Êxodo 06

6.1 — A resposta do Senhor, agora verás o que hei de fazer a Faraó, foi para encorajar Moisés. Nada havia acontecido até o momento porque Deus ainda não começara a agir.

Porque, por mão poderosa, os deixará ir; sim, por mão poderosa, os lançará de sua terra. A expressão mão poderosa aqui parece confrontar o poder humano do faraó, que tinha muitos sob suas mãos, com o poder supremo de Deus, que tinha todos, inclusive o rei do Egito, sob Suas potentes mãos (ver Êx 3.19,20; 6.6; 15.6,12).

Assim, o sentido principal do versículo pode ser colocado desta forma: “por causa de minha mão poderosa, faraó deixará o povo ir; em razão da minha mão poderosa, faraó os expulsará da terra dele”.

6.2-9 — Aqui está o propósito de Yahweh revelado em Êxodo. Fazia parte dos planos do Senhor que a inútil e desencorajadora experiência de Moisés em seu primeiro encontro com faraó (Êx 5.1-9) servisse para que essa essencial declaração das intenções de Deus fosse registrada em Êxodo.

Essa passagem é tão importante que alguns teólogos acreditam que ela seja o coração do Pentateuco. O Deus vivo explica Seu intuito quanto ao povo de Israel (revelar-se como o Deus único e fiel com quem Abraão, Isaque e Jacó se alcançaram; o Senhor Todo-Poderoso, Rei soberano, que os livraria da escravidão e lhes daria a Terra Prometida como herança).

6.2 — Ao explicar Seu propósito para Israel, Deus encorajou Moisés após sua desalentadora conversa com faraó (Êx 5.1-9). Essa parte se edifica solidamente na revelação de Deus na sarça ardente (Êx 2.23—3.22).

As palavras Eu sou o Senhor começam e finalizam essa seção (Êx 6.2,8). O Senhor é o nome de Deus, Yahweh.

O Nome do SENHOR

“Falou mais Deus a Moisés e disse: Eu sou o SENHOR. E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-poderoso; mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente conhecido. E também estabeleci o meu concerto com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual foram peregrinos. E também tenho ouvido o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios escravizam, e me lembrei do meu concerto” (versículos 2 a 5).

“O SENHOR” é o título que Deus toma como Libertador do Seu povo, em virtude da Sua aliança de pura e soberana graça. Ele revela-se a Si como a grande Origem natural do amor redentor, estabelecendo os Seus conselhos, cumprindo as Suas promessas, e libertando o Seu povo eleito de todo o inimigo e de todo o mal.

Era privilégio de Israel permanecer para sempre sob a salvaguarda desse título significativo, o qual nos revela Deus atuando para Sua própria glória, e levantando o Seu povo oprimido a fim de mostrar nele essa glória.

“Portanto, dize aos filhos de Israel: Eu sou o SENHOR, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, vos livrarei da sua servidão e vos resgatarei com braço estendido e com juízos grandes. E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o SENHOR, VOSSO Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios; e eu vos levarei à terra, acerca da qual levantei minha mão, que a daria a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, e vo-la darei por herança, eu o SENHOR” (versículos 6 a 8).

Tudo isso proclama a graça mais pura, mais livre, mais rica. O Senhor apresenta-Se ao coração do Seu povo como Aquele que ia operar por eles, neles, e com eles para manifestação da Sua glória. Por muito desamparados e arruinados que estivessem, Ele havia descido para fazer ver a Sua glória e manifestar a Sua graça e mostrar um exemplo do Seu poder na sua plena salvação.

A sua glória e a salvação do Seu povo estavam inseparavelmente unidas. Mais tarde todas essas coisas haviam de lhes ser recordadas, como lemos no Livro de Deuteronômio 7:7-8, “O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos: mas porque o SENHOR VOS amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito”.

Nada há mais próprio para estabelecer e firmar o coração tremente e duvidoso do que o conhecimento de que Deus nos tomou tais quais somos, que conhece perfeitamente o que somos; e que, além disso, nunca poderá descobrir em nós alguma coisa que possa alterar o caráter e a medida do Seu amor: “…como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13:1).

Aquele que Ele ama, ama-o até ao fim. Essa verdade é motivo de gozo inexplicável. Deus sabia tudo a nosso respeito e conhecia o pior que havia em nós, quando manifestou o Seu amor para conosco no dom de Seu Filho. Sabia o que necessitávamos, e fez ampla provisão para tudo isso. Sabia qual era o débito, e pagou-o. Sabia o que havia por fazer, e fez tudo. As Suas próprias exigências tinham de ser cumpridas, e cumpriu-as. É tudo obra Sua.

Por isso, vêmo-lo dizer a Israel, Eu “…vos tirarei…”, “vos livrarei”, “vos tomarei por meu povo”, “vos levarei à terra.”, “Eu sou o Senhor”. Isso era o que Ele queria fazer com base naquilo que Ele era. Enquanto essa grande verdade não for inteiramente compreendida e não for recebida pela alma no poder do Espírito Santo, não pode haver uma paz sólida. Não se pode ter o coração feliz nem a consciência tranquila antes de se saber e crer que todos os direitos divinos já foram divinamente satisfeitos.

6.3 — Os patriarcas conheceram o Senhor como o Deus Todo-Poderoso. Não que eles nunca tivessem ouvido o nome Yahweh, mas não conheceram Deus de uma forma íntima.

Os patriarcas estavam cientes do grande trato com o Altíssimo e experimentaram a bondade dele de muitas formas. Contudo, não tiveram uma revelação divina da maneira como foi apresentada a Moisés e ao povo israelita desse tempo.

6.4 — Estabeleci o meu concerto com eles. Deus faz referência à aliança abraâmica celebrada em Gênesis (Gn 12.1-3,7; 15.12-21; 17; 22.15-18). Para dar-lhes a terra de Canaã, a terra de suas peregrinações, na qual foram peregrinos.

Os primeiros pais de Israel peregrinaram pela terra de Canaã sem nunca possuírem mais do que locais de pasto, poços e sepulcros (Gn 23; Hb 11.8-10). Eles viveram como estrangeiros, sem a cidadania em sua própria terra.

6.5 — E também tenho ouvido o gemido dos filhos de Israel. Esse versículo remete ao clamor dos israelitas em Êxodo 2.23-25. Com essa maravilhosa apresentação de si mesmo, o Senhor agora estava pronto para realizar Seu plano concernente a Israel (v. 6-8).

6.6-8 — Esses versículos expressam quatro aspectos do plano de Deus para Israel:

  1. Ele libertaria os israelitas do Egito. Isso era mais do que a cessação dos trabalhos escravos; era o início do processo de salvação que Ele revelaria à nação israelita e que culminaria no perdão, na libertação dos pecados e na redenção da alma (Êx 14-31).
  2. Ele faria deles Seu povo, uma nação de crentes.
  3. Ele seria o Deus dos israelitas; teria um relacionamento pessoal com Seu povo.
  4. Ele levaria o povo israelita a Canaã, a Terra Prometida.

6.9 — Apesar das poderosas palavras de Deus a Moisés, o povo ainda não acreditava no que este falava. O cruel sofrimento pelo qual os israelitas estavam passando os dominava completamente. Mas, por fim, eles acreditariam! Só precisavam experimentar a presença real do Deus vivo (Êx 14.31).

6.10,11 — O Senhor ratificou Seu prévio comando a Moisés (Êx 4.22,23). A recusa arrogante do faraó não era o fim da história, mas o começo.

6.12 — Moisés se queixou, usando o argumento de que, se seu próprio povo não lhe dera ouvidos, como faraó o faria? Mais uma vez, Moisés lembrou o Senhor da sua pouca habilidade como orador (Êx 4.10), alegando: eu sou incircunciso de lábios.

6.13 — A resposta do Senhor a Moisés consistiu na repetição da ordem inicial. A obediência integral a esse mandamento não era algo que podia ser negociado, mas uma coisa que deveria ser cumprida.

Após a descrição da genealogia nos versículos 14 a 27, a história continua no versículo 28. Lá, ficamos sabendo que havia mais interação entre Moisés e o Senhor dos que estes versículos sugerem.

6.14-27 — O registro da história da família de Moisés, Arão e Miriã interrompe rapidamente a narrativa. Contudo, esse não é apenas um texto com fins de registro público, mas algo para se celebrar! Todos os sacerdotes de Israel viriam dessa família.

Os Nomes dos que Pertencem ao SENHOR

Os restantes versículos desse capítulo tratam do relato dos “chefes das casas dos pais” em Israel; é um registro muito interessante, visto que nos mostra como o Senhor desce para numerar aqueles que Lhe pertencem, embora estejam ainda debaixo do poder do inimigo.

Israel era o povo de Deus, e aqui Ele conta aqueles sobre os quais tinha o direito de soberania. Que graça admirável! Encontrar um objeto de interesse naqueles que se encontravam no meio de toda a degradação da servidão do Egito! Era graça digna de Deus.

Aquele que criou os mundos e era rodeado por hostes de anjos, sempre prontos a executar “a sua vontade” (Sl 103:21), desceu ao mundo com o propósito de adotar alguns escravos com cujo nome quis ligar o Seu para sempre.

Desceu até junto dos fornos de tijolos do Egito e ali viu um povo que gemia debaixo do chicote do opressor; e, então, proferiu essas palavras memoráveis: “Deixa ir o meu povo”; e, havendo assim falado, procedeu à sua contagem, como se quisesse dizer: “Estes são Meus; vou ver quantos tenho, para que nenhum seja deixado para trás”. “Levanta o pobre do pó… para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória” (I Sm 2:8).

6.14-16 — Rúben foi o primogênito de Jacó com a sua esposa Léa (Gn 29.32; 35.23; 49.3,4). Seus filhos também estão listados em Gênesis 46.9 e Números 26.5-11.

Simeão foi o segundo filho do patriarca Jacó com Léa (Gn 29.33; 35.23; 49.5-7). Seus descendentes diretos são mencionados em Gênesis 46.10 e Números 26.12-14.

Jemuel, em algumas listagens, é nomeado como Nemuel (Nm 26.12). Saul, descendente de Simeão, era filho de uma cananéia. Esse fator também é notado em Gênesis 4-10.

É um registro nefasto, o que sugere que o problema da associação com as pessoas cananeias fez com que Deus não levasse diretamente a nação de Israel do Egito para Canaã, onde tal prática não poderia continuar (ver Gn 38).

Levi foi o terceiro filho de Jacó com Léa (Gn 29.34; 35.23; 49.5-7). Seus filhos também são mencionados em Gênesis 46.11 e Números 26.57-62 (I Cr 6.1-30).

Apesar de sua propensão para o pecado junto com o irmão Simeão na vingança do estupro de sua irmã Diná (Gn 34; 49.5-7), Levi viveu uma longa vida — 137 anos.

Com base em Êxodo 6.17-27, fica claro que o propósito dessa passagem é descrever a história da família de Moisés, Arão e Miriã, e não a descendência de cada uma das três tribos.

A menção do histórico familiar de Rúben e Simeão, aqui, aparenta ser simplesmente uma “cortesia”, baseada na precedência desses entre os filhos de Jacó.

6.17-19 — Cada um dos três filhos de Levi deu origem a várias famílias (I Cr 6.1-30) que desempenhariam papéis importantes na adoração a Deus. Todos os verdadeiros sacerdotes e levitas viriam delas.

6.20 — Os versículos acima levaram à menção de Anrão, um descendente de Levi, de quem Moisés e seus irmãos eram filhos. De acordo genealogias similares (Nm 26.57-59; I Cr 6.1-3), Anrão, o filho de Coate, era um neto de Levi.

Joquebede, sua esposa, era também sua tia, filha de Levi. Mais tarde, a Lei proibiria os casamentos entre parentes tão próximos (Lv 18). Todavia, nas famílias mais antigas de Israel, deve ter havido esse tipo de enlace consanguíneo.

Ela gerou-lhe a Arão e a Moisés. A linguagem utilizada na Bíblia permite que um ancestral distante seja ligado a um descendente não direto, dando a ideia de que foi “imediatamente sucedido”.

Sendo assim, em outras palavras, Joquebede “gerou-lhe a família que resultou, posteriormente, no nascimento de Moisés”. Os reais nomes da mãe, do pai e dos irmãos de Moisés não são citados.

Quando o profeta nasceu, muitas gerações já haviam passado desde que Anrão, o neto de Levi, e Joquebede, a filha de Levi, tinham se unido. Na verdade, a família dos descendentes de Anrão multiplicou-se em milhares (Nm 3.27,28).

De certa forma, é surpreendente para o leitor moderno perceber que a linguagem é utilizada dessa maneira. Para o antigo semita, às vezes, era mais importante preservar o nome dos ancestrais relevantes do que o nome das pessoas mais próximas, incluindo a citação dos próprios pais.

A descendência de Moisés e seus irmãos foi certificada como sendo da família de Levi. Esse era um ponto importante, pois Arão se tornaria o pai dos sacerdotes da nação. Veja os comentários acerca das genealogias em Gênesis 5 e 10, onde se encontram também citações desta lacuna de gerações.

A ordem dos filhos é dada aqui: Arão é três anos mais velho que Moisés (Êx 7.7). Miriã não é mencionada nesse versículo, pois a maioria das listas de descendentes em Israel citava apenas os filhos homens. Contudo, os leitores da Torá nunca a esquecerão, assim como nós também não podemos fazê-lo (Mq 6.4). Junto com seus celebrados irmãos, ela foi o presente de Yahweh para Israel.

6.21-23 — Isar, o segundo filho de Coate (v. 18), e Uziel, o terceiro, também fundaram famílias importantes. Dentre os nomes que são mencionados está o de Corá, o sacerdote que posteriormente lideraria uma rebelião contra Moisés (Nm 16).

Os filhos de Corá (v. 24) sobreviveram ao seu julgamento (Nm 26.11) e tornaram-se uma famosa família de músicos, cujos louvores se tornariam parte dos cantos dos templos por gerações (Sl 84; 85; 87).

Eliseba era o nome da mulher de Arão. O nome dela em hebraico [‘Eliysheba] significa Deus é um juramento, ou é por Deus que alguém jura. Em grego, corresponde ao nome Isabel (Lc 1.5).

O pai de Eliseba era Aminadabe (hb. ‘Ammiynadab, que significa meu parente [o Senhor] é nobre) que vinha de uma conhecida família da tribo de Judá (Nm 1.7; 2.3; 7.12,17; 10.14), a qual, mais tarde, figurou na linhagem de Davi, e consequentemente na do Messias (Rt 4-19,20; I Cr 2.10).

Os filhos Nadabe e Abiú se tornaram conhecidos em Israel por usarem seu ofício sacerdotal para propósitos malignos (Lv 10.1-7; Nm 3.2-4). Já Eleazar e Itamar eram sacerdotes fiéis.

6.24 — E os filhos de Corá: Assír, e Elcana, e Abiasafe; estas são as famílias dos coraítas. Os filhos de Corá também eram levitas. Estavam envolvidos especialmente com o louvor.

6.25 — Finéias, filho de Eleazar, foi um homem que Deus usou poderosamente durante um dos momentos mais sombrios da jornada espiritual de Israel (ver Nm 25).

6.26,27 — Esses são Arão e Moisés. O estilo de expressão de toda esta passagem (v. 14-27) aparenta vir de um período diferente do tempo de Moisés e Arão.

Esse é um exemplo de trecho que pode ter sido adicionado ao livro de Êxodo em um período posterior. Como foi mencionado na introdução, não se fazia necessária nenhuma discussão sobre a autoria do livro.

É preciso, entretanto, ter em mente que o livro por inteiro e todas as suas passagens são autênticos, oficiais e inspirados. Escribas posteriores podem ter sentido que era muito necessário inserir o histórico familiar de Moisés e Arão como um parêntese na linha narrativa, para que os leitores pudessem ficar cientes da ligação que Moisés e Arão tinham com o povo de Israel. A repetição da expressão esses são Arão e Moisés, com inversão dos nomes, não apenas identifica esses homens, como também celebra a sua memória.

6.28-30 — Esses versículos repetem o conteúdo de Êxodo 6.10-13. A expressão o Senhor falou poderia ser traduzida como “o Senhor tinha falado” (Êx 4-19; 12.1). É provável que esse conteúdo (Êx 6.14-27) exigisse uma recapitulação. Já a frase eu sou incircunciso de lábios quer dizer não tenho facilidade para falar (veja Êx 6.12).

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