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Planícies de Israel

“Planície” quer dizer grande porção de terreno plano, enquanto “planalto” é um grande terreno plano sobre montes ou serras.

A terra de Canaã, propriamente dita, se divide em quartro grandes regiões: Orla Mediterrânea, Planalto Central, Vale do Jordão e mar Morto e Transjordânia. Em cada uma dessas regiões há planícies e planaltos. Descreveremos as planícies de cada uma dessas regiões.

Orla Mediterrânea ou Marítima

Sobre essa orla, James Adams declara: “A região costeira de Canaã estende-se do rio do Egito (o uádi el-Arish) a Rionocolura, cerca de 64 km ao sul de Gaza, até a Rosh ha-Nikrah (Rosh en-Nakura), a ‘Escada de Tiro’1, a 24 km ao sul de Tiro”.2 As mais importantes planícies da orla marítima são:

Acre ou Aco

Acre, em hebraico é Akko; no fenício “K”; egípcio, Akka. A palavra ocorre uma vez só no Antigo Testamento. A significação de “Aco” é “areia quente” (Jz 1.31), e os cruzados lhe deram o nome de “São João de Acre”.

A planície ocupa toda a faixa da baía que vai de Acre a Haifa. É uma faixa de terra que circunda as montanhas entre a Galileia e o Mediterrâneo e do promontório de Rás en-Nakura, ao sul de Tiro, prossegue até o Carmelo, que a separa da planície sul, que é Sarom. No norte é mais estreita, medindo aproximadamente 5 km, vai se alargando pouco a pouco, até alcançar 17 km ao sul. Dois pequenos rios irrigam suas terras: o Belus, ao norte, e o Quisom, ao sul, ao pé do monte Carmelo. Com exceção da parte praiana, onde as areias são quentes, as terras do centro que rodeiam os montes são fertilíssimas. Por sorteio, essa região coube à tribo de Aser (Js 19.25-28), que não conseguiu desalojar os cananeus que nela habitavam.

1 Veja Enciclopédia judaica, vol. 10, p. 14.

2 ADAMS, James McKee. A Bíblia e as civilizações antigas, p. 134‐135.

Sarom

O nome não é semítico. Significa “zona de bosques”. Em hurrita queria dizer “bosques de Terebinto”, e no grego apenas “Terebinto”.

Fica entre o sul do Carmelo e Jope. Mede 85 km no sentido norte-sul com uma largura que oscila entre 15 e 25 km. A faixa mais estreita é a que está próxima ao Carmelo.

Na faixa ocidental, além dos montes de areia que são muitos na região, havia pântanos palúdicos e perigosos bosques.3 Nos dias do Antigo Testamento, por causa da natureza do terreno, não houve possibilidade de estradas na região. Foram deslocadas mais para o centro. A “Via Maris”, entretanto, cortou o Sarom e chegou ao rio Arkom, desceu até Afeque, onde está a cabeceira do Yarkom. Ao norte de Afegue há uma série de tells,4 com inscrições egípcias da época do Novo Império, como Sokô, Iaham, Gate, Migdal e Sefate, e de regiões do centro de Sarom. As terras do Sarom são ricas e produtivas. A sulamita compara-se com os lírios e  as rosas de Sarom (Ct 2.1,2). Isaías associa a magnificência e formosura do Carmelo e Sarom à glória do Líbano (35.2). Outras escrituras sobre a glória do Sarom podem ser consultadas (Is 33.9; 65.10; 1Cr 27.29).

Filístia

No hebraico lê-se Peleset e também Eres Pelistim; no grego é Filistiim e, na Vulgata, Philistaea.

Essa planície nasce em Jope, no Nahar El-Arish, o “rio do Egito” (veja Nm 34.5; Js 15.4,47). Ao longo da costa, do norte para o sul, a Filístia mede 110 km por 30 km de largura, mais ou menos. A “Pentápolis” estava nesta região e se compunha de: Gaza, Ascalom, Asdode, Gate e Ecrom. As três primeiras eram marítimas e as duas últimas ficaram no interior. Essas cidades contavam com terras férteis, exceto as que ficavam próximas da Sefelá, onde estavam as dunas (Dt 1.7; Js 11.2,6; 12.8). Nessa região há uma série de colinas que não excedem 300 m de altura e formam os primeiros contrafortes dos montes da Judeia. A oliveira, o figo e a uva eram cultivados aqui, além de cereais e frutas. Os sicômoros eram nativos e abundantes na região. Josué nos fornece uma lista de 43 cidades filisteias, dependentes da Pentápolis, a confederação dos filisteus.

3 Israelenses do fim do século passado e princípio deste, antes da Guerra de Independência (1948), compraram grandes partes dessas terras doentias, drenaram seus pântanos e hoje estão cobertas de frutos cítricos.

4 Um montículo artificial, debaixo do qual dorme uma cidade desaparecida.

Nos dias do Antigo Testamento, importantes cidades floresceram na Filístia: Dor (Js 11.2) e Jope (Jn 1.3); nos do Novo Testamento, Sarona e Lida, além de Jope (At 9.35,36). Na velha dispensação, Jope era um porto marítimo de grande importância ao sul (Jn 1.3), assim como Acre o era no norte.

O movimento sionista (antes de 1948) reconstruiu Jope (hoje é Jafo ou Jafa) e fundou Tel-Aviv ao norte desse porto.

Sefelá

Literalmente quer dizer “terras baixas” ou “mais baixas”. Trata-se de uma faixa de terra mais do que uma planície; um altiplano rochoso que corre da costa, rumo a sudeste, penetrando até a fronteira da tribo de Judá (Dt 1.7; Js 10.40; 12.8; 15.33; 2Cr 26.10; 28.18).

Limita com a planície da Filístia a norte e ocidente; ao sul, com o vale de Ait Jalom e Berseba; a leste, com as montanhas da Judeia.

Muitas planícies se estendem pelos espaços imensos entre os montes. É uma região politicamente estratégica e economicamente importante. Foi muito disputada entre filisteus e israelitas.

Abraão e Isaque habitaram por longos anos na região.

Planalto Central

O altiplano “central” da Palestina tem a sua raiz no norte, na conhecida “Alta Galileia”, atravessa todo o país e vai morrer nas areias do Neguebe.

Alta Galileia

Essa região de Israel tem oscilado de tamanho através dos séculos. No tempo dos juízes ia até Dã; nos dias do Novo Testamento chegava até o sul do lago Merom. Hoje, ocupa uma área menor do que a dos dias dos juízes. Traçando uma linha que parte do Mediterrâneo, na fronteira de Israel com o Líbano, no lugar chamado Rosh ha-Nikrah, e prosseguindo para o oriente, alcança Yiron; deste ponto sobe até Metula, correndo para Maydal Shams, já com a Síria. Daqui desce para Nuharayim ao sul da Galileia e vai ter com o país da Jordânia. Inclui o vale de Hula, com suas matas, seus lagos mirins, seus pântanos. Sobe até Bânias e termina no sopé do Hermom. A cidade mais importante da região é Safede, o limite entre a Alta e a Baixa Galileia.

Baixa Galileia

Seus limites vão de Safede, ao norte, aos montes de Samaria, ao sul. A leste confronta com o lago da Galileia e com o Jordão, e ao ocidente com Acre. A área total de toda a Galileia é de 100 km de comprimento por 50 km de largura. As principais planícies da Baixa Galileia são: Esdraelom e Jezreel.

“Esdraelom” é a forma grega e não aparece na Bíblia. “Jezreel” aparece cerca de 40 vezes no Antigo Testamento (Js 17.16; Jz 6.33). Em 2Crônicas 35.22 é chamada “vale de Megido”. Esdraelom aparece no apócrifo Judite 1.8 e 4.5; Josefo usa “a Grande Planície” e os árabes “Merdj Ibn-amir”. É a maior planície de todo Israel, com 40 km de comprimento por 20 km de largura.

Alguns geógrafos afirmam que são duas planícies no grande vale: Esdraelom e Jezreel. Os advogados da dualidade são muitos, entre os principais: Kenneth Kitchen, que adota a variante “Esdrelon”,5 e o dr. Antonio Neves de Mesquita.6 Outros, entretanto, acham que Esdraelom e Jezreel são nomes diferentes para designar o mesmo fenômeno geográfico.7 A Biblioteca de cultura judaica diz: “O nome Emeque Yizreel, que serviu no princípio para designar a parte central do Vale ao redor da cidade, ampliou-se até designar o Vale todo”.8

5 KITCHEN, K. A. “Esdrelon”. Em: DOUGLAS, J. D. (Ed.). O novo dicionário da Bíblia, p. 447.

6 MESQUITA, A. N. Panorama do mundo bíblico, p. 56, 59.

7 Enciclopedia de la Biblia, vol. 6, p. 1347.

8 Biblioteca de cultura judaica, vol. 9, p. 12.

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Vale de Jezreel

Três vales são formados a leste da imensa planície, separados pelo monte Gilboa e o Pequeno Hermom. O do centro é o maior: o Jezreel. Descem abruptamente para o Jordão. À entrada do vale está Jezreel, que foi a capital do Reino do Norte, e hoje é Zerim. A vinha de Nabote deveria estar nas proximidades. O rio Quisom corta a planície de leste para oeste, correndo para o Mediterrâneo.

O nome helenista da cidade era Esdraelom. Eusébio de Cesareia menciona uma aldeia chamada “Esdraelom” no grande vale de Citópolis (Beisã) e Legio, junto a Megido, hoje Zerim, a 6 km a sudoeste de Afula.

Era de imenso valor do ponto de vista estratégico. A rota que ia de Jerusalém a Damasco passava por ela e atingia a costa Mediterrânea. Para proteger a estrada de ladrões, os judeus construíram Bete-Seã, que os romanos chamaram de Citópolis.

Economicamente, o vale de Jezreel foi o celeiro de Israel, principalmente no tempo da monarquia. Com terras abençoadas, amolecidas por chuvas abundantes, pelo orvalho do céu, pelos rios que serpeavam pelo vale, quer nos montes, quer nas planícies, Jezreel produzia abundantes colheitas de trigo e cevada, oliveiras e figos, em grande quantidade, além de legumes e verduras. O gado, tanto bovino quanto caprino, espalhava-se pelo vale aos milhares.

Aqui se travaram batalhas sangrentas, desde Nabucodonosor de Babilônia a Napoleão Bonaparte. Acontecimentos sinistros marcaram com sangue as terras da bela planície:

  1. Gideão venceu os midianitas (Jz 6.33; 7.1).
  2. Sísera foi derrotado (Jz 4).
  3. Morte de Saul e seus filhos (1Sm 31).
  4. Morte do rei Josias (2Rs 23).
  5. Jeú destruiu a casa de Acabe (2Rs 10).
  6. Endor, o lugar onde Saul consultou a feiticeira, ficava no vale (1Sm 28).
  7. Naim também fica na planície (Lc 7).

Essa extensa área, talvez incluindo outras adjacentes, está reservada para a batalha final do Armagedom, onde o Senhor Jesus será vitorioso sobre Satã e os reis da terra (Ap 16.12-16).

Samaria

O que há de planície em Samaria pode ser considerado continuação das terras da Galileia. Essa planície abrange o território ao norte com o mar da Galileia, a oeste com o Mediterrâneo, a leste com o Jordão e ao sul com as montanhas de Judá. Mais do que uma planície, é um planalto, 100 m sobre o nível do mar. Duas planícies merecem destaque nesta região: Dotã e Siquém.

Dotã

Mencionada duas vezes em Gênesis 37.17 e uma em 2Rs 6.13. Em hebraico Dothayin, que significa “duas fontes”; em egípcio, Ttyn; grego, Dothaim; em Vulgata, Dothain, Dotan.

Está a 8 km ao sul de Genin, a 100 km de Jerusalém. Por ela passava a estrada que ia de Gileade do Egito, e era a preferida pelos caravaneiros ismaelitas, como os que compraram José.

Planície fertilíssima, com muita água, colheitas fartas e verdes pastagens para os rebanhos. Na região há uma fonte de águas vivas.

Nos dias em que Jacó habitou Siquém, parece que as pastagens se acabaram; por isso seus filhos conduziram seus rebanhos a Dotã, distante 32 km. Perto da aldeia de Tell Dotã existem cisternas retangulares com mais ou menos 3 m de profundidade, e a maioria seca. Em uma dessas, José foi lançado por seus irmãos antes de ser vendido aos caravaneiros (Gn 37.17). Além de José, Eliseu vivenciou nessa região uma maravilhosa experiência com os exércitos siros (2Rs 6).

Siquém

Em hebraico Sekem, que quer dizer “ombro”; em egípcio, Sekmen; em grego, Suxem; na Vulgata, Sichem.

Siquém ficava na região montanhosa de Efraim (Js 20.7), nas proximidades do Gerizim (Jz 9.7). Embora seja identificada hoje com Nablus, é na realidade Tell Balatah, perto do Poço de Jacó, a 25 km de Nablus, 50 km de Jerusalém e 9 km a sudeste de Sebastia.

Siquém foi o primeiro lugar onde Abraão armou sua tenda e construiu um altar (Gn 12.7).

A planície é de tamanho regular e conta com muitas águas.

Judeia

Esse território é quase cem por cento montanhoso. Não há planícies na realidade. Começa em Betel e termina em Berseba. Limita ao norte com os montes de Samaria, a leste com o Jordão, a oeste com o Sarom e ao sul com Berseba.

Ao norte de Jerusalém, bem como ao ocidente e oriente, existem terras entre os montes, faixas de plantio; algumas extensas; outras, menores, que não merecem o nome de planície. Em Belém existem desses campos; em Hebrom também. Não podemos assinalar no território da Judeia nenhuma planície, como temos no centro e no norte de Israel.

Neguebe

O termo hebraico é Neguev e significa “seco”, “árido”; em grego, lips e natos; na Vulgata, Austes, Meridies, Terra Austral. Muitas vezes a palavra é vertida em nossas versões bíblicas simplesmente por “sul”.

Limita ao norte com os montes de Judeia, a oeste com o Mediterrâneo, a leste com o deserto de Sin e Arabá, e ao sul com Cades.

De Berseba até as cercanias de Cades estende-se uma vasta planície, ou quase planície, sulcada por numerosos vales, que convergem para o uádi Gazzah e o uádi el-Arish. O material de aluvião depositado em suas estepes constitui a maior parte de suas terras cultiváveis. Dificilmente chove na região. Existem, entretanto, lençóis d’água no subsolo. Por isso, na vastidão arenosa, foram cavados poços, como os de Abraão e Isaque. O nível da região desce rapidamente na direção da planície de Arabá.

Nos dias do Antigo Testamento havia cinco províncias neguevianas: de Judá, dos jereameelitas, dos queneus (1Sm 27.10), dos quereteus e de Calebe (1Sm 30.14). Essas ocupavam as terras de pasto e próprias para plantio entre Berseba e Bir Rikhmeh e as vertentes ocidentais das terras altas centrais de Khurashe Karnub. Esse distrito foi ocupado por Amaleque (Nm 13.29), podendo-se ver ainda hoje as ruínas de seus locais fortificados entre Tell Arade e Gerar.

A base econômica da povoação nos diferentes períodos de sedentarismo era a agricultura, praticada por pequenos núcleos humanos estabelecidos nos vales de plantio. Por aí passava o “Caminho de Sur”, vindo do centro da península do Sinai até a Judeia, seguindo para o norte; uma rota seguida pelos patriarcas (Gn 24.62; 26.22) e por Hadade, o edomita (1Rs 11.14,17,21,22). Foi também a rota de escape usada por Jeremias (43.6-12) e mais tarde por José e Maria (Mt 2.13-15). Controlar o Neguebe sempre foi e ainda é garantir abertura para todas as direções de Israel e os países vizinhos.

Vale do Jordão e mar Morto

Trata-se realmente mais de um vale mais do que de uma planície. É o que oferece o maior contraste em todo o nosso planeta:

  1. Geográfico. O monte Hermom, onde nasce o Jordão, está a 3.000 m de altitude; o mar Morto, onde termina o Jordão, está a 400 m abaixo do nível do mar, e a profundidade do mar Morto é de 400 m.
  2. Climático. Enquanto no topo do Hermom a neve é constante, no vale do mar Morto a temperatura no verão sobe até 50º.
  3. Natureza do solo. Do Hermom ao mar Morto, a natureza do terreno é a mais variada que podemos imaginar.
  4. Vegetação. O vale do Jordão produz desde a palma-crísti (mamoneira) até maçãs, peras e uvas.

Do Bânias, uma das nascentes do Jordão, no pé do monte Hermom, ao norte do mar Morto, há mais ou menos 240 km em linha reta. Podemos notar quatro regiões distintas no curso desse vale, formando planícies colossais:

Do Hermom ao Hula

É a parte mais alta, onde ficam as cabeceiras do Jordão, num altiplano. Tendo Líbano ao norte e Síria ao ocidente, a imensa planície se espraia entre os altos montes que a circundam. A região conta com abundância de água, o clima é ameno, os ventos suaves, a terra boa, com muito orvalho. Produz frutos de todos os tipos, muito gado, excelentes cereais.

Do Hula ao mar da Galileia

É a continuação do Jordão, portanto do seu vale. O Jordão nasceu nas alturas do Hermom (3.000 m) e, ao chegar no lago, desceu para 200 m abaixo do nível do mar. Partindo de noroeste do lago, caminhando para norte e chegando a nordeste, forma-se uma planície chamada Genesaré, uma espécie de meia-lua. Entre o lago e os montes mais próximos deve medir 2 km (Mt 14.34). Genesaré quer dizer “Jardim do Príncipe”. Realmente essa planície é encantadora. Josefo menciona a excelência da terra, a fertilidade do solo, a amenidade do clima, a brandura do vento, a variedade de frutos e legumes, a abundância de peixes e a fartura de cereais.9 De fato, é um jardim encantador, acrescentando-se o contraste oferecido pelo desnível do lago com os montes, sob um céu azul e límpido.

Do Galileia a Jericó

O desnível é de pouco mais de 100 m. É o mesmo vale correndo para o sul. Em Jericó espraia-se e é conhecido como “Planície de Jericó”, “Campina de Jericó”, “Campos de Jericó”. A palavra “Jericó” significa “fragrância”, “perfume”. É chamada na Bíblia “cidade das Palmeiras” (Jz 3.13). Jericó é um oásis. Nunca chove em Jericó, e é uma cidade verde, como poucas em Israel. Nela há três fontes. Uma delas é conhecida como a de “Eliseu” (2Rs 2.19-22); os árabes chamam-na de “Ain es-Sultán”.

9 JOSEFO, Flávio. Guerras, 3, XVIII.

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Jericó antiga (escavações)

Na imensa planície de Jericó há uma variedade mui grande de palmeiras, sendo a tâmara a principal. Há também o “bálsamo”, o mel e o sicômoro, bem como cítricos, legumes e verduras. Israel se acampou nessa planície. O quartel-general de Josué foi Gilgal (Js 5.9). Em Jericó cessou o maná que Deus deu a Israel por 40 anos, e o povo passou a comer dos frutos da terra (Js 5.11,12).

Os ricos de Jerusalém, bem como do norte de Israel, costumam passar hoje o inverno em Jericó por causa do seu clima cálido e constante.

De Jericó ao mar Morto

Os árabes costumam chamar essa parte do vale de Ghor. Podemos reconhecer nessa seção três planos diferentes:

  1. O curso das águas, com suas cachoeiras e margens cobertas de densa vegetação.
  2. A planície inferior, com uma largura (do vale) que oscila entre 400 e 1.600 m. A região é seca e estéril. Na ocasião das chuvas fica completamente alagada.
  3. A planície do Jordão, que vai até o mar Morto. O vale, ou a planície aqui, se abre grandemente, alcançando de 8 a 10 km de largura. É chamada na Bíblia de “campina do Jordão” (Gn 13.11), “planície do Jordão” (1Rs 7.46), “floresta do Jordão” (Jr 12.5) e “terras do Jordão” (Sl 42.6). Em Gênesis 13.10 há uma descrição do encanto dessa planície: “Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o SENHOR destruído Sodoma e Gomorra), como o Jardim do SENHOR, como a terra do Egito, como quem vai para Zoar”. Gênesis 14.2 alinha as cidades que foram destruídas com Sodoma e Gomorra: Adma e Zeboim (Zoar ou Bela foi poupada, a pedido de Ló). Depois da destruição dessas cidades pelo fogo do céu, a região se tornou sáfara, quente, quase sem o mínimo para sobrevivência da vida. O Senhor Deus destruiu as cidades com seus juízos severos e elas foram sepultadas nas profundezas do vale ou debaixo das águas do mar Morto.

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Jericó modern

Transjordânia

Como essa região é essencialmente montanhosa, as planícies são poucas e os altiplanos numerosos. Já descrevemos todo o altiplano de Golã (uma parte fica no oriente do Jordão, após águas que vêm das cabeceiras se juntarem, e a outra fica a ocidente). Golã, antiga terra de Basã, estende seus limites para o sul, entrando na Galaade. Portanto, a parte da Transjordânia que vamos agora descrever limita-se ao norte com essas terras: ao oeste com o Jordão, a leste com o grande deserto siro arábico e ao sul com Edom. As principais planuras desta região são:

Haura

Limita ao sul com a Galaade (Ez 47.16,18). No período greco-romano, o nome designava um distrito menor, conhecido como Auranitis, sendo uma das quatro províncias, com a Traconitis ao norte, e a Gaulanitis e Batânia, ao noroeste.10 Antonio Neves de Mesquita afirma: “O solo é plano, nesta região, como um soalho, rico e bem regado,  superlativamente fértil”.11 Há poucas pedras nessa planura. A área é de mais ou menos 560 km, incluindo naturalmente Basã e uma parte do leste confinando com o Gebel Haurã.

Galaade

Mesmo sendo um altiplano, a região é extensa. Vai de Basã a Moabe, do Jordão ao deserto. Divide-se em duas partes: Alta Galaade e Baixa Galaade. A primeira do Iarmuque ao Jaboque, e a segunda do Jaboque ao norte de Moabe, até próximo de Rabate-Amom. De acordo com Antonio Neves de Mesquita: “O território assemelha-se aos montes ocidentais da Palestina pela sua forma ondulante, com vastos campos de trigo e  culturas de outras espécies em diversos lugares”.12 Devido à fertilidade de suas terras, à abundante irrigação e à multiplicidade de seus carvalhos, Galaade era lugar de fartura, tanto na agricultura como na pecuária.

Moabe

É toda montanhosa, um platô com 96 km de comprimento por 48 km de largura. Alguns arbustos se espalham pela planície. O solo, na periferia, é estéril; no centro, entretanto, de norte a sul, numa extensão de 16 km de largura, as terras são boas e produtivas. Nos montes de Moabe criam-se milhares de carneiros, cabras e bois; nas planícies, camelos. O terreno é bastante pedregoso e seco no verão. Na primavera, após as chuvas, os campos cobrem-se de verdura exuberante.

10 JOSEFO, Flávio. Antiguidades, 17.11,4; 18.4,6.

11 MESQUITA, A. N. Panorama do mundo bíblico, p. 94.

12 MESQUITA, A. N. Panorama do mundo bíblico, p. 95.