças entre os relatos argumentam na direção de um evento histórico comum.
Da mesma forma que Adão, Adapa foi considerado o primeiro homem e o representante divino do criador. Assim como Adão deveria cuidar do jardim (Gn 2:15, os verbos hebraicos “trabalhar” e “guardar”, aqui, implicam nos deveres de um sacerdote em um santuário, cf. Nm 3:7-8; 8:26; 18:5-6), então Adapa deveria cuidar do santuário de Ea (com fornecimento de peixe). Tal como havia uma “árvore da vida” no jardim, cujo fruto (alimento) poderia ter concedido vida imortal a Adão e sua esposa (Gn 3:22), a Adapa foi oferecido o “alimento da vida” para obter a imortalidade como os deuses. O engano também desempenha um papel em ambos os relatos. Como Eva (por meio da serpente) foi enganada, Adapa (por meio de Ea) foi ludibriado, sendo ambos expulsos de um determinado lugar para experimentar a morte como mortais, do lado de fora. Para Adão (e Eva) implicava estar fora do santuário do jardim (o lugar da presença de Deus, Gn 3:8), e para Adapa, sair da corte celestial de Anu para o reino da terra. Parte do texto está incompleto na história de Adapa, então entende-se que Anu puniu Ea por seu engano que resultou na perda da imortalidade pelo ser humano.
Gênesis 3:24
Representação do querubim no Antigo Oriente Médio
Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para a árvore da vida.
Esse texto inclui a primeira menção de criaturas celestes chamadas keruvim (que é transliterada em português como “querubim”). Se o significado hebraico for semelhante à palavra acadiana karabu (“orar, abençoar”), então, talvez, o papel dos querubins como intercessores celestes entre Deus e sua criação esteja implícito. Portanto, a presença das imagens dos querubins em seu santuário assegurava aos israelitas que eles tinham anjos cuidando deles e protegendo-os em sua temível aproximação do flamejante Deus do monte Sinai (cf. Dt 5:23-26).
O Talmude declara que os querubins (da arca) eram um dos cinco elementos que faltavam no Segundo Templo em comparação com o Primeiro.
Figuras semelhantes a querubins são encontradas na iconografia do Oriente Médio em todos os lugares, da arquitetura monumental em templos e palácios a relevos e selos. Eles são descritos de variadas maneiras como criaturas que misturam formas humanas e animais.
Em Gênesis 3:24 os querubins são apresentados como guardiões da criação de Deus, posicionados no leste do Éden para impedir uma invasão externa (do lugar de exílio) e assim preservar a santidade do jardim com sua árvore da vida.
Gênesis 4:3-4
Provas arqueológicas para a prática cerimonial primitiva
Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta.
A primeira alusão sobre a prática cerimonial começa com a primeira família e a referência de uma oferta feita ao Senhor. Isso pressupõe um altar e pode indicar a existência de um centro de adoração ou santuário primitivo. Estudiosos entendem que pode haver imagens do santuário implícitas nos exclusivos termos do hebraico usado em Gênesis 2-3 (em outros lugares, apenas em Levítico) para descrever a proximidade da presença divina, a posição da árvore sagrada no jardim, a orientação leste oeste do jardim, a posição sacerdotal bem como os deveres de Adão, e a presença e propósito dos querubins.
O mais antigo centro cerimonial conhecido é um dos primeiros sítios neolíticos em Göbekli Tepe (“Pot Belly Hill”) descoberto em um campo no centro da planície de Harã. Pesquisas de área revelaram anéis de pilares em pé, e levantamentos geomagnéticos em 2003 revelaram, pelo menos, mais vinte anéis de pilares empilhados sob a terra. A escavação subsequente revelou numerosas estatuetas adornadas com cabeças de lobo, porcos, cegonhas, raposas, corços, escorpiões, cobras e figuras humanas sem cabeça.
A evidência arqueológica no local sugere um sistema social patriarcal, indicado pela representação exagerada dos genitais masculinos nas figuras humanas. Além disso, os antigos habitantes de Göbekli Tepe subsistiam da agricultura juntamente com a caça e a colheita, o que está de acordo com a descrição de Gênesis dos estilos de vida de Caim e Abel (Gn 4:2), assim como de Noé e seus descendentes após o dilúvio (Gn 9:20; 10:8-9). Nesse ponto, embora alguns tenham sugerido a prática sacrificial pela presença de ossos no local, é ainda muito cedo para se chegar a essa conclusão. O que esse sítio arqueológico revela é a evidência de adoração ou prática cerimonial no registro mais antigo da atividade humana.
Gênesis 5:1-32; 9:29; 11:10-26
Declínio no ciclo de vida e o registro arqueológico
Este é o registro da descendência de Adão […] Viveu ao todo 930 anos […] Sete… viveu ao todo 912 anos […] Enos […] viveu ao todo 905 anos […] Cainã […] viveu ao todo 910 anos […] Maalaleel […] viveu ao todo 895 anos […] Jarede[…] viveu ao todo 962 anos […] Matusalém[…] viveu ao todo 969 anos […] Lameque […] viveu ao todo 777 anos […] Noé […] viveu ao todo 950 anos […] Este é o registro da descendência de Sem […] (Gn 5:1-32; 9:29; 11:10). Sem viveu 600 anos […] Arfaxade viveu 438 anos […] Selá viveu 433 anos […] Héber viveu 464 anos […] Pelegue viveu 239 anos […] Reú viveu 239 anos […] Serugue viveu 230 anos, Naor viveu 148 anos. (Gn 11:1-26)
Na genealogia antediluviana de Adão até Noé, a expectativa de vida dada para a maioria dos nomes se aproxima de um milênio (excluindo Enoque, que foi levado por Deus aos 365 anos). Essa longevidade extrema possibilitou que Matusalém, aos 969 anos, fosse contemporâneo de Adão e Noé no começo e no fim da genealogia. Do ponto de vista da transmissão oral, isso é significativo, uma vez que Noé recebeu informações apenas uma geração depois da fonte original das origens do ser humano. O assunto principal do texto é uma lista de dinastias sumérias e estrangeiras e, por essa razão, o documento foi chamado de Lista de reis sumérios. Os sumérios (c. 3500 a.C.) foram uma das primeiras civilizações pós-diluvianas que se instalaram na região do delta do Tigre e do Eufrates. Existem quinze cópias da lista de reis sumérios, e elas variam em alguns detalhes, como na omissão da lista dos reis antes do dilúvio, nos nomes e números dos reis e na ordem das dinastias.
Idade dos patriarcas
De acordo com a inscrição suméria, o governo foi divinamente outorgado (“baixado do céu”), e o registro dos nomes dos governantes parece legitimar seus reinados como sendo oficiais. Como a lista de dez nações (com base em seus chefes de família) em Gênesis 5, a Lista de reis sumérios registra os nomes de dez reis sumérios que governaram antes do dilúvio. A longevidade irrealisticamente extensa para esses reis, variando em dezenas de milhares de anos (o mais longo é de 43.200 anos) pode sugerir que se trata de um relato fictício, e alguns assiriólogos têm essa opinião. No entanto, alguns desses nomes são conhecidos de outras inscrições e parecem ser figuras históricas. Com relação a esse texto em Gênesis, o que é significativo é o mesmo padrão em ambos os relatos com maior longevidade para os reis pré-diluvianos e menor tempo de vida para os reis pós-diluvianos, cujo número é paralelo aos dez reis históricos de Gênesis 10. Isso indica que a Bíblia e as cópias da Lista de reis sumérios devem ter tido uma fonte histórica comum.
Gênesis 6:13 – 9:17
A arca de Noé e o dilúvio: relatos
comparativos do Antigo Oriente Médio
O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no primeiro século, observou:
“Esse dilúvio e a arca são mencionados por todos os que escreveram histórias sobre os bárbaros. Entre eles está Beroso, o caldeu… Hierônimo, o egípcio, autor da antiga história da Fenícia, Mnaseas e muitos outros […] este pode muito bem ser o mesmo homem sobre quem Moisés, o legislador judeu, escreveu”.
Essa declaração nos provê evidências da Antiguidade de que a história do dilúvio não era conhecida apenas na área do Crescente Fértil (da Mesopotâmia ao Egito), mas, como Josefo observa, por “todos” os que registraram histórias pagãs da antiguidade.
Nenhuma outra narrativa da antiguidade era conhecida até o final da década de 1860.
Histórias comparativas de inundações contêm detalhes como a construção de uma arca, animais na arca, o pouso em uma montanha, pássaros enviados para determinar se as águas haviam recuado e a adoração aos deuses através de sacrifício após o desembarque. No entanto, embora esses detalhes sejam favoravelmente semelhantes com o relato bíblico, eles também apresentam diferenças marcantes, não apenas com o relato bíblico, mas também entre si. Isso indica que as várias versões da tradição do dilúvio foram o resultado dos mesmos processos que afetaram a transmissão de outras histórias antigas ao longo do tempo, nos quais os textos são adaptados, resumidos e modificados de acordo com as culturas e religiões distintas. As seguintes descobertas arqueológicas contêm relatos de inundação.
Lista de reis sumérios (relato sumério do dilúvio)
A lista dos reis é essencialmente um registro real de oito governantes sumérios que viveram nas eras pré e pós-dilúvio.
Esse uso do dilúvio pressupõe que o escritor e seu público conhecessem os detalhes da catástrofe; do contrário, os eventos registrados em ambos os períodos do dilúvio não teriam o significado implícito.
Também deve se notar que nenhuma das cidades onde a Lista de reis diz que os monarcas governaram antes do dilúvio foram lugares da realeza após o dilúvio. A Lista de reis sumérios nomeia 23 governantes da cidade de Kish entre o dilúvio e um contemporâneo de Gilgamesh, embora alguns dividam essa lista em duas partes não sucessivas, com apenas onze gerações de reis intermediários.
Gênesis de Eridu (relato sumério do dilúvio)
A mais antiga narrativa de uma inundação do Antigo Oriente Médio é o épico de Ziusudra (em homenagem ao personagem principal) e é frequentemente ligada a outros fragmentos para produzir uma reconstrução teórica conhecida como Gênesis de Eridu (em homenagem a Eridu, a primeira cidade). O único tablete sumério que contém essa narrativa está bastante fragmentado, contendo apenas um terço do texto original. No entanto, as partes que faltam podem ser reconstruídas a partir de outras fontes, como o texto registrado pela Lista de reis sumérios e Beroso. No relato, diz-se que a realeza (governo humano) desce do céu, mas depois Enlil, o chefe dos deuses, e An, o deus do céu, determinaram o extermínio da humanidade por meio de uma inundação.
Tablete cuneiforme Simmonds/Tablete da arca
(antigo relato babilônico)
Nesse relato literário acádio (c. 1900-1700 a.C.), o herói Atrahasis é advertido por Enki para escapar de uma inundação que destruirá a humanidade construindo um barco. A escolha de Atrahasis por Enki pode estar implícita em sua relação com um templo, talvez o templo de Enki, embora ele não seja mencionado no referido texto como sendo um sacerdote. A orientação que ele recebe é de “projetar o barco que você fará em um plano circular”.
Epopeia de Gilgamesh
(antigo relato babilônico do dilúvio)
Outro relato babilônico antigo do dilúvio, e o mais completo, está contido em um grupo de tabletes conhecido como epopeia de Gilgamesh, baseado na busca da imortalidade de seu personagem principal, o rei Gilgamesh. Como nenhuma cópia do texto completo foi descoberta, os estudiosos tiveram que fazer um texto composto baseado em fragmentos de períodos separados por mais de mil anos (1750-612 a.C.). A epopeia que temos hoje está gravada em doze tabletes. A história do dilúvio, descrita no tablete onze, parece ter sido copiada diretamente da epopeia de Atrahasis (que também se encontra incompleta).
Epopeia de Atrahasis
(antigo relato babilônico do dilúvio)
O texto quase completo, com 1.245 linhas, foi um avanço significativo em relação às 300 linhas preservadas no relato sumério.
A epopeia de Atrahasis, apresentada a partir da perspectiva teológica dos babilônios, contém informações não encontradas na epopeia de Gilgamesh, com muitos detalhes semelhantes aos relatos bíblicos da criação e do dilúvio.
Como na conclusão do relato bíblico, a história termina com Atrahasis oferecendo um sacrifício aos deuses e o deus principal aceitando a existência da humanidade (cf. Gn 8:20-22).
Beroso (relato babilônico do dilúvio registrado
no período helenístico)
Beroso era um astrólogo da corte da Babilônia sob o governo selêucida de Antíoco I (280-261 a.C.). Ele tinha acesso aos antigos registros babilônicos, que publicou na língua grega em três volumes sob o título Babyloniaca (História da Babilônia). O trabalho como um todo está perdido, mas fragmentos sobreviveram nos registros romanos de Plínio, o Velho, Marcus Vitruvius Pollio, Censorinus e nos escritos de Flávio Josefo.
De onde surgiram essas histórias?
A crítica moderna do relato de Gênesis, por não parecer conformar-se ao consenso científico, produziu tentativas de estudiosos bíblicos para explicar o texto à luz dos paralelos literários do Antigo Oriente Médio. Alguns defenderam a dependência direta do autor de Gênesis desses mitos, incluindo a adoção de sua cosmovisão, enquanto outros têm argumentado que o autor bíblico tinha um propósito polêmico para explicar a origem monoteísta israelita e a história primitiva contra o pano de fundo mitológico de seus vizinhos, seja no Egito, seja na Mesopotâmia.
A busca pela arca de Noé está baseada na crença de que a versão bíblica representa um relato histórico enquanto as anteriores versões antigas do Oriente Médio representam uma corrupção da história original segundo uma cosmovisão mitológica. Em outras palavras, há apenas uma arca histórica, e sua descrição e local de repouso são mais bem compreendidos a partir do relato bíblico. Ainda assim, isso pressupõe que a narrativa bíblica deve ter prioridade como o relato mais preciso, mesmo sendo mais recente. Por outro lado, muitos estudiosos afirmam que o relato bíblico foi extraído dos relatos anteriores da Mesopotâmia. Essa questão da dependência literária entre a Bíblia e os relatos comparativos de inundações ficou reduzida a três opções:
1 – Eram originalmente narrativas israelitas que foram emprestadas e adaptadas à religião e cultura mesopotâmicas;
2 – Eram originalmente contos da Mesopotâmia que foram emprestados e adaptados pelos israelitas para encaixar sua concepção de Deus;
3 – Os relatos mesopotâmico e israelita (bíblico) vieram de uma fonte antiga comum.
A diferença entre o mito e a narrativa histórica nesses relatos comparativos pode ser vista a partir de uma comparação de detalhes, como a duração do dilúvio e o tamanho e a forma da embarcação preparada para o dilúvio. Os relatos mesopotâmico e israelita (bíblico) são derivados independentemente de uma fonte antiga comum. Não se tem certeza se foi uma tradição oral ou um relato escrito, mas é compreensível que, à medida que o tempo e a distância do relato original passassem, juntamente com as mudanças na perspectiva religiosa, a narrativa seria modificada e adaptada para se adequar à cultura predominante. Isso explica algumas das diferenças substanciais entre os próprios relatos da Mesopotâmia.
Gênesis 6:13-16
A construção da arca
Deus disse a Noé: “Darei fim a todos os seres humanos, porque a terra encheu-se de violência por causa deles. Eu os destruirei com a terra. Você, porém, fará uma arca de madeira de cipreste; divida-a em compartimentos e revista-a de piche por dentro e por fora. Faça-a com cento e trinta e cinco metros de comprimento, vinte e dois metros e meio de largura e treze metros e meio de altura. Faça-lhe um teto com um vão de quarenta e cinco centímetros entre o teto e corpo da arca. Coloque uma porta lateral na arca e faça um andar superior,
um médio e um inferior.
Na antiga narrativa babilônica, intitulada Tablete da arca, um manual de instruções para construir uma arca, a construção toma a forma de um coracle ou gufa, o tradicional barco redondo, semelhante a uma cesta, usado pelos mesopotâmios. Essas embarcações eram feitas de corda extraídas de fibra de palmeira e impermeabilizadas com betume. Curiosamente, essa narrativa fornece a descrição mais extensa (20linhas) de calafetagem antiga ainda conhecida.
Os barcos construídos na epopeia de Atrahasis e na epopeia de Gilgamesh foram totalmente selados com betume, incluindo a porta (em Atrahasis). A forma da arca bíblica, no entanto, é retangular e feita de um tipo desconhecido de madeira identificado em hebraico como madeira de gofer (“cipreste”, NVI). A forma da arca de Utnapistim é similar, embora suas dimensões formem um cubo perfeito.
Gênesis 8:4
O pouso da arca
E, no décimo sétimo dia do sétimo mês, a arca pousou
nas montanhas de Ararate.
Em muitos dos relatos da antiga Babilônia está faltando o texto que registra o pouso da arca, mas a epopeia de Gilgamesh afirma que o barco de Utnapistim parou no monte Nisir (Nimush), no Curdistão. Beroso registra que “até hoje, uma pequena parte do navio que veio pousar na Armênia permanece nas montanhas armênias de Gordyenian, e algumas pessoas vão lá e raspam pedaços de piche para guardá-los como amuletos de boa sorte”.
Na epopeia de Atrahasis diz-se que ele “cortou o cabo de amarração e deixou o barco à deriva”. A partir dessa afirmação, supõe-se que não houve pouso na montanha, mas uma navegação descendo o rio até o Golfo Pérsico. No entanto, é difícil interpretar esse fato como uma inundação do rio uma vez que a informação em Gilgamesh, com a qual esse relato concorda, afirma claramente que o barco veio descansar sobre uma montanha.
O texto bíblico informa o local de desembarque como “as montanhas de Ararate”.
De acordo com Irving Finkel, o guardião assistente de antigos manuscritos, línguas e culturas da Mesopotâmia no Museu Britânico, há uma referência no Tablete da arca de Simmonds que pode ser harmonizado com o mais antigo mapa conhecido, o mapa do mundo babilônico, para oferecer uma localização geográfica. Ele acredita que essa localização no mapa babilônico do mundo indica uma viagem direta através de Urartu (indicado no mapa) para uma montanha que ficava ao norte, no final do mundo mesopotâmico. Ele identifica essa montanha com o moderno monte Ararate.
As expedições procuraram o local de desembarque em outro lugar. Um deles na província de Dogubeyazit, a cerca de 3km a sudoeste da autoestrada turcoiraniana, perto da aldeia de Telçeker e ao pé do monte Ararate, que é uma formação conhecida como o sítio de Durupinar. Os geólogos turcos identificaram-no positivamente como uma formação natural do fluxo terrestre do Telcuker ou do fluxo de lama. Outra expedição ao monte Suleiman, nas montanhas de Elborz, no Irã, descobriu uma formação. Foi identificado pelos geólogos como um remanescente de rochas vulcânicas ou metamórficas.
Se os relatos mesopotâmicos mais antigos do monte Ararate são apoiados pelo mapa mais antigo do mundo, e os desvios dessa tradição podem ser explicados, então o moderno monte Ararate parece ser o candidato mais forte. E foi somente no monte Ararate, na metade do século passado, que testemunhas oculares alegaram que uma estrutura de madeira havia sido encontrada.
Várias equipes de busca da década de 1950 até a década de 1990 afirmavam ter encontrado vigas de madeira de cor escura no lado oeste do monte Ararate, em Parrot Glacier, em altitudes que variavam de 3.650 a 4.267m.
Gênesis 10:8-9
Evidência arqueológica para a identidade de Ninrode
Cuxe gerou também Ninrode, o primeiro homem poderoso na terra.
Ele foi o mais valente dos caçadores, e por isso se diz:
“Valente como Ninrode”.
Embora mencionado pelo nome apenas quatro vezes no Antigo Testamento, a biografia de Ninrode presente em Gênesis 10:7-12, sua posterior caracterização como “o primeiro homem poderoso na terra” (1Cr 1:10), e sua representação como o fundador do império assírio (Mq 5:6) ocuparam os estudiosos com a intenção de identificá-lo com uma figura histórica conhecida.
O livro apresenta a seguir, um resumo dos argumentos de Douglas Petrovich em favor da identificação.
1 – A identificação da origem genealógica de Ninrode em Cuxe com a origem geográfica de Sargom na cidade suméria de Kish.
2 – Ambos, Ninrode e Sargom, receberam o crédito por elevar a Acádia a uma posição de proeminência.
3 – Ninrode e Sargom estavam ambos envolvidos nos projetos iniciais de construção na Assíria.
4 – Ninrode e Sargom tiveram uma influência duradoura na Assíria.
5 – Ninrode e Sargom se tornaram lendários por suas conquistas militares.
A evidência cultural material e com inscrições de escavações arqueológicas na antiga Mesopotâmia fornece evidências históricas para a importante comparação de Sargom com o Ninrode bíblico. Se essa evidência compilada por Petrovich for sustentada e fortalecida por novas descobertas de campo, pode-se dizer que o caso da identidade de Ninrode pode ter sido resolvido.
Gênesis 11: 4,9
A torre de Babel
Depois disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra”. Por isso foi chamada Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de todo o mundo. Dali o
Senhor os espalhou por toda a terra.
A torre foi construída na vizinhança de Sinar (Gn 11:2), no sul da Mesopotâmia/Babilônia, onde a cidade da Babilônia seria mais tarde fundada.
Cerca de 30 zigurates da Mesopotâmia foram encontrados no norte (Mari, Tell-Brak e Dur Sharuku), no sul (Ur e Eridu) e no leste (Susa e Chogha Zanbil). Alguns afirmam que as estruturas mais antigas que podem ser chamadas de zigurate são aquelas descobertas nos templos de Ubaid, em Eridu, desde o período Ubaid (4300-3500 a.C.), e na cidade suméria de Uruk (Ereque bíblica/moderna Warka), datada do período Jamdet Nasr (3100-2900 a.C.). No entanto, arqueólogos datam com segurança a origem do zigurate no período dinástico inicial (2900-2350 a.C.), onde existem bons exemplos em Ur, Mari e Nippur. As ruínas desses zigurates, as estruturas posteriores construídas sobre as anteriores para a continuidade sagrada, consistem em estágios de torres empilhadas sobre as outras e diminuem de tamanho à medida que avançam para cima (semelhante à forma primitiva da pirâmide escalonada, como aquela de Djoser em Saqqara, no Egito). Esse tipo de zigurate poderia ter sido um remanescente da torre babilônica de Babel.
O texto bíblico menciona que os materiais estruturais usados para a “torre de Babel” eram “tijolos” de barro (Gn 11:3), uma prática estranha à construção israelita.
Em face dessa compreensão dos dados arqueológicos, parece que o relato de Moisés sobre a construção da cidade se concentra na edificação de uma estrutura de torre, o ancestral de um zigurate, e como seus construtores a relacionaram com a morada divina. O texto bíblico também declara que o propósito da estrutura era impedir que o povo se dispersasse (em contraste com o mandato divino original em Gênesis 1:28 e sua confirmação em 9:1,7). Em outras palavras, esse texto descreve um projeto de urbanização para manter a população unida em torno de um único complexo administrativo, tendo o templo como seu centro. Isso permitiria que cooperassem em produções comuns que teriam benefícios muito maiores do que as sociedades segregadas (“dispersas”).
A representação mais antiga da torre de Babel vem de uma estela de pedra preta, de procedência desconhecida, do período de Nabucodonosor II (604-562 a.C.). Embora fazendo parte de uma coleção particular, ela foi autenticada por epigrafistas que trabalharam na inscrição cuneiforme na estela. Ela tem sido chamada de estela da torre de Babel porque retrata a torre de Babel e o rei Nabucodonosor II, que governou a Babilônia e restaurou os templos em toda a Babilônia, chamando a si mesmo de “grande restaurador e construtor de lugares sagrados”.
A obra segue apresentando uma explicação sobre antiguidades não identificadas ou não documentadas.
Gênesis 12—50
A historicidade do período patriarcal
Comparações entre esses textos e a Bíblia mostraram que os nomes próprios registrados são os mesmos ou similares, muitos tendo o mesmo elemento teofórico (adição de palavras para Deus, como ya ou el; veja ya’akov/Jacó e rachel), como aqueles que aparecem nas narrativas patriarcais. Como os nomes tendem a ser específicos de um determinado período de tempo, essa evidência ajuda a confirmar a cronologia dos patriarcas. Além disso, as leis que regiam o comportamento social dos patriarcas eram baseadas nos costumes locais e no período de tempo durante o qual as culturas que os praticavam existiam. Em Gênesis 49, Jacó abençoa seus doze filhos e dá a cada um deles parte da herança, mas na última lei mosaica o filho primogênito receberá uma dupla herança (Dt 21:15-17). A razão para essa contradição legal é que as leis de herança que governam os patriarcas encontram sua fonte na cultura de seus contemporâneos no Antigo Oriente Médio, como o código da lei de Lipit-Istar (séc. XX a.C.). Em contraste, as leis neobabilônicas do primeiro milênio a.C. apresentam os filhos de uma primeira esposa recebendo uma porção dupla e os filhos das demais apenas uma única porção. Os costumes sociais em mudança refletidos por essas leis indicam que Abraão observou leis específicas para um determinado tempo e lugar.
O livro explica que as narrativas patriarcais também descrevem seu estilo de vida como nômades e relatam que eles frequentemente migravam entre as terras de Canaã e do Egito. As evidências desse padrão de migração geográfica podem ser vistas no mural do túmulo de Beni Hasan, com data aproximada de 1890 a.C. (durante a era patriarcal).
Gênesis 11:28, 31
A era dos patriarcas
É de suma importância que seja explicada a era dos patriarcas.
Harã morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal, quando ainda vivia Terá, seu pai […] Terá tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao chegarem a Harã, estabeleceram-se ali.
O relato bíblico dos patriarcas em Gênesis 12—50 (incluindo José) indica uma data do Bronze Médio do final do terceiro milênio até o meio do segundo milênio a.C. (2166-1805). Essa datação tradicional era defendida por eruditos do início do século XX. Costumes sociais e culturais que tinham aparentes paralelos nas narrativas patriarcais e, portanto, apoiaram a data inicial para a origem dessas histórias. Estudiosos, em meados do século XX, como David Noel Freedman, viam Abraão como um “chefe guerreiro” e “príncipe mercantil” que, se não fosse alfabetizado, teria empregado escribas profissionais, cujos registros e transações poderiam ter sido preservados e transmitidos para gerações futuras. Ele defendeu uma data ainda mais antiga com base nos paralelos propostos nos tabletes de Ebla. No entanto, na última parte do século XX, os estudiosos julgaram os antigos paralelos do Oriente Médio como “pouco convincentes”, e o material de Ebla foi considerado controverso e repleto de dificuldades interpretativas.
A escola da crítica da forma de Julius Wellhausen, do século XIX, desenvolveu a teoria da hipótese documenal e colocou a redação do Pentateuco no período pós-exílio.
Em resposta a essas acusações, estudiosos conservadores salientaram que os paralelos de Mari e Nuzi ainda são testemunhas válidas das práticas patriarcais, mesmo que não tenham sido o contexto ou a influência para eles.
A alegação de que há anacronismos nas narrativas patriarcais significa que, embora possa haver elementos históricos nos relatos, as histórias sobre eles registradas muito mais tarde poderiam ser fictícias.
A análise arqueológica dos alegados anacronismos também mostra que eles se encaixam melhor em um contexto da Idade do Bronze do que no da Idade do Ferro. A evidência arqueológica também favorece uma data da Idade do Bronze para outros detalhes nas narrativas patriarcais, como as jornadas patriarcais no Egito. A passagem de Gênesis 12:10 observa: “Houve fome naquela terra, e Abrão desceu ao Egito para ali viver algum tempo, pois a fome era rigorosa. ” O mural da tumba de Beni Hasan no Médio Egito mostra semitas migrando de Canaã para Egito no período do Bronze Médio (décima oitava dinastia egípcia). Quase todas as declarações sobre a vida no Egito são positivas, de modo que dificilmente algo poderia ter sido dito por qualquer israelita após o tempo do cativeiro egípcio. Na Idade do Ferro, o Egito era considerado uma ameaça. Portanto, comprometer-se em retornar para lá (Nm 11:18-20; 14:3-4) ou fazer alianças com ele seria equivalente a uma traição (1Rs 11:40; 14:25; Ne 9:17; Is 30:2; 31:1), idolatria (1Rs 12:28; Is 19:1; Jr 44:15), ou morte (2Rs 23:29; Jr 42:15-19; 43:2−44:15). Israel é sempre identificado como tendo saído do Egito; e nos profetas, o Egito é condenado (Is 19:1-17). No entanto, com respeito a um contexto egípcio, um relevo hieroglífico em uma parede do templo de Amon em Karnak (Luxor, Egito) menciona um sítio defensivo no Negev como “O forte (ou cidade fortificada) de Abrão”.
Gênesis 12:16; 24:10-11,19,64
Teriam os patriarcas domesticado camelos?
Ele tratou bem a Abrão por causa dela, e Abrão recebeu ovelhas e bois,jumentos e jumentas, servos e servas, e camelos […] O servo partiu, com dez camelos do seu senhor, levando também do que o seu senhor tinha de melhor.Partiu para a Mesopotâmia, em direção à cidade onde Naor tinha morado. Ao cair da tarde, quando as mulheres costumam sair para buscar água, ele fez os camelos se ajoelharem junto ao poço que ficava fora da cidade […] Depois que lhe deu de beber, disse: “Tirarei água também para os seus camelos até saciá-los” […] Rebeca também ergueu os olhos e viu Isaque. Ela desceu do camelo.
Essa tese da domesticação do camelo pode parecer uma questão trivial, mas o fato que está em jogo é a historicidade dos patriarcas. Desde os anos 1970, estudiosos das narrativas patriarcais, como Thomas Thompson e John Van Seters, afirmam que os alegados anacronismos (camelos, caldeus e filisteus na Palestina) exigem uma data na Idade do Ferro (primeiro milênio a.C.). Na opinião deles, a cronologia bíblica que coloca os patriarcas tradicionalmente na Idade do Bronze Médio ou na Idade do Bronze Tardio é errônea. Essa convicção é tão segura que Van Seeters afirmou: “Quanto aos camelos […] a maioria dos estudiosos, mesmo aqueles que defendem uma data precoce para as tradições patriarcais, considera a menção a camelos como um anacronismo. ” Em resposta, alguns estudiosos conservadores propuseram que a ideia foi acrescentada posteriormente por um redator, talvez no tempo de Gideão e dos invasores midianitas em camelos (Jz 6−7). Outros estudiosos conservadores sugeriram que era uma adaptação, ou, notando a natureza fragmentária da evidência, afirmam que é uma falácia afastar a historicidade por um argumento do silêncio. Contudo, a evidência tanto arqueológica como epigráfica não é tão falsa como se supunha. Evidências osteológicas e iconográficas dispersas mostram que os camelos, pelo menos em escala limitada, haviam sido domesticados muito antes. M. M. Ripinsky colocou a data da domesticação em algum momento do quarto milênio a.C. R. W. Bulliet traçou a domesticação do camelo em etapas, a primeira ocorrendo no sudeste da Arábia no quarto ou terceiro milênio, e depois no sudoeste da Arábia.
No entanto, uma das mais claras linhas de evidência segue a pesquisa que distingue entre as duas espécies de camelos associados ao Antigo Oriente Médio, o dromedário (pernas longas com uma única corcova) e o camelo bactriano (atarracado com duas corcovas). Isso é útil porque a evidência arqueológica demonstra que o camelo bactriano foi domesticado antes do dromedário.
Há evidências empíricas suficientes para a domesticação do camelo bactriano apontando para o período patriarcal.
Mais evidências são encontradas em uma canção de amor suméria do período da antiga Babilônia. A literatura poética menciona o camelo e implica a domesticação. O texto segue apresentando a música.
Gênesis 14:1-17
A antiguidade das narrativas patriarcais
A historicidade e antiguidade das narrativas patriarcais têm sido questionadas pela escola minimalista na arqueologia. Contudo, Gênesis 14 provê um exemplo de registro literário de eventos na Torá que demonstram o uso de fontes históricas em sua composição. Essas fontes literárias podem ser analisadas em relação às fontes arqueológicas para julgar se elas refletem ou não eventos que se encaixam no tempo que descrevem.
A esses limitadores de tempo indicadores da historicidade, podemos acrescentar a exatidão da rota de invasão tomada pelos reis orientais, o uso de um termo hebraico para “homens treinados” no v. 14, que é atestado somente fora dessa passagem em um texto egípcio do século XIX a.C. e numa carta do século XV a.C. do Ta’anach, e a descrição de Melquisedeque, que relata com precisão um cenário do segundo milênio.
Gênesis 14:14
Abraão e o portão de Dã na Idade do Bronze Médio
Quando Abrão ouviu que seu parente fora levado prisioneiro, mandou convocar os trezentos e dezoito homens treinados, nascidos em sua casa, e saiu em perseguição aos inimigos até Dã.
De acordo com Js 19:47, também era conhecido como Lesém; no entanto, Laís teria sido o nome da cidade no tempo dos patriarcas. As escavações arqueológicas nesse local descobriram uma grande parte da cidade de Laís e revelaram uma grande cidade Cananéia com uma cultura material altamente desenvolvida, tumbas ricas e fortificações maciças de muralhas inclinadas. Ali foi descoberto um portão de tijolos de barro com quatro mil anos de idade no meio dessas muralhas, construído em forma de arco (uma obra arquitetônica supostamente inventada pelos romanos dois mil anos depois). O portão de tijolos de barro está completo com todas as suas etapas até o topo.
ÊXODO
Os livros de Êxodo, Josué, Juízes e Rute falam de migração massiva, de guerra e de condições catastróficas que afetaram os povos do Egito e de Canaã. Embora sejam tipos de eventos que a arqueologia de modo geral é capaz de verificar, existem fatores que reduzem consideravelmente essa possibilidade. Primeiro, é necessário entender que povos orgulhosos, como os egípcios, dificilmente registrariam uma derrota nacional sofrida diante de escravos estrangeiros. Portanto, é improvável que sejam descobertas quaisquer evidências de algum registro no Egito sobre pragas relacionadas aos hebreus. Em segundo lugar, a saída dos hebreus (êxodo) do Egito e sua permanência no deserto do Sinai poderiam ter sido arqueologicamente invisíveis; isto é, tudo o que levavam consigo teria sido usado e nada foi deixado para trás como evidência material.
É comum afirmar-se que é menos importante descobrir quando o êxodo aconteceu do que se ele realmente existiu. No entanto, uma vez que existem evidências literárias e arqueológicas que têm possíveis conexões com o êxodo em vários períodos de centenas de anos, para se fazer um definitivo estudo de caso sobre a historicidade do êxodo, todos os dados e uma data confiável devem ser ajustados. A data para o êxodo pode ser supostamente definida a partir da cronologia interna fornecida em 1Reis 6:1, a qual indica que o êxodo teria ocorrido 480 anos (TM) ou 440 anos (LXX) antes de Salomão começar a construir o templo em Jerusalém em 967 a.C. (os textos de 1Rs 11:42; e 2Cr 9:30 afirmam que esse foi o quarto ano do reinado de Salomão). Não importa se são aceitas as afirmações do TM ou da LXX nesse assunto, tomando-se a informação literalmente, a data cairia no século XV a.C. Os proponentes dessa data inicial a aceitam como uma prioridade do TM e argumentam que Salomão começou a construir o templo no ano 480, no segundo mês, de modo que o tempo transcorrido foi de 479 anos, portanto 479 + 967 = 1446 a.C.
Um argumento para a natureza histórica do êxodo pode ser elaborado a partir da nuance egípcia da narrativa hebraica, (como “dar à luz”, Êx 1:16), palavras egípcias (como o nome de Moisés, Êx 2:10), a descrição de Canaã como uma “terra que mana leite e mel”, que aparece no relato egípcio de Sinuhe e nos anais de Tutmoses III, o uso uniforme do termo faraó (“grande casa”) durante o Império Novo (décima oitava dinastia, cerca de 1550-1292 a.C.), os relatos comparativos egípcios de escravos estrangeiros (semitas) no Egito (incluindo seu tratamento severo, uso deles em projetos de construção e registros de escravos fugitivos), um relato de pragas semelhantes às mencionadas na Bíblia, como no Papiro Ipuwer (séc. XIII a.C.), a importância da magia para os egípcios (cf. com os milagres de Moisés em Êx 7:9-10), e a descoberta arqueológica de certos lugares como Avaris (Tell ed-Dab’a), Ramessés (Pi-Ramesse), Migdol (Tell Defari), Sucote (Tell Masuta), e os lagos Balah e Timsah (Yam Suph/mar Vermelho?; Êx 1:11; 12:37; 14:1- 2), mencionados em relação aos hebreus. Essa nuance local e detalhes geográficos afirmam a historicidade do registro egípcio no livro de Êxodo porque eram o produto de testemunhas oculares que viviam no tempo e lugar e seria improvável que escritores inventassem essa história séculos depois.
Êxodo 4:21
Contexto egípcio para o motivo do endurecimento do coração
Disse mais o Senhor a Moisés: “Quando você voltar ao Egito, tenha o cuidado de fazer diante do faraó todas as maravilhas que concedi a você o poder de realizar. Mas eu vou endurecer o coração dele, para não deixar o povo ir.
Por que Deus disse a Moisés que endureceria o coração do faraó, mesmo antes de ele ouvir o pedido de Moisés (assim como em Êx 9:12; 10:20, 27; 11:10; 14:8)? Também é verdade que o faraó “endureceu seu [próprio] coração” (Êx 8:15,32; cf. 1Sm 6:6), mas essa intenção divina ainda precisa ser entendida. A resposta pode ser encontrada nos dados arqueológicos que contêm a perspectiva teológica do Império Novo, de modo que o endurecimento divino pode ter sido empregado para fins polêmicos à luz de um ato similar da teologia egípcia sobre a vida após a morte. Era uma prática normal entre os egípcios, até os tempos dos romanos, a reivindicação de honras divinas para si mesmos. Uma paranoica divinização era atribuída a reis egípcios na décima oitava dinastia e particularmente ao faraó Tutmés III do século XIV. O faraó era considerado uma encarnação do deus do Sol, Rá [Ré], e de Hórus-Osíris, os três mais importantes deuses no Egito. Ele era a encarnação do deus Hórus durante a vida, a encarnação do deus Osíris na vida após a morte, e era chamado “filho de Rá” e “o deus do céu”.
Com esse status teológico, um faraó era visto como o deus principal do mundo. E, por conseguinte, a palavra do faraó era considerada uma “força criativa”, a palavra de um deus, que controlava a história, bem como os elementos naturais, e não poderia ser revertida ou anulada. Devido a esse entendimento, o endurecimento por Deus da disposição do faraó e, finalmente, fazê-lo curvar-se à vontade divina foi uma demonstração do seu poder soberano sobre o panteão egípcio, um poder que o faraó incorporava na teologia do Egito. No entanto, descobertas arqueológicas no Egito forneceram uma visão adicional sobre por que Deus escolheu “endurecer” o coração do faraó. O texto funerário conhecido como o Livro dos mortos revela a teologia egípcia do antigo culto da morte.
Depois que o morto era embalsamado e sepultado, ele teria de enfrentar um julgamento em sua vida após a morte. Esse julgamento era um assunto frequente para a arte funerária, especialmente em papiros e caixões. Um detalhe pintado dessa cena pode ser visto no sarcófago da vigésima primeira dinastia do faraó Tanakhtenettahat (1075-945 a.C.), bem como na forma de mural no pergaminho do livro egípcio dos mortos.
Êxodo 7:10-12
Os sacerdotes egípcios e os encantamentos de serpente
Moisés e Aarão dirigiram-se ao faraó e fizeram como o Senhor tinha ordenado. Aarão jogou a vara diante do faraó e seus conselheiros, e ela se transformou em serpente. O faraó, porém, mandou chamar os sábios e feiticeiros; e também os magos do Egito fizeram a mesma coisa por meio das suas ciências ocultas. Cada um deles jogou ao chão uma vara, e estas se transformaram em serpentes. Mas a vara de Aarão engoliu as varas deles.
Esse texto, que lida com magia, serpentes e encantamentos egípcios possui um contexto arqueológico que também se liga à cultura semítica. Richard Steiner proveu a interpretação de passagens semíticas em textos egípcios que foram descobertos há mais de um século, inscritos nas paredes subterrâneas da pirâmide do rei Unas, em Saqqara, no Egito. Steiner decifrou vários textos semíticos em várias escrituras egípcias nos últimos 25 anos. Ele explicou que os encantamentos de serpentes escritos em caracteres hieroglíficos confundiram os eruditos que tentavam lê-los como se fossem textos egípcios comuns, quando, na verdade, eram semíticos — textos semíticos não contínuos desse período já haviam sido decifrados antes. A pirâmide em que o texto aparece é datada do século XII a.C., embora outros egiptólogos propusessem datas que para eles iam dos séculos XXV ao XXX a.C.
Êxodo 12:41, 51
Evidências arqueológicas do êxodo
No dia em que se completaram os quatrocentos e trinta anos, todos os exércitos do Senhor saíram do Egito. […] No mesmo dia o Senhor tirou os israelitas do Egito, organizados segundo as suas divisões.
O êxodo bíblico é, ao mesmo tempo, o evento mais conhecido e celebrado na história israelita e, ao mesmo tempo, o menos comprovado em registros arqueológicos. No entanto, deve se reconhecer desde o início da busca por evidências que, pelo lado egípcio, não há precedentes de registro de derrotas, especialmente com relação aos deuses, e do lado israelita, como todos os demais nômades, eles seriam arqueologicamente invisíveis (embora tais povos, de fato, deixem vestígios). Não é sem razão que evidências diretas poderão surgir no futuro, semelhantes à recente descoberta de uma estrada pavimentada com tijolos de barro no deserto, ao longo da rota do suposto êxodo, que poderia ter sido usada pelos carros do faraó na perseguição aos escravos hebreus. Atualmente, porém, a melhor abordagem para essa questão é examinar a evidência indireta da consequência histórica (a existência da história como uma narrativa central e marcante na Bíblia e na história de Israel) e nas nuances egípcias locais dadas no relato bíblico e apoiadas por achados arqueológicos. Tal como acontece com as narrativas patriarcais, a informação é demasiado precisa e envolve muito tempo para ter sido simplesmente inventada em outro contexto e em outra época.
Da mesma forma que o evento de êxodo moldou o relacionamento de Israel com a história, também instruiu a experiência de fé de Israel.
Uma vez que o êxodo é percebido na Bíblia como um evento divino, ele serve como um dos símbolos mais significativos da fé bíblica. Um dos axiomas dessa fé é que Yahweh, e não qualquer outra divindade, tirou Israel do Egito […] (Êx 20:2; Dt 5:6). O significado dessas palavras é que a divindade que conduziu Israel para fora do Egito foi a mesma que agora falou com eles e lhes impôs obrigações e mandamentos.
Portanto, não se pode explicar Israel histórica ou teologicamente sem um êxodo.
Uma segunda área de evidência vem daquilo que pode ser chamado de plausibilidade contextual. Isto é, mesmo que não tenhamos evidência histórica direta de nenhuma das pessoas ou eventos relacionados com o êxodo, ou nem mesmo sejamos capazes de concordar em datas específicas, o esboço geral como apresentado no relato bíblico é fiel à época. Portanto, é muito mais provável que o êxodo tenha, de fato, ocorrido, do que o contrário.
Uma terceira área de evidência vem de semelhanças nos registros egípcios que sugerem paralelos com os eventos descritos no relato bíblico do êxodo. Embora reconhecidos pelos egiptólogos, geralmente contesta-se que eles se refiram ao evento do êxodo. Um deles é o documento egípcio conhecido como Admoestações de um sábio egípcio: o papiro Ipuwer (Papiro Leiden 344), traduzido pela primeira vez em 1909. Seu conteúdo foi escrito por um alto funcionário egípcio e descreve um lamento pelas circunstâncias das pragas que devastaram o país. A versão atual data do período do Império Novo (1550-1069 a.C.), embora possa ter ocorrido desde o final da sexta dinastia do Antigo Império (2345-2181 a.C.) até o segundo período intermediário do Império Médio (1650-1550 a.C.). No entanto, não há nada nesse documento que sugira uma data tão antiga e, portanto, poderia ter sido escrito em uma época associada ao êxodo bíblico. De fato, o relato hierático em que está escrito estava em uso na época, e seu catálogo de eventos catastróficos se ajusta notavelmente aos das pragas do êxodo.
Uma quarta área de evidência inclui inscrições arqueológicas de origem egípcia que parecem identificar um estado-nação conhecido como Israel. A mais conhecida delas é a estela de Merneptá, que demonstra, a partir de uma fonte egípcia, que havia um estado-nação de Israel conhecido por já estar estabelecido na terra de Canaã no século XII a.C.
Uma quinta área de evidência são as pistas encontradas nos locais de escavação. Um desses locais é o distrito palaciano de Avaris (Tell ed-Dab’a), identificado na décima oitava dinastia como a Ramessés bíblica. Esse local produziu evidências significativas para a compreensão da história do Delta do Nilo durante a décima quinta e décima oitava dinastias.
A sexta área de evidência apresentada na obra pode ser obtida a partir da história primitiva de Israel na terra de Canaã. De onde eles vieram e como eles chegaram lá? A arqueóloga israelense Amihai Mazar responde a essas perguntas:
Durante o período dos juízes, entre os séculos XII-XI, cerca de 250 locais foram fundados na região montanhosa ao norte e ao sul de Jerusalém. Esse fenômeno de uma nova onda de assentamentos na região montanhosa pode estar relacionado apenas ao surgimento de Israel, ao aparecimento de Israel, nessa região. Agora, é claro, podemos nos perguntar: “De onde eles vieram? Vieram do Egito, como a Bíblia nos relata, ou foi um povo local que ali se estabeleceu, como muitos estudiosos acreditam? Ou eles surgiram de clãs da Jordânia, como afirmam outros acadêmicos? Temos um debate sobre a interpretação dos achados. Mas estes continuam sendo uma contribuição muito importante para o fenômeno do surgimento de Israel durante esse período.
Os autores declararam na introdução do livro que onde a evidência arqueológica é ausente ou mal atestada, a evidência literária, que é a Bíblia, está presente e é capaz de fornecer o contexto apropriado para aceitar os eventos que ela retrata como história. Esse é o método, dada a plausibilidade do evento do êxodo, da consequência histórica e da evidência indireta da arqueologia e da história de Israel, que deve ser seguida.
Êxodo 25:8-9
O Tabernáculo
E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles. Façam
tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo do tabernáculo
e de cada utensílio.
O tabernáculo, uma estrutura pré-fabricada, era similar em forma a suas peças de madeira cobertas de ouro e suas estacas apoiadas em bases de prata. Foi construído para abrigar a arca da aliança dentro de sua câmara mais interior, o Lugar Santíssimo. A arqueologia forneceu um exemplo comparativo dos tesouros do rei Tutancâmon no vale dos reis em Luxor (Império Novo egípcio, c. 1567-1320). Dentro do túmulo havia um grande santuário banhado a ouro, composto de quatro caixas, encaixadas uma dentro da outra.
É interessante observar que a literatura rabínica (b. Yoma 72b) interpretou a construção da arca da aliança baseada em uma compreensão específica do verbo tsapah (“cobertura”) em Êxodo 25:11 —como finas camadas de ouro, colocadas no interior e no exterior da madeira de acácia. Se a interpretação estiver correta, a arca teria sido uma caixa com três camadas, semelhante em sua forma aos santuários funerários egípcios que acabamos de mencionar.
Êxodo 25:10, 21-22
A arca da aliança
Faça uma arca de madeira de acácia com um metro e dez centímetros de comprimento, setenta centímetros de largura e setenta centímetros de altura […] Coloque a tampa sobre a arca, e dentro dela as tábuas da aliança que darei a você. Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da aliança, eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destinados aos israelitas.
A arca da aliança/testemunho foi feita em forma de uma caixa de dois côvados e meio de comprimento, um côvado e meio de largura, e um côvado e meio de altura. Dependendo se foi usado o côvado real mais longo ou o côvado padrão menor, a arca teria aproximadamente de 91 centímetros a 1,21 metro de comprimento e de 30 a 70 cm de altura e largura. Esse projeto é indicado pela palavra hebraica ‘aron, que significa “caixa” ou “peito” (cf. Akkadian aranu), e em outros lugares descreve o cofre do templo (2Rs 12:9; 2Cr 24:8-11).
A arqueologia fornece numerosos paralelos do contexto histórico e cultural para entender esses detalhes da arca e seu propósito.
Um santuário composto por uma caixa de madeira retangular revestida de ouro e equipada com varas para ser carregado, se assemelha à arca bíblica; o corpo da arca era feito de madeira revestida de ouro (Êx 25:11). Isso era para sua proteção, assim como servia de simbolismo religioso e pode ter sido aplicado em forma de douração (como folhas de ouro), uma ideia talvez representada pela linguagem de Hebreus 9:4, indicando que a arca era recoberta de ouro por todos os lados.
Esse método de colar folhas finas de ouro (presas em uma camada fina de gesso espalhada sobre a madeira ou aplicadas como folhas pregadas à madeira com pregos pequenos) também era usada nos móveis de madeira do túmulo de Tutancâmon. Acredita-se que Salomão mais tarde empregou esse método quando cobriu todo o interior do templo com ouro (1Rs 6:21), e especialmente os dois querubins esculpidos que guardavam a arca (v. 28).
Êxodo 31:18
Os Dez Mandamentos no contexto arqueológico
Quando o Senhor terminou de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas da aliança, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.
A arca continha objetos sagrados associados à presença de Deus com Israel no deserto. Estes serviram como testemunho das futuras gerações da aliança mosaica. Nas antigas religiões do Oriente Médio, os santuários religiosos continham imagens de deuses, mas uma vez que as representações físicas de Deus eram proibidas no antigo Israel, a imagem divina era transmitida pela lei de Deus contida na arca. Essa lei era composta de dez instruções (Dez Mandamentos), que haviam sido inscritas em tábuas de pedra. Essas tábuas da lei permaneceram como um acessório permanente dentro da arca (2Cr 5:10).
Com base nas descobertas de tábuas de pedra com inscrições semelhantes, a arqueologia diz que os Dez Mandamentos foram provavelmente esculpidos em lascas de pedra não muito maiores que o tamanho da mão de um homem. Esse tamanho está implícito na dimensão relativamente pequena da própria arca.
Deus amoldou-se aos costumes locais, mas com um significado teológico distinto que ampliou por meio de contraste sua relação única com Israel.
LEVÍTICO
Levítico 16:7-10
Paralelismos do Antigo Oriente Médio para o ritual do bode expiatório
Arão sacrificará o novilho como oferta pelo seu próprio pecado, para fazer propiciação por si mesmo e por sua família. Depois pegará os dois bodes e os apresentará ao Senhor, à entrada da Tenda do Encontro. E lançará sortes quanto aos dois bodes: uma para o Senhor e a outra para Azazel. Trará o bode cuja sorte caiu para o Senhor e o sacrificará como oferta pelo pecado. Mas o bode sobre o qual caiu a sorte para Azazel será apresentado vivo ao Senhor para fazer propiciação, e será enviado para Azazel no deserto.
De acordo com a antiga tradição rabínica, a prática israelita era amarrar uma fita vermelha aos chifres do bode expiatório (m. Yoma 4:2). Um dos paralelos mais marcantes é o festival akitu babilônico, onde os seguintes elementos estavam presentes:
- A purificação do lugar sagrado era combinada com ofertas propiciatórias. As figuras sacerdotais se banhavam antes (algumas tradições acrescentam que os sacerdotes usavam linho, como no caso de Aarão).
- Incenso era usado no santuário.
- Um animal abatido ou seu sangue era usado para purificar o espaço.
- A divindade era presenteada com carne assada após a limpeza.
- As carcaças dos animais abatidos eram descartadas fora da área civilizada.
- Aqueles que conduziam o ritual de purificação do templo se tornavam impuros; no entanto, os servidores babilônios eram temporariamente banidos, enquanto Aarão e os servidores do templo eram instruídos a se banhar.
Em acréscimo a isso, o “bode expiatório” em Levítico 16:10 é literalmente “Azazel”.
NÚMEROS
Números 6:24-26
Bênção sacerdotal
O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz.
Em 1979, o arqueólogo israelense Gabriel Barkay começou a escavar um sítio arqueológico a sudoeste da cidade velha de Jerusalém, no vale de Hinom. Esse sítio, chamado Ketef Hinnom, fica ao lado da Igreja de santo André, agora no terreno do Menachem Begin Heritage Center. O complexo de túmulos escavados na rocha nessa área de cavernas naturais foi em grande parte destruído pela subsequente atividade de pedreiras, mas uma tumba, a de número 25, havia sido preservada intacta porque o revestimento do teto da caverna havia desmoronado e coberto o chão da caverna com um depósito espesso que fazia parecer com que a tumba estivesse vazia. Por essa razão, seu conteúdo foi protegido de ladrões de túmulos e, como resultado, a equipe de Barkay recuperou mais de mil objetos. Estes incluíam pequenos vasos de cerâmica, artefatos de ferro e bronze (como pontas de flechas), agulhas e alfinetes, objetos de ossos e marfim, garrafas de vidro e joias.
Com um tesouro tão vasto para inventariar, a equipe quase ignorou um par de pequenos objetos que mais pareciam pontas de cigarro descartadas. Embora essas descobertas fossem importantes, esses últimos objetos provaram serem os achados mais sensacionais quando se descobriu que eram pergaminhos de prata com inscrições arranhadas em suas finas folhas metálicas. Uma vez abertos, um antigo texto hebraico foi encontrado, que era parecido com a bênção bíblica de Aarão em Números 6:24-26. Foi esse texto que o Senhor ordenou que Aarão e seus descendentes recitassem abençoando os filhos de Israel (v. 23). Desse modo, o Senhor disse “Assim eles invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (v. 27). E mais, esses textos parecem incluir uma frase que revela dependência literária de Deuteronômio 7:9: “Saibam, portanto, que o Senhor, o seu Deus, é Deus; ele é o Deus fiel, que mantém a aliança e a bondade por mil gerações daqueles que o amam e obedecem aos seus mandamentos. ”
Essa descoberta foi considerada uma das mais significativas já feitas para estudos da Bíblia. Isso se deve à contribuição dos pergaminhos para nosso conhecimento do desenvolvimento do alfabeto hebraico e porque os pergaminhos contêm as primeiras citações de textos bíblicos mais de 300 anos antes dos Manuscritos do mar Morto.
Números 22—24; 31:8,16
Evidência arqueológica para Balaão, filho de Beor
[Balaque] enviou mensageiros para chamar Balaão, filho de Beor, que estava em Petor, perto do Eufrates, em sua terra natal. A mensagem de Balaque dizia: “Um povo que saiu do Egito cobre a face da terra e se estabeleceu perto de mim. Venha agora lançar uma maldição contra ele, pois é forte demais para mim. Talvez então eu tenha condições de derrotá-lo e de expulsá-lo da terra. Pois sei que aquele que você abençoa é abençoado, e aquele que você amaldiçoa é amaldiçoado. ” (Nm 22:5-6)
No relato bíblico, o rei moabita, Balaque, contratou o adivinho/profeta Balaão, filho de Beor, para pronunciar uma maldição contra os israelitas ao passarem por suas terras, mas o Senhor fez com que Balaão abençoasse Israel (Nm 22:1—24:25). Como resultado de ter seu ato frustrado, Balaão planejou um meio alternativo de ataque a Israel através do uso de prostitutas de culto para trazer alguns dos israelitas para um contexto de adoração a Baal em Peor (Nm 25). (Peor é provavelmente Pitru, um local mencionado em fontes assírias como situado na margem oeste do Eufrates, cerca de dezenove quilômetros ao sul de Carquemis). Isso resultou em uma praga sobre Israel e Moisés, que o Senhor enviou como vingança, levando os israelitas a matar Balaão (Nm 31:8,16).
Fragmentos de um texto aramaico descoberto em Deir ‘Alla, na Jordânia, são atribuídos a um vidente chamado Balaão, filho de Beor. Conhecido como a Inscrição ‘Alla de Deir, ou Inscrição de Balaão, filho de Beor, ele foi descoberto nas ruínas de um prédio (possivelmente um templo) em cujas paredes de gesso a inscrição havia sido grafada em tinta vermelha e preta (talvez para dar ênfase). Restos de divisões de gesso contendo a inscrição foram reunidos em doze combinações, mas apenas duas tinham texto legível o suficiente para ser traduzido. Embora a inscrição esteja redigida em aramaico, a língua é amonita e representa a mais antiga peça de literatura aramaica.
Números 21:8-9
Exemplos arqueológicos de serpente de bronze
O Senhor disse a Moisés: “Faça uma serpente e coloque-a no alto de um poste; quem for mordido e olhar para ela viverá”. Moisés fez então uma serpente de bronze e a colocou num poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, permanecia vivo.
Por causa do significado desse evento, os israelitas no deserto preservaram esse objeto por séculos, mas na época do rei Ezequias (715-687 a.C.) ele havia se tornado em um objeto de culto chamado “Neustã” (“[coisa] de bronze”). Lowell Handy argumentou que o Neustã era o símbolo de um deus menor que curava a picada de cobra dentro do templo. Qualquer que fosse o seu propósito, não servia mais à finalidade original de representar uma lembrança da libertação divina no deserto, mas ela própria tonou-se objeto de veneração, então Ezequias a destruiu (2Rs 18:4).
Os cultos a serpentes já haviam sido estabelecidos em Canaã durante a Era do Bronze, antes da chegada dos israelitas. Escavações descobriram objetos de culto a serpentes nas cidades pré-israelitas de Megido, Gezer, Siquém, Ecrom (um uraeus [serpente] que fazia parte da tiara de uma estatueta de uma divindade egípcia associada ao seu palácio neoassírio), e Hazor, onde o objeto foi encontrado dentro do templo cananeu.
Números 21:13
O Arnon como limite territorial
Partiram dali e acamparam do outro lado do Arnom, que fica no deserto que se estende até o território amorreu. O Arnom é a fronteira de Moabe, entre Moabe e os amorreus. (Nm 21:13)
O uádi Mujib, historicamente conhecido como Arnom, é um cânion entre um desfiladeiro na Jordânia que deságua no mar Morto a 410 metros abaixo do nível do mar.
A reserva de Mujib consiste em um deserto montanhoso, rochoso e escassamente vegetado (até 800m), com falésias, desfiladeiros e profundos leitos secos cortando planaltos. Riachos perenes, alimentados por nascentes, fluem pelos leitos secos até as margens do mar Morto, que fica a 400 metros abaixo do nível do mar.
A importância antiga do rio Arnom e das cidades em sua vizinhança é atestada pelas numerosas ruínas de pontes, fortalezas e edifícios encontrados sobre ele ou perto dele.
DEUTERONÔMIO
Deuteronômio 29:9-13
Estabelecimento de alianças no Antigo Oriente Médio
Sigam fielmente os termos desta aliança, para que vocês prosperem
em tudo o que fizerem. Hoje todos vocês estão na presença do Senhor,
o seu Deus: os seus chefes e homens destacados, os seus líderes
e oficiais, e todos os demais homens de Israel, juntamente com os
seus filhos e as suas mulheres e os estrangeiros que vivem nos
seus acampamentos cortando lenha e carregando água para vocês. Vocês estão aqui presentes para entrar em aliança com o Senhor,
o seu Deus, aliança que ele está fazendo com vocês hoje, selando-a
sob juramento, para hoje confirmá-los como seu povo, para que
ele seja o seu Deus, conforme lhes prometeu e jurou aos
seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó.
Enquanto a demonstração do poder de Deus para confirmar a aliança era particular para Israel, a forma de aliança dada por Deus a Moisés e através dele à nação tinha um precedente nos códigos legais estabelecidos no Antigo Oriente Médio. Isso já deveria ser esperado, pois Deus, ao lidar com sua nação em um contexto internacional, acomodaria a estrutura conhecida e praticada na época, de modo que Israel e as nações pudessem dar sentido à expectativa de sua relação, acordada no sopé do monte Sinai.
O livro de Deuteronômio é escrito na forma de um tratado hitita de suserania-vassalagem (c. 1400-1200 a.C.) para apresentar ao povo de Israel as promessas de seu suserano (Deus como rei soberano) a seus vassalos (Israel) e rever suas obrigações para com ele. Deuteronômio contém todos os elementos essenciais desses textos dos tratados hititas, bem como adições que são necessárias no contexto, como o discurso de despedida de Moisés.
3 – Passagens bíblicas
JOSUÉ
Josué 2:1
Missões de reconhecimento nos registros arqueológicos
Então Josué, filho de Num, enviou secretamente de Sitim dois espiões e lhes disse: “Vão examinar a terra, especialmente Jericó”. Eles foram e entraram na casa de uma prostituta chamada Raabe, e ali passaram a noite.
Os textos de relevos egípcios explicam que a declaração dos shasu era um “falso relatório ordenado pelos hititas”. O exército hitita estava nas proximidades, logo atrás da cidade de Cades, e preparado para lançar um ataque surpresa. Ramessés II não percebeu isso até que olheiros egípcios capturaram dois espiões hititas e os torturaram para revelar a verdade. Relatos da batalha que se seguiu e os eventos anteriores e posteriores (conhecidos como o “Poema” e o “Boletim”) foram preservados em várias inscrições como legendas que acompanham os relevos nos templos de Abydos, Luxor, Karnack, Abu Simbel e Ramesseum.
Uma cópia do tratado de paz estabelecido entre os egípcios e os hititas como resultado da batalha de Cades foi descoberta em escavações na capital hitita de Hattusa (atual Boğazköy, Turquia). Escrito em escrita cuneiforme em um tablete de argila, é o primeiro exemplo existente de um acordo internacional escrito e está hoje abrigado no Museu arqueológico de Istambul.
Josué 6:20
A arqueologia e a conquista de Jericó
Quando soaram as trombetas o povo gritou. Ao som das trombetas e do forte grito, o muro caiu. Cada um atacou do lugar onde estava, e tomaram a cidade.
O conceito de uma conquista da terra de Canaã tem sido contestado por alguns críticos, alegando que a descrição bíblica de uma invasão militar maciça da “terra” (Js 11:23a) não é apoiada no registro arqueológico. No entanto, o relato bíblico não apresenta a conquista da maneira como esses críticos presumem. Não há dúvida de que a conquista foi extensa (“toda a terra”, Js 11:23a), mas isso representou apenas uma conquista de território suficiente para permitir que as tribos israelitas se estabelecessem em sua prometida herança sem novas guerras (Jz 11:23b-c 13-17). Não foi uma conquista total.
A crítica de que não houve conquista porque seu tamanho e alcance anunciados não se encaixam com a evidência arqueológica é falha por causa da leitura equivocada da narrativa bíblica da conquista. E também deve-se considerar a evidência arqueológica de que um assentamento israelita gradativo ocorreu em Canaã durante esse período e no tempo dos juízes, coincidindo com o quadro da vida cotidiana encontrado nas narrativas históricas. Portanto, quando feita uma interpretação adequada dos fatos da conquista, o texto bíblico e os dados arqueológicos parecem concordar.
Uma segunda crítica é a de que o ataque inicial à cidade cananeia de Jericó, descrito na Bíblia como uma intervenção divina para derrubar as muralhas da cidade, não pode ser historicamente apoiado com base nos resultados de escavações arqueológicas no local. Embora as primeiras escavações de Ernst Sellin e Carl Watzinger (1907-1908) e John Garstang (1930-1936) tenham produzido as evidências de que os escavadores encontravam apoio ao relato bíblico, a escavação posterior de Kathleen Kenyon (1952-1958, mas publicada 30 anos depois) concluiu que um ataque só teria ocorrido no período do Bronze Médio e que a cidade, portanto, tinha sido destruída cerca de 150 anos antes do tempo em que o relato bíblico coloca Josué em Canaã.
A equipe ítalo-palestina encontrou algum material de Bronze Tardio nos túmulos do Período V (Bronze Tardio I, 1550-1200 a.C.) localizado a noroeste do tel. Esse material consistia em amuletos egípcios inscritos com nomes dos faraós de 1500-1386 a.C., indicando que o cemitério esteve em uso durante esse período. Talvez alguns desses amuletos fizessem parte dos tesouros do Egito (Êx 12:35-36) que a Bíblia menciona como tendo sido doados pela população egípcia aos hebreus quando eles partiram. Os escavadores também descobriram uma pequena ocupação do Bronze Tardio na área G no topo de Spring Hill, o monte artificial ao lado de Ain es-Sûltan — a fonte que fornece água potável a Jericó.
Existem evidências que demonstram que houve uma ocupação durante o Bronze Tardio em Jericó, embora as ruínas desse período não tenham sido descobertas especificamente no tel. Uma das principais razões para isso é, como relatou a equipe ítalo-palestina sobre a Spring Hill e o planalto norte, “a demolição intensiva de períodos posteriores removeu todos os estratos do Bronze Médio ou mesmo do início do Bronze Primitivo”.
Se as últimas fortalezas do Bronze Médio prosseguiram no início do período do Bronze I, então, como outras evidências de um cerco curto a evidência de Kenyon da queima da cidade após o colapso dos muros se encaixa com os dados bíblicos.
No caso de Jericó, então, os detalhes da evidência literária do texto bíblico devem ter precedência. Quando esses detalhes são vistos à luz das descobertas feitas em Jericó, há uma notável correspondência que defende a historicidade do evento.
O texto segue apresentando um quadro que contêm o relato bíblico e as evidências arqueológicas da queda de Jericó.
Josué 6:20-21
Armas de guerra
Quando soaram as trombetas o povo gritou. Ao som das trombetas e do forte grito, o muro caiu. Cada um atacou do lugar onde estava, e tomaram a cidade. Consagraram a cidade ao Senhor, destruindo ao fio da espada homens, mulheres, jovens, velhos, bois, ovelhas e jumentos; todos os seres vivos que nela havia.
No relato da batalha de Jericó, são mencionadas armas de guerra. Esse texto descreve um dos mais comuns artefatos de guerra, a espada. A arqueologia revelou o tipo de espada usada na Idade do Bronze Tardio (tanto pelos israelitas como pelos cananeus) como a espada falciforme. Essa arma aparece em relevos cananeus como a arma do deus Baal, e era, também, a arma usada pelo filisteu Golias “pendurada nas suas costas” (1Sm 17:6).
O Regulamento das trombetas: as trombetas de alarme para todo o seu serviço para o […] para seus homens comissionados, por dezenas de milhares e milhares e centenas, cinquenta e dez […] Nas trombetas das formações de batalha eles escreverão: “Formações das divisões de Deus para vingar sua ira sobre todos os filhos das trevas…”
Essas trombetas são descritas como sendo usadas para emitir sinais durante a batalha, para preparação, ataque, perseguição e reagrupamento, tudo contribuindo para a destruição do inimigo. Em outra seção, descrevendo a função dos sacerdotes e levitas nessa batalha, os levitas são instruídos a fazer soar os chifres [trombetas] em uníssono para desencorajar o inimigo.
Josué 8:30-31
Construção de um altar no monte Ebal
Então Josué construiu no monte Ebal um altar ao Senhor, o Deus de Israel, conforme Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado aos israelitas. Ele o construiu de acordo com o que está escrito no Livro da Lei de Moisés: um altar de pedras não lavradas, nas quais não se usou ferramenta de ferro. Sobreele ofereceram ao Senhor holocaustos e sacrifícios de comunhão.
O objetivo era renovar a aliança mosaica com a nova geração que não participou da experiência do monte Sinai. Essa ratificação da aliança foi importante na história do antigo Israel, e o local teve um significado religioso na vida nacional. Por essa razão, a preservação de tal sítio tão essencial era de se esperar.
Uma estrutura da Idade do Bronze Tardio (c. 1250 a.C.) foi descoberta no monte Ebal em 1980 pelo arqueólogo israelense Adam Zertal. Escavações da Universidade de Haifa e da Sociedade de Exploração de Israel de 1982 – 1989 revelaram que essa estrutura consistia de um repositório circular de pedra com uma favissa adjacente (uma área subterrânea, geralmente perto de locais sagrados, usada para armazenar utensílios sagrados que não eram mais usados) contendo martelos e um cálice. Ali perto havia lareiras espalhadas, gragmentos de cerâmica e grandes quantidades de cinzas e ossos de animais. Dois escaravelhos associados ao estrato do Bronze tardio eram de Tutmés II (décima oitava dinastia) e Ramessés II (décima nona dinastia), que ajudaram a fixar uma data entre meados e o final do século XIII para o estabelecimento do local. O sítio foi remodelado na Idade do Ferro I (c. 1200-1140 a.C), incluindo uma estrutura de pedras brutas (9 X 14m) cujo interior foi preenchido com camadas de ossos de animais (touros, ovelhas/cabras, veados), cinzas e cerâmica do Ferro I.
Alguns arqueólogos minimalistas contestam essa identificação, especialmente aqueles que negam uma história antiga para Israel e subsequentemente reinterpretam o local como uma aldeia, uma casa de fazenda e uma torre de vigia. No entanto, uma análise minuciosa dos dados arqueológicos de Raplh Hawkins apresentou um forte argumento em apoio à avaliação de Zertal e sua conexão com o relato bíblico. O trabalho de Hawkins (2012) criticou cada uma das propostas nos relatórios de escavação à luz do sistema Renfrew/Zevit de comportamentos correlatos para determinar as identificações cultuais, bem como a posição histórica e sociológica dessa estrutura entre os novos locais centrais de assentamento do país montanhoso na transição do Bronze tardio para a Idade do Ferro I. Portanto, à luz de sua localização central e a datação do Bronze Tardio, de seu uso expandido durante a Idade do Ferro I, de sua função cúltica estabelecida, e das declarações bíblicas em Deuteronômio e Josué (cf. 1Sm 1-10), a evidencia arqueológica parece favorecer que tenha sido esse o altar de Josué.
Juízes
Juízes 16:23, 25, 29-30
Sansão e o templo dos filisteus
Os líderes dos filisteus se reuniram para oferecer um grande sacrifício a seu deus Dagon e para festejar. Comemorando sua vitória, diziam: “o nosso deus entregou o nosso inimigo Sansão em nossas mãos”. […] com o coração cheio de alegria, gritaram: “Tragam-nos Sansão para nos divertir!”. E mandaram trazer Sansão da prisão, e ele os divertia […] Então Sansão forçou as duas colunas centrais sobre as quais o templo se firmava. Apoiando-se nelas, tendo a mão direita numa coluna e a esquerda na outra, disse: “Que eu morra com os filisteus!” em seguida ele as empurrou com toda a força, e o templo desabou sobre todos. Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida.
Alguns estudiosos têm rejeitado a historicidade de tais relatos heróicos, mas como resultado de escavações arqueológicas em áreas filifteias, a saga de Sansão recebeu maior palusibilidade. Escavções em Tell Qasile, no norte de Tel Aviv, e em Tem Miqne (antiga Ecrom), a 34 quilômetros ao sul de Tev Aviv, revelaram as ruínas de dois templos filisteus. Esses templos têm o mesmo projeto, uma antecâmara e salão principal com o seu telhado apoiado por dois pilares centrais feitos de madeira apoiada em bases redondas de pedra e colocados ao longo de um eixo central. Mais importante ainda, esses pilares são separados por uma distãncia de apenas dois metros. Esse projeto de construção torna possível para um homem alto deslocá-los de suas bases de pedra e derrubar toda a estrutura, exatamente como a narrativa bíblica registra. Infelizmente, o templo filisteu de Dagon em Gaza, derrubado por Sansão, não pode atualmente ser escavado porque está sob a cidade moderna. No entanto, com base nos exemplos arqueológicos que foram descobertos, há pouca dúvida de que ele possui as mesmas características.
O arqueólogo Aren Maeir, da Universidade Bar Ilan, também descobriu um templo filisteu e uma série de itens rituais que datam da Idade do Ferro (sé. X a.C.) no Parque nacional Tell ES-Safi. Esse templo também tem bases de pilares no santuário interno. De acordo com os sismólogos que examinaram o local, um grande terremoto derrubou o templo.
Rute
Rute 1:1
Primeiras evidências extrabíblicas de Belém de Judá
Na época dos juízes houve fome na terra. Um homem de Belém de Judá, com a mulher e os dois filhos, foi viver por algum tempo nas terras de Moabe.
A escavação arqueológica recente conduzida por Ronny Reich e Eli Shukron, em nome da Israel Antiquities Authority [Autoridade de antiguidades de Israel] descobriram na encosta leste da cidade de Davi, em Jerusalém, uma bula fiscal em argila com aproximadamente 2.700 anos de idade (um selo redondo afixado em um objeto) encontrada juntamente com os fragmentos de cerâmica da Idade do Ferro Tardia II. A escrita paleo-hebraica na bula dizia: “No sétimo (ano). Beit Lehem. Para o rei”. Parece que essa bula selou um carregamento particular enviado de Belém para o rei de Judá durante o sétimo ano de um rei de Judá, possivelmente Josias ou Manassés. Essa descoberta é sgnificativa porque é a primeira inscrição hebraica até agora descoberta que menciona a cidade bíblica de Belém.
1 Samuel 1:3
O Tabernáculo em Siló
Todos os anos esse homem subia de sua cidade a Siló para adorar e sacrificar ao Senhor dos Exércitos. Lá, Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli, eram sacerdotes do Senhor.
O sítio de Khirbet Seilun foi identificado pela primeira vez com as ruínas de Siló em 1838 pelo americano Edward Robinson. As primeiras escavações foram realizadas de 1926 a 1932 sob a direção de W. F. Albright, que descobriu que o local havia sido estabelecido no período do Bronze Médio II (sécs. XIX-XVIII a.C.). Israel Finkelstein conduziu escavações mais extensas de 1981 a 1984, tendo descoberto oito estratos que vão desde o Bronze Médio II até o período bizantino. Grandes pilhas de cerâmicas do período cananeu (2000-1100 a.C.) incluíam restos de sacrifícios de animais, indicando que o local tinha sido um centro de culto. Um prédio público israelense de dois andares da Idade do Ferro também continha restos de objetos cúlticos, levando à conclusão de que os israelitas haviam adotado a prática Cananéia anterior. Isso pode refletir o tipo de perversidade, condenada no texto bíblico, que levou à destruição de Siló, sendo usado como um aviso aos israelitas do século VI a.C.
Em 2010-2012, Hananya Hizmi conduziu escavações dentro uma quadra nivelada. Essas escavações revelaram buracos esculpidos ao longo dos lados do recinto que poderiam ter suportado postes de madeira como os usados no tabernáculo. Os ossos encontrados nessa área que datam do período bíblico são considerados os restos de sacrifícios trazidos ao tabernáculo. Além disso, as ruínas encontradas no canto sudoeste do muro indicam que o portão de entrada da cidade antiga ficava próximo, acrescentando à evidência arqueológica que esse era, de fato, o local do tabernáculo.
1 Samuel 17:12
Evidências arqueológicas do rei Davi
Davi era filho de Jessé, o efrateu de Belém de Judá. Jessé tinha oito filhos e já era idoso na época de Saul.
Minimalistas e revisionistas históricos já haviam argumentado que o “mito de Davi” seria uma criação literária, extraída de várias tradições heroicas para explicar a formação da monarquia de Israel ou que uma escola sacerdotal em torno do templo buscava uma base teológica para seu próprio conceito de governo divino. Razões para a falta de evidências decorrem da natureza limitada de evidências arqueológicas, especialmente quando se volta no tempo. Além disso, os israelitas, em contraste com seus vizinhos, escreveram principalmente em papiros a maioria de seus documentos judiciais e outros registros e, por isso, no clima mais úmido de Jerusalém, a cidade real de Davi, nenhum traço de tal material perecível poderia ter sobrevivido.
No entanto, em 1993-1994, três fragmentos de uma estela monumental foram descobertos no local de Tel Dã, nas colinas de Golã. Infelizmente, havia mais partes da estela que estavam faltando do que as que foram encontradas preservadas, e parece que o rei israelita que reconquistou Dã destruiu seus inimigos e usou aquela pedra como um bloco de construção. A maioria dos estudiosos atribuiu o texto ao usurpador aameu do séc. IX, Hazel, mas Avraham Biram, e George Athas, depois dele, atribuíram-no ao filho de Hazel, Bem-Hadade III, que teria atacado Dã (1Rs 15:20); e a data da inscrição atribuída em c. 796 a.C.
A linha notável na inscrição é aquela que contém uma referência ao rei de Israel e ao rei da “casa de Davi”. Aparece no contexto do assassinato dos reis israelitas e de Judá. Essas linhas, após a reconstrução, dizem: “Eu matei a Jeorão, filho de Acabe, rei de Israel, e matei Acazias, filho de Jeorão, rei da casa de Davi”. Essa foi a primeira aparição do termo “Davi” em um texto arqueológico e, dado o contexto, só poderia se referir ao progenitor histórico da linhagem davídica. Por dedução, se houvesse uma “casa de Davi”, deveria haver um “Davi” para ter uma casa.
Assim como as inscrições mais controversas, os epigrafistas estavam divididos sobre se isso era de fato uma referência a uma pessoa chamada Davi. Davies e outros argumentaram que não havia espaçamento entre as palavras, então o termo não seria para indicar um nome pessoal, mas o nome de um lugar. Entretanto, os epigrafistas Anson Rainey e Alan Millard, ambos especialistas em antigas inscrições em aramaico, argumentaram que havia muitos exemplos de palavras compostas ou nomes em que não havia espaçamento entre as palavras.
Adicionando fundamento à leitura a partir de um ponto de vista diferente, o epigrafista André LeMaire argumentou que a leitura de “Davi” na estela de Tel Dã lhe permitiu ler o nome “Davi” em uma antiga linha ilegível “casa de D…” na estela de Mesa (ou Pedra Moabita). No entanto, mesmo sem o nome de “Davi” explícito, esse memorial do século IX a.C. de Moabe, como a estela de Tel Dã, também contém outros nomes bíblicos, como Onri. A menção a Onri e Davi dentro e fora do texto bíblico mostra uma evidência de que eles não são ficções literárias.
2 Samuel
2 Samuel 5:10-12
O reinado de Davi, evidências arqueológicas para a primitiva história de Israel
E foi se tornando cada vez mais poderoso, pois o Senhor, o Senhor do Exércitos estava com ele. Pouco depois Hirão, rei de Tiro, enviou a Davi uma declaração, que trouxe toras de cedro e também carpinteiros e pedreiros que construíram um palácio para Davi. Então Davi teve certeza de que o Senhor o cnfirmara como rei de Israel e que seu reino estava prosperando por amor de Israel, o seu povo.
Os argumentos minimalistas ganharam apoio porque as evidências para esse período são consideradas esparsas e o que existia até então sugeria apenas um pequeno grupo tribal sem nenhuma declaração de que se tratava de um reino ou de um complexo de palácio e templo como dado nas narrativas de Samuel, Reis e Crônicas. A esse respeito, Jamieson-Drake afirmou em sua dissertação: “Há poucas evidencias de que Judá começou a operar como um estado antes dos tremendos aumentos na população, construção, produção, centralização e especialização que começaram a surgir no século VIII”. Da mesma maneira, os arqueólogos israelenses Israel Finkelstein e Neil Silberman declararam: “Nenhum vestígio da atividade literária judaica do século X foi encontrado […] À luz dessas descobertas, agora está claro que a Idade do Ferro em Judá não se apresentou como uma época de ouro precoce”.
No entanto, como observado, novas descobertas começaram a fornecer um novo suporte para um reino fortificado do século X, conforme descrito nas Escrituras. William Dever oferece a evidência arqueológica da dinastia davídica da inscrição de Tel Dã do século IX a.C., combinada com a evidência de um reino salomônico dos programas de construção em Jerusalém, Gezer, Hazor e Megido, e confirmada pela presença de louça polida à mão que antecedem os níveis de destruição resultantes da invasão de Sisaque. Os arqueólogos isaraelenses Ronny Reich e Eli Shukron descobriram muras e fortificações associadas à antiga cidade de Davi sobre a qual foram construídos, e que utilizaram os restos de fortificações cananeias e jebusitas anteriores, bem como sistemas de abastecimento de água. Escavações anteriores sob Yigal Shiloh revelaram uma enorme estrutura de doze andares de pedra escalonada do século XIII a.C., na qual Davi começou a construir sua cidade (2Sm 5:9). Essa estrutura fundamental pode ter servido como um muro de contenção reforçando a “Fortaleza de Sião” do rei Davi.
Existe uma cidade provincial na região do vale de Elá que está localizada a cerca de 30 quilômetros de Jerusalém. Sua proximidade com a cidade de Gederá e sua inclusão em uma lista bíblica (Js 15:36) e a descoberta de portões gêmeos no local identificaram-na como a cidade bíblica de Shaaraim. Esse é um detalhe significativo na sua identificação porque nenhuma outra cidade pequena desse período foi encontrada com essa estrutura de portões.
Os arqueólogos Yosef Garfinkel e Saar Ganor descobriram impressionantes fortificações e estruturas do local que datam do final do século XI até o início do século X a.C. As evidências para esse intervalo de datas surgiu da descoberta de uma grande despensa real que continha material orgânico, incluindo dezessete caroços de azeitonas carbonizados em um jarra de armazenamento. A datação por radiocarbono dos caroços fixou a camada de destruição entre 1018-948 a.C., confirmando que o depósito e as estruturas adjacentes foram construídos no tempo dos reinados de Davi e Salomão.
Outra evidência em favor de um reino judeu no século X no registro do Levante durante a Idade do Ferro IIA inclui inscrições monumentais, como a inscrição Byblian Shipitbaal (fenício), a estela Tel Dã (aramaico), a estela de Mesa (moabita) e a bilíngüe Tell Fekheriyeh (aramaico e acadiano). Inscrições em hebraico antigo do século IX foram encontradas em locais do Sul, como Arad, e locais do Norte, como Tel Tehov, e a inscrição do sarcófago de Ahiram é do século X.
2 Samuel 13:37-38
A localização de Gesur
Absalão fugiu para o território de Talmai, filho de Amiúde, rei de Gesus. E o rei Davi pranteava por seu filho todos os dias. Depois que Absalão fugiu para Gesus e lá permaneceu três anos.
Em 1989, sob a direção do arqueólogo Rami Arav, começaram as escavações no baixo Golã em busca da cidade de Betsaida, do Novo Testamento. Sob as ruínas de uma pequena vila de pescadores, ele descobriu um impressionante palácio da Idade do Ferro com um vestíbulo, sala principal e sala do trono cercados por oito quartos adicionais. Na década seguinte, as escavações revelaram o local de uma forma mais completa, com sua cidade baixa contendo um bairro residencial e a cidade alta com os prédios públicos e fortificações, incluindo um portal do século IX a.C., um dos mais preservados de Israel, com uma porta do século X a.C. e baluartes logo abaixo. O portão tem uma entrada externa e uma interna, com torres de cada lado, e é dividido por uma grande praça pavimentada. Todo o trabalho arquitetônico é feito de pedra de basalto local, embora os celeiros conectados com o portão fossem feitos de tijolos secos ao sol, com quase três metros de espessura. No lado de fora do portão interno estão nichos com dois degraus que levam a um tanque de pedra de basalto, onde foram descobertos dois queimadores de incenso. O uso aparente dessas estruturas parece ter sido dedicado a oferendas e libações cúlticas. Nesse lugar foram encontrados os restos de uma estela de basalto da Idade de Ferro representando a figura de cabeça de touro do deus da lua, Sin, da Mesopotâmia, brandindo um punhal. A presença dessa antiga divindade do Oriente Médio em Israel demonstra a repetida acusação bíblica da idolatria do reino do Norte, que a religião de um reino tão poderoso teria, indubitavelmente, influenciado.
2 Samuel 21:20
Evidências arqueológicas de polidactilismo no mundo antigo
Noutra batalha, em Gate, havia um homem de grande estatura e que tinha seis dedos em cada mão e seis dedos em cada pé, vinte e quatro dedos ao todo. Ele também era descendente de Rafa.
O registro arqueológico fornece numerosos exemplos de polidactilia. Em um templo neolítico (c. sexto milênio a.C.) em Jericó e no local de ‘Ain Ghazal na Jordânia, foram encontradas estátuas de terracota que tinham seis dedos. Dois exemplos de polidactilia do século XIII a.C. aparecem em sarcófagos de argila em estilo semelhante ao egípcio encontrado em Deir El-Balah. Um, no museu de Israel, retrata um homem com seis dedos em sua mão esquerda, enquanto outro, escavado por Trude Dothan, não apresenta muitos detalhes, mas deveria ser polidáctilo. Há também uma estátua fragmentária que retrata um egípcio da décima terceira dinastia (c. 1783-1640 a.C) descoberta perto de Akko que mostra seis dedos em sua mão direita.
1 Reis
1 Reis 4:21; 2 Crônicas 9:26
Evidências do reino de Salomão
E Salomão governava todos os reinos, desde o Eufrates até a terra dos filisteus, chegando até a fronteira do Egito. Esses reinos traziam tributos e foram submissos a Salomão durante toda a sua vida. (1Rs 4:21)
Essas passagens indicam que Salomão governou desde o rio Eufrates até a Filístia e a fronteira do Egito. Alguns estudiosos afirmam que o reino de Salomão não poderia ter hegemonia sobre reinos tão poderosos como o Egito ao sul e a Assíria ao norte.
Como uma evidência do reino de Salomão na capital de Jerusalém, em 2010, uma muralha da cidade com uma guarita datando do final do século X a.C. foi descoberta em Ofel. De acordo com Eilat Mazar, o arqueólogo que escavou o local, esse muro provavelmente está ligado à cidade de Davi e se encaixa com a descrição bíblica de que o rei Salomão construiu uma linha de fortificação em torno de suas novas construções do templo e do palácio do rei.
1Reis 5-8
A construção do Primeiro Templo e seus paralelos
no Oriente Médio
Por ordem do rei retiravam da pedreira grandes blocos de pedra de ótima qualidade para servirem de alicerce de pedras lavradas para o templo. Os construtores de Salomão e de Hirão e os Homens de Gebal cortavam e preparavam a madeira e as pedras para a construção do templo […] O rei Salomão enviara mensageiros a Tiro e trouxera Hurão, filho de uma viúva da tribo de Naftali e de um cidadão de Tiro, artífice em bronze. Hurão era extremamente hábil e experiente, e sabia fazer todo tipo de trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e fez depois todo o trabalho que lhe foi designado […] Também fez os jarros, as pás e as bacias para aspersão. Assim, Hurão completou todo o trabalho de que fora encarregado pelo rei Salomão, no templo do Senhor. (1Rs 5:17-18; 7:13-14,40)
Uma evidência arqueológica adicional que força a data do Primeiro Templo para o século X foi a descoberta de pequenos objetos rituais em Khirbet Qeiyafa. Esses artefatos assumem a forma de santuários de cerâmica em formato de caixa que antecedem a construção salomônica, mas possuem vários elementos de projeto arquitetônico que são paralelos a descrição bíblica. Enquanto cerca de 20 termos arquitetônicos não são mais conhecidos em hebraico, como slaot, antes entendido como “colunas”, os santuários de Khirbet Qeiyafa revelaram o significado desses dois termos. Agora entende-se que slaot corresponde a tríglifos (decorações ornamentais acima das colunas), e sequphim se refere a uma porta tripla embutida. Essa descoberta arqueológica mudou a maneira como os estudiosos bíblicos imaginam o Primeiro Templo, não apenas permitindo que dois dos 20 termos fossem identificados, mas também situando a construção do Primeiro Templo no tempo do reinado de Salomão, como a Bíblia afirma.
Embora existam poucos exemplos de templos fenícios, um templo fenício dois séculos mais antigos que o Primeiro Templo foi escavado em Hazor. Os melhores exemplos do estilo salomônico foram encontrados em Tel Ta’yinat e Ain Dara, na Síria. Desses exemplos, os melhores paralelos são aqueles preservados no templo Ain Dara. Como não existem ruínas conhecidas do Templo de Salomão e as descrições bíblicas contêm muitos termos arquitetônicos que são incertos, o exemplo arqueológico do templo Ain Dara pode proporcionar o melhor meio de reconstruir o Primeiro Templo.
1 Reis 11:4,8
Evidências de centros de culto pagão no século IX a.C.
À medida que Salomão foi envelhecendo, suas mulheres o induziram a voltar-se para outros deuses, e o seu coração já não era totalmente dedicado ao Senhor, o seu Deus, como fora o coração do seu pai Davi […] Também fez altares para os deuses de todas as suas outras mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam
sacrifícios a eles.
Há ruínas de apenas alguns prédios rituais da Judá do século IX; no entanto, o mais significativo deles é um centro de culto de 2.750 anos descoberto em Tel Motza, identificado com a cidade bíblica de “Moza” nas terras tribais de Benjamin, na fronteira com Judá (Js 18:26).
1 Reis 6:1-2; 2 Crônicas 3:1
Evidências arqueológicas do Primeiro Templo (salomônico)
Quatrocentos e oitenta anos depois que os israelitas saíram do Egito, no quarto ano do reinado de Salomão em Israel, no mês de zive, o segundo mês, ele começou a construir o templo do Senhor […]. Então Salomão começou a construir o templo do Senhor em Jerusalém, no monte Moriá, onde o Senhor havia aparecido a seu pai Davi, na eira de Araúna, o jebuseu, local que havia sido providenciado por Davi.
Como o acesso arqueológico ao local hoje é restrito em razão de delicadas questões religiosas e políticas, tem sido impossível escavar no local onde se suspeita que os antigos templos foram construídos. Além disso, a escola minimalista, representada por Israel Finkelstein, desconsidera a possibilidade arqueológica do Primeiro Templo, alegando que as realizações do edifício atribuídas a Salomão foram uma invenção do século VIII a.C., e que uma Jerusalém e um templo da magnitude descrita na bíblia não existiram. No entanto, as escavações israelenses em Ofel produziram descobertas relacionadas ao Primeiro Templo e a construção islâmica no monte do Templo revelou, acidentalmente, dados arqueológicos cruciais para entender sua estrutura e localização.
Em 2010, o arqueólogo israelense Eilat Mazae descobriu enormes fortificações na extremidade de Ofel, justamente ao sul do monte do Templo. Estas incluem um portão monumental e uma grande seção de muro na linha de fortificação da cidade antiga que foi traçada até um comprimento de 70 metros ao redor do monte do Templo. De acordo com Mazar, sua descoberta de cerâmica, bulas e selos agora torna possível confirmar uma data do século X, incluindo uma estrutura real adjacente e uma torre de cerca de seis metros de altura.
Esse local, embora distante de Jerusalém, na periferia de Judá, no entanto, tem todos os traços de um centro administrativo (possivelmente a localidade bíblica de Gederá ou Netaim, cf. 1Cr 4:23). Se uma vila tão pequena era desenvolvida no século X a. C., não pode haver dúvida de que a capital, Jerusalém, era muito bem desenvolvida, como atestam as Escrituras.
Em 2006, trabalhadores da construção civil do waqf islâmico estavam consertando um cabo elétrico no monte do Templo, não muito longe do local onde fica o Domo da Rocha muçulmano. Durante a construção, eles cortaram numerosas trincheiras compridas no aterro sob as lajes que estão na plataforma atual. Em uma dessas trincheiras, foi observada (e fotografada) uma antiga muralha. Dos escombros ao redor da parede foram recuperados do local cacos que datam até o século VIII a.C. Entre os fragmentos, estavam os restos de vasos usados para retirar óleo. O local desses achados em relação a uma colocação conjeturada no local do Primeiro Templo levou Leen Ritmeyer, antigo arquiteto sob a supervisão de Benjamim Mazar, das escavações arqueológicas abaixo do monte do Templo, a propor que a muralha fazia parte da câmara da casa do óleo, onde o azeite usado nos serviços do templo era armazenado.
Outra evidência para o Primeiro Templo veio de material de inscrição encontrado em escavações. Dezenas de bulas de barro (pequenos selos estampados com o nome do remetente e anexados a documentos) foram descobertas nas escavações de Ofel e nas proximidades em uma sala na área G da Cidade de Davi que havia sido queimada na destruição do Primeiro Templo em Jerusalém. Muitos nomes pessoais mencionados em Jeremias e Crônicas são atestados nas bulas, incluindo o de “Azarias, filho de Hilquias”, que era um membro da família de sumo sacerdotes que oficiava no final do período do Primeiro Templo (1Cr 9:10). Em 2008, um complexo administrativo do período do Primeiro Templo (sécs. IX-VIII a.C.) foi descoberto na parte noroeste da praça do Muro das lamentações que fica ao lado do monte do Templo. No piso desses edifícios foram encontrados selos e bulas com inscrições. Um dos selos trazia a inscrição: “[pertencente] a Netanyahu bem Yaush”. O nome bíblico “Netanyahu” aparece várias vezes em Jeremias e Crônicas, e o nome “Yaush” é encontrado nas Cartas de Láquis (a cidade destruída pelo monarca assírio, Senaqueribe, que ameaçou sitiar Jerusalém, 2Rs 19-20; 2Cr 32, Is 37).
2 Reis
2 Reis 10:34
Representação assíria do rei Jeú
Os demais acontecimentos do reinado de Jeú, todos os seus atos
e todas as suas realizações, estão escritos nos registros históricos
dos reis de Israel.
O texto acima menciona os atos do rei Jeú no livro bíblico de Crônicas, mas esses são eventos selecionados e não indicam e não incluem detalhes da submissão do rei à Assíria, que na época exercia domínio sobre Israel. A arqueologia pode muitas vezes fornecer tais detalhes históricos a partir de inscrições extra bíblicas.
Os assírios procuraram expandir seus territórios através da guerra, então Israel se juntou numa coalizão com Damasco e confederações locais para se opor `Assíria. A coalizão fracassou, mas nessa época Jeú, anteriormente um líder militar, derrubou a dinastia de Onri e usurpou o trono (2Rs 9:3-6). Em 841 a.C., Salmaneser invadiu a Síria e forçou Hazael (de Damasco) a lhe pagar tributo. Em vez de resistir à Assíria, Jeú submeteu-se a ela e obteve sua proteção, especialmente contra Hazael, que já temia fazer mais provações a Salmaneser III. O pagamento feito por Jeú ao monarca assírio representado no Obelisco negro está ausente do relato bíblico em suas façanhas. Salmaneser III também não é explicitamente mencionado na Bíblia.
2 Reis 19:23-36/ 2Crônicas 32:21-22/Isaías 37:36-37
O cerco assírio a Jerusalém
No décimo quarto ano do rei Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, atacou todas as cidades fortificadas de Judá e as conquistou […] “Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: ‘Ele não invadirá esta cidade nem disparará contra ela uma só flecha. Não a enfrentará com escudo nem construirá rampas de cerco contra ela. Pelo caminho por onde veio voltará; não invadirá esta cidade’”, declara o Senhor. (2Rs 18:13; 19:32-33)
Uma evidência para a historicidade desse relato vem das ruínas das defesas de Ezequias levantadas contra a invasão assíria. Quando os assírios se aproximaram de Jerusalém, Ezequias fortificou a recém-ampliada, porém ainda fraca, defesa na colina oeste da cidade. O registro do esforço de Ezequiel é encontrado em Crônicas: “Depois, com grande empenho reparou todos os trechos quebrados do muro e construiu torres sobre ele. Construiu outro muro do lado de fora do primeiro […]” (2Cr 32:5). Parte das estruturas de fortificação foram descobertas em escavações no bairro judeu. Uma das torres e uma parte do muro foram descobertas preservadas a uma altura de aproximadamente dois metros. O novo muro exterior construído por Ezequias foi descoberto pelo arqueólogo israelense Nahman Avigad durante suas escavações no bairro judeu (1969-1982). Esse muro é chamado de “Muro amplo” por causa de sua largura de sete metros. Essa espessura extrema era necessária para resistir aos terríveis aríetes do exército assírio.
No entanto, mais evidências vieram da arqueologia para este evento – dessa vez dos assírios. Em 1830, o coronel britânico R. Taylor encontrou um cilindro hexagonal em Nínive, que registrou a campanha de Senaqueribe em Israel. O Prisma de Taylor (outras cópias em outras localidades são conhecidas como o Prisma de Ninrode e o Prisma do Istituto Oriental) apresenta o relato da Assíria sobre o cerco de Jerusalém e do posterior pagamento do tributo do rei Ezequias, mas a narração omite qualquer menção sobre a conquista de Jerusalém.
2 Reis 25:27-30
Porções babilônicas
No trigésimo sétimo ano do exílio de Joaquim, rei de Judá, no ano em que Evil-Merodaque se tornou rei da Babilônia, ele tirou Joaquim da prisão, no vigésimo sétimo dia do décimo segundo mês. Ele o tratou com bondade e deu-lhe o lugar mais honrado entre os outros reis que estavam com ele na Babilônia. Assim, Joaquim deixou suas vestes de prisão e pelo resto de sua vida comeu à mesa do rei. E diariamente, enquanto viveu, Joaquim recebeu uma pensão do rei.
Diversos tabletes de argila foram encontrados por Robert Koldewey em um arquivo real do rei Nabucodonosor perto do Portão de Istar durante sua escavação da Babilônia em 1899-1917. Esses tabletes, datados de 595-570 a.C., agora conhecidos como as Crônicas Babilônicas, detalham as porções que eram dadas aos prisioneiros babilônicos. Quatro desses tabletes listam as porções de óleo e cevada concedidas doas armazéns reais a vários indivíduos, incluindo o rei Joaquim, de Judá, deposto por Nabucodonosor.
2 Crônicas 20:14-15
Zacarias, filho de Benaia
Então o Espírito do Senhor veio sobre Jaaziel, filho de Zacarias, neto de Benaia, bisneto de Jeiel e trineto de Matanias, levita e descendente de Asafe, no meio da assembléia. Ele disse: “Escutem, todos os que vivem em Judá e em Jerusalém e o rei Josafá! Assim lhes diz o senhor: ‘Não tenham medo nem fiquem desanimados por causa desse exército enorme. Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus.
A escavação arqueológica forneceu evidências históricas para o profeta mencionado nesse relato em uma inscrição de escavações conduzidas pela Israel Antiquities Authority [Autoridade de antiguidades de Israel] na área da fonte de Giom, na cidade de Davi. Nas ruínas de muros do período do Primeiro Templo nesse local, que evidenciam a destruição pela conquista babilônica, um fragmento de uma tigela de cerâmica foi desenterrado. A inscrição parcial no hebraico antigo apresenta uma grafia incorreta do nome Benaia, bem riyhu. Isso se assemelha ao nome bíblico da figura do século VII a.C. Zacarias, filho de Benaia, pai do profeta Jaaziel. A data epigráfica dessa inscrição (sécs. VIII-VII a.C.) se encaixa nesse período.
2 Crônicas 26:23
O epitáfio de Uzias
Uzias descansou com os seus antepassados e foi sepultado perto deles, num cemitério que pertencia aos reis, pois o povo dizia: “Ele tinha lepra”. Seu filho Jotão foi o seu sucessor.
Em 1931, em uma coleção de artefatos no convento russo no monte das Oliveiras, o professor da Universidade Hebraica, E. L. Sukenik, descobriu uma placa de mármore inscrita em uma linguagem hebraica que a datava no período de 30-70 d.C. o artefato conhecido como o Tablete de Uzias diz: “Para aqui foram trazidos os ossos de Uzias, rei de Judá. Não deve ser aberto!” Embora essa marcação de tempo tenha sido muito mais recente, cerca de 700 anos depois, para ser anexada ao túmulo original, as autoridades judaicas não teriam criado tal cópia a menos que houvesse um original que estivesse associado ao sepultamento real. Acredita-se que em algum momento durante o período do Segundo Templo os ossos de Uzias foram movidos para outro local e que esse marcador foi feito em relação ao novo sepultamento.
2 Crônicas 36/ Esdras 1
Textos paralelos e linhas de captura em textos antigos do Oriente Médio
O texto de 2 Crônicas 36:22-23 termina com o anúncio do monarca persa, permitindo que os exilados judeus voltassem para Judá:
No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor anunciada por Jeremias, o Senhor tocou no coração de Ciro, rei da Pérsia, para que fizesse uma proclamação em todo o território de seu domínio e a pusesse por escrito, nestes termos: “Assim declaro eu, Ciro, rei da Pérsia: ‘O Senhor, o Deus dos céus, deu-me todos os reinos da terra e designou-me para construir um templo para ele em Jerusalém, na terra de Judá. Quem dentre vocês pertencer ao seu povo vá para Jerusalém, e que o Senhor, o seu Deus, esteja com ele’”. (2 Cr 36:22-23)
O livro de Esdras começa neste ponto e, juntamente com o livro de Neemias, registra o restante da história do retorno de um remanescente judaico e a reconstrução do Templo de Jerusalém e das muralhas da cidade. No entanto, o leitor desses versículos no final de 2 Crônicas e no início de Esdras (1:1-3) observa que há uma repetição do texto. Esse não foi um erro eventual cometido por uma copista, mas era usado como um dispositivo técnico intencional empregado por escribas antigos em longas composições literárias que exigiam vários pergaminhos para conter todo o seu trabalho (antes era possível juntar alguns pergaminhos). Aparentemente, a composição das Crônicas atingira a extensão máxima de um pergaminho naquele momento e exigia um pergaminho adicional para completar o registro. Conhecidas como linhas de captura, essas repetições ajudavam os leitores a conectar corretamente o final de um rolo com o próximo e continuar a leitura.
O compilador dessa narrativa foi forçado a fazer essa divisão naquele momento apenas pela necessidade imposta a ele pela limitação de seus materiais de composição.
Esdras
Esdras 2:1, 46
O selo de Hagabe
Esta é a lista dos homens da província que Nabucodonosor, rei da Babilônia, tinha levado prisioneiros para a Babilônia. Eles voltaram para Jerusalém e Judá, cada um para a sua própria cidade […] Hagabe.
A Bíblia tem muitas listas nos livros históricos. Elas tinham o propósito de prover registros para o Israel nacional traçar e preservar suas linhas genealógicas. Os judeus que aceitaram o desafio e fizeram a jornada difícil e perigosa para Jerusalém foram 49.897 pessoas. Um dos muitos nomes nessa longa lista era a família de Hagabe, um nome perdido na história, exceto por uma descoberta arqueológica que destacou seu nome. A descoberta foi feita em escavações sob a direção da Israel Antiquities Authority, na parte noroeste da praça do Muro das Lamentações, em Jerusalém. A escavação visava à recuperação de objetos, conduzida porque um novo departamento de polícia estava sendo construído sobre o local e a remoção do prédio anterior tornou possível um raro olhar para esse importante local perto da antiga Cidade Alta, nas proximidades do monte do Templo.
No curso das escavações, que terminaram nas pedras de pavimentação do lado oriental, colocadas pelo imperador romano no século II d.C., num canto das escavações descobriu-se que a estimativa havia caído do período bizantino para o século VII a.C., o tempo em que os reis Manassés e Josias reinaram. Os escavadores descobriram que as grandes pedras de pavimentação da rua romana estavam faltando naquele lugar, e conseguiram penetrar no material da Idade do Ferro, abaixo. Ali encontraram um cômodo com paredes de 8,25 metros de altura. A alta qualidade de usa construção e os artefatos descobertos dentro do aposento indicam que o edifício e, especialmente seus habitantes, tinham um status ,uito importante em Jerusalém no final do período do Primeiro Templo. Ali foram achadas dez alças de jarros de armazenamento de óleo e vinho que estavam marcadas com impressões reais, e no chão foram encontrados um número de selos hebraicos de indivíduos que ocupavam cargos públicos. A partir dessa evidência, determinou-se que esse era um complexo administrativo ligado ao Primeiro Templo. Um dos selos descobertos, uma pedra preta de forma elíptica (1,2 x 1,4 cm), pertencia a um indivíduo em particular e era adornada com a imagem de um arqueiro atirando arco e flecha. O nome do arqueiro na antiga escritura hebraica ao lado da imagem indica lhgb, que significa “pertencente a Hagabe”.
Neemias
Neemias 2:13-15 a
O muro de Neemias
De noite saí pela porta do Vale na direção da fonte do Dragão e da porta do Esterco, examinando o muro de Jerusalém que havia sido derrubado e suas postas, que haviam sido destruídas pelo fogo. Fui até a porta da Fonte e do tanque do Rei, mas ali não havia espaço par o meu animal passar; por isso subi o vale, ainda de noite, examinando o muro.
Essa passagem nos dá um vislumbre da maneira como o grande administrador, Neemias, ajudou seu povo a reconstruir as muralhas da cidade em tempo recorde, apenas 52 dias.
Embora as evidências sejam escassas, os arqueólogos afirmam ter encontrado restos de construção de muros no templo de Neemias. A “esquina do muro” mencionada em Neemias 3:19 foi identificada no cume oriental pelo escavador francês Charles Clermont-Ganneau, R. Weill e Yigael Shiloh, e um fragamento dele ainda é visível hoje. Os arquitetos arqueólogos Leen e Kathleen Ritmeyer chamam a atenção para o nível mais baixo de pedras com saliências rudes em um trecho da muralha da cidade ao norte do atual Portão Dourado e identificam esse trecho como parte do posto de vigia mencionado em Neemias 3:31. O arqueólogo da Universidade Hebraica, Eilat Mazar, que escavou a parte setentrional da cidade de Davi, encontrou parte da muralha de Neemias no último declive, em conjunção com alguns selos inscritos com nomes bíblicos, dois dos quais mencionam os nomes Gedalias, filho de Pasur, e Jucal, filho de Selemias, os dois homens que lançaram o profeta Jeremias numa cova. Ao escavar a Torre Norte, uma das torres que se fundamentam na encosta leste, perto da estrutura que ele identifica como o palácio do rei Davi, foram descobertas duas covas para cães.
Ester
Ester 1:1
A inscrição de Xerxes de Persépolis
Foi no tempo de Xerxes […]
Os escritos gregos e uma inscrição cuneiforme encontrada em Persépolis, redigida pelo próprio Xerxes, também reafirmam sua busca pela coroa: “Disse o rei Xerxes: Outros filhos de Dario lá estavam (mas) – assim com o desejo de Ahuramazda – Dario, meu pai, me fez o maior […] depois de si mesmo. Quando meu Pai Dario se afastou do trono [morreu], pela vontade de Ahuramazda eu me tornei rei assumindo o trono de meu pai”. Esses achados arqueológicos lançaram mais luz sobre uma figura importante na história judaica que teve um papel significativo na preservação do povo de deus ao golpe de Hamã contra os judeus.
4 – Oriente Médio em relação a Bíblia
Comparativo da literatura de Sabedoria na Bíblia e os documentos do Antigo Oriente Médio
Eles ajudarão a experimentar a sabedoria e a disciplina; a compreender as palavras que dão entendimentos; a viver com disciplina e sensatez, fazendo o que é justo, direito e correto; ajudarão a dar prudência aos inexperientes e conhecimento e bom senso aos jovens. Se o sábio lhes der ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discernimento obterá orientação para compreender provérbios e parábolas, ditados e enigmas dos sábios. (Pv 1:2-6)
O gênero da literatura de sabedoria geralmente se refere aos livros hebraicos de Jó, Provérbios e Eclesiastes, embora também haja salmos de sabedoria. E. I. Gordon propôs que ela deveria ser reconhecida como um termo genérico abrangendo amplamente as várias culturas do Oriente Médio, cujo conteúdo literário está relacionado, de alguma forma, com a vida e a natureza e a avaliação que o homem faz delas com base em sua observação direta ou percepção.
A origem da literatura de sabedoria tem sido explicada de forma variada pelos estudiosos. O pressuposto geral da erudição é que (especialmente no que diz respeito a Israel) a tradição oral preservou esse corpo de literatura dentro da comunidade antes de assumir uma forma fixa. Frequentemente são feitas comparações com aqueles provérbios e ditos espalhados nos livros históricos do Antigo Testamento. A antiguidade dos aforismos proverbiais foi documentada por sua inclusão em alguns dos tabletes descobertos nos arquivos reais em Tell Mardikh (Ebla), que são datados com base na paleografia de seus textos literários em cerca de 2450 a.C.
Essa evidência de uma história antiga, juntamente com o escopo internacional da literatura de sabedoria, indica que alguma espécie de transmissão da tradição de sabedoria aconteceu através das fronteiras do tempo e da geografia. A erudição moderna sugeriu que essa transmissão era feita pela família (ou tribo) ou que era comunicada didaticamente por sábios em “escolas de sabedoria”, profissionais ou palacianas. A prova para esta última é oferecida em Provérbios 25:1, que descreve os “homens de Ezequias [rei]” como tendo desempenhado um papel na transmissão do trabalho.
Textos comparativos da sabedoria do Antigo Oriente Médio
A literatura de sabedoria bíblica compartilha pontos significativos de comparação com a literatura de sabedoria que existia anteriormente no contexto do Antigo Oriente Médio e que Deus usou como um meio para se comunicar com seu povo. Descobertas arqueológicas de arquivos do Antigo Oriente Médio proporcionaram uma riqueza de tabletes cuneiformes contendo as composições literárias das civilizações que ocupavam essa região.
Os escritores mais antigos são do período clássico sumério (c. 2500-200 a.C.), seguidos por um período de influência semítica através dos acádios, que assumiram o controle da Suméria no último quarto do terceiro milênio (c. 2300-200 a.C.). Essas ultimas inscrições acadianas, mas redigidas na escrita suméria. Esse período foi seguido por um “Renascimento sumério” na terceira dinastia de Ur (c. 2000-1900 a.C.). Durante o período cassita (c. 1500-1200 a.C.), a literatura babilônica desenvolveu-se e os textos sumérios foram copiados e fornecidos com uma tradução babilônica.
A arqueologia, ao prover tantos exemplos de literatura de sabedoria do Antigo Oriente Médio, nos permite compreender que as escolas de sabedoria e o conhecimento dos sábios em Israel não eram isolados do contexto literário das civilizações que os cercavam. Embora as observações práticas da vida e relacionamentos humanos sejam compartilhadas e, portanto, formem a base para o estilo e formato comum nas composições bíblicas, a descontinuidade aparece na orientação teológica, que difere em relação à fonte da sabedoria e seu propósito final para a humanidade, e Israel em particular.
Jó
Jó 28:1-11
Mineração de cobre em Timna
Existem minas de prata e locais onde se refina ouro. O ferro é extraído da terra, e do minério se funde o cobre. O homem dá fim à escuridão e vasculha os recônditos mais remotos em busca de minério, nas mais escuras trevas. Longe das moradias ele cava um poço, em local esquecido pelos pés dos homens; longe de todos, ele se pendura e balança. A terra, da qual vem o alimento, é resolvida embaixo como que pelo fogo; das suas rochas saem safiras, e seu pó contém pepitas de ouro. Nenhuma ave de rapina conhece aquele caminho oculto, e os olhos de nenhum falcão o viram. Os animais altivos não põe os pés nele, e nenhum leão ronda por ali. As mãos dos homens atacam a dura rocha e transtornam as raízes das montanhas. Fazem túneis através da rocha, e os seus olhos enxergam todos os tesouros dali. Eles vasculham as nascentes dos rios e trazem à luz coisas ocultas.
Na década de 1930, o arqueólogo Nelson Glueck foi um dos primeiros a fazer um levantamento sistemático das minas de cobre em Timna e datá-las no século X a.C. (a época de Salomão); daí elas foram rotuladas como “Minas do rei Salomão”. Arqueólogos descobriram as ruínas de campos usadas como locais para a fundição de cobre. Um desses campos escavados continha uma série de ferramentas, como martelos, bigornas e pilhas de escória e poços de carvão. Também foi descoberto um pátio central com uma cova de armazenamento em pedra que continha os nódulos de minério de cobre que seriam esmagados em uma plataforma de pedra.
Salmos
Salmo 4
O uso de instrumentos de cordas
Para o mestre de música. Com instrumentos de cordas. Salmo davídico. (Epígrafe)
“A lei foi definida para ocasiões especiais e para o ritual de adoração, mas foi Davi quem preparou o caminho para o louvor completo e glorioso a Deus no culto, não apenas organizando os grupos de cantores e músicos, mas também escrevendo muitos salmos que se tornaram parte do hinário [de Israel]”.
O significado exato do substantivo é incerto, pois pode se referir genericamente a todos os instrumentos de corda.
Há uma quantidade expressiva de evidências arqueológicas sobre a lira na arte antiga. Grande parte da arte é apresentada em cerâmica, relevos e selos. Destacam-se os selos que retratam a lira topi. Um deles é o selo Haifa, que “representa uma lira simétrica angular do tipo Tel Batash que na verdade é um escaravelho de bronze (típico do norte da Palestina). O selo Haifa retrata um tocador de lira sentado com alguém que provavelmente é uma dançarina tocando um tambor. Esse tema é certamente compatível com o grupo lírico e, sem dúvida, deriva da dupla feminina e masculina de cordofone e membranofone empregada nos cultos de orgia da antiga Babilônia”.
Salmos 18:10
Yahweh, cavaleiro das nuvens
Montou um querubim e voou, deslizando sobre as asas do vento.
A obra explica que o tema deste salmo é duplo: “o salmista, em perigo mortal, clama por ajuda, e Deus parece livrá-lo do perigo. Mas num sentido amplificado, todo o tema recebeu uma dimensão cósmica; essa dimensão foi alcançada pela utilização da linguagem enraizada na mitologia do Oriente Médio, mas que foi transformada para expressar a libertação so senhor de seu servo humano” de um modo polêmico.
Mot e Yam são representados como os deuses da morte e do mar, que muitas vezes são personificados como símbolo do caos tanto na literatura do Antigo Oriente Médio como no Antigo Testamento.
Achados arqueológicos são importantes porque ajudam os leitores contemporâneos da Bíblia a descobrir a plenitude de seu significado, a construir uma apologética para sua historicidade e evitar sua má interpretação pela imposição de ideias culturais modernas aos textos bíblicos mais enigmáticos.
Salmos 22:16
Classificação a partir do texto dos Manuscritos do mar Morto
Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés.
Foi descoberto um texto hebraico dessa passagem em uma das cavernas do Mar Morto em Nahal Hever. Esse texto (5/6 Hb 11.9) claramente é lido como um verbo, ka’aru (“eles cavaram/perfuraram”). Não há evidência, como alguns argumentaram, de que judeus ou cristãos tenham adulterado o texto. É mais provável que em um dos manuscritos usados pelos massoretas à tinta tenha se degradado na consoante waw, de modo que ela foi lida por um escriba como um yod, resultando na palavra sendo lida como um substantivo em vez de um verbo.
Salmos 62:6-8
A petição de Davi e as cavernas de Em-Gedi
Somente ele é a rocha que me salva; ele é a minha torre alta! Não serei abalado! A minha salvação e a minha honra de Deus dependem; ele é e minha rocha firme, o meu refúgio. Confie nele em todos os momentos, ó povo; derrame diante dele o coração, pois ele é o nosso refúgio.
Escavações foram realizadas entre 1963-1965 por Yigael Yadin e renovadas por outros nas décadas seguintes. Como Massada, Em-Gedi é um local remoto e inacessível situado no deserto da Judeia, mas em uma nascente natural que fornece proteção abundante e refúgio seguro ideal para um homem em fuga (Sl 104; 1Sm24:2-3; Jó 39:28).
O antigo sítio arqueológico de Em-Gedi, localizado na encosta ocidental do mar Morto (perto das cavernas de Qumran), passou por numerosas escavações que demonstraram que o local foi ocupado desde os períodos mais antigos. A habitação mais antiga é evidenciada na descoberta de um lugar elevado e templo calcolítico que se estende até o final do período da Revolta de Bar Kokba (132-135 d.C.). No caso desse período posterior, uma pesquisa arqueológica realizada pelo Instituto de arqueologia e da Unidade de pesquisa das cavernas em 2001-2004, encontrou um conjunto de cavernas em um penhasco de frente para o mar Morto, que havia sido usado como refúgio para esses soldados judeus. As cavernas de refúgio ofereceram vários resquícios desse período, incluindo moedas, cerâmicas, objetos de vidro e armas. Com base no tamanho das cavernas e na quantidade de achados encontrados dentro delas, pode-se estimar que dezenas de refugiados fugiram para elas em 135 d.C. A natureza e variedade dos achados sugerem que famílias e guerreiros armados estavam entre os refugiados que buscavam segurança nessas cavernas remotas e isoladas. Tais descobertas arqueológicas revelam como Davi encontrou segurança nessas cavernas enquanto seus inimigos o caçavam e a razão o motivo pelo qua ele poderia invocar o Senhor como sua rocha e salvação no Salmo 62:2 (cf. Sl 18:2).
Provérbios
Provérbios 22:6
Evidência arqueológica sobre instrução infantil
Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles.
Essa passagem ensina a respeito da metodologia dos pais com as palavras “começar” e “filhos”, termos que têm um histórico significativo em documentos do Antigo Oriente Médio. O na’ar (“criança”) via a sua iniciação com uma celebração; status e responsabilidade têm objetivo mais amplo do que simplesmente designação de idade. Um estudo de John MacDonald, baseado em uma análise de centenas de usos ugaríticos e hebraicos, demonstrou que a ideia de “criança” com foco na idade é insuficiente para entender quem era o na’ar.
Cantares de Salomão
Poemas de amor do Antigo Oriente Médio
Cantares de Salomão tem uma estrutura complexa e muitos dispositivos poéticos.
Parte das canções de amor Dumuzi-Inanna, foi encontrado em escritos antigos em todo o Antigo Oriente Médio, especialmente no Egito, onde a fertilidade era uma grande preocupação. Esse poema consiste em uma linguagem erótica que expressa os desejos da mulher pelo rei Shu-sin e pode ter sido cantado durante as cerimônias rituais que celebravam o casamento divino entre a deusa e o deus Dumuzi. Vários poemas seculares encontrados em outras culturas do Antigo Oriente Médio podem ser comparados a eles.
5 – Arqueologia e os profetas
Isaías
Isaías 20:1-2
Sargom II, rei da Assíria
No ano em que o general enviado por Sargom, rei da Assíria, atacou Asdode e a conquistou, nessa mesma ocasião o Senhor falou por meio de Isaías, filho de Amoz, e disse: “Tire o pano de saco do corpo e as sandálias dos pés”. Ele obedeceu, e passou a andar nu e descalço.
Esse texto apresenta um bom exemplo de como a arqueologia pode prover verificação histórica e informações e detalhes adicionais à Bíblia. A referência ao governante assírio Sargom II aqui é sua única menção no Antigo Testamento. Até que o Instituto Oriental da Universidade de Chicago descobrisse seu palácio real em Dur Sharrukin (“Forte Sargom”), o local da moderna vila de Khorsabad, de 1928-1935, essa foi a única menção dele em qualquer registro do mundo antigo. Entre as descobertas dessas antigas escavações do palácio estavam blocos de pedra ricamente decorados e esculpidos em relevo, uma estátua completa de cabeça humana, um touro alado que antes guardava uma entrada para a sala do trono, os templos dos principais deuses neoassírios e o Templo Nabu cercado por residências dos mais altos funcionários de Sargom.
Isaías 22:15-17
Sebna, o mordomo real
Assim diz o Soberano, o Senhor dos Exércitos: “Vá dizer a esse Sebna, administrador do palácio: ‘Que faz você aqui, e quem lhe deu permissão para abrir aqui um túmulo, você que o está lavrando no alto do monte e talhando na rocha o seu lugar de descanso? Veja que o Senhor vai agarrar você e atirá-lo para bem longe, ó homem poderoso!'”
Em 1870, Charles Clermont-Ganneau escavou uma tumba parcialmente destruída que fazia parte da necrópole na vila de Silwan, aninhada na encosta ocidental do vale do Cedron e na cidade de Davi, em Jerusalém. O túmulo de rocha estava sendo usado como residência, mas sobre a porta (entrada da câmara funerária) havia uma inscrição posteriormente decifrada pelo epigrafista israelense Nahman Avigad. De acordo com seu trabalho, o texto dizia: “Este é [o sepulcro de…] -yahu que está sobre a casa. Não há prata e ouro aqui, mas [seus ossos] e os ossos de sua esposa com ele. Maldito seja o homem que abrir isto.” A descrição “sobre a casa” indicava um mordomo, mas porque faltava a parte crucial do nome e a parte que estava na inscrição era um final comum para muitos nomes (-yahu), naquela época havia apenas a especulação de que aquele era o túmulo do mordomo real Sebna. Entretanto, porque Avigad poderia restringir a data do reinado de Ezequias, comparando o estilo das letras com a inscrição de Siloé, descoberta no Túnel Ezequias, a identificação proposta foi amplamente aceita.
Durante as escavações de 1966-1968 de Yohanan Ahroni no sítio de Láquis, foi descoberto um jarro de cerâmica contendo dezessete bulas. Muitas das bulas atestavam inscrições em hebraico que outrora haviam lacrado documentos. Um dos selos foi inscrito em duas linhas que diziam: “Pertencente a Shebnayahu” e “o rei”. Essas palavras que aparecem juntas significam que esse “Shebnayahu” estaria ligado à família real.
As evidências, que ajudaram a confirmar que se tratava do mesmo mordomo real, vieram da datação da descoberta por estratigrafia, tipologia cerâmica e paleografia. O jarro e a bula vieram do nível II em Láquis, em uma camada de destruição atribuída ao rei babilônico Nabucodonosor em 587/6 a.C. Abaixo estava o Nível III, outra camada de destruição atribuída ao rei assírio Senaqueribe em 701 a.C. Esse período de cerca de um século poderia ser estreitado ainda mais pela forma do jarro e pelo estilo das letras na inscrição final do século VIII ou início do século VII a.C., época contemporânea tanto da Inscrição de Siloé como da inscrição do túmulo do mordomo real.
Por causa do cuidadoso trabalho dos arqueólogos e documentação apropriada (assim como a recuperação de uma descoberta de localidade incerta), uma identificação positiva do túmulo real de Steward podia ser feita (assim como do selo).
Isaías 25:6-9
Uma referência arqueológica ao banquete escatológico
Neste monte o Senhor dos Exércitos preparará um farto banquete para todos os povos, um banquete de vinho envelhecido, com carnes suculentas e o melhor vinho. Neste monte ele destruirá o véu que envolve todos os povos, a cortina que cobre todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Soberano, o Senhor, enxugará as lágrimas de todo rosto e retirará de toda a terra a zombaria do seu povo. Foi o Senhor quem o disse! Naquele dia dirão: “Este é o nosso Deus; nós confiamos nele, e ele nos salvou. Este é o Senhor, nós confiamos nele; exultemos e alegremo-nos, pois ele nos salvou.”
As escavações no assentamento de Qumran sob a direção de Roland de Vaux descobriram um refeitório abastecido com várias xícaras, pratos e tigelas. Ele aparentemente foi abandonado após o terremoto de 31 a.C., que parece ter interrompido a ocupação do local pela seita. As sobras das refeições comunitárias, incluindo os ossos, cinzas e vasos de cerâmica usados para preparar, cozinhar e servir a refeição, foram encontrados cuidadosamente enterrados do lado de fora de alguns dos edifícios da comunidade e, especialmente, no planalto do sul. Tais áreas eram consideradas lugares limpos que se conformavam às leis bíblicas que regulavam o ritual de descarte dos restos mortais (Lv 4:12; 6:11; 10:14; Nm 19:9). As escavações do planalto meridional sob Randall Price, Oren Gutfels e Yakov Kalman também revelaram extensas evidências desses depósitos e a análise dos ossos e vasos demonstrou tanto a natureza intencional dos enterros como o caráter ritual das refeições.
Isaías 44:28; 45:1-4,13
O cilindro de Ciro
Assim diz o Senhor ao seu ungido: a Ciro, cuja mão direita eu seguro com firmeza para subjugar as nações diante dele e arrancar a armadura de seus reis, para abrir portas diante dele, de modo que as portas não estejam trancadas: Eu irei adiante de você e aplainarei montes; derrubarei portas de bronze e romperei trancas de ferro. Darei a você os tesouros das trevas, riquezas armazenadas em locais secretos, para que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que o convoca pelo nome […] Eu levantarei esse homem em minha retidão: farei direitos todos os seus caminhos. Ele reconstruirá minha cidade e libertará os exilados, sem exigir pagamento nem qualquer recompensa, diz o Senhor dos Exércitos.
O profeta Isaías ofereceu a Israel o conforto divino de que o exílio babilônico terminaria um dia e predisse que isso aconteceria quando o governante persa, Ciro, a quem o Senhor chama de meshiho (“seu ungido/messias”), cumpriria o propósito do Senhor. Em 539 a.C. Ciro conquistou Babilônia (Dn 5:30-31) e no ano seguinte emitiu um decreto para libertar os judeus cativos (2Cr 36:22-23; Ed 1:2-4; 6:2-5), fazendo-os retornar, bem como devolvendo seus objetos sagrados saqueados à sua terra e à capital em Jerusalém (Is 52:11-12; Jr 27:21-22; Ed 1:1-11; 5:14-15), e os ajudou a reconstruir seu templo em ruínas (2Cr 36:22-23; Ed 4:3; 5:13-6:5). Como o decreto de Ciro está registrado na Bíblia em dois idiomas (hebraico e aramaico) com duas ênfases distintas, os estudiosos se dividiram quanto à forma como o decreto original foi relatado. No entanto, em 1879, Hormuzd Rassam descobriu o Cilindro de Ciro nos restos do templo babilônico de Marduque. A pedra cilíndrica em forma de barril está inscrita em detalhes cunciformes e, embora incompletos, detalha a captura de Babilônia por Ciro e a libertação que ele promoveu do povo capturado que permanecia ali.
Isaías 53:11
Os textos do mar Morto implicam ressurreição
Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles.
Os intérpretes judeus e cristãos lidaram por muito tempo com a interpretação sobre o servo sofredor de Isaías 53. A linguagem do autor no texto está claramente descrevendo um sofrimento que conduz à morte, mas, sendo assim, parceria estranhos estranho aplicá-lo ao profeta Isaías, já que está redigido em terceira pessoa, e aquele que sofre e morre intercede pela nação de Israel, da qual o profeta é uma parte.
Alguns estudiosos viram esse conceito na Revelação de Gabriel, uma inscrição, cuja localização de onde foi encontrada é desconhecida, de 1 metro por 30 centímetros chamada “Manuscritos do Mar Morto em pedra”, porque tem afinidades com a forma e o estilo dos Manuscritos do mar Morto e supostamente foi descoberta no lado leste do mar Morto. Escritas com tinta, suas 87 linhas são mal preservadas (desbotadas e fragmentadas). Seu texto é hebraico, mas com influência aramaica, e foi confiavelmente datado no século 1 a.C. O historiador da Universidade Hebraica, Israel Knohl, estudou a reconstrução inicial do texto feito pela epigrafista israelense Ada Yardemi e chegou a uma conclusão revolucionária. Ela o interpretou como um texto apocalíptico com uma mensagem de messianismo catastrófico.
Jeremias
Jeremias 34:6-7
As cartas de Láquis e a invasão de Judá
por Nabucodonosor
O profeta Jeremias disse todas essas palavras ao rei Zedequias de Judá, em Jerusalém, enquanto o exército do rei da Babilônia lutava contra Jerusalém e contra as outras cidades de Judá que ainda resistiam, Láquis e Azeca, pois só restaram essas cidades fortificadas em Judá.
Em 1935-1936, Starkey escavou Láquis (Tel Lachish) e encontrou dezoito fragmentos de cerâmica datando de 600 a.C. e anos posteriores (o período das incursões de Nabucodonosor em Judá). Outros três foram encontrados em 1938. As cartas de Láquis foram escritas no início do século VI a.C. em peças de cerâmica de barro quebradas. As cartas dão informações sobre Judá antes da invasão babilônica e do exílio. Jeremias 34:7 fala de duas cidades mencionadas nas cartas, Láquis e ‘Azeqah. As cartas eram comunicadas militares hebreus de um posto avançado para o oficial comandante em Láquis.
Jeremias 32:14
Jarros selados, documentos selados e o livro de Jeremias
Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: ‘Tome estes documentos, tanto a cópia selada como a não selada da escritura de compra, e coloque num jarro de barro para que se conservem por muitos anos’.
Evidências arqueológicas de pessoas e eventos históricos no livro de Jeremias às vezes vêm em pequenos pacotes. Esse texto menciona o ato de preservação de documentos selados, armazenando-os em frascos selados. Os materiais mencionados, uma vez conectados ao texto por meio de descoberta e interpretação arqueológica, revelam muito mais do que aparentam. Na região seca perto do mar Morto, foram encontrados frascos selados contendo documentos de couro e papiro armazenados em cavernas. Esse ambiente árido e o fluxo de ar negativo dentro das cavernas ajudaram a preservar os pergaminhos em uma condição intacta. Um estado semelhante de preservação foi observado em objetos dos túmulos faraônicos selados nas areias secas de Luxor (alto Egito). No entanto, os rolos de deserto da Judeia, que não estavam em frascos, foram reduzidos a fragmentos ou estavam escurecidos a tal ponto que não podiam mais ser lidos a olho nu. Deste modo, nem mesmo os frascos selados podiam impedir a degeneração final do conteúdo armazenado no clima mais úmido das colinas da Judeia. Tais documentos em papiro ou couro sofreriam decomposição em um tempo relativamente curto. Por essa razão, os documentos judiciais escritos sobre esses materiais perecíveis não sobreviveram nas capitais como Jerusalém ou Mênfis (baixo Egito), onde certamente existiam arquivos. No entanto, os selos que foram afixados aos documentos, como as ações mencionadas nesse texto, são frequentemente descobertos em Jerusalém. Esses selos, chamados de bulas, tinham o nome do proprietário, do remetente ou do escriba.
Lamentações
Lamentações 1:1-4a
Um paralelo arqueológico: lamentos mesopotâmicos
Como está deserta a cidade, antes tão cheia de gente! Como se parece com uma viúva, a que antes era grandiosa entre as nações” A que era a princesa das províncias agora tornou-se uma escrava. Chora armaguramentos à noite, as lágrimas rolam por seu rosto. De todos os seus amantes, nenhum a consola. Todos os seus amigos a traíram; tornaram-se seus inimigos. Em aflição e sob trabalhos forçados, Judá foi levado ao exílio. Vive entre as nações sem encontrar repouso. Todos os que a perseguiram a capturaram em meio ao seu desespero. Os caminhos para Sião pranteiam, porque ninguém comparece às suas festas fixas. Edita-se que o propósito da composição dos lamentos acerca das cidades mesopotâmicas era, na verdade, conquistar o favor de seus deuses e persuadi-los a não deixar as cidades serem destruídas novamente. Se essa dor a interpretação correta dessa forma literária, então os lamentos foram elaborados para um único propósito e para uma única ocasião, tendo caído em desuso depois que a urbe e o templo foram restaurados. É possível, no entanto, que a composição de lamento possa ter sido revivida no período da antiga Babilônia para uso nos templos a fim de apaziguar a ira dos deuses. O propósito bíblico, ao contrário da tentativa pagã de aplacar ou influenciar os deuses, era demonstrar genuíno arrependimento, reconhecer a justiça e o propósito soberano de Deus no desastre e concentrar-se na lealdade da aliança de Deus a Israel e na promessa de restauração.
Ezequiel
Ezequiel 38:12
Esse texto de Ezequiel pode ter em vista o monte Sião, que para os israelitas representaria o centro [espiritual] da terra, onde o templo estava localizado. Isso parece encontrar apoio em Ezequiel 5:5: “Assim diz o Soberano, o Senhor: Esta é Jerusalém, que pus no meio dos povos, com nações ao seu redor.” A declaração do salmista reforça a decisão divina de centralizar sua presença no monte Sião: “O Senhor escolheu Sião, com o desejo de fazê-la sua habitação: ‘Este será o meu lugar de descanso para sempre; aqui firmarei o meu trono, pois esse é o meu desejo'” (Sl 132:13-14). Essa posição central Jerusalém, a capital, o foco do ataque do inimigo no passado, e de acordo com a predição de Ezequiel para os últimos dias (Ez 38:16), aconteceria novamente no futuro.
Ezequiel 43:10-11
Exemplos arqueológicos de modelos de templos
Filho do homem, descreva o templo para a nação de Israel, para que se envergonhem dos seus pecados. Que eles analisem o modelo e, se ficarem envergonhados por tudo o que fizeram, informe-os acerca da planta do templo – sua disposição, suas saídas e suas entradas – toda a sua planta e todas as suas estipulações e leis. Ponha essas coisas por escrito diante deles para que sejam fiéis à planta e sigam suas estipulações.
De acordo com a Bíblia, Moisés e Davi receberam o tabnit em suas respectivas funções na preparação para a construção do tabernáculo e do templo e obtiveram essa informação oralmente e por meio de visão. Cinco interpretações da natureza do objeto designado por essa instrução revelada foram oferecidas: (1) um modelo em miniatura original; (2) um modelo em miniatura em forma de uma cópia do original; (3) o projeto ou plano arquitetônico; (4) um plano arquitetônico baseado em um original; (5) o próprio original, i.e., o santuário celestial.
Em relevos arqueológicos que retratam um zigurate ou o desenho de um templo, pode se tratar de um esboço do projeto ou um modelo real. Provavelmente esse seja o caso de uma estela em pedra negra que fazia parte de uma coleção particular, cujo texto foi publicado pela primeira vez em 2011. Conhecida como a estela da Torre de Babel, ela contém uma inscrição cuneiforme e uma figura de Nabucodonosor II retratado em pé, com seu chapéu cônico real, segurando uma vara em sua mão esquerda eum pergaminho com os planos de reconstrução da torre (embora alguns achem que se tratava de uma pena para escrita real ou de um prego de fundação) em sua mão estendida.
O sítio de Khirbet Qeiyafa, um local do século XII a.C. próximo ao vale de Elá, forneceu modelos de barro de santuários com paralelos das características arquitetônicas posteriores do Primeiro Templo. Esses foram provavelmente usados como parte de rituais de culto porque a cidade estava distante das instalações de adoração em Gibeão (2Cr 1:3) e Jerusalém (2Cr 1:13). Seu projeto, no entanto, pode ilustrar o conceito de tabnit que Ezequiel e textos relacionados têm em vista.
Daniel
Daniel 1:1, 3-4b, 6a
A arqueologia e datação do livro de Daniel
No terceiro ano do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio a Jerusalém e a sitiou […] Depois o rei ordenou a Aspenaz, o chefe dos oficiais da sua corte, que trouxesse alguns dos israelitas da família real e da nobreza […] Ele deveria ensinar-lhes a língua e a literatura dos babilônios […] Entre esses estavam alguns que vieram de Judá: Daniel […].
A maioria dos estudiosos modernos considera uma data do século II a.C. para Daniel, compreendendo suas previsões historicamente precisas de eventos nos períodos helênico e dos macabeus para propor que ele tenha sido composto depois desses períodos. Embora alguns tracem a primeira declaração desta data para o livro do neoplatônico Porfírio (233-305 d.C.), as afirmações acadêmicas dessa visão se originam do século XVIII por J. D. Michaelis e J. C. Eichhorn, os quais sustentavam que a forma final de Daniel não passava do produto de um pseudônimo do período pós-exílio dos macabeus (168-165 a.C.).
Embora a questão da datação de Daniel envolva muitas questões relacionadas à evidência interna do livro, a presença de empréstimos estrangeiros (p. ex., persa e grego), alegação de problemas cronológicos e históricos, e a natureza da profecia preditiva, a arqueologia pode ajudar respondendo a essas questões, oferecendo informações sobre como o livro foi interpretado em um contexto antigo e por fornecer cópias manuscritas cuja data ajuda a estabelecer um limite para as teorias de datação. A esse respeito, a descoberta de pelo menos dez fragmentos de Daniel entre os Manuscritos do mar Morto e o encontro de documentos sectários que citam ou aludem ao livro e revelam interpretações antigas oferecem dados significativos para uma área de pesquisa sobre o assunto.
As cópias fragmentárias de Daniel datam do final do século II a.C. até meados do século I d.C. Com base na paleografia, elas são similares ao Grande Rolo de Isaías A (1QIsaª) e ao Pesher Habacuque (1QpHab) e, portanto, não podem ser posteriores a 125 a.C. Isso apresenta um aspecto relevante para o limite da datação do livro no século II a.C., uma vez que uma data tão próxima do suposto autógrafo (período dos macabeus) apresenta dificuldades porque não haveria tempo suficiente para que tais cópias fossem produzidas, distribuídas, distribuídas e depois recebidas dentro do judaísmo.
Estudiosos colocaram os textos de Pseudo-Daniel e a Oração de Nabonido (que tem paralelos com Dn 4) entre os manuscritos para argumentar a favor de uma composição tardia, alegando que o material no Daniel bíblico era dependente dessas obras intertestamentárias. Simplesmente não há precedente de um livro judaico canônico sendo dependente de uma fonte literária não canônica intertestamentária, embora haja evidências abundantes de que o inverso é verdadeiro.
O egiptólogo britânico Kenneth Kitchen demonstrou que 90% do vocabulário aramaico de Daniel tinham correspondência em documentos datados do século V a.C. ou antes, que as palavras persas emprestadas eram da língua persa antiga e que as palavras gregas emprestadas também podiam preceder o século V a.C. Também algumas formas sináticas em Daniel mostraram não ter sobrevivido para além do século V a.C., impedindo qualquer data posterior. Ele então conclui: “O aramaico de Daniel (e de Esdras) era simplesmente uma parte do aramaico imperial (oficial) em si, praticamente não datável com qualquer convicção no período de cerca de 600-330 a.C.” A opinião de Kitchen foi apoiada pelo semitista da Universidade de Liverpool, Alan Millard, bem como pelo estudioso do aramaico E. Y. Kutscher, que demonstram, pela ordem das palavras do aramaico de Daniel, que a procedência era oriental (Babilônia) e não ocidental (Palestina), como exigiria a data dos macabeus. Gleason Archer comparou o aramaico do Gênesis Apócrifo (1Q20), datado do século I a.C., com o de Daniel e concluiu que o último datava de séculos mais tarde que o primeiro.
Oseias
Oseias 4:12-13
A antiga literatura e iconografia de árvores e bosques sagrados
Eles pedem conselhos a um ídolo de madeira, e de um pedaço de pau recebem resposta. Um espírito de prostituição os leva a desviar-se; eles são infiéis ao seu Deus. Sacrificam no alto dos montes e queimam incenso nas colinas, debaixo de um carvalho, de um estoraque ou de um terebinto, onda a sombra é agradável. Por isso suas filhas se prostituem e as suas noras adulteram.
Esse texto mostra os antigos israelitas se prostituindo e se associando aos rituais de adoração das religiões de fertilidade de Canaã. Em vez de procurar a presença de Yahweh no templo, Israel procurou os cumes dos montes e jardins ou bosques – locais sagrados da antiguidade onde se acreditava que os deuses do passado viviam ou manifestavam sua presença de uma maneira especial.
As árvores sagradas também eram observadas em artefatos antigos do Oriente Médio. O Museu do Brooklyn abriga doze placas de pedra com decoração esculpida do palácio noroeste de Ashurnasipal II.
Amós
Amós 3:2
Analogia com relacionamentos de suserania-vassalagem
“Escolhi apenas vocês de todas as famílias da terra; por isso eu os castigarei por todas as suas maldades”.
O termo hebraico usado aqui para “escolhi” é bahar e, com respeito à nação de Israel, apresenta a ideia de escolha divina, resultando na ideia de um “povo escolhido”.
Descobertas arqueológicas desenterram cerca de 50 exemplos de antigos tratados de vassalos do Oriente Médio, de meados do terceiro milênio a.C. até meados do primeiro milênio a.C. No entanto, a estrutura precisa dos tratado hititas do segundo milênio a.C. é a que melhor define as relações entre um suserano (um superior) e um vassalo (inferior), de modo que fornece paralelos literários e conceituais à aliança que Deus fez com Israel no Monte Sinai (o livro da aliança, Êx 20:1-23:33), renovando-a nas planícies de Moabe. É essa última renovação da aliança encontrada no livro de Deuteronônio que é modelada no formato do tratado hitita de vassalagem da Idade do Bronze. Exemplos dos tratados de vassalagem hititas incluem o Tratado de Alepo, um tabete escrito em acadiano, que registra um tratado de suserania feito a cerca de 1300 a.C. entre Mursili II, rei dos hititas (1339-1306 a.C.), e Talmi-sharruma de Alepo, no nome da Síria.
Jonas 3:5-8
Eventos que conduziram Nínive ao arrependimento em 758 a.C.
Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. Então fez uma proclamação em Nínive: “Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, provar coisa alguma: não comam nem bebam!”
Donald J. Wiseman afirma que há suficiente evidência histórica que explica o arrependimento em massa dos ninivitas em resposta à concisa profecia de Jonas (Jn 3:4). Wiseman nos lembra que o Antigo Oriente Médio começou a relatar fenômenos astronômicos por volta do primeiro milênio a.C. e relacionar suas observações celestes a eventos futuros e contemporâneos.
Certamente esses eventos e talvez presságios adicionais cultivaram um ambiente particular em Nínive que poderia ter resultado no arrependimento em massa registrado em Jonas 3:5-8. À luz desses eventos históricos, que ocorreram no final do século VIII a.C., uma mensagem da ira divina apresentada por um profeta como Jonas nesse contexto teologicamente sobrecarregado e politeísta pode ter confirmado o que os presságios dos assírios já apontavam.
Naum
Naum 2:3-7
A queda de Nínive na Crônica Babilônica
Os escudos e os uniformes dos soldados inimigos são vermelhos. Os seus carros de guerra reluzem quando se alinham para a batalha; agitam-se as lanças de pinho. Os carros de guerra percorrem loucamente as ruas e se cruzam velozmente pelos quarteirões. Parecem tochas de fogo e se arremessam como relâmpagos. As suas tropas de elite são convocadas, mas elas vêm tropeçando; correm para a muralha da cidade para formar a linha de proteção. As comportas dos canais são abertas, e o palácio desaba. Está decretado: A cidade irá para o exílio; será deportada. As jovens tomadas como escravas batem no peito; seu gemer é como o arrulhar das pombas.
As Crônicas Babilônicas, tabuinhas de argila que descrevem a história dos reis babilônicos e suas conquistas dos séculos VIII-II a.C., incluem uma tabuinha que fornece informações sobre a destruição de Nínive, W. F. Albright afirma: “A Crônica Babilônica e os textos relacionados dos séculos VIII-VI a.C. são geralmente reconhecidos como os anais mais objetivos e historicamente confiáveis que chegaram até nós do antigo Oriente.” O livro de Naum é a advertência profética para Nínive de que Deus permitirá que ela seja destruída. Essa profecia foi literalmente cumprida em 612 a.C., quando Nabopolossar, o rei da Babilônia, e Ciaxares, o rei da Média, conquistaram a cidade. Embora o relato de Naum seja mais gráfico e revelador, seu registro é congruente com a história das Crônicas Babilônicas.
Habacuque
Habacuque 1:6-7,15
Evidências arqueológicas da crueldade no Antigo Oriente Médio
Estou trazendo os babilônios, nação cruel e impetuosa, que marcha por toda a extensão da terra para apoderar-se de moradias que não lhe pertencem. É uma nação apavorante e temível, que cria sua própria justiça e promove sua própria honra […] O inimigo puxa todos com anzóis, apanha-os em sua rede e nela os arrasta; então alegra-se e exulta.
Um visual de tais atos de atrocidade para com os prisioneiros geralmente cobria o chão de palácios e templos assírios e babilônicos. Um exemplo famoso é o relevo de Láquis de cerca de 30 metros de comprimento do palácio de Senaqueribe em Nínive. Representa a prática assíria de desmembrar os corpos inimigos esfolando sua pele, decapitando-os, empalando os corpos em postes, colocando ganchos nos narizes e cortando as mãos das vítimas. Os primeiros remanescentes reais de pilhas de mãos decepadas foram descobertos em escavações no palácio Hicsos em Tell ed-Dab’a (antiga Avaris). Em covas na parte norte do palácio (datada de 1600 a.C.), os arqueólogos Manfred Bietak e Irene Forstner-Muller encontraram dezesseis mãos decepadas. Essa prática horripilante não foi entendida como sendo nativa do norte de Canaã, de onde se supõe que os hicsos tenham se originado, mas era uma prática estabelecida pelos egípcios. Sendo assim, os hicsos da décima quinta dinastias (Império Novo) podem tê-la adotado para se adequar ao protocolo militar egípcio.
Esses relatos horríveis ajudam a explicar o espanto de Habacuque quando informado de que esses cruéis inimigos de Israel seriam usados para realizar a cirurgia espiritual necessária para trazer o arrependimento e restituir o povo à adoração pura.
Sofonias
Sofonias 2:4
O fim de Ecrom
Gaza será abandonada, e Ascalom ficará arruinada. Ao meio-dia, Asdode será banida, e Ecrom será desarraigada.
Os inimigos mais conhecidos de Israel na Bíblia eram os filisteus. Eles surgiram a partir de um grupo de povos do mar Egeu que invadiram a planície costeira de Canaã no século XII a.C.
O suposto local da antiga cidade filisteia foi Tel Miqne, baseado em sua localização geográfica na junção da planície costeira e a região montanhosa de Judá. De 1983-1997, a arqueóloga israelense Trude Dotan e o arqueólogo americano Sy Gittin fizeram uma escavação completa, mas, embora os artefatos arqueológicos que emergiram do tel parecessem distintamente filisteus, nenhuma evidência direta foi encontrada para identificá-los positivamente como pertencentes a Ecrom. Então, no último dia da décima quarta temporada de escavação no Campo 4, Steve Ortiz removeu uma pedra bruta de aproximadamente 100 quilos e achou que poderia ser uma estela. Os arqueólogos tinham visto centenas de pedra como aquela e ficavam desapontados cada vez que procuravam os riscados ásperos que poderiam revelar escritos antigos. Dessa vez, porém, foi diferente, e quando devidamente examinada, uma inscrição estava claramente visível. Foi a chave para identificar o sítio como Ecrom. Os “riscos” formavam 72 letras em cinco linhas de texto em escrita filistéia (fenícia). A partir da redação e ortografia, foi identificada como uma tentativa de dedicação de um templo real filisteu. O texto diz: “Este templo foi construído por ‘Akish, filho de Padi, filho de Yasid, filho de Ada, filho de Ya’ir, governante de Ecrom, por Ptgyh, sua (divina) dama [talvez se referindo a Aserá]. Que ela o abençoe e guarde, e prolongue seus dias e abençoe sua terra.”
As descobertas das salas do palácio filisteu de vários andares, construídas em estilo neoassírio com um salão de entrada monumental com estilo egípcio e um amuleto em louça de Ptah-patecus, o deus egípcio dos artesãos. Esses artefatos fornecem exemplos arqueológicos da influência pagã criticada por esse profeta.
Zacarias
Zacarias 4:2
O candelabro de sete bicos
E me perguntou: “O que você está vendo?” Respondi: Vejo um candelabro de ouro maciço, com um recipiente para azeite na parte superior e sete lâmpadas e sete canos para as lâmpadas. Há também duas oliveiras junto ao recipiente, uma à direita e outra à esquerda.
Exemplares de lâmpadas de óleo de terracota com sete bicos foram encontrados em escavações arqueológicas a partir das Idades do Bronze Médio e Tardio) c. 2250-1200 a.C.), porém mais comumente na Idade do Ferro (c. 1200-600 a.C.). As lâmpadas lembram um cálice com o fundo chato (para apoio) e sete bicos formados pela compressão do rebordo da borda da argila antes da secagem. A maioria deles é simples e sem decoração e usam para a queima quase exclusivamente azeite de oliva (Êx 25:6), com mechas geralmente feitas de linho torcido (Is 42:3). A arqueologia fornece numerosos exemplos de objetos cultuais com essa forma, um modelo comum em todo o Antigo Oriente Médio por dois mil anos. Exemplos de Lâmpadas de Israel com sete hastes (com e sem pedestais) foram encontradas em Taanek (1300 a.C.), Dotá (1200 a.C.), Gezer (1500-550 a.C.), Ain Sherms (900 a.C.), Láquis (710 a.C.), Murabba’at (600 a.C.) e Tel Dá (c. 900 a.C.).
Alguns estudiosos sugerem que esse estilo de candelabro pode lembrar a fonte de iluminação usada no Templo de Salomão.
Malaquias
Malaquias 2:2
Evidências arqueológicas das condições em Judá
“Se vocês não derem ouvidos e não se dispuserem a honrar meu nome”, diz o Senhor dos Exércitos, “lançarei maldição sobre vocês, e até amaldiçoarei as suas bênçãos. Aliás, já as amaldiçoei, porque vocês não me honram de coração”.
Muitos livros de estudos sobre arqueologia bíblica tratam esse período de maneira superficial, deixando o leitor da Bíblia com a impressão de que a conquista babilônica de Judá havia deixado tudo destruído e que todos tinham sido exilados. No entanto, um exame das evidências arqueológicas revela que todo reino de Judá não sofreu a mesma destruição e deportação como Jerusalém e suas cidades fortificadas. Escavações em locais no Norte de Judá e Benjamim mostram que a vida da cidade continuou a existir após a queda de Jerusalém e durante todo o período babilônico. Em locais como Tel en-Nabesh (Mispá), Gibeão, Betel e Tell en-Ful (Gibeá), localizada a apenas 16km de Jerusalém, bem como assentamentos menores da região montanhosa central, a vida continuou e até prosperou no final do século VI, com os cidadãos se sentindo seguros o suficiente para construir casas fora dos muros da cidade.
Malaquias 2:10-16
Papiro aramaico de Elefantia sobre contratos de casamento
E vocês ainda perguntam: “Por quê?” É porque o Senhor é testemunha entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu a sua promessa de fidelidade, embora ela fosse a sua companheira, e mulher do seu acordo matrimonial. (Ml 2:14)
Essa passagem é melhor entendida como referindo-se a uniões civis com mulheres estrangeiras (pagãs), um ato que violava a legislação mosaica e ameaçava a identidade da aliança. Havia leis de proteção em vigor em Israel contra o casamento com mulheres estrangeiras (Gn 24:3-4; Êx 34:12-16; Dt 7:3-4; Nm 25:1; 1Rs 11:1-8). Até mesmo os casamentos políticos de Salomão com mulheres estrangeiras, como as filhas de faraó, exigiram uma separação física entre elas e os lugares israelitas que deviam ser mantidos ritualmente puros (2Cr 8:11). Tal contaminação ritual da presença de uma mulher estrangeira poderia resultar em profanação do templo, como Malaquias observou.
Nos versículos 14-16, Malquias aborda uma segunda violação da aliança do casamento, o divórcio de esposas israelitas legítimas. O que provocou essa prática na comunidade pós-exílica do século V a.C. pode encontrar uma resposta na descoberta arqueológica de um arquivo de papiros em aramaico em Elefantina, uma ilha localizada no Alto Egito. Uma comunidade de guarnição judaica da diáspora havia se estabelecido na ilha no mesmo período de tempo que a comunidade judaica pós-exílica abordada por Malaquias. Esses documentos legais tratam de ações judiciais, vendas, casamentos, empréstimos, presentes e direitos de propriedade. Embora a maioria dos contratos tenha sido escrita em aramaico e pareça ter sido elaborada tanto em cortes persas quanto judaicas locais, eles seguem a forma dos contratos egípcios, mais uma evidência de influência estrangeira na comunidade judaica.
Malaquias 4:5-6
Alusões sobre o retorno de Elias nos Manuscritos do mar Morto
Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes do grande e temível dia do Senhor. (Ml 4:5)
Esse texto antecipa a vinda de um mensageiro vindouro, como Elias, que irá preparar o caminho para o prometido rei messiânico, reconciliando o povo de Israel com Deus antes do julgamento escatológico.
O profeta Elias encontra sua menção na literatura sectária de Qumran que data do período amoníaco (152-163 a.C.). Um texto aramaico fragmentário conhecido como Visão B contém uma expectativa sobre Elias como precursor até o dia do julgamento mencionado em Malaquias 4:5.
6 – Quadro cronológico da arqueologia e o AT
Todo o capítulo 6 da obra apresenta um quadro explicativo contendo as descobertas arqueológicas em relação ao Antigo Testamento.
Parte 2
7 – Período intertestamentário
Por definição “Intertestamentário” é um termo cristão popular usado para se referir a um período de tempo entre o final do período de elaboração do Antigo Testamento (período persa) e o início do período relacionado a Jesus e à elaboração do Novo Testamento (período romano), um espaço de tempo (cerca de 400 anos) equivalente ao período do Segundo Templo, embora a elaboração do Novo Testamento tenha continuado após a destruição do templo.
Em discussões acadêmicas os eventos desse tempo são mencionados como o período do Segundo Templo, uma época que começou com o retorno dos judeus exilados a Judá e a colocação dos fundamentos do Segundo Templo (538 a.C.) até sua destruição pelos romanos (70 d.C.). Durante esse período, diversos eventos significativos remodelaram o mundo bíblico e deixaram vestígios importantes no registro arqueológico.
O estilo de vida helenístico foi imposto para toda a população judaica sob o governo selêucida o que resultou numa revolta judaica (167 a.C.) e estabeleceu com sucesso um governo independente em Israel (165-37 a.C.).
A dinastia asmoniana terminou devido a uma guerra civil entre os filhos de Salomé Alexandra (Hircano II e Aristóbulo II) e aos apelos feitos às autoridades romanas, que viram nisso uma oportunidade na região.
O período intertestamentário presenciou a produção da Septuaginta, encomendada por Ptolomeu II e produzida por escribas judeus em Alexandria, Egito, em cerca de 250 a.C.
O enfoque arqueológico que será apresentado pelos autores tratará rapidamente dos eventos cruciais desse período no Novo Testamento:
1 – A construção do Segundo Templo (Zorobabel);
2 – A influência predominante do helenismo sobre o povo judeu, como demonstrado pelo governo de Antíoco IV;
3 – O domínio asmoniano (incluindo o sacerdócio), o estabelecimento da Comunidade de Qumran e a produção dos Manuscritos do Mar Morto;
4 – a invasão romana levando a nomeações políticas de reis e sumos sacerdotes, incluindo a dinastia herodiana, que (re) construiu o Segundo Templo juntamente com seu complexo.
8 – Zorobabel
Sob a liderança de Zorobabel, que se tornou governador de Judá, e de Josué, o sumo sacerdote (Ag 2:2), os fundamentos para a primeira fase do Segundo Templo foram iniciados pelo povo. Seguindo o precedente estabelecido na preparação para o Primeiro Templo, o povo contribuiu generosamente para o tesouro sagrado (Ed 2:68,69). O primeiro ato de restauração foi a reconstrução do altar do holocausto, que permitiu a reinstituição do sistema sacrificial e a retomada da celebração dos festivais bíblicos. Os judeus que retornaram do exílio eram inexperientes e só poderiam construir um novo templo com a perícia dos fenícios. Em 538 a.C. as fundações do Segundo Templo foram colocadas; no entanto, a construção do templo encontrou resistência dos moradores samaritanos ao norte e não pôde ser retomada novamente senão quinze anos depois.
O Segundo Templo era inferior quando comparado ao Primeiro Templo. Além disso, enquanto o Primeiro Templo foi construído no início do governo independente de Israel, o segundo foi erguido em um tempo de dominação estrangeira. Mais importante ainda, a presença visível de YHWH não estava no Segundo Templo.
O projeto do Segundo Templo (Zorobabel)
Embora os relatos bíblicos ofereçam poucos detalhes a respeito da construção do Templo de Zorobabel, tudo indica que ele era semelhante ao Primeiro Templo (Ag 2:3), mas sem um complexo real adjacente. Isso parece ser comprovado a partir da descoberta arqueológica das ruínas do templo samaritano no monte Gerizim embora também estivessem incluídos dois edifícios adjacentes, que se acredita tratava-se de uma residência real e um prédio administrativo. O portão norte do templo é uma réplica do templo descrito no Rolo do Templo, um documento dos Manuscritos do mar Morto escrito quando o Segundo Templo de Zorobabel ainda estava de pé.
Uma vez que os samaritanos abraçaram tudo, desde as orações judaicas até o ritual de sacrifício, é mais do que provável que o templo que eles construíram tenha sido uma réplica do Segundo Templo de Zorobabel que ainda estava em pé naquela época.
O registro do Templo de Zorobabel chegou até nós por meio dos profetas Ageu (Ag 1:1-8,12-14; 2:1-9) e Zacarias (Zc 1:7–6:15) e do escriba Esdras (Ed 1:3-11; 3:13; 4:1 -6:22). Esses textos lidam principalmente com a estrutura do templo, enquanto o relato das muralhas da cidade e do local se encontra em Neemias (Ne 2:11-7:4).
Neemias registra os atos rituais associados ao templo (Ne 10:32-39: cf. 12:44-47) e os projetos de construção, muito provavelmente ligados ao recinto do templo (Ne 2:8; 8:1; 12:44; 13:4-7).
Cercando o templo e as dependências reais havia um local adicional que tinha dois portões, o Portão das Águas (Ne 3:26) e o Portão da Inspeção (Nc 3:31). Esse último portão estava situado a leste, de frente para a muralha defensiva externa da cidade. O portão oriental nessa muralha defensiva era chamado de Portão dos Cavalos. Acredita-se que entre o Portão Leste e o Portão de Inspeção estava o lugar aberto onde o rei Ezequias reuniu os sacerdotes e levitas (2Cr 29:4-5) e mais tarde Esdras reuniu os homens de Benjamim e Judá (Ed 10:9).
Evidência arqueológica
O Templo de Salomão foi construído em um quadrante do Monte do Templo (Ant. 15.400). As fontes judaicas indicam que o Segundo Templo de Zorobabel seguiu as linhas deste Monte do Templo pré-exílico de 228 metros quadrados (Ant. 8.96; GJ 5.184-85). Esse Monte do Templo foi descoberto nos tempos atuais por meio de uma avaliação de estruturas ao redor e no moderno Monte do Templo que torna conhecidas as extensões adicionadas ao original nos períodos asmoniano e herodiano. As provas para identificar os lados do Monte do Templo original são as seguintes:
• A muralha ocidental, uma muralha coberta agora preservada como o degrau mais baixo da escadaria no canto noroeste da área elevada.
• A muralha do Norte, ruínas de um aparador de pedras de rocha (encontrado no século XIX por Charles Warren) que forma um ângulo reto com o degrau/muro da muralha oriental.
• A muralha oriental, a linha original da muralha oriental entre o século VI a.C. compensada no Norte e a curva no sul igual a 262 metros ou 500 côvados com base no uso aplicado do côvado real de 525 mm.
• A muralha sul, medindo a partir do canto sudeste (indicado pela curva) e correspondendo à muralha norte até à intersecção com a continuação do degrau/muro.
Acrescido a isso, quando Herodes removeu as antigas fundações da primeira fase do Segundo Templo, ele deixou a antiga muralha oriental com seu pórtico intactos. Isso pode ser visto hoje do lado de fora da muralha leste, onde uma emenda é visível perto do canto sul. Essa emenda separa a extensão herodiana (31 metros) do Monte do Templo da parede oriental (428 metros). A alvenaria pré-herodiana (asmoniana) que é visível hoje por 30 metros na muralha leste pode ser vista em três cursos de pedras grandes com projeções de saliências ásperas (faces) em ambos os lados do atual Portão Dourado. O trecho sul é visível até 15.5 metros ao sul do Portão Dourado, e o trecho norte é visível por 20 metros até atingir um desnível exposto (recuado cerca de 60 centímetros) de alvenaria herodiana. No entanto, uma seção de pedras a partir do norte que se estende perto do Portão Dourado é de um estilo de alvenaria que pode ser da época de Neemias. Uma curva na muralha leste é visível a 73 metros do canto sudeste que, com toda a probabilidade, indica o canto sudeste do Monte do Templo original com 185m².
9 – Templo Herodiano
O Segundo Templo herodiano ocupou o Monte do Templo de Jerusalém de 20 a.C. até 70 d.C. Era o edifício principal e mais proeminente na terra de Israel e, sem dúvida, uma das edificações mais impressionantes do Império Romano.
O perímetro completo desse recinto sagrado era de 1.540 metros e a área total de 144 mil metros quadrados. Isso fez do Monte do Templo o maior local do gênero no mundo antigo. Sua área sagrada era duas vezes maior que o monumental Fórum Romano construído por Trajano e três vezes e meia maior que os templos conjuntos de Júpiter e Astarte-Vênus em Baalbek. A área da superfície do moderno Monte do Templo, entre 141.600 e 145.600 metros quadrados, reflete uma parte dessa ampliação herodiana.
A obra nos diz que Herodes utilizou tanto ouro que, quando o sol brilhava sobre o templo, quase cegava aqueles que olhavam para ele (GJ 5.5; 6.222). Andando pelo calçadão ao longo do lado oeste do monte do Templo ou caminhando dentro da stoa real, judeus e gentios também viam uma arquitetura altamente decorada e vivamente pintada (vermelho, amarelo, azul e púrpura).
Esse foi o magnífico edifício em que Jesus entrou para ser dedicado no oitavo dia de sua vida (Lc 2:21-39), e o visitava três vezes ao ano, mantendo o costume dos homens judeus que viviam fora da Judeia (cf. Lc 2:41-49), e onde ele completou a última semana de sua vida pregando diariamente em seus átrios (Mt 26:55; Lc 21:37). Durante toda a sua existência, o templo foi continuamente sendo aumentado e remodelado, de modo que cada vez que Jesus visitava aquela edificação, ele era recebido com alguma nova melhoria. Não fica claro por quanto tempo demorou a construção do templo e da área sacrificial.
A magnificência do templo ajuda o leitor a entender os relatos do Evangelho registrando o orgulho dos discípulos em oferecer a Jesus uma visita guiada ao templo (Mt 24:1-2; Mc 13:1-2; Lc 21:5-6) e explica o espanto deles diante de sua afirmação de que tal estrutura imensa, tanto o foco da vida e fé judaicas, deveria ser completamente destruída (Mt 24:3; Mc 13:3-4; Lc 21:7). No entanto, Jesus referiu-se ao templo como a “casa do Pai” dele (Lc 2:49; Jo 2:16), e está registrado que “o zelo pela tua casa [o templo] me consumirá” (Jo 2:17).
Evidência da construção herodiana
A condição delapidada do Segundo Templo de Zorobabel e os planos de Herodes para ampliá-lo em uma escala igual a sua ambição forçaram o completo desmantelamento da antiga estrutura (Ant. 15.391). Por essa razão, a maioria dos arqueólogos não espera que qualquer estrutura do Primeiro ou Segundo (Zorobabel) Templos tenha sobrevivido sob os edifícios atuais no Monte do Templo. Isso, no entanto, não se aplica a partes dos muros de contenção ou à área do Ofel que fica imediatamente ao sul do Monte do Templo, onde foram descobertas ruínas de estruturas anteriores.
Em 2006, uma muralha de sete metros de comprimento foi encontrada em uma trincheira cortada pelo Waqf Islamico. Essa é provavelmente a muralha oriental da Câmara dos Leprosos e talvez também parte da porta norte do Pátio das Mulheres.
Essa muralha não pode ter pertencido a uma construção pós-herodiana e, portanto, é uma evidência de uma estrutura herodiana.
Pedreiras antigas fornecem evidências da fonte dos materiais usados para esta construção. No lado norte da Cidade Velha, há uma pedreira conhecida como Pedreira de Salomão e Caverna de Zedequias, usada durante o período herodiano. Há também uma que data do final do período do Segundo Templo que foi encontrada durante um projeto de construção na rua Shmuel HaNavi de Jerusalém. O imenso tamanho das pedras sugere fortemente que elas foram usadas na construção de projetos herodianos em Jerusalém, incluindo as paredes do templo. Do outro lado do vale de Hinom, no Monte do Templo, em um local conhecido como Ketef Hinom, Gabriel Barkay escavou um complexo de tumbas do Primeiro Templo que havia sido usado como pedreira no período romano.
Várias pedreiras do período do Segundo Templo (parte de uma antiga cidade de pedreiras) também foram descobertas na área do bairro ultraortodoxo de Ramat Shlomo, no nordeste de Jerusalém.
No total, os arqueólogos descobriram uma área de cerca de mil metros quadrados de pedreira, bem como antigas picaretas e cunhas. Encontram-se visíveis no local da pedreira blocos de rocha em vários estágios de extração, incluindo algumas em um estágio preliminar do corte de rochas antes do seu descolamento. A maioria das pedras extraídas pesava de dezenas a centenas de toneladas, e a maior tinha 8 metros de comprimento. Nenhuma pedra desse tamanho jamais havia sido encontrada em uma escavação arqueológica em nenhum lugar do país, exceto nas muralhas do Monte do Templo. O grande número de contornos dos cortes de pedra no calcário branco da pedreira mostrou que se tratava de um enorme programa público que havia empregado centenas de trabalhadores no local, exatamente o que é descrito nas fontes de um projeto de construção imperial como o de Herodes. Outras provas vieram de artefatos encontrados no local, como estacas de ferro usadas para dividir as pedras e achados datáveis como cerâmica e moedas. Estes confirmaram uma data em torno de 19 a.C., a época da expansão do templo por Herodes.
Evidências de estruturas relacionadas ao templo
As ruínas da maioria dessas estruturas foram descobertas, e as do Tanque Strouthion podem ser vistas hoje perto da saída do Túnel da muralha ocidental e abaixo do Convento das Irmãs de Sião. Do lado externo, uma parte da fortaleza Antônia é visível dentro da estrutura do edifício que abriga uma escola de meninos islâmicos.
As ruínas mais visíveis de uma estrutura associada com o templo de Herodes são seções maciças dos muros de contenção existentes ainda hoje. As pedras polidas e prontas para construção e as construções herodianas podem ser encontradas nas partes mais baixas da muralha sul e na muralha central em ambos os lados do Portão Dourado do período islâmico. No entanto, o exemplo mais impressionante é a seção exposta da muralha ocidental. Sua altura é de aproximadamente 15 metros acima da praça moderna, com outro curso de pedras prosseguindo pelo menos mais 275 metros (mais ao sul do que ao norte). Na década de 1990, um túnel foi aberto ao lado do curso subterrâneo de pedras para permitir que os turistas possam ver toda a extensão da construção de Herodes.
Juntamente com o Muro das Lamentações (e também a muralha sul), o arqueólogo israelense Benjamin Mazar escavou muitas estruturas relacionadas com o Segundo Templo herodiano, incluindo a grande escadaria ocidental para entrada no templo conhecida como Arco de Robinson (devido a sua descoberta inicial e relato no século XIX pelo arqueólogo britânico Edward Robinson) e uma escadaria monumental, que se estende por quase um quilômetro e meio desde o tanque de Siloé até os portões de Hulda na entrada sul do templo.
Além disso, ali foi encontrado um prédio público que abrigava as miqvaot (tanques de imersão ritual) que eram usados por judeus que precisavam de purificação para entrar no recinto do templo. Eles foram mencionados em Atos 2:41 como o local de imersão para os judeus crentes em Jesus durante a Festa de Pentecostes. Vestígios de portões da construção do período islâmico (agora selados) chamados Portões Duplo e Triplo marcavam os locais dos Portões de Hulda e as passagens subterrâneas que estavam além deles. Dentro do interior da entrada do Portão Duplo os arqueólogos encontraram colunas herodianas que tinham suportado partes do telhado ornamentado e que deram ao local o nome do Novo Testamento de “Porta Formosa” (At 3:2).
O arqueólogo da Universidade de Haifa, Ronny Reich, continuou as escavações ao longo do lado sudoeste da muralha e chegou à antiga rua com grandes placas de pedra de até 30 cm de espessura. A rua estava repleta de lojas e os arqueólogos encontraram vestígios da atividade mercantil, como pesos para pesagens e moedas usadas para transações. Também foi encontrado ali o patamar do Arco de Robinson, além de um miqvaot, e uma pedra com inscrição que instruía os sacerdotes a tocar as trombetas que sinalizavam o início do sábado.
Também foi de grande importância a descoberta da tampa de um sarcófago de pedra com a inscrição hebraica: “… ben hacohen hagadol…” (“filho do sumo sacerdote”). Sabe-se que essa designação na literatura do Segundo Templo refere-se ao filho do sumo sacerdote que servira no templo.
Também foram descobertos túneis que formavam um verdadeiro complexo de caminhos. Dentro desses túneis foram encontradas evidências de atividade de refugiados judeus, incluindo panelas, lamparinas a óleo, uma chave, moedas e os restos de uma espada romana. Em 2011, os arqueólogos encontraram ali uma placa de pedra com uma gravura que resultou na menorá que foi usada no local sagrado do templo.
Os dados arqueológicos são significativos para o antigo debate sobre o Segundo Templo, que no passado era apenas evidenciada por uma imagem da menorá do templo que aparece no relevo dentro do Arco do Triunfo de Tito no Fórum Romano. Essa imagem criada por um artista romano que retratou a menorá com uma base octogonal decorada com várias criaturas mitológicas (um hipocampo), uma característica surpreendente, uma vez que representava uma violação da lei judaica (Êx 20:4). Os exemplos vindos de um contexto sacerdotal argumentariam fortemente a favor de sua representação como genuína.
Nas escavações de Reich e Shukron em 2011, o solo verificado da rua herodiana sob o Arco de Robinson trouxe à tona um pequeno selo de pedra com uma inscrição aramaica de duas linhas: deka’ (“puro”) leyah (“para Deus”). Esse selo, que certifica a pureza ritual de um item a ser usado no Segundo Templo, é o tipo de selo mencionado na Mishná (m. Sheqalim. 5:1-5).
Evidências de artefatos relacionados ao Templo
Artefatos vindos da área do templo são extremamente raros, pois os arqueólogos nunca foram autorizados a escavar naquele local. Mesmo assim, em 1871, o arqueólogo francês Charles Clermont Ganneau descobriu, em entulhos do Monte do Templo perto do Portão do Leão (St. Stephens), um grande bloco de calcário com uma inscrição grega de sete linhas. A tradução revelou que se tratava de um aviso para não entrar na área ritualmente pura dos átrios do templo. Para assegurar que esse limite não fosse violado de forma inadequada, grandes inscrições de pedra em grego e latim que ameaçavam de morte os infratores eram postas em cada entrada dos átrios (Ant. 15.471). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo fora acusado de violar essa proibição, porque ele havia sido visto anteriormente na companhia de Trófimo, um não judeu, e presumiu-se que ele tivesse entrado no templo (At 21:27-31).
Do Monte do Templo existem artefatos que foram recuperados dos destroços da construção pelo Projeto de Peneiramento do Monte do Templo. Entre as cerca de 6 mil moedas encontram-se as primeiras moedas de Judá (Yehud) do período persa, moedas de Antíoco Epifânio IV (175-163 a.C.), que profanou o templo, e centenas de moedas judaicas comuns dos períodos dos asmoneus e do Segundo Templo. Destaca-se a descoberta de moedas de shekel de prata e bronze, cunhadas pelos judeus durante a Primeira Revolta Judaica (66-70 d.C.), contendo inscrições como “Jerusalém Sagrada” e “Pela Liberdade de Sião”. Dezenas de pontas de flechas de ferro também foram encontradas como evidência da guerra judaica contra os romanos.
Entre os achados inscritos está uma bula de barro com uma inscrição hebraica antiga, “pertencendo a Gedalias, filho de Imer ha-cohen” (= o sacerdote Passur; cf. Jr 20:1; 38:1), que pode ter sido um sacerdote ou alto oficial, e um caco de cerâmica decorado com uma menorá como a que foi usada no templo.
Durante o trabalho da equipe de Randall Price no projeto (peneirar a terra coletada do vale abaixo do Portão Dourado) foi descoberta uma concha de murex, a mesma espécie de concha usada pelos sacerdotes do templo para tingir partes de suas vestes sacerdotais.
Além disso, pedaços de afresco de instalações dentro do recinto do templo, uma coluna dórica de um capitel que pode ter sido parte da stoa real e um fragmento de uma pedra esculpida gravada com uma folha de acanto (um estilo herodiano que pode ter sido do próprio templo).
Por se tratar de um livro muito atual a obra nos informa que ainda hoje, são visíveis pilhas de entulho no Monte do Templo.
Algumas estruturas estão inacessíveis aos arqueólogos e permanecem sob o controle das autoridades muçulmanas que, por razões religiosas e políticas, descartaram essas antigas relíquias.
Nunca houve qualquer exploração arqueológica adequada do Monte do Templo, porque está sob a jurisdição do Waqf, uma ordem religiosa muçulmana. A fim de obter informações sobre esse sítio, os primeiros exploradores recorreram a subterfúgios, muitas vezes com risco de vida. Em 1911, a malsucedida Expedição Parker, encarregada de encontrar os tesouros do Templo de Salomão, que se acreditava estarem localizados sob o Monte do Templo, tentou, à noite, escavar sob o piso no interior do Domo da Rocha. A equipe escapou com vida por um triz quando seu trabalho secreto foi descoberto.
Uma escavação arqueológica fora do Monte do Templo foi realizada pelo Estado de Israel em 1967.
As principais escavações do extremo sul da muralha ocidental e a entrada sul do Monte do Templo foram conduzidas por Benjamin Mazar e depois continuadas por sua neta Eliat Mazar. Escavações de Ronny Reich e Eli Shukron na cidade de Davi e na área da fonte de Giom no final do século XX e nas primeiras décadas do século XXI revelaram a continuação de uma escadaria monumental descoberta por Mazar fora da muralha sul do Monte do Templo.
Embora o Monte Templo tenha estado inacessível aos arqueólogos, a construção feita no local revelou acidentalmente evidências do templo. Em 2006, um projeto de construção perto do Domo da Rocha desenterrou cerâmicas do século VIII e a parte superior de uma parede (possivelmente relacionada ao Primeiro Templo). De 1996 a 2001, o Waqf, em preparação para a construção de uma nova mesquita no lado sul do Monte do Templo, removeu cerca de 20 toneladas de escombros arqueologicamente ricos e despejou alguns deles no vale de Cedrom. Dos destroços, o arqueólogo israelense Zachi Zweig recuperou artefatos da era do Templo, e com o dr. Gabriel Barkay os dois organizaram o Projeto de Peneiramento do Monte do Templo.
Outro artefato encontrado em escavações dirigidas por Eilat Mazar fora da área da muralha sul do Monte do Templo foi um medalhão de ouro de 10 cm de diâmetro com uma menorá representada nele.
10 – Mar Morto
A obra vai apresentar nesse capítulo informações de suma importância sobre os Manuscritos do mar Morto.
Esses Manuscritos do Mar Morto são uma coleção de cerca de 1.100 textos bíblicos escritos em hebraico, aramaico e grego. Em sua maioria foram grafados em pergaminhos (feitos com pele de cabra ou ovelha) e papiro (uma forma antiga de papel). Mais de 230 do total desses manuscritos são cópias de livros na Bíblia Hebraica. O restante é composto de textos apócrifos e pseudoepígrafos, comentários sobre textos bíblicos e documentos sectários. Esses documentos posteriores foram compostos durante o período asmoniano (152-163 a.C.) até o início do período romano (63-68 d.C.).
Vários rolos foram que estavam escondidos foram descobertos em cavernas ou nas proximidades do assentamento de Qumran, localizado no deserto da Judeia, a sudoeste de Jerusalém. Esses rolos foram encontrados apenas nas cavernas ao redor desse local e não no próprio assentamento.
Com base em artefatos datáveis encontrados nas cavernas, com método de datação através da aferição com carbono-14 e datação paleográfica e escriba, os Manuscritos do Mar Morto vão desde o século III a.C. até ao século 1 d.c. Muitos dos rolos do deserto da Judeia vindos da região ao sul de Qumran são datados da época da Revolta de Bar Kokhba (132-136 d.C.).
A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto
Membros da tribo beduína Ta’amireh encontraram uma caverna onde estavam armazenados recipientes cilíndricos cobertos com tampas em forma de tigela. Dentro dos frascos havia uma coleção de sete rolos (muitos deles embrulhados em panos de linho) escritos em hebraico e aramaico. Os sete rolos incluíam manuscritos bíblicos, duas cópias de Isaías (Isaías A e B), um comentário sobre Habacuque e rolos sectários, incluindo o Manual de disciplina, Rolo da guerra, Rolo de ação de graças e o Apócrifo de Gênesis. Uma vez que a descoberta se tornou conhecida com a publicação do Rolo de Isaías e do Comentário de Habacuque em 1950 e os rolos foram considerados valiosos, os beduínos (seguidos pelos arqueólogos) descobriram cavernas adicionais, e mais manuscritos foram descobertos. Uma vez que os arqueólogos começaram a trabalhar na Caverna 1 (a localização foi inicialmente mantida em segredo pelos beduínos), eles descobriram fragmentos de cerâmica datáveis, como lamparinas a óleo, que colocaram o primeiro uso da caverna no período asmoniano.
Em 1948, quatro rolos foram levados para as Escolas Americanas de Pesquisa Oriental, onde John Trever os fotografou e enviou cópias ao arqueólogo americano William Foxwell Albright, que os declarou como a maior descoberta de manuscritos dos tempos modernos. O Estado de Israel adquiriu os sete manuscritos e um museu conhecido como o Santuário do Livro foi construído para exibí-los como parte do Museu Nacional de Israel em Jerusalém.
Entre 1947 e 1956 foram identificadas onze cavernas com rolos, numeradas na ordem de sua descoberta.
Em março de 2017, escavações adicionais na Caverna 11 revelaram pedaços de tecidos conectados com os pergaminhos. A caverna do Rolo de Cobre continha fragmentos de catorze documentos diferentes, mas a grande descoberta, como prêmio, foram duas placas de cobre (enroladas em forma de rolo) que estavam gravadas com caracteres hebraicos (e algumas cifras gregas). Esse documento único contém o inventário de um imenso tesouro (riqueza material e itens rituais) escondido em 64 locais ocultos dentro e além do deserto da Judeia. Até o momento, nenhuma de suas localizações foi identificada positivamente, tampouco nenhum dos itens listados no inventário foi descoberto, embora várias tentativas tenham sido feitas em Qumran, Hircânia e Jerusalém.
O Rolo do Templo é um documento primário da seita de Qumran, embora possa ter precedido o próprio grupo. Trata-se de um documento sacerdotal escrito como uma revelação de Deus a Moisés, fornecendo detalhes para a construção de um templo apropriadamente incontaminado e suas leis e rituais.
Os Manuscritos do Mar Morto e estudos sobre a Bíblia
Os Manuscritos do Mar Morto têm grande significado para os estudos sobre a Bíblia. Abrindo uma janela específica sobre o período do Segundo Templo, esses documentos fornecem algumas de nossas únicas informações sobre as seitas judaicas da época.
Referem-se aos rituais do período do Segundo Templo, visões religiosas e costumes sociais, fornecem informações geográficas e topográficas, registram eventos históricos e políticos, revelam interpretações jurídicas judaicas (comparáveis a discussões posteriores na Mishná e no Talmude) e contém vocabulário especializado, alguns casos em paralelo ao uso no Novo Testamento, como o Evangelho de João e as epístolas de Paulo. Esses documentos também fornecem informações anteriormente desconhecidas sobre um grupo sectário judeu que se autodenominava Yahad de práticas legais e costumes sociais que apenas ecoavam escassamente nos escritos rabínicos muito posteriores (Talmude, Mishná). Além do mais, antes da descoberta dos rolos, a literatura judaica extrabíblica, como os apócrifos e os pseudepígrafos, existia apenas como traduções antigas (grego, siríaco e copta), mas os rolos forneceram versões hebraicas e aramaicas, permitindo aos estudiosos pela primeira vez ler essas obras em sua forma original. Eles também revelaram várias outras informações que são descritas no livro.
Seu valor mais importante em relação aos estudos sobre a Bíblia é para a crítica textual do Antigo Testamento, ajudando os estudiosos a entender o estado do texto bíblico no período do Segundo Templo e sua transmissão de épocas anteriores e quão estável essa transmissão permaneceu até que foi ligada com o TM (o texto tradicional) no século IV d.C.
Os textos bíblicos foram reunidos e publicados em uma ordem canônica como Os manuscritos bíblicos do Mar Morto, e a Biblioteca digital dos Manuscritos do Mar Morto e o Projeto Leon Levy dos Manuscritos do Mar Morto (ambos em parceria com o Google) disponibilizaram para o público as imagens dos manuscritos e sua tradução. Quanto a publicações sobre os manuscritos, o número é tão grande que existem publicações sobre as publicações dos pergaminhos e pesquisas relacionadas a eles.
Escavação no sítio de Qumran
No final dos anos 1940 até início de 1950, beduínos e arqueólogos encontraram fragmentos adicionais de pergaminhos e rolos de papiro nas cavernas adjacentes à Caverna 1 e num local 2,5 km ao sul dessas cavernas. As cavernas e os pergaminhos encontrados nelas foram numerados pela ordem de sua descoberta. Quando arqueólogos escavaram dentro da Caverna 4 encontraram uma grande quantidade de fragmentos de rolos abaixo do chão da caverna e fragmentos adicionais nas outras cavernas artificiais que, como a Caverna 4, rodeadas por um planalto de solo argiloso, continham ruínas de edifícios antigos. A descoberta de fragmentos de rolos nas cavernas de Qumran levou os arqueólogos a investigar o planalto, com base na teoria de que as ruínas teriam uma conexão com os rolos. As estruturas desse assentamento foram inicialmente escavadas entre 1951 e 1957.
Com base em evidências pode-se concluir que o local poderia ter sido um scriptorium (sala para escrita), apoiando a teoria de que esse era o lugar da antiga comunidade judaica que tinha sido envolvida com a produção e conservação dos manuscritos, embora muitos dos rolos tivessem vindo de fora de Qumran e fizessem parte de sua biblioteca. Essa conexão foi fortalecida ainda mais pela descoberta de que os recipientes contendo os rolos haviam sido produzidos nos fornos de Qumran, que os frascos e fragmentos de pergaminho haviam sido escondidos em cavernas escavadas nos lados do planalto que abrigava a comunidade, e que a cerâmica encontrada no assentamento coincide com a que foi encontrada na Caverna 1, ao norte.
Por volta do final do século XX, novas teorias foram levantadas desafiando a visão de que Qumran teria sido um assentamento judaico, sacerdotal e sectário. Norman Golb alegou que os manuscritos seriam de uma biblioteca (provavelmente ligada ao templo) em Jerusalém que havia sido transportada para o deserto no ataque da resposta romana à revolta judaica, entre 66 e 70 d.C. Robert Donceel e Pauline Donceel Voute argumentaram que Qumran poderia ter sido uma vila romana, baseada em parte na descoberta de artefatos de itens de luxo que não se encaixavam no modelo de assentamento da comunidade religiosa. No entanto, o período de ocupação romana poderia explicar esses achados anômalos. Lena Cansdale e Alan Crown argumentaram que o assentamento poderia ter sido uma estação de passagem fortificada e uma cidade portuária às margens do Mar Morto e, portanto, um local comercial em uma importante rota de comércio do norte do país. Yizhar Hirschfeld alterou essa proposta e argumentou que se tratava de uma propriedade asmoniana fortificada que se tornou uma estação de comércio fortificada baseada na agricultura durante o período Herodiano.
Em 1984-1985. Joseph Patrich e Yigael Yadin realizaram um levantamento sistemático de cerca de 57 cavernas ao norte e ao sul de Qumran e, subsequentemente, Patrich escavou cinco cavernas, concluindo que seu uso era para armazenamento pela seita de Qumran. Em uma caverna, Patrich descobriu um pequeno jarro do período herodiano envolto em fibras de palmeiras contendo resíduos de uma substância que se acreditava ser óleo de bálsamo e um jarro de armazenamento contendo tâmaras secas. Em meados da década de 1990. Magen Broshi e Hanan Eshel escavaram cavernas imediatamente ao norte do assentamento de Qumran em um barranco. Duas dessas cavernas revelaram evidências de habitação contínua, incluindo centenas de fragmentos.
Em 1994, na véspera de a Autoridade Palestina assumir o controle sobre o território de Jericó e arredores e o temor de que Qumran e áreas afins fossem cedidas ao controle palestino, Yitzhak Magen, na época oficial da Administração Civil da Judeia e Samaria, iniciou a Operação Scroll, uma pesquisa ambiciosa em cerca de 300 locais de cavernas no deserto da Judeia. Os resultados foram um mapeamento de cavernas e evidências de habitação baseadas em escavações limitadas. As escavações de Magen e Yuval Peleg dentro e fora das áreas de assentamento de Qumran para o norte e sul descobriram quatro depósitos de refugos, uma praça pavimentada, três silos subterrâneos datados da Idade do Ferro, um canal de transbordamento e pequenos achados como dez fragmentos de cerâmica, uma garrafa de vidro, pontas de flecha de ferro e moedas que datam desde o século II a.C. ao século 1 d.C. Como sempre, a excelente descoberta, segundo o relatório preliminar da escavação, foi o encontro de uma espessa camada de argila na parte inferior rebocada do tanque rebaixado (Tanque L-71), que eles identificaram como “argila de oleiro de alta qualidade” e argumentavam que Qumran havia sido principalmente uma fábrica de cerâmica, servindo à área geral e não um assentamento judaico religioso como a maioria dos estudiosos de Qumran havia afirmado.
Estudiosos reagiram à teoria da produção de cerâmica, uma vez que nenhuma análise química da argila fora liberada pelas escavações para sustentar essa argumentação.
A descoberta desse local em Qumran do Rolo de Guerra e do Templo revela
1 – Que uma comunidade religiosa obediente ocupou o planalto de Qumran no século 1 a.C.,
2 – Essa comunidade pelo menos produziu os rolos que foram usados para identificar o local das latrinas, e
3 – A mesma prática ritual pelos sacerdotes judeus e os essênios indica que eles são os candidatos mais prováveis para serem identificados como os habitantes da comunidade.
Com base nesse entendimento, os habitantes religiosos da comunidade também foram as pessoas mais prováveis que esconderam os rolos nas cavernas de seu sítio.
Parte 3
11 – Novo Testamento arqueologicamente
Os autores pontuam que a arqueologia do Novo Testamento é dividida em quatro áreas distintas.
Primeiro, há aquelas descobertas que se relacionam com o fim do período asmoneano e a chegada da influência romana em Israel. Mesmo Herodes tendo morrido logo após o nascimento de Jesus, o Messias, as realizações do rei e seu impacto no território em que Jesus haveria de cumprir seu ministério e, por fim, sua Paixão, foram enormes. A influência romana nas várias partes de Israel pode ser vista nos edifícios, inscrições e artefatos que vêm daquela época.
A segunda área de interesse arqueológico é a vida, morte e ressurreição de Jesus. Várias descobertas arqueológicas relacionadas com o Novo Testamento se referem a pessoas como os sacerdotes Caifás e Anás, aos filhos de Herodes ou às autoridades romanas, como Pilatos. Além disso, as viagens e os encontros de Jesus nos Evangelhos são verificados pela arqueologia, tanto nos arredores do templo, em cidades como Betânia, Cafarnaum ou Jericó, como nas estradas e montanhas da região.
O texto segue apresentando a terceira área. Ela refere-se ao restante do Novo Testamento, particularmente nos Atos dos apóstolos. Os estudiosos frequentemente questionam suas próprias conclusões, mas suas declarações precisas têm sido repetidamente confirmadas por descobertas arqueológicas, como os termos nos escritos apostólicos que aparecem nas inscrições do século I e a identificação e escavação de cidades e províncias do mundo romano as quais fazem menção. O uso que Lucas fez da expressão “tementes a Deus” levou alguns a acusá-lo de inventar o termo para identificar os gentios que buscavam uma conexão com a fé judaica. No entanto, a expressão foi descoberta em sítios como Mileto e Afrodísias.
Novas cidades estão sendo descobertas ou mesmo confirmadas à medida que os arqueólogos continuam fazendo seu trabalho em lugares como Israel. Magadala, a aldeia de Maria de Magdala (Magdaleum), foi localizada, enquanto outros sítios, como Betsaida, a aldeia de Pedro, André e Filipe, estão atualmente sendo alvos de debate. Não apenas estão sendo identificadas numerosas cidades do Novo Testamento, mas ao estudar o povo do antigo Israel e de outros países do Mediterrâneo, é possível entender melhor os textos bíblicos.
O trabalho arqueológico nas terras da Bíblia tem proporcionado muito entendimento do período do Novo Testamento. As cidades que só eram conhecidas por causa de sua menção nos Evangelhos ou nos demais escritos do Novo Testamento foram encontradas e muitas delas têm sido escavadas.
Documentos complementares encontrados no deserto da Judeia, em Israel, especialmente em Qumran, e a descoberta de documentos gnósticos nas areias do Egito, em Nag Hammadi, forneceram importantes escritos e artefatos que revelam o modo como aqueles que precederam o tempo de Jesus e os que vieram após ele entenderam a natureza e obra do Messias.
A arqueologia também ajuda a descobrir mais acuradamente os eventos da vida da Igreja, como a morte de um apóstolo. Somente nos últimos anos os arqueólogos encontraram o mausoléu do apóstolo Filipe, que a tradição da Igreja diz ter sido martirizado em Hierápolis. Agora sabemos que essa tradição estava correta.
12 – Comprovando os Evangelhos
Evangelho de Matheus
Mateus 2:1a
O local da natividade em Belém
Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei
Herodes […]
O Evangelho de Mateus relata que Jesus nasceu em “Belém na Judeia” (Mt 2:1). Belém (hebraico, “casa do pão”) está localizada a 10 quilômetros a sudoeste de Jerusalém.
Belém é mencionada pela primeira vez na Bíblia como o local de sepultamento de Raquel em Gênesis 35:19 e 48:7. Também é a cidade natal de Noemi e local de nascimento do rei Davi. Mais tarde, é dito que o neto de Davi, Roboão, “edificou” a cidade (2Cr 11:6). No Novo Testamento, além de ser o local do nascimento de Jesus, Belém foi também o palco do infanticídio de Herodes (Mt 2:16).
A obra nos conta que embora a cidade propriamente dita nunca tenha sido totalmente escavada, foram encontradas evidências arqueológicas indicando que Belém foi ocupada, pelo menos, a partir da Idade do Ferro (1200-1000 a.C.). A evidência para isso foi a descoberta de um túmulo contendo artefatos da Idade do Ferro II (1000-925 a.C.) (encontrado em 1969) e de um capitel protoeólico de 2.800 anos (sécs. IX-VIII a. C.).
O arqueólogo da Universidade Hebraica, Yosef Garfinkel, acredita que um túnel aquático dessa extensão sugere a presença de um grande palácio nas proximidades. Tal construção complexa certamente indica que o trabalho teria sido realizado pelo governo central em Jerusalém.
Em 135 d.C., depois de estabelecer um posto militar em Belém durante a revolta de Bar Kokhbah, diz-se que Adriano plantou um bosque sagrado e ergueu estátuas da divindade greco-romana Adonis (equivalente ao Tammuz mencionado em Ez 8:14) acima da gruta “na qual Jesus nasceu”. Estudiosos conjecturam que esse foi um esforço para impedir o uso cristão da gruta, eclipsando seu lugar de veneração com o culto romano.
Acredita-se também que Adriano tenha erigido um templo para Afrodite no local da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, possivelmente por causa de sua conexão de amor dela com Adônis. Um testemunho da história e da tradição associada ao local foi dado por Jerónimo quando ele chegou a Belém no século IV d.C. para iniciar sua tradução da Vulgata (Bíblia latina) numa gruta perto do local de nascimento. Ele escreveu que naquela época a cidade já era o local mais venerado do mundo” (Epist. 58).
A moderna Igreja da Natividade em Belém é quase universalmente aceita como tendo sido construída sobre essa gruta. Escavações realizadas dentro da igreja confirmam os registros históricos de uma basílica octogonal da era de Constantino debaixo da igreja atual. Pisos de mosaicos foram encontrados, contendo o conhecido acrônimo/acróstico grego ICHTHUS para a confissão cristã: lésous Christos, Theou Vios, Söter (“Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”), bem como colunas com cruzes contendo inscrições feitas pelos peregrinos da era dos cruzados tardios.
Mateus 2:16
A arqueologia e Herodes, o Grande
Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos.
Como é conhecido pela maioria dos cristãos Herodes, o Grande, tentou matar o menino Jesus depois de seu nascimento em Belém. Certamente a tentativa de matar o único “rei nascido dos judeus” (Mt 2:2) foi um ato cruel, mas Herodes foi culpado de muitas outras atrocidades. Ele ficou conhecido como um político implacável e astuto, um governante paranoico, um militar bem-sucedido e, principalmente, um mestre construtor.
Após sua nomeação como rei da Judeia, Herodes manteve sua autoridade através de um uso efetivo de seu exército e da maneira pela qual ele agradava a vários governantes romanos. Ele parecia saber intuitivamente a quem devia fidelidade quando ocorriam mudanças dentro do governo romano.
Herodes ganhou o cognome “o Grande” por causa de sua habilidade como arquiteto e construtor. Ele construiu cidades e templos em honra aos imperadores e deuses romanos. Escavações arqueológicas revelaram alguns de seus magníficos projetos, como por exemplo a Cesareia marítima (25-13 a.C.).
Desprezado por causa de sua herança paga e nomeação romana, a fim de conquistar o favor dos judeus e impressionar seus superiores romanos, ele renovou o Segundo Templo em Jerusalém (c. 20-19 a.C.), reconstruindo-o a partir das fundações, mas acrescentando elementos arquitetônicos para o mundo romano.
A existência e as realizações de Herodes, o Grande, não são contestadas hoje. Confirmando a existência de Herodes, o arqueólogo da Universidade Hebraica Ehud Netzer encontrou em Massada um fragmento de cerâmica com uma inscrição latina que dizia “Herodes, rei da Judeia”, listando o tipo de vinho que o rei importava da Europa.
No entanto, os estudiosos têm dúvidas sobre sua morte e o local de seu sepultamento.
Mateus 2:19-20
A tumba de Herodes
Depois que Herodes morreu, um anjo do Senhor apareceu em
sonho a José, no Egito,20 e disse: “Levante-se, tome o menino
e sua mãe, e vá para a terra de Israel, pois estão mortos
os que procuravam tirar a vida do menino.”
Mateus, o único evangelista que menciona o evento, simplesmente afirma, em 2:19, que o rei Herodes morreu. Isso é algo notável, devido ao fato de Herodes ter sido descrito em detalhes por esse autor como um inimigo de Jesus, e escritores extra bíblicos como Josefo (Ant. 17.6.5) registrarem sua horrível morte (considerada como tendo sido causada por uma doença renal crônica complicada pela gangrena de Fournier) como um castigo de Deus pelos seus pecados. No versículo seguinte, ele também observa: “estão mortos os que procuravam tirar a vida do menino” (2:20). A melhor explicação para o uso do plural é que a frase inclui tanto Herodes como seu filho Antipas, a quem Herodes havia assassinado apenas cinco dias antes de sua própria morte, porque ele descobriu que seu filho se regozijou ao pensar erroneamente que seu pai já havia morrido (GJ 1.23.7). Antipas também foi notável por sua crueldade e pode ter estado envolvido no plano de assassinar os inocentes em Belém e seus arredores na tentativa de matar Jesus.
O fim da vida de Herodes revela a essência de seu caráter manifestada ao longo de sua vida, incluindo a execução de suas esposas e filhos, sem mencionar o assassinato dos bebês em busca do Messias em Belém.
Herodes recebeu um sepultamento verdadeiramente real. Seu caixão de ouro estava cravejado de pedras preciosas e envolto em púrpura real. Seu cadáver estava vestido com elegância real, usando uma coroa de ouro e com um cetro na mão direita. Acompanhando seu caixão estavam seus militares em plena formação de batalha, seus familiares e cerca de 500 servos levavam especiarias tradicionais de unção.
Ehud Netzerspent, arqueólogo da Universidade Hebraica, despendeu quase 40 anos procurando pelo túmulo de Herodes. Depois de seguir as teorias que o levaram as estruturas interiores do Herodium superior, e especialmente a uma das imponentes torres de guarda, ele voltou sua atenção para o Herodium inferior e para uma área nas encostas mais baixas.
Em 2007, enquanto a equipe de escavação de Ehud estava investigando um recém-descoberto conjunto de escadas na encosta da colina acima do terraço, Yakov Kalman, um membro da equipe de escavação, revelou várias estruturas grandes usando uma retroescavadeira. O tamanho e a qualidade das estruturas, bem como a elaborada ornamentação das pedras, revelaram a Netzer que ele finalmente encontrara o que procurava havia muito tempo. Sua identificação positiva parece se alinhar com a localização dada por Josefo sobre um sistema de água que se originou em Jerusalém.
As descobertas, até o momento, incluem o pódio que abrigava o sarcófago real, e de outros membros da família, restos do mausoléu, um teatro e uma sala real repleta de pinturas nas paredes e afrescos requintados e pilastras de canto parcialmente embutidas nas paredes.
O mausoléu e os sarcófagos foram encontrados destruídos deliberadamente por martelos, prova de que Herodes permaneceu sendo odiado, mesmo depois de sua morte, pois essa destruição foi conduzida pelos judeus da Primeira e da Segunda Revolta Judaicas.
Mateus 4:5
O pináculo do templo
Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte
mais alta do templo.
No relato de Mateus sobre a tentação de Jesus, ele diz: “Então o diabo o levou para cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo” (4:5).
Josefo diz que o pórtico real que ficava no monte do Templo nesse local tinha 15 metros de altura. Essa elevação, combinada com a profundidade do vale do Cedrom, torna compreensível o fato de Josefo dizer que a vista desse local faria alguém ter “tontura”, e por isso Satanás teria escolhido esse ponto para tentar Jesus.
Flávio Josefo, historiador do século I, escreveu sobre a execução de Tiago, o Justo, por apedrejamento (Ant. 20.9.1), mas o pai da Igreja do século II, Hegésipo, disse que Tiago foi martirizado ao ser jogado do pináculo do templo. Ele teria sido enterrado no local onde morreu. Embora agora conhecido por pertencer à família de Bene Hezir, uma tumba monumental (à direita com um topo piramidal), quase exatamente oposta ao canto sudeste do monte do Templo, era conhecida na Antiguidade como o túmulo de Tiago. Devido a ser esse um local tradicional para o túmulo, se Tiago foi jogado nesse canto do templo, Finegan diz: “[…] não teria sido difícil imaginar que aquele túmulo fosse o monumento a Tiago”.
Mateus 6:9
Exemplos arqueológicos do “Pai Nosso”
Vocês, orem assim: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado
seja o teu nome.
Exemplos arqueológicos de anagramas primitivos relacionados ao Pater Noster (do latim: “Oração do Senhor”) foram descobertos em locais muito afastados uns dos outros, desde Dura-Europos, no rio Eufrates, no Iraque moderno, até as ruínas de Pompeia, e até mesmo em Cirencester, Inglaterra. O anagrama de Pompeia tem de ser anterior a 79 d.C., quando a cidade foi destruída. Acredita-se que o anagrama de Cirencester seja do século II. O exemplo de Dura-Europos não pode ser posterior a 257 d.C., quando a cidade foi abandonada. No entanto, anagramas também foram descobertos em vários modelos medievais.
A teoria é de que esses anagramas se desenvolveram como um código secreto para ajudar os cristãos a identificar os companheiros durante a perseguição inicial da Igreja, semelhante ao símbolo do peixe e ao acrônimo/acróstico ICHTHUS.
Mateus 8:14-15
A casa de Pedro em Cafarnaum
Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra deste de cama,
com febre. Tomando-a pela mão, a febre a deixou, e ela se
levantou e começou a serví-lo.
Embora o trabalho tivesse sido feito em Cafarnaum já em 1865, só em 1968 a cidade foi totalmente escavada pelo arqueólogo italiano Virgilio Corbo. Entre as ruínas escavadas no sítio antigo, um complexo de cerca de doze casas foi encontrado perto da sinagoga, na direção do mar da Galileia, datando do século I a.C. ao século 1 d.C. As casas eram no estilo de construção típica para a época.
De particular interesse é a maior casa do complexo. Desde o século IV ela era identificada como a casa do apóstolo Pedro. Em 385 d.C. Aetheria escreveu: “Em Cafarnaum, a partir da casa do primeiro dos apóstolos, foi feita uma igreja (…)”. Em 570, o Anônimo de Piacenza declara: “Viemos a Cafarnaum, na casa de São Pedro, que é uma basílica.”
Isso não convenceu todos os arqueólogos, como diz Kenyon: “As alegações de que a casa de Pedro foi encontrada em Cafarnaum, tendo como base anzóis lá encontrados, devem ser consideradas com algum ceticismo”. Kenyon faz essa declaração visto que no piso dessa casa foram encontrados dois anzóis. A presença de anzóis e a proximidade da casa com o mar seriam evidências de que a casa pertenceria a um pescador.
Mateus 11:21
Corazim do Novo Testamento
Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem sido realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo elas se teriam arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas.
Embora Jesus tenha realizado obras poderosas em Corazim, seus moradores “não se arrependeram”, por isso Jesus evoca uma imprecação sobre eles em Mateus 11:20-24, incluindo Betsaida e Cafarnaum. A ameaça de Jesus não era vã. Corazim hoje está totalmente destruída e abandonada.
Fragmentos arqueológicos, em sua maioria datados dos séculos II-IV e todos feitos do basalto local, incluem alguns domicílios, um mercado, uma miqveh, uma instalação de produção de azeite e uma sinagoga. As decorações da sinagoga fornecem evidências importantes do alto grau de helenização que estava ocorrendo naquele tempo, já que a sinagoga de Corazim não seguia as injunções normais contra imagens esculpidas, mas incluía centauros combatendo leões e uma cabeça de medusa.
Mateus 15:39
Magdala do Novo Testamento
E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala. (ARC)
Magdala é considerada a cidade natal, no Novo Testamento, de Maria que foi a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27:56) e uma das mulheres que vieram para ungir o corpo de Jesus após a crucificação e para quem o Messias ressuscitado apareceu (Mc 16:1,9). O local está situado menos de 5 quilômetros de Tiberíades e no entroncamento com a antiga rota de Nazaré para o mar da Galileia na antiga vila palestina Al-Majdal, e foi identificado com a “Magdala” do Novo Testamento (hebr. migdal, “torre”).
A Magdala da época do Novo Testamento se tornou conhecida a partir de escavações arqueológicas feitas por Virgílio Corbo de 1971 a 1977. Ela foi projetada a partir da típica concepção romana, com um cardo máximo principal e ruas laterais cruzadas.
As escavações da Galileia começaram em Magdala em 2009 com o primeiro trabalho sistemático em junho/julho de 2010. Nas escavações foram descobertas diversas estruturas do período do Segundo Templo no local, incluindo uma sala com vários tanques para diferentes tipos de peixes, um ancoradouro para barcos de pesca, um porto, ruas e uma sinagoga. De especial interesse foi a descoberta de uma sinagoga com um suporte para a Torá esculpido em pedra ou púlpito no centro.
A importância da sinagoga de Magdala e da pedra de Magdala é que juntas elas acrescentam novo respaldo para a compreensão da sinagoga como um espaço sagrado, mesmo enquanto o Templo permanecia em pé. Há muito que o consenso acadêmico tem afirmado que as sinagogas eram apenas locais de reunião e estudo da Torá e outros livros sagrados, mas não espaços sagrados propriamente ditos. As escavações arqueológicas em Magdala, além de confirmar o local descrito no Novo Testamento, estão desafiando esse consenso.
Mateus 16:17
Evidências sobre Simão, filho de Jonas
Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque
isto não lhe foi revelado por carne ou sangue,
mas por meu Pai que está nos céus.”
Operários estavam construindo um novo muro na igreja franciscana Dominus Flevit (“o Senhor chorou”) no monte das Oliveiras, em 1953, quando encontraram uma gruta cheia de restos mortais. Entre os mais de 50 vestígios, havia 122 ossários (caixas de pedra com ossos), e nessas caixas foram achadas 40 inscrições, esculpidas nas caixas ou escritas em carvão, em hebraico, aramaico e grego.
Um dos ossários tinha grafado o nome Simão Bar [Ynh]. A última palavra é incerta, mas poderia ser “Jonas”.
O local identificado pela Igreja Romana como o túmulo de Pedro fica no extremo oeste de um complexo de mausoléus datado entre 130 e 300 d.C. que foi parcialmente destruído para permitir a construção da primeira Basílica de São Pedro (c. 330 d.C.). A sepultura identificada com Pedro fica na base da edícula debaixo do piso. A extração arqueológica em 1953 revelou que continha ossos de humanos e animais. No entanto, mais tarde, foi encontrado outro conjunto de ossos que haviam sido transferidos sem o conhecimento dos arqueólogos de um nicho no lado norte do muro de grafite que fica ao lado do muro vermelho à direita da edícula. A datação por radiocarbono determinou que os ossos eram de um homem de 60 a 70 anos de idade. Apesar desses achados estabelecidos dentro do contexto da tradição da Igreja, Antonio Ferrua, o arqueólogo que liderou a escavação da tumba de Pedro, afirmou que não havia provas conclusivas de que aqueles eram os ossos do apóstolo. Nesse caso, a arqueologia não pode necessariamente provar uma tradição, mas fornece evidências arqueológicas da existência da veneração inicial do local em relação a Pedro.
Mateus 23:2
A cadeira de Moisés
Então, Jesus disse à multidão e aos seus discípulos: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes
e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles
fazem, pois não praticam o que pregam.”
Jesus se refere à kathedras (“cadeira”) de Moisés em alusão à autoridade que os escribas e fariseus tinham para assuntos religiosos. De fato, Jesus disse às pessoas que fizessem o que eles diziam para fazer.
Mateus 23:29
Os túmulos dos profetas
Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês edificam os túmulos dos profetas e adornam os monumentos dos justos.
Em Mateus 23, Jesus lança uma série de imprecações sobre os escribas e fariseus como representantes da apostasia de Israel, culminando com um resumo histórico sobre a liderança religiosa nacional deles. Como parte dessa declaração, ele menciona a hipocrisia de erigir túmulos para os profetas e justos.
No vale do Cedrom, na encosta leste em frente ao Portão Dourado, há um grande cemitério judeu que foi usado para esse fim até o final da Idade do Bronze. Ali, num complexo de grutas do Período do Segundo Templo, encontram-se quatro túmulos monumentais construídos para a aristocracia asmoneana e depois herodiana de Jerusalém (c. séculos II a.C.-70 d.C.). Todos os túmulos foram escavados na rocha maciça da encosta do vale. Eles foram tradicionalmente identificados por figuras bíblicas: Absalão, Zacarias e Tiago, mas apenas um deles, o túmulo de Tiago, que é o mais antigo, traz uma inscrição hebraica em sua entrada com o nome da família do ocupante Bene Hezir (“filhos de Hezir”) e indica que se tratava de uma família sacerdotal. A inscrição da tumba também revela que a gruta foi usada por várias gerações da família Hezir. Sua localização no vale do Cedrom, famoso por seus túmulos reais da Idade do Ferro, só podia ser oferecida aos mais ricos e influentes.
O túmulo de Zacarias é também um nephesh (lit. “alma”). Não tem abertura, mas consiste de um bloco sólido escavado no lado da colina, encimado por uma cobertura em forma de pirâmide. O telhado tem uma cornija em estilo egipcio sustentada por colunas jônicas. Sua datação é da segunda metade do século I a.C. Alguns conjecturam que se tratava de um monumento em ligação com a tumba de Bene Hezir adjacente a ele. Pode ter sido tradicionalmente associado a Zacarias, pois está registrado que Zacarias foi apedrejado entre o altar e o santuário” (Lc 11:51), localizado nas proximidades.
O túmulo de Absalão consiste em um cubo de pedra decorado com colunas jônicas ao redor da parte inferior, enquanto a parte superior é feita de silhares e tem o formato de um barril arredondado, coberto com um telhado côncavo cônico. Embora seja considerado uma tumba, é chamado de nephesh ou de memorial. Sugere-se que o túmulo foi associado a Absalão porque se assemelha a um pilar e, de acordo com 2Samuel 18:18, Absalão construiu para si um memorial no “vale dos Reis” (outro nome para o vale de Cedrom).
No entanto, uma nova luz foi lançada sobre a história do túmulo de Absalão em 2003, quando Joe Zias, um antropólogo israelense e ex-curador da Autoridade de Antiguidades de Israel, junto com Emile Peuch, principal epigrafista do Projeto Manuscritos do Mar Morto, na École Biblique [Escola Bíblica] em Jerusalém, anunciaram a descoberta de uma inscrição grega bizantina muito desgastada no topo da fachada externa do túmulo de Absalão. A inscrição de 47 palavras, no original, diz: “Este é o túmulo de Zacarias, mártir, sacerdote muito piedoso, pai de João.” A inscrição revela que os cristãos locais veneravam o local e acreditavam que Zacarias, pai de João, o Batista (Lc 1:5-26,57-66), foi enterrado no sepulcro.
Zias e Peuch acreditam que outros nomes estão no monumento e conseguiram ler uma inscrição recém-decifrada como “Simeão, que era um homem muito justo e uma pessoa muito devotada e aguardava o consolo do povo”.
As crescentes provas arqueológicas confirmam a declaração de Jesus sobre a construção de monumentos para os profetas naquele lugar.
Mateus 24:1-2
A destruição do monte do Templo
Jesus saiu do templo e, enquanto caminhava, seus discípulos aproximaram-se dele para lhe mostrar as construções do templo. “Vocês estão vendo tudo isto?”, perguntou ele. “Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas.”
A terrível advertência de Jesus para Jerusalém foi cumprida apenas 40 anos depois que ele a proferiu, durante a Primeira Revolta Judaica. Em 66 d.C. os judeus da Judeia se revoltaram. Eles se ressentiram por muito tempo do domínio romano, mas quando os procuradores romanos aumentaram os impostos e assumiram a designação dos sumos sacerdotes, eles encontraram o motivo de que estavam precisando. Roma nunca havia entendido as sensibilidades religiosas judaicas, que eram únicas entre todos os povos que o império havia conquistado.
Algumas peças da Décima Legião romana foram encontradas em escavações dentro do atual bairro armênio do Bairro Judeu. Uma coluna romana mencionando a Décima Legião foi encontrada em uma rua estreita dentro do portão de Jafa, no entanto, foi datada como de 200 d.C. Ela fornece evidência da presença contínua da Décima Legião muito depois da destruição do templo. Os arqueólogos propuseram uma localização na área do Santo Sepulcro ou no Ofel (ao sul do templo). Nessa área foi encontrado um marco romano esculpido pela Décima Legião romana com uma inscrição em latim que menciona tanto o imperador romano Vespasiano como seu filho Tito, comandante do exército romano na época da supressão da Grande Revolta. Embora desfigurada, a inscrição também parece mencionar Flavius Silva, procurador da Judeia e comandante da Décima Legião, que supervisionou a destruição de Jerusalém e a conquista de Massada.
Historicamente falando Roma primeiro varreu a Galileia, matando ou escravizando cerca de 100.000 pessoas. Eles então marcharam para o sul, sitiando Jerusalém, que caiu no verão de 70 d.C. Quando os romanos romperam as muralhas, eles iniciaram um trabalho destrutivo, derrubando e queimando qualquer coisa em que pudessem colocar suas mãos, incluindo o templo com todos os seus tesouros. Escavadores descobriram evidências vividas dessa destruição ao lado do Muro das Lamentações do monte do Templo.
Arqueólogos descobriram que a cunhagem das moedas comemorativas da captura da Judeia, com cerca de 48 diferentes tipos, eram as moedas mais comuns da época. Essa moeda foi originalmente emitida pelo imperador romano Vespasiano para celebrar a conquista da Judeia por seu filho Tito e a destruição do Segundo Templo; possivelmente em comemoração ao evento de Tito, houve desfile dos tesouros do templo e de cativos judeus em Roma. Várias moedas diferentes da captura da Judéia foram cunhadas, sendo que a mais popular tinha a imagem de uma mulher judia (simbolizando a Judéia) sentada, amarrada e de luto. Isso pode ter sido baseado na profecia judaica de Isaías 3:8,25-26.
Uma objeção comum a afirmação de Jesus de que “não deixarão pedra sobre pedra” (cf. Lc 19:44) é que restos visíveis de estruturas ainda existem. De fato, os romanos deliberadamente deixaram três torres e suas muralhas no lado oeste como uma lembrança do tamanho e da força da cidade que haviam derrotado. A noção de que todas as estruturas do complexo do templo seriam removidas vem de uma leitura equivocada do texto. Jesus não se referiu as pedras de fundação do monte do Templo e aos muros da plataforma quando fez a declaração, mas como o contexto revela, “essas coisas” referem-se aos “edifícios” da corte do templo que seus discípulos estavam apontando para ele (v.1; cf. Mc 13:1; Lc 21:5).
Mateus 27:8
O campo de sangue
Então decidiram usar aquele dinheiro para comprar o campo do Oleiro, para cemitério de estrangeiros. Por isso ele se chama campo de Sangue até o dia de hoje.
Judas recebeu 30 moedas de prata como pagamento para trair Jesus, mas mudou de ideia e devolveu o dinheiro. Como era “dinheiro de sangue”, os principais sacerdotes decidiram que não poderiam devolvê-lo ao tesouro do templo e, em vez disso, compraram o campo do Oleiro, para cemitério de estrangeiros”. Mateus acrescenta que passou a ser chamado em seus dias como “campo de Sangue” (aramaico, hakel dama, cf. “Aceldama” em At 1:19).
O local foi conhecido ao longo da história da Igreja como estando na encosta sul do vale Hinom, perto de onde ele se junta com o vale de Cedrom em Jerusalém. Fiel à palavra de Lucas, o local, embora visitado com frequência por peregrinos cristãos e usado ao longo dos séculos como local para sepultamentos, permanece desocupado.
Uma razão para isso, como os estudiosos Leen e Kathleen Ritmeyer, que têm feito extensas publicações sobre a história de Jerusalém e do monte do Templo, é que as grutas do local não seriam usadas para enterrar “estranhos”, mas alguns indivíduos da mais alta elite de Jerusalém. Eles escrevem: “A câmara funerária interna do túmulo de Anás era altamente decorada e tinha nichos funerários kokhim nas muralhas. O corpo de Anás provavelmente foi colocado no kokh (nicho funerário) disfarçado pela porta falsa na muralha à direita”. Portanto, o local teria sido preservado como um sítio venerado pelos judeus e depois pelos cristãos.
Mateus 27:35-36
Evidências arqueológicas da crucificação
Depois de o crucificarem, dividiram as roupas dele, tirando sortes. E, sentando-se, vigiavam-no ali.
Até tempos bem recentes, nenhuma evidência arqueológica física havia sido encontrada sobre a prática da crucificação. Em 1968, arqueólogos que trabalhavam em Givat ha-Mivtar, um subúrbio de Jerusalém, descobriram um túmulo familiar selado contendo doze nichos de sepultamento (kokhim). Num deles, foi recuperado um ossário com os ossos de um homem com idade entre 24-28 anos, misturados aos de uma criança. Com base na inscrição do ossuário, o nome do homem era “Yehohanan, o filho de Hagakol”. O exame dos restos do esqueleto revelou um osso do calcanhar direito com um cravo de ferro de 11,5 centímetros de comprimento. Esse achado constituiu a primeira evidência física de uma vítima crucificada na terra de Israel e pôde lançar uma nova luz sobre como as crucificações na Antiguidade eram realizadas.
Inicialmente, o antropólogo Haas concluiu que marcas de arranhões nos punhos do esqueleto sugeriam que os cravos também haviam sido pregados nos pulsos da vítima, mas depois o antropólogo israelense Joe Zias e o estudo de Skeles e Charlesworth contrariaram essa afirmação, constatando que apenas cordas eram usadas para prender a vítima na haste horizontal da cruz. No entanto, os relatos dos Evangelhos indicam que Jesus foi pregado em ambas as mãos/pulsos e pés (Lc 24:39; Jo 20:25,27).
O arqueólogo israelense Yigael Yadin propôs que Hagakol seria um nome dado postumamente, cujo significado era “aquele que foi enforcado com os joelhos afastados”. Josefo observou que pessoas eram crucificadas em posições diferentes, e a tradição cristã registra que o apóstolo Pedro foi crucificado de cabeça para baixo (a pedido dele). Essa posição posterior também foi notada pelo historiador eclesiástico Eusébio como um método alternativo no século IV d.C. A luz do fato, se a interpretação de Yadin puder ser sustentada, isso sugere que Yehohanan foi crucificado em uma posição incomum em relação à prática normal da crucificação, e seu exemplo, portanto, não alteraria necessariamente a concepção tradicional da crucificação de Jesus.
Essa descoberta também envolve o propósito dos membros do Sinédrio sobre Jesus que, de acordo com a prática romana, as vítimas crucificadas deveriam ser deixadas na cruz para se decomporem e serem devoradas por pássaros ou jogadas em uma vala comum que ficava exposta aos animais.
No caso de Jesus, o processo foi acelerado porque a crucificação ocorreu na véspera do sábado de Páscoa e a lei ritual exigia que todos os cadáveres, e particularmente aqueles executados que estavam pendurados em uma cruz (Dt 21:22-23), fossem devidamente enterrados (Jo 19:31). Tudo isso é consistente com as evidências da descoberta dos restos mortais de Yehohanan. Apesar da infâmia e desgraça da crucificação, Yehohanan recebeu, como judeu, um enterro apropriado dentro do túmulo de sua família. Isso apoia a conclusão de que Jesus teria sido sepultado de acordo com a lei judaica, como o Novo Testamento registra (Mt 27:57-60; Mc 15:43-46; Lc 23:50-55; Jo 19:38-42; cf. 1Co 15:4).
Mateus 27:59-60
Selagem da tumba de Jesus
José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo de linho e o colocou num sepulcro novo, que ele havia mandado cavar na rocha. E, fazendo rolar uma grande pedra sobre a entrada do sepulcro, retirou-se.
De acordo com a prática judaica, o corpo do morto era inicialmente colocado em repouso na câmara interna de um túmulo. A seguir a obra explica em detalhes como eram essas câmaras e como ficavam os corpos.
A imagem de um túmulo com uma pedra que rolava para a porta, como o túmulo de Jesus, enquanto concepção comum, tem sido questionada com base no estudo arqueológico da necrópole em Jerusalém. Nas proximidades de Jerusalém existem mil ou mais túmulos cavados em rocha. O arqueólogo israelense Amos Kloner, que examinou mais de 900 desses túmulos, encontrou apenas quatro deles datando do final do período do Segundo Templo (a época de Jesus) que foram fechados por uma pedra rolante.
Os túmulos de pedra rolante, sendo muito raros, eram obviamente reservados para famílias reais ou pessoas muito ricas e, portanto, não eram os tipos utilizados pelas famílias judias de classe média. Amos Kloner calcula que aproximadamente 98% das pedras usadas para fechar as entradas dos túmulos nos dias de Jesus eram blocos quadrados. Mais detalhes sobre esses túmulos são demonstrados pelos autores.
A terminologia para a tumba como “recorte da rocha” (Mt 27:60; Lc 22:53) é encontrada na Septuaginta em Isaías 22:16 com referência a uma tumba real. Para a classe baixa, mais pobre, uma gruta era utilizada para os sepultamentos porque uma tumba de rocha era muito cara. José de Arimateia pôde comprar o mais caro dos túmulos, do tipo usado pela classe alta e pela nobreza. Os estudiosos cristãos através dos séculos viram esse fato como um cumprimento da predição em Isaías 53:9 da morte do Messias: “Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte”, observando também que, sendo Jesus um descendente do rei Davi, de uma criança e da paz vinda de um salvador. Em 30 a.C., o imperador Augusto foi saudado como “deus e salvador do mundo, que traz a paz à terra”. A inscrição de Miriam (em Roma) declarava: “(…) Divino Augusto César, filho de um deus, imperador da terra e mar, o benfeitor e salvador do mundo inteiro[…]” Depois de sua morte, Augusto foi deificado, templos e santuários foram dedicados a ele pelo imperador Tibério. As ruínas de um deles podem ser encontradas hoje na Cesareia marítima.
Na cidade de Priene (no sudoeste da Turquia moderna), escavações arqueológicas descobriram uma inscrição num calendário do século IX a.C., louvando o nascimento de César Augusto como o de um deus, príncipe da paz e salvador do mundo.
A comparação dessa inscrição com a introdução de Marcos parece justificada. Ambas fazem referência a boas-novas, ou “evangelho”, e especialmente seu “começo”, trazido por um agente divino chamado “salvador” e “benfeitor” (literalmente “deus”). Além disso, o uso em ambos os relatos da palavra “aparència” (epiphanein), usado de uma manifestação divina, fortalece essa comparação.
Marcos 4:36
O barco Quinerete de “Jesus”
Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam.
Até recentemente, a única evidência disponível da construção de barcos de pesca do século I usados no mar da Galileia eram desenhos rudimentares e escavações do século I no Mediterrâneo. No entanto, em 1986, uma seca severa fez o nível da água baixar vários metros abaixo do normal. Dois irmãos, Moshe e Yuval Lufan, estavam à procura de artefatos expostos na costa noroeste e descobriram os contornos de antigos barcos de pesca enterrados no solo lamacento.
Foi realizada a difícil escavação de um dos barcos, que estava em um estado frágil e não pôde ser removido com o uso de meios convencionais. Ele descobriu que a lama que enchia o barco tinha funcionado como conservante natural e, depois de doze dias de trabalho, a equipe conseguiu envolver a estrutura revelada em poliuretano e fazer o barco boiar até um edifício em um kibutz, onde foi submerso em um conservante químico. Após dez anos, o conservante substituiu as fibras de madeira embebidas em água, de modo que o artefato pudesse ser exposto ao ar livre para visualização pública. Está agora em exposição no Yigal Alon Center no Kibutz Nof Ginosar.
Embora sendo popularmente chamado de “barco de Jesus”, não há evidências de que Jesus o tenha usado ou que tenha alguma conexão com ele. No entanto, o modelo pode muito bem ter sido usado na época de Jesus, já que a datação por radiocarbono tem apresentado uma data de cerca de 40 a.C. A madeira usada para o barco não era original. Ao contrário, foi reciclada de outras construções, consistindo de onze diferentes variedades de árvores. A princípio, o fato foi uma surpresa para os pesquisadores que estudaram o barco, mas foi levantada uma suposição de que numerosos reparos teriam sido feitos durante sua vida útil.
Marcos 5:35
O dirigente da sinagoga (Inscrição de Teodoto)
Enquanto Jesus ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa de Jairo, o dirigente da sinagoga.
Juntamente com o desenvolvimento da sinagoga como o centro de adoração diária e semanal para os judeus ocorreu a ascensão da posição do governante da sinagoga. As evidências arqueológicas mostram que essa posição estava bem estabelecida dentro do judaísmo. Vários exemplos da cadeira especial ou assento dado ao governante da sinagoga (muitas vezes chamado de “cadeira de Moisés”) foram encontrados, inclusive na sinagoga de Corazim. Na Cesareia marítima, o piso de mosaicos da sinagoga trazia a inscrição: “Berilo, chefe da sinagoga e administrador, filho de Ius, fez a obra em mosaico do triclínio (sala de jantar formal em um edifício romano), com seus próprios recursos.”
Há sete inscrições em Cesareia e todas datadas entre os séculos IV e VI. Em 1913, Raimond Weill descobriu uma inscrição dedicatória grega em Ofel (a área entre a cidade de Davi e o Monte do Templo), comemorando a construção de uma sinagoga no século I d.C.
A inscrição recebeu o nome de “Inscrição de Teódoto” porque a primeira palavra menciona esse sacerdote e o chama de arquissinagogo, assim como seus descendentes. Esse termo significa “líder de uma sinagoga”. Parece que a função do governante era presidir os serviços da sinagoga, agir como juiz para a comunidade e servir como patrono ou da maior parte da sinagoga.
Evangelho de Lucas
Lucas 2:1-20
O nascimento do Messias
Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano.
O historiador Lucas nos diz que César Augusto decretou que “um censo deveria ser feito de todo o mundo romano” (Lc 2:1). Esse registro foi uma contagem padrão e regular de todas as pessoas do Império Romano. O imperador Augusto restabeleceu o censo após um período de desuso, e foi o primeiro imperador a introduzi-lo nas províncias.
Na maior parte do mundo romano, o censo era para fins de cobrança de impostos e serviço militar. No entanto, os judeus da Judeia obtiveram isenção de muitos deveres cívicos normalmente obrigatórios para outros cidadãos do Império Romano, incluindo o serviço militar. Muitos judeus consideravam o censo romano uma violação da Lei do Antigo Testamento, segundo a qual a coleta do imposto deveria ser feita como uma oferta de expiação a Deus (Dt 30:11-16). Assim, o pensamento de que os impostos coletados durante o censo romano estavam sendo enviados para o imperador, que era considerado um deus, deve ter irritado muitos judeus.
Textos antigos nos têm dado uma visão do método romano de contar a população de seu império. Os papiros no Egito estabeleceram que o censo romano ocorria a cada catorze anos. Um desses papiros, datado de 104 d.C. (caindo em um décimo quarto ano), é especialmente interessante em relação ao relato do Evangelho de Lucas. O papiro diz o seguinte:
Gaius Vibius, Maximus, prefeito do Egito. Tendo em vista o censo que se aproxima, é necessário que todos aqueles que residem por qualquer razão longe de seus próprios distritos, se preparem imediatamente para ir às suas próprias áreas de administração, a fim de que possam cumprir a obrigação familiar de se registraram e que os títulos das terras possam permanecer em possessão legal.
Este édito é muito semelhante ao relato de Lucas em que Maria e José foram obrigados a viajar até Belém para o censo e mostra que, mesmo quase um século depois, o procedimento do censo romano permanecia inalterado.
José teria listado a si mesmo e Maria, como evidenciado em outros documentos, também poderia ter relacionado a família da qual faria parte, nesse caso a linhagem de Davi. Tem surgido argumentos de que o calendário do censo estaria desatualizado.
Apesar dos argumentos de alguns, há boas razões para acreditar que a descrição de Lucas a respeito de um recenseamento é correta. Temos documentos do século I indicando que o censo do Império Romano era realizado a cada quatorze anos e que as pessoas eram obrigadas a retornar às cidades de seus ancestrais para serem contadas. Um documento egípcio (104 d.C.) registra um censo exigindo que todas as pessoas voltassem para suas cidades natais.
Lucas 2:2
Evidências sobre Quirino da Síria
Este foi o primeiro recenseamento feito quando
Quirino era governador da Síria.
Quirino nasceu por volta de 45 a.C. em uma rica família de Lanúvio, perto de Roma. Por volta de 15 a.C., Augusto o nomeou governador de Creta e Cirenaica onde ele primeiro provou sua habilidade em subjugar grupos étnicos sob o domínio romano. Em 12 a.C. Quirino foi nomeado procônsul, e não muito tempo depois foi enviado para a nova província da Síria para subjugar os homonadenses. Quando ele cumpriu essa missão, foi chamado de volta a Roma e nomeado o tutor (“reitor” no jargão oficial de Roma) do neto de Augusto, Gaio. Quirino deveria apresentar o herdeiro legítimo aos costumes do governo romano. Os dois deixaram Roma em 29 de janeiro de 1 a.C.. Por volta de 3 d.C., Gaio foi fatalmente ferido em uma batalha na Armênia, e Quirino foi requisitado para governar a Síria logo depois. Em 6 d.C., a Judeia (província imediatamente ao sul da Síria) entrou em um processo de desestabilização por causa do fracasso de Herodes Arquelau. Augusto o dispensou e o exilou, tendo transformado a Judéia numa subdivisão autônoma dentro da província da Síria. Ele ordenou que Quirino restaurasse a ordem na Judeia, incluindo a arrecadação de impostos romanos (ao contrário do rei apontado por Roma, que recolhia impostos através de seus próprios mecanismos). Esse recenseamento causou agitação generalizada e, por fim, uma rebelião declarada. Quirino morreu em 21 d.C., rico e velho, embora sem filhos. Ele deve ter sido muito respeitado em Roma, pois lá recebeu um funeral público.
Uma inscrição final que atesta o nome Quirino foi encontrada na lápide de Q. Aemilius Secundus, que conduziu o recenseamento de Quirino em Apamea, ao sul de Antioquia. Essa inscrição é datada de cerca de 20 d.C. As datas dessas inscrições são muito importantes no que diz respeito à confiabilidade do Evangelho de Lucas.
Lucas 7:46-5
A sinagoga de Cafarnaum
Este homem merece que lhe faças isso, porque ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga.
Lucas registra que certo centurião de Cafarnaum “amava” a Israel e lhe havia construído uma sinagoga. Um de seus servos adoece e, embora o centurião se declare indigno, acredita que Jesus só precisa dizer uma palavra para que seu servo seja curado. Jesus elogia a fé do homem e cura seu servo.
Talvez um dos locais mais famosos fora de Jerusalém em Israel seja a sinagoga de Cafarnaum. Desde a sua escavação, de 1905 a 1921, e novamente em 1969, foi um símbolo da peregrinação cristã. No entanto, a sinagoga parcialmente restaurada pertence ao final do século II ou início do século III. Foi construída com um tipo de mármore branco importado. No entanto, quando Virgílio Corbo cavou trincheiras ao longo de suas paredes, descobriu as fundações de um edifício anterior, do século I. As pedras dessa construção, como as das ruínas das casas do período romano ao redor da sinagoga, eram feitas do basalto vulcânico negro regional. Corbo identificou essas fundações como parte da sinagoga anterior, mais provavelmente aquela que Jesus teria conhecido e nela ensinado.
Lucas 8:26
O país dos gergesenos
Navegaram para a região dos gerasenos [gergesenos], que fica do outro lado do lago, frente à Galileia.
O lugar exato em que Jesus exorcizou demônios de dois homens e permitiu que entrassem em uma manada de porcos nunca foi estabelecido, principalmente devido a variações do nome usado pelos escritores dos Evangelhos e a variantes textuais dentro das cópias dos Evangelhos. Existem vários locais que a Igreja, estudiosos e arqueólogos têm defendido como sendo o lugar de tal evento.
Existem três leituras principais diferentes nas cópias dos manuscritos: gadarenos, gerasenos e gergesenos. O texto apresenta explicações detalhadas sobre os três tipos.
Os escavadores também descobriram um local a aproximadamente 200 metros ao sul do mosteiro bizantino e a meio caminho da encosta de uma colina íngreme que provavelmente foi construído concomitantemente a um mosteiro. O sítio parece ter sido uma capela construída em torno de uma grande rocha e pode ter comemorado o lugar onde Jesus permitiu aos demônios possuírem os porcos. A capela estava orientada para que os peregrinos pudessem olhar a rocha e o mar enquanto estavam sentados em um banco circular sob um abrigo esculpido na rocha da encosta.
O sítio de Kursi parece ter sido abandonado no final do século VIII, após a conquista muçulmana e um forte terremoto. Em pouco tempo, o solo sedimentar do barranco cobria o local, e só foi revelado depois que uma escavadeira o desenterrou mais de mil anos depois. Até o momento da redação deste texto, nada foi encontrado que identificasse o nome deste sítio. É somente através da tradição e da preservação do nome que é conhecido.
Lucas 13:4
A torre de Silóe
Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão.
Enquanto ensinava sobre o arrependimento, o Senhor Jesus usa o exemplo de dezoito homens que aparentemente foram mortos quando a “torre de Siloé” caiu sobre eles. Embora os arqueólogos não tenham certeza, uma torre foi descoberta por Raymond Weill em 1913 no extremo sul da cidade de Davi e pode ter sido a torre que Jesus menciona em Lucas.
A torre é descrita com detalhes pelos autores.
Quase todos os estudiosos estão convencidos de que não era uma torre projetada para fins defensivos. Sua localização é um local impróprio para uma torre, a apenas 9 metros do fundo do vale de Cedrom. Se alguém subisse a colina a uma curta distância, teria uma visão melhor. Em vez disso, acredita-se que a torre tenha sido um columbário (uma estrutura usada para criar pombos). A falta de uma entrada nas paredes da torre, embora estranha para uma torre defensiva, é uma marca registrada do columbário. Além disso, em escavações realizadas por Yigal Shiloh, duas torres de columbário foram descobertas a menos de 20 metros da torre de Siloé. Outro argumento a favor do uso da torre como columbário é a sua localização.
Lucas 19:1
Jericó do Novo Testamento
Jesus entrou em Jericó, e atravessava a cidade.
A pouco mais de um quilômetro e meio ao sul do antigo tel, a Jericó do Novo Testamento, anteriormente um palácio-fortaleza asmoneano, foi reconstruída por Herodes, que havia feito ali sua capital de inverno devido ao seu clima quente. A cidade possuía um anfiteatro, um hipódromo e três palácios reais – em um dos quais ele acabou morrendo. Um detalhamento do palácio é apresentado na obra. Após a morte de Herodes, um de seus servos incendiou o palácio, mas Arquelau, filho de Herodes, o reconstruiu. Jericó também era conhecida por suas tamareiras, que continuam a ser cultivadas por lá até hoje.
Lucas registra que Jesus ficou na casa de Zaqueu, “chefe dos coletores de impostos”. Embora se tenha sugerido que o relato de Lucas mencionando o fato de Zaqueu estar em cima de uma árvore quando Jesus estava passando por Jericó ser uma contradição, a sugestão é baseada na ideia errônea de que não havia árvores dentro da cidade propriamente dita. Embora isso pudesse ter sido verdade para a cidade do Antigo Testamento, a Jericó do Novo Testamento foi organizada como muitas outras cidades romanas, com parques, avenidas e praças públicas onde árvores teriam sido plantadas.
Lucas 23:1
A inscrição de Pôncio Pilatos
Então toda a assembleia levantou-se e o levou a Pilatos.
Pôncio Pilatos talvez seja o mais conhecido e infame dos governadores romanos devido a ter presidido o julgamento de Jesus. Embora funcionários anteriores do governo romano na Judéia tivessem respeitado as práticas religiosas dos judeus, Pilatos parece ter descoberto como agitá-los, provocando constantemente líderes religiosos a ponto de se revoltarem com atos aparentemente deliberados de sacrilégio. Estes incluíam atos como colocar imagens do imperador Tibério no templo (Filo, Embaixada a Gaio, 299-305), o que provocou um grande motim judaico em 26 d.C. Ant. 18.55-59: GJ 2.169-174), expropriando fundos sagrados do templo para financiar a construção de um aqueduto (Ant. 18:60-62; G 2.173-77), e a crucificação de Jesus. Sem dúvida, a reação continua à crucificação de Jesus, as alegações de sua ressurreição e o crescente avanço de seus seguidores, especialmente em Roma, suscitaram dúvidas quanto à capacidade de Pilatos para controlar os problemas na Judeia. O Evangelho de Lucas menciona a crueldade de Pilatos em um ataque contra alguns galileus (Lc 13:1-2) e os registros revelam que houve várias advertências e castigos do imperador por causa disso.
Na história da Igreja ele tem sido visto, por um lado, como um homem ímpio que condenou Jesus à morte e depois sofreu todos os tipos de enfermidades como castigo por seus atos, indo do enlouquecimento à decapitação ou até cometendo suicídio por causa de sua culpa; por outro lado, teria sido canonizado por arrepender-se de seu pecado, tendo abraçado a fé cristã e sofrendo a morte de um mártir.
Pilatos é mencionado em todos os quatro Evangelhos, bem como em outras fontes antigas.
Ele também é referido em moedas, cunhadas entre 26 e 36 d.C., que foram descobertas em escavações arqueológicas. As evidências de sua cunhagem revelam que Pilatos estava tentando promover uma forma de religião romana, independentemente da ofensa que isso causasse aos judeus.
Todavia, a menção mais famosa a Pilatos vem de uma inscrição descoberta na Cesareia marítima em 1961 por Antonio Frova. Ele e sua equipe estavam escavando o (agora) famoso teatro de Cesareia quando descobriram uma placa de pedra calcária com uma inscrição nela esculpida. A inscrição, redigida em três linhas em uma grande placa de pedra, data de 26 a 37 d.C., colocando-a durante o governo de Pilatos.
Essa placa é a primeira e única evidência arqueológica devidamente comprovada da existência de Pilatos. De acordo com John McRay, “sem dúvida, a pedra foi usada pela primeira vez como parte de um importante edifício chamado Tiberium, possivelmente um templo dedicado em honra do imperador Tibério”. Escavadores supõem que ela pode ter sido usada secundariamente como parte de uma escada no teatro em Cesareia.
Embora a existência histórica de Pilatos nunca tenha sido seriamente contestada, a descoberta de tal inscrição remove todas as dúvidas e prova a existência de Poncio Pilatos como uma figura histórica. A inscrição também corrigiu um erro muito comum no título de Pilatos. Na maior parte do tempo em que Pilatos foi citado se fez referência a ele como o procurador da Judeia. Esse título é agora indicado como um anacronismo empregado por historiadores antigos em relação a Pilatos. Os prefeitos tinham uma função mais militar do que os procuradores, algo de que a província rude e muitas vezes rebelde da Judeia precisava.
Evangelho de João
João 1:28
Betânia além do Jordão
Tudo isso aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão,
onde João estava batizando.
Quando João Batista estava respondendo às perguntas dos sacerdotes e levitas” de Jerusalém, diz-se que ele estava em Betânia, do outro lado do Jordão”. Ter havido debates sobre esse local, que é apenas mencionado no Evangelho de João. Um problema é textual, pois há duas leituras variantes nos manuscritos antigos. Em algumas das fontes mais antigas e confiáveis (P66), João 1:28 apresenta Bethania (“Betânia”), embora alguns manuscritos posteriores (C2, K, T. Yc 083) tragam Bethabara (“Betabara”). Metzger, falando pelos editores da United Bible Societies (Sociedades bíblicas unidas], diz que embora eles tenham dificuldade em decidir sobre qual a leitura correta, a UBS lé Bethania “com base na idade e na distribuição de evidências” e “a consideração de que, se Bethabara fosse original, não haveria razão pela qual devesse ter sido alterada”. Embora as regras gerais da crítica textual exigissem essa conclusão, Metzger acrescenta que Orígenes achava que o uso de Betabara estava correto com base em uma investigação pessoal.
O mais antigo mapa conhecido da Terra Santa, o mosaico do século VI, o mapa de Madaba, descoberto em 1884 no nível bizantino da Igreja Ortodoxa Grega de São Jorge na cidade de Madaba (na Jordânia moderna), diz, Bethabara to tou hagiou lannou baptismatos (“Bethabara, [o lugar do] batismo de São João”), e coloca-o perto de Jericó. Uma teoria aventada supõe que a possível discrepância se deve ao lugar que se chamava Betânia no século I, porém mais tarde o nome ficou conhecido como Bethabara e os comentaristas subsequentes não sabiam da mudança.
Em 1997, o escavador do Departamento de Antiguidades da Jordânia, Mohammad Waheeb, pesquisou vários locais perto do uádi Kharrar, na esperança de encontrar o lugar do batismo de Jesus. Um deles, no lado leste do rio, em Tell al-Kharrar (o nome moderno de Jebel Mar Elyas), parecia mais promissor do que os outros, então Waheeb começou lá uma escavação. Ele encontrou evidências de ocupação no local desde o período helenístico até os períodos islâmicos, incluindo os vestígios de pesados jarros de pedra. A presença de jarros de pedra indica fortemente uma presença judaica no local (devido às leis de purificação). Outros achados no sítio incluem cerâmicas e cisternas da época romana. Ele também encontrou um complexo de mosteiros da era bizantina e várias igrejas dentro e ao redor do local. Waheeb postula que a igreja lembrava o lugar onde João Batista residia enquanto ministrava na área.
Toda a área de Tell al-Kharrar parece ter sido um importante local de peregrinação. De acordo com o Departamento de Antiguidades da Jordânia (encarregado das escavações), “as evidências primárias para as estruturas sagradas e seculares da era romana e bizantina associadas ao batismo de Jesus e à missão de João Batista agora parecem estar agrupadas principalmente na margem oriental”.
Até que outro lugar forneça mais evidências, Tell al-Kharrar parece ser o melhor candidato para a vila de Betânia além do Jordão, o lugar onde João Batista ministrava.
João 1:44
A cidade de Betsaida
Filipe, como André e Pedro, era da cidade de Betsaida.
A cidade de Betsaida (lit. “casa da pesca”) é mencionada várias vezes nos Evangelhos. De fato, a área entre Betsaida e Cafarnaum é onde acontecia a maioria das atividades de Jesus na Galileia. Aqui no relato de João, diz-se que Betsaida era a cidade natal de Filipe, André e Pedro.
A localização da cidade até hoje não é estabelecida com absoluta certeza. O registro histórico restringe um pouco a localidade. Josefo, o historiador judeu, diz que Betsaida estava situada no território de Filipe, o Tetrarca, e que ele batizou a cidade com o nome de “Julia”, em homenagem à esposa do imperador Augusto (e mãe de Tibério), e elevou seu status de kome (“aldeia”) para polis (“cidade”). Josefo também afirma que o Jordão “passa” por Betsaida/Julia (Ant 18:28). Já que o território de Filipe ficava a leste do rio Jordão, isso coloca Betsaida na margem leste do rio ou próximo a ela. Teodósio, escrevendo por volta de 530 d.C., diz que Betsaida ficava a 9,6 quilômetros de Cafarnaum e que a nascente do rio Jordão estava a 80 quilômetros de Betsaida. Isso sugere que a cidade não estaria longe de onde o Jordão passa pelo mar da Galileia. A proximidade de Betsaida em relação ao lago também é sugerida pelo nome da própria cidade, que significa “lugar dos pescadores” em aramaico.
Assim, dois locais são identificados como os mais prováveis para Betsaida: Khirbet el-Araj e et-Tell. Objetos de cerâmica romana foram encontrados na superfície em ambos os locais, confirmando sua habitação durante o tempo de Jesus, e ambos estão geograficamente perto de onde o registro histórico diz que eles deveriam estar.
Et-Tell está aproximadamente a 1,9 quilômetros do lago e cerca de 240 metros do rio Jordão, em uma colina rochosa no lado leste do Jordão. A colina, em si, é parte de uma planície aluvial conhecida como Beteiha. Como seu nome moderno (“o monte”) sugere, o nome original do local foi perdido, mesmo para os nativos. Embora Edward Robinson o identificasse como Betsaida em 1838, foi escavado apenas a partir de 1990 pelo Consórcio do Projeto de Escavações de Betsaida (PEB). Em 1999, Carl F. Savage tornou-se supervisor de área da escavação.
O PEB identificou et-Tell como a antiga capital do reino de Gesur, talvez chamado Zer ou Tzed (Js 19:35). As escavações do período do século IX a.C. descobriram o palácio, uma área sacrificial, e um muro de cerca de seis metros de espessura e um portão monumental (um dos maiores descobertos nesse período em Israel) em torno da cidade. Esses achados confirmam que a cidade foi uma das mais importantes da Idade do Ferro.
Um dos achados mais interessantes foi um templo da era romana, o qual o PEB argumenta que pode ter sido construído para comemorar a renomeação da cidade feita por Filipe, para se tornar Julia. Arqueólogos descobriram pedras decoradas perto do templo que são quase idênticas às pedras encontradas na sinagoga de Corazim, levando-os a argumentar que as pedras de Corazim foram, na verdade, retiradas do local do et-Tell (elas estão a apenas 5 quilômetros de distância).
Embora o PEB tenha encontrado recipientes de calcário e facas de sílex, sugerindo a presença de judeus na cidade, alguns estudiosos argumentam que a população de et-Tell deve ter sido quase totalmente gentia.
Um grande problema em identificar o et-Tell como a antiga Betsaida é a distância de et-Tell do mar da Galileia. No entanto, Shroder, um especialista em geologia, examinou os mapas geológicos da área e concluiu que a linha costeira atual do mar não é necessariamente a linha costeira antiga. Shroder (geólogo chefe do PEB) argumenta que o et-Tell fica em uma falha geológica dinâmica e que a elevação de toda a planície na qual se encontra et-Tell pode muito bem ser maior do que era no século I d.C. 521. Além disso, o nível do lago está constantemente mudando, e o braço norte do rio Jordão formou um delta que flui para o mar da Galileia. Assim, o sítio de et-Tell pode muito bem ter estado perto da costa no tempo de Jesus. A presença de instrumentos de pesca encontrados em et-Tell parece dar considerável credibilidade a essa teoria.
O et-Tell agora é comumente identificado como Betsaida por eruditos e arqueólogos e ganhou a aprovação dos setores governamentais em Israel. Além disso, parece que a condenação de Betsaida feita por Jesus, de fato, se cumpriu, uma vez que a cidade foi tão rapidamente esquecida que os peregrinos bizantinos (que se mostravam bastante precisos em suas identificações de lugares bíblicos) não puderam encontrar o local, e alguns deles identificaram erroneamente o local de Khirbet el-Araj como a antiga Betsaida, provavelmente porque pode ter havido uma aldeia lá na época e era perto de onde Betsaida deveria estar.
Em 2016, sob a supervisão do Instituto Kinneret de Arqueologia Galileia, do Centro de Estudos das Terras Sagradas e do NYACK Centro de Estudos do Judaísmo Antigo e Origens Cristãs, foram iniciadas escavações no local de el-Araj, um dos locais propostos para Betsaida/Julia, localizada no delta do rio Jordão, na costa norte do mar da Galileia.
João 2:1-2
Caná da Galileia
No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali: Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento.
O Evangelho de João registra o primeiro milagre de Jesus, transformando a água em vinho, como tendo ocorrido em “Caná da Galileia” (Jo 2:1; 4:46). João é o único a mencionar Caná e não dá nenhuma outra localização específica além da região da Galileia. Hoje existem dois locais que podem indicar onde ocorreu o milagre de Caná realizado por Jesus. Ambos estão na região montanhosa acima e a oeste do mar da Galileia (são apenas 10 quilômetros de distância). Ambos têm nomes que parecem preservar o antigo nome: Kefr Kenna e Khirbet Qana.
O primeiro local, Kefr Kenna (ou Kafr Kanna), ainda é habitado e fica a menos de 6,5 quilômetros a nordeste de Nazaré e a 4 quilômetros de Séforis, a caminho de Tiberíades.
Bellarmino Bagatti e Stanislao Loffreda conduziram escavações arqueológicas em Kefr Kenna várias vezes de 1955 a 1969 e encontraram moedas que datam do reinado de Herodes, o Grande (37-4 a.C.), até Constantino (326 d.C.), e cerâmicas dos períodos romano e bizantino. Eles também descobriram o que podem ser as ruínas de duas sinagogas (uma no local adjacente de Karmer-Ras). Finegan postula que isso pode significar que uma delas seria a sinagoga para os judeus da aldeia, enquanto a outra funcionava como uma igreja-sinagoga para os primeiros judeus cristãos. Em 1998, os franciscanos queriam reformar seu santuário em Kefr Kenna e contrataram o frei Eugênio Alliata, professor de arqueologia Studium Biblicum Franciscanum, perto da Igreja da Flagelação em Jerusalém, para explorar a área subterrânea no santuário. Alliata e os franciscanos afirmaram que haviam encontrado ruínas de edifícios, incluindo uma abside com um túmulo que data dos séculos V-VI. Sob essas ruínas, eles acreditam que se encontram “restos de habitações”, incluindo uma “pequena cisterna de pedra” construída em uma cripta no piso que data do século I. Nessa cisterna eles descobriram jarros de pedra que afirmam ser do século I. Os franciscanos alegam que “não há dúvida de que os novos dados que temos confirmam a tradição do santuário do casamento de Caná”. Entretanto, outros estudiosos duvidam da veracidade dessas alegações e argumentam: “Atualmente, não há evidências arqueológicas para demonstrar a antiguidade de Kefr Kenna”.
Até recentemente, havia pouco consenso sobre qual era o local mencionado no Evangelho de João, no entanto, de acordo com Peter Richardson, “escavações recentes inclinaram a balança decisivamente em favor de Khirbet Qana como a localização de Cana”. Na gruta mencionada há pouco, os arqueólogos encontraram jarros de pedra para água, uma construção semelhante a um altar com cruzes maltesas inscritas nele, e sinais de veneração consistindo de grafites gregos no teto e evidências de uma igreja, talvez com estruturas monásticas associadas, tudo datando do período bizantino (em algum momento durante o século VI d.C.). A caverna em si é, na verdade, um complexo de poços conectados e quartos que “sugerem um caminho processional deliberado através de três das quatro cavernas”. Esse complexo de cavernas “corresponde estreitamente aos detalhes da caverna de veneração nas peregrinações, apoiando a identificação de Khirbet Qana como a Caná dos peregrinos (e, portanto, o mais provável local da Caná do Novo Testamento e em Josefo)”.
Edwards oferece a seguinte conclusão, baseada em suas descobertas durante o trabalho arqueológico no local:
“Constantino gradualmente converteu o Império Romano ao Cristianismo, e nos séculos V ou VI algum grupo cristão desconhecido veio a Caná e construiu o que parece ser um grande mosteiro diretamente sobre a antiga cidade judaica. Numerosas moedas e peças de cerâmicas importadas de alta qualidade indicam que esse grupo era bastante rico (talvez devido aos lucros de um crescente comércio peregrino de subsídios do imperador cristão). Os árabes levaram o islamismo para a região e o cristianismo começou a desvanecer-se”.
João 3:23
Enom, perto de Salim
João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado.
Enom é mencionada apenas uma vez nos Evangelhos, em João 3:23. Houve várias tentativas de identificar o sítio bizantino no vale do Jordão. No mapa de Madaba, um mosaico no chão da Igreja de São Jorge em Madaba, na Jordânia, dois locais foram rotulados como Enom, um é agora Sapsaphas, o outro fica perto de Salim. Sapsaphas tem sido associada com a Betânia bíblica além do Jordão. De acordo com Eusébio, Enom perto de Salim ficava a 10 quilômetros ao sul de Scythopolis (Bete-Sea), na área do rio Jordão (Onom. 40.1). Hoje existe um local próximo chamado Tel Salim. Outra tradição coloca-o a 5 quilômetros a leste de Siquém.
Duas figuras eminentes, Albright e Murphy-O’Connor, defendem o local perto de Siquém, com base principalmente na sustentação moderna do nome Salim para uma aldeia na área. Koester sugere que João “descreveu a localização de Enom relacionando-a com a vila de Salim, o que sugere que ele esperava que alguns leitores soubessem onde Salim estava”, uma sugestão repetida por J. Ramey Michaels. Michaels diz: “o escritor do Evangelho (ou sua fonte) pressupõe alguma familiaridade com esses nomes de lugares. Koester postula que, como Salim era “mais conhecida da história de Jacó, que parou ali e comprou um pedaço de terra mencionado em João 4:5 e usou-o como um local de adoração”, aqueles que conheciam essa história “poderiam ter visto no movimento de João em relação a Enom uma prefiguração do ministério de Jesus em Samaria, onde ele contaria aos descendentes de Jacó sobre a água viva e uma nova forma de adoração”. O maior problema com essa identificação é que as únicas nascentes na área estão a cerca de cinco quilômetros a oeste de Salim, provavelmente uma distância muito grande para se qualificar como um local próximo. Schwartz sugere que Enom possa ter sido localizada em Ain el-Biddan, aproximadamente três quilômetros ao sul de Ain Farah, que fica perto de uma estrada entre Siquém e Tel Farah (Tirza bíblica, a nordeste de Nablus) e é um local ideal para o batismo de um grande grupo de pessoas.
João 4:4-5
Samaria do Novo Testamento (Sebastiae/Sebastia)
Era-lhe necessário passar por Samaria. Assim, chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
Evidências existentes até hoje mostram que os samaritanos adoravam a Deus no Monte Gerizim, e não em Jerusalém, como atesta uma pequena comunidade de samaritanos que continuam a adorar lá. No entanto, a localização do antigo templo continua a ser debatida.
Fontes samaritanas e judias dizem que havia um templo no monte Gerizim.
Durante a pesquisa de Charles Wilson sobre o Levante, em meados da década de 1870, ele encontrou o que descreveu como uma fortaleza e uma igreja no monte Gerizim, e achou que eles foram construídos no topo do templo samaritano. Ele também mencionou as ruínas no topo de Tell er-Ras, mas não as investigou. Na década de 1880, F. de Saulcy e V. Guerin identificaram locais de interesse como o templo samaritano, mas não realizaram nenhuma escavação.
O local de Teller-Ras não foi escavado até a década de 1960, quando o R. J. Bull conduziu o trabalho no local.
O arqueólogo israelense Yitzhak Magen, que trabalhava na Tell er-Ras em 1984, que não havia edifícios helenísticos em Tell er-Ras, argumentando que a cerâmica helenística que Bull encontrou, na verdade, foi levada para o local como aterro por trabalhadores romanos da construção civil.
João 5:2
O tanque de Betesda
Há em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, um tanque que, em aramaico, é chamado Betesda, tendo cinco entradas em volta.
O taque de Betesda foi escavado pelos Padres Brancos, com o apoio da École Biblique [Escola bíblica], e por Rouseé e Vaux de 1957 a 1962. O local foi identificado como o tanque de Betesda com base na longa associação do local com ele e escavações subsequentes provaram que a tradição estava correta. Os arqueólogos encontraram um tanque, dividido por um dique de pedra de quase seis metros de largura, exatamente como descrito pelos historiadores e peregrinos da Igreja Primitiva.
Os escavadores também encontraram o que identificaram como oferenda votiva de uma mulher romana chamada Pompeia, na forma de um pé. Eles identificaram a oferta como paga e talvez datando do século II d.C. A adoração a Asclépio, o deus da cura, foi praticada no tanque e pode refletir sobre a tradição de cura ligada às águas daquele lugar mencionado em João 5:4.
Os arqueólogos encontraram uma igreja construída em cima desse tanque, e, com base em evidências arquitetônicas, dataram-na nas duas primeiras décadas do século V. Os persas destruíram essa igreja no século VII. Embora a capela não esteja mais em pé, as escadas até o tanque ainda estão lá. Hoje, a Igreja de Sant’Ana da era das Cruzadas fica no local, celebrando a tradição posterior segundo a qual o lugar seria a casa da mãe de Maria, Ana, e o local de nascimento de Maria.
João 9:7
O tanque de Siloé
Então lhe disse: “Vá lavar-se no tanque de Siloé” (que significa “Enviado”). O homem foi, lavou-se e voltou vendo.
O termo Siloé em grego é o equivalente do hebraico shiloah, o lugar ligado pelo profeta Isaías com a promessa do nascimento do Messias (Is 7:3,14; 8:6). Por muitos anos acreditou-se que o tanque no final do túnel de Ezequias seria o tanque de Siloé mencionado no Evangelho de João. Isso foi amplamente baseado na tradição do testemunho dos primeiros peregrinos cristãos. No entanto, tratava-se de um conjunto posterior bizantino conhecido como Fonte da Virgem, e não é o antigo tanque de Siloé onde Jesus disse ao cego curado que fosse se banhar.
Ronnie Reich e Eli Shukron, trabalhando em nome da Autoridade de Antiguidades de Israel, descobriram o verdadeiro tanque bíblico em 2004. Ele fica a aproximadamente 92 metros do tanque bizantino. Arqueólogos descobriram uma parte estreita da metade do tanque, mas a outra metade está sob um pomar pertencente à Igreja Ortodoxa Grega, que não deu permissão para escavar o restante do tanque.
João 18:24
A casa de Caifás
Então, Anas enviou Jesus, de mãos amarradas,
a Caifás, o sumo sacerdote.
Uma das figuras mais importantes na vida de Jesus foi um antagonista, Caifás, que, de acordo com Josefo (Ant. 18.31), foi nomeado pelo procurador romano Valério Grato como sumo sacerdote em 18 d.C. (cf. Mt 26:3,57; Lc 3:2; Jo 11:49; 18:13-14,24,28; At 4:6). Foi ele quem conspirou contra Jesus e cuja ação levou a sua prisão (Jo 11:48-50) e diante de quem Jesus esteve em julgamento perante o Sinédrio (Jo 18:13-24). De acordo com Josefo (Ant. 20.206), Caifás era genro de Anás (também chamado Ananias), o ex sumo sacerdote que também estava envolvido no interrogatório de Jesus (Jo 18:19-23). Josefo fala frequentemente de Caifás em seus relatos (e.g., GJ 2.441; Ant. 20.205; Vida 193) e registra que ele foi removido do cargo em 36 d.C. por Vitélio, o governador romano na Síria, junto com Pôncio Pilatos (Ant. 18.4.3).
Existem duas sugestões principais para a localização da casa de Caifás.
O primeiro candidato para o local da casa de Caifás está sob o atual mosteiro armenio de São Salvador (“Igreja do Redentor”), em frente a uma rua estreita do local tradicional do Cenáculo, ao lado da igreja da Abadia da Dormição. O arqueólogo israelense Magen Broshi liderou escavações no local em 1971-1972. Ele descobriu edifícios sofisticados e luxuosos do período herodiano, um dos quais era um magnífico edifício com afrescos que demonstravam uma mão artística muito boa.
O outro local concorrente para a casa de Caifás está sob a atual Igreja de São Pedro Gallicantu, a meio caminho do mosteiro arménio até o tanque de Siloé. A igreja moderna foi construída em 1931, mas existe lá uma igreja desde pelo menos o final do século V. Debaixo da igreja existem várias salas cortadas na rocha com câmaras superiores e inferiores.
Apesar dessas evidências, a identificação da localização de Gallicantu como palácio de Caifás tem sido rechaçada reiteradamente. Após uma avaliação de alternativas, Pixer conclui: “Se considerarmos os relatórios locais mais antigos, fica claro que a Igreja de São Pedro em Gallicantu, na encosta oriental do monte Sião, provavelmente represente a localização correta da casa de Caifás. ” Apesar de sua conclusão, nem todos estão convencidos por seu argumento.
O ossário de Caifás
A figura histórica de Caifás não se restringe ao Novo Testamento, mas é mencionada nas obras de Josefo e em outras fontes extra canônicas. As evidências arqueológicas atuais reforçam essa evidência documental. Em novembro/dezembro de 1990, operários descobriram acidentalmente uma gruta funerária enquanto faziam um parque aquático na Floresta da Paz, na parte sul de Jerusalém, em uma colina tradicionalmente conhecida como “Monte do Conselho do Mal”. A gruta tumular era uma única câmara funerária com quatro loculi (Heb kokhim), típica do período do Segundo Templo. Esse túmulo familiar, que continha doze ossários, incluía um ossário ornamentado decorado com traços de tinta na cor laranja brilhante e gravuras elaboradas de rosetas e desenho de folha de acanto (típico de enterros judaicos mais ricos).
Os Evangelhos referem-se apenas ao sumo sacerdote como “Caifis”, mas em Josefo referências a ele também aparecem com o nome “José”. Embora alguns eruditos tenham desafiado uma conexão com o sumo sacerdote devido à grafia incomum do nome e à falta de um título, houve um consenso geral entre os arqueólogos de que a inscrição se refere ao sumo sacerdote Caifás. A identificação de um indivíduo de classe alta que estava associado ao julgamento e à execução judaica de Jesus é importante para os estudos históricos sobre Jesus e constitui um dos pontos altos na história da descoberta arqueológica.
João 18:37,38
O Papiro John Ryland P52
De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem. “Que é a verdade?”, perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu novamente para onde estavam os judeus, e disse: “Não acho nele motivo algum de acusação.”
As passagens de João 18:31-33,37,38 são atestadas por um dos mais antigos fragmentos de papiro do Novo Testamento. Recebeu a denominação de Papiro John Rylands P52. O texto segue apresentando o porquê desse nome.
A escrita está em forma uncial (maiúsculas), e se relaciona estreitamente com os papiros escritos no final do século I e início do século II, e provavelmente não depois de 125 d.c. O uso da escrita em estilo adriânico (grego antigo) data o fragmento entre 117-138 d.C., e, uma vez que veio originalmente de um códice de João, ele fornece evidências de que essa forma de escrita já existia no século Id.C. Considerando que as cópias de muitas das grandes obras da literatura antiga são datadas centenas de anos (às vezes mil anos) após sua composição original, uma escrita vigente durante a vida de muitos dos destinatários das cartas é algo extraordinário. Uma parte importante dessa descoberta espetacular é que ela foi encontrada no Egito, embora o apóstolo João, o autor do livro, provavelmente o tenha escrito em Éfeso, na Ásia Menor. Essa informação tem desafiado a visão de longa data dos críticos textuais de que João seria o último dos Evangelhos do Novo Testamento (c. 160 d.C.), uma vez que essa porção de João estava em circulação no Egito pelo menos em meados do século II d.C. Como a transmissão de um texto leva um tempo considerável, a descoberta de P52 agora tem forçado uma datação do Evangelho de João até a última década do século I.
Atos dos apóstolos
Atos 3:2
A porta Formosa
Estava sendo levado para a porta do templo chamada Formosa um aleijado de nascença, que ali era colocado todos os dias para pedir esmolas aos que entravam no templo.
Enquanto Pedro e João se encaminhavam para o templo, encontraram e curaram um homem “coxo” na “porta do templo chamada Formosa”. Houve vários locais propostos para a porta Formosa. A primeira é a Porta de Nicanor de Mishná (Mid. 1.4), também conhecida como o “Portão Coríntio” por Josefo (G/5.5.3). Nesse relato, Josefo informa que o Portão de Nicanor era de “cinquenta côvados; e as suas portas eram de quarenta côvados; seu peso era tão grande que eram necessários 20 homens para movê-lo”.
O argumento principal em apoio à porta de Nicanor é o Codex Bezae (D), que diz: “Mas quando Pedro e João estavam saindo ele foi com eles, e eles, atônitos, ficaram no pórtico chamado Salomão” (At 3:11). Sendo esse o caso, então a porta Formosa deve ser a porta de Nicanor. Esses fatores podem identificar a porta de Nicanor como a porta Formosa.
Um segundo local proposto para a porta Formosa é a porta Oriental (também conhecida como a porta de Susã do período persa, e provavelmente localizada no local da atual Porta Dourada, chamada assim desde o período bizantino).
A Porta Dourada ficava na muralha leste do complexo do templo, em frente ao monte das Oliveiras. Por essa razão, foi associada à entrada triunfal de Cristo na cidade no Domingo de Ramos.
Outro argumento a favor da Porta Dourada é o texto do próprio livro de Atos. Lucas registra que Pedro e João começaram a “subir” (grego, beiron) (At 3:1). Normalmente, o termo heiron se refere ao complexo do templo em oposição ao naos, que se refere ao santuário propriamente dito. Se os apóstolos tivessem curado o homem na Porta de Nicanor, Lucas provavelmente teria usado o termo grego naos em vez de heiron. Além disso, Lucas diz que as multidões se reuniram em volta dos apóstolos no Pórtico de Salomão. À parte do Codex Bezae, para que a cronologia da história se encaixasse, os apóstolos teriam curado o homem, atravessado a Porta Dourada e entrado no Pórtico de Salomão. Se já tivessem entrado no complexo do templo, curado o homem na Porta de Nicanor, entrado no Pátio dos Homens, depois voltado para o Pórtico de Salomão, o relato de Lucas seria muito mais complicado do que o seu cuidadoso estilo normal. Além disso, como a leitura no Codex Bezae parece ser a variante, provavelmente não é a original.
Uma terceira proposta para a localização da Porta Formosa é o sítio da Porta Dupla, agora apenas exposta de modo parcial, apesar de ter sido construída sobre uma entrada posterior em forma de arco no topo da escadaria monumental no lado sul do monte do Templo. As portas originais de Hulda ficavam ao sul da entrada para a plataforma de 500 metros quadrados do monte do Templo pré-herodiano (Mid. 1.3). Apesar de o nome (e o local) pertencerem ao período asmoneano, ainda é apropriado para uso dessas adições herodianas, uma vez que o termo hebraico significa às vezes algo parecido como “rato” e descreve apropriadamente os túneis por detrás dessas portas que se assemelham aos buracos usados por esses animais (caminhos de rato).
Atos 13:6
Evidências paulinas, a inscrição de Pafos
Viajaram por toda a ilha, até que chegaram a Pafos.
O apóstolo Paulo visitou Pafos durante o século I d.C. Quando o apóstolo chegou a Chipre, Atos 13:6 diz que ele viajou “por toda a ilha” até chegar a Pafos. Aqui, Lucas está se referindo à nova Pafos, construída no século IV a.C., que substituiu a velha Pafos a 16 quilômetros de distância. Os ptolomeus fizeram dela sua capital, e assim permaneceu até o século IV d.C. Como a capital da ilha, teria sido o local onde o procónsul romano estava lotado, o que concorda com o relato de Lucas sobre o procônsul Sérgio Paulo, que convocou Paulo e Barnabé.
Em 2000, arqueólogos italianos liderados por Filippo Giudice descobriu em Pafos fragmentos de uma inscrição em mármore do século I ou II que pode se referir à Paulo. O fragmento foi encontrado no local onde se acredita que tenha existido uma igreja cristã do século I ou II e diz: “…los…. osto… Eles argumentam que o original dizia [Pau]los [Ap]osto[los]. Se esta leitura estiver correta, é uma evidência arqueológica da presença de Paulo na ilha.
Atos 13:7
Sérgio Paulo
Ele era assessor do procônsul Sérgio Paulo. O procónsul, sendo
homem culto, mandou chamar Barnabé e Saulo, porque queria
ouvir a palavra de Deus.
Durante a primeira viagem missionária do apóstolo Paulo, ele visitou a ilha mediterrânea de Chipre, pregando o evangelho por toda a ilha”. Quando chegou à cidade de Pafos, Paulo foi convocado pelo procônsul local, Sérgio Paulo, para que o oficial romano pudesse “ouvir a palavra de Deus” (At 13:7).
Dentro do Império Romano havia dois tipos de governo provincial. O primeiro (sob o qual estava a Judéia) era aquele que precisava da presença de soldados para manter a paz. O segundo tipo, sob o qual era administrada a ilha de Chipre (a partir de 22 a.C.), era daqueles que não precisavam de tropas porque eram mais pacíficos e “civilizados”. Essas províncias eram governadas pelo senado romano e administradas por procônsules como Sérgio Paulo. Antes da descoberta de inscrições provando que havia procônsules em Chipre antes da chegada de Paulo alguns estudiosos duvidaram da exatidão de Lucas em Atos 13. Essas dúvidas foram derrubadas no início do século XX.
A arqueologia identificou várias inscrições possíveis com o nome de Sérgio Paulo, dois de Chipre e um de Roma.
Atos 18:4
A sinagoga judaica em Corinto
Todos os sábados ele debatia na sinagoga, e convencia judeus e gregos.
Há algum debate sobre evidências literárias e arqueológicas de uma sinagoga em Corinto durante o século I. A evidência interna do Novo Testamento defende uma comunidade judaica em Corinto em dois relatos: (1) a suposta origem judaica dos colaboradores de Paulo em Corinto, incluindo Priscila e Áquila, Lúcio, Jasom e Sosipatro (Rm 16:21), e Crispo e Sóstenes (At 18:2,8,17; 1Co 1:1,14; 16:19), e (2) a declaração de Paulo acerca da circuncisão (1Co 7:18-19), que só faria sentido se houvesse a presença de judeus.
Existem também evidências litúrgicas e arqueológicas relacionados a essa passagem.
Atos 18:12
A Inscrição de Gálio
Sendo Gálio procônsul da Acaia, os judeus fizeram em conjunto um levante contra Paulo e o levaram ao tribunal.
Quando Paulo estava pregando o evangelho em Corinto, os judeus fizeram em conjunto um levante contra Paulo e o levaram ao tribunal, fazendo a seguinte acusação: Este homem está persuadindo o povo a adorar a Deus de maneira contrária à lei'” (At 18:12-13). Conforme o relato de Lucas, o lugar de julgamento, do grego bëma, foi ocupado por Galio, o procônsul da Acaia. Gálio, mesmo antes de Paulo conseguir defender-se, emite seu veredito: “Se vocês, judeus, estivessem apresentando queixa de algum delito ou crime grave, seria razoável que eu os ouvisse. Mas, visto que se trata de uma questão de palavras e nomes de sua própria lei, resolvam o problema vocês mesmos. Não serei juiz dessas coisas” (At 18:14-15). Ironicamente, todos os gregos que haviam se reunido (provavelmente por curiosidade) então “se voltaram contra Sóstenes, o chefe da sinagoga, e o espancaram diante do tribunal. Mas Gálio não demonstrou nenhuma preocupação com isso” (At 18:17).
Ao contrário de muitos outros detalhes históricos no relato de Lucas, este aqui ajuda a confirmar a cronologia paulina, estabelecendo a sobreposição do ministério de Paulo em Corinto com o exercício do governador romano Gálio, amplamente aceita pelos eruditos.
Atos 21:28,29
A Inscrição Soreg
“Israelitas, ajudem-nos! Este é o homem que ensina a todos em toda parte contra o nosso povo, contra a nossa lei e contra este lugar. Além disso, ele fez entrar gregos no templo e profanou este santo lugar”. Anteriormente eles haviam visto o efésio Trófimo na cidade com Paulo e julgaram que Paulo o tinha introduzido no templo.
Paulo foi acusado pelos judeus da Ásia de trazer Trófimo, um grego (não-judeu), para o Templo de Jerusalém e, assim, profaná-lo. Josefo relata que havia várias inscrições de avisos em pedras nos portões (soreg) dividindo o Pátio dos Gentios dos pátios reservados exclusivamente para os judeus. Essas advertências em grego marcavam o limite até onde os gentios poderiam tentar entrar no pátio dos israelitas. Tal acesso lhes foi proibido sob ameaça de morte.
Uma inscrição soreg completa foi descoberta em 1871 por Clermont-Ganneau perto do Portão de Santo Estêvão, ao norte da quina nordeste do monte do Templo. Por ter sido encontrada durante o período de domínio do império otomano, foi levada para o museu de Istambul, na Turquia, onde está atualmente em exibição. A inscrição diz: “Nenhum estrangeiro [i.e., não-judeu] deve adentrar a balaustrada e o recinto em torno da área do Templo. Quem for pego será culpado por sua própria morte que se seguirá.”
13 – Sobre as cartas de Paulo
Romanos
Romanos 16:23b
A Inscrição de Erasto
Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a igreja desfrutamos, envia-lhes saudações. Erasto, administrador da cidade, e nosso irmão Quarto enviam-lhe saudações.
Em Atos 19:22, Erasto é mencionado como tendo ido com Timóteo para a Macedônia, enquanto Paulo permaneceu na Ásia. Em Romanos 16:23, Paulo envia as saudações de Erasto para a Igreja Romana. Finalmente, Paulo relata em 2Timóteo 4:20 que Erasto ficou em Corinto. A maioria dos comentaristas e estudiosos presume que todas as três citações mencionam a mesma pessoa.
Um entendimento considerável foi lançado sobre a discussão com a descoberta de uma inscrição parcial do século I em Corinto. Ela apresenta em latim: ERASTUS PRO AEDILITATE S.P. STRAVIT. A tradução da inscrição revela: “Erasto, em troca de sua nomeação como administrador, colocou [o pavimento] às suas próprias custas.” A inscrição era originalmente parte do pavimento de uma rua a leste de um dos teatros de Corinto e está faltando a maior parte do lado esquerdo da placa, que pode ter mencionado o praenomen e o nomen de Erasto.
Andrew Clarke argumenta que a inscrição tratava de uma declaração que informava ao público que o pavimento fora colocado por um indivíduo chamado Erasto como parte de uma promessa eleitoral.
A primeira questão que deve ser tratada é a afirmação feita por Justin Meggite de que o lado esquerdo da inscrição está ausente e, portanto, a pessoa mencionada nele pode nem ser Erasto. Ele especula que é provável tratar-se de “Eperastus”, que ele afirma ser um nome muito mais comum. Esse argumento tem produzido dúvidas generalizadas.
Quase imediatamente, a inscrição de Erasto suscitou muita discussão especulativa sobre a existência de uma identidade comum entre os Erastos mencionados no Novo Testamento e o Erasto da calçada coríntia. O principal debate concentra-se em duas questões: a relativa raridade do nome Erasto e a relação entre aedile e oikonomos. A primeira questão é bem fácil de decidir. O nome Erasto é muito raro em fontes arqueológicas antigas. De fato, a inscrição encontrada em Corinto é a única menção já encontrada desde o século I, e apenas alguns demais exemplos foram descobertos em outros locais e períodos de tempo. Portanto, a probabilidade de que o Erasto do Novo Testamento seja a mesma pessoa da inscrição em Corinto é razoavelmente alta.
A tradução grega usual de aedile é agoranomos ou astunomos, levando alguns a questionar a escolha de oikonomos por Paulo para identificar Erasto. No entanto, esses termos não são encontrados em uso em Corinto até depois de 170 d.C., muito depois de Paulo ter escrito aos romanos.
Embora muitos estudiosos do Novo Testamento encontrem razões para duvidar, devido à evidência já mencionada, Joseph Fitzmeyer conclui que o Erasto da inscrição em Corinto é “indubitavelmente o mesmo indivíduo mencionado no Novo Testamento”. Em geral, as evidências e os argumentos favorecem a identificação de que o Erasto Paulino e o Erasto de Corinto eram um e o mesmo.
Outra possível linha de evidência a respeito da identidade de Erasto foi oferecida por John Fotopoulos. Se o Erasto de Romanos fosse realmente o aedile de Corinto, um oficial muito proeminente e público, ele teria sido responsável pelo mercado e pelas receitas públicas que ele gerava. Muito provavelmente isso envolvia receitas das compras de carne sacrificada a ídolos e poderia ter gerado sensibilidade, suspeita, ofensa e até mesmo animosidade contra Erasto por parte de alguns cristãos coríntios. Essa situação pode ajudar a explicar o que levou Paulo a escrever 1Coríntios 8.
1Coríntios
1Coríntios 7:22
Liberdade da escravidão
Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens.
Os escravos do império romano podiam ser tanto libertados por seu próprio dono como por alguém que estivesse disposto a comprar sua liberdade. Os romanos entendiam a alforria como a recompensa regular para escravos urbanos por merecimento, embora a maioria dos escravos, especialmente aqueles que trabalhavam nos campos, nunca fosse libertada. Contudo, quando libertos, os escravos geralmente recebiam a cidadania. O termo grego usado aqui é agoradzo, uma palavra que surgiu em seu contexto do século I por seu uso nos papiros koiné não literários, tais como aqueles descobertos em Oxyrhynchus no Egito. A palavra era comum em escrituras de venda, e sua ideia principal era a da alforria (o ato de libertar um escravo), para a qual havia vários métodos, tanto formais como informais. E esse reconhecimento do exercício institucionalizado da alforria urbana que informa as declarações de Paulo nesse contexto de Corinto.
Para alforrias formais, um magistrado poderia conceder a liberdade de escravos em sua corte, um senador poderia conferir liberdade a um escravo, ou um escravo poderia ser libertado por instrução especial da vontade de seu mestre. Para alforrias informais, um proprietário de escravos poderia escrever uma carta de liberdade ou declarar a libertação em presença de amigos, que serviriam como testemunhas de que o escravo havia sido liberto. Uma inscrição encontrada no muro poligonal do santuário em Delfos descreve como os escravos poderiam ser libertados em nome de Apolo. O livro apresenta a referida passagem.
Paulo tem em vista esse costume greco-romano de comprar um escravo para a liberdade pagando um preço de compra, e é essa ideia principal que forma o conceito de redenção em todo o Novo Testamento. Isso não é de admirar, considerando a prática generalizada da escravidão no império romano, e a prática relativamente comum dos escravos serem libertados, fossem pelos seus donos, fossem “redimidos” por outra pessoa.
EFÉSIOS
Efésios 1:1
A arqueologia de Éfeso
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso.
Grupos de escavações começaram a encontrar as ruínas de Éfeso no século XIX. Elas continuaram incansavelmente desde então e agora é “o sítio mais desenvolvido na Turquia”. Era uma importante metrópole na Ásia Menor (agora perto da cidade de Selçuk, no oeste da Turquia).
Hoje, Éfeso perdeu seu porto, e as ruínas da antiga cidade que foram descobertas pelos arqueólogos estão situadas a cinco quilômetros do mar Egeu. Embora o local atualmente escavado seja extenso, grande parte da cidade ainda está enterrada sob o depósito de lodo.
Éfeso tinha um templo dedicado a Ísis, mas tornou-se conhecido a partir do século VII a.C. como centro da adoração da deusa Ártemis/Diana. O Artemisio ou templo de Artemis (uma das sete maravilhas do mundo) foi destruído e reconstruído três vezes antes de sua destruição final em 401 d.C. As ruínas desse último templo, e fragmentos de templos anteriores, foram descobertos por escavações realizadas pelo Museu Britânico em 1869. Embora hoje apenas uma das 127 colunas da última fase do templo permaneça em pé, uma descrição da estrutura antiga foi preservada por Antípatro de Sidom, que compilou a lista das sete maravilhas do mundo antigo.
Éfeso tem uma história antiga e longa de presença cristã. A cidade era um centro do cristianismo primitivo, sendo uma das cidades paulinas” (At 18-19). Paulo parou ali brevemente, vindo de Corinto para Jerusalém. Ele debateu com os judeus na sinagoga. Embora os judeus cristãos em Éfeso o encorajassem a permanecer, Paulo continuou sua jornada missionária (At 18:19-21), mas durante sua terceira viagem evangelística ele retornou e ficou na cidade por dois ou três anos (At 19:1-9). mas foi forçado a sair após o tumulto que se seguiu, instigado por Demétrio (At 19:23—20:1). Timóteo, o filho de Paulo no ministério, ministrou lá. Éfeso foi também a primeira das sete cidades a quem Jesus se dirigiu através de João, escritor do Apocalipse (Ap 1:9; 2:1-2). Também recebeu uma carta do pai da igreja, Inácio.
A cidade foi popularmente considerada o lar do apóstolo João após sua libertação do exílio na ilha de Patmos. Embora nenhuma evidência física de sua residência tenha sido encontrada, a tradição antiga diz que João viveu em Éfeso e morreu ali.
Até agora, nenhuma evidência de sinagoga foi encontrada em Éfeso, mas alguns vestígios de presença judaica o foram. Os escavadores encontraram um monumento funerário “preparado pelos judeus” e cerâmica e vidro com menorás no Cemitério dos sete dormentes. Eles também descobriram uma menorá esculpida em um degrau na biblioteca. Essa evidência física apoia fontes históricas que indicam que havia uma grande e influente população judaica na cidade.
Filipenses
Filipenses 1:1
Filipos do Novo Testamento
Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos.
De acordo com a história bíblica Filipos foi fundada como uma colônia romana no tempo de Augusto e foi rotulada como “pequena Roma”, mas sua história arqueológica começou em 5.500 a.C.e atesta o assentamento neolítico mais antigo na Macedônia Oriental e na Trácia. Uma colônia foi estabelecida em 360 a.C. e logo foi conquistada por Filipe II da Macedônia (359-336 a.C.). A colônia foi nomeada em homenagem a ele.
A cidade de Filipos tornou-se importante para a cristandade após a visita do apóstolo Paulo em 49/50 d.C. Uma mulher chamada Lídia (e sua família) se converteu ao cristianismo depois de ouvir os ensinamentos de Paulo, e ela convenceu o apóstolo a se hospedar em sua casa. Depois que Paulo expulsou um demônio de uma escrava vidente, ele foi preso na cidade. Enquanto Paulo e Silas estavam orando e cantando na prisão, houve um terremoto e as correntes que prendiam o apóstolo foram soltas. Essa igreja cresceu, e no tempo da carta que Paulo enviou para os filipenses, ele os elogiou por sua assistência em seu ministério. A cidade em si prosperou até o século VII, quando vários terremotos e ataques de invasores eslavos deram início a um longo e gradual declínio da cidade. A área foi quase totalmente abandonada até o século XX, quando a nova cidade de Krinides foi construída nas suas proximidades.
A Escola Francesa de Arqueologia de Atenas escavou Filipos a partir de 1917.
Vários vestígios relacionados ao cristianismo primitivo podem ser encontrados em Filipos, que era um importante centro do cristianismo.
COLOSSENSES
Colossenses 4:13
Evidências do cristianismo em Hierápolis.
Dele dou testemunho de que se esforça muito por vocês e pelos que estão em Laodicéia e Hierápolis.
Hierápolis fica localizado a dez quilômetros de Laodicéia e no vale do rio Lico. A cidade era conhecida por seus depósitos minerais brancos de fontes termais. Aparentemente, a cidade tinha uma grande população judaica, e judeus podem ter dominado uma das corporações de processamento de lã da cidade. Epafras foi o fundador tradicional da igreja em Hierápolis, e também se diz que o pai apostólico Papias viveu lá.
Ao contrário do sítio não escavado de Colossos, Hierápolis tem sido extensivamente escavada desde 1957 por uma equipe italiana liderada por Paolo Verzone, e desde 2003 por Francesco D’Andria. Verzone encontrou muitos vestígios romanos, incluindo canais construídos para direcionar a água da fonte para os locais de banhos da cidade. A equipe também encontrou um grande teatro (12 a 15 mil lugares) e uma das maiores necrópoles da Turquia. Devido às inscrições encontradas na necrópole, os escavadores concluíram que deve ter havido jogos de gladiadores na cidade. Não havia coliseu em Hierápolis, então os estudiosos teorizam que os jogos podem ter ocorrido na planície perto da cidade.
A necrópole também contém evidências de uma grande presença judaica na cidade. Os escavadores encontraram numerosas inscrições de símbolos, como menorás, bem como a inscrição de um epitáfio que dizia: “Marco Aurélio Alexandre, também chamado Asafe, do povo dos judeus.” Outras evidências de habitantes judeus incluem inscrições em monumentos, como “a comunidade dos judeus que habitam Hierápolis”. Curiosamente, com a chegada do cristianismo, todos os vestígios da presença judaica na cidade desaparecem.
A necrópole também guarda outras evidências do cristianismo na cidade que são apresentadas neste capítulo.
Há um debate sobre qual Filipe está sendo mencionado em relação a Hierápolis: o apóstolo (que tinha quatro filhas virgens que, segundo a tradição, moravam em Hierápolis), ou Filipe, o evangelista (que foi tradicionalmente martirizado). Provavelmente pode ser o caso de que os dois tenham sido confundidos.
Durante seu trabalho, Verzone encontrou um martyrium dedicado a Filipe na cidade, provavelmente construído c. 400 d.C. D’Andria continuou a trabalhar lá e descreve o martyrium como uma estrutura octogonal composta por oito capelas irradiando a partir de um espaço central cercado por um pórtico retangular composto por 28 pequenas salas quadradas. Essas salas eram provavelmente usadas para abrigar peregrinos durante a noite. Elas não tinham piso, levando Francesco D’Andria a argumentar que os peregrinos devem ter desejado dormir em contato direto com a rocha sagrada, e os quartos foram projetados para ritos de incubação em que o santo aparecia durante o sono para anunciar suas profecias e curar os doentes.
Um terremoto catastrófico destruiu o complexo junto com o restante de Hierápolis no final do século VII. Nos séculos IX e X, igrejas menores foram erguidas sobre o complexo destruído, junto com os cemitérios. No final do século XII, o local foi mencionado por peregrinos ocidentais que ainda vinham para venerá-lo.
2TIMÓTEO
2 Timóteo 2:5
Competição atlética no mundo greco-romano
Semelhantemente, nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras.
Assim como os jogos modernos, eram realizadas a cada quatro anos, mas sempre em Olímpia. Havia também jogos em estilo olímpico praticados em outros lugares, mas era como uma marca de orgulho para esses jogos estrangeiros aderirem às mesmas regras que os jogos realizados em Olímpia. Os jogos antigos perduraram quase ininterruptamente por mil anos, de 776 a.C. a 395 d.C. Esses jogos incluíam corridas de várias extensões (de 200 metros até maratonas completas), boxe, luta livre, corridas de carruagens, discos, dardos e outras competições de arremesso. Várias descobertas arqueológicas ilustraram a popularidade desses eventos, sendo retratados em todos os tipos de cerâmica e inscrições.
Em referência às regras que Paulo cita, além de evidências literárias, os vestígios de cerâmica e estátuas de atletas vencedores fornecem um vislumbre das regras dos jogos.
Atletas que seguiam as regras e eram vitoriosos eram coroados com uma coroa de flores, mas por vezes também eram imortalizados em forma de estátua, cujas bases têm sido encontradas. Alguns atletas ganharam tal fama que se tornaram objetos de mito e adoração no império romano. Por exemplo, uma inscrição do século I. d.C. encontrada em Tasos descreve como o fracasso dos tasianos em honrar a memória de Teogenes (um herói de boxe do século III a.C. que teria 1.300 vitórias) levou a vários anos de fracasso na colheita.
14 – Apocalipse
Hebreus
Hebreus 12:1
Correndo com perseverança
Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta.
O autor aos Hebreus usou a metáfora de uma competição esportiva em um estádio para ilustrar uma verdade espiritual. Essa era uma prática comum entre filósofos morais em cidades helenísticas durante o século I, bem como em sinagogas judaicas da diáspora de língua grega. A referência a “uma nuvem de testemunhas” parece descrever o anfiteatro de uma cidade com suas filas ascendentes de assentos, cheios de espectadores reunidos para assistir aos eventos esportivos.
A metáfora de empreender uma corrida é extraída das competições gregas de corrida a pé no pentatlo durante os jogos pan-helênicos. Bream observa que “nos Jogos Olímpicos, a corrida era a única competição atlética por um período prolongado”. Isso se encaixa bem com a recomendação de conter com “resistência” (do grego hupomones), sendo que na maratona o prêmio não é ganho simplesmente pela velocidade que alguém desenvolve, mas por até onde chega.
Descobertas arqueológicas mostraram-nos exemplos da arquitetura e elementos envolvidos na competição atlética. Estádios em forma de teatros e anfiteatros surgiram em locais por todo o mundo greco-romano e imagens de competidores atléticos adornam artefatos que vão de vasos a túmulos.
Apocalipse
Apocalipse 2:8
Grafite e a Igreja de Esmirna
Ao anjo da igreja em Esmirna escreva: “Estas são as palavras daquele que é o Primeiro e o Último, que morreu e tornou a viver. ”
A igreja em Esmirna é mencionada apenas no Apocalipse de João. Ela é exortada a não temer a iminente perseguição “dos que se dizem judeus, mas não são” (Ap 2:9). Jesus disse aos fiéis dessa cidade que seriam lançados na prisão como um teste. A história subsequente da cidade confirma essas exortações. Estátuas de Domiciano, Trajano e Adriano também foram descobertas na cidade.
No tempo do Novo Testamento, Esmirna possuía um aqueduto, e era um dos possíveis maiores mercados de grãos da Ásia, além de ter um estádio, um teatro com capacidade para 20 mil espectadores e o mais magnífico ginásio da Ásia. Estima-se que a cidade tenha sido habitada por mais de 100 mil pessoas.
Grafites revelam a vida cotidiana durante os períodos helenístico e romano. A maioria deles retrata as ofertas usuais de serviços sexuais, slogans políticos, discussões religiosas pagãs e declarações de orgulho cívico; eles estão todos misturados e confusos. No entanto, de acordo com o professor Roger Bagnall, que escreveu sobre os grafites, um grafite (um pequeno rabisco) pode ser a mais antiga inscrição cristã já encontrada. A inscrição está em grego e diz ho dedokős pneuma (“aquele que deu o espírito”). Bagnall argumenta que se tratava de uma mensagem codificada de um cristão para outro, para que eles soubessem que havia outros crentes na cidade.
O uso de código era necessário pelo fato de o cristianismo ser ilegal, considerado um culto herético. O perigo para os cristãos em Esmirna foi vividamente ilustrado pelo martírio de Policarpo, o bispo da cidade, em 154 ou 166 d.C. Segundo a tradição, o procónsul de Esmirna, Quadrato, ordenou que Policarpo negasse a Cristo. Quando ele se recusou, Policarpo, junto com outros dez cristãos, foi morto numa fogueira no estádio da cidade.
Apocalipse 2:12-13a
A Igreja de Pérgamo
Ao anjo da igreja em Pérgamo escreva: “Estas são as palavras daquele que tem a espada afiada de dois gumes. Sei onde você vive – onde está o trono de Satanás.”
Chamada por Plínio, o Velho, como “a cidade mais ilustre na Ásia Menor” (História natural 5.33), abrigava a Biblioteca de Pérgamo, fundada por Átalo, a segunda mais importante do mundo antigo depois da Biblioteca de Alexandria. Situada no rio Caicos, no oeste da Turquia moderna, Pérgamo tornou-se parte do império romano quando o último rei da dinastia atálida morreu em 133 a.C. e desejou entregar seu reino para Roma.
Era uma cidade proeminente na região, atrás apenas de Éfeso e Esmirna em importância, e assim permaneceu até o século IV d.C. O estadista ateniense Aristides observou que a acrópole podia ser vista de todos os lados a uma grande distância da cidade (Or 23.13). Além da acrópole, a cidade ostentava um teatro, era abastecida de água fornecida por um sistema com sifão de cano de barro de aproximadamente 45 quilômetros de extensão, um grande quartel, casas palacianas na acrópole, um ginásio espetacular, um Askelpeion (uma antiga clínica de saúde combinada com uma escola de medicina), muitos templos e o chamado Grande Altar.
Escavações foram realizadas pelo Museu de Berlim entre 1878 e 1886. Eles descobriram o Grande Altar dedicado a Zeus Soter (salvador) e Arena, e provavelmente era usado para ofertas queimadas a essas divindades.
Muitos estudiosos propuseram que havia um altar e que ele seria o trono de Satanás (Ap 2:13a). Justino Mártir, apologista do século II, pensava que os deuses gregos e romanos eram anjos caídos, ou demônios, de modo que não seria inconcebível que Zeus, como chefe do panteão grego, estivesse associado a Satanás (2Apol. 5.4). A localização do Grande Altar também evidencia sua associação com um trono, estando no topo de uma colina alta e íngreme. Montanhas eram frequentemente associadas com divindades no mundo antigo, e os deuses gregos viviam no monte Olimpo. Pérgamo era um importante centro do culto imperial, bem como do culto a Asclépio (que empregava serpentes em seus ritos de cura).
15 – Descobertas arqueológicas e o novo testamento cronologicamente
O capítulo 15 deste livro apresenta de forma didática várias descobertas arqueológicas feitas ao longo dos tempos. Eles contêm informações como linguagem, local, significância bíblica além de várias outras informações.
A obra prossegue apresentando uma série de mapas que ajudam a compreensão do leitor sobre as localidades e estudos arqueológicos.